O casamento entre pessoas do mesmo sexo e seu impacto nas crianças

Novo estudo destaca riscos afetivos e psicológicos

Por John Flynn, LC

ROMA, 23 de Fevereiro de 2015 (Zenit.org) – Um novo estudo publicado este ano traz evidências de que as crianças obtêm melhores resultados em seu desenvolvimento quando são criadas por pais heterossexuais. O artigo “Problemas emocionais entre crianças criadas por pais homossexuais: diferença por definição” foi publicado na edição de fevereiro de 2015 do British Journal of Education, Socity and Behavioural Science. O autor do estudo é o professor de sociologia Donald Paul Simmons, da Universidade Católica da América, e se baseia numa amostragem de mais de duzentas mil crianças, incluindo 512 criadas por parceiros do mesmo sexo.

As conclusões indicam incidência consideravelmente maior de problemas emocionais nas crianças cujos responsáveis são pessoas do mesmo sexo, em comparação com os filhos de pais heterossexuais. “Os filhos de pais biológicos casados apresentam 1/4 dos problemas emocionais identificados entre as crianças criadas por pais do mesmo sexo”.

Na introdução, o estudo menciona que, ao longo dos últimos anos, várias pesquisas afirmaram que as crianças criadas por pais do mesmo sexo não sofrem desvantagens em comparação com os filhos de pais heterossexuais. Tais pesquisas foram tão bem divulgadas que chegaram a embasar sentenças em processos judiciais e decisões tomadas em políticas públicas e em ambientes profissionais.

Mais recentemente, porém, revisões dessas pesquisas revelaram deficiências em sua elaboração, ao mesmo tempo em que novos estudos vêm apontando resultados negativos no desenvolvimento de crianças de famílias do mesmo sexo. Muitas das pesquisas que alegavam não haver diferenças entre crianças de diferentes tipos de famílias se baseavam em amostragens muito pequenas ou em fontes não representativas, além de apresentarem limitações metodológicas.

Instabilidade familiar

Um fator que afeta em especial as crianças criadas por parceiros homossexuais é o maior índice de instabilidade e dissolução da relação entre os parceiros, na comparação com os casais de sexo oposto.

“Estudos sobre o divórcio sugeriram que a dissolução familiar pode afetar a saúde emocional da criança devido ao aumento do conflito parental anterior à separação (…) Pais afetiva ou mentalmente instáveis são um fator de risco para o desenvolvimento de transtornos mentais ou emocionais na criança. Há indicativos robustos de que a atração por pessoas do mesmo sexo está associada a um risco mais elevado de sofrimento psíquico”, acrescentou Simmons.

A falta de laços biológicos para as crianças criadas por casais do mesmo sexo é outro fator que pode causar problemas. “Nenhuma criança participante deste estudo e criada por parceiros homosseuxias vivia com ambos os pais biológicos, ao passo que, nas famílias heterossexuais, quase dois terços (64%) viviam com pai e mãe biológicos”, informa o artigo, recordando também que “quase todos os estudos que já examinaram esta questão apontaram que o bem-estar infantil é mais elevado entre as crianças que vivem com ambos os pais biológicos”.

“No mínimo, não é acurado afirmar que as crianças criadas por parceiros do mesmo sexo não sofram desvantagem alguma em relação às que são criadas por famílias heterossexuais”, observa o autor.

Estigmatização?

Simmons constatou que a suscetibilidade a problemas emocionais devidos à estigmatização dos casais homossexuais foi pouco marcante. Por isso, “deve ser rejeitada a hipótese de que as restrições relativas à paternidade ou ao estado civil dos parceiros homossexuais explique o maior risco de problemas emocionais”.

“O estudo indica que os problemas emocionais das crianças criadas por parceiros do mesmo sexo têm relação justamente com a privação da experiência de ser criadas pelo pai e pela mãe biológicos”, já que, “funcionalmente, o casamento entre pessoas de sexos opostos é uma prática social que, tanto quanto possível, garante às crianças um cuidado conjunto de ambos os pais biológicos, com os seus consequentes benefícios naturais”.

O que é Transverberação

O fenômeno da transverberação ficou conhecido principalmente por causa da famosa escultura de Gian Lorenzo Bernini, chamada “O Êxtase de Santa Teresa”, que está na Igreja de Santa Maria della Vittoria, em Roma. Essa magnífica obra barroca retrata uma experiência relatada pela própria Santa Teresa de Jesus, em sua autobiografia:

“Quis o Senhor que eu tivesse algumas vezes esta visão: eu via um anjo perto de mim, do lado esquerdo, em forma corporal, o que só acontece raramente. Muitas vezes me aparecem anjos, mas só os vejo na visão passada de que falei. O Senhor quis que eu o visse assim: não era grande, mas pequeno, e muito formoso, com um rosto tão resplandecente que parecia um dos anjos muito elevados que se abrasam. Deve ser dos que chamam querubins, já que não me dizem os nomes, mas bem vejo que no céu há tanta diferença entre os anjos que eu não os saberia distinguir.

Vi que trazia nas mãos um comprido dardo de ouro, em cuja ponta de ferro julguei que havia um pouco de fogo. Eu tinha a impressão de que ele me perfurava o coração com o dardo algumas vezes, atingindo-me as entranhas. Quando o tirava, parecia-me que as entranhas eram retiradas, e eu ficava toda abrasada num imenso amor de Deus. A dor era tão grande que eu soltava gemidos, e era tão excessiva a suavidade produzida por essa dor imensa que a alma não desejava que tivesse fim nem se contentava senão com a presença de Deus. Não se trata de dor corporal; é espiritual, se bem que o corpo também participe, às vezes muito. É um contato tão suave entre a alma e Deus que suplico à Sua bondade que dê essa experiência a quem pensar que minto.”[1]

De acordo com a descrição de Santa Teresa, está a se falar, sobretudo, de uma experiência extraordinária do amor de Deus. Como muitos não acreditaram no que ela relatou – a própria santa faz referência “a quem pensar que minto” –, o próprio Deus fez questão de mostrar a veracidade do que ela dizia. Em 1591 – dez anos após a sua morte e vinte após a sua transverberação –, exumaram o seu corpo e perceberam que estava incorrupto. Então, a pedido de um bispo, o coração de Teresa foi retirado, a fim de que fosse exposto na cidade de Alba de Tormes, onde ela morreu. Para espanto geral, havia em seu coração uma ferida cicatrizada, com sinais de cauterização – o que se encaixa perfeitamente com a experiência da transverberação, quando foi penetrada por um “dardo de ouro comprido” em cuja ponta de ferro “parecia que tinha um pouco de fogo”: o atestado divino de que esse fenômeno é verdadeiro e a santa não estava mentindo.

A própria Igreja, porém, tem critérios muito rigorosos para aprovar esses tipos de milagres. O padre Quevedo, no livro “Os Milagres e a Ciência”, fala, por exemplo, do cardeal Prospero Lambertini – Papa Bento XIV –, que, com bastante cuidado científico, investigou o caso da transverberação de Santa Teresa e defendeu a fé católica contra embustes e falsificações, aprovando esse fato extraordinário.

Mas, em que consiste, de fato, a transverberação? Trata-se de uma experiência que, antes de qualquer coisa, acontece na alma. Santa Teresa mesma diz que a dor causada pelo dardo místico do anjo “não é dor corporal, mas espiritual”. No caso dela, bem como no caso de São Pio de Pietrelcina e de São Francisco de Assis, a transverberação teve efeitos também corporais. Mas eles não são necessários, como explica São João da Cruz:

“Se Deus, por vezes, permite que se produza algum efeito exterior, nos sentidos, semelhante ao que se passou no espírito, aparece a chaga e ferida no corpo. Assim aconteceu quando o serafim feriu a São Francisco: chagando-o de amor na alma com as cinco chagas, também se manifestou o efeito delas no corpo, ficando as chagas impressas na carne, tal como foram feitas na alma ao ser chagada de amor. Em geral, não costuma Deus conceder alguma mercê ao corpo, sem que primeiro e principalmente a conceda no interior, à alma.”[2]

No processo de santificação, o mais importante é o que acontece no espírito, não no corpo. Por isso, adverte ainda São João da Cruz, “quanto mais intenso é o deleite, e maior a força do amor que produz a chaga dentro da alma, tanto maior é também o efeito produzido na chaga corporal, e crescendo um, cresce o outro”[3]. Ou seja, a medida verdadeiramente extraordinária desse fato não está senão no interior, no que acontece à alma.

Santa Teresinha do Menino Jesus também passou por essa realidade mística, mas sem receber chagas corporais. Em um relato do dia 7 de julho de 1897, recolhido no “Caderno Amarelo”, de Madre Inês de Jesus, é possível ler:

“Começava a minha Via Sacra quando, de repente, fui tomada por um amor tão violento pelo Bom Deus, que não posso explicar isso senão dizendo que era como se me tivessem mergulhado toda no fogo. Oh! Que fogo e que doçura ao mesmo tempo! Eu ardia de amor e sentia que um minuto, um segundo a mais, e não conseguiria mais suportar tal ardor sem morrer. Compreendi, então, o que dizem os Santos sobre esses estados que eles experimentaram tantas vezes.”[4]

Mas, afinal, o que acontece à alma transverberada? Ela é completamente invadida pelo amor divino. É Deus mesmo quem age na alma para aumentar nela a caridade.

