História do Concílio Vaticano II (Parte II)

Anunciado pelo Papa João XXIII no dia 25 de janeiro de 1959

Mons. Vitaliano Mattioli*

CRATO, sexta-feira, 17 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – A quarta sessão: aberta no dia 14 de Setembro de 1965, terminou no dia 8 de dezembro de 1965, festa da Imaculada Conceição.

No discurso de abertura caracterizou dessa forma o Concílio: “Não parece difícil dar ao nosso Concílio Ecuménico o caráter de um ato de amor: de um grande e tríplice ato de amor: para com Deus, para com a igreja, para com a humanidade”.

Nesta sessão, no dia 4 de outubro de 1965, Paulo VI visitou a Assembléia das Nações Unidas em Nova York, oficialmente convidado para celebrar o vigésimo aniversário da ONU.

No dia 18 de novembro de 1965 Paulo VI, perto do encerramento do Concílio deu um discurso falando da atitude que se deveria ter no pós-concílio, quase que prevendo a confusão que aconteceria em seguida.  “Veneráveis Irmãos, não devemos tanto prestar atenção a essas reformas necessárias, mas sim àquelas morais e espirituais, que nos façam mais em conformidade com o nosso Divino Mestre e mais aptos para os deveres da nossa respectiva vocação. Devemos principalmente esperar isso: a nossa efetiva santificação e a real capacidade de difundir entre os homens do nosso tempo a mensagem evangélica”.

No dia 7 de dezembro de 1965, véspera do encerramento, celebrou-se a Santa Missa da última sessão. Paulo VI na homilia resumiu dessa forma todo o Concílio: “No rosto de cada homem deve-se ver o rosto de Cristo, e neles, aquele do Pai Celestial. Para conhecer a Deus é preciso conhecer o homem. Amar a Deus para amar o homem. Todo este Concílio resume-se no seu significado conclusivo religioso, como um poderoso convite à humanidade de hoje a encontrar, através do amor fraterno, a Deus”.

No final da celebração eucarística aconteceu um fato importante. Paulo VI com a Carta Apostólica Ambulate in Dilectione, aboliu a excomunhão imposta no dia 16 de julho de 1054 ao Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário. Ao mesmo tempo em Constantinopla (Istambul), o Patriarca Atenágoras, revogava a excomunhão do Seu predecessor ao Papa Leão IX. Assim a Carta de Paulo VI: “Queremos eliminar da memória da Igreja a sentença de excomunhão emitida então, tirá-la do caminho, e a queremos enterrada no esquecimento e apagada. Temos o prazer de que nos seja dada a oportunidade de realizar este ato de caridade fraterna aqui em Roma, ao lado do túmulo do Apóstolo Pedro, no mesmo dia em que o mesmo acontece em Constantinopla (Istambul), que é chamada de Nova Roma.” O Card. Johannes Willebrands leu a Declaração Conjunta da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa de Constantinopla. Logo depois, o Cardeal Agostino Bea leu a carta citada Ambulate in Dilectione.

Os documentos conciliares são:

Quatro Constituições:

Sacrosanctum Concilium (sobre a Liturgia), 4 de dezembro de 1963 (2178 eleitores, 2159 placet)

Lumen Gentium (sobre a Igreja), 21 de novembro de 1964 (2145 eleitores, 1921 placet)

Dei Verbum (sobre a Revelação Divina), 18 de novembro de 1965 (2350 eleitores,  2344 placet)

Gaudium et Spes (sobre a Igreja no Mundo contemporâneo), 7 de dezembro de 1965 (2373 eleitores, 2309 placet)

Nove Decretos:

Inter Mirifica (sobre as ferramentas da comunicação social), 4 de dezembro de 1963 (2124 eleitores, 1960 placet)

Orientalium Ecclesiarum (sobre as Igrejas Orientais católicas), 21 de novembro de 1964 (2149 eleitores, 2110 placet)

Unitatis Redintegratio (sobre o Ecumenismo), 21 de novembro de 1964 (2148 eleitores, 2137 placet)

Christus Dominus (sobre os bispos), 28 de outubro de 1965 (2322 eleitores, 2319 placet)

Perfectae Caritatis (sobre os religiosos) 28 de outubro de 1965 (2325 eleitores, 2321 placet)

Optatam totius (sobre a formação sacerdotal) 28 de outubro de 1965 (2321 eleitores, 2318 placet)

Apostolicam Actuositatem (sobre o apostolado dos Leigos) 18 de novembro de 1965 (2342 eleitores, 2340 placet)

Ad Gentes (sobre a atividade missionária), 7 de dezembro de 1965 (2399 eleitores, 2394 placet)

Presbyterorum Ordinis (sobre o ministério e a vida dos Presbíteros), 7 de dezembro de 1965 (2394 eleitores, 2390 placet)

Três declarações:

Gravissimum Educationis (sobre a educação cristã), 28 de outubro de 1965 (2096 eleitores, 1912 placet)

Nostra Aetate (sobre a relação com as Religiões não-cristãs), 28 de outubro de 1965 (2312 eleitores, 2221 placet)

Dignitatis Humanae (sobre a liberdade religiosa), 7 de dezembro de 1965 (2386 eleitores, 2308 placet)

Em 1966, o jornalista italiano Alberto Cavallaria escreveu em um livro-entrevista: “O verdadeiro significado do Concílio Vaticano II só será reconhecido depois de muitas décadas e toda conclusão rígida torna-se imprudente” (Il Vaticano che cambia, Mondadori, p. 27).

