O que pensar a respeito do naturismo?

Se a história da humanidade e a etnografia são tão contundentes em desmentir as pretensões do naturismo, por que há famílias hoje em dia que insistem em adotá-lo dentro de casa, e até mesmo fora dela?

O que pensar daquelas famílias que optam por um estilo de vida naturista, ou seja, que decidem viver o nudismo dentro de casa? Antes de responder a esta pergunta, é preciso saber em primeiro lugar o que se entende por naturismo.

Com essa expressão costuma-se designar a “filosofia” segundo a qual o homem deve viver da forma mais “natural” possível, de modo a rejeitar tudo o que é artificial e produto da cultura humana. Desse ponto de vista, não só a ideia de pudor e modéstia como também as roupas com que nos cobrimos têm de ser abandonadas e abolidas, uma vez que são contrárias ao “estado natural” em que o homem nasce, ou seja, antes de ser “moldado” pela sociedade.

A inspiração remota do naturismo pode ser encontrada nas ideias morais de um dos principais representantes da “ilustração” francesa, Jean-Jacques Rousseau. Segundo ele, o ser humano nasceria bom e inocente por natureza, sendo a sociedade — ou o “sistema”, de acordo com o jargão moderno — o grande responsável por depravá-lo e corromper-lhe o espírito.

Ora, se o homem nasce dotado de uma bondade inata, que se vai perdendo à medida que a civilização o influencia e absorve, o único critério moral de suas ações é obedecer ao que lhe dita a natureza, sem dar atenção às instituições e costumes humanos [1].

Isso, é óbvio, não corresponde à realidade dos fatos e é desmentido taxativamente pela história dos povos. Ainda que de formas e em graus diversos, não há comunidade humana que não considere o pudor e o recato como valores mínimos e indispensáveis para o convívio social; são, numa palavra, “o pressentimento”, nascido com o despertar da consciência, “duma dignidade espiritual própria do homem” [2].

A razão disto, como nos revela a fé cristã, é que o ser humano não vem ao mundo em seu estado natural. Marcado pelo pecado original, todo homem nasce com uma natureza, se não substancialmente corrompida, ao menos debilitada, sujeita ao pecado, à dor, às enfermidades e à morte. Embora Deus nos tenha criado para o amor, todos levamos na alma uma ferida, que nos inclina ao pecado e, portanto, ao egoísmo, cuja manifestação mais palpável e, por assim dizer, mais “material” é a concupiscência [3].

A concupiscência consiste numa desordem apetitiva que nos leva, não a amar os demais, mas a usá-los, tomando-os, não com fins em si mesmos, mas como objetos da nossa satisfação pessoal. Essa tendência enfermiça nos afeta com tal intensidade que, sem o auxílio sobrenatural da graça, opera em nossos membros como uma “lei” (cf. Rm 7, 23) estruturante de nossa conduta ao modo de desordem e insubmissão ao império da razão [4].

É por isso que em todas as sociedades humanas encontram-se formas, ainda que diversificadas, de preservar a integridade e a dignidade do corpo, a fim de regular a relação entre os sexos e o exercício da sexualidade [5]. O pudor, nesse sentido, pode ser visto como um “sentimento” natural que surge diante da necessidade de impor um limite ao uso desordenado e socialmente nocivo das faculdades sexuais a que todos estamos inclinados.

Mas se a história e etnografia são tão contundentes em pôr por terra as pretensões do naturismo, por que há famílias hoje em dia que insistem em adotá-lo dentro de casa, e às vezes até fora dela?

Sem levar em conta os ingênuos, que aderem a semelhantes modismos por falta de reflexão, não podemos deixar de reconhecer que boa parte dos lares adeptos do naturismo foi contaminada, em maior ou menor medida, por ideias de corte ou inspiração marxista.

O naturismo, ao menos dessa perspectiva, não é mais do que um dos muitos instrumentos com que ideólogos anticristãos pretendem impor um novo modelo antropológico que desmonte a instituição familiar, entendida como protótipo e germe das desigualdades sociais e frente única de resistência à vontade absoluta do Estado.

Isso não significa, é claro, que em toda família naturista se pratiquem, necessariamente, imoralidades sexuais, como o incesto, por exemplo. Em todo caso, seria uma grande ingenuidade crer que em um lar onde não se guarde o devido recato e respeito à intimidade, tanto alheia como própria, não haja uma atmosfera malsã e tendente ao erotismo.

O naturismo, além disso, se apresenta como uma “filosofia” de caráter reducionista, já que, negando a existência de valores transcendentes e espirituais, reduz o ser humano ao corpo, ao qual atribui o primado da expressão do amor e dos afetos. Ignora, portanto, que o nosso olhar, marcado pelo pecado original, dificilmente consegue remeter-se à beleza e às virtudes da alma ao centrar-se quase exclusivamente nas formas do corpo.

Expor as crianças a um ambiente como o promovido pelo naturismo significa não apenas faltar com o grave dever de educar que compete aos pais, mas também deformá-las e impedi-las de desenvolver aquele casto respeito pelo corpo humano sem o qual é impossível, ao fim e ao cabo, despertar para o verdadeiro respeito pela pessoa humana [6].

Se hoje em dia investe-se tanto em fazer desaparecer o pudor, o recato e a modéstia, inclusive na intimidade das famílias, é precisamente porque tais valores, nas palavras do Catecismo da Igreja Católica, são a nossa primeira salvaguarda contra as solicitações da moda e a pressão das ideologias dominantes [7].

Referências

[1] Cf., por exemplo, J.-J. Rousseau, Emílio, l. 3, t. 3: “Suivez toujours les indications de la nature”; v. G. Fraile, Historia de la Filosofía. Madrid: BAC, 1966, vol. 3, p. 935; J. Luiz Fernández; M. Jesús Soto, Historia de la Filosofía Moderna. 2.ª ed., Pamplona: EUNSA, 2006, p. 244.
[2] Catecismo da Igreja Católica, n. 2524.
[3] Cf. Martín F. Echavarría, La Praxis de La Psicología y sus Niveles Epistemológicos según Santo Tomás de Aquino. Girona: Documenta Universitaria, 2005, p. 487.
[4] Cf. Id., p. 488.
[5] Cf. P. Trevijano, Orientación Cristiana de la Sexualidad. Madrid: Voz de Papel, 2009, p. 61.
[6] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2524.
[7] Cf. Id., n. 2523.

Servo mau e preguiçoso!

Ao chamar de “mau e preguiçoso” ao último servo da parábola dos talentos, Jesus Cristo descreve a situação de muitos de nós, que, arrastados pela memória de sentimentos, terminamos obedecendo simplesmente à lei dos animais: “Foge da dor, busca o prazer”. Mas será possível, afinal, sair dessa lógica animalesca e escravizante? Como podemos nos tornar “servos bons e fiéis” para participarmos, um dia, da alegria de Nosso Senhor?

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus
(Mt 25, 14-30)

Naquele tempo, Jesus contou esta parábola a seus discípulos: “Um homem ia viajar para o estrangeiro. Chamou seus empregados e lhes entregou seus bens. A um deu cinco talentos, a outro deu dois e ao terceiro, um; a cada qual de acordo com a sua capacidade. Em seguida viajou. O empregado que havia recebido cinco talentos saiu logo, trabalhou com eles e lucrou outros cinco. Do mesmo modo, o que havia recebido dois lucrou outros dois. Mas aquele que havia recebido um só saiu, cavou um buraco na terra e escondeu o dinheiro do seu patrão.

Depois de muito tempo, o patrão voltou e foi acertar contas com os empregados. O empregado que havia recebido cinco talentos entregou-lhe mais cinco, dizendo: ‘Senhor, tu me entregaste cinco talentos. Aqui estão mais cinco, que lucrei’. O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’ Chegou também o que havia recebido dois talentos, e disse: ‘Senhor, tu me entregaste dois talentos. Aqui estão mais dois que lucrei’. O patrão lhe disse: ‘Muito bem, servo bom e fiel! Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!’