Isso é feito no sentido de aumentar a comunhão da alma com Deus. Algumas pessoas têm uma visão equivocada de santidade: acham que é um “moralismo”, em que se seguem os mandamentos e, com as próprias forças, se chega à perfeição. Mas a santidade não é isso. Ela é, ao invés, o progresso no amor: Deus derrama em nossos corações o Seu Espírito e purifica o nosso amor, até chegarmos à caridade perfeita, às últimas moradas do nosso “castelo interior”.

Como se dá esse processo? Primeiro, acontece a conversão, quando se deixa a vida de pecado e se trilha a “via purgativa”, com oração e mortificações. Então, não havendo mais o que se purificar ativamente, Deus prova a alma pela “noite escura dos sentidos” e pela “noite escura da alma”, depois das quais ela se encontra em um estágio elevado de santificação.

Santa Teresa recebeu o dom da transverberação quando estava na sexta morada. Tendo passado pela “união árida” (também chamada “noite escura”), não tinha ainda chegado à perfeição. Ela encontrava-se em um estágio intermediário, chamado de “união extática”, em que alma recebe os fenômenos extáticos, é tocada pelo amor, mas ainda existem muitos altos e baixos. Faltava-lhe passar pela “união transformante”, na qual a alma se configura definitivamente a Cristo – o que aconteceu quando ela entrou na sétima morada.

São João da Cruz, ainda em seu “Chama Viva de Amor”, descreve com detalhes a transverberação:

“Acontece-lhe, então, sentir que um serafim investe sobre ela, com uma flecha ou dardo todo incandescente em fogo de amor, transverberando esta alma que já está inflamada como brasa, ou, por melhor dizer, como chama viva, e a cauteriza de modo sublime. No momento em que é cauterizada assim, e transpassada a alma por aquela seta, a chama interior impetuosamente irrompe e se eleva para o alto com veemência, tal como sucede num forno abrasado ou numa fogueira quando o fogo é revolvido e atiçado, e se inflama em labareda. A alma, então, ao ser ferida por esse dardo incendido, sente a chaga com sumo deleite. Além de ser toda revolvida com grande suavidade, naquele incêndio e impetuosa moção que lhe causa o serafim, provocando nela grande fervor e amoroso desfalecimento, ao mesmo tempo sente a ferida penetrante e a força do veneno com que vivamente estava ervada aquela seta, qual uma ponta afiada a enterrar-se na substância do espírito, a traspassar-lhe o mais íntimo da alma.”[5]

Em resumo, a transverberação é Deus agindo na alma para purificar o amor humano e levar à paz definitiva com Cristo já nesta terra. Assim conduzida, a alma santificada pode finalmente dizer: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim”[6].

Referências bibliográficas

  1. O Livro da Vida, capítulo 29, n. 13
  2. Chama Viva de Amor, canção II, n. 13. In Obras Completas, volume II, p. 131
  3. Ibidem
  4. Santa Teresinha do Menino Jesus, Obras completas escritos e últimos colóquios. São Paulo: Paulus, 2002. p. 897
  5. Chama Viva de Amor, canção II, n. 9. In Obras Completas, volume II, p. 130
  6. Gl 2, 20

    Padre Paulo Ricardo

A especialista Angela de Malherbe responde às perguntas dos casais sobre o método Billings

O método Billings é confiável?

Quando é bem ensinado e aplicado, o método Billings tem 99% de eficácia, no caso de casais que querem evitar ou adiar uma gravidez.

Por outro lado, este método é seguido por 80% das pessoas que optaram por um método de regulação natural dos nascimentos.

Sua eficácia também foi comprovada pelos casais que queriam filhos, mas não conseguiam engravidar. Os resultados são muito superiores aos obtidos pelas fecundações in vitro (70% contra 25%).

– Em que se baseia esta confiabilidade?

O método Billings é um método científico, concebido por um casal de médicos, John e Evelyn Billings, australianos.

A eles se uniram pesquisadores de renome internacional: o sueco Erik Odeblad, professor de medicina biofísica, e o professor James B. Brown, endocrinologista da Nova Zelândia.

Eles validaram os trabalhos dos Billings e prosseguiram as pesquisas com eles. O professor Brown e sua equipe estudaram mais de 850.000 ciclos femininos.

O método foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1978.

Ele se baseia na observação do muco cervical da mulher, que permite detectar com precisão a ovulação, bem como os períodos de fertilidade e infertilidade.

Cada mulher tem um padrão de muco próprio, que, além disso, pode variar de um mês para outro. O método Billings não é algo padronizado, ele se adapta ao perfil único de cada mulher.

– O método Billings é reservado aos católicos?

Assim como o muco feminino (que não é especialmente católico!), o método Billings é universal. Sobretudo porque é gratuito e, portanto, acessível aos mais pobres. É indicado também para analfabetas. Ele se destina a todos os casais que buscam um método de regulação natural fiável.

Como muitas iniciativas promovidas pela Igreja, ele supera o limite dos Estados e das religiões. A China é um exemplo disso: lá foram abertos muitos centros Billings a pedido do governo comunista em 1995, após constatar sua eficácia.

– O maior obstáculo é a abstinência sexual durante os períodos de fertilidade da mulher?

Na sociedade atual, a abstinência pode parecer difícil de se propor e de se viver.

É preciso levar em consideração, em primeiro lugar, que a observação do muco permite que o casal faça sexo frequentemente durante o ciclo, especialmente em sua segunda parte, ou seja, depois da ovulação.

Além disso, a abstinência beneficia o casal. John Billings fala dela como uma “doce disciplina”, que permite que as pessoas cresçam, tornando-as mais responsáveis.

Outra incidência: favorece-se o diálogo. A mulher também se sente mais amada. Um padre médico me disse que, entre os casais que praticam a abstinência, é visível o respeito entre os cônjuges.

– E o prazer?

Quando a pessoa faz sexo após um período de espera, o prazer é mais intenso. Os casais que seguem o método Billings fazem mais sexo e sentem mais plenitude sexual que os casais nos quais a mulher toma a pílula, pois ela diminui a libido. Constata-se também que há menos divórcios entre os primeiros.

– Você apresenta um quadro idílico! O que dizer dos que afirmam que o desejo sexual é mais forte justamente nos momentos em que a pessoa não pode fazer sexo?

É verdade que a libido da mulher é maior no momento da ovulação, que prepara seu corpo para uma concepção possível. Mas a experiência demonstra que a espera faz a libido aumentar.

– O que dizer às pessoas que viajam muito a trabalho? Não se poderia, então, usar o preservativo?

Um oficial da marinha me disse certa vez: “Se eu fiquei ausente 3 meses, não me custa esperar mais 5 dias para fazer sexo com a minha esposa, se ela está ovulando quando chego de viagem…”

Há mil maneiras de expressar o amor: palavras, carinho, sair juntos…

Com relação ao preservativo, segundo as estatísticas publicadas na França e nos Estados Unidos, ele tem um nível de fracasso de 14%.

– Quais são os ingredientes para que o método Billings “funcione”?

É necessário que o marido ame sua esposa pelo que ela é, e não pelo prazer que ela pode lhe dar. Muito além da motivação e do rigor necessários, o sucesso do método se baseia no diálogo entre o casal.

– Após o sínodo da família, de outubro de 2014, e a beatificação de Paulo VI, poderíamos dizer que o método Billings tem um futuro promissor?

Sim, porque as mulheres estão muito cansadas de ser “libertadas” por todo tipo de pessoas que lhes impõem uma libertação falsa.

Também suportam todos os meses a anticoncepção, que parece uma falta de sentido em uma época na qual se promove cada vez mais a ecologia.

Quando Paulo VI escreveu a encíclica “Humanae vitae” (que comemorará seus 50 anos em 2018), ele foi muito criticado. Mas o tempo lhe deu razão. Não foi por acaso que ele foi beatificado no último dia do sínodo da família (19 de outubro de 2014), já que ele tratou deste tema tão delicado.

Dois jovens, a mesma doença, diferentes escolhas… qual a melhor lição sobre a dignidade da vida?

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Seminarista responde a jovem que recorreu à morte assistida: “Eu sinto por ela e entendo sua difícil situação, mas nenhum diagnóstico justifica o suicídio”

No último mês, a história da norte-americana Brittany Maynard ganhou as manchetes e os noticiários do mundo inteiro. Diagnosticada com um glioblastoma multiforme – a forma mais agressiva e letal de câncer de cérebro –, a jovem de 29 anos de idade publicou um vídeo na Internet, anunciando a sua decisão de morrer [1]. Para conseguir o “direito” de fazê-lo, Brittany se mudou da Califórnia para o Oregon, onde o “suicídio assistido” é permitido para pacientes terminais.