Hoje, após 50 anos desde o início do Concílio, essa reflexão aparece verdadeira.

(Para ler a primeira parte do artigo clique aqui)

* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]

História do Concílio Vaticano II (Parte I)

Anunciado pelo Papa João XXIII no dia 25 de janeiro de 1959

Mons. Vitaliano Mattioli*

Em 25 de janeiro de 1959 o Papa João XXIII, depois de um pontifical solene na Basílica de São Paulo, anunciou aos Cardeais o projeto de realizar um novo Concílio.

A surpresa foi grande porque João XXIII tinha sido eleito Papa em 28 de outubro do ano anterior.

Mais tarde soube-se que já o seu predecessor, Pio XII, teve essa ideia e, em segredo, começou os trabalhos preparatórios. Mas depois pensou que o tempo ainda não estava maduro.

João XXIII começou os preparativos no mês de maio seguinte constituindo a Pontifícia Comissão Antepreparatória. Nomeou Mons. Pericle Felici secretário da mesma.

Em junho de 1960 com o Motu proprio Superno Dei  instituiu as 11 Comissões preparatórias: teologia, bispos e governo das dioceses, disciplina do clero e do povo cristão, religiosos, sacramentos, liturgia, seminários, igrejas orientais, missões, leigos.

Finalmente no dia 11 de outubro de 1962 foi aberto oficialmente o novo Concílio. O Papa escolheu esta data porque, então, nesse dia celebrava-se a festa de Maria, Teothokos, Mãe de Deus. De tal forma manifestou a intenção de colocar o desempenho do Concílio sob a proteção de Maria.

O discurso de Santa Missa de abertura, Gaudet Mater Ecclesia, apontou as diretrizes do Concílio e motivou a oportunidade de celebrar o novo Concílio. Disse que o objetivo principal do Concílio deve ser a apresentação, defesa e difusão do sagrado depósito da doutrina cristã: “5.1. O que mais interessa para o Concílio é que o sagrado depósito da doutrina cristã seja custodiado e ensinado da forma mais eficaz. Tal doutrina abraça o homem integral, composto de alma e de corpo, e a nós, que moramos nessa terra, nos manda buscar como peregrinos a pátria celeste … 2. O vigésimo primeiro Concílio Ecumênico … quer transmitir de forma integral, não falseada, não em parte, a doutrina Católica”.

Em seguida, se move sobre o modo de se comportar da Igreja em torno aos erros doutrinários: “Abrindo o Concílio Ecumênico Vaticano II, é claro mais do que nunca que a verdade do Senhor permanece para sempre. 2. Não houve tempo em que a Igreja não se opôs a estes erros; muitas vezes também os condenou, e as vezes com a maior severidade. Quanto ao tempo presente, a Esposa de Cristo prefere usar o remédio da misericórdia ao invés de usar as armas do rigor; pensa que deva-se atender as necessidades de hoje, expondo mais claramente o valor do seu ensino e não condenando.

O discurso de abertura termina expressando o desejo de promover a unidade na família cristã e humana porque: “Infelizmente toda a família cristã ainda não conseguiu plenamente essa unidade visível na verdade.”

A primeira sessão terminou no dia 8 de dezembro de 1962. Os trabalhos foram atualizados pelo mês de setembro do ano seguinte.

Enquanto isso, no dia 3 de junho de 1963 o Papa João XXIII morreu. Automaticamente com a morte do Papa, o Concílio foi suspenso. Corresponde ao sucessor continuá-lo ou não.

O novo Papa eleito no dia 21 de junho foi Giovanni Battista Montini, que tomou o nome de Paulo VI. Ele expressou imediatamente o desejo de continuar o Concílio.

A segunda sessão foi aberta no dia 29 de setembro de 1963 e terminou no dia 4 de dezembro de 1963.

Em seu discurso de abertura, Paulo VI apresentou os quatro objetivos do Concílio: “Resumiremos em quatro pontos, que são: a definição ou, se preferir, a consciência de Igreja, a sua reforma, a restauração da unidade entre todos os cristãos e o diálogo da Igreja com os homens contemporâneos”.

Em janeiro de 1964 Paulo VI fez a histórica visita à Terra Santa seja para retornar às origens do cristianismo, como para reacender as relações entre a religião hebraica e o Estado de Israel, ainda não reconhecido oficialmente pela Santa Sé. Mas também para fazer novas  alianças com a Igreja Ortodoxa. Comovente e único na história anterior foi o encontro e o abraço em Jerusalém entre Paulo VI e Atenágoras, Patriarca de Constantinopla.

“A terceira sessão foi a do 14 de setembro de 1964 a 21 de novembro. Em seu discurso de encerramento, Paulo VI proclamou Maria: Mãe da Igreja: “Por esta razão, parece-nos necessário que nesta sessão pública anunciemos publicamente um título com o qual seja honrada a Beata Virgem Maria, que foi solicitado por diversas partes do mundo católico e nos é especialmente caro e aceitável, porque com admirável síntese expressa a posição privilegiada que na Igreja este Concílio reconheceu ser própria da Mãe de Deus.

Por isso para a glória da Beata Virgem e para a nossa consolação declaramos Maria Santíssima Mãe da Igreja, ou seja de todo o povo cristão, seja dos fieis que dos Pastores, que a chamamos Mãe amadíssima; e estabelecemos que com este título todo o povo cristão a partir de agora honre ainda mais a Mãe de Deus e lhe dirija súplicas”.

