Ideologia de Gênero: o que é, de onde vem, e por que você deve se preocupar com ela

28 DE SETEMBRO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

Já há algum tempo, no curso de um movimento iniciado no hemisfério norte, vem sendo disseminada nas escolas brasileiras a chamada “ideologia de gênero”. À revelia dos pais, crianças e adolescentes têm sido expostos a um discurso sobre os sexos que, além de os levar a interpretações errôneas da realidade, os torna confusos e vacilantes em relação à circunstância mais básica e evidente da existência humana: o fato de alguém ser homem ou mulher. O que vem ocorrendo é um verdadeiro abuso moral. Dada a importância do assunto, resolvi dedicar a ele uma série de artigos aqui no blog.

A “ideologia de gênero” é um emaranhado de postulados sem comprovação científica, desarticulados e muitas vezes contraditórios entre si, que transitam entre temas como “identidade de gênero”, “transgeneridade”, “orientação sexual” e “desigualdade de gênero”. Nesse artigo, vou tratar do primeiro tema, ou seja, da pressuposição de que ser homem ou ser mulher nada teria a ver com o fato de se nascer com um corpo masculino ou feminino, sendo antes matéria de decisão pessoal. Ou, alternativamente, de que uma pessoa pode “descobrir” que não é nem homem nem mulher, havendo um cardápio de mais de 50 gêneros já catalogados e disponíveis à escolha. O “gênero” seria não só algo descolado do sexo biológico, como teria o poder de anulá-lo.

É com base nessas ideias delirantes que os promotores da “ideologia de gênero” militam pela implementação de uma pedagogia escolar que estimula meninos e meninas a realizarem atividades, usarem roupas, e brincarem com objetos tradicionalmente associados ao sexo oposto. Em certas escolas, chega-se ao paroxismo de proibir o uso de pronomes distintivos de gênero, que são substituídos por um pronome “neutro” inventado artificialmente com esse fim. Segundo essa cartilha, as crianças devem ser educadas num ambiente de completa indistinção, alienadas, o máximo possível, de sua condição sexuada. Mas não nos deixemos iludir: essa ideologia é essencialmente política e nada tem de libertária.

Não se trata de dar liberdade para que as crianças sejam meninos ou meninas à sua própria maneira, e sim de fomentar dúvidas e questionamentos em relação à sua própria identidade. O objetivo não é combater discriminações e preconceitos, estimular o respeito às diferenças, etc, e sim planificar a visão de mundo das novas gerações, por meio da desconstrução do conceito tradicional de família e do ataque à heteronormatividade. Não por acaso, nas escolas cujos currículos já foram invadidos pela “ideologia de gênero”, os estudantes também são permanentemente expostos a um discurso de crítica ao modelo universal de família baseado na complementariedade entre marido e mulher.

De onde vem a “ideologia de gênero”? O que chega nas escolas é uma versão popularizada de ideias gestadas no contexto das disciplinas universitárias agrupadas sob o título de Humanidades, e posteriormente disseminadas com o auxílio da mídia. A partir da década de sessenta, essas disciplinas foram se tornando gradativamente comprometidas com a pauta da segunda onda feminista, focada na crítica aos fundamentos da cultura judaico-cristã, e na revolução dos costumes. Nos anos noventa, já haviam acolhido também os anseios da militância LGBT. Porém, apesar de sua origem acadêmica e de seu verniz pseudocientífico, a “ideologia de gênero” se baseia em formulações desprovidas de rigor intelectual e sem nenhum compromisso com a realidade dos fatos associados aos sexos. Vamos então aos fatos.

Meninos e meninas nascem diferentes, não só no que se refere à fisiologia genital e reprodutiva, mas também à composição hormonal e à estrutura psíquica. Numa visada geral, essas diferenças se refletem nos modos de se desenvolver e de se comportar, assim como em suas respectivas seleções recorrentes de interesses. A partir dos três anos de idade, quando as capacidades verbais e motoras já estão mais desenvolvidas e as crianças adquirem competência para expressar suas disposições e habilidades, alguns padrões se tornam evidentes.

Por exemplo, é fato notório que, em média, os meninos desenvolvem a coordenação ampla (relacionada aos atos de correr, pular, escalar, etc.) ligeiramente mais cedo, ao passo que as meninas se antecipam no desenvolvimento da coordenação fina (relacionada às habilidades de desenhar, escrever). A maioria dos meninos costuma vibrar com brincadeiras de lutar, escalar e deslizar pelo chão, ao passo que a maioria das meninas prefere movimentar-se de maneira mais estruturada, ou, pelo menos, não tão explosiva e arriscada. Do ponto de vista linguístico, é comum que as meninas falem e ampliem o vocabulário mais cedo, sendo também mais sensíveis aos sinais de comunicação não-verbal. Por fim, podemos citar ainda tendências diversas nas formas de sociabilidade, os meninos preferindo brincar em grupos maiores e mais erráticos, e as meninas sendo mais inclinadas a formar grupos coesos ou pares de afinidade.

Os promotores da “ideologia de gênero” alegam que esses padrões não seriam expressão de diferenças naturais entre os sexos, e sim resultado de um processo de socialização que induziria as crianças a se comportarem de acordo com os “estereótipos sexuais da sociedade ocidental”. Ora, ao defender essa ideia, eles fazem vista grossa para dois conjuntos de dados muito importantes. Por um lado, para toda a produção das neurociências a respeito das correlações entre o comportamento de homens e mulheres, e o modo como funcionam os seus respectivos sistemas hormonal e neuronal. Por outro lado, para o fato de que, a despeito de variações culturais de nível superficial, esses padrões se revelam histórica e etnograficamente recorrentes, estando longe de representar uma exclusividade da sociedade ocidental. Mas os promotores da “ideologia de gênero” não gostam de discutir dados que contrariem as suas teses e os seus projetos de engenharia social. Sendo assim, temos mais um motivo para impedi-los de participar da educação de nossas crianças, a saber, a sua desonestidade intelectual.

Educar uma criança consiste em oferecer-lhe os meios para que desenvolva, da maneira mais elevada possível, as suas potencialidades individuais, o que inclui dar plena expressão à sua condição sexuada. Nesse sentido, devemos ajudá-la a cultivar os seus melhores talentos não só para a vida em comunidade, mas também para a vida na intimidade da família que provavelmente irá formar. Nunca houve, em lugar ou tempo algum, exceto na mídia e nas universidades do Ocidente pós-moderno, quem deixasse de compreender o papel que as diferenças naturais entre homens e mulheres cumprem no sentido de prover a estrutura familiar com o máximo de recursos que concorram para o seu sucesso. Porém, para aqueles que desejam o esfacelamento da família tradicional, nada que propicie a complementariedade entre os sexos deve ser legitimado.