Mesmo afirmando que a sua escolha poderia ser adiada, no último dia 1º de novembro, Brittany pôs fim à própria vida. “Adeus a todos os meus queridos amigos e parentes que amo”, escreveu ela no Facebook, horas antes de morrer. “Hoje é o dia que escolhi partir com dignidade diante de minha doença terminal, este terrível câncer cerebral que tirou tanto de mim… mas que poderia ter tirado muito mais”. Os últimos dias da vida de Brittany foram dedicados a uma campanha pela legalização do “suicídio assistido”, chamado eufemisticamente de “morte com dignidade”.

Em inglês, a expressão utilizada pelos veículos de comunicação e pelos adeptos da campanha é “death-with-dignity”. Deste modo, a modernidade tenta abrandar, com palavras bonitas, aquilo que é intrinsecamente mau e condenável – como se a alteração das palavras pudesse mudar a substância das coisas. O “suicídio assistido”, por mais que se queira pintá-lo com novos nomes, é o que é: um suicídio, “o mal extremo e absoluto; a recusa de interessar-se pela existência; a recusa de fazer um juramento de lealdade à vida”. Como bem escreve Chesterton, “o homem que mata um homem, mata um homem”, mas “o homem que se mata, mata todos os homens; no que lhe diz respeito, ele elimina o mundo” [2].

Quando se condena com veemência a atitude de Brittany, não se pretende ignorar ou menosprezar o sofrimento pelo qual a jovem passou após descobrir o tumor no seu cérebro. As pessoas e famílias que lidam dia a dia com o drama do câncer – e de qualquer outra enfermidade – sabem que não é nada fácil enfrentar a doença e, principalmente, as suas consequências espirituais, que tocam as profundezas da existência humana. A opção da jovem norte-americana, no entanto, mais do que um “não” ao sofrimento, trata-se de um “não” à própria existência e à dignidade humana. E o pior é que tudo isso recebe o amparo do Estado, como se a liberdade humana fosse onipotente e intocável, até mesmo quando destrói e degrada a si mesma.

A Igreja, ao assumir o papel profético de defesa da vida, não fica à margem do mistério da dor e da morte. O Papa São João Paulo II, em 1984, por meio da carta apostólica Salvifici Doloris, procurou perscrutar o “sentido do sofrimento”, que ele classificava como uma experiência “quase inseparável da existência terrena do homem”. Na ocasião, o Papa afirmava que, pela Cruz, “o homem está (…) ‘destinado’ a superar-se a si mesmo” e que “o Amor é ainda a fonte mais plena para a resposta à pergunta acerca do sentido do sofrimento” [3]. De fato, nos anos finais de seu pontificado, após a entrada no terceiro milênio, ele mesmo enfrentaria com coragem a cruz de uma doença, a qual, vivida com amor e entrega a Deus, elevá-lo-ia à honra dos altares.

A santificação do sofrimento, no entanto, não é uma obra restrita ao Papa ou a um ou outro membro do clero, mas um chamado pessoal a todos os cristãos. Quando Brittany prenunciou ao mundo o seu suicídio, em outubro, o jovem Philip Johnson, seminarista da Diocese de Raleigh, na Carolina do Norte, respondeu à sua iniciativa com um bonito artigo, publicado na Internet [4]. A sua história, muito parecida com a de Brittany nos detalhes – também ele foi diagnosticado com um câncer terminal no cérebro, com apenas 24 anos de idade –, tem, todavia, um final bem diferente.

Quando descobriu o câncer, Philip servia como oficial da marinha norte-americana no Golfo Pérsico. “Recordo o momento em que vi as imagens computadorizadas dos scanners cerebrais. Fui à capela da base e caí no chão chorando. Perguntei a Deus: ‘Por que eu?’”. Depois de consultar os médicos, ele foi informado de que perderia gradualmente o controle de suas funções corporais – “desde paralisia até incontinência” – e que muito provavelmente também as suas faculdades mentais desapareceriam.

Ele conta, porém, que nada disso o faria procurar o chamado “suicídio assistido”. “Eu acho que ninguém quer morrer dessa maneira”, declara. “A minha vida significa algo para mim, para Deus e para a minha família e amigos, e, salvo uma recuperação milagrosa, continuará significando muito, mesmo depois de paralisado em uma cama de hospital”.

O seminarista reconhece a tentação de Brittany de acabar com a sua vida “por seus próprios termos”, mas não pode aceitar a sua decisão. “Eu concordo que o seu estado é duro, mas a sua decisão é tudo, menos corajosa”, afirma. “Eu sinto por ela e entendo sua difícil situação, mas nenhum diagnóstico justifica o suicídio”.

Philip também assegura que, com sua doença, pôde experimentar “incontáveis milagres”. Ele aprendeu, sobretudo, que “o sofrimento e a dor de coração, que fazem parte da condição humana, não devem ser desperdiçados ou interrompidos por medo ou procurando controle em uma situação aparentemente incontrolável”. “Não procuramos a dor em si mesma – explica Philip –, mas o nosso sofrimento pode ter grande significado se tentamos uni-lo à Paixão de Cristo e oferecê-lo pela conversão ou intenções dos outros”.

Mesmo passando por momentos de grande dificuldade, Johnson mantém a confiança em Deus e segue em seus estudos para tornar-se padre. “Ainda fico triste, ainda choro”, escreve. “Ainda peço a Deus que mostre a Sua vontade através de todo este sofrimento e me permita ser Seu sacerdote (…), mas sei que não estou sozinho no meu sofrimento”.

Eis o exemplo de quem se configurou à redenção de Cristo e, com isso, deu sentido ao próprio sofrimento. Que Deus tenha misericórdia da alma de Brittany Maynard. E que todos os que sofrem ouçam, com esperança, o apelo de Nosso Senhor: “Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei. Tomai meu jugo sobre vós (…), porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas. Porque meu jugo é suave e meu peso é leve.” [5].

 

  1. The Brittany Maynard Fund – YouTube
  2. Ortodoxia, V, p. 76
  3. Salvifici Doloris, 2. 3. 13
  4. Dear Brittany: Our Lives Are Worth Living, Even With Brain Cancer | Diocese of Raleigh
  5. Mt 11, 28-30

 

Fonte: Equipe Christo Nihil Praeponere

Eu fui estuprada durante uma viagem de negócios. Mas meu marido e eu escolhemos a vida

Em janeiro passado, durante uma viagem a negócios, eu fiquei hospedada em um pequeno hotel de uma cidade universitária. Acho que, geralmente, sou mais cuidadosa com o que acontece ao meu redor, mas havia tanta neve e vento que eu não teria ouvido os passos dele nem sequer se ele viesse pisando com força. Aconteceu tudo muito rápido. A porta foi aberta, eu me virei para fechá-la e lá estava ele. Um homem corpulento. Meu primeiro instinto não foi de medo, mas de confusão. No instante seguinte, ele me deu um soco no rosto. Eu não me lembro de ter sido arrastada do quarto, mas fui encontrada na escada. Não sei por quê. Talvez eu tenha tentado correr e pedir ajuda.
Os exames depois do estupro deram negativo para HIV, gonorreia, clamídia, sífilis, herpes e dezenas de outras coisas das quais eu nunca tinha ouvido falar. Deus é misericordioso.

No mês seguinte, eu estava escalada para trabalhar em um navio de cruzeiro. No segundo dia, tive uma disenteria e não melhorei com os antibióticos. Fui levada para um hospital quando ancoramos em Cartagena, Colômbia. Passei por um ultrassom para averiguar se havia alguma obstrução intestinal. Foi quando descobrimos que, dentro de mim, existia algo do tamanho de uma ervilha.
Era o meu filho.

De novo a bordo do navio, contei aos médicos uma versão abreviada da minha história, o que os levou a me colocar em quarentena. Medo de suicídio? Risco de um surto psicótico que me fizesse correr nua pelo navio? Quem vai saber… O que eu sei é que passei a semana seguinte ouvindo uma equipe muito bem intencionada de médicos e enfermeiras me consolando e dizendo o quanto seria “fácil lidar com isso”. Traduzindo: seria “fácil” matar o bebê e “seguir a vida”. Fácil???

Muitas coisas foram discutidas naquela semana em vários telefonemas transatlânticos para casa, cheios de ruídos na linha e de lágrimas no meu rosto, mas aquela tal possibilidade de “lidar com isso” nunca saiu dos meus lábios. Nem do meu marido. Quando eu disse a ele que estava grávida, ele respondeu com a voz calma e firme: “Certo… Certo… Está tudo bem. Está tudo bem, ok?”.

Perguntei: “O que você quer dizer com tudo bem?” 200466079-001

“Eu quero dizer que nós vamos conseguir. Nós vamos passar por isso. Vai ficar tudo bem. E… Eu amo bebês. Nós vamos ter outro bebê! Meu amor, isto é um presente. É algo maravilhoso, que veio de algo terrível. Nós vamos conseguir!”.

E eu comecei a sentir a movimentação da alegria pela vida nova que se desenvolvia no meu ventre, florescendo sob o meu coração! Esse novo amor cresceria com tanta garra que acabaria com qualquer hesitação ou angústia. E o meu marido estava certo: nós íamos conseguir!