Por fim, chegou aquele que havia recebido um talento, e disse: ‘Senhor, sei que és um homem severo, pois colhes onde não plantaste e ceifas onde não semeaste. Por isso, fiquei com medo e escondi o teu talento no chão. Aqui tens o que te pertence’. O patrão lhe respondeu: ‘Servo mau e preguiçoso! Tu sabias que eu colho onde não plantei e ceifo onde não semeei? Então, devias ter depositado meu dinheiro no banco, para que, ao voltar, eu recebesse com juros o que me pertence’. Em seguida, o patrão ordenou: ‘Tirai dele o talento e dai-o àquele que tem dez! Porque a todo aquele que tem será dado mais, e terá em abundância, mas daquele que não tem, até o que tem lhe será tirado. Quanto a este servo inútil, jogai-o lá fora, na escuridão. Aí haverá choro e ranger de dentes!’”
Como nas demais parábolas do capítulo 25 do Evangelho segundo Mateus, a parábola contada por Jesus neste domingo apresenta-nos a realidade do Juízo Final. Na semana passada, a parábola das dez virgens descrevia o julgamento das virgens imprudentes, que não se prepararam para o encontro com o Esposo. No próximo domingo, Solenidade de Cristo Rei, ouviremos o veredito do Filho do Homem, que se assenta no trono para acolher as ovelhas e apartar os cabritos (cf. Mt 25, 31-46). Nesta semana, Jesus indica-nos o que podemos fazer para evitar a condenação eterna, contando-nos a parábola dos talentos.

Vimos na parábola das dez virgens que, sem o óleo da caridade, de nada valem as boas obras, por maiores que elas sejam. A “parábola dos talentos”, por conseguinte, aponta para a necessidade de se multiplicar a caridade, multiplicar os dons gratuitos que recebemos de Deus.

Conforme lemos no Evangelho, um patrão dispensa vários talentos — isto é, uma certa quantidade de ouro — a três de seus servos, na intenção de que eles os multiplicassem no período de sua ausência. Ao retornar, porém, esse patrão se depara com a infidelidade de um dos servos que, por temer a severidade do senhor, preferiu esconder o talento recebido ao invés de cultivá-lo. O patrão então lhe diz: “‘Servo mau e preguiçoso!”

Qual é o significado desses dois adjetivos empregados pelo patrão?

O preguiçoso é aquele que sofre de uma doença muito comum na humanidade, especialmente nos dias atuais: ele não quer pagar o preço do amor; antes, deseja apenas satisfazer os apelos de suas paixões. O acidioso age como um verdadeiro animal, porque se deixa levar para lá e para cá pelos estímulos de seus sentidos, ora fugindo da dor, ora buscando o prazer. Ele é capaz tão somente de fazer escolhas sensuais, preso como está à realidade dos animais.

A consequência da preguiça para a alma é que a pessoa se torna incapaz de amar, pois todos os seus atos se resumem às compensações da carne. O servo preguiçoso se prendeu às sensações da carne, ao medo infundado que tinha do patrão, de modo que não conseguiu cultivar o dom recebido gratuitamente.

Mas o cultivo dos dons que recebemos também depende de uma gratidão ao senhor. Daí que o patrão acusa o servo preguiçoso de ser “mau”. Ele não enxergou o amor com que foi amado, o quanto seu senhor se lhe doou, confiando-lhe parte de sua graça. Ao contrário, deixou-se levar pelas falsas impressões de seu cérebro, pela ingratidão e pela preguiça.

Para combater a ingratidão e a preguiça de amar, é fundamental a necessidade de um diálogo constante com Deus, por meio da oração, quando nos lembramos dos inúmeros benefícios de que fomos objeto. O cultivo do amor passa, portanto, pelo seguinte itinerário.

Na vida de toda pessoa, há momentos em que predomina a ação — ou seja, a execução de tarefas práticas, o desenvolvimento de algum trabalho ou atividade social ou religiosa etc. — e há momentos em que predomina a imaginação — quando a memória está livre para elaborar situações com base em recordações vividas anteriormente. Esses momentos de imaginação devem ser observados com todo o cuidado, pois dependem deles as nossas ações concretas. Se não usamos nossa imaginação para recordar das graças e da bondade de Deus, terminamos arrastados pelas paixões e pelas más lembranças.

O ser humano possui duas memórias: a memória cerebral e a memória espiritual. A primeira está ligada mais às sensações que experimentamos nos nossos relacionamentos: o riso depois de uma piada, a frustração por conta de um projeto malsucedido, o prazer ao ingerir um bom alimento, o rancor após uma desfeita etc. Já a segunda se refere tanto à ciência como às verdades eternas que apreendemos por meio da oração e da meditação. É por meio dessa que nos encontramos com o amor de Deus.

É importante estar sempre atento a qual memória se encontra mais ativa em nós. Na parábola deste domingo, Jesus chama aos outros dois servos de “bons e fiéis” porque, enquanto aguardavam o retorno do patrão, eles trabalhavam motivados pelas lembranças da memória espiritual, ao passo que o servo “mau e preguiçoso” ficou inerte por seguir a memória cerebral, animal.

Na oração, portanto, devemos fazer esse exame de consciência, para ver qual memória tem predominado em nossa vida, a fim de que vençamos as más recordações e caminhemos na verdade. Assim, toda a nossa vida ativa será pautada pelo louvor constante a Jesus, pela sua bondade infinita para conosco, de modo que, no dia de nosso julgamento, Ele poderá dizer a nós o que o patrão disse ao “servo bom e fiel”: “Como foste fiel na administração de tão pouco, eu te confiarei muito mais. Vem participar da minha alegria!” (v. 23).

A Sagrada Escritura diz que a ociosidade é a mãe de todos os vícios, porque ensina muita maldade (cf. Eclo 33, 29).

Comentando esta passagem, escreve S. Bernardo:

O ferro se enferruja quando não se usa. O ar se corrompe e gera doenças quando não é agitado por muito tempo. A água sem correnteza torna-se fétida e nela se desenvolvem os insetos. Assim também o corpo que se corrompe pela preguiça torna-se uma sede de todas as más inclinações.

A ociosidade é má conselheira. Por isto um Padre da Igreja dizia: “Um homem ocupado só tem um demônio para o tentar. O preguiçoso tem cem”.

A preguiça é um grande mal. É mãe de todos os males. Preguiçoso não entra no céu. O Reino dos Céus padece violência. Só quem luta o alcança.

Nosso Senhor no Evangelho nos fala tanto da luta, da penitência, da cruz, do sacrifício, da guerra às paixões. Como seguir o Mestre de braços cruzados, na ociosidade?

O preguiçoso não pode se salvar. A preguiça leva a todos os vícios, à miséria neste mundo e à condenação eterna no outro.

Cuidado! Há uma preguiça espiritual verdadeiramente desastrada na piedade. É o mal dos nossos dias.

“Uma leitura interessante”, de Miguel Jadraque y Sánchez Ocaña.
Muitos cristãos não perseveram na virtude por uma preguiça que os domina quando se trata das coisas eternas, do sacrifício, da luta pelo bem.

E queres saber quando nos domina esta preguiça espiritual? Eis os sinais:

Infidelidades contínuas à voz da consciência.
Um desprezo secreto das pessoas piedosas.
Distrações voluntárias e contínuas na oração.
Sacramentos recebidos com frieza e sem fruto.
Aborrecimento das coisas santas.
Inúmeras faltas repetidas e ausência de qualquer esforço para se corrigir.
Como sair deste triste estado?

Só há dois recursos: — Trabalho e Mortificação.

Referências

Transcrito e levemente adaptado de Meu ponto de meditação, do Padre Ascânio Brandão, Taubaté: Editora SCJ, 1941, p. 49s.

Visões do Inferno da Beata Irmã Josefa Menendez

Nossa luta contra as trevas deve ser incessante. Para compensar aos que não mais acreditam nesta espantosa realidade, pessoas cuja falsa teologia é de perdição. Devemos nós, continuar a trazer estes textos de revelações visões de pessoas e de santos de nossa Igreja, para que todos finalmente acreditem e tenham tempo de conversão. Nem que seja pelo medo de cair lá. Acreditem, é horrível. Eu já vi…

A noite de 16 de Março às dez horas, ouvi, como os dias precedentes, um barulho confuso de gritos e cadeias. Levantei-me rapidamente e vesti-me, e tremendo de medo, ajoelhei-me na parte inferior da minha cama. O barulho aproximava-se, e sem saber o que fazer, marchei do dormitório, e fui à cela da nossa Santa Mãe; então fui de novo ao dormitório: os mesmos barulhos estarrecedores rodeavam-me; seguidamente, de repente vi frente de mim o diabo.