(Para ler o primeiro artigo sobre o Concilio acesse aqui. Publicaremos a segunda parte desta matéria amanhã, 17 de agosto)

* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]

O aborto, por qualquer motivo, sempre deixa uma marca profunda (Parte II)

Entrevista com Mons. Vitaliano Mattioli, missionário italiano no Brasil

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, sexta-feira, 10 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Em entrevista a ZENIT, Mons. Vitaliano Mattioli, missionário italiano fidei donum no Brasil, revela os principais perigos do aborto para uma mulher e para uma nação.

Publicamos a segunda parte da entrevista hoje. Para ler a primeira parte clique aqui.

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ZENIT: Por que o aborto é uma coisa ruim para a mulher?

ZENIT: Falar de mulher é sinônimo de maternidade. É uma sensibilidade totalmente feminina que o homem não possui, pelo menos nesse nível. Quando uma mulher está grávida não diz: “Dentro de mim tenho um zigoto ou um embrião”, mas diz: “estou esperando um filho”. Ela sabe que aquela realidade que está amadurecendo dentro dela é um outro ser humano, seu filho. Fiquei impressionado com uma página de um romance grego (Sec I ou II d.C.). Uma senhora tornou-se escrava enquanto se encontrava no segundo mês de gravidez. Confidenciou a uma amiga a sua preocupação. Esta respondeu-lhe que a solução era abortar. Mas a mulher disse: “Como, você que é uma mulher, me aconselha matar o meu filho?” (Caritón de Afrodisias, O Romance de Caliroe). O corpo da mulher, que deve ser o primeiro berço da criança, o lugar privilegiado para o desenvolvimento de uma vida, transforma-se em um lugar de morte, em um cemitério. A mulher sabe que traiu seu filho, mas especialmente que traiu a si mesma. O seu organismo genital, onde Deus trabalha para gerar e amadurecer uma vida, foi profanado. À ação divina de amadurecer e proteger uma vida, substituiu-se uma vontade humana de condenar à morte.

ZENIT: O senhor tem atendido algum caso de casal que tenha abortado?

MONS.VITALIANO: Atendi vários casos. É preciso muita compreensão e, ao mesmo tempo

atrair essas pessoas para se tornarem apóstolos da vida, ajudando outras mulheres que se encontram nesta situação para não cometerem o mesmo erro. De um mal pode vir bem.

ZENIT: O brasil está a ponto de votar pela aprovação do novo código penal que despenalizará o aborto até a 12 semana. O que essa legislação pode trazer para o Brasil e para as famílias brasileiras?

MONS.VITALIANO: O Brasil é um país maravilhoso. Espero que o Congresso de Brasília não cometa o mesmo erro que o italiano e de outras Nações. Pergunto-me: qual é o significado desta 12ª semana, ou seja, o terceiro mês. A genética nos diz que o feto, no terceiro mês, é um bebê completamente formado. Mas já a partir do momento da concepção o novo indivíduo possui todo o patrimônio genético, possui a sua carta de identidade genética. Só precisa de tempo para desenvolver-se, para amadurecer. Todas as transformações depois da concepção não são mais do que desenvolvimento das suas características que já possui desde o começo da sua existência. O zigoto é um ser humano com todas as potencialidades e não um ser humano em potência. No primeiro caso trata-se de desenvolver o que o zigoto, embrião, feto já tem em sua composição genética; no segundo trata-se de uma intervenção de fora para dar-lhes o que não possui. Mas não há uma outra intervenção externa depois da concepção. Portanto, o desenvolvimento da gestação consiste no amadurecimento daqueles elementos que o novo indivíduo possui desde o começo. É necessário chamar a realidade com o próprio nome e não com outras palavras que obscurecem a verdadeira essência da ação. A palavra aborto é indolor. O mesmo: interrupção de uma gravidez. Mas se falamos: o aborto é a interrupção de uma vida humana nas primeiras fases da sua existência, ou seja, é um assassinato, o impacto psicológico é muito diferente. Se o Brasil aprova essa lei, mais do que dizer: lei que permite o aborto, seria mais honesto dizer: “lei que permite a interrupção de uma vida humana nas primeiras fases da sua existência, ou seja, um assassinato. As conseqüências desta lei são desastrosas, como ocorre naqueles Países onde o aborto é legalizado. Antes de mais nada, a desvalorização da vida humana. Quando um Governo permite a uma mãe matar o seu próprio filho, não devemos mais surpreender-nos se a vida humana não tem mais valor. Além disso, o relaxamento dos costumes sexuais, já muito em crise, vai aumentar. Em vez de formar uma sociedade forte, o mesmo Governo irá contribuir de forma decisiva para formar uma sociedade fraca e frágil. O Brasil é um país que conserva uma grande sensibilidade e um grande amor à vida. No mundo a população mundial é invejada pelo desejo, a alegria, o gosto de viver. Tomara que não seja justamente o Governo que prive este povo maravilhoso, de tanta felicidade e alegria.

Ser católico por inteiro

Discutindo o problema da adesão à fé católica

Edson L. Sampel*

SAO PAULO, sexta-feira, 10 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Gostaria de discutir o problema da adesão à fé católica, não na perspectiva prática, porque nesta seara, infelizmente, por causa do pecado, os católicos vivemos os ditames do evangelho mais ou menos.

