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Adoção para o nascimento
Ciência & Vida: uma possibilidade de viver para os embriões criopreservados
ROMA, quarta-feira, 28 de novembro de 2012 (ZENIT.org) – “Em termos de adoção de embriões para o nascimento, estes dois dias de trabalho representam um ponto de partida importante para a reflexão sobre um tema que é impossível de ignorar”, afirma Lucio Romano, presidente italiano da Associação Ciência & Vida, depois do X Congresso Nacional da entidade, realizado neste sábado, 24.
“A adoção para o nascimento é um tema de relevância particular e de inquestionável peso ético, jurídico e legislativo, e gostaríamos de evitar falar dele de forma conflitiva. Queremos uma dialética inclusiva, e não exclusiva, no pleno reconhecimento da dignidade da vida humana já em sua fase inicial de embrião”, afirma Romano.
O segundo dia do congresso foi dedicado ao biodireito, com juristas discutindo atualidade e perspectivas da adoção de embriões para o nascimento.
Ferrando Mantovani, professor emérito de Direito Penal da Universidade de Florença, diz que “a criopreservação é uma anomalia, uma desumanidade e uma monstruosidade. É fato, no entanto, que a criopreservação é praticada. Diante disso, a escolha é deixar o embrião morrer com o tempo ou agir para que ele seja adotado para a vida, que ele possa viver a sua vida no ventre acolhedor de uma mãe e depois ser uma criança e um adulto normal”.
Andrea Nicolussi, professor de Direito Civil na Universidade Católica de Milão, observa que “a lei não proíbe a adoção de embriões. Eu diria até que o espírito da lei é a favor, porque uma criopreservação por tempo indeterminado não respeita o princípio da dignidade humana . Além disso, a adoção do embrião poderia ser vista como uma boa alternativa para a fertilização heteróloga, justamente proibida por lei porque é uma simulação da filiação natural e introduz uma parentalidade assimétrica no casal. Na verdade, ela cria artificialmente em um dos esposos uma paternidade apenas legal, dissociada da biológica, e uma paternidade biológica e também legal no outro cônjuge, com problemas evidentes tanto nas relações do casal quanto nas relações de paternidade. Já a adoção de embriões une o casal na solidariedade para com o embrião concebido e abandonado, oferecendo a ele uma chance de vida e uma família”.
Luciano Eusebi, professor de Direito Penal da Universidade Católica de Milão e membro do Conselho Nacional Ciência & Vida na Itália, destaca que “a geração de embriões não pode ser considerada liberada. Temos os princípios da Lei 40/2004, que, por um lado, tenta favorecer a qualidade das técnicas mais que o agir através da multiplicação dos embriões envolvidos, e, por outro, pretende que cada embrião gerado tenha a possibilidade da vida. Com a exigência de evitar tanto quanto possível a geração de embriões que não sejam imediatamente transferidos, há a necessidade de assegurar, hoje, que estes embriões sejam criopreservados de fato, evitando que eles simplesmente se deteriorem, perdendo qualquer vínculo com a sua geração”.
A ratio moral entre o congelamento e o subsequente descongelamento de embriões é a perspectiva de que o embrião gerado in vitro, mas não imediatamente transferido para o útero, possa, no futuro, dar prosseguimento à sua existência. O único destino de acordo com a sua dignidade precisa torna possível o desenrolar da sua vida através da disponibilidade para adoção.
(Trad.ZENIT)
Gaudium et spes: iter do texto e interpretação (Parte III)
Mons. Vitaliano explica a Gaudium et Spes
Por Mons. Vitaliano Mattioli*
CRATO, quarta-feira, 28 de novembro de 2012 (ZENIT.org) – Hoje falaremos sobre a interpretação geral do texto.
Só uma palavra sobre a caraterística do documento. A Gaudium et Spes é uma Constituição Pastoral. Nesta, a Igreja entra em diálogo e comunhão ativa com o mundo, ressoando, de modo especial, no “aggiornamento” (atualização) e nos sinais dos tempos. Ela não é apenas sinal da salvação de Deus para o mundo, mas faz acontecer a salvação do mundo na história humana.
São evidenciados dois objetivos: o doutrinal, por ser uma Constituição, e o pastoral, por ser uma Constituição Pastoral. O pastoral indica, não a ausência de doutrina, mas um estilo de relação entre a Igreja e o mundo e uma linguagem dos ensinamentos conciliares.