Isso explica, por exemplo, a aversão dos promotores da “ideologia de gênero” às clássicas brincadeiras de menina e menino, bem como a sua insistência em criticá-las. Para eles, uma menina pode brincar de ser médica, empresária, astronauta ou presidente de um país, mas a fantasia de ser mãe ou dona de casa precisa ser desconstruída. Melhor guardar a boneca e as panelinhas antes que ela tome gosto. Do mesmo modo, é preciso impedir que os meninos se percebam ágeis, fortes e resistentes. Urge proibir a brincadeira de luta e dar sumiço na capa de super-herói. Pois se um homem confiante e corajoso é um bem incalculável para uma família, para a ideologia de gênero ele representa um empecilho e tanto.

Mas o que dizer das meninas que não ligam para bonecas e dos meninos que não gostam de brincar de luta? Ora, não há absolutamente nada de errado com essas crianças. Evidentemente, não seria de se esperar que as diferenças naturais entre os sexos se atualizassem da mesma forma, e na mesma medida, nas predisposições e preferências individuais de todas os meninos e meninas. Escolhi citar tais brincadeiras menos por sua recorrência (que, no entanto, é real), e mais pelo fato de serem tão combatidas pelos promotores da “ideologia de gênero”. Mas deixo o assunto para o próximo artigo. Esse aqui já está muito longo e preciso finalizá-lo com um alerta.

Pais e mães, redobremos a nossa atenção. Não deixemos que os nossos filhos sejam usados como massa de manobra por pessoas que não hesitarão em se aproveitar de sua imaturidade intelectual e psicológica. Precisamos ficar de olho no modo como a escola lida com essas questões, e sempre atentos ao nível de transparência de suas ações pedagógicas. Não podemos abrir mão de nossas prerrogativas parentais, permitindo que crianças saudáveis e cheias de energia criativa sejam transformadas em pequenos militantes angustiados e ansiosos em relação ao seu próprio modo de ser. Seja ele qual for.

A maternidade e a educação das meninas

12 DE MAIO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

Em um artigo anterior, publicado aqui no blog e intitulado Devotamento Materno, falei do despreparo das mulheres ocidentais contemporâneas para a maternidade. Mostrei que boa parte do problema reside no fato de estarmos imersas numa cultura individualista, utilitarista e hedonista, que nos infantiliza e estimula a acreditar que o sentido da vida consiste em satisfazer todos os nossos desejos. Num clima moral como esse, evidentemente sobrará muito pouco espaço para o devotamento materno.

Cuidar de um filho e dispensar a ele toda a atenção necessária requer uma boa dose de abnegação. Acontece que fomos acostumadas a pensar em nós mesmas como incapazes de sacrificar prazeres e satisfações imediatas em prol de um projeto que desafie as nossas forças e nos transcenda. E por isso ficamos desnorteadas quando a experiência da maternidade nos chega com toda a sua realidade, sem os adornos românticos dos comerciais de televisão, e exigindo que deixemos o nosso mundinho auto referenciado para propiciar a existência de outrem.

Mas a questão não se resume à dificuldade de integrar essa experiência a uma configuração existencial frágil e imatura. Há também um despreparo de ordem prática, que diz respeito aos saberes e afazeres envolvidos na atividade materna. Ora, os conceitos, habilidades e técnicas implicados na criação de um filho não surgem, como num passe de mágica, junto com a criança. Antigamente, as meninas os adquiriam intuitivamente, observando suas mães, tias e vizinhas, e ajudando-as na lida com as crianças menores. Esse conhecimento era passado de um modo muito natural e realista, como ainda ocorre nas sociedades de feição mais tradicional.

Entre nós, já há algumas décadas tais saberes culturais deixaram de ser transmitidos verticalmente no interior da mesma família. Isso faz parte de um processo mais geral de enfraquecimento da autoridade e da função educativa dos pais, que foi sendo pouco a pouco absorvida pela escola. Desde que a educação escolar se universalizou e passou a representar a principal instância de formação da geração mais jovem, as meninas têm crescido sem nenhuma atenção ao exercício futuro da função materna. Os conhecimentos relativos ao desenvolvimento infantil e ao cuidado das crianças deixaram de ser contemplados como parte integrante e relevante do repertório cultural feminino, tendo sido deslocados para a alçada de especialistas investidos de autoridade científica.

Não se trata de sugerir que se ensine formalmente às meninas como se troca uma fralda ou se prepara uma papinha. Isso vêm com a própria necessidade. Ou pode ser resolvido com um cursinho de final de semana. O problema é de outra ordem. E ele reside no fato das meninas não serem minimamente estimuladas a trazer à imaginação questões de importância crucial para quem um dia vai assumir o papel de mãe. “Como é a rotina de um bebê? De que uma criança precisa para se desenvolver bem? Que aspectos e qualidades do meu ser terão que ser mobilizados para a tarefa de cuidar de meus filhos e educá-los? O que posso fazer para me preparar?”

As mulheres, por sua vez, só começam a perceber o quanto estão despreparadas quando se veem sozinhas com o seu recém-nascido e precisam administrar as questões da lida diária; quando a falta de segurança na condução dos pequenos rituais cotidianos e, mais tarde, na tomada de decisão educacionais, vai transformando a atividade materna em fonte de ansiedade e angústia. Muitas reagem à pressão emocional terceirizando o cuidado dos filhos, perdendo assim a chance de acompanhar e influenciar de perto o crescimento e o desenvolvimento de suas pequenas criaturas. E o triste saldo nós conhecemos. De um lado, crianças que não desenvolvem um vínculo de apego seguro com a mãe; de outro, mães que se sentem culpadas e frustradas com o conjunto de sua obra.

É muito bom poder contar com ajuda de confiança para aliviar a carga de trabalho envolvida no dia-a-dia com os filhos. E é também indispensável que os pais das crianças assumam toda a parte que lhes cabe. Mas nada substitui a atenção e o cuidado maternos e por isso não podemos tomar como natural o fato da educação das meninas não as preparar para as circunstâncias reais da maternidade. Não é digno de espanto que ninguém tenha nada a ensinar às meninas a respeito de filhos a não ser o modo mais seguro de evitá-los? Por que isso ocorre?

Em ampla medida, essa lamentável lacuna pode ser explicada pelo fato da cultura educacional nos países ocidentais ter sido gradativamente impregnada por uma agenda de viés progressista, também hegemônica na mídia e no ambiente acadêmico, e que tem num feminismo avesso à maternidade um de seus principais pilares. Tanto a educação escolar quanto a doméstica passaram a estar pautadas pela ideia de que preparar as meninas para a vida consiste em formar competências para que atuem na esfera pública, mais especificamente no mundo do trabalho.

Mas a coisa não para por aí. Pois não se trata somente de dotar as meninas dos recursos necessários para tanto. Todo um esforço vem sendo feito no sentido de convencê-las de que o desejo de construir uma carreira é mais legítimo e subjetivamente relevante do que qualquer outro. A importância social das relações domésticas de cuidado, nas quais as mulheres sempre exerceram um papel fundamental, é assim expressamente desprezada. E nada disso é por acaso. Seguindo as linhas mestras do progressismo global, o projeto educacional que está sendo implementado em nossas escolas e em nossas casas tem por escopo precisamente minar o protagonismo das mulheres na esfera privada, principalmente no que diz respeito ao papel maternal.