– Amarrem-lhe os pés e as mãos, urrou. Imediatamente perdi consciência de onde estava, e senti-me arrastada muito longe. Outras vozes gritavam: – ‘nada bom de amarrar os seus pés; é o seu coração o que devemos amarrar. – Isso não pertence a mim, foi a resposta do diabo.

Então fui arrastada por um corredor longo, muito escuro e sem fim, e dos lados ressoavam terríveis gritos. Dos lados opostos dos muros do estreito corredor havia uns nichos que vertiam fumo, não obstante com chamas muito pequenas, e que emitiam um cheiro intolerável. Destes nichos vinham vozes blasfemadoras, e gritos e palavras impuras. Alguns maldizem os seus corpos, outros os seus pais… Era um barulho de gritos confusos de fúria e desespero.

Então recebi uma pancada brutal no estômago que me dobrou em dois, e forçou-me dentro dum dos nichos. Senti-me como se fosse esmagada entre duas tábuas escaldantes e como se me perfurassem o corpo através de agulhas grossas, ardentes e pontiagudas parecia furar a minha carne. A minha alma caiu nas profundezas insondáveis, cujo fundo não pode ser visto, porque é imenso…

O que me causou a maior dor… e ao que nenhuma outra tortura pode ser comparada, era a angústia da minha alma achando-se separada de Deus…

Dizia uma alma: – Se algum de nós, que aqui estamos, pudesse fazer um só ato de amor, isto já não seria inferno!… Mas não podemos; nosso alimento é odiar e abominar! É ainda uma dessas desgraçadas almas quem fala: – O maior tormento aqui é não poder amar Aquele que devemos odiar. A fome de amor nos consome, mas é tarde demais… Tu também sentirás esta mesma fome: odiar, abominar e desejar a perdição das almas… É este o nosso único desejo!

Todos estes dias em que sou arrastada ao inferno, (diz Josefa) quando o demônio ordena aos outros que me martirizem, eles respondem: “Não podemos… Seus membros já foram martirizados por Aquele… (designam a Nosso Senhor com uma blasfêmia). Então ele manda que me deem enxofre a beber…  Reparai também que, quando eles me acorrentam para me levar ao inferno, nunca podem atar-me pelo lugar em que usei instrumentos de penitência. Tudo isto escrevo para obedecer.

Alguns rugem pelo martírio que sofrem nas mãos. Penso que roubaram porque dizem: – Onde está o que tiraste?… Malditas mãos!… Por que aquela ambição de ter o que não era meu e que não poderia guardar… Senão alguns dias?… Outros acusam as próprias línguas, os próprios olhos… Cada um aquilo que lhe havia sido motivo de pecado: – Bem pagas estão agora as delícias que tomavas meu corpo!… e foste tu que quiseste!…

Parece que as almas se acusam principalmente de pecados contra a pureza, de roubos, de negócios injustos e que a maioria dos condenados por estas causas é que estão pagando. Vi muita gente do mundo cair naquele abismo e não se pode explicar, nem compreender o grito que lançavam e como rugiam assustadoramente.

– Eterna maldição!… Enganei-me, perdi-me… Estou aqui para sempre… Não há mais remédio… Maldito sejas! Alguns culpavam tal pessoa, outros, tal circunstância e todos a ocasião da sua própria queda.

Em outro dia, senti-me como se tentassem arrancar a minha língua, mas não podiam. Esta tortura trouxe-me a uma tal agonia que os meus olhos mesmo pareciam começar a sair fora das suas órbitas. Penso que era devido ao fogo que queima e queima; nem uma unha do dedo escapa a estes tormentos arrepiantes, e a toda a hora não se pode deslocar mesmo um dedo para ganhar um pouco de alívio, nem fazer tampouco câmbio nenhum, porque o corpo parece estar aplainado e dobrado em dois. Os barulhos de confusão e de blasfêmias não cessam nem um só momento. Um cheiro terrível asfixia e corrompe tudo, é como a queimadura da carne podre, misturada com alcatrão e enxofre… uma mistura à qual nada sobre a terra pode ser comparada…”

Bem que estas torturas foram terríveis, seriam suportáveis se a alma tivesse paz. Mas sofre indescritivelmente… Uma das almas danada gritava: – Eis aí o meu tormento… Querer amar e não mais poder. Não me resta outra coisa senão ódio e desespero.

Vejo claramente que todas as dores sobre terra não são nada em comparação com o horror de não poder amar nunca mais, porque neste lugar só se respira ódio e sede de perdição de outras almas. Pareceu-me que passei muitos anos neste inferno, no entanto apenas durou seis ou sete horas… Todo o que escrevi, é somente uma sombra do que a alma sofre, por que nenhuma palavra pode exprimir tão grande tormento.

Hoje vi cair no inferno grande número de almas, creio que eram pessoas do mundo. O demônio gritava: – Agora o mundo está em ponto de bala para mim… Conheço o melhor meio de agarrar as almas!… É excitar nelas desejos de gozar! Eis o que me garante a vitória, o que as traz aqui em abundância.

Ouvi o demônio ao qual uma alma acabava de escapar, forçado a confessar a sua impotência: – Confusão! Confusão!… Como escapam tantas almas?… Eram minhas!… (e ele lhe enumera os pecados)

Na noite passada, não estive no inferno, mas fui carregada para um lugar onde não havia luz, somente um fogo ardente e vermelho no centro. Fui estendida e amarrada, sem poder fazer um só movimento. Em volta de mim, estavam sete ou oito pessoas sem roupa, e os corpos negros eram iluminados apenas pelos reflexos do fogo. Estavam sentados e falavam.

Dizia um: – É preciso grande precaução a fim de que não conheçam nossa mão, pois, somos facilmente descobertos. O diabo respondeu: – Insinuai-vos induzindo a negligência neles, mas mantendo-vos na sombra, de modo que não sejais descobertos… Podeis entrar pelo sentimento de indiferença… Sim, creio que a estes, dissimulando-vos a fim de que não percebam, podeis torná-los indiferentes ao bem e ao mal e, pouco a pouco, inclinar a sua vontade para o mal. A esses outros, tentai-os com ambições; que só procurem os seus próprios interesses… Por graus ficarão endurecidos, e podereis incliná-los ao mal. Tentai estes outros à ambição, o interesse, a fazer riquezas assem trabalhar, seja legal ou não. – Excitai aqueles outros à sensualidade e ao amor ao prazer. – Deixai que o vício os cegue… Quanto ao resto… entrai pelo seu coração… sabei as inclinações dos seus corações… provocai que amem com paixão… – Trabalhai muito duro… não tomeis nenhum descanso… não tenhais nenhuma piedade. – Ide… Ide… com firmeza!… que eles se apaixonem…, é preciso perder o mundo… não me escapem essas almas! – Deixai que comam muito e engrossem! Assim será todo mais fácil para nós… Deixai que comam e bebam nos seus banquetes. O amor ao prazer é a porta pela qual vos os caçareis. Os outros respondiam, de vez em quando: – Somos teus escravos… Trabalharemos sem descanso. Sim, muitos nos combatem, mas nós trabalharemos dia e noite, sem trégua. Reconhecemos teu poder… Etc.

Assim, todos falavam e aquele que creio ser o demônio dizia horríveis palavrões. Ouvi ao longe um ruído, como de taças e de copos e ele gritava: – Deixai-os embriagarem-se, depois tudo nos será fácil.. Acabem seus banquetes, já que tanto gostam de gozar. É a porta pela qual entrareis. Acrescentou coisas tão horríveis que não se podem dizer nem escrever. Depois como que mergulhando na fumaça, desapareceram.