Não há oposição nenhuma entre o doutrinal e o pastoral, pois este é uma dimensão intrínseca da natureza doutrinal do Magistério. Esta é a recomendação que o Sínodo extraordinário de 1985 nos oferece no texto Final- Ecclesia sub verbo Dei: “ Não é permitido separar a dimensão pastoral do vigor doutrinal dos documentos. O Concílio deve ser compreendido em continuidade com a grande tradição da Igreja… A Igreja é sempre a mesma em todos os Concílios (n. 5), deve ser evitada e superada aquela falsa oposição entre a dimensão doutrinal e pastoral. De fato , o verdadeiro fim da pastoral consiste na atualização e concretização da verdade da salvação, válida por todos os tempos (B1). Nunca deve-se esquecer que a pastoralidade é uma dimensão intrínseca à natureza doutrinal do Magistério”.
O Vaticano II, enquanto concílio que se auto-qualificou como “pastoral”, esteve privado de um carácter Doutrinal “definitório”. Mas não se pode naturalmente deduzir que esteja privado de doutrina própria.
Na homilía de conclução do Concílio (7 de dezembro de 1965), Paulo VI explicou este ponto: “Convém notar uma coisa: o magistério da Igreja, embora não tenha querido pronunciar-se com sentenças dogmáticas extraordinárias sobre nenhum capítulo doutrinal, propôs, todavia, o seu ensinamento autorizado acerca de muitas questões que hoje comprometem a consciência e a atividade do homem. Por assim dizer, a Igreja abaixou o diálogo com o homem conservando sempre a sua autoridade e a sua virtude, adaptou a maneira de fala acessível e amiga que é própria da caridade pastoral”.
Já o Proêmio demonstra que a exposição doutrinal, da primeira parte, se conecta com a índole pastoral da segunda parte, como esclarece a nota 1(§ 3) “A Constituição Pastoral – A Igreja no mundo de hoje’, formada por duas partes, constitui um todo unitário. É chamada ‘pastoral’, porque, apoiando-se em princípios doutrinais, pretende expôr as relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje”.
É por isso que a maioria dos teólogos são unânimes em considerar que a Gaudium et Spes representa a expressão particularmente significativa de uma atitude da Igreja, a partir do Vaticano II, em relação com o mundo contemporâneo. A categoria do diálogo fornece a chave para a elaboração e para a compreensão do texto. Como tal, a GS é considerada a “magna carta” do diálogo entre a Igreja e o mundo.
O Santo Padre Bento XVI no dia 10 de outubro deste ano, disse que as quatro Constituições conciliares devem ser consideradas como uma espécie de “quatro pontos cardeais da bússola que podem nos orientar”.
Se Cristo vivesse hoje, seria a favor da ciência pelo bem comum
Prêmio Nobel Werner Arber: “organismos transgênicos seguem as leis naturais da evolução biológica e não trazem riscos associados à metodologia da engenharia genética”
Antonio Gaspari
CIDADE DO VATICANO, sábado, 20 de outubro de 2012 (ZENIT.org) – “Se Jesus Cristo vivesse entre nós hoje, ele seria a favor de um sólido conhecimento científico para o bem da humanidade e do seu ambiente natural no longo prazo”.
A afirmação, feita no Sínodo dos Bispos que está acontecendo em Roma, é de Werner Arber, professor de Microbiologia no Biozentrum da Universidade de Basileia e presidente da Pontifícia Academia de Ciências. Juntamente com os pesquisadores norte-americanos Hamilton Smith e Daniel Nathans, Werner Arber recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1978.
Durante o relatório “Reflexão sobre a relação entre ciência e fé religiosa”, o presidente da Pontifícia Academia de Ciências explicou que, “se por um lado a ciência ainda não conseguiu encontrar respostas pertinentes para todas as questões levantadas, especialmente para as questões que transcendem a esfera natural, por outro lado as diversas crenças, incluindo aquelas que têm as suas raízes na religião, desempenham o seu papel no responder a estas perguntas sobre o sentido”.
De acordo com o prof. Arber, as religiões são uma parte essencial do saber orientativo, que serve como fundamento para guiar as atividades humanas. É claro que, na sociedade cristã, importantes regras de conduta foram divulgadas por Jesus Cristo através da sua vida e, desde então, têm sido amplamente seguidas pelos cristãos.
