Quatro Constituições Conciliares (Parte II)

Mons. Vitaliano explica as quatro Constituições do Concílio Vaticano II

CRATO, segunda-feira, 24 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir a segunda parte do artigo que Mons. Vitaliano escreveu na sexta-feira, sobre as quatro Constituições do Vaticano II. Para ler a primeira parte clique aqui (http://www.zenit.org/article-31359?l=portuguese)

Constituição Dogmática sobre a Revelação: Dei Verbum, 18 de Novembro de 1965.

Documento de fundamental importância para a compreensão da Palavra de Deus e da relação com o Magistério da Igreja. Deus tem falado aos homens. O Cristo, Palavra (Verbo) de Deus, por quem todas as coisas foram criadas, é a plenitude da Revelação. A Constituição mostra como na Sagrada Escritura se encontra a Palavra de Deus fixada por escrito sob a inspiração do Espírito Santo, enquanto que a Palavra de Deus, confiada por Cristo aos Apóstolos, é transmitida pela Tradição integralmente aos sucessores dos apóstolos. A Hierarquia tem a tarefa de interpretar autenticamente a Palavra de Deus. Este aspecto é analisado no segundo capítulo (n. 7-10). O problema que mais ocupou a Assembleia Conciliar foi exatamente o das fontes da Revelação: só a Sagrada Escritura ou também a Tradição (a interpretação da Igreja ao longo dos séculos). O texto estabeleceu que existem duas fontes da Revelação: a S. Escritura e a Tradição da Igreja. Alguns passos fundamentais: “Relação entre a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura. A Sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, decorrente ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma só coisa e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto que foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a Sagrada Tradição, por sua vez transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos…  Disso resulta que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência (n. 9). Relação de uma e outra com a Igreja e com o Magistério eclesiástico.  A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus, confiado à Igreja…Porém, o encargo de interpretar autênticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo. Este magistério não está acima da palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido… É claro, portanto, que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo desígnio de Deus, de tal maneira se unem e se associam que um sem o outro não se mantém, e todos juntos, cada um a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas”.  Finalmente, a Constituição enfatiza o papel fundamental que deve ter as Escrituras em toda a vida da Igreja.

Constituição sobre a Igreja no mundo do nosso tempo: Gaudium et Spes, 7 de Dezembro de 1965.

Esta Constituição está formada por uma primeira parte sobre a vocação do homem, e por uma segunda sobre alguns problemas mais urgentes. Uma introdução descreve primeiramente a condição do mundo de hoje, com as suas profundas transformações, as suas esperanças e os seus medos. A Igreja quer captar tudo o que seja sinal da presença e da vontade de Deus nos acontecimentos, nas exigências e aspirações dos homens. A primeira parte responde a algumas perguntas: o que a Igreja acha da dignidade do homem, o que se deve recomendar para a edificação da sociedade moderna, qual é o significado último da atividade humana. Finalmente, no último capítulo discute o papel que a Igreja quer desempenhar no mundo contemporâneo.

A segunda parte estuda sucessivamente a dignidade do matrimônio e da família, a promoção da cultura, da vida econômica e social, a vida da comunidade política, e por fim a paz e a promoção da comunidade das nações.

A Igreja em tudo isso, ainda que consciente de suas limitações, propõe-se a esta finalidade: ajudar com a sua luz onde for possível; ajudar com a sua esperança; a sua mão na mão dos homens, abertamente, para salvar o homem.

* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

[Trad. TS]

Quatro constituições conciliares (Parte I)

Mons. Vitaliano explica as quatro Constituições do Concílio Vaticano II

Mons. Vitaliano Mattioli*

CRATO, sexta-feira, 21 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – O Papa Bento XVI na Missa celebrada em Frascati (Itália) no dia 15 de julho de 2012 durante a homilia se expressou assim: “Os Documentos do Concílio contém uma riqueza enorme para a formação da nossa consciência”.