Hoje, o demônio gritava com raiva por que uma alma lhe escapava: – Excitai-lhe o temor! Desesperai-a. Ah! Se ela confiar na Misericórdia Daquele (e blasfemava de Nosso Senhor) estou perdido! Mas, não! Enchei-a de medo, não a deixeis um só instante e, sobretudo desesperai-a. Então, o inferno se encheu com um só grito de raiva e, quando o demônio me lançou fora do abismo, continuou a ameaçar-me. Dizia, entre outras coisas: – Será possível… Será verdade que criaturas fracas tenham mais poder do que eu que sou tão poderoso! Mas esconder-me-ei para passar despercebido!… O cantinho mais pequeno me basta para colocar uma tentação: Atrás de uma orelha, nas folhas de um livro, de baixo de uma cama… algumas não fazem caso de mim, mas eu falo, falo… a custa de falar ficam algumas palavras… Sim, hei de esconder-me em lugar onde não me encontrem.

Vi caírem muitas almas. Entre elas, uma menina de 15 anos que amaldiçoava os próprios pais, porque não lhes haviam ensinado o temor de Deus, nem que existia o inferno. Dizia que sua vida, embora curta, tinha sido cheia de pecados, porque se considera a si mesma todas as satisfações que seu corpo e suas paixões exigiam dela. Acusava-se principalmente de ter lido maus livros.

Hoje, vi um vasto número de pessoas caírem no abismo ardente. Pareciam ser gente rica, bem vivedora e opulenta e um demônio berrou: – O mundo é maduro para mim.’ Sei que a melhor maneira de caçar almas é alimentar o seu desejo de prazer… Eu primeiro que ninguém… Eu antes que os outros… Nenhuma humildade para mim! Deixa que os demais louvem-me… Esta triagem de coisas assegura a minha vitória… e eles lançam-se de cabeça para o inferno.

Certas almas amaldiçoavam a vocação que tinham recebido e à qual não haviam correspondido… a vocação que haviam perdido, por que não tinham querido viver escondidas e mortificadas. Uma vez em que fui ao inferno, vi muitos padres, religiosos e religiosas que amaldiçoavam seus Votos, suas Ordens, seus Superiores, e tudo o que teria podido dar-lhes a luz e a graça que haviam perdido… Vi também prelados… Um se acusava a si mesmo de ter usado ilegitimamente de bens que não lhe pertenciam. Padres amaldiçoavam a própria língua que consagrara, os dedos que tocaram em Nosso Senhor, as absolvições que haviam dado sem saberem salvar-se a si mesmos, a ocasião que os havia levado ao inferno… Um padre dizia: – Comi veneno, servi-me de dinheiro que não me pertencia… e se acusava de ter usado o dinheiro que lhe haviam dado para missas, sem as dizer. Outro dizia que pertencia a uma sociedade secreta na qual traíra a Igreja e a religião e que, por dinheiro, facilitara horríveis sacrilégios e profanações.

Instantaneamente, achei-me no inferno, mas sem ter sido arrastada como das outras vezes. A alma aí se precipita por si mesma, como se desejasse desaparecer da vista de Deus para poder odiá-lo e amaldiçoa-Lo. A minha alma deixou-se cair num abismo cujo fundo não se pode ver, pois, é imenso!… Imediatamente, ouvi outras almas se regozijarem vendo-me nos mesmos tormentos. Ouvir aqueles horríveis gritos já é um martírio, mas creio que nada é comparável em dor à sede de maldição que se apodera da alma e, quanto mais maldizemos, mais aumenta a sede. Nunca tinha experimentado aquilo.

Outrora, a minha alma ficava cheia de dor diante daquelas horríveis blasfêmias, embora não pudesse produzir nem um ato de amor. Mas, hoje se dava o contrário! Vi o inferno como sempre, longos corredores, cavidades, fogo… ouvi as mesmas almas a gritar e a blasfemar, pois – como já escrevi muitas vezes – embora se vejam as formas corporais, sentem-se os tormentos como se os corpos estivessem presentes e as almas se reconhecem. Gritavam: – Olá, aqui estás! Como nós!… Éramos livres de não fazer aqueles votos (religiosa)!… mas agora… e maldiziam seus votos. Então fui empurrada para aquele nicho inflamado e esmagada como entre duas tábuas ardentes e como se ferros e ponta em brasa se me enfiassem no corpo.

Senti como se quisessem, sem o conseguir, arrancar-me a língua, tormento que me reduzia aos extremos da dor. Os olhos pareciam sair-me das órbitas, creio que por causa do fogo que tanto os queimava! Não havia uma só unha que não sofresse horríveis tormentos. Não se pode nem mover um dedo para buscar alívio, nem mudar de posição, o corpo fica como que achatado e dobrado pelo meio. Os ouvidos são acabrunhados com os tais gritos de confusão que não cessam um só instante. Um cheiro nauseabundo e repugnante asfixia e invade tudo; é como se carne em putrefação estivesse queimando com piche e enxofre… mistura que não se pode comparar a coisa alguma deste mundo.

Tudo o que estou escrevendo, não é senão uma sombra ao lado do que a alma sofre, pois, não há palavras que possam exprimir tormento semelhante.

Irmã Josefa Menéndez (1890-1923) recebeu mensagens de Jesus no convento da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus en Les Feuillants, em Poitiers, França, entre 1920 e 1923. O então Cardeal Eugênio Pacelli, depois Papa Pio XII, aprovou a divulgação.

O inferno existe?

No céu, os malvados se sentarão juntamente com suas vítimas, como se nada tivesse acontecido? Ou o inferno existe? Se sim, ainda vale a pena falar sobre essa realidade para as pessoas de hoje?

O inferno existe? Esta pergunta, aparentemente trivial para um católico praticante, tornou-se discurso comum na boca de muitos teólogos e pregadores que, ora tratam o tema com desdém, ora o consideram inoportuno para o homem moderno.

Antes de qualquer consideração, porém, é preciso que fiquem claras duas coisas:

(I) A partir das Sagradas Escrituras e da Tradição, bem como de inúmeras declarações do Magistério da Igreja, não resta dúvida de que o inferno existe [1] – e não acreditar neste dado revelado é afastar-se da fé católica;

(II) Embora exista, o inferno não é criação de Deus, mas uma invenção diabólica, realidade na qual podem adentrar também os seres humanos, com a sua liberdade.

Na encíclica Spe Salvi, o Papa Bento XVI faz alusão a recentes episódios da história do mundo em que ficou evidente como o uso abusivo da liberdade pode levar, já neste mundo, a uma opção irremediável pelo mal:

“Pode haver pessoas que destruíram totalmente em si próprias o desejo da verdade e a disponibilidade para o amor; pessoas nas quais tudo se tornou mentira; pessoas que viveram para o ódio e espezinharam o amor em si mesmas. Trata-se de uma perspectiva terrível, mas algumas figuras da nossa mesma história deixam entrever, de forma assustadora, perfis deste gênero. Em tais indivíduos, não haveria nada de remediável e a destruição do bem seria irrevogável: é já isto que se indica com a palavra inferno.” [2]
O inferno não se trata, pois, de uma hipótese teológica, mas de uma constatação histórica, cuja possibilidade se torna bem concreta, se o ser humano olhar com sinceridade para o próprio coração. Fatalmente, a criatura pode sim afastar-se de seu Criador.

Na verdade, são justamente as pessoas que deixam de crer no inferno as que terminam cometendo, por causa disso, as maiores atrocidades. Como não há castigo para si, como estão elas “para além do bem e do mal”, tudo parece ser-lhes permitido.

Mas, na expressão de São Bernardo de Claraval, “impassibilis est Deus, sed non incompassibilis – Deus é impassível, mas não incompassível” [3]: embora não possa padecer, Deus Se compadece dos fracos e oprimidos neste mundo. A Sua graça, adverte o Papa Bento XVI, “não exclui a justiça”, nem “muda a injustiça em direito”:

“Não é uma esponja que apaga tudo, de modo que tudo quanto se fez na terra termine por ter o mesmo valor. Contra um céu e uma graça deste tipo protestou com razão, por exemplo, Dostoiévski no seu romance ‘Os irmãos Karamázov’. No fim, no banquete eterno, não se sentarão à mesa indistintamente os malvados junto com as vítimas, como se nada tivesse acontecido.” [4]
Mesmo diante de tudo isso – pergunta-se –, será ainda conveniente falar sobre o inferno ao homem de hoje? Não seria melhor deixar de lado essa doutrina?

