Crise na Igreja? Estes dois Santos podem ajudar

Os males que o Senhor permite que nos aconteçam são um chamado bem forte para nos despertar e fazer-nos redescobrir nossa identidade como discípulos de Cristo.

Nós temos sempre necessidade do exemplo e da doutrina dos santos para nos mantermos no caminho certo. Em outubro, a Igreja celebra as festas de muitos santos de elevada estatura. Dois deles, especialmente amados pelos católicos, são lembrados bem no começo do mês: Santa Teresinha do Menino Jesus (dia 1.º de outubro no novo calendário, e 3 no antigo) e São Francisco de Assis (4 de outubro em ambos).

Santa Teresinha ensina-nos a não deixar passar jamais as pequenas coisas, nas quais Deus se encontra conosco e através das quais nós demonstramos o amor que lhe temos.

São Francisco ensina-nos, por sua vez, que tudo não passa de uma grande perda em comparação com o amor extraordinário de Cristo crucificado.

Ambos tornaram-se santos por meio do caminho apertado (cf. Mt 7, 14), colocando Cristo cada vez mais em primeiro lugar e fugindo do pecado com cada vez mais determinação. Não é que Teresa e Francisco não tenham experimentado percalços ou fracassos — uma perfeição assim completa não é possível para nenhum ser humano decaído; como diz Santo Tomás, seremos totalmente perfeitos apenas na pátria celeste —, mas eles sabiam para onde estavam indo e como chegariam a seu destino, sem jamais se deixarem demover por qualquer obstáculo.

Nosso Senhor age poderosamente dentro de nós, mesmo com os entraves que nós mesmos tantas vezes colocamos à sua ação. Por isso, não devemos parar de entregar a Ele o nosso coração com aquele ato de vontade único, simples e fundamental de dizer: “Senhor, eu quero pertencer-vos, eu quero ser vosso por toda a eternidade. Fazei-me vosso pelo poder de vosso Espírito Santo.”

A raiz da atual crise por que passa a Igreja nada mais é do que a ausência de um desejo ardente por estar com Nosso Senhor Jesus Cristo e permanecer nEle hoje, todos os dias, até o dia final. É esse o fundamento da santidade e de absolutamente tudo na vida cristã. Sem esse desejo por uma união cada vez mais perfeita com Cristo, nosso Salvador, nada mais importa nem chega a fazer qualquer sentido. Eis o que temos de redescobrir — a começar por aqui, no meu e no seu próprio coração.

Os males que o Senhor está permitindo que nos aconteçam são um chamado bem forte para nos despertar e fazer-nos redescobrir nossa identidade e compromisso básicos como discípulos de Cristo. E porque geralmente o amor tem chances de se revelar mais nos pequenos do que nos grandes caminhos, como Santa Teresinha nos recorda, é preciso que nós nos humilhemos, buscando o Senhor todos os dias na oração — recorrendo à Confissão, à Missa, à adoração eucarística, bem como ao auxílio de Nossa Senhora e dos santos, não obstante os desânimos, aborrecimentos, maus sentimentos ou quaisquer outras coisas que tentem nos tirar do que nós sabemos ser nosso dever.

Nossa rotina diária parece incluir todo o tempo do mundo para o escrutínio intenso de notícias, para o “lançamento” de reclamações como se fôssemos navios em uma batalha naval, para a produção de análises que se encaixem aos fatos do dia e para o cultivo da ansiedade quase como uma atividade artística. Eu mesmo conheço bem a tentação de ser absorvido e se perder nessas coisas.

Não me entendam mal! É claro que existe um tempo para se manter atualizado com as notícias, para fazer críticas e análises de conjuntura, ainda que não seja por ansiedade ou angústia excessivas.

Eu acredito, porém, que Santa Teresinha e São Francisco nos diriam: Não se esqueça de reservar tempo, e cada vez mais tempo, para fazer uma oração recolhida, humilde, generosa e de coração pela Igreja e por todos os seus membros, desde o Papa até o mais simples dos leigos, ou por seja lá o que mais o esteja incomodando.

Faça isso por amor a Cristo, que amou e se entregou por você, e isso quando você era ainda um miserável pecador (cf. Gl 2, 20; Rm 5, 8). Rezar será muito mais eficaz para uma reforma verdadeira e duradoura da Igreja do que todo e qualquer “ativismo” com que estejamos habituados.