Com certeza o Concílio foi uma grande graça para a Igreja, mas ao longo destes 50 anos desde a sua abertura, nem sempre se ouviram vozes de acordo sobre a sua interpretação e atuação. Mais de uma vez o Vaticano foi apresentado como  uma linha de demarcação entre o pré e o pós-Concílio, ou seja numa linha de descontinuidade. Nada podia estar mais errado. Por isso Bento XVI poucos meses depois da sua eleição pontifícia considerou oportuno chamar a atenção sobre a correta interpretação com que se deve ler este Concílio. Aproveitou a ocasião de cumprimentos de Natal apresentando-lhes o Sagrado Colégio dos Cardeais, no dia 22 de dezembro de 2005.

Depois da primeira parte, começou a falar sobre o Concílio. Assim se expressou: “O último acontecimento deste ano, sobre o qual gostaria de me deter nesta ocasião, é a celebração do encerramento do Concílio Vaticano II, há quarenta anos. Tal memória suscita a interrogação: qual foi o resultado do Concílio? Foi recebido de modo correcto? O que, na recepção do Concílio, foi bom, o que foi insuficiente ou errado? O que ainda deve ser feito? Ninguém pode negar que, em vastas partes da Igreja, a recepção do Concílio teve lugar de modo bastante difícil… Surge a pergunta: por que a recepção do Concílio, em grandes partes da Igreja, até agora teve lugar de modo tão difícil? Pois bem, tudo depende da justa interpretação do Concílio ou como diríamos hoje da sua correcta hermenêutica, da justa chave de leitura e de aplicação. Os problemas da recepção derivaram do facto de que duas hermenêuticas contrárias se embateram e disputaram entre si. Uma causou confusão, a outra, silenciosamente mas de modo cada vez mais visível, produziu e produz frutos. Por um lado, existe uma interpretação que gostaria de definir “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”… Por outro lado, há a “hermenêutica da reforma”, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho. A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar”.

Para facilitar “Hermenêutica da Reforma,” Eu quero apresentar, ainda que de forma condensada, as 4 constituições conciliares. Em outra ocasião escrevi sobre os 9 documentos, clique aqui para ler.

A Constituição sobre a Sagrada Liturgia: Sacrosanctum Concilium, 4 de dezembro de 1963

A Constituição se limitou a definir as orientações para a reforma, cuja execução foi confiada em grande parte às Conferências episcopais (esta é a primeira atribuição de uma competência jurídica dada às Conferências Episcopais pelo Concílio). Esta Constituição fixa os princípios gerais da reforma e apresenta um caráter doutrinal. Faz ver como a liturgia é “o cume ao qual tenda a ação da Igreja, e ao mesmo tempo a fonte de onde mana a sua força” (n. 10). Fala sobre a participação ativa dos leigos: Discussão sobre a participação ativa dos leigos: “Os cristãos não assistam a este mistério de fé como estranhos ou expectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, piedosa e ativamente” (n. 48). Desenvolve claramente uma noção de Povo de Deus, no meio da qual a Hierarquia tem uma função de serviço. O Documento fala também da música sagrada, dos sacramentos, da liturgia das Horas, do ano litúrgico e da reforma do calendário. Paulo VI com o Motu Próprio ‘Sacram Liturgia’ (25 de Janeiro de 1964) deu início a uma primeira série de reformas. Com a Constituição Apostólica “Missale Romanum” (3 de Abril de 1969) entra em vigor a “Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário”. Paulo VI, com a Carta Apostólica “Mysterii Paschalis” estabeleceu as normas para a reforma do calendário e do ano litúrgico.

A Constituição Dogmática sobre a Igreja: Lumen Gentium, 21 de novembro de 1964.