A pedagogia divina, expressa na vida dos santos e místicos da Igreja, deixa entrever que não. Santa Teresa de Ávila relata, em sua autobiografia, como a visão que teve do inferno foi “uma das maiores graças” que o Senhor lhe concedeu [5]. Tal fato fê-la inflamar-se de tal amor por Nosso Senhor que – diz ela em seu Caminho de Perfeição [6] – estaria disposta a dar mil vidas pela salvação de uma só das almas que se precipitavam no abismo eterno.

Em 1917, em Portugal, Nossa Senhora também não hesitou em mostrar o inferno aos pastorinhos de Fátima. “Algumas pessoas, mesmo piedosas – diz a Irmã Lúcia em suas memórias [7] –, não querem falar às crianças do inferno, para não as assustar; mas Deus não hesitou em mostrá-lo a três crianças, e uma de 6 anos apenas, a qual Ele sabia que se havia de horrorizar a ponto de, quase me atrevia a dizer, definhar-se de susto”. Mas, por que permitiu Deus que aquelas crianças tivessem diante de si uma realidade tão aterradora? A resposta está em que Ele queria excitar-lhes o temor: não o temor servil, de um escravo, mas o temor filial, de filhos. De fato, depois de contemplarem o inferno, Francisco, Jacinta e Lúcia foram incendiados por um grande amor a Deus e começaram a fazer inúmeras penitências e orações para salvar as almas da condenação eterna.

Mais recentemente, o teólogo Hans Urs von Balthasar aventou a possibilidade de que, embora existisse, o inferno talvez estivesse vazio (l’inferno vuoto). A Tradição da Igreja, no entanto, não pode corroborar esse pensamento: (I) porque Satanás e os anjos rebeldes já estão no inferno [8]; (II) porque Cristo, ao encerrar o seu “sermão escatológico”, não deixa dúvidas quando diz que os maus “irão para o castigo eterno” (Mt 25, 46).

Permanecer na fé da Igreja, portanto, é o caminho seguro. Que os pregadores da Palavra voltem a falar do inferno, não para aterrorizar as pessoas, mas para fazê-las crescer no amor. A caridade não pode ser levada a sério se não se tem uma verdadeira repulsa pelo mal e pelo eterno afastamento do Sumo Bem, que é Deus.

Referências

Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1033.
Papa Bento XVI, Carta Encíclica Spe Salvi (30 de novembro de 2007), III, 45.
Sermones in Cantica Canticorum, 26, 5 (PL 183, 906).
Papa Bento XVI, Carta Encíclica Spe Salvi (30 de novembro de 2007), III, 44.
Livro da Vida, 32, 4.
Cf. Caminho de Perfeição, 1, 2; Livro da Vida, 32, 6.
ALONSO, Joaquín María; KONDOR, Luigi; CRISTINO, Luciano Coelho. Memórias da Irmã Lúcia. 13. ed. Fátima, 2007, p. 123.
Cf. Papa João Paulo II, Audiência Geral (28 de julho de 1999), n. 4.

A água benta é uma superstição?

Qual o sentido de que uma pessoa fique se aspergindo com um punhado de água? Não existe outra forma de ser abençoado por Deus, ao invés de ficar “atribuindo poderes mágicos” a seres inanimados?

Para quem não conhece a teologia católica, a água benta pode parecer, com certa razoabilidade, uma espécie de superstição. Afinal, qual o sentido de que uma pessoa fique se aspergindo com um punhado de água? Não existe outra forma de ser abençoado por Deus, ao invés de ficar “atribuindo poderes mágicos” a seres inanimados?

A resposta católica para essa questão encontra-se no sadio equilíbrio da “economia sacramental”. A Santa Igreja, no decorrer dos séculos, sempre ensinou aos seus filhos o apreço das coisas sensíveis, sob o risco de que se obscurecessem os próprios mistérios de nossa redenção. O Verbo, para descer ao mundo, não rejeitou “vir na carne” e tomar uma forma verdadeiramente humana (cf. 1 Jo 4, 2); não desprezou o matrimônio (cf. Mt 19, 3-9; Jo 2, 1-11), nem se furtou de tomar alimentos para conservação de seu corpo físico (cf. Mt 11, 19; Jo 21, 9-14); ao instituir os sacramentos, foi além e transformou realidades visíveis, como a água, o pão e o vinho, em verdadeiros instrumentos de salvação, de onde Ele dizer, por exemplo, que “se alguém não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Deus” (Jo 3, 5), ou mesmo: “Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6, 51. 53). O respeito dos católicos pelas coisas materiais, portanto, foi aprendido do próprio Jesus, o qual, para salvar o ser humano inteiro – corpo e alma –, quis sabiamente distribuir a Sua graça invisível através de instrumentos tangíveis e perceptíveis aos olhos humanos. “Oportet nos per aliqua sensibilia signa in spiritualia devenire – Convém que por sinais sensíveis cheguemos às realidades espirituais” (S. Th., III, q. 61, a. 4, ad 1), diz Santo Tomás de Aquino.

Para investigar como a água benta se insere nessa economia, é preciso entender como os sacramentos atuam na vida dos cristãos. Embora estes realizem o seu efeito, que é a graça, ex opere operato (ou seja, automaticamente), os fiéis colhem frutos na medida em que se dispõem interiormente para recebê-los. Assim, por exemplo, quem se arrepende de seus pecados e é absolvido pelo sacerdote na Confissão, certamente recebe a graça santificante; mas aquele que teve uma contrição maior receberá uma porção de graça também maior. Quem se aproxima dignamente da Eucaristia, do mesmo modo, certamente recebe a graça do Cristo, mas, quanto mais devotamente comungar, tanto maior será o seu grau de comunhão com Deus.

Os chamados “sacramentais” – dos quais a água benta é um tipo –, embora não levem ao efeito do sacramento, que é a obtenção da graça, agem dispondo a pessoa para a sua recepção. A água benta, por exemplo, explica o Doutor Angélico, atua de modo negativo, dirigindo-se (1) “contra as insídias do demônio e (2) contra os pecados veniais” (cf. S. Th., III, q. 65, a. 1, ad 6).

Primeiro, portanto, a água benta funciona como um “exorcismo”, com a diferença de que este é aplicado contra a ação demoníaca desde dentro, enquanto “a água benta é dada contra os assaltos dos demônios que vêm do exterior” (S. Th., III, q. 71, a. 2, ad 3). Para este fim específico, trata-se de um instrumento verdadeiramente eficaz, amplamente comprovado pelo uso dos santos. Santa Teresa d’Ávila, por exemplo, recomendava a suas irmãs que nunca andassem sem água benta e que se servissem dela com frequência. “Vocês não imaginam o alívio que se sente quando se tem água benta”, ela dizia. “É um grande bem fruir com tanta facilidade do sangue de Cristo” [1].

Segundo, quanto aos pecados veniais, a água benta age enquanto “desperta um movimento de respeito em relação a Deus e às coisas divinas” (S. Th., III, q. 87, a. 3). Diferentemente de outras práticas devotas que, realizadas com fervor, também apagam as faltas veniais – como a oração do Pai-Nosso ou um ato de contrição –, a água benta traz consigo o poder da bênção sacerdotal, o que dá maior eficácia ao seu uso.

A água benta não se trata, portanto, de uma superstição, mas de um recurso extremamente útil e piedoso para quem quer se santificar através da oração da Igreja. O Catecismo da Igreja Católica adverte que “atribuir só à materialidade das orações ou aos sinais sacramentais a respectiva eficácia, independentemente das disposições interiores que exigem, é cair na superstição” (§ 2111). Por isso, acompanhado da aspersão da água benta deve sempre ir um grau cada vez maior de fervor a Deus, sem o qual qualquer prática religiosa, por mais piedosa que seja, perde o seu sentido último.

