1. Oração Pessoal
“A oração é um trato de amizade, estando, muitas vezes, a sós, com Quem sabemos que nos ama”.
Como a própria palavra nos diz, é uma oração da pessoa, sozinha, com Deus. É o momento do encontro com o nosso Amigo, nosso Amado, como costumo chamá-lo. Encontro primeiramente de amor, onde eu deixo-me seduzir pela sua voz, e com o coração inflamado de desejo de esta com Jesus, vou ao seu encontro.
É importante fazermos uma programação de horário do nosso dia para este grande encontro, onde teremos, em nossa agenda, aquela hora destinada ao encontro com Deus. Momento de dialogo, ou seja, conversa entre duas pessoas. Onde me coloco diante de Deus e coloco tudo que trago em meu coração, e ouço a sua opinião, os seus conselhos, as suas exortações.
Momento de graça, pois se fomos feitos a imagem e semelhança de Deus, é n’Ele que irei encontrar o meu verdadeiro eu, a minha identidade e dignidade. Ao mesmo tempo, irei perceber que existe muitas coisas em minha vida que não condiz com minha filiação de filho(a) de Deus. E ali já peço que Deus retire todas as “máscaras”, “roupas velhas”, “adereços” que fui colocando ou colocaram em mim, que desfigura a minha verdadeira imagem. Por isso que deveremos ter antes de tudo, quando vamos a oração pessoal, uma disposição de deixar Deus fazer o que Ele desejar, do contrário, iremos até nos encontrar com Deus, mas em nossa liberdade, optamos em continuarmos a pessoa velha.
A oração é uma resposta de amor que se fundamenta, na fé, no amor e na confiança. E a iniciativa é sempre do Amigo. A oração é um ato humano, todas as pessoas rezam, sejam em louvor, com pedidos, ação de graças, mas a qualidade da oração depende da fé e da consciência que temos do nosso interlocutor, Deus.
Mas a oração, como diálogo, nós falamos, mas devemos escutar o que Deus tem para nos falar, pois Ele deseja falar conosco, quer nos dizer o quanto nos ama e como nos ama, quer manifestar a sua vontade e o que devemos fazer.
“Para mim, a oração é um impulso do coração, é um simples olhar lançado ao céu, um grito de reconhecimento e Amor no meio da provação e da alegria; enfim, é algo de grande, de sobrenatural, que me dilata a alma e me une a Jesus” (Santa Teresinha)
Santa Teresa D’Ávila nos fala que a oração é a entrada no castelo interior, que irá nos conduzir ao átrio do mesmo, e lá encontramos com Jesus.
Adentrar no castelo interior, passar pelas suas várias moradas, encontrar-se com o Rei, não é, não ter mais pecados, mais é caminho de conversão, de desejar fazer a vontade de Deus, diariamente, e configurar-se a Cristo. A cada encontro o próprio Deus irá realizar a sua obra salvífica em nós. Somos chamados a acreditar e acolher a vontade de Deus, na humildade e obediência como Maria Santíssima.
Já Santa Teresinha de Lisieux nos diz que a oração é como tirar água de um posso, e temos, no decorrer da nossa vida de oração, degraus a percorrer. Ela fala de quatro degraus da vida de oração:
1º grau: “Os que começam a ter oração, podemos dizer que são os que tiram água do poço, o que dá muito trabalho, e que se hão-de cansar em recolher os sentidos…”
No início da nossa caminhada na vida de oração fazemos um esforço muito grande, utilizando a nossa inteligência e sentidos.
2º grau: Falemos agora do segundo modo de tirar água… “para que, com o engenho de um torno e alcatruzes, o jardineiro tire mais água e com menos esforço, e assim possa descansar mais sem estar sempre a trabalhar.”
E o grau onde iremos para oração, mas o esforço não é mais tão humano, já conseguimos uma quietude diante de Deus. Diferente do primeiro grau, que ainda tenho necessidade de demonstrar muitas coisas ao Senhor.
3º grau: Vamos falar agora da terceira água com que se rega esta horta, que é água corrente do rio ou de uma fonte, com a qual se rega mais com menos trabalho, ainda que dê algum com o encaminhar da água. Quer o Senhor aqui ajudar o hortelão, de forma que Ele se torna o hortelão e o que faz tudo…”
Podemos comparar a uma plantação que utilizaremos motor para retirar a água do poço e levá-la com canos de irrigação. Nós ainda utilizamos nossa inteligência no encontro com Jesus, mas não fazemos quase nenhum esforço humano.Lembrando sempre que a terra a ser irrigada é o nosso coração.
4º grau: “Pode-se regar com o muito chover, que o rega é Senhor sem nenhum trabalho nosso, e é sem comparação muito melhor do que tudo o que fica dito… Falando desta água que vem do céu, para com a sua abundância encher e fartar toda esta horta de água, e se nunca deixar de dar tudo ao Senhor… nunca lhe faltarão flores e frutos…”
Percebemos que todas as graças de nossa vida de oração vem de Deus, e quanto mais nos lançamos em confiança em seus braços e deixamos que Ele guie a nossa oração e vida, mais frutos de amor e misericórdia contemplaremos em nossa vida. É a maturidade na vida de oração. É ser crianças nos braços de Deus. A alma apenas deixar-se amar pelo Amado. Deixa que Ele adentre o mais profundo do seu ser, como um mergulhador nas profundezas do oceano que vai revelando os tesouros ali escondidos. É deixar que entre nos túmulos presentes em nosso ser, e nos pegue pelo punho, e nos ressuscite com Ele.
Na vida de oração devemos nos deixar modelar nas mãos de Deus, como um barro nas mãos do oleiro.
Janet Alves
Formadora Geral da Comunidade Católica Reviver pela Misericórdia