Na minha última manhã a bordo do navio, eu disse àquela equipe solidária: “Se alguma vez vocês pensarem neste assunto, se algum dia vocês se perguntarem o que aconteceu comigo, saibam que eu tive um lindo bebê em outubro de 2014″. A reação deles… os olhares em seus rostos… A médica que tinha me empurrado o aborto com mais veemência do que os outros… Ela tinha lágrimas nos olhos. Pela primeira vez, eu pensei que Deus iria saber o que fazer com aquilo, com aquele pesadelo que eu tinha sofrido.

Eu moro na Carolina do Norte, nos Estados Unidos. O doutor que fez o parto dos meus dois filhos estava concorrendo nas primárias republicanas para o Senado. Ele tem que responder às pessoas o tempo todo sobre aquela questão infalível: “E em casos deestupro?”.

Bom, no meu caso, o meu filho vai ter voz. Mas até ele poder usá-la, é responsabilidade minha e privilégio meu falar por ele.

Durante a gravidez, eu entrei e saí do hospital uma série de vezes. Fiquei mais dentro do que fora. Tive pré-eclâmpsia e pressão arterial elevada. Foi aterrador quando, na 26ª semana, eles me disseram que provavelmente eu teria que dar à luz naquela noite. Aterrador porque eu queria desesperadamente que o meu filho vivesse! Mas nós conseguimos atravessar todo aquele susto. Eu precisei ficar em repouso absoluto, mas pelo menos estava em casa. Cada semana depois disso foi ainda mais incrível, com a expectativa do quanto eu ficaria feliz quando ele finalmente chegasse aos meus braços em segurança. Na parte emocional, eu estava indo muito bem.

Tínhamos uma equipe de médicos muito abençoada. Tudo é questão de confiar plenamente. Não era algo novo. Eu tinha me sentido completamente fora de mim desde aquela violência sofrida em janeiro. O meu mundo tinha sido abalado e não voltaria a ficar bem até que o meu filho nascesse. Mas tudo aquilo me livrou da atitude arrogante e autossuficiente de dizer a Deus: “Está tudo bem, eu encaro isso”.
O nosso pequeno menino pode ter sido concebido num ato de violência, mas ele é um dom de Deus, um presente delicioso que preencheu em nossa família uma lacuna que eu nunca tinha percebido que existia. Ele nos tornou completos!

Eu me sinto profundamente grata por ter entrado em contato com outras mães que também engravidaram depois de sofrer um estupro. Nós somos sobreviventes. Não somos apenas vítimas. E foi o meu filho quem me curou.

A pressão da comunidade médica para abortar me abriu os olhos de uma forma impactante. Eles me disseram muitas vezes o quanto seria “simples” e rápido “lidar com isso” e “seguir a vida” depois que tudo “aquilo” tivesse acabado. Era de partir o coração ter que ouvir isso vezes e mais vezes. Mesmo alguns amigos achavam que ter o bebê era um erro, que eu não seria capaz emocionalmente.

Mas toda vez que nós, mães sobrevivente de estupro, compartilhamos as nossas histórias, saímos mais fortalecidas e fortalecemos os outros. Afinal, quantas vidas podem ser poupadas quando se conta com esse apoio e com essa coragem?

Fonte: Aleteia

Ele despertou após 15 anos em coma. Miguel Parrondo está vivo hoje graças à fé do seu pai, que nunca permitiu que desligassem os aparelhos

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Entre os riscos da legalização da chamada “morte digna”, cabe destacar aqueles corridos por pessoas que, tendo entrado em coma durante um longo período, podem ser desconectadas dos aparelhos que as mantêm com vida – em muitos casos por decisão dos próprios familiares, aconselhados pelos médicos.

Um exemplo disso é o caso de Mathew Taylor, um homem britânico que despertou ao ouvir a voz da sua namorada, após um ano em coma.

Recentemente, foi divulgado um caso ainda mais espetacular: Miguel Parrondo, que entrou em coma após sofrer um acidente de carro em 1987, despertou em 2002, graças à constância, amor e fé dos seus familiares.

Seu pai, médico dermatologista no mesmo hospital, se negou completamente a “desligar” seu filho, seis meses após o acidente.

De fato, quando Miguel chegou ao Hospital Juan Canalejo de A Coruña, nenhum médico tinha esperanças de que ele pudesse sair adiante. Nem sequer seu próprio pai, que, quando viu o estado em que seu filho chegou, pediu ao sacerdote do hospital que lhe desse a unção dos enfermos.

Estes fatos ocorreram em 1987, quando Miguel, aos 32 anos, voltava de uma noite de festa em companhia de duas amigas. Ele perdeu o controle da direção em uma curva e acabou colidindo com um muro, em seu Renault 5 GT Turbo. De repente, sua vida se tornou escuridão durante os 15 anos em que passou na UTI.
 
“Só Deus pode tirar a vida”

Durante esses 15 anos na UTI, sua mãe, seu pai e sua filha Almudena, com dedicação exclusiva, não saíram do seu lado. O principal motor dessa verdadeira maratona foi sua fé. Eles passaram mais de uma década da sua vida vendo Miguel através de um vidro.

Foram meses e anos de lágrimas, de esgotamento e de momentos muito duros, como quando os médicos lhes sugeriram que avaliassem a possibilidade de “desligar” Miguel.

“Queriam me desconectar, então meu pai reuniu seus colegas do hospital e lhes disse: ‘Só Deus pode tirar a vida’. Se não fosse por isso, eu não estaria aqui, porque não davam nada por mim. Meu pai teve fé”, contou Miguel.

Ele despertou em uma manhã de 2002. Sem saber como, abriu os olhos e a primeira coisa que viu, atrás da janela de vidro da UTI, foi sua mãe e sua filha. “Eu não sabia nada. Abri os olhos e vi minha mãe junto a uma menina. Olhei para a minha filha e perguntei: ‘Almudena?’ Porque eu me lembrava de que tinha uma filha com esse nome. E ela me respondeu: ‘Sim!’. Então eu disse: ‘Eu sou seu pai!’. Minha mãe chorava como uma criança e meu pai não conseguia acreditar.”

De fato, não há explicação médica alguma para o seu caso. Miguel havia acordado de um sonho de 15 anos e começava uma vida nova. Entrou em coma aos 32 anos e saiu aos 47.

“Foi como se eu tivesse dormido e acordado no dia seguinte. Quando vi minha filha, me assustei. Ela já estava formada e eu já era avô. Hoje ela tem 38 anos.”

A volta à vida

Após despertar, sua própria família lhe contou os detalhes de como foram todos aqueles anos. “Imagine como eu cheguei ao hospital, para que meu pai, médico, pedisse a um padre que me desse a extrema unção”, recordou.

“Depois, quando despertei, ele não acreditava, e me levou à Universidade de Santiago para que me vissem. Disseram-nos que o meu caso era único. Ou seja, sou um bicho estranho. E a minha mãe (que já faleceu) passava todos os dias na UTI vendo-me através do vidro; comia lá, dormia lá, não se separava de mim”, agradeceu.

Retornar à vida não foi fácil, foi um choque para Miguel. Ele teve sequelas físicas, dezenas de cirurgias e um mundo totalmente novo, que havia mudado a uma velocidade difícil de assimilar.

“Eu pareço um mapa rodoviário. Tiraram meu baço, uso uma prótese no ombro, lesões cranioencefálicas severas que provocaram uma hemiparesia (doença que diminui a força motora e paralisa parcialmente uma parte do corpo), devido às cicatrizes do cérebro. Estive mais morto que vivo.”

A memória de Miguel chega até a trágica noite de 1987. Do acidente, “lembro-me onde foi, em uma curva, e foi por excesso de velocidade. Disso eu me lembro”. Ele viajava com duas amigas; uma delas faleceu.

“Infelizmente, uma das meninas que ia comigo morreu. Há alguns dias, eu estava na rua, e uma senhora ficou me olhando fixamente. Aí eu pensei: sou bonito, mas nem tanto! Então, ela me perguntou: ‘Você é o Miguel?’. ‘Sim, sou eu’, respondi. Ela me abraçou e começou a chorar. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas logo depois fiquei sabendo que ela era a outra moça que estava no carro.”

“Eu não havia mais tido notícias delas, eram duas moças que eu havia conhecido em uma noite louca”, confessou.

Na primeira vez que saiu na rua ao deixar o hospital, ele parecia estar sonhando. Queria voltar a dormir. “A primeira coisa que eu perguntei foi: o que é isso de ‘euro’? Eu não sabia nada do euro, era da época das pesetas.”

“O mundo mudou muito – explicou. Quando comecei a sair na rua, eu pensava: as pessoas estão loucas, falam sozinhas! Mas elas estavam falando ao celular. Ou via um carro da polícia com uma mulher dirigindo e ficava desconcertado.”