Referências

Escritos de Teresa de Ávila. São Paulo: Loyola, 2001, p. 205, nota 2.

O que a Igreja ensina sobre a fecundação artificial

Campos de concentração para eliminar pessoas? Certamente, muitos de nós ficaríamos horrorizados só em pensar na ideia. No entanto, damos de ombros para o fato de que, através da fertilização “in vitro”, milhares de seres humanos sejam arbitrariamente manipulados e selecionados para morrer.

A fecundação artificial, também denominada “in vitro”, consiste na fecundação de um óvulo em proveta, fora portanto do corpo da mulher. Nisso o procedimento é diferente da “inseminação artificial”, que acontece mediante a transferência, nas vias genitais da mulher, do esperma previamente recolhido. O juízo moral a respeito de ambas as práticas é negativo, de acordo com o Magistério da Igreja, mas, neste episódio de “A Resposta Católica”, apenas a fecundação artificial será objeto de análise.

Vejamos, então, por que razões a Igreja se manifesta contrária a essa técnica de procriação. Os argumentos para rejeitar a fecundação “in vitro” podem ser condensados basicamente em dois, os quais são expressos em duas importantes declarações do Magistério recente da Igreja. Deixamos transcritos abaixo os trechos que consideramos mais relevantes para a abordagem integral da questão.

1. “Um ponto preliminar para o juízo moral acerca de tais técnicas é constituído pela consideração das circunstâncias e das conseqüências que elas comportam em relação ao respeito devido ao embrião humano. A consolidação da prática da fecundação in vitro exigiu inúmeras fecundações e destruições de embriões humanos. Ainda hoje, pressupõe habitualmente uma hiperovulação da mulher: vários óvulos são extraídos, fecundados e, a seguir, cultivados in vitro por alguns dias. Normalmente, nem todos são inoculados nas vias genitais da mulher; alguns embriões, comumente chamados ‘excedentes’, são destruídos ou congelados. Entre os embriões implantados, às vezes alguns são sacrificados por diversas razões eugênicas, econômicas ou psicológicas. Tal destruição voluntária de seres humanos ou a sua utilização para diversos fins, em detrimento da sua integridade e da sua vida, é contrária à doutrina já recordada, a propósito do aborto provocado.

Freqüentemente verifica-se uma relação entre fecundação in vitro e eliminação voluntária de embriões humanos. Isso é significativo: com esta maneira de proceder, de finalidades aparentemente opostas, a vida e a morte acabam submetidas às decisões do homem que, dessa forma, vem a se constituir doador arbitrário de vida ou de morte. Esta dinâmica de violência e de domínio pode permanecer despercebida por parte daqueles mesmos que, querendo utilizá-la, a ela se sujeitam. Um juízo moral acerca do FIVET (fecundação in vitro e transferência do embrião) deve levar em consideração os dados de fato aqui recordados e a fria lógica que os liga: a mentalidade abortista que o tornou possível, conduz assim, inevitavelmente, ao domínio por parte do homem sobre a vida e a morte dos seus semelhantes, que pode levar a uma eugenia radical.

No entanto, abusos deste tipo não eximem de uma aprofundada e ulterior reflexão ética acerca das técnicas de procriação artificial consideradas em si mesmas, abstração feita, tanto quanto possível, da destruição dos embriões produzidos in vitro.” (Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Donum Vitae, sobre o respeito à vida humana nascente e a dignidade da procriação, de 22 de fevereiro de 1987)

2. “Além disso, é eticamente inaceitável para a Igreja a dissociação da procriação do contexto integralmente pessoal do ato conjugal, pois a procriação humana é um ato pessoal do casal homem-mulher, que não admite nenhuma forma de delegação substitutiva. A aceitação pacífica da altíssima taxa abortiva das técnicas de fecundação in vitro demonstra eloquentemente que a substituição do ato conjugal por um procedimento técnico – além de não ser conforme ao respeito devido à procriação, que não se reduz à simples dimensão reprodutiva – contribui para enfraquecer a consciência do respeito devido a cada ser humano. O reconhecimento de tal respeito é favorecido pela intimidade dos esposos, animada pelo amor conjugal.

A Igreja reconhece a legitimidade do desejo de ter um filho e compreende os sofrimentos dos cônjuges angustiados com problemas de infertilidade. Tal desejo, porém, não pode antepor-se à dignidade de cada vida humana, a ponto de assumir o domínio sobre a mesma. O desejo de um filho não pode justificar a ‘produção’, assim como o desejo de não ter um filho já concebido não pode justificar o seu abandono ou destruição.” (Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Dignitas Personae, sobre algumas questões de bioética, 8 de setembro de 2008, n. 16)

O Catecismo da Igreja Católica lembra, enfim, aos casais que não podem gerar filhos que “a esterilidade física não é um mal absoluto” (n. 2379). Embora constitua um fato particularmente doloroso, unidos ao sacrifício de Cristo, os nossos sofrimentos adquirem valor redentor. Além disso, mesmo àqueles casais que não podem oferecer à Igreja filhos gerados de seu próprio ventre, permanece vivo o apelo de Cristo para que se tornem efetivamente pais espirituais, gerando filhos já, não para este mundo terreno e passageiro, mas para a vida vindoura e eterna.

Nudez Artística?

Uma série de polêmicas recentes trouxe à tona o tema da nudez na arte, especialmente pela acusação de que até mesmo na arte sacra haveria a retratação de corpos nus. Diante disso, é preciso que os cristãos estejam cientes, em primeiro lugar, de que a nudez na arte foi algo típico e característico do período renascentista, época em que se ressuscitou a cultura pagã na Civilização Ocidental.

Na antiguidade greco-romana, os deuses eram retratados nus. Com o surgimento do cristianismo, porém, o nudismo foi se tornando cada vez mais raro, de modo que praticamente desapareceu da arte, limitando-se apenas a representações de verdades teológicas ou ensinamentos importantes, como no caso dos retratos da expulsão de Adão e Eva do paraíso, que tinham a função de educar as pessoas acerca da gravidade e das consequências ruins do pecado. A nudez, neste caso, tinha uma conotação pejorativa de desgraça, castigo e vergonha.

A Idade Média, época bastante marcada pela influência da fé cristã, não tratava da nudez com o mesmo despudor da cultura moderna porque, depois do pecado original, os corpos despidos deixaram de refletir a real profundidade do ser humano. Diferentemente do que pensava o filósofo Jean Jacques Rousseau, os cristãos nunca compreenderam o homem como um bom selvagem que, apenas em contato com a civilização, se torna corrupto. O pecado original causou prejuízos graves à visão humana, modificou a forma natural como ela percebe as coisas à sua volta, sobretudo os seus próprios irmãos. Com efeito, os corpos que antes transluziam a alma, agora, depois da queda, refletem apenas a matéria.

Hoje, quem olha para uma mulata sambando em cima de um carro alegórico, no carnaval, não pensa nas qualidades espirituais dessa mulher, mas apenas nos atributos físicos dela. Quando se retira o véu do corpo, coloca-se um véu na alma. Por isso os cristãos sempre defenderam a necessidade do pudor e da modéstia.

Devido a uma série de eventos catastróficos no final da Idade Média — como a peste negra, por exemplo —, a civilização europeia decidiu ressuscitar o paganismo, o que a levou a uma profunda crise moral, que atingiu a própria Igreja. Nos livros de História, costuma-se celebrar o Renascimento como uma vitória das luzes sobre a “Idade das Trevas”, como propaganda ideológica contrária ao cristianismo. A verdade, porém, é que o Renascimento foi nada mais que um retorno a um estilo de vida absolutamente desumano. Foi no Renascimento que a prática escravagista passou a ser novamente aceitável. Foi no Renascimento que as mulheres voltaram a ser tratadas como objetos de seus maridos. Isso só mostra que todo o preconceito contra a Idade Média, quando não havia mais escravidão e as mulheres eram coroadas como rainhas e honradas como abadessas, é fruto de ignorância ou desinformação ideológica.