Quero tratar do tema no viés doutrinal. Neste diapasão, ou se é 100% católico ou não se é católico em hipótese nenhuma. Não posso ser católico e, ao mesmo tempo, advogar a tese de que Jesus não fundou nenhuma Igreja específica; apenas instaurou uma novel religião. Não posso ser católico e perfilhar a teoria de que nossa Senhora teve relações sexuais com seu casto esposo. Não posso ser católico e, concomitantemente, asseverar que não há demônios nem Satanás. Não posso ser católico e, outrossim, prestar atenção ao espiritismo. Não posso ser católico e fazer ouvidos moucos ao que o papa ensina. Não posso ser católico e me escusar de divulgar o parecer da Igreja contrário ao homossexualismo. Não posso ser católico e me colocar em prol do aborto, ou, então, ficar em cima do muro.  Eis somente alguns exemplos.

Qual é a questão de fundo? Em minha opinião, é o relativismo, já bastas vezes  exprobrado por Bento XVI, combinado com uma equivocada interpretação do ecumenismo. Exemplificando, a pretexto de não vulnerar a suscetibilidade dos nossos irmãos separados, a doutrina protestante não é mais herética: cuida-se apenas de visões diferentes, verberam alguns. Deixemos o mínimo que nos separa, postulam outros, e nos unamos no máximo que nos é comum! Que máximo é esse, se frei Lutero solapou todos os sacramentos, preservando unicamente o batismo?

Quando o mal da não adesão plena e obsequiosa é perpetrado por certos padres ou teólogos, estamos em face de uma vicissitude gravíssima. Aqui, em vários casos, vigem a arrogância e a soberba, uma espécie de desdobramento do pecado original: quer-se saber mais do que a Igreja de Cristo!

Temos de ser ecumênicos sim, sempre amorosos com os outros cristãos e com os membros de qualquer credo, cônscios de que não somos melhores do que eles e que Deus ama todos os homens. No entanto, devemos resgatar nossa belíssima identidade católica, assumindo-a plenamente, sem respeitos humanos, acatando cabalmente o magistério infalível. Esta obrigação é ainda mais urgente por parte dos padres, que têm o múnus de industriar a puríssima doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo, custodiada pela Igreja católica.

Edson Luiz Sampel

Doutor em direito canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.

Membro da Sociedade Brasileira de Canonistas (SBC)

O Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro (Parte III)

Entrevista com especialista em bioética, Pe. Helio Luciano

Por Thácio Lincon Siqueira

BRASILIA, quarta-feira, 8 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Em entrevista a ZENIT o especialista em bioética, Pe. Hélio Luciano, membro da comissão de bioética da CNBB, respondeu várias questões relativas ao Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro.

Para ler as partes anteriores: primeira parte clique aqui; segunda parte clique aqui.

Publicamos hoje a terceira e última parte dessa entrevista.

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ZENIT: Além do aborto, o senhor referia outros problemas também incluídos no Anteprojeto. Quais seriam estes problema?

PE.HELIO – De fato, além da liberação, na prática, do aborto, o Anteprojeto apresenta outros problemas. Não pretendo ser exaustivo, mas para citar alguns, podemos falar dos problemas relativos à eutanásia, à liberação do consumo de drogas e à despenalização de algumas atividades terroristas.

O art. 122 do Anteprojeto apresenta a prática da eutanásia – definida pelo Anteprojeto como “matar, por piedade ou compaixão, paciente em estado terminal, imputável e maior, a seu pedido, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável em razão de doença grave” – como um crime diferente ao do homicídio, reduzindo a pena do mesmo. É verdade que as circunstâncias dramáticas de algumas situações deveriam reduzir a pena de alguém que comete este tipo de homicídio, porém, matar a outra pessoa, ainda que por compaixão, não deixa de ser homicídio. Para deixar claro o valor da vida e a gravidade do crime, o Anteprojeto poderia ter inserido a eutanásia dentro dos crimes de homicídio, incluindo-a apenas nos atenuantes da pena. Porém, o mais grave não é isso, mas sim que o Parágrafo Primeiro do mesmo artigo deixa ao juiz a possibilidade de não aplicar nenhuma pena para os casos de eutanásia, reduzindo dessa forma, o valor da vida, um dos bens primários previstos na Constituição.

Outro problema do Anteprojeto encontra-se no art. 212, Parágrafo Segundo, que exclui de crime a aquisição, armazenamento, transporte e cultivo de drogas para consumo próprio. Segundo o Anteprojeto, “presume-se a destinação da droga para uso pessoal quando a quantidade apreendida for suficiente para o consumo médio individual por cinco dias”. Não há dúvidas que o tráfico de drogas será favorecido com tal medida. Com o intuito de permitir, de um modo velado, o consumo de maconha – um dos verbos contemplados é o de “semear” e “colher”, claramente referidos a esta droga – o Anteprojeto parece esquecer que o tráfico obedece às regras de mercado: aumentando o consumo, aumentará também a oferta. Certamente os distribuidores de drogas jamais levarão consigo uma quantidade maior do que a “suficiente para o consumo médio individual por cinco dias”, e, deste modo, não incorrerão em crime.

Por fim, o Anteprojeto, tratando dos crimes de terrorismo, exclui de crime tais atividades quando movidas por “propósitos sociais ou com fins reivindicatórios” (art. 239, Parágrafo Sétimo). Certamente o limite dos meios utilizados para ser configurado ou não em crime será definido pelo juiz, mas, com esta lei, por exemplo, os jovens que tomaram a reitoria da USP no fim do ano passado, não teriam incorrido em crime algum. Como dissemos anteriormente, a exaltação da liberdade individual por cima do bem comum da população degrada a sociedade e mina a força da autoridade constituída.