“No entanto”, disse o acadêmico, “é uma tarefa importante para a sociedade de hoje atualizar o conjunto de regras estabelecidas, prestando particular atenção ao nosso conhecimento científico adquirido”.
Neste contexto, o prof. Arber quis indicar um exemplo particular. “Graças aos avanços recentes em genômica, metabolômica e protômica, tornou-se possível direcionar a evolução biológica ao escopo de melhor atender às nossas necessidades de uma alimentação saudável, como contribuição para melhorias importantes no campo da medicina”.
A Pontifícia Academia de Ciências dedicou uma semana de estudo em maio de 2009 a este mesmo assunto, com foco nas plantas transgênicas para a segurança alimentar no contexto do desenvolvimento.
O prêmio Nobel suíço destacou que “a nossa Academia concluiu que os métodos recentemente adotados na elaboração de organismos transgênicos seguem as leis naturais da evolução biológica e não trazem nenhum risco associado à metodologia da engenharia genética”.
O presidente da Pontifícia Academia de Ciências concluiu que os métodos utilizados nas plantas transgênicas são semelhantes às estratégias naturais para a geração espontânea de variantes genéticas em evolução biológica e que “as perspectivas benéficas para melhorar a produção das culturas alimentares mais amplamente consumidas poderia aliviar a desnutrição e a fome que ainda existem no seio das populações dos países em desenvolvimento”.
[Trad.ZENIT]
Espanha: três mil profissionais pedem mudança na legislação sobre reprodução humana assistida
Sentença europeia que proíbe patentear pesquisas com células-tronco embrionárias completa um ano
MADRI, sexta-feira, 19 de outubro de 2012 (ZENIT.org) – Fez um ano ontem, 18, que o Tribunal de Justiça da União Europeia ditou a sua sentença sobre o caso Brüstle versus Greenpeace, para resolver uma questão levantada pelo Tribunal Supremo da Alemanha sobre a possibilidade ou não de se patentearem procedimentos com células progenitoras neuronais obtidas a partir de células-tronco embrionárias.
A sentença proibiu, sem deixar dúvidas, a possibilidade de se registrar em toda a Europa qualquer patente que seja fruto de pesquisas nas quais tenham ocorrido a manipulação e a destruição de embriões humanos, assim como a sua utilização para fins comerciais e industriais. O tribunal se fundamenta na legislação europeia sobre patentes, que impede o patenteamento do corpo humano em qualquer etapa do seu desenvolvimento, e no respeito à dignidade humana desde a fecundação.
A sentença europeia contradiz diretamente a legislação espanhola sobre a reprodução humana assistida e sobre a pesquisa biomédica, já que a Espanha permite a seleção e a destruição de embriões, assim como a sua manipulação e inclusive a clonagem. “É paradoxal que, nesta época de corte de verbas, a Espanha continue financiando projetos de pesquisa com células-tronco embrionárias que descumprem a legislação europeia, têm um custo alto e, depois de dez anos, não deram nenhum resultado terapêutico”, afirma Teresa García-Noblejas, secretária geral da Associação Profissionais pela Ética.
Por esse motivo, informa a associação, mais de três mil cientistas, pesquisadores e professores universitários, e cerca de vinte associações e entidades como os Profissionais pela Ética, a CiViCa e a Associação de Bioética de Madri, assinaram um manifesto que, baseando-se na sentença do Tribunal da União Europeia, solicita do governo espanhol uma mudança radical na legislação do país, bem como o fim da destruição de embriões humanos e o cancelamento da aplicação de recursos públicos em projetos que os manipulem ou destruam.
“Em vez disto”, explica García-Noblejas, “pedimos que suficientes recursos econômicos sejam empregados em projetos que usem células-tronco adultas e células IP, que estão rendendo notáveis e numerosos casos de sucesso. A entrega do Prêmio Nobel de Medicina ao japonês Shinya Yamanaka, considerado o pai das células IP (células-tronco pluripotenciais obtidas a partir de células adultas), respaldou esta linha de pesquisa”.
Entre os mais de três mil assinantes do manifesto, encontram-se cientistas renomados no país, como Nicolás Jouve dela Barreda, César Nombela, Mónica López Barahona, pesquisadores como Celia Sánchez Ramos, Mireya Santos, Gerardo Martínez Albillos, Maria Consuelo Soler e Josep M. Tomé Cubiró. Entre os médicos, José Antonio Usandizaga, José Jara, Adolfo Sequeiros e Antonio García García. Juntamente com eles, professores universitários de diversas disciplinas, como José Miguel Serrano Ruiz-Calderón, Ignacio Sánchez Cámara, Antonio Barcelona e Daniel Turbón.