Devemos, sim, celebrar o fato de termos conquistado a possibilidade de exercer nossos talentos individuais também na esfera extrafamiliar. Isso é bom para nós, e também é bom para o mundo. Mas se o objetivo da educação é ampliar os horizontes existenciais das mulheres e elevar as suas possibilidades de realização pessoal, ela não pode se limitar a lhes acenar com uma posição no mercado de trabalho ou com espaços de influência na esfera pública. A grande maioria das mulheres quer se casar, ter filhos, construir uma família estável. Uma educação de fato comprometida com os seus interesses, e que vise habilitá-las para trilhar os seus próprios caminhos com liberdade e responsabilidade, precisa abraçar este dado incontestável da realidade: o sucesso profissional e o prestígio social jamais poderão preencher todos os espaços da alma feminina.

Devotamento materno: por que e como não perder o foco?

15 DE FEVEREIRO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

A maternidade costuma chegar para a mulher contemporânea como um acontecimento festivo, uma conquista pessoal. Porém, ela logo se dá conta da falta de disponibilidade interna para exercer o papel de mãe com devotamento e entrega. Em muitos momentos, a despeito de todo o amor que sente pelo pequeno ser que colocou no mundo, corresponder ao alto grau de dedicação que ele demanda parece estar além de suas forças físicas e psicológicas. Pelo menos, essa é a experiência concreta das mulheres do meio em que eu nasci, cresci e me tornei mãe.

Por que será que nos sentimos existencialmente tão despreparadas para a maternidade? A resposta é simples. Porque nossa cultura individualista, materialista e hedonista não valoriza o devotamento materno. Ao contrário, ela desqualifica a mulher que coloca os filhos no centro de sua existência. Há sempre aquelas que, corajosamente, teimam. Mas como a cultura não lhes ofereceu modelos, elas precisam realizar um enorme e solitário esforço de reconfiguração existencial, além de mobilizar muita energia para nadar contra a corrente.

Não é a primeira vez na história que uma cultura desestimula as mulheres a assumirem de corpo e alma suas responsabilidades maternas. Outros exemplos poderiam ser citados. Mas meu objetivo aqui é falar de nós, e a verdade é que há algumas décadas as mulheres ocidentais urbanas vêm sendo bombardeadas, por todos os lados, com uma intensa propaganda contra a mãe devotada. Não vou nem tratar aqui da militância das correntes feministas que, seguindo o argumento equivocado de Simone de Beauvoir, veem a maternidade como uma opressão da mulher. Estou me dirigindo às mulheres que valorizam sinceramente a maternidade, mas ainda assim hesitam, temendo se desconstruir diante do projeto maternal.

Crescemos ouvindo que ter filhos é algo desejável, desde que eles não sejam um obstáculo às nossas conquistas pessoais. Como se criar bem um filho não fosse, em si, uma grande conquista! Disseram-nos que os filhos, o trabalho, o lazer e a vida amorosa/sexual, são aspectos equivalentes e igualmente imprescindíveis de nossas vidas, que devem ser equacionados de modo que possamos satisfazer cada uma de nossas necessidades, sem perder nada. Crescemos como adultos mimados, incapazes de abrir mão de coisa alguma. E, como, de todas as pessoas com as quais nos relacionamos, as crianças são as que possuem menos recursos para fazer valer sua perspectiva e expressar suas necessidades, acabamos terceirizando demasiadamente os seus cuidados para fazer frente às outras demandas.

Acontece que nossos filhos não são artigos de consumo, eles não vieram ao mundo apenas para satisfazer o nosso desejo de possuí-los. A maternidade não deve ser encarada como uma experiência narcísica. Ela é o projeto grandioso de produzir pessoas, e requer da mulher uma boa dose de maturidade. Como superar a dificuldade de abrir mão, consciente e voluntariamente, de certos prazeres e hábitos que nos distraem e nos levam a perder esse foco?

O primeiro passo é nos convencermos da relevância, ou melhor, da grandiosidade da tarefa materna. Como alguém em sã consciência pode achar, honestamente, que dirigir empresas, vender produtos, estrelar novelas de TV, salvar baleias, ou qualquer outra atividade que uma mulher possa exercer fora de casa, compara-se em importância ao trabalho de cuidar bem dos pequenos seres humanos que colocou no mundo? Essa pergunta deve ser repetida para nós mesmas como se fosse um mantra, principalmente naqueles momentos em que sentimos falta dos aplausos dos outros.

Amamos nossos filhos mais do que tudo. E por eles seríamos capazes de dar a nossa vida. Mas nem sempre conseguimos abrir, em nossa rotina, o espaço prioritário que eles ocupam em nosso coração, e por isso vivemos em conflito. Ficamos enredadas em nossos próprios desejos individualistas, que se transformam e se amplificam na medida mesma em que são satisfeitos. Para escapar dessa armadilha, precisamos de uma profunda mudança de perspectiva, que começa por sermos capazes de discernir entre o que é prioritário e o que é secundário, de valorizar o essencial em lugar do acessório. Essa mudança pode ser libertadora, porque a energia de uma pessoa deve estar ali onde está o seu coração. Exercer a liberdade nada mais é do que fazer o que deve ser feito.

Ninguém faria tanta falta em nossas vidas quanto nossos filhos. E ninguém precisa mais de nós do que eles. Não seriam essas duas constatações já suficientes para nos convencer de que todas as outras coisas devem estar em segundo plano? Diferentemente dos demais projetos com os quais podemos eventualmente nos comprometer, o projeto materno não admite fugas ou escapes honrosos. E isso porque do outro lado da gangorra está um pequeno ser inocente e dependente que possui menos recursos do que nós para lidar com as frustrações. Por isso, o certo é equilibrar todas as outras coisas de modo que ele não seja prejudicado.

Mas que fique claro: o meu elogio ao devotamento materno não envolve nenhum tipo de sentimentalismo ou idealização. Não existe a mãe impecável, pois, como seres humanos que somos, nascemos inevitavelmente imperfeitas. Porém existe, sim, a mãe madura e responsável, que não se furta a assumir com zelo e determinação o seu papel. Quaisquer que sejam as circunstâncias concretas de sua vida, ela sempre acaba acertando no conjunto da obra. Porque se uma criança tem a atenção e o cuidado de sua mãe, tudo o mais virá como consequência.

A educação feminista e a desfeminilização das meninas

30 DE NOVEMBRO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

Como já sugeri nos dois artigos anteriores, o propósito mais pervasivo da chamada “ideologia de gênero” é promover a dissolução das noções de feminino e masculino, minando o padrão conjugal de complementariedade entre os sexos. O programa consiste, basicamente, em desfeminilizar as meninas e desvirilizar os meninos. Neste artigo, vou tratar especificamente do caso das meninas, que estão sendo expostas sem nenhuma defesa a uma torrente de mensagens desfeminilizantes vindas da mídia, da escola, e da indústria cultural. No final das contas, descontados todos os vernizes e recadinhos secundários, o conteúdo dessas mensagens é o seguinte: “para que sua existência seja validada pela sociedade, você precisa abrir mão de sua feminilidade.”

