Bispo da Inglaterra adverte sobre administração de remédios letais para pacientes cuja expectativa de vida é de seis meses ou menos
Por Redacao
ROMA, 26 de Junho de 2014 (Zenit.org) – Dom Mark Davies, bispo de Shrewsbury, afirma que projeto do Lord Falconer sobre a morte assistida que passará pela segunda avaliação na Câmara dos Lordes em 18 de julho, vai diminuir a proteção legal para alguns membros mais fracos da sociedade.
O Bispo, que irá alertar os fiéis sobre as implicações do projeto de lei em uma carta pastoral aos católicos da sua diocese neste fim de semana, diz que será “impossível prever” as consequências de tal mudança na lei, acrescentando que “em 1967, os políticos que legalizaram o assassinato de crianças não nascidas em circunstâncias limitadas e excepcionais não previa que violar a santidade da vida humana levaria à destruição gratuita de milhões de vidas.”
É “incompreensível”, afirma Dom Davies, que os políticos considerem uma lei que irá diminuir a proteção dos idosos e dos doentes em um contexto de preocupação generalizada com relação aos maus-tratos de pacientes e residentes de alguns hospitais e asilos do país.
A carta será lida nas missas da Diocese de Shrewsbury no fim de semana do domingo 29 de junho, festa dos Apóstolos Pedro e Paulo.
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Carta Pastoral
O grande desafio para a nossa geração
Para ser lido na missa em todas as igrejas e capelas da Diocese na Solenidade dos Santos Pedro e Paulo, em 29 de junho de 2014
Caros irmãos e irmãs,
Escrevo na festa dos Apóstolos Pedro e Paulo, quando ouvimos no Evangelho a grande promessa de Nosso Senhor a Simão Pedro:
“Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. E as portas do inferno não prevalecerão sobre ela “(Mt 16:18).
O século passado foi marcado pelo surgimento de ideologias desumanas e tal derramamento de sangue sem precedentes e destruição fez, muitas vezes, parecer que “as portas do inferno” tinham prevalecido. No entanto, os sucessores de São Pedro, na Santa Sé de Roma, estiveram na vanguarda da defesa da vida humana, na defesa do valor de cada pessoa humana. Eles proclamam o Evangelho da Vida, em face do que São João Paulo II descreveu como “a cultura da morte”. Hoje, essa cultura de morte se manifesta na destruição escondida do nascituro em escala industrial, e na ameaça do assassinato de doentes e idosos, que seus defensores perversamente chamam de “misericórdia”.
O Papa Francisco dá prosseguimento a esse testemunho inabalável no nosso tempo, com suas palavras e gestos, afirmando o valor eterno de cada ser humano, especialmente os mais fracos e os mais frágeis. Em sua Exortação mais recente, o Santo Padre nos convida a estar atentos às novas formas de pobreza e vulnerabilidade. Papa Francisco fala especificamente dos idosos.
“Cada vez mais sós e abandonados” e dos filhos que ainda não nasceram “os mais inermes e inocentes de todos ” (Evangelii Gaudium n. 210, 213).
Não preciso lembrá-los da preocupação generalizada sobre os maus-tratos dos idosos e daqueles que estão no fim da vida em alguns dos nossos asilos e hospitais – apesar das pessoas dedicadas que trabalham nestas áreas da saúde. Parece ainda mais incompreensível, considerar uma mudança na lei para diminuir a proteção dada aos mais vulneráveis.
No mês que vem um projeto de lei para legalizar o “suicídio assistido” àqueles que estão no fim da vida começa a tramitar no Parlamento. A legislação será apresentada como uma medida “compassiva”, cujo único objetivo é aliviar o sofrimento dos doentes e os idosos. No entanto, está longe de ser compassivo retirar as proteções legais previstas para os membros mais vulneráveis da sociedade. A proposta de alteração nas leis visa licenciar os médicos para fornecer drogas letais que ajudem nas mortes daqueles cuja expectativa de vida é de seis meses ou menos. Se o Parlamento permite exceções às leis que protegem a própria santidade da vida humana, seria impossível prever onde isso acabará. Em 1967, os políticos que legalizaram o assassinato de crianças não nascidas em circunstâncias limitadas e excepcionais não previram que violar a santidade da vida humana levaria à destruição gratuita de milhões de vidas. Não é de surpreender que muitas pessoas vulneráveis, incluindo pessoas com deficiência, sejam hoje levadas em consideração por Lord Falconer no projeto “suicídio assistido”. Pode parecer razoável falar de “opção pelo fim da vida” – como os ativistas de eutanásia fazem – mas que escolha será deixada para muitos?
As recentes comemorações do Dia D nos fez recordar que a geração anterior estava pronta para enfrentar a morte em defesa da vida e da dignidade humana, o que no período da guerra o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Winston Churchill, descreveu como uma batalha pela sobrevivência da “Civilização cristã” (House of Commons, 18 de junho de 1940). Foi a fé cristã, que nos levou a reconhecer a santidade de cada vida humana, o valor de cada pessoa humana. Na busca pela definição indescritível dos “valores britânicos”, os nossos líderes políticos precisam olhar mais para os fundamentos da nossa sociedade. E enquanto recordamos o heroísmo de gerações anteriores, não devemos deixar de reconhecer o grande desafio para a nossa geração. Somos chamados agora a defender a santidade da vida humana em meio às crescentes ameaças contra ela.
Defendender o valor da vida e da dignidade de cada pessoa humana, desde a sua concepção até a sua morte natural, representa a grande batalha da nossa vida, uma batalha que deve lutar com as armas da paz. Juntos com o Papa Francisco, o Sucessor do Apóstolo Pedro, possamos finalmente repetir as palavras do apóstolo Paulo: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.” (2 Tim 4:7)
Que assim seja, para cada um de nós. Com a minha bênção,
+ Mark
Bispo de Shrewsbury