O manifesto, com a sua lista de assinaturas, será apresentado dentro em breve à ministra espanhola da Saúde, Ana Mato, solicitando que a legislação do país e os campos de pesquisa sejam adaptados à normativa europeia.
Para saber mais sobre esta iniciativa: www.
(Trad.ZENIT)
Prêmio Nobel de Medicina 2012
Japonês iniciou uma linha nova e promissora, em que não há necessidade de destruir embriões humanos
MADRI, sábado, 13 de outubro de 2012 (ZENIT.org) – Dois cientistas de alto nível, um do Reino Unido e outro do Japão, receberam conjuntamente o Prêmio Nobel de Medicina 2012. O britânico focou suas pesquisas nas células-tronco embrionárias e na clonagem, enquanto o japonês iniciou uma linha nova e promissora, em que não há necessidade de destruir embriões humanos.
O médico japonês Shinya Yamanaka, 50 anos, é considerado o pai das chamadas células-tronco pluripotentes induzidas (iPS), que possuem a capacidade de se transformar em qualquer tipo celular.
Especialista em cirurgia ortopédica, Yamanaka conseguiu em 2006 gerar as células-tronco pluripotentes induzidas com características que, até então, os pesquisadores acreditavam que só existiam nas células-tronco embrionárias.
Seus primeiros resultados positivos foram obtidos a partir de células adultas da pele de ratos. Em 2007, ele conseguiu gerar com sucesso células iPS também a partir de células da pele humana. A descoberta, uma verdadeira revolução, superou o uso das células-tronco embrionárias, cuja obtenção levanta problemas éticos e implica grandes dificuldades.
Atualmente, Yamanaka é diretor do Centro de Pesquisas e Aplicação de Células iPS da Universidade de Kioto, onde realiza o seu trabalho com o objetivo “de contribuir com o desenvolvimento da medicina regenerativa”, segundo suas próprias afirmações.
Durante uma visita à Espanha no ano passado, para receber o prêmio Fundação BBVA Fronteiras do Conhecimento em Biomedicina, Yamanaka confessou que foi levado a procurar a alternativa de criar células iPS graças ao nascimento e crescimento de suas filhas, que lhe recordavam que “qualquer óvulo fecundado pode se desenvolver e se tornar um ser humano”.
Yamanaka considera que a pesquisa das células iPS ainda está dando os passos iniciais, já que é preciso constatar se elas são de fato seguras e eliminar os riscos antes da sua aplicação clínica.
Em várias ocasiões, o cientista japonês criticou as patentes que restringem o uso das novas tecnologias em medicina e defendeu que elas devem ser acessíveis também às pessoas com menos recursos.
(Trad.ZENIT)
O Concílio Vaticano II foi realmente profético (Parte 2)
Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero concede entrevista exclusiva
ROMA, terça-feira, 09 de outubro de 2012(ZENIT.org)– Apresentamos a parte 2 da entrevista exclusiva concedida à ZENIT pelo Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero, em vista do 50° aniversario da abertura do Concilio Vaticano II.
ZENIT: Sabe-se que Vossa Eminência sempre falou com grande entusiasmo do Concílio Vaticano II. O que ele representou para Vossa Eminência?
Card.Piacenza: Como não se entusiasmar com um evento tão extraordinário como um Concílio Ecumênico! Nele, a Igreja refulge em toda a sua beleza: Pedro e todos os Bispos em comunhão com ele, colocam-se em atitude de escuta do Espírito Santo, daquilo que Deus tem a dizer à Sua Esposa, procurando explicitar – segundo os auspícios do Beato João XXIII – no hoje da história, as imutáveis verdades reveladas e lendo os sinais de Deus nos sinais dos tempos, e os sinais dos tempos à luz de Deus! Dizia o mesmo Pontífice na solene alocução de abertura do Concílio, no dia 11 de outubro de 1962: “Transmitir pura e íntegra a doutrina, sem atenuações nem subterfúgios […] esta doutrina certa e imutável, que deve ser fielmente respeitada, seja aprofundada e exposta de forma a responder às exigências do nosso tempo”.