É preciso entender que, quando a Igreja permitiu as pinturas da Capela Sistina, por exemplo, ela também estava em um novo ambiente cultural, cuja base não era mais cristã. As obras em que Michelangelo representou Jesus, Deus Pai e a Virgem Maria tiveram como inspiração os deuses pagãos Apolo, Júpiter e Vênus, respectivamente. E embora a Igreja os tenha cobertos em hora oportuna, o conceito pagão ainda permaneceu. Portanto, não é válido o argumento de que a Igreja aceitou tranquilamente a nudez como estilo de arte honesto. Quando permitiu tais pinturas, ela infelizmente também estava em um período de declínio de sua própria história.

Ideologia de gênero e as novelas

Por que as novelas fazem tanto sucesso?
Como explicar que, por causa de uma telenovela, uma questão como a ideologia de gênero se torne, de uma hora para outra, a nova modinha entre os brasileiros?

Não se fala em outra coisa. Desde que a Rede Globo resolveu aderir ao discurso da ideologia de gênero, colocando uma personagem “trans-homem-gay” na sua principal telenovela, A Força do Querer, o assunto voltou a causar sensação na opinião pública, que, levada pelos sofisticados mecanismos de sedução midiática, se mostra mais uma vez suscetível às campanhas de “conscientização ética” promovidas pela emissora carioca. Só no Twitter, a novela das 9 já foi comentada 2,5 milhões de vezes.

Mas o que explica que uma questão como a ideologia de gênero, repudiada em todo o Brasil nas várias audiências públicas sobre os Planos de Educação, se torne, de uma hora para outra, a nova modinha entre os brasileiros? Por que, afinal de contas, as novelas fazem tanto sucesso?

Na história das civilizações, os homens sempre criaram fábulas para narrar acontecimentos importantes ou transmitir alguma lição de moral às novas gerações. Mitos como o Labirinto de Creta ou a lendária figura do Rei Arthur não tinham apenas a tarefa de entreter uma sociedade fatigada pela rotina do cotidiano, mas também a de oferecer respostas concretas aos dramas existenciais, de sorte que, olhando para o desfecho dessas histórias, o homem pudesse superar seus desafios e crescer como pessoa, conforme explica o mitologista Joseph Campbell: “A função primária da mitologia e dos ritos sempre foi a de fornecer os símbolos que levam o espírito humano a avançar, opondo-se àquelas outras fantasias humanas constantes que tendem a levá-lo para trás” [1].

Baseado nos estudos de psicanálise, Campbell concluiu que as figuras míticas seriam, na verdade, produtos da própria espontaneidade humana, que procura nessas histórias a razão de sua existência, bem como as respostas éticas e políticas necessárias ao seu sadio desenvolvimento. Isso explicaria por que os mitos, por mais diferentes que sejam, contam sempre uma única e mesma história: a jornada do herói — chamado à aventura, iniciação, auxílio de algum sábio ou amigo, batalhas preparatórias, desafio final, morte e ressurreição — até o seu retorno à normalidade da vida; porque seriam projeções da vida real que, como retratam os mitos, também precisa passar por várias transições de morte e ressurreição. Daí que Joseph Campbell tenha dado ao seu mais importante livro o sugestivo título de O herói de mil faces.

Essa missão de oferecer os arquétipos adequados ao comportamento social foi, em nossa época, assumida pelo cinema e pela novela, como produtos da cultura de massa, isto é, aquilo que é artificialmente fabricado para o consumo da população. De acordo com o sociólogo Edgar Morin, “todo um setor das trocas entre o real e o imaginário, nas sociedades modernas, se efetua no modo estético, através das artes, dos espetáculos, dos romances, das obras ditas de imaginação” [2]. Eis o motivo de as novelas fazerem tanto sucesso. Em tese, elas deveriam ser como que um espelho em que cada pessoa poderia encontrar refletida a própria identidade.

A cultura de massa, explica Morin, “constitui um corpo de símbolos, mitos e imagens concernentes à vida prática e à vida imaginária”, cuja tarefa essencial é a de alimentar “o ser semi-real, semi-imaginário, que cada um secreta no interior de si (sua alma)” [3]. Desse modo, os filmes e as novelas repetem as fórmulas típicas das narrativas mitológicas, apresentando, com leves alterações, sempre uma única estrutura de roteiro, com o objetivo de prender a atenção do público por meio de um sistema de “projeção e identificação”. Morin afirma:

Assim, feita de modo estético, a troca entre o real e o imaginário é, se bem que degradada (ou ainda que sublimada ou demasiado sutil), a mesma troca que entre o homem e o além, o homem e os espíritos ou os deuses que se fazia por intermédio do feiticeiro ou do culto. A degradação — ou o supremo requinte — é precisamente essa passagem do mágico (ou do religioso) para a estética [4].
Com efeito, os produtos da cultura de massa transformam-se em um perigoso instrumento de subversão, quando decidem alterar o sentido da mitologia tradicional para oferecer, em seu lugar, as fantasias que levam o ser humano para trás. Esses produtos corrompem o coração do homem que está à procura de arquétipos viris como um Heitor ou um Aquiles e, em vez disso, encontra o duvidoso “trans-homem-gay”, uma figura absolutamente instável e sem identidade clara. O efeito desse esquema de manipulação sobre uma determinada sociedade é devastador, como denuncia Campbell: “Pode ser que a incidência tão grande de neuroses em nosso meio decorra do declínio, entre nós, desse auxílio espiritual efetivo (os mitos)”, coisa que nos mantém “ligados às imagens não exorcizadas da nossa infância, razão pela qual não nos inclinamos a fazer as passagens da nossa vida adulta” [5].

O “trans-homem-gay” , longe de oferecer as condições para que um rapaz se torne um homem maduro, prende-o, ao contrário, às suas rebeldias de adolescente, época em que seu maior “inimigo” era a própria família. Por meio de um tratamento super apelativo, os telespectadores são induzidos a considerá-lo um herói, ao passo que seus pais se tornam objeto de repúdio, porque não aceitam a mudança do filho. A ideia que fica é esta: a mudança de sexo é uma coisa absolutamente “tranquila” e “necessária” para a realização pessoal da personagem, cuja única ameaça ao horizonte de sua felicidade seria, como sugere a novela, a “homofobia” dos familiares. Acontece exatamente o que Edgar Morin denuncia como um dos efeitos malignos da cultura de massa: ela “destituiu parcialmente a família, a escola, a pátria, de seu papel formador, na medida em que os ‘modelos’ do pai, do educador, dos grandes homens foram vencidos pelos novos modelos de cultura que lhes fazem concorrência” [6].

Em qualquer sociedade mentalmente sadia e consciente do alto número de suicídios entre “transgêneros” — causados, atenção, pela angústia que o processo de mudança de sexo gera na intimidade da pessoa, não por uma suposta homofobia —, a novela A Força do Querer seria ridicularizada. Mas estamos no Brasil e “a novela”, como declarou a escritora Glória Perez à revista Veja, “é a crônica do nosso cotidiano” [7]. Ou, ao menos, busca sê-lo.

A influência das produções globais sobre o comportamento dos brasileiros está para além do mero entretenimento. Folhetins como Roque Santeiro, Verão Vermelho e, mais recentemente, Amor à Vida tiveram a missão de introduzir na sociedade debates a respeito do celibato, do divórcio e do homossexualismo, temas antes considerados “tabus” para a maioria da população. Não por acaso, uma pesquisa realizada em 2008 pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento revelou que as novelas da Rede Globo estão intimamente relacionadas com a redução da natalidade e com o aumento no número de separações no país. Agora é a vez da ideologia de gênero.

“Se no futuro alguém pesquisar como se vivia no Brasil”, enfatizou Glória Perez à revista Veja, “será ela (a novela) que vai ensinar isso” [8]. Que as próximas gerações tenham pena de nós!