Um dos alvos prioritários desse discurso é a escolha da profissão. É bem sabido que as mulheres têm as suas carreiras prediletas. Em geral, predominam as profissões ligadas à docência e à saúde, à organização doméstica, ao cuidado de terceiros, e ao atendimento ao público em geral. Obviamente, nem todas as mulheres se encaixam nesse esquema. E, embora haja também áreas profissionais atraentes para ambos os sexos, a diferenciação vocacional é uma realidade inquestionável, que pode ser explicada pelo simples fato de homens e mulheres serem diferentes.

Os promotores da ideologia de gênero insistem, porém, que a maior propensão das mulheres a buscar preferencialmente certas atividades resulta de um modelo de educação machista e impositivo, que as levaria a se conformar aos “estereótipos femininos tradicionais”. Ora, um tal raciocínio seria válido se estivéssemos discutindo casos como o das meninas da Índia, do Paquistão, da China ou da maioria dos países muçulmanos. Mas no Ocidente contemporâneo, principalmente nas zonas urbanas, esse viés já não existe há muito tempo. Ao contrário, todo o esforço da escola e da mídia, ao longo das últimas décadas, tem sido no sentido de borrar as diferenças entre os sexos e tratá-los como perfeitamente intercambiáveis. Ou seja, o que vem ocorrendo é o oposto do que quer nos fazer crer esse discurso vitimista.

As meninas vêm sendo bombardeadas, de longa data, com uma intensa propaganda feminista cujo objetivo é lhes convencer não só de que devem colocar a vida profissional no centro de suas atenções, como também de que as profissões tidas como masculinas são mais interessantes que as outras. E, ainda assim, a maioria continua buscando profissões tradicionalmente femininas. O velho e batido argumento de que somos eternas vítimas de um sistema social opressor, que restringe as nossas opções, cai por terra à luz dos fatos reais.

O caso dos países nórdicos é particularmente exemplar. Em 2008, a Noruega foi eleita o primeiro país do mundo em igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Trata-se da educação mais igualitária do mundo. Mas, como bem demonstrou o jornalista Harald Eia no documentário “O Paradoxo da Igualdade”, apesar de todos os esforços no sentido de se eliminar qualquer fator material ou simbólico que possa infletir as escolhas de futuro dos estudantes, apenas 10% dos enfermeiros noruegueses são homens, ao passo que apenas 10% dos engenheiros são mulheres. Ou seja, as escolhas profissionais das mulheres norueguesas não podem ser explicadas por nenhum tipo de discriminação.

Mas a forma especificamente feminina de estar no mundo não se atualiza apenas na escolha da profissão. Ela se revela também no tipo de relação que as mulheres estabelecem com a carreira. Mesmo quando exercem profissões tidas como masculinas, elas costumam colocar mais limites do que os homens à quantidade de tempo e de energia que disponibilizarão para o trabalho fora de casa. E isso porque sabem que as suas possibilidades de realização existencial plena dependem de serem capazes de construir um lar estruturado e harmônico. A verdade é que a maioria das mulheres não quer abrir mão de cuidar pessoalmente dos filhos, mesmo que a profissão seja um aspecto importante de suas vidas.

Qualquer pessoa esclarecida sabe que a coletividade só tem a ganhar com a presença e a atuação das mulheres na esfera pública. Foi com isso em vista que, no final do século XIX e início do XX, mulheres corajosas e inteligentes lideraram, na Europa e nos Estados Unidos, movimentos em prol da ampliação dos direitos e dos espaços de atuação social femininos. Porém, estando em perfeita sintonia com a perspectiva das mulheres que representavam, as primeiras “feministas” sabiam que as conquistas femininas precisavam ser conciliáveis com as conveniências da vida familiar. Caso contrário, não seriam conquistas, e sim mera permuta infeliz de papéis. Duas coisas fundamentais eram levadas em consideração. Primeiro, o fato das crianças precisarem da atenção de suas mães. Segundo, que parte significativa do bem-estar subjetivo das mulheres está atrelada às suas obrigações morais para com a família.

A partir dos anos 60, porém, houve uma ruptura e uma mudança de rumo. Com o respaldo intelectual de figuras então já consagradas, como a filósofa francesa Simone de Beauvoir, o chamado “feminismo da segunda onda” abraçou falsos pressupostos, dentre os quais o mais nocivo foi o de que cuidar dos filhos representa uma atividade menor. Em “O Segundo Sexo”, Beauvoir afirmou que a maternidade é uma espécie de maldição que pesa sobre a mulher, tornando-a “escrava da espécie” e confinando-a ao domínio da imanência. Ela desprezava a vocação materna com todas as suas forças e acreditava que qualquer possibilidade de transcendência feminina dependia da saída e do abandono do lar. Em certa ocasião, esse ícone do feminismo foi capaz de dizer a seguinte frase: “Nenhuma mulher deveria ser autorizada a ficar em casa e criar os filhos. A sociedade deveria ser totalmente diferente. As mulheres não deveriam ter essa escolha, precisamente porque se a tiverem, muitas vão fazer isso.”

Guardadas algumas pequenas diferenças individuais que não afetavam o conjunto da obra, as feministas da segunda onda comungavam dessa visão estreita de liberdade feminina e nutriam a mesma aversão à maternidade e ao trabalho doméstico. Elas ignoraram por completo, ou fingiram ignorar, o aporte de inteligência, vigor e inspiração necessário ao trabalho cotidiano de uma boa mãe. Não compreenderam que não pode haver maior expressão de poder criativo do que fomentar, dia após dia, noite após noite, durante anos a fio, a existência de outro ser. Aliás, elas não foram nem sequer capazes de enxergar a maternidade como uma responsabilidade social de amplas consequências. E assim, com base na opinião de mulheres nada razoáveis, que projetaram a imagem de uma nova sociedade movidas pelos seus ressentimentos em relação aos homens, e olhando apenas para o seu próprio umbigo, foi construída uma ideologia política falaciosa, individualista e autoritária.

Ao tratar a maternidade como um fardo e atacar a figura da “mãe de família”, o feminismo se distanciou do universo feminino e fechou os olhos, de maneira covarde e perversa, para as necessidades das crianças. Fez estragos significativos na vida de pelo menos duas gerações de mulheres, transformando-as em pessoas angustiadas, existencialmente partidas, que correm atrás de um prejuízo que na verdade nunca tiveram. A boa notícia é que mesmo tendo sido impregnadas conceitualmente pelos slogans e palavras de ordem feministas, e a despeito de toda a tensão introduzida em suas vidas, a maioria das mulheres ainda mantêm o coração conectado ao projeto familiar, mesmo que de maneira um tanto quanto aflita. Por outro lado, não podemos deixar nos perguntar: até quando a feminilidade resistirá a tantas forças antagônicas?