Repito o que afirmei no começo desta entrevista – são muitos os pontos positivos do Anteprojeto, mas agora se faz necessário ressaltar as suas deficiências para que, enquanto ainda houver tempo, possamos solucioná-las de modo democrático.

ZENIT: Será que a proposta contida no Anteprojeto contempla a vontade de toda a população brasileira?

A resposta a esta pergunta corresponde, em parte, ao final do que foi dito na pergunta anterior: A maior parte do Anteprojeto contempla a vontade de toda a população brasileira, mas existem pontos complicados, que devem ser revistos e adaptados aos valores próprios da nossa sociedade.

Não podemos permitir que novamente – como vem ocorrendo nos últimos anos no Brasil – a opinião de pessoas que se creem “iluminadas” e com a “missão de iluminar” o ordenamento jurídico brasileiro, corrompam nossos valores e as opiniões da imensa maioria do povo brasileiro.

O Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro (Parte II)

Entrevista com especialista em bioética, Pe. Helio Luciano

Por Thácio Lincon Siqueira

BRASILIA, terça-feira, 7 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Em entrevista a ZENIT o especialista em bioética, Pe. Hélio Luciano, membro da comissão de bioética da CNBB, respondeu várias questões sobre o Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro.

Publicamos ontem a primeira parte da entrevista (clique aqui para ler a primeira parte). Hoje publicamos a segunda parte e a terceira parte será publicada amanhã, quarta-feira.

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ZENIT: “O direito não é filho do céu. É um produto cultural e histórico da evolução humana”, frase de Tobias Barreto, que se encontra no cabeçalho da apresentação do Anteprojeto assinado pelo Relator Geral. Essa frase, não mostra a raiz do problema do direito na nossa época contemporânea, que elimina a existência de um direito natural? E que autoriza, de certa forma, as sociedades a inventarem as suas normas de conduta, de acordo com os interesses do momento?

PE.HELIO – De fato, infelizmente, uma parte dos juristas brasileiros interpreta a justiça de um modo puramente positivo. Segundo estes, o que define o certo e o errado é apenas aquilo que está escrito na lei, mas esta não corresponderia a nenhuma natureza humana, ou seja, não expressaria, em forma de lei, o modo como o homem é de fato. É lógico que a expressão da natureza humana pode dar-se de distintos modos ao longo da história – e isso também deve ser contemplado pelo ordenamento jurídico – mas não será a cultura quem configurará o modo de ser do homem. Consequentemente, as leis devem expressar este modo de ser – o matrimônio, a defesa da vida, a busca do bem comum, são elementos que transcendem a cultura, pois pertencem ao homem em si mesmo.

Mas antes de falar desta crise do direito natural é necessário falar da crise da “verdade”. Parece que, em alguns ambientes, a “verdade” deixou de existir – expressões típicas como “você tem a sua verdade e eu tenho a minha”, demonstram tal crise. É certo que podemos ver a realidade desde distintas perspectivas, mas um dos princípios mais básicos da racionalidade humana é o princípio da não contradição – uma coisa não pode “ser” e “não ser” ao mesmo tempo. Um exemplo mais simples: se chegarmos a um consenso absoluto – 100% dos votos – de que uma vaca é um cavalo, não converteremos a vaca em cavalo. As coisas existem na realidade e podemos alcançar o conhecimento delas ou não, mas jamais podemos alcançar duas verdades contraditórias sobre a mesma realidade: a vaca não pode ser vaca e cavalo ao mesmo tempo. Isso nos leva àquilo que o Papa chamou de “ditadura do relativismo” – não se pode impor nada a não ser a absoluta necessidade de ser relativista. Todos os que disserem conhecer uma “verdade” são considerados totalitaristas ou fundamentalistas.

Parte da nossa cultura jurídica sofre também deste mal: segundo esta cultura, seria necessário fazer um ordenamento jurídico que não possua “verdades”, mas apenas normas. Seria a norma que converteria a realidade em “verdade”. A “marcha da maconha”, ainda induzindo às drogas e incentivando o tráfico, é “liberdade de expressão” – segundo o Anteprojeto do Código Penal até mesmo o consumo pessoal de qualquer droga é lícito – enquanto defender a vida de um feto é um desrespeito à liberdade individual.

Desta crise da “verdade” nasce a crise do direito natural. Se não existe “verdade” não pode existir um verdadeiro modo de ser do homem. Sendo assim, todas as liberdades devem ser respeitadas, ainda que destruam a sociedade. A “liberdade” tomou o lugar da “verdade” – e não uma liberdade que busca o bem, mas uma simples liberdade de escolha. Esquecemos que o que deve guiar a sociedade é a busca do bem comum e não a busca dos bens individuais – e assim deixamos de ser uma sociedade fraterna e nos convertemos, como diria Hobbes, em lobos para os outros lobos.

ZENIT: No Anteprojeto, no art. 128, inciso IV fala-se da descriminalização do aborto quando a mulher, até a décima semana, quiser abortar, seguindo o parecer de um psicólogo. É lícito, moralmente falando, que uma mulher decida pela vida do seu filho? A lei tem o poder de definir isso? Não será injusto deixar para a mãe a decisão, principalmente na hora da fraqueza?