Nos anos do Concílio eu era um jovem estudante, depois, seminarista e o meu ministério sacerdotal, desde os primeiros passos desenvolveu-se à luz do Concílio e das suas reformas. De fato, fui ordenado sacerdote em 1969. Não posso negar que sou filho do Concílio que, também graças aos meus mestres, procurei acolher, desde o início, as indicações conciliares segundo a hermenêutica da unidade e continuidade. Esta reforma na continuidade pessoalmente sempre a senti, vivi e, também como docente, ensinei.
ZENIT: Como Prefeito da Congregação para o Clero, acredita que os Sacerdotes receberam bem o Concílio?
Card.Piacenza: Certamente, como porção eleita do Povo de Deus, os sacerdotes são aqueles que, na Igreja, melhor conhecem e mais aprofundaram os ensinamentos conciliares. Entretanto, parece-me que não faltaram as mesmas problemáticas que antes evidenciei, seja em relação a uma justa hermenêutica da reforma na continuidade, seja no que diz respeito à devida aproximação não predominantemente emotiva ao evento conciliar. Se, neste Ano da Fé, todos tivéssemos a humildade e a boa vontade de tomar em mãos os textos do Concílio, naquilo que realmente disseram e não na “vulgata”, que teve uma certa propagação, descobriríamos como o Concílio Vaticano II foi realmente profético e muitas das suas indicações estejam ainda diante de nós, como um horizonte a ser contemplado e uma meta a ser alcançada, com a ajuda da Graça. Certamente, para que tal obra se realize, é necessária uma grande dose de humildade e uma certa capacidade de superação de um juízo pré-constituído, para que se possa acolher de novo uma verdade que, por muito tempo, foi concebida de modo diverso.
ZENIT: Sobre quais pontos poder-se-ia focalizar a recepção dos documentos conciliares?
Card.Piacenza: Evidenciaria um ponto de particular tensão, que representa a reforma litúrgica, mesmo porque constitui o elemento de maior visibilidade da Igreja. O Servo de Deus Paulo VI, o Beato João Paulo II e o Santo Padre Bento XVI, em vários momentos sublinharam a importância da liturgia como lugar no qual se realiza plenamente o ser da Igreja. Mas infelizmente, como se pode notar em vários casos, que ainda estamos longe de um equilíbrio mútuo a este respeito.
Certamente, uma liturgia dessacralizada ou reduzida a “representação humana”, em que se desvanece até ao ponto de perder a dimensão cristológica e teológica, não é aquilo que a letra e o espírito da Sacrosantum Concilium desejava. Entretanto, isto não justifica o posicionamento daqueles que, adotando a hermenêutica da descontinuidade, recusam a reforma conciliar, considerando-a como uma “traição” da “verdadeira Igreja”.
ZENIT: Existem inovações mais importantes que as litúrgicas?
Card.Piacenza:Vista a centralidade da Liturgia, “fonte e centro” da vida da Igreja (cf. SC,10), não falaria de maior importância. Certamente o Concílio procurou valorizar as verdades evangélicas, que hoje representam um patrimônio comum da catolicidade. Em tal sentido, bastaria pensar a feliz evidência que se dá à vocação universal à santidade de todos os batizados, que favoreceu o nascimento e o desenvolvimento de tantas novas experiências. Além disto, é preciso recordar a abertura em relação aos cristãos de outras confissões, que fez emergir o valor da unidade, com toda a sua beleza, como um necessário atributo da Igreja e como um dom gratuitamente oferecido por Cristo. Este dom deve ser acolhido sempre, através de uma purificação contínua dos que a Ele pertencem. A importância da colegialidade episcopal, que está entre as expressões mais eficazes da comunhão eclesial e mostra ao mundo como a Igreja é necessariamente um corpo unido. A compreensão orgânica do Ministério Ordenado, a serviço do sacerdócio batismal, que concebe presbíteros e diáconos intimamente unidos ao próprio Bispo, como expressão de uma comunhão sacramental no serviço à Igreja e aos homens, representou um objetivo e feliz desenvolvimento da compreensão da face da Igreja tal como Nosso Senhor quis delinear.
ZENIT:Eminência, neste momento a Igreja dedica-se ao Sínodo sobre a nova Evangelização e o Ano da Fé. Se tivesse que dizer uma palavra sintética aos sacerdotes, o que diria?
Card.Piacenza:À luz da fé: Sacerdote, torne-se a cada dia aquilo que és!