“Quando saí na rua, me assustei mesmo. Antes eu ouvia fita cassete e agora o carro tem CD player e pendrive. Na casa dos meus pais, eram 16 vizinhos e só restavam dois, todos morreram. Não conheço a metade de La Coruña, onde agora está o bairro de Los Rosales. Antes, tudo isso era terra.”

Nunca podemos perder a fé

Antes do acidente, Miguel trabalhava como programador no banco. Naquela época, ele tinha um bom cargo e um ótimo salário. Eram os primeiros computadores e os pioneiros na informática. Ele cobrava 300.000 pesetas por mês.

Graças ao seu pai, suas finanças se mantiveram e seu dinheiro rendeu. “Ele guardava meu salário todos os meses e, quando despertei, tinha uma boa quantidade. Comprei um apartamento e tudo.”

Miguel não perdeu a paixão pelos motores. O caso de Schumacher o impactou, mas ele está convencido de que “ele vai se recuperar bem, com fisioterapia e tudo mais. Eu me recuperei bem”.

Hoje, ele dirige um carro normal, sem adaptações, e exibe todos os troféus que ganhou quando praticava motocross.

Miguel comentou que há diversos casos como o dele, com famílias desesperadas que duvidam, que perderam a esperança. Por isso, sua experiência o faz ser totalmente contra a eutanásia.

“Nunca podemos perder a fé. Estive com uma senhora há pouco tempo; ela tem um filho em coma há quatro anos e está destruída. Contei-lhe minha história e ela recuperou a esperança.”

Miguel hoje vive tranquilo, apesar da invalidez, aproveitando a oportunidade que a vida lhe deu, ainda que “um pouco desesperado por estar aqui o dia inteiro sem fazer nada. Sou hiperativo e os dias parecem semanas”. Mas não reclama. Não tem um só motivo: “Como costumo dizer, agora tenho 12 aninhos, porque nasci duas vezes”.

Fonte: Aleteia

Ele despertou após 15 anos em coma. Miguel Parrondo está vivo hoje graças à fé do seu pai, que nunca permitiu que desligassem os aparelhos

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Entre os riscos da legalização da chamada “morte digna”, cabe destacar aqueles corridos por pessoas que, tendo entrado em coma durante um longo período, podem ser desconectadas dos aparelhos que as mantêm com vida – em muitos casos por decisão dos próprios familiares, aconselhados pelos médicos.

Um exemplo disso é o caso de Mathew Taylor, um homem britânico que despertou ao ouvir a voz da sua namorada, após um ano em coma.

Recentemente, foi divulgado um caso ainda mais espetacular: Miguel Parrondo, que entrou em coma após sofrer um acidente de carro em 1987, despertou em 2002, graças à constância, amor e fé dos seus familiares.

Seu pai, médico dermatologista no mesmo hospital, se negou completamente a “desligar” seu filho, seis meses após o acidente.

De fato, quando Miguel chegou ao Hospital Juan Canalejo de A Coruña, nenhum médico tinha esperanças de que ele pudesse sair adiante. Nem sequer seu próprio pai, que, quando viu o estado em que seu filho chegou, pediu ao sacerdote do hospital que lhe desse a unção dos enfermos.

Estes fatos ocorreram em 1987, quando Miguel, aos 32 anos, voltava de uma noite de festa em companhia de duas amigas. Ele perdeu o controle da direção em uma curva e acabou colidindo com um muro, em seu Renault 5 GT Turbo. De repente, sua vida se tornou escuridão durante os 15 anos em que passou na UTI.
 
“Só Deus pode tirar a vida”

Durante esses 15 anos na UTI, sua mãe, seu pai e sua filha Almudena, com dedicação exclusiva, não saíram do seu lado. O principal motor dessa verdadeira maratona foi sua fé. Eles passaram mais de uma década da sua vida vendo Miguel através de um vidro.

Foram meses e anos de lágrimas, de esgotamento e de momentos muito duros, como quando os médicos lhes sugeriram que avaliassem a possibilidade de “desligar” Miguel.

“Queriam me desconectar, então meu pai reuniu seus colegas do hospital e lhes disse: ‘Só Deus pode tirar a vida’. Se não fosse por isso, eu não estaria aqui, porque não davam nada por mim. Meu pai teve fé”, contou Miguel.

Ele despertou em uma manhã de 2002. Sem saber como, abriu os olhos e a primeira coisa que viu, atrás da janela de vidro da UTI, foi sua mãe e sua filha. “Eu não sabia nada. Abri os olhos e vi minha mãe junto a uma menina. Olhei para a minha filha e perguntei: ‘Almudena?’ Porque eu me lembrava de que tinha uma filha com esse nome. E ela me respondeu: ‘Sim!’. Então eu disse: ‘Eu sou seu pai!’. Minha mãe chorava como uma criança e meu pai não conseguia acreditar.”

De fato, não há explicação médica alguma para o seu caso. Miguel havia acordado de um sonho de 15 anos e começava uma vida nova. Entrou em coma aos 32 anos e saiu aos 47.

“Foi como se eu tivesse dormido e acordado no dia seguinte. Quando vi minha filha, me assustei. Ela já estava formada e eu já era avô. Hoje ela tem 38 anos.”

A volta à vida

Após despertar, sua própria família lhe contou os detalhes de como foram todos aqueles anos. “Imagine como eu cheguei ao hospital, para que meu pai, médico, pedisse a um padre que me desse a extrema unção”, recordou.

“Depois, quando despertei, ele não acreditava, e me levou à Universidade de Santiago para que me vissem. Disseram-nos que o meu caso era único. Ou seja, sou um bicho estranho. E a minha mãe (que já faleceu) passava todos os dias na UTI vendo-me através do vidro; comia lá, dormia lá, não se separava de mim”, agradeceu.

Retornar à vida não foi fácil, foi um choque para Miguel. Ele teve sequelas físicas, dezenas de cirurgias e um mundo totalmente novo, que havia mudado a uma velocidade difícil de assimilar.

“Eu pareço um mapa rodoviário. Tiraram meu baço, uso uma prótese no ombro, lesões cranioencefálicas severas que provocaram uma hemiparesia (doença que diminui a força motora e paralisa parcialmente uma parte do corpo), devido às cicatrizes do cérebro. Estive mais morto que vivo.”

A memória de Miguel chega até a trágica noite de 1987. Do acidente, “lembro-me onde foi, em uma curva, e foi por excesso de velocidade. Disso eu me lembro”. Ele viajava com duas amigas; uma delas faleceu.

“Infelizmente, uma das meninas que ia comigo morreu. Há alguns dias, eu estava na rua, e uma senhora ficou me olhando fixamente. Aí eu pensei: sou bonito, mas nem tanto! Então, ela me perguntou: ‘Você é o Miguel?’. ‘Sim, sou eu’, respondi. Ela me abraçou e começou a chorar. Eu não sabia o que estava acontecendo, mas logo depois fiquei sabendo que ela era a outra moça que estava no carro.”

“Eu não havia mais tido notícias delas, eram duas moças que eu havia conhecido em uma noite louca”, confessou.

Na primeira vez que saiu na rua ao deixar o hospital, ele parecia estar sonhando. Queria voltar a dormir. “A primeira coisa que eu perguntei foi: o que é isso de ‘euro’? Eu não sabia nada do euro, era da época das pesetas.”

“O mundo mudou muito – explicou. Quando comecei a sair na rua, eu pensava: as pessoas estão loucas, falam sozinhas! Mas elas estavam falando ao celular. Ou via um carro da polícia com uma mulher dirigindo e ficava desconcertado.”

“Quando saí na rua, me assustei mesmo. Antes eu ouvia fita cassete e agora o carro tem CD player e pendrive. Na casa dos meus pais, eram 16 vizinhos e só restavam dois, todos morreram. Não conheço a metade de La Coruña, onde agora está o bairro de Los Rosales. Antes, tudo isso era terra.”

Nunca podemos perder a fé

Antes do acidente, Miguel trabalhava como programador no banco. Naquela época, ele tinha um bom cargo e um ótimo salário. Eram os primeiros computadores e os pioneiros na informática. Ele cobrava 300.000 pesetas por mês.

Graças ao seu pai, suas finanças se mantiveram e seu dinheiro rendeu. “Ele guardava meu salário todos os meses e, quando despertei, tinha uma boa quantidade. Comprei um apartamento e tudo.”

Miguel não perdeu a paixão pelos motores. O caso de Schumacher o impactou, mas ele está convencido de que “ele vai se recuperar bem, com fisioterapia e tudo mais. Eu me recuperei bem”.

Hoje, ele dirige um carro normal, sem adaptações, e exibe todos os troféus que ganhou quando praticava motocross.

Miguel comentou que há diversos casos como o dele, com famílias desesperadas que duvidam, que perderam a esperança. Por isso, sua experiência o faz ser totalmente contra a eutanásia.

“Nunca podemos perder a fé. Estive com uma senhora há pouco tempo; ela tem um filho em coma há quatro anos e está destruída. Contei-lhe minha história e ela recuperou a esperança.”