Este documento envolve toda a Igreja na sua estrutura e na sua atividade. O primeiro capítulo fala do mistério da Igreja que “é, no Cristo, como que o Sacramento, ou seja, o sinal e o meio da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (n.1, e descreve a relação da Igreja de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. O segundo capítulo apresenta a Igreja como Povo de Deus, constituído pelo Batismo e do qual a cabeça é Cristo, a caminho através da história e destinado a reunir todos os homens. Lembra os laços entre a Igreja e os Cristãos não católicos, seus relacionamentos com os não-cristãos e afirma os caráter missionário do Povo de Deus. Apresenta em seguida os membros do Povo de Deus: a hieraquia (bispos, sacerdotes e diáconos) e os leigos. O terceiro, sobre a hierarquia, afirma a colegialidade do episcopado (os bispos sucessores dos apóstolos, ao redor do Papa sucessor de Pedro, seu chefe, receberam de Cristo a responsabilidade da Igreja universal) e decide que os Episcopados locais podem restaurar o diaconado como uma Ordem permanente, e conferir esta Ordem a homens casados. O capítulo quarto, sobre os leigos, mostra a eles a participação na vida e na missão da Igreja (culto, proclamação do Evangelho, orientação para o Cristo da vida e das atividades de toda a humanidade). O quinto capítulo fala da vocação à santidade por parte de todos os membros do Povo de Deus. O capítulo sexto, sobre os religiosos, explica a função da vida religiosa em relação à vida espiritual de todo o povo cristão. O sétimo capítulo apresenta a Igreja, peregrina na terra, para a vida eterna, em comunhão com a Igreja celeste. Finalmente o capítulo oitavo apresenta a função materna da Virgem Maria no mistério de Cristo e da Igreja. Está em sintonia com este texto que Paulo VI, no dia 21 de novembro de 1954, deu à Virgem o título de Mãe da Igreja, porque ela, em quanto mãe de Cristo, é também mãe de todo o Povo de Deus, seja dos fiéis como dos pastores.

Ao documento foi adicionado por vontade explícita de Paulo VI, uma “Nota Explicativa Prévia”, contendo alguns fundamentos sobre o texto para evitar interpretações erradas. Esta Nota deve ser considerada parte integral do mesmo Documento.

A segunda parte será publicada no dia 24 de Setembro.

Trad. TS

Comunidade católica diante da legalização do aborto previsto no Anteprojeto do Código Penal brasileiro (Parte II)

Conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando e o Pe. Paulo Ricardo

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, quarta-feira, 5 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – São três os valores inegociáveis segundo Bento XVI – em discurso ao Partido Popular Europeu no ano de 2006: vida, família monogâmica e educação dos filhos.

Valores estes que não podem “seguir a arte da política e da negociação”, – afirma Pe. Paulo Ricardo – em uma conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando Melo, vice-presidente Pró-vida e pró-família e membro da comissão de bioética da arquidiocese de Brasília, e o Pe. Paulo Ricardo Azevedo Junior, do clero da arquidiocese de Cuiabá, e famoso pregador brasileiro.

Oferecemos aos nossos leitores a segunda parte dessa reflexão. Para ler a primeira parte, publicada ontem, clique aqui.

Prof. Paulo Fernando: diante desse quadro da cultura da morte, o que, efetivamente, uma pessoa de bem, um cidadão católico, pode fazer? Será que estaríamos na beira do abismo e realmente não tem mais o que se fazer?

Pe. Paulo Ricardo: Devemos lembrar duas coisas importantes. Primeiro, nós não somos uma minoria insignificante. Nós somos uma maioria. Mas infelizmente somos uma maioria emudecida porque a classe falante está toda contaminada com a mentalidade anticristã e uma maioria mal articulada, não organizada. Nós então, precisamos, em primeiro lugar, nos conscientizar. Depois, uma vez conscientizados daquilo que é a situação que nós vivemos, estar dispostos a nos articular e trabalhar concretamente para este tipo de política favorável à vida. Nós precisamos crer no seguinte: a ação de Deus na história, é sempre uma ação em que, aquele que era aparentemente somente um Davi, pequenino, que lutava contra um Golias, termina alcançando a vitória. Então, existe, em nós, uma consciência de nossa pequenez. Apesar de sermos muitos, nós sabemos que qualquer vitória deve ser uma vitória de Deus. Mas, a vitória de Deus só acontece quando nós agimos. Qualquer pessoa que trabalha nesse campo, na evangelização, no meio da política e na ação social, e trabalha a favor das coisas de Deus, já experimentou o fato de que as nossas pequenas ações, de pequenos Davis, são potenciadas enormemente por Deus, de tal forma que embora sejam poucos os cristãos e católicos conscientes no âmbito da política, as nossas ações são agraciadas. Deus nos dá a graça. Por isso podemos contar com ela. Podemos contar com o fato de que uma pequena pedrinha pode causar uma grande avalanche, de que o pequeno Davi pode sempre destruir o exército dos Filisteus.