O Concílio Vaticano II foi realmente profético (Parte 1)
Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero concede entrevista exclusiva
Por Antonio Gaspari
ROMA, segunda-feira, 08 de outubro de 2012(ZENIT.org)– Publicamos a seguir entrevista exclusiva concedida à ZENIT pelo Cardeal Mauro Piacenza, Prefeito da Congregação para o Clero, em vista do 50° aniversario da abertura do Concilio Vaticano II.
ZENIT: Eminência, com esta entrevista a Zenit pretende inaugurar uma série de contribuições para o Ano da Fé, tendo em vista o Concílio Vaticano II, em ocasião do seu 50º aniversário. Por que tanto debate sobre este evento eclesial?
Card.Piacenza:O debate é sempre positivo, porque é um sinal de vitalidade e vontade de aprofundar; e se o tema do debate não é exclusivamente humano, mas um Concílio Ecumênico, ou seja, um evento humano e sobrenatural, pois é o Espírito Santo que conduz a Igreja à progressiva e plena compreensão da única Verdade revelada, então não surpreende que a compreensão dos ditames conciliares requeiram décadas de discussões – e até mesmo de debates – sempre no sulco da escuta daquilo que o Espírito Santo quis dizer à Igreja naquele extraordinário momento.
ZENIT: Qual deveria ser um justo posicionamento diante do Concílio?
Card.Piacenza: Aquele de escuta! O Concílio Ecumênico Vaticano II foi o primeiro Concílio da “mídia”, cujas dinâmicas fisiológicas de confronto e respectivos textos foram imediatamente divulgados pelos meios de comunicação, que não captou sempre a sua verdadeira expressão e, com frequência, orientou para uma compreensão mundanizante. Creio que seja particularmente interessante – e, talvez, necessário – retomar, ou melhor, buscar uma autêntica escuta daquilo que o Espírito Santo quis dizer à toda a Igreja através dos Padres conciliares. Tal dinâmica de aprofundamento, este “justo posicionamento” realiza-se através da leitura direta dos textos. É a partir desta leitura que se pode inferir o autêntico espírito do Concílio, a sua exata localização dentro da história eclesial e a gênese editorial.
ZENIT: Algumas escolhas, também do Magistério, às vezes parecem que vão “contra” o Concílio.
Card.Piacenza:Basta considerar os pronunciamentos do Magistério autêntico pós-Conciliar, em sua dimensão universal, para constatar que isto não ocorreu. Entretanto, outra questão é favorecer uma correta recepção das decisões conciliares, esclarecer o significado de determinadas afirmações e, às vezes, corrigir devidamente interpretações unilaterais, ou até mesmo erradas, artificialmente introduzidas por quem lê os eventos pneumáticos eclesiais com lentes exclusivamente humanas e historicistas. O serviço eclesial do Magistério, que tem suas próprias raízes na explícita Vontade divina, prepara os Concílios Ecumênicos, neles atua com sua máxima expressão e, nas intervenções sucessivas, a eles obedecem, favorecendo uma correta recepção.
ZENIT: O que realmente significa a “hermenêutica da continuidade” de que fala o Santo Padre?
Card.Piacenza: Segundo aquilo que foi explicitamente indicado pelo Santo Padre, é o único modo de ler e de interpretar todo Concílio Ecumênico e, portanto, também o Concílio Vaticano II. A continuidade do único Corpo eclesial, antes de ser um critério hermenêutico, ou seja, de interpretação dos textos, é uma realidade teológica que tem suas raízes no ato de fé que nos faz professar: “Creio na Igreja Una”. Por esta razão não é possível pensar numa espécie de dicotomia entre o pré e o pós Concílio Vaticano II. Certamente deve ser reprovado o posicionamento de quem vê no Concílio Ecumênico Vaticano II um “novo início” da Igreja e também daqueles que vêem a “verdadeira Igreja” somente antes deste Concílio histórico. Ninguém pode, arbitrariamente, decidir se e quando inicia a “verdadeira Igreja”. Nascida do costado de Cristo e corroborada pela efusão do Espírito em Pentecostes, a Igreja é Una e Única, até a consumação da história, e a comunhão que nela se realiza é para a eternidade.
