A exemplo da Suécia, um país totalmente contaminado pela ideologia de gênero

Convém olhar para o exemplo sueco antes de se votar a reintrodução da ideologia de gênero no PNE. É a própria família brasileira que está em perigo.

Por Redacao

BRASíLIA, 22 de Abril de 2014 (Zenit.org) – O Projeto de Lei 8035/2010, que aprova o Plano Nacional de Educação (PNE) para o decênio 2011-2020, trazia termos próprios da ideologia de gênero: “igualdade de gênero e de orientação sexual”, “preconceito e discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero”. O Senado Federal, porém, em dezembro de 2013, aprovou um substitutivo (PLC 103/2012) que eliminou toda essa linguagem ideológica. De volta à Câmara, o projeto agora enfrenta a fúria dos deputados do PT e seus aliados, que pretendem reintroduzir o “gênero” no PNE, a fim de dar uma base legal à ideologia que o governo já vem ensinando nas escolas. O relator Angelo Vanhoni (PT/PR) emitiu em 09/04/2014 um parecer pela rejeição do inciso III do artigo 2º do Substitutivo do Senado Federal (sem “gênero”) e pelo retorno, em seu lugar, do inciso III do artigo 2º do texto da Câmara dos Deputados (com “gênero”).

Nem todos compreendem a importância e a extensão do problema. A vitória da ideologia de gênero significaria a permissão de toda perversão sexual (incluindo o incesto e a pedofilia), a incriminação de qualquer oposição ao homossexualismo (crime de “homofobia”), a perda do controle dos pais sobre a educação dos filhos, a extinção da família e a transformação da sociedade em uma massa informe, apta a ser dominada por regimes totalitários.

Alguns Bispos já alertaram a população para o perigo: Dom Orani Tempesta, Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)[1], Dom Antonio Carlos Rossi Keller, Bispo de Frederico Westphalen (RS), Dom Antônio Fernando Saburido, Arcebispo de Olinda e Recife (PE), Dom Paulo Mendes Peixoto, Arcebispo de Uberaba (MG), Dom José Benedito Simão, Bispo de Assis (SP) e Dom Fernando Rifan, Bispo da Administração Apostólica São João Maria Vianey.

Se quisermos, porém, ver o que é um país dominado pela ideologia de gênero, basta olharmos para a Suécia.

Pais isolados das crianças

Os dados a seguir foram extraídos de uma entrevista feita em 2011 pelo portal LifeSiteNews a Jonas Himmelstrand[2], um experiente educador sueco, autor do livro “Seguindo seu coração: na utopia social da Suécia[3], publicado em 2007 e ainda pendente de tradução.

Na Suécia, as crianças de um ano de idade são enviadas para as creches subsidiadas pelo Estado, onde permanecem desde a manhã até o entardecer. Enquanto isso, os pais ficam trabalhando fora do lar (a fim de arcarem com os elevados impostos cobrados), inclusive a mãe, pois a ideologia de gênero impede a mulher de ficar “trancada em casa e no fogão”, conforme uma expressão sueca. Num país de aproximadamente 100.000 nascimentos anuais, as estatísticas mostram que das crianças suecas entre 18 meses e 5 anos de idade, 92% estão nas creches.

Você não é forçado a fazer isso… propaganda é uma palavra forte”, diz Himmelstrand, “mas as informações sobre os benefícios das creches” vindas dos meios de comunicação e outras fontes “fazem os pais que mantêm seus filhos em casa até os 3 ou 4 anos de idade se sentirem socialmente marginalizados”.

Segundo Himmelstrand, “o problema central do modelo sueco é que ele está financeiramente e culturalmente obrigando os pais e as mães a deixar nas creches seus filhos a partir da idade de um ano, quer eles achem que isso é certo ou não”.

