A Bélgica, um dos poucos países que legalizou a eutanásia, legalizou, hoje, a medida sem precedentes de abolir as restrições de idade nesta matéria, permitindo que qualquer pessoa solicite a morte assistida – o que estenderia este direito às crianças.
Parece que o projeto de lei tem um amplo apoio no país. Mas também provocou uma intensa oposição dos seus detratores, entre eles uma lista de pediatras e pessoas de todos os setores que organizaram protestos nas ruas, diante do temor de ver crianças vulneráveis persuadidas a inclinar-se pela irreversível opção.
Os que defendem a medida, como o pediatra Gerland van Berlaer, acreditam que a eutanásia é um ato de compaixão que precisa ser adotado. Segundo o médico, a lei será suficientemente específica, a ponto de ser aplicada somente às crianças e adolescentes em estados avançados de câncer ou que sofrem uma dor insuportável.
Nós não entendemos como um médico pode se pronunciar a favor da eutanásia porque um paciente sofre de dor insuportável. Primeiramente a medicina, hoje, dispõe de inúmeros meios de manter o paciente sem dor, medicações de grande poder sedativo, graças a Deus. Desta forma, se fossemos levar em consideração apenas este argumento, a aprovação da eutanásia infantil não teria acontecido.
Foram apresentados outros argumentos para esta aprovação:
“Estamos falando de crianças que realmente chegaram ao final da sua vida. Não é questão de ter anos ou meses de vida: sua vida acabará de qualquer maneira”, disse Gerland, diretor de uma clínica na unidade pediátrica de terapia intensiva do Hospital Universitário de Bruxelas.
“O que elas nos pedem é: não me deixem partir de maneira terrível, horrorosa; deixem-me ir como um ser humano e enquanto ainda tenho minha dignidade”, acrescentou.
São crianças, pessoas, que foram acometidas por doenças que irão levá-las mais preconcebendo desta vida, e que merecem ter todo conforto, amor, cuidados paliativos, para que possam viver seus últimos dias sabendo que são queridas e amadas, e que não são um peso porque estão doentes ou seus familiares por não saberem lidar com a dor, querem ser “caridosos”, e antecipar o término de suas vidas.
Nossas crianças não estão interessadas em seu aspecto exterior, se seus cabelos caíram ou se estão magras, isto é um pensamento hedonista, mas a única linguagem que entendem é a do amor. Aqueles que defendem a eutanásia como uma forma de manter a dignidade e continuar sendo um ser humano, é no mínimo um pensamento narcisista, hedonista, onde minha dignidade e humanidade dependem da minha aparência e do que eu posso dá a sociedade, podemos até complementar: não causar dor nem sofrimento a ninguém.
O homem é pessoa enquanto tiver um sopro de vida, e sua dignidade independe de suas condições de saúde, classe social, idade, sexo… a nossa dignidade esta em sermos filhos de Deus. Nos sentimos gente, com dignidade, quando nos sentimos amados por nossos familiares e defendidos por eles.
Infelizmente vivemos em uma sociedade da beleza, do prazer e da alegria. Isto não quer dizer que ser belo e alegre não seja bom, mas as pessoas não querem mais sentir nenhum tipo de sofrimento, não querem perder tempo nos seus relacionamentos, querem tudo descartável, não querem mais cuidar dos seus entes queridos, sejam crianças ou idosos, em seus leitos de morte.
Lendo esta reportagem lembrei de minha bisavó, Maria, que morreu com mais de 90 anos, em casa, deitada em uma rede, rezando o terço com minha tia. Ela não tomava mais banho sozinha, tinha limitações, mas me lembro da alegria de minha avó em cuidar de sua mãe. Onde está escondido o amor aos mais próximos, o desejo de dá minha vida e tempo a meu ente querido que esta para partir. Trocar suas roupas, lavá-las, beija-lo, dizer que o ama, que sua vida, mesmo em cima de uma cama é um dom para toda a família. As vezes queremos ajudar, materialmente, pessoas que estão bem longe de nós, as quais não precisamos nos doar, apenas doar dinheiro, e rejeitamos os que estão tão próximos e que querem apenas serem amados e não assassinados.
Diante de uma medida desta, nós lamentamos profundamente esta decisão do governo Belga, que é egoísta, e que levará ao assassinato de tantas crianças e jovens, impedindo muitas vezes da família de unir-se para doarem suas vidas, neste momento, aquele ente querido.
Janet Alves