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

Joseph Campbell, O herói de mil faces. (Trad. de Adail Ubirajara Sobral). São Paulo: Pensamento, 2007, p. 21.
Edgar Morin, Cultura de Massas no Século XX: Neurose. (Trad. de Maura Ribeiro Sardinha). 9.ª ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2009, p. 79.
Id., p. 15.
Id., p. 78.
Joseph Campbell, op. cit., p. 21.
Edgar Morin, op. cit., p. 168.
Marcelo Marthe, “O país recupera seu espelho”, in: Veja, São Paulo, n. 35, pp. 91-99, ago. de 2017.
Ibidem.
Tags: Ideologia de gênero, Novelas

A incorruptibilidades do corpo de Santa Bernadette

A incorruptibilidade do corpo de Santa Bernadette Soubirous é um dos casos mais assombrosos e estudados pela medicina

A incorruptibilidade do corpo de Santa Bernadette Soubirous é um dos casos mais assombrosos e estudados pela medicina.

A grande festa de Lourdes se comemora em 11 de fevereiro e a festa de Santa Bernadette em 18 de fevereiro na França, e em 16 de abril alhures.

Publicidade

Desde 3 de agosto de 1925, o corpo intacto da Santa se encontra exposto numa urna de cristal na capela do convento de Saint-Gildard, na cidade de Nevers, França. A cidade fica na Borgonha, a 260 km ao sul-suleste de Paris.

Clique para ver onde fica Nevers

Assim informa uma inscrição ao lado do corpo da Santa na mesma capela:

“O corpo de Santa Bernadette repousa nesta capela desde 3 de agosto de 1925.

Ele está intacto e “como se estivesse petrificado” segundo foi reconhecido pelos médicos juramentados e pelas autoridades civis e religiosas por ocasião das exumações de 1909, 1919 e 1925.

O rosto e as mãos, que escureceram no contato com o ar, foram recobertos com ligeiras camadas de cera, moldadas segundo os modelos recolhidos diretamente.

A posição inclinada para o lado esquerdo foi assumida pelo corpo no túmulo.”

Vejamos, entretanto, o que disseram os médicos responsáveis pelas perícias praticadas sobre o corpo da Santa nas diversas ocasiões mencionadas na inscrição.

Primeira exumação

Em 22 de setembro de 1909, trinta anos após o velório, seu cadáver foi exumado pela primeira vez e o corpo encontrado intacto.

Publicidade

Os Drs. Ch. David e A. Jordan, que conduziram esta primeira exumação, escreveram no relatório da perícia:

“O caixão foi aberto na presença do Bispo e do Prefeito de Nevers, seus principais representantes e diversos religiosos.

“Não notamos nenhum odor.

“O corpo estava vestido com o Hábito da Ordem a que pertencia Bernadette. O Hábito estava úmido.

“Apenas a face, mãos e antebraços estavam descobertos.

“A cabeça estava inclinada para a esquerda. A face estava lânguida e branca. A pele estava apegada aos músculos e estes apegados aos ossos.

Santa Bernadette, foto (detalhe acima e conjunto) tirada entre após a última exumação (18 de abril 1925) e antes de ser guardada na urna atual (18 de julho 1925)
Santa Bernadette, foto (detalhe acima e conjunto) 
tirada entre após a última exumação (18 de abril 1925) 
e antes de ser guardada na urna atual (18 de julho 1925).
A santa faleceu em 16 de abril de 1879, 46 anos antes da foto.

“As cavidades oculares estavam cobertas pelas pálpebras […]

“Nariz dilatado e enrugado. Boca levemente aberta e se podia ver os dentes no lugar.

“As mãos, cruzadas sobre o peito, estavam perfeitamente preservadas, bem como suas unhas. As mãos seguravam um terço. Podia se observar as veias no antebraço.

“Os pés estavam enrugados e as unhas intactas.

“Quando o Hábito foi removido e o véu levantado de sua cabeça, pode se observar um corpo rígido, pele esticada […]

“Seu cabelo estava com um corte curto e bem preso à cabeça. As orelhas estavam em perfeito estado de conservação […]

“O abdome estava esticado, assim como o resto do corpo. Ao ser tocado, tinha um som como de papelão.

“O joelho direito estava mais largo que o esquerdo.

“As costelas e músculos se observavam sob a pele […]

“O corpo estava tão rígido que podia ser virado para um lado e para o outro […]

“Em testemunho de que temos corretamente escrito esta presente declaração, a qual representa a verdade em sua totalidade.

Nevers, 22 de setembro de 1909, Drs. Ch. David, A. Jourdan.” Fonte: Wikipedia, em português — Font: Catholic Pilgrims, em inglês

Segunda exumação

Em 1919, dez anos depois da primeira exumação, realizou-se uma segunda exumação do corpo de Santa Bernadette, conduzida desta vez pelos Doutores Talon e Comte, com a presença do Bispo da cidade de Nevers, bem como do Delegado de Polícia e representantes da Prefeitura e da Igreja.

Santa Bernadette em seu velório, abril 1879, Nevers
Santa Bernadette em seu velório, abril 1879, Nevers

A situação encontrada foi exatamente a mesma da primeira exumação.

Eis alguns excertos do relatório final do Dr. Comte, sobre esta segunda perícia:

“Deste exame, concluo que permanece intacto o corpo da Venerável Bernadette, esqueleto completo, músculos atrofiados, mas bem preservados; apenas a pele, que estava enrugada, pelos efeitos da umidade do caixão.[…]

“O corpo não estava em putrefação nem decomposição, o que seria esperado como normal, após quarenta anos de seu sepultamento.

“Nevers, 3 de abril de 1919, Dr. Comte” Fonte: Wikipedia, em português. — Font: Catholic Pilgrims, em inglês

 

Terceira exumação

Por fim, a 18 de novembro de 1923, Sua Santidade o Papa Pio XI assinou decreto reconhecendo a heroicidade das virtudes de Bernadette.

Após a beatificação da Santa, foi efetivada uma terceira exumação em 12 de Junho de 1925. O objetivo era a retirada de “relíquias” de seu corpo. A canonização viria oito anos mais tarde, em 1933.

Sobre esta última exumação, escreveu o Dr. Comte em seu relatório, em termos forenses que por vezes espantam aos leigos, mas que nos permitem medir com exatidão o grau da incorruptibilidade do corpo da vidente de Lourdes:

Santa Bernadette morreu sentada nesta poltrona, museu de St-Gildard, Nevers
Santa Bernadette morreu sentada nesta poltrona,
museu de St-Gildard, Nevers

“Eu queria abrir o lado esquerdo do tórax para retirar algumas costelas e então remover o coração, o qual eu tinha certeza que estaria intacto.

“Porém, como o tronco estava levemente apoiado no braço esquerdo, haveria dificuldade em ter acesso ao coração.

“Como a Madre Superiora expressou o desejo de que o coração de Santa Bernadette não fosse retirado, bem como também este era o desejo do Bispo, mudei de ideia de abrir o lado esquerdo do tórax e apenas retirei duas costelas do lado direito, que estavam mais acessíveis.

“O que mais me impressionou durante esta exumação foi o perfeito estado de conservação do esqueleto, tecidos fibrosos, musculatura flexível e firme, ligamentos e pele após quarenta e seis anos de sua morte.

“Após tanto tempo, qualquer organismo morto tenderia a desintegra-se, a se decompor e adquirir uma consistência calcária.

“Contudo, ao cortar, eu percebi uma consistência quase normal e macia.

“Naquele momento, eu fiz esta observação a todos os presentes de que eu não via aquilo como um fenômeno natural.” Fonte: Wikipedia, em português — Font: Catholic Pilgrims em inglês

Naquela época foi confeccionada a urna de cristal que guarda o corpo de Santa Bernadette.

As freiras cobriram seu rosto e as mãos com uma camada fina de cera.

Urna com o corpo de Santa Bernadette em Nevers
Urna com o corpo de Santa Bernadette em Nevers

A urna se encontra hoje numa bela capela fora da clausura para que possa ser visitada.

O corpo milagrosamente preservado de Santa Bernadette encoraja os visitantes a imitarem a vida de Santa Bernadette e levarem a sério as mensagens transmitidas pela vidente da Imaculada Conceição.

Vídeo: Corpo incorrupto de Santa Bernadette

Fontes: em inglês: http://www.catholicpilgrims.com/lourdes/bb_bernadette_body.htm 
em português: http://pt. wikipedia.org/wiki/Bernadette_Soubirous

 

(via Ciência confirma Igreja)