Nos últimos anos, temos assistido a uma intensificação do proselitismo feminista em novas bases, com a introdução da ideologia de gênero no domínio da educação das crianças. Talvez pelo fato do discurso da auto vitimização e da acusação aos homens não ter sido suficiente para tirar as mulheres da rota do casamento e da família, a estratégia foi modificada e aprofundada. Na pauta feminista atual, influenciada pelo desconstrucionismo radical de autores ligados ao Movimento Queer, como Judith Butler, inclui-se o objetivo de solapar os próprios fundamentos da auto identificação sexual das meninas, privando-as do acesso a conceitos, imagens e símbolos que lhes permitam dar sentido cultural e expressar de maneira positiva a sua condição feminina.

Essa agenda está em andamento. Em muitos lugares, as meninas já não têm mais modelos positivos de feminilidade para imitar. Não podem mais se vestir de princesa, cuidar da boneca ou brincar de casinha sem que isso seja politicamente problematizado. Não devem dizer que sonham em se casar e ter filhos, sob pena de serem ridicularizadas. Só têm acesso a formas de literatura que questionem os chamados “estereótipos tradicionais”. E estão crescendo sem recursos cognitivos e culturais que lhes possibilitem desenvolver uma percepção clara de si mesmas como meninas e futuras mulheres. Aliás, em algumas escolas, já não se usa mais pronomes femininos para se referir a elas. Com tantas mensagens e injunções contrárias, é bem possível que, de tão sufocada, um dia a sua feminilidade natural já não tenha mais forças para emergir e direcionar suas escolhas.

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Cristiane Lasmar

Sou casada e mãe de dois meninos. Doutora em Antropologia, diretora de escola e autora do blog Infância Bem Cuidada.

BLOG NO WORDPRESS.COM.

A Guerra contra a masculinidade

Neste artigo, o quarto e último da série sobre a ideologia de gênero, vou falar sobre os meninos. Mais precisamente, sobre o modo como as suas disposições naturais vêm sendo depreciadas pela cultura feminista que domina a cena educacional contemporânea. No artigo anterior, mostrei que as meninas são educadas para a auto vitimização e a desfeminilização, e crescem com a falsa percepção de que os homens são inimigos potenciais. Os meninos, por sua vez, são levados a acreditar que aquilo que neles é mais espontâneo e específico, ou seja, a sua masculinidade, é nociva ao mundo e, principalmente, às mulheres.

As mensagens feministas dirigidas aos meninos devem ser entendidas como parte de um projeto político e ideológico mais amplo, cujos fundamentos, objetivos e métodos já foram dissecados por autoras como Christina Hoff Sommers, no livro “The War Against Boys” (2000) e Suzanne Venker, em “War on Men” (2013). Embora descrevendo o fenômeno a partir dos dados relativos à sociedade americana, essas análises descortinaram as bases do programa de ataque à masculinidade que está em curso em praticamente todos os países ocidentais. Vou me concentrar aqui no modo como esse programa é posto em prática na educação das crianças, começando por esclarecer quais são as disposições infantis que estou chamando de “masculinas” e que o projeto feminista tanto se esforça por neutralizar.

Sabemos que, durante a vida intra-uterina, o cérebro dos meninos é banhado por uma quantidade muito maior de testosterona do que o das meninas, e que isso determina, em ampla medida, a forma masculina de estar no mundo. Não é difícil perceber, por exemplo, que, em média, os meninos desenvolvem a coordenação ampla antes das meninas, ao passo que estas se antecipam no desenvolvimento da linguagem e da coordenação fina. E que, desde a mais tenra idade, a maioria dos meninos manifestam mais interesse imediato por objetos do que por pessoas, preferem brinquedos que possuem barulho e movimento, e mostram-se ávidos por brincadeiras que envolvam exploração, confronto corporal e dispêndio explosivo de energia.

A maior propensão dos meninos a recorrer à violência física para resolver conflitos também faz parte desse pacote. Quem os educa tem, portanto, diante de si, a importante tarefa de ajudá-los a mitigar e canalizar o seu potencial agressivo para formas de ação civilizadas e socialmente produtivas. Esse esforço de culturalização das disposições naturais masculinas é absolutamente necessário e jamais houve sociedade que deixasse de realizá-lo. Mas o que vem acontecendo no Ocidente contemporâneo é algo sem precedentes. Temos reprimido, em nossos meninos, todo tipo de comportamento que manifeste vigor combativo e espírito abertamente competitivo, sufocando assim traços essenciais de sua masculinidade. Em suma, os meninos estão sendo impedidos de ser meninos plenamente. E, quando resistem, seu modo de ser é problematizado, estigmatizado. Em muitos casos, chega a ser tratado como algo patológico.

É verdade que não se pode culpar a “ideologia de gênero” por absolutamente tudo. Alguns fatores sociológicos também contribuem para esse cerco à masculinidade. Um deles é a intensificação do padrão de vida urbano. A residência em apartamentos, a impossibilidade de brincar na rua ou em quintais, em contato íntimo com a natureza, assim como o fato das crianças precisarem estar sob a vigilância constante de um adulto, tudo isso restringe as suas possibilidades de experimentar situações não premeditadas de aventura, competição e confronto. A oportunidade de se movimentar amplamente ficou restrita à prática de esportes em clubes e academias, ou seja, a eventos de curta duração, rotinizadas e supervisionadas diretamente por professores e instrutores, ou seja, sem uma liberdade real. Em muitos casos, porém, nem isso é concedido aos meninos. Uma boa parte das crianças vive a triste realidade do sedentarismo absoluto. Durante o tempo em que não estão na escola, ficam paralisadas diante das telas dos aparelhos eletrônicos, assistindo por horas a fio as aventuras de personagens virtuais que lutam, correm e se arriscam. Tudo o que lhes resta é o exercício vicário da masculinidade.

Outro fator importante que concorre para esse processo é a dinâmica própria da escola. Por seu caráter universalista e homogeneizante, a escola moderna não pode permitir a expressão plena das individualidades dos alunos, e precisa mantê-los quietos pelo maior período de tempo possível. Além disso, com o fenômeno da judicialização crescente das relações sociais, as escolas têm se tornado alvo potencial de processos por parte dos pais, o que leva os gestores a tentar reduzir o risco de acidentes a zero, aprofundando o controle sobre a corporalidade exuberante dos meninos. Eles não podem brincar de luta, envolver-se em competições espontâneas e, em muitos casos, não são nem mesmo autorizados a correr no recreio. Devem ficar sentados por horas a fio, mimetizando a duras penas o comportamento das meninas, que, embora mais conversadeiras, são, em geral, mais maduras e capazes de se manter quietas e concentradas quando necessário. Por serem mais empáticas, elas também têm mais facilidade para desenvolver relações de cumplicidade com os professores.