Prof. Paulo Fernando: o senhor falou que Deus nos pede a luta e não a vitória, mesmo porque a vitória já é nossa, em Jesus. Agora, qual o conselho que o senhor dá às pessoas que se sentem vocacionadas para isso? Como o senhor falou, que sejam preparadas, que sejam compromissadas, que tenham uma postura como pai de família, como patrão, como empregado, como pessoa engajada na comunidade, na sua paróquia, na sua igreja, na sua diocese; e por que muitas vezes, não há esse estímulo para que as pessoas de bem possam ingressar também no mundo da política?

Pe. Paulo Ricardo: O princípio da sabedoria é o temor de Deus, diz a Sagrada Escritura. Nós temos que ter a plena consciência de que não estamos nesse mundo para vivermos uma comodidade e um paraíso aqui nessa terra. Nós estamos aqui para preparar o céu. Estamos aqui para realizar a vontade de Deus que preparou para nós uma felicidade no céu. Então, qualquer pessoa que entra nessa luta sem fé na salvação que nos é dada por Deus e na esperança de alcançá-la, é uma pessoa que tem uma grande probabilidade de perder a luta porque o inimigo conta com isso. O inimigo – e nosso inimigo maior é Satanás, o demônio, e não as pessoas – conta com o fato que nós, amedrontados, vivamos um cristianismo, mas um cristianismo burguês, acomodado, onde sim faço a vontade de Deus, desde que isso não me custe muito; desde que isso não tenha um preço. A partir do momento em que a fidelidade a Deus começa a exigir um preço, as pessoas desistem. Os conselhos que posso dar bem concretamente aos cristãos leigos e aos sacerdotes inclusive, é ter os olhos fixos em Deus, no céu, para não nos deixarmos distrair pelas seduções do mundo, pela comodidade aqui desta terra. É uma luta a vida do homem sobre a terra. Nós estamos aqui para lutar. E sabemos que Deus irá vencer. Não há nenhuma dúvida de que Deus vencerá. A única pergunta é: de que lado nós estaremos quando Deus vencer? De que lado nós estaremos quando Ele proclamar a sua vitória. Então, precisamos viver esse mundo com os olhos fixos no céu. Sabendo que é essa a nossa missão. Estamos aqui na terra preparando o nosso céu. Qualquer coisa que se distraia dessa realidade vai resultar numa traição. Nós precisamos saber que um dia estaremos diante do trono da graça, seremos julgados por Deus, e que precisamos ser fieis a Ele.

Prof. Paulo Fernando: e agora, nas considerações finais, o senhor acha que nós devemos rezar pela conversão desses abortistas? Quais são as nossas intenções nas nossas orações nessa luta contra a cultura da morte?