Miguel hoje vive tranquilo, apesar da invalidez, aproveitando a oportunidade que a vida lhe deu, ainda que “um pouco desesperado por estar aqui o dia inteiro sem fazer nada. Sou hiperativo e os dias parecem semanas”. Mas não reclama. Não tem um só motivo: “Como costumo dizer, agora tenho 12 aninhos, porque nasci duas vezes”.

Fonte: Aleteia

Suíça considera legalizar o incesto. Inacreditável!

Fonte: blog Marxismo cultural.

Em mais um passo que demonstra de forma conclusiva os malefícios que descendem sobra uma sociedade que deixa de temer a Deus, políticos suíços tencionam legalizar o incesto. Eles consideram repelir as leis contra o incesto por as considerar “obsoletas”.

A câmara superior do parlamento suíço concluiu uma lei que visa descriminalizar o ato sexual consentido entre membros da mesma família. Essa lei vai agora ser avaliada pelo governo.

Só houve 3 casos de incesto no país desde 1984. Pelo menos casos reportados.

A Suíça, que recentemente teve um referendo que aprovou uma lei que pune os imigrantes com a extradição por prática de alguns crimes, insiste que as crianças dentro das famílias vão continuar a ser “protegidas pelas leis que governam os abusos e a pedofilia”. Não se sabe como é que os esquerdistas vão fazer isso, mas eles de certo que têm tudo controlado.

Daniel Vischer, um membro do Partido “Os Verdes”, afirmou que não vê nada de mal no ato sexual consentido entre adultos – mesmo que eles sejam da mesma família. Esta declaração não é surpresa uma vez que os esquerdistas apoiam qualquer medida que vise destruir a instituição da família.

O esquerdista afirma:

O incesto é uma questão moral delicada, mas não é uma que possa ser respondida pela lei Penal.

Barbara Schmid Federer do Partido do Povo Cristão da Suíça afirmou que a proposta da câmara superior é “totalmente repugnante“.

O Partido Protestante Popular está também em oposição a esta lei. Um dos porta-voz afirmou: O assassínio também é bastante raro na Suíça mas ninguém sugere que se removam as leis que o castiguem dos nossos estatutos.

***
A ideologia cristã defende que quando se nega que Deus seja a Referência Moral Absoluta, o homem fica moralmente à mercê da arbitrariedade humana. A questão do incesto demonstrou-o de forma óbvia.

As seguintes citações foram feitas por pessoas que negam que o Deus da Bíblia seja a Ponto de Referência Absoluto para comportamentos morais. Segundo estes “iluminados”, cada sociedade deve decidir por si qual é o caminho moral que quer seguir.

Tendo isto como pano de fundo, vejamos o que eles respondem quando pressionados a declarar se um pai que tenha relações sexuais consentidas com as filhas adultas age bem ou mal. À medida que vão lendo as suas respostas, lembrem-se que estas são as mesmas pessoas que geralmente usam o que eles chamam de “argumento do mal” contra o Deus que eles pensam que não existe.

Qual é o argumento ateu contra o que os suíços querem fazer? Se a homossexualidade é permissível na base de que ninguém tem nada a ver com o que dois adultos fazem em privado e em consentimento, então quais os argumentos “laicos” contra um pai ter relações sexuais com a sua filha maior se ambos assim o quiserem?
………
PS: Antes que algum ateu tente desviar a conversa aludindo para eventos que ele não acredita terem acontecido:
1. Lot não teve a aprovação de Deus para o seu incesto. Reportar algo não significa aprovar algo.
2. Vêr este texto em resposta aos filhos de Adão e Eva.

Eis as respostas dos esquerdistas:

  • “O incesto – consensual entre adultos, repito – é uma questão muito complicada, mas de foro moral e não legal. E como todas as questões de foro moral, penso que cabe ao indivíduo decidi-la.” [Cristy]
  • “As pessoas não precisam de Deus para saber que o incesto é uma pratica a evitar. [jmoitacarrasco]
  • “O que me preocupa a mim o que decidem entre si dois adultos na plena posse das suas faculdades? Em que medida é mau para mim ou para a minha família, que tu gostas tanto de puxar à conversa?”[Cristy]
  • “Isto para te dizer que os casos diferem, não se pode avaliar todos pelo mesmo padrão. E, no fim, a decisão cabe ao indivíduo, porque este, repito, não é um assunto legal.” [Cristy]
  • “E o que eu acho é que o código penal não tem nada que ver com isso. Objetivamente, a única razão para evitar o incesto é o perigo de problemas genéticos.” (…) “Por isso também me parece difícil aceitar que a polícia se intrometa no incesto entre adultos.” [Ludwig]
  • “Para quem está sempre a condenar o intervencionismo de Estado como prática esquerdista e socialista, acho estranho que agora já julge que esse mesmo Estado tem o direito de se intrometer nas famílias” [Sérgio Sodré]
  • “Livremente sem coação entre adultos é entre eles, ou entre eles e Deus (para quem acredita no Deus Bíblico ou Alcorânico), e mais ninguém…”[Sérgio Sodré]
  • “O problema não é se o comportamento é moralmente correto, o problema é se outrem (coletivo ou individual) tem o direito de se intrometer no seio das famílias pela força.” [Sérgio Sodré]
  • “O Estado sem aspas que fique do lado de fora dos lares e das famílias se não houver crimes contra a liberdade individual de ninguém” [Sérgio Sodré]
    • “Não sei o que o Estado deve fazer apenas sei que não o quero a espionar a vida interna das famílias, nem acho que ele tenha esse direito”

[Sérgio Sodré]

Resumindo: segundo os “laicos”, o incesto é 

1) “uma questão complicada”,

2) do “foro moral e não legal”, 

3) moralmente qualificável apenas pelos “adultos” envolvidos (ninguém – nem o Estado – tem nada que se meter entre um homem e a sua filha adulta que decidam ter relações sexuais),

4) aceitável se não houver “problemas genéticos” mas ao mesmo tempo

5) “uma prática a evitar”.

Ficou mais uma vez patente o quão à deriva nós humanos ficamos quando removemos o Deus da Bíblia como a Autoridade Moral Suprema neste universo. As pessoas citadas em cima estão mais do que cientes de que há algo de fundamentalmente errado no incesto, mas sem Deus, elas não tem como classificar esse comportamento de moralmente errado (para além da sua subjectividade pessoal).

As palavras supra-citadas são um lembrete poderoso do quão baixo nós podemos cair quando nós humanos nos colocamos no lugar de autoridade moral vigente.

Conselho de Ética alemão: “incesto é direito humano fundamental”. Aonde o homem quer chegar?

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Conselho de Ética Alemão emitiu parecer segundo o qual o incesto deve ser considerado “direito fundamental de parentes à autodeterminação sexual”, quer dizer, ao incesto, noticiou o jornal inglês The Telegraph.

O incesto é ilegal na Alemanha. Mas, segundo esse parecer, as leis que o proíbem entre irmãos e irmãs constituem uma intrusão inaceitável, contrária a um suposto “direito à autodeterminação sexual”.

“O Direito Penal não é o meio apropriado para preservar um tabu social”, escreveu com empáfia o Conselho. “O direito fundamental de parentes próximos à autodeterminação sexual deve ser considerado como de maior peso do que a abstrata ideia de proteção da família”, acrescenta sibilinamente.

O Conselho se pronunciou após a ocorrência de um caso de incesto muito explorado pela mídia, como é o método para se introduzir uma perversão moral nas leis dos países.

O jovem Patrick, que vivia com sua irmã, foi condenado a mais de três anos de prisão e obrigado a se separar dela. Ambos, porém, aguardam que a sentença seja derrubada pela Corte Europeia dos Direitos Humanos, de triste fama.

Eles tiveram duas crianças deficientes mentais, reforçando a experiência, reconhecida por todos, da alta probabilidade de nascerem crianças com anormalidades genéticas de casal incestuoso.

Mas o Conselho de Ética menosprezou esse argumento de bom senso, arguindo que também aconteceu de nascerem crianças normais.

O Conselho privilegia os polêmicos Direitos Humanos e aduz que muitos incestuosos vivem secretamente sua relação.

O incesto é ilegal na maioria dos países europeus, com exceção da França, onde Napoleão I aboliu as leis que o proibiam.

“A abolição do crime de incesto será um mau sinal”, disse Elisabeth Winkelmeier-Becker, porta-voz do partido da chanceler Angela Merkel no Parlamento.