Crianças massificadas nas escolas

O currículo nacional da Suécia procura combater os “estereótipos” de gênero, ou seja, os “papéis” atribuídos pela sociedade a cada sexo. A escola “Egalia”[4], do distrito de Sodermalm, em Estocolmo, evita o uso dos pronomes “ele” (han) ou “ela” (hon) quando se dirige aos mais de trinta meninos e meninas que lá estudam, com idade de um a seis anos. Em vez disso, usa-se a palavra sexualmente neutra “hen”, um termo inventado que não existe em sueco, mas que é amplamente usado por feministas e homossexuais. A escola contratou um “pedagogo de gênero” para ajudar os professores a removerem todas as referências masculinas ou femininas na linguagem e no comportamento. Os blocos Lego e outros brinquedos de montar são mantidos próximos aos brinquedos de cozinha, a fim de evitar que seja dada qualquer preferência a um “papel” sexual. Os tradicionais livros infantis são substituídos por outros que tratam de duplas homossexuais, mães solteiras, crianças adotadas e ensinam “novas maneiras de brincar”. Jenny Johnsson, uma professora da escola, afirma: “a sociedade espera que as meninas sejam femininas, delicadas e bonitas e que os meninos sejam masculinos, duros e expansivos. Egalia lhes dá uma oportunidade fantástica para que eles sejam qualquer coisa que queiram ser”.

“Educação sexual”

Nas creches e escolas, totalmente fora do controle dos pais, as crianças são submetidas a uma “educação sexual”. Johan Lundell, secretário geral do grupo sueco pró-vida “Ja till Livet” (Sim à vida) explica que se ensina às crianças que tudo que lhes traz prazer é válido[5]. Os professores são orientados a perguntar aos alunos: “o que te excita?”. Segundo Lundell, o homossexualismo foi tão amplamente aceito pelos suecos, que “nos livros de educação sexual, eles não falam em alguém ser heterossexual ou homossexual. Tais coisas não existem, pois para eles todos são bissexuais; é apenas uma questão de escolha”.

Lundell cita uma cartilha publicada por associações homossexuais e impressa com o auxílio financeiro do Estado: “Eles escrevem de maneira positiva sobre todos os tipos de sexualidade, qualquer tipo, mesmo os mais depravados atos sexuais, e essa cartilha entra em todas as escolas”.

Perseguição estatal

Na esteira da ideologia de gênero, a Suécia aprovou uma lei de “crimes de ódio” que proíbe críticas à conduta homossexual. Em julho de 2004, o pastor pentecostal Ake Green foi condenado a um mês de prisão por ter feito um sermão qualificando o homossexualismo como “um tumor canceroso anormal e horrível no corpo da sociedade[6].

Os pais são proibidos de aplicar qualquer castigo físico aos filhos, mesmo os mais moderados. Em 30 de novembro de 2010, um tribunal de um distrito da Suécia condenou um casal a nove meses de prisão e ao pagamento de uma multa equivalente a R$ 23.800,00. O motivo foi que os pais admitiram que batiam em três de seus quatro filhos como parte normal de seus métodos de educação. Embora os documentos apresentados não relatassem nenhum tipo de abuso e o próprio tribunal admitisse que os pais “tinham um relacionamento de amor e cuidado com seus filhos”, as crianças foram afastadas da família e enviadas para um orfanato estatal[7].

Em junho de 2009, o governo sueco tomou do casal Christer e Annie Johansson o seu filho Dominic Johansson, depois que a família embarcou em um avião para se mudar para o país de origem de Annie, a Índia. O motivo alegado é que o casal, em vez de enviar seu filho para as escolas estatais, havia resolvido educá-lo em casa, uma prática conhecida como “home scholling” (escola em casa), amplamente praticada nos Estados Unidos e outros países, com excelentes resultados pedagógicos. As autoridades suecas, porém, decidiram remover permanentemente Dominic de seus pais, alegando que o ensino domiciliar não é um meio apropriado para educar uma criança[8].