Pe. Paulo Ricardo: Veja, a realidade espiritual deve estar sempre ancorada também na ação. As duas coisas devem caminhar juntas: rezar pela conversão deles, rezar também pelas famílias, mulheres, crianças, pessoas que estão envolvidas nos crimes de aborto, mas sobretudo precisamos ter em mente o fato de que no Brasil estamos vivendo uma situação de extrema urgência. Nós temos nesse momento, duas realidades extremamente urgentes nesse país. A primeira que é toda uma ação do executivo, onde o ministério da saúde e a secretaria para a defesa dos direitos das mulheres estão implantando uma série de procedimentos para facilitar o aborto cometido através de medicamentos por mulheres, e estamos também diante de um projeto do código penal que, se não legaliza o aborto de fato, pelo menos o legaliza na prática porque atenua enormemente a penalidade do aborto e o torna uma daquelas infrações de menor importância e portanto não passíveis de punição. Essas duas realidades são verdadeiro golpe na democracia brasileira. Nós brasileiros somos, na sua maioria, contrários à prática infame do aborto e gostaríamos que isso continuasse assim. O valor da vida humana é um direito inegociável, é algo que nós não podemos ceder. Essa realidade deve ser defendida por nós católicos, antes de tudo na oração, na nossa confiança em Deus e entrega à Nossa Senhora, mas também na ação, onde nós estejamos dispostos a pagar o preço pela nossa fidelidade a Deus. Existe um livro escrito por um autor protestante, chamado C S Lewis, “Cartas de um diabo ao seu aprendiz”. Nesse livro o demônio mais velho ensina ao mais novo como levar uma alma ao inferno. E diz assim: mantenha as orações dele, ou seja, da pessoa que você quer levar ao inferno, muito devotas e espirituais, fazendo com que, no entanto, ele não se preocupe nunca com as doenças das pessoas que estão ao seu redor, das suas necessidades concretas e com a ajuda que ele poderia prestar às pessoas que mais necessitam. Precisamos rezar, confiar em Deus, mais precisamos também agir. Por mais que seja uma ação humanamente irrisória, mas esta pequena ação de milhões de pequenos Davis serão potenciadas por Deus, que pela sua graça dará vitória ao seu povo.

Comunidade católica diante da legalização do aborto previsto no Anteprojeto do Código Penal brasileiro (Parte I)

Conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando e o Pe. Paulo Ricardo

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, terça-feira, 4 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – São três os valores inegociáveis segundo Bento XVI – em discurso ao Partido Popular Europeu no ano de 2006: vida, família monogâmica e educação dos filhos. Valores estes que não podem “seguir a arte da política e da negociação”, – afirma Pe. Paulo Ricardo – em uma conversa organizada por ZENIT entre o Prof. Paulo Fernando Melo, vice-presidente Pró-vida e pró-família e membro da comissão de bioética da arquidiocese de Brasília, e o Pe. Paulo Ricardo Azevedo Junior, do clero da arquidiocese de Cuiabá, e famoso pregador brasileiro.

Oferecemos aos nossos leitores a primeira parte dessa reflexão. A segunda será publicada amanhã, quarta-feira, 5 de Setembro.

Prof. Paulo Fernando: Como é que o senhor vê a situação da comunidade católica, da sociedade no geral, diante dessa questão da legalização do aborto previsto no anteprojeto do código penal?

Pe. Paulo Ricardo: Na realidade, o católico está, infelizmente alienado da vida política. Enquanto católico criou-se uma mentalidade de que porque o Estado é laico as pessoas não podem manifestar seus valores éticos e religiosos no mundo da política. Essa mentalidade é completamente absurda porque nós sabemos que toda lei manifesta um Ethos, toda lei manifesta uma visão de mundo e um quadro de valores. Ora, o Estado pode ser laico, mas os brasileiros são religiosos. E eles têm não somente o direito mas o dever de levar esse seu Ethos à própria confecção das leis. Ora, por causa dessa ideologia laicista o católico introjetou uma espécie de minoridade. Enquanto ele é religioso, católico, possui as suas convicções, mas é como se fosse um cidadão de segunda categoria. Só tem direito de se manifestar aquele que é ateu, materialista militante… o católico fica de lado. Na realidade precisamos acordar o católico consciente, convicto, praticante, fiel à Igreja e ao Papa, para a sua missão, a sua vocação no mundo da política. O diabo, na verdade, fez o trabalho dele muito bem feito. Colocou na cabeça do católico que política é para gente soncha, para pessoa soncha. Portanto, ele não deve imiscuir-se nesse ponto. É assim que, então, temos no Brasil uma situação bastante esdrúxula de uma maioria silenciosa que é governada quase que ditatorialmente por uma minoria que conseguiu amordaçar essa maioria.

Prof. Paulo Fernando: Padre, nós estamos em anos de eleições, para prefeito e vereador. O que diz a doutrina social da Igreja da participação efetiva de católicos na política? Quais são os critérios de um bom candidato para que o eleitor faça uma boa escolha?