“Eliminando o temor do castigo dos atos incestuosos dentro das famílias, agiremos contra a proteção e o desenvolvimento tranquilo das criança 

Bispos de Portugal emitem importante carta pastoral sobre a “Ideologia do gênero”

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Confederação dos Bispos de Portugal

Carta Pastoral da CEP: A propósito da ideologia do género

Difunde-se cada vez mais a chamada ideologia do género ou gender. Porém, nem todas as pessoas disso se apercebem e muitos desconhecem o seu alcance social e cultural, que já foi qualificado como verdadeira revolução antropológica. Não se trata apenas de uma simples moda intelectual. Diz respeito antes a um movimento cultural com reflexos na compreensão da família, na esfera política e legislativa, no ensino, na comunicação social e na própria linguagem corrente.
Mas a ideologia do gênero contrasta frontalmente com o acervo civilizacional já adquirido. Como tal, opõe-se radicalmente à visão bíblica e cristã da pessoa e da sexualidade humanas. Com o intuito de esclarecer as diferenças entre estas duas visões surge este documento. Move-nos o desejo de apresentar a visão mais sólida e mais fundante da pessoa, milenarmente descoberta, valorizada e seguida, e para a qual o humanismo cristão muito contribuiu. Acreditamos que este mesmo humanismo, atualmente, é chamado a dar contributo válido na redescoberta da profundidade e beleza de uma sexualidade humana corretamente entendida.
Trata-se da defesa de um modelo de sexualidade e de família que a sabedoria e a história, não obstante as mutações culturais, nos diferentes contextos sociais e geográficos, consideram apto para exprimir a natureza humana.
           
            1. A pessoa humana, espírito encarnado
Antes de mais, gostaríamos de deixar bem claro que, para o humanismo cristão, não há lugar a dualismos: o desprezo do corpo em nome do espírito ou vice-versa. O corpo sexuado, como todas as criaturas do nosso Deus, é produto bom de um Deus bom e amoroso. Uma segunda verdade a considerar na visão cristã da sexualidade é a da pessoa humana como espírito encarnado e, por isso, sexuado: a diferenciação sexual correspondente ao desígnio divino sobre a criação, em toda a sua beleza e plenitude: «Ele os criou homem e mulher» (Gn 1,27); «Deus, vendo toda sua obra, considerou-a muito boa» (Gn 1,31).
A corporalidade é uma dimensão constitutiva da pessoa, não um seu acessório; a pessoa é um corpo, não tem um corpo; a dignidade do corpo humano é corolário da dignidade da pessoa humana; a comunhão dos corpos deve exprimir a comunhão das pessoas.
Porque a pessoa humana é a totalidade unificada do corpo e da alma, existe necessariamente, como homem ou mulher. Por conseguinte, a dimensão sexuada, a masculinidade ou feminilidade, é constitutiva da pessoa, é o seu modo de ser, não um simples atributo. É a própria pessoa que se exprime através da sexualidade. A pessoa é, assim, chamada ao amor e à comunhão como homem ou como mulher. E a diferença sexual tem um significado no plano da criação: exprime uma abertura recíproca à alteridade e à diferença, as quais, na sua complementaridade, se tornam enriquecedoras e fecundas.
            2. Confrontados com uma forte mudança cultural
            Reconhecemos, sem dúvida, que, no longo caminho do amadurecimento cultural e civilizacional, nem sempre se atribuiu aos dois âmbitos do humano (o masculino e o feminino) o mesmo valor e semelhante protagonismo social. Especialmente a mulher, não raramente, foi vítima de forte sujeição ao homem e sofreu alguma menorização social e cultural. Graças a Deus, tais situações estão progressivamente a ser ultrapassadas e a condição feminina, antigamente conotada com a ideia de opressão, hoje está a revelar-se como enorme potencial de humanização e de desenvolvimento harmonioso da sociedade.
            No desejo de ultrapassar esta menoridade social da mulher, alguns procederam a uma distinção radical entre o sexo biológico e os papéis que a sociedade, tradicionalmente, lhe outorgou. Afirmam que o ser masculino ou feminino não passa de uma construção mental, mais ou menos interessada e artificial, que, agora, importaria desconstruir. Por conseguinte, rejeitam tudo o que tenha a ver com os dados biológicos para se fixarem na dimensão cultural, entendida como mentalidade pessoal e social. E, por associação de ideias, passou-se a rejeitar a validade de tudo o que tenha a ver com os tradicionais dados normativos da natureza a respeito da sexualidade (heterossexualidade, união monogâmica, limite ético aos conhecimentos técnicos ligados às fontes da vida, respeito pela vida intra-uterina, pudor ou reserva de intimidade, etc.). É todo este âmbito mental que se costuma designar por ideologia do gênero ou gender.
            A ideologia do gênero surge, assim, como uma antropologia alternativa, quer à judaico-cristã, quer à das culturas tradicionais não ocidentais. Nega que a diferença sexual inscrita no corpo possa ser identificativa da pessoa; recusa a complementaridade natural entre os sexos; dissocia a sexualidade da procriação; sobrepõe a filiação intencional à biológica; pretende desconstruir a matriz heterossexual da sociedade (a família assente na união entre um homem e uma mulher deixa de ser o modelo de referência e passa a ser um entre vários).
            3. Os pressupostos da ideologia do gênero
Esta teoria parte da distinção entre sexo gênero, forçando a oposição entre natureza e cultura. O sexo assinala a condição natural e biológica da diferença física entre homem e mulher. O gênero baliza a construção histórico-cultural da identidade masculina e feminina. Mas, partindo da célebre frase de Simone de Beauvoir, «uma mulher não nasce mulher, torna-se mulher», a ideologia do gênero considera que somos homens ou mulheres não na base da dimensão biológica em que nascemos, mas nos tornamos tais de acordo com o processo de socialização (da interiorização dos comportamentos, funções e papéis que a sociedade e cultura nos distribui). Papéis que, para estas teorias, são injustos e artificiais. Por conseguinte, o gênero deve sobrepor-se ao sexo e a cultura deve impor-se à natureza.
Como, para esta ideologia, o gênero é uma construção social, este pode ser desconstruído e reconstruído. Se a diferença sexual entre homem e mulher está na base da opressão desta, então qualquer forma de definição de uma especificidade feminina é opressora para a mulher. Por isso, para os defensores do gender, a maternidade, como especificidade feminina, é sempre uma discriminação injusta. Para superar essa opressão, recusa-se a diferenciação sexual natural e reconduz-se o gênero à escolha individual. O gênero não tem de corresponder ao sexo, mas pertence a uma escolha subjetiva, ditada por instintos, impulsos, preferências e interesses, o que vai para além dos dados naturais e objetivos.
gender sustenta a irrelevância da diferença sexual na construção da identidade e, por consequência, também a irrelevância dessa diferença nas relações interpessoais, nas uniões conjugais e na constituição da família. Se é indiferente a escolha do gênero a nível individual, podendo escolher-se ser homem ou mulher independentemente dos dados naturais, também é indiferente a escolha de se ligar a pessoas de outro ou do mesmo sexo. Daqui a equiparação entre uniões heterossexuais e homossexuais. Ao modelo da família heterossexual sucedem-se vários tipos de família, tantos quantas as preferências individuais, para além de qualquer modelo de referência. Deixa de se falar em família e passa a falar-se em famílias. Privilegiar a união heterossexual afigura-se-lhe uma forma de discriminação. Igualmente, deixa de se falar em paternidade e maternidade e passa a falar-se, exclusivamente, em parentalidade, criando um conceito abstrato, pois desligado da geração biológica.
            4. Reflexos da afirmação e difusão da ideologia do gênero
A afirmação e difusão da ideologia do gênero pode notar-se em vários âmbitos. Um deles é o dos hábitos linguísticos correntes. Vem-se generalizando, a começar por documentos oficiais e na designação de instituições públicas, a expressão gênero em substituição de sexo (igualdade de gênero, em vez de igualdade entre homem e mulher), tal como a expressão famílias em vez de famíliaou parentalidade em vez de paternidade maternidade. Muitas pessoas passam a adotar estas expressões por hábito ou moda, sem se aperceberem da sua conotação ideológica. Mas a generalização destas expressões está longe de ser inocente e sem consequências. Faz parte de uma estratégia de afirmação ideológica, que compromete a inteligibilidade básica de uma pessoa, por vezes, tendo consequências dramáticas: incapacidade de alguém se situar e definir no que tem de mais elementar.
Os planos político e legislativo são outro dos âmbitos de penetração da ideologia do gênero, que atinge os centros de poder nacionais e internacionais. Da agenda fazem parte as leis de redefinição do casamento de modo a nelas incluir uniões entre pessoas do mesmo sexo (entre nós, a Lei nº 9/2010, de 31 de maio), as leis que permitem a adoção por pares do mesmo sexo (em discussão entre nós, na modalidade de co-adoção), as leis que permitem a mudança do sexo oficialmente reconhecido, independentemente das caraterísticas fisiológicas do requerente (Lei nº 7/2011, de 15 de março), e as leis que permitem o recurso de uniões homossexuais e pessoas sós à procriação artificial, incluindo a chamada maternidade de substituição (a Lei nº 32/2006, de 26 de julho, não contempla a possibilidade referida).
Outro âmbito de difusão da ideologia do género é o do ensino. Este é encarado como um meio eficaz de doutrinação e transformação da mentalidade corrente e é nítido o esforço de fazer refletir na orientação dos programas escolares, em particular nos de educação sexual, as teses dessa ideologia, apresentadas como um dado científico consensual e indiscutível. Esta estratégia tem dado origem, em vários países, a movimentos de protesto por parte dos pais, que rejeitam esta forma de doutrinação ideológica, porque contrária aos princípios nos quais pretendem educar os seus filhos. Entre nós, a Portaria nº 196-A/2010, de 9 de abril, que regulamenta a Lei nº 60/2009, de 6 de agosto, relativa à educação sexual em meio escolar, inclui, entre os conteúdos a abordar neste âmbito, sexualidade e género.
            5. O alcance antropológico da ideologia do gênero
Importa aprofundar o alcance da ideologia do gênero, pois ela representa uma autêntica revolução antropológica. Reflete um subjetivismo relativista levado ao extremo, negando o significado da realidade objetiva. Nega a verdade como algo que não pode ser construído, mas nos é dado e por nós descoberto e recebido. Recusa a moral como uma ordem objetiva de que não podemos dispor. Rejeita o significado do corpo: a pessoa não seria uma unidade incindível, espiritual e corpórea, mas um espírito que tem um corpo a ela extrínseco, disponível e manipulável. Contradiz a natureza como dado a acolher e respeitar. Contraria uma certa forma de ecologia humana, chocante numa época em que tanto se exalta a necessidade de respeito pela harmonia pré-estabelecida subjacente ao equilíbrio ecológico ambiental. Dissocia a procriação da união entre um homem e uma mulher e, portanto, da relacionalidade pessoal, em que o filho é acolhido como um dom, tornando-a objeto de um direito de afirmação individual: o “direito” à parentalidade.
No plano estritamente científico, obviamente, é ilusória a pretensão de prescindir dos dados biológicos na identificação das diferenças entre homens e mulheres. Estas diferenças partem da estrutura genética das células do corpo humano, pelo que nem sequer a intervenção cirúrgica nos órgãos sexuais externos permitiria uma verdadeira mudança de sexo.
É certo que a pessoa humana não é só natureza, mas é também cultura. E também é certo que a lei natural não se confunde com a lei biológica. Mas os dados biológicos objetivos contêm um sentido e apontam para um desígnio da criação que a inteligência pode descobrir como algo que a antecede e se lhe impõe e não como algo que se pode manipular arbitrariamente. A pessoa humana é um espírito encarnado numa unidade bio-psico-social. Não é só corpo, mas é também corpo. As dimensões corporal espiritual devem harmonizar-se, sem oposição. Do mesmo modo, também as dimensões natural e culturalA cultura vai para além da natureza, mas não se lhe deve opor, como se dela tivesse que se libertar.
            6. Homem e mulher chamados à comunhão
A diferenciação sexual inscrita no desígnio da criação tem um sentido que a ideologia do gênero ignora. Reconhecê-la e valorizá-la é assegurar o limite e a insuficiência de cada um dos sexos, é aceitar que cada um deles não exprime o humano em toda a sua riqueza e plenitude. É admitir a estrutura relacional da pessoa humana e que só na relação e na comunhão (no ser para o outro) esta se realiza plenamente.
Essa comunhão constrói-se a partir da diferença. A mais básica e fundamental, que é a de sexos, não é um obstáculo à comunhão, não é uma fonte de oposição e conflito, mas uma ocasião de enriquecimento recíproco. O homem e a mulher são chamados à comunhão porque só ela os completa e permite a continuação da espécie, através da geração de novas vidas. Faz parte da maravilha do desígnio da criação. Não é, como tal, algo a corrigir ou contrariar.
A sociedade edifica-se a partir desta colaboração entre as dimensões masculina e feminina. Em primeiro lugar, na sua célula básica, a família. É esta quem garante a renovação da sociedade através da geração de novas vidas e assegura o equilíbrio harmonioso e complexo da educação das novas gerações. Por isso, nunca um ou mais pais podem substituir uma mãe, e nunca uma ou mais mães podem substituir um pai.
            7. Complementaridade do masculino e do feminino
É um facto que algumas visões do masculino e feminino têm servido, ao longo da história, para consolidar divisões de tarefas rígidas e estereotipadas que limitaram a realização da mulher, relegada a um papel doméstico e circunscrita na intervenção social, econômica, cultural e política. Mas, na visão bíblica, o domínio do homem sobre a mulher não faz parte do original desígnio divino: é uma consequência do pecado. Esse domínio indica perturbação e perda da estabilidade da igualdade fundamental, entre o homem e a mulher. O que vem em desfavor da mulher, porquanto somente a igualdade, resultante da comum dignidade, pode dar às relações recíprocas o carácter de uma autêntica communio personarum (comunhão de pessoas).
A ideologia do gênero não se limita a denunciar tais injustiças, mas pretende eliminá-las negando a especificidade feminina. Isso empobrece a mulher, que perde a sua identidade, e enfraquece a sociedade, privada dum contributo precioso e insubstituível, como é a feminilidade e a maternidade. Aliás, a nossa época reconhece – e bem! – a importância da presença equilibrada de homens e mulheres nos vários âmbitos da vida social, designadamente nos centros de decisão econômica e política. Mesmo que essa presença não tenha de ser rigidamente paritária, a sociedade só tem a ganhar com o contributo complementar das específicas sensibilidades masculina e feminina.
            8. O “gênio feminino”
Nesta perspetiva, há que pôr em relevo aquilo que o Papa João Paulo II denominou “gênio feminino”. Não se trata de algo que se exprima apenas na relação esponsal ou maternal, específicas do matrimônio, como pretenderia uma certo romantismo. Mas estende-se ao conjunto das relações interpessoais e refere-se a todas as mulheres, casadas ou solteiras. Passa pela vocação à maternidade, sem que esta se esgote na biológica. Nesta, entretanto, comprova-se uma especial sensibilidade da mulher à vida, patente no seu desvelo na fase de maior vulnerabilidade e na sua capacidade de atenção e cuidado nas relações interpessoais.
A maternidade não é um peso de que a mulher necessite de se libertar. O que se exige é que toda a organização social apoie e não dificulte a concretização dessa vocação, através da qual a mulher encontra a sua plena realização. É de reclamar, em especial, que a inserção da mulher numa organização laboral, concebida em função dos homens, não se faça à custa da concretização dessa vocação, e se adotem todos os ajustamentos necessários.
            9. O papel insubstituível do pai
Não pode, de igual modo, ignorar-se que o homem tem um contributo específico e insubstituível a dar à vida familiar e social, cumprindo a sua vocação à paternidade, que não é só biológica, assumindo a missão que só o pai pode desempenhar cabalmente. Talvez o âmbito em que mais se nota a ausência desse contributo seja o da educação, o que já levou a que se fale do pai como o “grande ausente”. Isto pode originar sérias consequências, tais como desorientação existencial dos jovens, toxicodependência ou delinquência juvenil. Se a relação com a mãe é essencial nos primeiros anos de vida, é também essencial a relação com o pai, para que a criança e o jovem se diferenciem da mãe e assim cresçam como pessoas autônomas. Não bastam os afetos para crescer: são necessárias regras e autoridade, o que é acentuado pelo papel do pai.
 