Aborto

Entre 2000 e 2010, quando o resto da Europa estava dando sinais de uma redução da taxa anual de abortos, o governo sueco divulgou que a taxa tinha aumentado de 30.980 para 37.693. A proporção de abortos repetitivos cresceu de 38,1% para 40,4%. – o mais alto nível já atingido – enquanto o número de mulheres que tinha ao menos quatro abortos prévios cresceu de 521 para aproximadamente 750. A Suécia é o único país da Europa em que o aborto é permitido por simples pedido da gestante até 18 semanas de gestação. Menores de idade podem fazer aborto sem o consentimento dos pais e os médicos não têm direito à objeção de consciência[9].

Decadência social

Segundo Himmelstrand, tudo na Suécia dá sinais de decadência: adultos com problemas de saúde relacionados com “stress”, jovens com declínio na saúde psicológica e nos resultados escolares, grande número de pessoas com licença médica e a incapacidade dos pais de se conectarem com seus filhos[10].

Para Lundell, a Suécia quis criar um “socialismo de famílias” por meio de uma “engenharia social”[11]. Os frutos são patentes: casamentos em baixa, divórcios em alta, a família assediada e oprimida pelo totalitarismo estatal.

Convém olhar para o exemplo sueco antes de se votar a reintrodução da ideologia de gênero no PNE. É a própria família brasileira que está em perigo.

Ligue para o Disque Câmara 0800 619 619 – Tecle “9”

Desejo enviar uma mensagem aos membros da Comissão que votará o Plano Nacional de Educação (PL 8035/2010).

Solicito a Vossa Excelência que vote pela rejeição do parecer do relator e pelo retorno ao substitutivo do Senado, que elimina do texto a ideologia de gênero. A família brasileira agradece.

Anápolis, 21 de abril de 2014

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Presidente do Pró-Vida de Anápolis

[Fonte: www.providaanapolis.org.br]

[1] Reflexões sobre a ‘ideologia de gênero’, 25 mar. 2014, em http://arqrio.org/formacao/detalhes/386/reflexoes-sobre-a-ideologia-de-genero.

[2] http://www.lifesitenews.com/news/sweden-a-warning-against-overzealous-state-family-policies/

[3] http://www.jhmentor.com/eng_follow_heart.html

[4] http://www.lifesitenews.com/news/gender-madness-swedish-pre-school-bans-him-and-her

[5] http://www.zenit.org/en/articles/secularism-in-sweden

[6] http://www.lifesitenews.com/news/archive//ldn/2004/jul/04070505

[7] http://www.lifesitenews.com/news/swedish-parents-jailed-for-spanking-children-seized/

[8] http://www.lifesitenews.com/news/archive//ldn/2009/dec/09122304

[9] http://www.zenit.org/en/articles/secularism-in-sweden

[10] http://www.lifesitenews.com/news/sweden-a-warning-against-overzealous-state-family-policies/

[11] http://www.zenit.org/en/articles/secularism-in-sweden

Antonio Banderas recebe as boas vindas, como astro que é, ao retornar para Espanha para acompanhar a tradicional Semana Santa celebrada em Malaga

O astro espanhol Antonio Banderas retornou para sua cidade natal para celebrar a Semana Santa e se juntar às procissões Católicas de preparação para a Páscoa.

O ator de Hollywood vive atualmente em Los Angeles mas tenta voltar para seu lar em Malaga todo ano para a mais importante festa do calendário Católico. Banderas gosta de retornar para sua fraternidade ‘Tears and Favours’ para participar das tradicionais procissões que acontecem em todas as cidades e vilas Espanholas, que marcam a Semana Santa.

Ele foi fotografado tirando fotos com seus colegas penitentes antes do início da procissão do Domingo de Ramos, de Nossa Senhora das Lágrimas e de Favores, em Malaga.

A assombrosa procissão ocorre toda Páscoa na Espanha, com penitentes vestindo túnicas e chapéus cônicos – uma tradição criada para manter o anonimato – enquanto carregam efígies em tamanho real de Jesus Cristo e da Virgem Maria pelas ruas da cidade, acompanhados de batidas de tambores dramáticos e músicas melancólicas.