PE.HELIO – É necessário, primeiro, distinguir o texto escrito da intenção dada ao artigo – deixemos de lado se a confusão textual foi colocada de modo proposital ou não. O texto mencionado diz que o aborto, até a décima segunda semana de gestação (aproximadamente três meses), não poderia ser punido “quando o médico ou psicólogo constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas de arcar com a maternidade”. Segundo o texto, o aborto não seria mais punido, pois se alguém decide abortar, é lógico que se sente – psicologicamente – incapaz de arcar com a maternidade. A Espanha, em 1983, aprovou o aborto com um texto bastante similar a este. As clínicas de aborto tinham psicólogos contratados somente para assinar os prontuários, sem nem mesmo conversar com as mães.

Por outro lado, o Anteprojeto apresenta na justificação do mesmo artigo e inciso – tal justificação não faz parte do texto oficial – que esta despenalização abordada no texto refere-se apenas a “estados psicológicos mórbidos, como a adicção por entorpecentes”. Parece-me que a comissão de juristas é suficientemente competente para redatar – se assim o quisesse – o texto do inciso de forma clara, contemplando somente esta intenção explicitada na justificação. Além disso, mesmo que o texto fosse claro para contemplar somente estes casos citados, não se poderia, nem deveria tomar tal decisão sem uma ampla consulta à sociedade, sendo esse um tema tão sensível aos brasileiros.

O Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro (Parte I)

Entrevista com especialista em bioética, Pe. Helio Luciano

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, segunda-feira, 6 de Agosto de 2012 (ZENIT.org) – Na quarta-feira, 27 de Julho, o Anteprojeto do novo Código Penal Brasileiro foi entregue nas mãos do presidente do Senado, José Sarney, pelos 15 juristas que o elaboraram.

Para ajudar os católicos e pessoas de boa vontade do Brasil na reflexão sobre as implicações desse anteprojeto, ZENIT entrevistou o especialista em bioética, Pe. Hélio (para ler anterior entrevista com Pe. Hélio, sobre o aborto no Brasil clique aqui), membro da comissão de bioética da CNBB.

Publicamos hoje a primeira parte. Amanhã e depois de amanhã publicaremos a segunda e a terceira parte consecutivamente.

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ZENIT: Qual é a sua opinião sobre o Anteprojeto do Código Penal entregue ao Senado Federal recentemente? Houve participação de católicos preparados em todo o período de estudo e de debate sobre o anteprojeto? O governo se interessou realmente em fazer que a sociedade debatesse todos os pontos? Houve uma aceitação das propostas enviadas pela liderança da Igreja católica, dos cristãos no geral, e de todos os que são contrários ao aborto, como os espíritas e outros grupos?

PE.HELIO – Há que se falar, antes de qualquer coisa, da necessidade premente de um novo Código Penal no Brasil. O atual está defasado, tanto pela sua “idade” – já passa dos setenta anos – como pelo fato de que, desde a sua promulgação durante o “Estado Novo”, foram promulgadas ou outorgadas pelo menos outras três Constituições no Brasil (alguns consideram que foram quatro). Neste período, o Código atual foi sofrendo diversas emendas, perdendo sua unidade e, em alguns pontos, mantendo regulamentações que já não condizem às práticas atuais. Também é necessário dizer que o texto do Anteprojeto para o novo Código Penal, apresentado pela comissão de juristas, é um texto claro, unitário e, em grande parte, em conformidade com a Constituição Cidadã de 1988.

Ainda que no seu conjunto seja um texto positivo, existem alguns pontos que contradizem tanto a nossa Carta Magna como a opinião da imensa maioria dos brasileiros. Sendo assim, minha preocupação em relação a este Anteprojeto é, em primeiro lugar, uma preocupação em sentido jurídico – um Código Penal não pode legislar afrontando a Constituição, criando ou eximindo de crime aquilo que a Carta Magna defende. Em segundo lugar, preocupa-me que alguns valores próprios de uma sociedade tentem ser desrespeitados de modo quase despótico, ou seja, sem ampla consulta à sociedade. É verdade que havia um canal de sugestões no Senado no qual foram apresentadas aproximadamente 3.000 propostas, mas pergunto-me: quantas pessoas sabiam que o código penal estava sendo reelaborado e que são 3.000 sugestões para uma população de quase 200.000.000 de habitantes?

O que reivindico – até este ponto – não tem nenhuma conotação religiosa – peço apenas o respeito à Constituição e aos valores próprios de um povo.

Em terceiro lugar – mas não menos importante – preocupa-me que em um País de imensa maioria cristã, alguns valores defendidos pelo cristianismo possam ser simplesmente contrariados. Não se trata aqui de reivindicar a presença de católicos ou de outros cristãos na comissão de juristas, mas sim de defender que os valores cristãos – próprios da nossa sociedade – fossem respeitados. Certamente a laicidade do Estado não pode ser confundida com um laicismo. A laicidade separa o Estado da religião enquanto o laicismo nega todos os valores de uma sociedade.

Finalmente, é bom lembrar que as falhas do Anteprojeto não se referem apenas às questões ligadas à vida – como o aborto e a eutanásia – mas também a outras questões importantes como, por exemplo, o uso de drogas e a aceitação de um terrorismo bom.

ZENIT: Ainda há algo a ser feito ou podemos dizer que a proposta atual é a proposta que vai permanecer?