Além de não possuírem meios para dar expressão às suas necessidades de movimento, ação e competição, os meninos ainda recebem poucos estímulos imaginativos na escola. Os professores são, em sua maioria, mulheres, e os currículos escolares têm se distanciado cada vez mais da sensibilidade masculina típica. Pensemos, por exemplo, na nova onda de desenvolver nos alunos “competências socioemocionais”. Não é preciso ser PHD em desenvolvimento infantil para saber que esse tipo de conteúdo será, já de saída, muito mais atraente para as meninas, as quais têm mais facilidade e desenvoltura para falar de seus próprios sentimentos, e gostam de fazê-lo. Não obstante, a matéria é introduzida como se atendesse a uma necessidade geral e irrestrita, e sem nenhuma consideração relativa às diferenças entre os sexos. É claro que isso não ocorre por desconhecimento ou descaso. O objetivo é exatamente o de transformar a sensibilidade dos meninos, da mesma forma como acontece com a seleção da literatura a ser trabalhada em sala de aula. Onde estão as histórias de batalhas, aventuras e heroísmo que tanto encantam a imaginação masculina? Foram substituídas por narrativas politicamente corretas e eivadas de ideologia de gênero.

Em condições normais, esses dois fatores de cerco à masculinidade – a vida urbana e a dinâmica escolar  – poderiam ser relativamente contornados pela adoção de estratégias de compensação e adaptação por parte da família e da própria escola. Porém, as chances de se encontrar caminhos alternativos que beneficiem os meninos têm sido limitadas pela interferência de um terceiro fator, que é dentre todos o mais perverso, justamente por impedir o ajuste dos outros dois. Refiro-me à influência nefasta do discurso feminista que apresenta o modo de ser masculino como potencialmente “tóxico”, como algo de que os homens precisam se livrar, para o bem das mulheres e para o seu próprio bem. Nesse ponto, já não estamos mais falando de um constrangimento à masculinidade criado por circunstâncias históricas e sociológicas, e sim de um juízo de valor ideológico e politicamente interessado.

O discurso da “masculinidade tóxica” já se embrenhou em todos os níveis da atividade educacional, impregnando a visão de mundo de boa parte das famílias e de quase todos os gestores e agentes escolares. Em seu nome, os meninos têm sido submetidos a um processo de desvirilização de amplas consequências individuais e sociais. Um exemplo é a redução significativa de suas chances de sucesso escolar. Ao exercer tamanha pressão sobre a masculinidade, a educação atual coloca os meninos em notória desvantagem acadêmica em relação às meninas. Eles são os campeões nos índices de suspensão, expulsão e reprovação. Entre a população menos favorecida economicamente, essa situação tem resultados cruéis. Diminui as chances de mobilidade social e, em casos de maior vulnerabilidade, pode levar à marginalização e à exclusão social.

Do ponto de vista individual, abafar a expressão da sensibilidade natural dos meninos e impedir que ela se desenvolva em formas socialmente legítimas e valorizadas, significa despersonalizá-los e restringir as suas perspectivas de vida. Do ponto de vista coletivo, significa deixar de prepará-los para assumir as suas responsabilidades futuras como cidadãos e pais de família. Em muitas ocasiões cruciais, e para certas atividades específicas permanentes, uma comunidade precisa contar com a energia viril, do mesmo modo como uma família precisa contar com um homem que seja capaz de assumir riscos e obrigações pesadas para provê-la e protegê-la. É nas situações de calamidade, nos eventos de emergência, e no enfrentamento das ameaças externas, que nos damos conta do quanto a força física, a intrepidez e a objetividade masculinas são predicados imprescindíveis e admiráveis. Como escreveu C. Hoff Sommers, no livro já citado: “A história nos ensina que a masculinidade sem moralidade pode ser letal. Mas quando a masculinidade é imbuída de moralidade, ela se torna poderosa e construtiva, e uma dádiva para as mulheres (grifo meu).”

Mas os promotores da “ideologia de gênero” não estão preocupados com nada disso. O que nós percebemos como um problema sério, para eles é o corolário de um projeto que foi laboriosamente posto em prática ao longo de cinco décadas e cujos efeitos começam a se tornar mais visíveis agora. O cenário que temos hoje diante de nossos olhos – meninos pressionados em sua masculinidade, meninas confusas em relação à sua feminilidade – vem sendo idealizado, planejado e executado desde o início da segunda onda feminista nos anos 60, quando as universidades, as escolas e os meios de comunicação começaram a ser ocupados por agentes dedicados à pauta da desconstrução.

Em suma, o projeto de desvirilização dos meninos é a outra face do projeto de desfeminilização das meninas. As meninas são convencidas de que a sua feminilidade as transforma em vítimas dos homens. Ressentidas, elas se desfeminilizam para competir com eles. Os meninos são convencidos de que a sua masculinidade os torna algozes das mulheres. Culpados pela dor que alegadamente lhes causariam, eles se desvirilizam para tentar agradá-las. E, desse modo, chega-se mais perto da desestruturação da família heterossexual monogâmica, por meio do ataque a um de seus principais fundamentos, a complementariedade entre os sexos.

Na ONU, Brasil vota SIM em proposta de retirar dos pais a “autoridade sobre a educação sexual dos filhos”

30 nov 2017

Por Carmadélio Souza
O controle dos pais sobre o modo como as crianças serão expostas à educação sexual na sala de aula foi debatido na semana passada numa comissão das Nações Unidas dedicada ao tema da infância.

A proposta era que, após a leitura do Terceiro Comitê da 72ª Sessão, fosse aprovada uma resolução recomendando que crianças pequenas pudessem ser expostas a aulas sobre sexo sem a necessidade de os pais serem informados. Entre os favoráveis estava o Brasil.

A maneira como votou cada país pode ser visto aqui. Y (sim) é para barrar as resoluções e N (não) é para sua aprovação.

Contudo, após a manifestação contrária dos Estados Unidos, que sob o governo Trump tem impedido o avanço das agendas liberais, os países do continente africano votaram em massa uma emenda contrária. A exceção foi a África do Sul, que ficou ao lado dos países europeus, que sugeriram a mudança.

Sendo assim, a autoridade dos pais sobre a educação sexual dos filhos está, temporariamente, garantida.

O Center for Family and Human Rights, uma ONG pró-vida, explica que o bloco africano e a pequena nação caribenha de Santa Lúcia orquestraram a votação que barrou – com 90 votos a favor da mudança e 78 contrários – as três resoluções abusivas.

Os africanos, liderados pelo Egito, foram inflexíveis, deixando claro que se oporiam a qualquer resolução das Nações Unidas que não levassem em conta a necessidade de “orientação dos pais e dos responsáveis legais”.

Santa Lúcia foi a primeira a propor uma alteração em parágrafos que falavam sobre crianças e adolescentes, que para a ONU são pessoas a partir dos 10 anos de idade.

“Os pais e a família desempenham um papel importante na orientação das crianças”, disse a delegada de Santa Lúcia na Assembleia Geral, insistindo que a linguagem original da resolução não era “adequada”, pois colocava a opinião dos pais em pé de igualdade a das crianças e dos professores.

Ela lembrou a todos do tratado da própria ONU sobre os direitos da criança, que reconhece o papel dos pais no direcionamento da educação de seus filhos.

Visivelmente frustrados, os delegados europeus e latino-americanos pediram uma votação sobre essas emendas. Acabaram vendo prevalecer a vontade dos países mais conservadores.

A União Europeia disse que não “virou a página” sobre educação sexual, indicando que o tema voltará a ser votado. Na mesma linha, os delegados da América Latina chamaram o texto final de “altamente problemático”.