Por mais que Malaga seja uma cidade popular para ver as procissões – particularmente, pela presença do astro – de longe a mais visitada cidade para as celebrações católicas é Sevilha, em Andalucia, onde o centro medieval fica lotado de fiéis penitentes de diferentes congregações da Igreja. Turistas lotam as ruas, enquanto procissões programadas tecem seu caminho pela cidade desde o amanhecer até a madrugada.

Cada fraternidade é representada por diferentes cores de túnicas e as máscaras eram e ainda são, historicamente, para garantir o anonimato para aqueles que buscam pagar suas penitências.

Apesar das altas temperaturas – principalmente ao sul da Espanha – os fiéis lutam sob seus pesados trajes, balançando-os enquanto carregam enormes andores entre eles e algumas vezes até mesmo caminhando descalços.

Existem mais de 50 fraternidades religiosas em Sevilha, algumas fundadas muito antes do século XIII e cada procissão carrega uma estátua de Cristo, retratando diversas cenas bíblicas. A Virgem Maria é também sempre retratada de luto por seu Filho.

Enquanto algumas procissões são um tanto ruidosas, com bandas acompanhando os penitentes, uma das mais famosas é El Silencio, que é conduzida sem absolutamente nenhum acompanhamento musical.

Mais de um milhão de visitantes vão para Sevilha durante a Semana Santa, juntar-se às programações das mais variadas procissões e segui-las pela cidade.

Por mais que Sevilha seja o mais famoso local para se visitar na Espanha, é seguido de perto por Malaga e Toledo. Na América Latina, onde as procissões também são uma importante festa no calendário, a mais famosa cidade para testemunhar as coloridas procissões é Antigua, uma cidade colonial próxima à capital da Guatemala.

banderas1 

Calorosa recepção: Antonio Banderas retorna para sua cidade natal Magela para participar das celebrações Semana Santa.

banderas2

Velhos amigos: O ator se reencontra com os companheiros de sua congregação Santa Maria das Lágrimas e Favores

banderas3

Mantendo a fé: O astro espanhol se junta à sua congregação para carregar uma enorme estátua da Virgem Maria, decorada com velas, pelas ruas de Andalucia

banderas4

Fervor religioso: Penitentes da fraternidade de São Gonzalo participam da procissão de semana Santa em Andalucia, capital de Sevilha.

banderas5

Pagando penitência: A fraternidade de São Gonzalo marcha pela noite, suas velas vermelhas deixam suas vestes marcadas de cera.

banderas6

Marchando: Penitentes carregam um enorme andor com a Virgem Maria como parte da procissão pelas ruas de Sevilha.

banderas7

Todo o país:  Enquanto Sevilha tem as mais famosas procissões de Semana Santa, vilas e cidades por toda Espanha têm seus próprios eventos

banderas8

Eventos cotidianos: Crianças brincam ao fundo, enquanto penitentes seguem sua marcha, com Jesus em sua terceira queda, durante uma procissão em Zamora, Espanha

banderas9

Espetacular: Uma mulher e um garoto olham pela janela enquanto um penitente da fraternidade de São Gonzalo passam andando durante a Semana Santa em Sevilha

banderas10

Para todas as idades: Uma jovem penitente da fraternidade de São Gonzalo abraça sua amiga enquanto aguardam a procissão em um mercado

banderas11

Tradição: A procissão e os eventos da Semana Santa podem atrair muitos turistas de todo o mundo mas, na verdade, continuam sendo de uma grande importância para a vida dos moradores de Sevilha

banderas12

O espírito do Festival: Pessoas apreciam tapas e bebidas fora de um bar, enquanto penitentes da fraternidade de São Gonzalo andam para a igreja para iniciar a procissão.