Pe. Paulo Ricardo: Na verdade, nós devemos sempre olhar para o fato de que a Igreja não tem candidatos próprios, mas a Igreja orienta o fiel para escolher candidatos que trabalhem para o bem comum, homens e mulheres que tenham um histórico e uma competência para trabalhar para o bem comum. Essa realidade incide fortemente quando nós olhamos para o curriculum do candidato e vemos que ele tem ou não um histórico de defesa daqueles valores que o Papa Bento XVI chama de valores não negociáveis.

São três tipos de valores não negociáveis, praticamente, que o Papa colocou num discurso dele ao Partido Popular Europeu no ano 2006 (Clique aqui para ler o texto)  Primeiro: respeito à vida humana desde a sua concepção até a sua morte natural. Aqui entra toda a questão do aborto, da eutanásia, etc. Segundo: a família, constituída por um casamento monogâmico, único, indissolúvel, entre um homem e uma mulher. E esse é um valor que a Igreja considera não negociável. Ou seja, não há aqui a arte da política e da negociação. E terceiro: a educação dos filhos, ou seja, a liberdade dos pais de educarem os seus filhos sem ingerência do Estado naquilo que são os valores a serem transmitidos aos filhos.

Essas três colunas mestras estão sendo, hoje, atacadas frontalmente pelo abortismo, pelo gaysismo, pelo feminismo, e por um Estado cada vez mais aparelhado por militantes de esquerda que querem exatamente solapar essas colunas mestras da moralidade da civilização ocidental, que não é só algo específico nem do católico e nem do cristão, mas são os valores encima dos quais foi construída a civilização ocidental.

Prof. Paulo Fernando: Padre, o Senhor poderia esclarecer-nos se, de acordo com a doutrina e o magistério da Igreja, um eleitor que vote num candidato ou num partido que, sabidamente é contrário a esses valores que o senhor falou – se o partido claramente no seu programa defende a legalização do aborto – se, teoricamente, esse eleitor, votando deliberadamente nesse partido e nesse candidato, estaria incorrendo em pecado?

Pe. Paulo Ricardo: De fato existe uma situação bastante delicada no Brasil porque a realidade do nosso país é que, praticamente, todos os partidos tem nas suas plataformas, nos seus programas, políticas contrárias a esses valores. O que, na verdade, nós deveríamos atentar é para o fato não se os partidos tem ou não esse tipo de valores, mas se o partido permite ou não uma liberdade ao candidato de exercer o seu mandato a partir dos valores que ele professa. De tal forma que não aja uma rigidez ou uma disciplina interna no partido que obrigue os candidatos, uma vez eleitos, a uma camisa de força doutrinal. Então, nesse caso, se uma pessoa sabe que o partido tem esse tipo de disciplina interna, e que, portanto, não irá permitir ao candidato o exercício do seu mandato conforme os valores que o próprio candidato professa, então o eleitor tem a sua consciência gravemente honerada na hora de votar, porque sabe que está votando não num candidato com valores cristãos, mas num partido que irá impor seus valores anticristãos e imorais.

História do Concílio Vaticano II (Parte II)

Anunciado pelo Papa João XXIII no dia 25 de janeiro de 1959

Mons. Vitaliano Mattioli*

CRATO, sexta-feira, 17 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – A quarta sessão: aberta no dia 14 de Setembro de 1965, terminou no dia 8 de dezembro de 1965, festa da Imaculada Conceição.

No discurso de abertura caracterizou dessa forma o Concílio: “Não parece difícil dar ao nosso Concílio Ecuménico o caráter de um ato de amor: de um grande e tríplice ato de amor: para com Deus, para com a igreja, para com a humanidade”.

Nesta sessão, no dia 4 de outubro de 1965, Paulo VI visitou a Assembléia das Nações Unidas em Nova York, oficialmente convidado para celebrar o vigésimo aniversário da ONU.