Alguns sustentam que a hermenêutica da reforma na continuidade seja somente uma das possíveis hermenêuticas, juntamente com aquela da descontinuidade e da ruptura. O Santo Padre recentemente definiu como inaceitável a hermenêutica da descontinuidade (Audiência à Assembléia Geral da Conferência Episcopal Italiana, 24 de maio de 2012). Além disso, trata-se de algo óbvio, caso contrário não se seria católicos e se injetaria como que um germe de infecção e de uma progressiva decadência; se provocaria, igualmente, um grave dano ao ecumenismo.
ZENIT: Mas é possível que seja tão difícil compreender esta realidade?
Card.Piacenza: Sabes melhor do que como a compreensão, também de realidades evidentes, possa ser condicionada por aspectos emotivos, biográficos, culturais e, até mesmo, ideológicos. É humanamente compreensível que quem viveu durante sua juventude, o legítimo entusiasmo que gerou o Concílio, desejoso de superar certas “obstruções” – que deveriam necessária e urgentemente serem tiradas da Igreja – possa interpretar como perigo de “traição” do Concílio toda expressão que não coadune com o mesmo “estado emotivo”. É necessário, para todos, um salto radical de qualidade na aproximação dos textos conciliares, para que se compreenda, depois de meio século daquele evento extraordinário, o que realmente o Espírito Santo sugeriu e sugere à Igreja. Cristalizar o Concílio na sua necessária, mas insuficiente, “dimensão entusiástica” equivale a não desenvolver um bom serviço ao trabalho de recepção do Concílio, que permanece quase paralisada, pois com o passar dos anos pode-se afrontar e se podem compartilhar avaliações sobre os textos objetivos, mas não sobre os estados emotivos e sobre os entusiasmos historicamente assinalados.
Bento XVI concede Indulgência plenária por ocasião do Ano da Fé
Da Redação, Rádio Vaticano
– toda vez que visitarem em forma de peregrinação uma Basílica Papal, um catacumba cristã, uma Igreja Catedral, um local sagrado designado pelo Ordinário do lugar para o Ano da Fé, e ali participarem de alguma função sagrada ou se detiverem para um tempo de recolhimento, concluindo com a oração do Pai-Nosso, o Credo, as invocações a Nossa Senhora e, de acordo com o caso, aos Santos Apóstolos ou Padroeiros;
– toda vez, nos dias determinados pelo Ordinário do lugar para o Ano da Fé, em algum local sagrado participarem de uma solene celebração eucarística ou da Liturgia das Horas, acrescentando a Profissão de Fé em qualquer forma legítima;
– um dia livremente escolhido, durante o Ano da Fé, para a visita do batistério ou de outro lugar no qual receberam o sacramento do Batismo, se renovarem as promessas batismais em qualquer fórmula legítima.
Aos idosos, doentes e a todos os que por motivos legítimos não puderem sair de casa, concede-se de igual modo a Indulgência plenária nas condições de costume. Isso se unidos com o espírito e com o pensamento aos fiéis presentes, especialmente nos momentos em que as palavras do Pontífice ou dos Bispos Diocesanos forem transmitidas pela televisão ou pelo rádio, recitarem na própria casa ou onde estiverem o Pai-Nosso, o Credo e outras orações conformes as finalidades do Ano da Fé, oferecendo seus sofrimentos ou as dificuldades da própria vida.
Invocar o Anjo da Guarda para combater as insídias de Satanás (Parte I)
Devemos ser-lhe eternamente grato pelo serviço que desempenha junto a nós
Por Peter Barbini
ROMA, terça-feira, 2 de outubro de 2012 (ZENIT.org) – A memória dos Santos Anjos da Guarda se celebra hoje, dia 2 de outubro, desde 1670, data estabelecida pelo Papa Clemente X. O culto dos anjos é antiga tradição que a Igreja herdou do judaísmo.
Os anjos, de fato, são uma presença constante e fundamental na “história da salvação”: é justamente por meio deles que muitas vezes JHWH obra e envia mensagens ao povo de israel; assim acontece no sonho de Jacó, relativo à escada da qual subiam e desciam os anjos, e quando, o mesmo Jacó, lutou contra um anjo, permanecendo ferido no quadril; é um anjo que segura a mão de Abrão que estava para sacrificar o filho.
No livro do Êxodo, no entanto, narra-se que, ao atravessar o Mar Vermelho um anjo protegia os israelitas dos egípcios, o mesmo anjo os guiará depois no deserto. Lembra-se também os anjos enviados pelo Senhor para salvar Ananias, Azarias e Misael, trancados em uma fornalha ardente pelo rei Nabucodonosor.