Fonte: Mail

Misericórdia, “lei suprema” da Igreja

Entrevista com o “ministro da misericórdia” do Papa, cardeal Mauro Piacenza, penitenciário maior do Tribunal da Penitenciária Apostólica

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 16 de Abril de 2014 (Zenit.org) – Conversão e confissão, justiça e pastoralidade, liberdade e verdade. Conceitos da Doutrina da Igreja, que correm o risco de permanecer abstrato se não aplicados à realidade concreta das pessoas, às suas feridas, aos seus pecados. Logo, a questão de todos os tempos: a Igreja deve se adaptar às necessidades dos tempos? Divorciados que buscam a absolvição no confessionário, “duas mães” que querem batizar a própria filha (…). É preciso dar ouvidos a opinião pública? Ou continuar a missão de ser luz para o mundo, proclamar a verdade, mesmo que, muitas vezes, “incomodando”? Aparentemente perguntas retóricas para um católico, ao mesmo tempo, o centro de muitas polemicas, às vezes, dentro da própria Igreja. Uma análise lúcida de tudo isso oferece à ZENIT o cardeal Mauro Piacenza, penitenciário maior da Santa Sé, “ministro da misericórdia” do Papa Francisco, que explica como a Igreja “administra” a misericórdia e como esta “lei suprema” governa, além da lei e da justiça “humana”.

Eminência, próxima sexta-feira tem início a Novena da Divina Misericórdia. Qual é o significado desta devoção?

Cardeal Piacenza: Antes de mais nada, próxima sexta-feira será a Sexta-Feira Santa, que é o memorial da Paixão de Jesus Cristo e é particularmente significativo que Santa Faustina Kowalska tenha recebido a designação de “envolver” toda a celebração Pascal com sabor de Misericórdia, que, como o Papa nos recorda, é o próprio nome de Deus. Deus e a Misericórdia desceu sobre a terra em Jesus.

Portanto, não é uma “sobreposição indevida”?

Cardeal Piacenza: Absolutamente não! Eu diria, sobretudo, explanação. Não pode haver uma devoção pessoal que substitua ou se sobreponha à liturgia pública da Igreja. A Divina Misericórdia é uma explicação da mensagem salvífica da Páscoa.

Qual a razão desta forte expressão de fé?

Cardeal Piacenza: Certamente o impulso dado por João Paulo II e a origem sobrenatural da devoção. Provavelmente, essa acolhe e expressa a necessidade de confiar em Jesus, próprio do coração humano. O mundo e os homens têm necessidade infinita da misericórdia, e o Sagrado Coração ferido e aberto é um ícone maravilhoso. Todos nós precisamos daquele abraço e ninguém que se abre a isso é excluído.

Sobre João Paulo II, como era o relacionamento dele com a Divina Misericórdia?

Cardeal Piacenza: Com certeza temos de reconhecer uma relação muito especial com Deus. O Santo Papa era um místico e qualquer um podia contemplar isso, era completamente imerso na oração, mesmo em momentos públicos. João Paulo II foi capaz de manter em equilíbrio a relação entre a Divina Misericórdia e a responsabilidade humana.

A Igreja nos últimos tempos, graças ao Papa Francisco, fala bastante de misericórdia. Mas, na realidade, governa por direito. Seria uma contradição?

Cardeal Piacenza: Para aqueles não familiarizados com a lei ou que se detêm em ‘clichês’. Não é como no sistema civil, fundamentado em uma suposta justiça humana, a complicação é desnecessária. O direito, no mistério da Igreja, é garantia de liberdade e moderação no exercício do poder que, devido aos limites e paixões humanas, corre o risco de corromper-se até a arbitrariedade. O Código diz: “A salvação das almas deve ser sempre a lei suprema na Igreja”.  Mais misericórdia do que isso!

Mas como podem estar juntas a justiça e a misericórdia? O que significa então a pastoralidade?

