Em meio a tantos divórcios de famosos em 2016, o exemplo de Celine Dion irradia a beleza do verdadeiro sentido do matrimônio.
O ano que se passou não se resumiu a crises no campo da política e da economia mundial. 2016 também experimentou o gosto amargo do divórcio, como anunciaram as manchetes dos grandes jornais. De repente, casais famosos terminaram suas relações e puseram um fim em suas promessas matrimoniais — tristes decisões que não deixam de provocar angústia na sociedade e também na Igreja, levando muitos até mesmo a questionar se valeria a pena a luta pela indissolubilidade do matrimônio.
“Não nos podemos deixar vencer pela mentalidade divorcista”, exortou São João Paulo II certa vez, em um discurso ao Tribunal da Rota Romana [1]. Apesar de parecer absurdo, é verdade que muitos católicos, mesmo crendo na indissolubilidade do matrimônio, desistem de defender publicamente a fé, por considerá-la apenas um ideal cristão, sem significado para o mundo moderno. Contra esse estado de tibieza, o Santo Padre pedia uma “confiança nos dons naturais e sobrenaturais de Deus ao homem” [2]. De fato, somente essa confiança pode impedir a proliferação da chaga do divórcio e de suas consequências nefandas para a sociedade.
É preciso também desmascarar certa propaganda midiática, cujo forte apelo sobre o público tende a desesperá-lo da graça na vida familiar. Não é verdade que o matrimônio indissolúvel seja apenas uma doutrina católica. Trata-se, antes, de uma norma jurídica natural que, quando vivida de maneira aberta ao verdadeiro amor e sacrifício pelo cônjuge e pelos filhos, se torna acessível a todos, mesmo para aqueles que ainda não vivem plenamente a fé cristã. É o que se pode observar, em alguns casos particulares, no próprio meio midiático.
No início de 2016, a cantora canadense Celine Dion emocionou seus fãs ao testemunhar sua dor pela perda do marido, o produtor René Angelil, morto em decorrência de um câncer na garganta.
Angelil teve de lutar contra a doença por dois longos períodos antes de vir a falecer, em 14 de janeiro do ano passado. Celine Dion estava no auge de seu sucesso — a cantora acabara de gravar My Heart Will Go On, tema do filme Titanic —, quando o marido foi diagnosticado com câncer pela primeira vez, em 1999. Preocupada com ele, a cantora decidiu interromper sua carreira para cuidar da família, retornando aos palcos somente em 2002.
Celine Dion sempre demonstrou uma devoção maior pela família do que pela carreira. O retorno à música teve uma condição: permanecer ao lado do marido e do filho, isto é, sem grandes turnês internacionais. A cantora, então, assinou um contrato para shows apenas em Las Vegas, nos Estados Unidos, onde se apresentou durante seis anos no seu próprio Coliseu, o Caesars Palace.
Depois de um tempo de recuperação, René Angelil foi novamente diagnosticado com câncer, em 2014. E outra vez Celine interrompeu os shows para se dedicar integralmente ao marido. Após a morte dele, a artista deu uma entrevista comovente à jornalista da TV CBS, Katie Couric, na qual disse que a maior conquista de sua vida não era a carreira, mas sua família. “Agora, talvez outra pessoa poderia fazê-la feliz de uma maneira diferente?”, perguntou-lhe a jornalista. “Ele foi o único homem que eu beijei na minha vida, que eu namorei, então, hoje, eu diria que não”, respondeu a cantora canadense.
De fato, Celine Dion não é uma santa nem uma exímia católica. Pode-se questionar muitas de suas atitudes. Mas seu belo testemunho de respeito e amor à família devem ser louvados, sobretudo agora em que se exalta tanto o oposto entre o meio artístico. E isso se torna ainda mais imperioso quando se descobre a origem desse zelo de Celine Dion: ela o aprendeu da mãe, que lhe deu a vida e o exemplo do amor incondicional.
Celine é a 14ª filha de Ademar Charles e Teresa Dion. A cantora revelou em 2002 que quase foi abortada. Quando sua mãe Teresa ficou aflita por saber que estava grávida, ela foi até um padre para aconselhar-se. “Ele lhe disse que ela não tinha direito de ir contra a natureza. Então, eu tenho que admitir que de um jeito, eu devo minha vida àquele padre”, contou Celine Dion, explicando que “uma vez que o aborto estava fora de questão, sua mãe a amou apaixonadamente”. E esse amor por crianças e pela família lhe foi transmitido. Em uma outra entrevista de 2012, a cantora afirmou que sua vida é ser mãe: “É o meu maior prêmio. Eu me arrisco com a música, mas não com minha família“.
Esse testemunho, sem dúvida, responde à pergunta inicial deste texto: sim, vale a pena lutar pela família indissolúvel, pois, como explicava São João Paulo II, “este bem encontra-se precisamente na base de toda a sociedade, como condição necessária da existência da família” [3]. Neste sentido, “a sua ausência tem consequências devastadoras, que se difundem no tecido social como uma chaga […] e influenciam negativamente as novas gerações, perante as quais é obscurecida a beleza do verdadeiro matrimônio” [4]. Provado está que o casamento não é somente um ideal cristão, mas uma verdade natural, acessível a todos os homens de boa-vontade, até que a morte os separe. Tenhamos a coragem de nós também testemunharmos isso.
Com informações de LifeSiteNews.com | Por
Referências
- São João Paulo II, Discurso aos prelados auditores, oficiais e advogados do Tribunal da Rota Romana na inauguração do Ano Judiciário (28 de janeiro de 2002), n. 5.
- Ibidem.
- Idem, n. 8.
- Ibidem.