O representante do Canadá disse: “não podemos aceitar isso”. Um delegado australiano afirmou que eles estavam “extremamente decepcionados”.

O delegado da Noruega foi o mais transparente, deixando claro que não podiam aceitar a premissa da emenda porque “as crianças devem decidir de forma livre e autônoma” sobre assuntos que envolvam saúde sexual e reprodutiva.

O representando egípcio, falando em nome dos países africanos, respondeu com igual transparência: “Nossa cultura africana respeita os direitos dos pais” e “rejeita as tentativas de alguns países de impor seu sistema educacional sobre nós”.

Os Estados Unidos e o Vaticano se pronunciaram, enfatizando o papel dos pais na educação sexual e rejeitaram o aborto como um componente da saúde sexual e reprodutiva.

As agências das Nações Unidas continuarão promovendo “educação abrangente sobre sexualidade” através de seus escritórios em todo o mundo. A falta de consenso sobre a questão na comissão frustrou as tentativas de legitimar a erotização precoce como um programa oficial da ONU.

Via G prime, Fonte; ONU e Center for Family and Human Rights

ONU repete o nazismo ao sugerir aborto de crianças com Down, denuncia ativista pró-vida

Uma jovem de 21 anos, portadora da síndrome de Down, fez um discurso impressionante em uma das reuniões da Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas (CDH) no início deste ano. Agora, ela publicou uma carta aberta, que vem chamando atenção para a agenda abortista da ONU, amplamente ignorada pela mídia.

Charlotte Helene Fien defendeu seu direito de viver após o advogado Yadh Ben Achour, representante da Tunísia na Comissão encorajar a adoção de uma lei que proteja as mulheres grávidas que desejam abortar filhos com Síndrome de Down. O posicionamento de Fien, que está se tonando um símbolo mundial do ativismo pró-vida, deixou os representantes da ONU  atordoados. Ela foi aplaudida de pé após seu discurso veemente.

O tunisiano Achour declarou – em uma reunião oficial da Comissão – acreditar que o aborto é um “meio viável” para prevenir que crianças vivam com “desvantagem” ao longo de toda uma vida. Ele sugeriu que a questão fosse debatida pelo CDH e acrescentou: “Nós podemos evitar as desvantagens e devemos fazer tudo o que pudermos para evitá-las”.

A resposta de Fien tanto no vídeo quanto na carta aberta, divulgada pela ONG Live Acition esta semana questiona o raciocínio de que pessoas como ela deveriam ser abortadas por mães que muitas vezes não entendem o que é o Down. Além de afirmar que fica “profundamente ofendida” e se sente atacada por uma instituição que deveria defender os direitos de todos, inclusive das pessoas com deficiência.

“Eu sou um ser humano como você. Nossa única diferença é um cromossomo extra”, escreveu ela. “E parece que meu cromossomo extra me deixa muito mais tolerante que o senhor”.

A argumentação de Fien é que a ONU se comporta como os nazistas, promovendo de maneira disfarçada a eugenia. Além de seis milhões de judeus, a ideologia de Adolf Hitler, que defendia uma “pureza de raça” assassinou entre 1939 e 1945 milhares de deficientes, ciganos, negros e homossexuais.

“Sua proposta é nojenta e má. Você precisa pedir desculpas pelos seus horríveis comentários. Você também deve ser retirado da posição de especialista que ocupa no Conselho de Direitos Humanos. Você não é um especialista em síndrome de Down. Você, senhor, não pode falar em nome da minha comunidade…. Se outras características hereditárias, como a cor da pele, fossem usadas para erradicar um grupo de pessoas, o mundo gritaria. Por que vocês não estão chorando quando pessoas como eu estão sendo extintas? O que fizemos para fazer vocês quererem que desapareçamos? Até onde sei, pessoas como eu não odeiam, discriminam nem cometem crimes”, disse Fien na carta, que foi postada nas redes sociais, gerando uma onda de apoio a ela e em solidariedade às pessoas com deficiência.
Aborto de pessoas com Down
Diversas reportagens veiculadas na imprensa internacional, que tiveram repercussão também no Brasil, mostram como existe um número crescente de mães e pais, nos Estados Unidos e em alguns países da Europa, que decidem pelo aborto ao saberem que a criança terá síndrome de Down.

Após testes pré-natais coletando-se uma amostra de sangue da mãe na terceira semana de gestação, é possível identificar quem possui trissomia 21, condição genética que leva ao nascimento de crianças com síndrome de Down.

Nos Estados Unidos o número de abortos de fetos diagnosticados com trissomia 21 foi de 67% (estatística do período 1995-2011). Na França, chegou a 77% (2015), no Reino Unido a média é de 90% (2011). Na Dinamarca o número chega 98% (2015). Mas é na Islândia que a questão tomou proporções inimagináveis, pois praticamente 100% dos casos resultam em aborto.

Fonte: Faith Wire

Dos Sermões de São Pedro Crisólogo, bispo

(Sermo 43: PL 52, 320.322)

O que a oração pede, o jejum o alcança
e a misericórdia o recebe

Há três coisas, meus irmãos, três coisas que mantêm a fé, dão firmeza à devoção e perseverança à virtude. São elas a oração, o jejum e a misericórdia. O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente.

O jejum é a alma da oração e a misericórdia dá vida ao jejum. Ninguém queira separar estas três coisas, pois são inseparáveis. Quem pratica somente uma delas ou não pratica todas simultaneamente, é como se nada fizesse. Por conseguinte, quem ora também jejue; e quem jejua, pratique a misericórdia. Quem deseja ser atendido nas suas orações, atenda as súplicas de quem lhe pede; pois aquele que não fecha seus ouvidos às súplicas alheias, abre os ouvidos de Deus às suas próprias súplicas.

Quem jejua, pense no sentido do jejum; seja sensível à fome dos outros quem deseja que Deus seja sensível à sua; seja misericordioso quem espera alcançar misericórdia; quem pede compaixão, também se compadeça; quem quer ser ajudado, ajude os outros. Muito mal suplica quem nega aos outros aquilo que pede para si.

Homem, sê para ti mesmo a medida da misericórdia; deste modo alcançarás misericórdia como quiseres, quanto quiseres e com a rapidez que quiseres; basta que te compadeças dos outros com generosidade e presteza.

Peçamos, portanto, destas três virtudes — oração, jejum, misericórdia — uma única força mediadora junto de Deus em nosso favor; sejam para nós uma única defesa, uma única oração sob três formas distintas.

Reconquistemos pelo jejum o que perdemos por não saber apreciá-lo; imolemos nossas almas pelo jejum, pois nada melhor podemos oferecer a Deus, como ensina o Profeta: “Sacrifício agradável a Deus é um espírito penitente; Deus não despreza um coração arrependido e humilhado” (cf. Sl 50, 19).

Homem, oferece a Deus a tua alma, oferece a oblação do jejum, para que seja uma oferenda pura, um sacrifício santo, uma vítima viva que ao mesmo tempo permanece em ti e é oferecida a Deus. Quem não dá isto a Deus não tem desculpa, porque todos podem se oferecer a si mesmos.

