Em entrevista, O diretor David K. Kyle justifica as suas opiniões sobre o aborto, na ocasião do lançamento de Blood Money – Aborto Legalizado.
por Bruno Carmelo
Estreia nesta sexta-feira o documentário Blood Money – Aborto Legalizado, dirigido pelo americano David K. Kyle. O filme é um ataque feroz à prática do aborto legalizado nos Estados Unidos, considerado como uma indústria sanguinária financiada com dinheiro público. O filme adota posturas muito polêmicas, dizendo que preservativos são falhos e incentivam o sexo sem fins de procriação, que toda experiência de aborto leva ao arrependimento da mulher e que a prática legal do aborto seria pior do que a escravidão, e comparável ao nazismo, por tentar dizimar bebês.
Diante de tamanha controvérsia, o diretor conversou em exclusividade com o AdoroCinema sobre o seu filme, explicando porque condena o aborto, mesmo em caso de estupro, e porque evitou o discurso religioso no documentário.
Qual é o público-alvo do seu filme?
Bom, este filme pode dialogar com qualquer um, independentemente da opinião sobre o aborto. Se a pessoa já é contra o aborto e assiste ao filme, nós esperamos que ela aprenda ainda mais sobre o assunto, porque a verdade é que a vida nasce desde a concepção, e que as mulheres têm problemas depois do aborto. É importantíssimo que as pessoas saibam disso. É isso que as pessoas pró-morte não querem que a população descubra, porque senão todos vão passar a defender a vida. E os pró-morte poderão pensar sobre o assunto, e descobrir o que realmente se passa dentro de uma clínica de aborto.
O filme defende vários dogmas cristãos, mas nunca fala em nome de nenhuma religião. Por quê?
Bom, nos Estados Unidos, se você faz um filme religioso, ele imediatamente será ignorado pelas mídias. Pode-se pensar que este tema é religioso, mas ele diz respeito a todo mundo, porque fala sobre a vida humana. E o maior direito de todas as pessoas é o direito à vida. Que você tenha uma religião ou não, você pode concordar com a ideia que todas as formas de vida são válidas.
No Brasil, um aspecto particularmente delicado na discussão sobre o aborto diz respeito ao estupro. A legislação brasileira permite o aborto em caso de estupro, por estimar que seria um sofrimento muito grande à mulher ter um filho que fosse fruto de tamanha violência. Você não cita nenhum caso de estupro no filme. Qual é a sua opinião a esse respeito?
Claro, a experiência é traumática, mas eu conheço mulheres que foram estupradas, e que escolheram a vida. A criança pode ter sido fruto de um estupro, mas ela ainda tem direito à vida, ela não pode ser sentenciada à morte. Além disso, o aborto também é uma experiência traumática. Se a mulher foi estuprada, não é correto submetê-la a outro trauma, que seria o aborto. Eu falo por experiência, pelos casos que vi acontecer nos Estados Unidos. Uma mulher pode ter esse filho, e tudo correr bem.
Mas você não acha que ter este filho, que não é fruto do amor, não seria um trauma ainda maior para a mãe? Ela teria que se lembrar sempre da violência que sofreu.
Bom, se uma mulher foi estuprada, ela já vai se lembrar disso a vida inteira, de qualquer maneira. Agora pelo menos ela tem algo que pode ajudá-la, ela tem esse bebê para amar, e isso pode tornar a sua vida melhor. Esta pode ser uma nova experiência, depois de uma violência tão terrível.
Quais foram as reações ao seu filme nos países por onde passou?
As reações foram muito positivas. Algumas pessoas ficaram chocadas, fizeram muitas perguntas. Inclusive, uma jornalista que defendia o aborto viu o filme e veio conversar comigo. Ela disse que não tinha mudado de ideia, mas que o documentário tinha apresentado pontos de vista que ela não conhecia, e que agora ela pensava melhor no assunto. A minha esperança é que ela continue a pensar no tema, faça algumas pesquisas, converse com outras pessoas e que talvez mude de ideia.
É curioso que você não tenha colocado nenhuma opinião favorável ao aborto no filme, nem que fosse para explicar porque estas ideias não são válidas.
Bom, eu não pretendia de maneira alguma defender as posições pró-aborto, não queria dar ainda mais espaço a elas. Além disso, nenhuma pessoa pró-morte aceitaria dar um depoimento no meu filme. Planned Paranthood (clínica que realiza abortos e distribui preservativos nos Estados Unidos) jamais aceitaria falar no filme. E eu não quero enganar ninguém, não quero manipular ninguém. Se alguma pessoa pró-morte falasse, ela teria que saber que seria em um filme pró-vida. Eu até cheguei a entrevistar uma pessoa que defendia o aborto, mas decidi que não deveria manter este único depoimento no filme, não fazia sentido. E eu não queria atacar a imagem de ninguém. Eu sou contra uma ideia, não contra pessoas.
Claro, mas no final, o discurso é claramente contrário aos democratas. Você ataca em especial Barack Obama, não é?
Os democratas têm uma tendência muito maior a defender o aborto. Quando você vê o Obamacare (plano de saúde instituído por Obama), ele financia abortos em Estados onde isso é legalizado. Os americanos estão pagando, com os seus impostos, pelo aborto. Mesmo que eles sejam contrários a isso, eles estão financiando esta prática. Isso é um absurdo, forçar as pessoas a financiar algo com que não concordem.