Cardeal Piacenza: Não é cancelar o Evangelho, ou a Doutrina ou a Tradição da Igreja, autenticamente interpretada pelo Magistério. A pastoralidade é, sobretudo, não iludir os homens deixando-os na sua condição de pecado. Mas eu acho que é profundamente pastoral “descer” às feridas da vida de qualquer um, como fez o Senhor, levando a luz da verdade. A Igreja realmente tem certeza de que “a verdade nos liberta”. A Verdade é o único verdadeiro critério de autenticidade para a justiça, a misericórdia e a autentica pastoral. No fundo, todo mundo deseja a liberdade, mas, sem a verdade, não é mais do que a escravidão de sua arbitrariedade subjetiva, que não tem nada a ver com a consciência formada e informada mencionada no Magistério.

Seus primeiros colaboradores são os penitenciários das basílicas romanas. Qual é a mensagem “confessional”?

Cardeal Piacenza: Roma é a cidade escolhida pela providência para ser a Sé de Pedro, chamado a confirmar os seus irmãos na fé. A fé autêntica sempre traz consigo o dom da consciência de suas próprias limitações e pecados. Por esta razão, Pedro exerce particularmente a sua misericórdia através das penitenciárias apostólicos das basílicas papais. É uma porta sempre aberta para receber de Deus o perdão e a paz, para realizar sacramentalmente o convite de Jesus à conversão. Nos reconcilia também com a Igreja reforçando a comunhão fraterna. O que acontece no silêncio dos confessionários também tem um aspecto social, benéfico para todo o corpo da Igreja.

O que é necessário para uma boa confissão?

Cardeal Piacenza: Um penitente convicto é um bom confessor! É necessário que o penitente, tendo feito o exame de consciência, seja realmente humilde para confessar todos os pecados graves cometidos desde a última confissão, olhando para si na transparência de Cristo. A acusação deve ser acompanhada pela dor dos pecados e por uma resoluta vontade de não os cometer novamente, de afastar-se do pecado. O sereno confronto com o confessor, médico e juiz, mestre e pai, irmão e amigo, será de fundamental importância para uma adequada iluminação da consciência pessoal, também através da penitência, que é expressão histórica visível da conversão e ligada ao dom da graça.

Se o senhor tivesse que confessar uma pessoa divorciada que mora com outra pessoa, daria a absolvição?

Cardeal Piacenza: Se quiser ouvir de maneira integral os ensinamentos de Jesus, se compreende que não há pecado que não possa ser revertido quando o pecador ouve a palavra de Jesus que diz: “nem eu te condeno, vai e não peques mais”. O “não peques mais” está indissoluvelmente ligado à “nem eu te condeno”. Clara é a palavra do Senhor e, consequentemente, claro é o Catecismo da Igreja. Para com essas pessoas, no entanto, reserva-se cuidadosa solicitude, ajudando-os a levar uma vida de fé, sustentada pela oração, animada pelas obras de caridade e empenho na educação cristã dos filhos.

Mas tudo pode mudar. Atualmente é impossível não levar em conta a opinião pública…

Cardeal Piacenza: Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre. A opinião pública é outra coisa se comparada ao senso comum da fé.  É facilmente condicionada através da mídia, pelo poder dominante, que, no século passado, tornou-se uma ferramenta para impor uma ideologia. A Igreja, em dois mil anos, guiada pelo Espírito Santo, sempre evitou identificar-se ou submeter-se a qualquer ideologia ou poder. A Igreja obedece a Cristo e não ao homem, e não podia fazer outra coisa senão ser Lumen Gentium.

O senhor teve notícias do batismo, na Argentina, de uma criança filha de “duas mães”?

Cardeal Piacenza: O batismo jamais é negado a uma criança! Um bebê é sempre uma criatura de Deus, amado por Ele, e ainda é inocente. Quando eu era vigário paroquial, muitas vezes, recebi casais irregulares, que pediam o batismo; eu simplesmente pedia-lhes a garantia de, pelo menos, uma abertura para a educação cristã dos filhos e também para escolher uma madrinha ou padrinho que cuidasse. É triste que se instrumentalize um Sacramento a tal ponto. Eu acho que devemos rezar muito pelo futuro da criança.