Mas, para que esta oferta seja aceita por Deus, a misericórdia deve acompanhá-la; o jejum só dá frutos se for regado pela misericórdia, pois a aridez da misericórdia faz secar o jejum. O que a chuva é para a terra, é a misericórdia para o jejum. Por mais que cultive o coração, purifique o corpo, extirpe os maus costumes e semeie as virtudes, o que jejua não colherá frutos se não abrir as torrentes da misericórdia.

Tu que jejuas, não esqueças que fica em jejum o teu campo se jejua a tua misericórdia; pelo contrário, a liberalidade da tua misericórdia encherá de bens os teus celeiros. Portanto, ó homem, para que não venhas a perder por ter guardado para ti, distribui aos outros para que venhas a recolher; dá a ti mesmo, dando aos pobres, porque o que deixares de dar aos outros, também tu não o possuirás.

Por que a Rede Globo está tão desesperada?

“Conscientizar”? “Problematizar”? As ofensivas da Rede Globo contra a família andam tão exageradas que, na verdade, parecem sinalizar mais desespero do que qualquer outra coisa.

Equipe Christo Nihil Praeponere

24 de Outubro de 2017

Conscientização social? Preocupação com as minorias? As ofensivas da Rede Globo contra a família andam tão exageradas que, na verdade, parecem sinalizar mais desespero do que qualquer outra coisa.

O que antes era feito de modo sutil, ora através do romance de uma novela, ora por meio de uma reportagem aqui e outra acolá, agora converteu-se em uma campanha sistemática: seja no “Encontro”, no “Fantástico” ou nas novelas que são exibidas em horário “nobre” — ainda que a programação, em si mesma, não tenha nada de nobre —, a emissora de televisão mais assistida do Brasil parece ter se convertido em um grande folhetim ideológico, disposto mais a formar as mentes que informá-las, mais a hipnotizar as massas que entretê-las.

O tema do momento, como todos sabem, é a ideologia de gênero. (Os defensores da coisa, evidentemente, evitam o termo “ideologia”. Eles falam de “gênero” com ares de elite “científica”, como se essa fosse a mais nova descoberta do mundo civilizado. Deste mundo, é claro, pessoas “incultas” e “atrasadas”, como os cristãos ou como a simples dona Regina, estão totalmente de fora.)

Nunca o abismo entre o que pensam artistas e jornalistas e o que aspira a população brasileira ficou tão evidente.
Fala-se abertamente, por exemplo, de “crianças transgêneras”. Querem porque querem nos convencer que uma criança de quatro, cinco anos de idade, que mal está entrando em idade escolar; que ainda não tem responsabilidades, conhecimento e maturidade para escolher nada… Querem nos convencer que essa criança pode muito bem desenvolver ou assumir uma “identidade” diferente de seu sexo biológico — e que isso é perfeitamente normal. Pouco importa que, em países como a Inglaterra, essa ideia já esteja causando em crianças e adolescentes uma confusão dos diabos. O que importa é passar adiante a ideia — a realidade que faça o favor de se adequar!

As novelas globais, por sua vez, retratam os transgêneros já adultos da forma mais romantizada possível. Os conflitos internos mal resolvidos, as situações a que estão sujeitas essas pessoas, mesmo depois de conseguirem a tão sonhada “mudança de sexo”, tudo é resumido à resistência que elas enfrentam por parte de sociedade. A infelicidade das pessoas transtornadas com o próprio sexo não se deve à condição confusa em que elas mesmas se encontram. Não, a culpa de todo o seu sofrimento é do preconceito da sociedade, que se recusa a chancelar a sua “identidade”, as suas escolhas e os seus hábitos.

Aqui, mais uma vez, a realidade dos fatos conta muito pouco. Ninguém fala, por exemplo, das inúmeras pessoas que se arrependem da cirurgia de transgenitalização e desejam voltar ao sexo com que nasceram, tampouco das altíssimas taxas de suicídio presentes nessa parcela da população. Nas próprias palavras de uma pessoa que sofreu na pele o mesmo drama, mas, felizmente, escolheu outro caminho para remediar a sua situação, “a comunidade médica”, assim como os meios de comunicação de maneira geral,

não tem interesse nenhum seja em reconhecer os perigos e o impacto a longo prazo das terapias de transição, seja em iniciar estudos que possam encontrar uma cura ou uma solução subjacente ao problema. Quem sugerir que esse é um problema médico por ser resolvido acaba sendo acusado de incitar o genocídio.
A propaganda, no entanto, está tão artificial, tão “forçada”, que muitas pessoas estão finalmente acordando. As redes sociais, sobre as quais a grande mídia ainda não exerce o seu controle, ficaram lotadas de manifestações de repúdio nos últimos dias. São as tímidas vozes do bom senso que finalmente vêm à tona, perturbando as “classes falantes” e mostrando-lhes como a realidade destoa da ilusão liberal que existe em suas cabeças. Nunca o abismo entre o que pensam artistas e jornalistas e o que aspira a população brasileira ficou tão evidente. Só para citar alguns exemplos recentes:

A população brasileira é, em sua esmagadora maioria, contrária ao aborto. Os atores globais, porém, não se intimidam e gravam vídeos defendendo abertamente a legalização da prática. O “Fantástico” faz o mesmo.
A população brasileira é, em sua maioria, assumidamente cristã. Os artistas globais, no entanto, não têm nada a ver com isso. Se exposições de arte achincalham símbolos religiosos e fazem troça da fé católica, eles militam pela “liberdade de expressão”.
A população brasileira já demonstrou, enfim, que não quer a ideologia de gênero nem nas escolas, quanto menos em suas casas. A Rede Globo, porém, dá de ombros e procura enfiar essa ideologia “goela abaixo” das famílias, custe o que custar.

As diferenças são tão discrepantes que restou à Rede Globo tão somente “apelar”. Por isso os transgêneros em horário nobre, por isso as cenas de sexo cada vez mais escrachadas, mais despudoradas, mais explícitas; por isso os debates com “um lado só”: tudo para criar a falsa impressão de “unanimidade”, para tentar fazer a dona Maria e o seu João acreditarem que o mundo inteiro “saiu do armário”, enquanto eles, pobrezinhos, ainda acreditam no mito burguês da família, de Deus e da propriedade.

Por essa razão, como o lado de lá está obstinado, não nos basta simplesmente protestar. O que as pessoas poderiam esperar, no fim das contas, da emissora que ajudou a legalizar a desgraça do divórcio no Brasil?

Mais do que soltar notas de repúdio na Internet, portanto, já está passando da hora de desligarmos nossos televisores e retirá-los do lugar de destaque que eles ocupam em nossas salas de estar. É preciso restaurar nos lares o lugar que era ocupado pelos santos, pelos oratórios, pelo Rosário em família, pelas conversas sadias, pela convivência entre pais e filhos.

Lembremo-nos do que disse certa vez um Papa aos brasileiros: “É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento”. É a única maneira de respondermos ao desespero dos que sabem ser essa a última hora de que dispõem para fazer afundar de vez a família brasileira.