PE.HELIO – Certamente há ainda muito a ser feito. O Anteprojeto do Código Penal, como diz o próprio nome, não é ainda nem mesmo o projeto que será submetido a votação. Agora é o momento de juristas competentes enviarem emendas ao texto. Este é o momento também da sociedade exercer sua função dentro da democracia – explicando aos amigos o que está em jogo, usando a mídia, as redes sociais, os e-mails, entre outros meios, para que não aceitemos, passivamente, que mudem a nossa sociedade naquilo que não estamos de acordo. Um modo de nos fazer ouvir também seria enviar e-mails aos Senadores e Deputados, manifestando a nossa opinião através de argumentos racionais – se um ou dois enviam, não surtirá efeito, mas se uma grande porcentagem da população começa a escrever, com certeza nos ouvirão.

O aborto, por qualquer motivo que seja, sempre deixa uma marca profunda

Entrevista com Mons. Vitaliano Mattioli, missionário italiano no Brasil

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, quinta-feira, 09 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – O Anteprojeto do Novo código penal Brasileiro propõe algumas mudanças que, praticamente, descriminalizará a prática do aborto no Brasil. ZENIT, portanto, conversou dessa vez com Mons. Vitaliano Mattioli, que nos fala sobre como se aprovou o aborto na Itália e as suas consequências funestas para a vida da mulher e de toda uma nação.

Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

Publicamos hoje a primeira parte da entrevista. A segunda parte será publicada amanhã, sexta-feira.

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ZENIT: O senhor é missionário no Brasil há 2 anos e veio de uma nação, Itália, que tem um forte movimento a favor da vida. O aborto foi aprovado na legislação da Itália?

MONS.VITALIANO: O aborto foi aprovado na Itália pela lei n. 194 do 22 de maio de 1978. Na sequência o Movimento Pro Vida promoveu um referendum para a revogação (17 de maio de 1981). Lembro-me da campanha muito acalorada a favor e contra o aborto. O resultado foi que a lei a favor do aborto foi confirmada. Não devemos esquecer a influência que teve a aprovação desta lei na França, no dia 17 de janeiro de 1975. Um importante papel tiveram os Partidos laicistas e especialmente o Partido Radical. Na campanha, a lei foi apresentada de uma forma muito ambígua: para evitar o flagelo do aborto clandestino apresentaram o aborto legal como a única solução. Eram os primeiros anos depois do Concílio. A grande desorientação que se vivia naquele período, também no mundo católico, influenciou muito essa decisão.

ZENIT: Qual é a visão dos católicos italianos e da sociedade italiana sobre o aborto?

MONS.VITALIANO: Hoje, depois de 34 anos, a situação é diferente. Há uma outra sensibilidade. Mas remover esta lei é muito difícil. Embora a verdadeira Ciência afirme sempre mais claramente que a vida começa a partir da concepção, é difícil remover uma opinião pública. Individualmente, as pessoas são mais críticas do que antes, mas há muitos interesses que impedem a revogação desta lei. Há especialmente o pansexualismo, os chamados direitos sexuais, o sexo fácil, a ideologia do Gênero que infelizmente é promovida pelos mesmos Órgãos da ONU, que formam uma mentalidade distorcida, que não escuta a razão, com a condição de continuar a viver uma vida sem regras éticas. Não devemos esquecer a forte luta contra a Igreja, que defende o direito à vida como o primeiro dos direitos. Muitos dos Meios de Comunicação social são organizados para orientar a opinião pública em favor da liberdade sexual total.

ZENIT: Na sua experiência de guia familiar, o que acontece com um casal que resolve abortar por motivos econômicos?

MONS.VITALIANO: O aborto, por qualquer motivo, sempre deixa uma marca profunda. As diferentes situações, por exemplos as econômicas, podem diminuir a responsabilidade do casal, mas não tocam na gravidade do ato. Sabe-se, contudo, que a situação económica não é a causa principal e a maioria dos abortos não acontece por este motivo. É só pensar na quantidade de adolescentes que a cada dia abortam. E este número aumenta continuamente. Não têm razões econômicas. O trauma é sempre muito grande. As vezes não se nota imediatamente, mas sim depois de muitos anos. Especialmente se o aborto foi realizado em uma idade jovem, com grande inconsciência e irresponsabilidade. No começo aciona-se um sistema psicológico de proteção mas em seguida, com o tempo, e uma maior maturidade, a mulher toma consciência e se envolve num sentimento de culpa que permanece por toda a vida. Pessoalmente conheci mais de uma pessoa octogenária que comentou com muita tristeza: eu matei meu filho porque quando era jovem pratiquei um aborto.

ZENIT: Existe alguma circunstância extrema na qual a Igreja permita abortar?

MONS. VITALIANO: A Igreja deve ser coerente com a doutrina expressa pela lei natural e afirmada na Sagrada Escritura: cada vida humana é sagrada desde a concepção até a morte natural. Esta firmeza na doutrina é muitas vezes confundida com uma falta de sensibilidade, de respeito, e de compreensão da Igreja para com a mulher. Não é assim. Quando a Igreja condena o aborto se refere ao fato de abortar, que é sempre intrinsecamente ilícito. Nunca a Igreja tem falado contra a mulher que infelizmente teve um aborto. A Igreja é uma mãe que compreende as situações humanas, a fraqueza e os condicionamentos sociais. Tudo isso pode diminuir a responsabilidade da mulher, mas não pode alterar o juízo ético negativo sobre a ação cometida. A Igreja segue a pedagogia aplicada por Jesus. No Evangelho de João, à jovem adúltera, o Mestre respondeu: “Ninguém te condenou? Nem eu te condeno. Vai, mas de agora em diante não peques mais” (João 8, 11). Jesus, compreendendo as diversas circunstâncias, perdoou a jovem mas ao mesmo tempo a fez compreender que a sua atitude estava errada e que não deveria nunca mais repetí-la.