Num contexto em que se discute a legalização da adoção por pares do mesmo sexo, não é supérfluo sublinhar a importância dos papéis da mãe e do pai na educação das crianças e dos jovens: são papéis insubstituíveis e complementares.Cada uma destas figuras ajuda a criança e o jovem a construir a sua própria identidade masculina ou feminina. Mas também, e porque nem o masculino nem o feminino esgotam toda a riqueza do humano, a presença dessas duas figuras ajudam-nos a descobrir toda essa riqueza, ultrapassando os limites de cada um dos sexos. Uma criança desenvolve‑se e prospera na interação conjunta da mãe e do pai, como parece óbvio e estudos científicos comprovam.
            10. A resposta à afirmação e difusão da ideologia do gênero
            A ideologia do gênero não só contrasta com a visão bíblica e cristã, mas também com a verdade da pessoa e da sua vocação. Prejudica a realização pessoal e, a médio prazo, defrauda a sociedade. Não exprime a verdade da pessoa, mas distorce-a ideologicamente.As alterações legislativas que refletem a mentalidade da ideologia do gênero -concretamente, a lei que, entre nós, redefiniu o casamento – não são irreversíveis. E os cidadãos e legisladores que partilhem uma visão mais consentânea com o ser e a dignidade da pessoa e da família são chamados a fazer o que está ao seu alcance para as revogar.
Se viermos a assistir à utilização do sistema de ensino para a afirmação e difusão dessa ideologia, é bom ter presente o primado dos direitos dos pais e mães quanto à orientação da educação dos seus filhos. O artigo 26º, nº 3, da Declaração Universal dos Direitos Humanos estatui que «aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o vénero de educação dos seus filhos». E o artigo 43º, nº 2, da nossa Constituição estabelece que «o Estado não pode atribuir-se o direito de programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas».
De qualquer modo, a resposta mais eficaz às afirmações e difusão da ideologia do gênero há de resultar de uma nova evangelização. Trata-se de anunciar o Evangelho como este é: boa nova da vida, do amor humano, do matrimônio e da família, o que corresponde às exigências mais profundas e autênticas de toda a pessoa. A esse anúncio são chamadas, em especial, as famílias cristãs, antes de mais, mediante o seu testemunho de vida.
  Fátima, 14 de novembro de 2013