A mesma vinda do Salvador é anunciada ao povo de Israel por meio de um anjo, que a tradição associa ao Arcanjo Gabriel. Estes últimos são somente alguns exemplos da vivíssima presença dos anjos no Pentateuco. Outros também se encontram no Novo Testamento, como também na vida de muitos santos e beatos.
Os hebreus, sempre muito atentos à “palavra de JHWH”, por meio de um meticuloso estudo da Torá, como só os rabinos o sabem fazer, conseguiram extrair até 72 nomes de anjos (vejahttp://www.angelologia.
Houve um tempo, no entanto, em que a Igreja venerava os assim chamados “7 anjos planetários”, também chamados de “os sete governantes do mundo” e “os sete Tronos”, os seus nomes apareciam até mesmo nos missais utilizados na época nas “Vésperas dos sete”.
Esses anjos, considerados arcanjos, subdividiam-se em maiores (Miguel, Gabriel e Rafael), encabeçando hierarquias criativas, e em menores (Uriel, Scaltiel, Jehudiel, Barchiel), também chamados de os “Regentes da Terra”, aqueles que governavam os quatro elementos (Fogo, Ar, Água, Terra).
Esta tradição, mantida por vários séculos, teve origem na revelação feita pelo Arcanjo Rafael a Tobias, o qual apresentou-se ao profeta como “um dos Sete Anjos que estão sempre prontos para entrar na presença da majestade do Senhor”.
Por volta da segunda metade do século XVII, depois de muitas disputas, os nomes foram excluídos dos missais, sob a alegação de que o Arcanjo Rafael não revelou nenhum outro nome fora do seu. No entanto, a existência dos anjos é considerada um artigo de fé da Igreja Católica, manifestado explicitamente no símbolo Niceno-Constantinopolitano, “Creio em um só Deus, Pai todo-poderoso, criador do céu e da terra, de todas as coisas visíveis e invisíveis”.
Da criação dos anjos, então, fala-se em ambos os Testamentos, no Novo e no Antigo. Ao longo da história os anjos têm sido objeto de inúmeras considerações teológicas por parte dos Padres e Doutores da Igreja, teólogos e exegetas, entre os quais Hilário de Poitiers, Jerônimo, Agostinho, Cassiano, Boaventura, Bernardo Abade, Cirilo de Jerusalém e Tomás de Aquino.
No catecismo de São Pio X o tema é abordado com especial cuidado e uma clareza única. Os anjos, em essência, são seres imortais e espirituais, com uma inteligência e uma vontade superior à nossa; eles vivem num estado de felicidade perpétua, cujo objetivo principal é a adoração de “Deus em torno de seu trono”, a partir do qual são iluminados.
Eles também são chamados de “príncipes da Corte celestial” e “embaixadores da vontade de Deus” e operam de forma invisível entre os homens. O pseudo-Dionísio, o Areopagita, afirma no De celesti hierarchia que os anjos são divididos em três hierarquias, cada uma das quais está dividida em três coros, que, por sua vez, se distinguem entre si pelas suas tarefas, cores, asas e outros sinais distintivos.
Nesta subdivisão estão também os Anjos da Guarda (que se diz serem comandados pelo Arcanjo Rafael), explicitamente mencionado no Salmo 90, que têm a tarefa de guiar e proteger a pessoa a ele confiada. Cada cristão, de fato, tem o seu anjo da guarda, que o protegerá ao longo de toda a sua vida terrena, do nascimento à morte.
O Anjo da Guarda também tem a tarefa de oferecer a Deus as nossas orações, apoiar-nos e proteger-nos dos ataques do diabo, que tenta de qualquer forma fazer-nos o mal e “sujar” a nossa alma para impedir-nos de alcançar a vida eterna. Ele, basicamente, tem uma função salvífica para a nossa alma.
É por isso que muitos papas (de todos deve ser lembrado o Papa João XXIII) revelaram a sua profunda devoção pelo anjo da guarda, sugerindo, como também disse Bento XVI, de expressar a sua própria gratidão pelo serviço que ele presta a cada um de nós e de invocá-lo todos os dias, com o “Angelus Dei”, oração que a Igreja, na sua profunda sabedoria, formulou propositalmente, pedindo para iluminar o nosso caminho, para saber discernir a vontade de Deus nos fatos da vida e combater as ciladas do demônio.
[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]