A ação libertadora da confissão

Fundador dos Franciscanos da Imaculada explica como o sacrifício de Jesus libertou a humanidade do pecado

Padre Stefano Maria Manelli *

ROMA, sexta-feira, 3 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – No Jardim das Oliveiras, Jesus fez o exame de consciência da humanidade. Todos os pecados dos homens de todos os tempos, toda a fealdade, a vergonha, os horrores e os sofrimentos, as dores e as tristezas, para pagar pelos crimes da humanidade: este foi o exame de consciência do gênero humano, sofrido por Jesus com tamanha angústia mortal que o fez suar sangue até banhar-lhe o corpo e a terra.

Contemplando Jesus a suar sangue no Jardim das Oliveiras, deveríamos abrir os nossos olhos para a realidade do pecado, para nos horrorizarmos e chorar lágrimas de sangue, como as que chorava São Francisco de Assis.

Recordemos o clamor materno de Nossa Senhora em Fátima: “Não ofendam mais o Senhor nosso Deus!”. O pecado é o sofrimento de Jesus. Seus tormentos e suas gotas de sangue são todos os nossos pecados. Se pensássemos seriamente sobre isto, não ficaríamos tão indiferentes nem nos tornaríamos tão facilmente escravos do pecado.

Uma vez, olhando para um crucifixo, a pequena Jacinta de Fátima perguntou a Lúcia:
– Porque Nosso Senhor está assim, pregado numa cruz?
– Porque ele morreu por nós.
– Então me conte como foi.

E Lúcia contou a Jacinta toda a Paixão e Morte de Jesus. “Ao ouvir narrar os sofrimentos do Senhor,a pequenina se comoveu e chorou… Ela chorou amargamente e dizia: ‘Pobre Jesus! Eu não vou cometer nenhum pecado! Eu não quero que ele sofra mais!’”.

A dor e o propósito de Jacinta são o fruto do verdadeiro exame de consciência. A dor sincera leva a não cometer mais pecados para não ferir Jesus e não o fazer sofrer.

Por outro lado, o pecado é também a causa de muitos castigos e problemas que afligem a humanidade. Lembremo-nos do que Jesus disse ao paralítico depois de curá-lo: “Vai e não peques mais, para que não te suceda coisa pior” (Jo 5,14).

Na segunda aparição, Lúcia de Fátima pediu a Maria pela cura de uma pessoa doente, e Nossa Senhora disse: “Se ela se converter, ficará curada ainda este ano”. Faltas e pecados são a causa dos nossos males e castigos. Na terceira aparição, Nossa Senhora também disse: “Se os homens não pararem de ofender a Deus, explodirá uma nova e mais terrível guerra… Deus… punirá o mundo pelos seus crimes com a guerra, com a fome, com a perseguição contra a Igreja e contra o Santo Padre”.

Os pecados são a perdição do mundo. Se amamos a humanidade, paremos de pecar. Nós temos que lutar contra todo pecado, em especial através da penitência, e da penitência sacramental, isto é, a confissão.

A confissão é o sacramento do perdão, que destrói os nossos pecados. Quem odeia o pecado, ama a confissão, porque bem sabe que a confissão apaga a própria sombra do pecado na alma. Mais: sabe que a confissão torna a alma pura e resplandecente e muito cara a Jesus.

Na vida de Santo Antônio de Pádua, lemos que um dia foi até ele um grande pecador que pretendia se confessar. O arrependimento sincero, no entanto, fazia chorar o pecador tão irrefreavelmente que ele sequer podia contar os seus pecados. O santo disse a ele: “Veja: vá escrever os seus pecados e volte para lê-los”. O penitente obedeceu e foi escrever os seus pecados numa folha de papel. Voltou até o santo, se ajoelhou aos seus pés e começou a ler a lista de pecados. E qual não foi a sua surpresa ao perceber que, terminada a leitura e recebida a absolvição sacramental, a folha em que ele havia escrito os seus pecados tinha-se tornado toda branca!

Este é o resultado da confissão sincera dos pecados: a alma é lavada pelo Sangue divino de Jesus e fica iluminada pela graça. Por esta razão, São Francisco de Assis se confessava três vezes por semana, e muitos outros santos se confessavam até diariamente.

Nós, além da confissão todo primeiro sábado do mês, não devemos nos esquecer da confissão todas as semanas, de acordo com a mais sadia e sábia norma da verdadeira vida cristã. Sem a confissão frequente, semanal, nunca amadurecerá em nós a dor do pecado e o crescimento do amor puro diante do sofrimento de Jesus e do Coração Imaculado de Maria circundado de espinhos.

Virtudes a praticar: a dor do pecado.

Para aprofundamento: Pe. Stefano Maria Manelli, “Ó Rosário bendito de Maria”.

* O pe. Stefano Manelli, fundador da ordem religiosa dos Frades Franciscanos da Imaculada, é um dos autores católicos que mais livros venderam. Seus escritos foram impressos em milhões de cópias, com vários tendo sido traduzidos para diversos idiomas. Entre os de maior circulação, “A devoção a Nossa Senhora”, “Jesus Eucarístico Amor” e “Maio, Mês de Maria”.