No dia 18 de novembro de 1965 Paulo VI, perto do encerramento do Concílio deu um discurso falando da atitude que se deveria ter no pós-concílio, quase que prevendo a confusão que aconteceria em seguida.  “Veneráveis Irmãos, não devemos tanto prestar atenção a essas reformas necessárias, mas sim àquelas morais e espirituais, que nos façam mais em conformidade com o nosso Divino Mestre e mais aptos para os deveres da nossa respectiva vocação. Devemos principalmente esperar isso: a nossa efetiva santificação e a real capacidade de difundir entre os homens do nosso tempo a mensagem evangélica”.

No dia 7 de dezembro de 1965, véspera do encerramento, celebrou-se a Santa Missa da última sessão. Paulo VI na homilia resumiu dessa forma todo o Concílio: “No rosto de cada homem deve-se ver o rosto de Cristo, e neles, aquele do Pai Celestial. Para conhecer a Deus é preciso conhecer o homem. Amar a Deus para amar o homem. Todo este Concílio resume-se no seu significado conclusivo religioso, como um poderoso convite à humanidade de hoje a encontrar, através do amor fraterno, a Deus”.

No final da celebração eucarística aconteceu um fato importante. Paulo VI com a Carta Apostólica Ambulate in Dilectione, aboliu a excomunhão imposta no dia 16 de julho de 1054 ao Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário. Ao mesmo tempo em Constantinopla (Istambul), o Patriarca Atenágoras, revogava a excomunhão do Seu predecessor ao Papa Leão IX. Assim a Carta de Paulo VI: “Queremos eliminar da memória da Igreja a sentença de excomunhão emitida então, tirá-la do caminho, e a queremos enterrada no esquecimento e apagada. Temos o prazer de que nos seja dada a oportunidade de realizar este ato de caridade fraterna aqui em Roma, ao lado do túmulo do Apóstolo Pedro, no mesmo dia em que o mesmo acontece em Constantinopla (Istambul), que é chamada de Nova Roma.” O Card. Johannes Willebrands leu a Declaração Conjunta da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa de Constantinopla. Logo depois, o Cardeal Agostino Bea leu a carta citada Ambulate in Dilectione.

Os documentos conciliares são:

Quatro Constituições:

Sacrosanctum Concilium (sobre a Liturgia), 4 de dezembro de 1963 (2178 eleitores, 2159 placet)

Lumen Gentium (sobre a Igreja), 21 de novembro de 1964 (2145 eleitores, 1921 placet)

Dei Verbum (sobre a Revelação Divina), 18 de novembro de 1965 (2350 eleitores,  2344 placet)

Gaudium et Spes (sobre a Igreja no Mundo contemporâneo), 7 de dezembro de 1965 (2373 eleitores, 2309 placet)

Nove Decretos:

Inter Mirifica (sobre as ferramentas da comunicação social), 4 de dezembro de 1963 (2124 eleitores, 1960 placet)

Orientalium Ecclesiarum (sobre as Igrejas Orientais católicas), 21 de novembro de 1964 (2149 eleitores, 2110 placet)

Unitatis Redintegratio (sobre o Ecumenismo), 21 de novembro de 1964 (2148 eleitores, 2137 placet)

Christus Dominus (sobre os bispos), 28 de outubro de 1965 (2322 eleitores, 2319 placet)

Perfectae Caritatis (sobre os religiosos) 28 de outubro de 1965 (2325 eleitores, 2321 placet)

Optatam totius (sobre a formação sacerdotal) 28 de outubro de 1965 (2321 eleitores, 2318 placet)

Apostolicam Actuositatem (sobre o apostolado dos Leigos) 18 de novembro de 1965 (2342 eleitores, 2340 placet)

Ad Gentes (sobre a atividade missionária), 7 de dezembro de 1965 (2399 eleitores, 2394 placet)

Presbyterorum Ordinis (sobre o ministério e a vida dos Presbíteros), 7 de dezembro de 1965 (2394 eleitores, 2390 placet)

Três declarações:

Gravissimum Educationis (sobre a educação cristã), 28 de outubro de 1965 (2096 eleitores, 1912 placet)

Nostra Aetate (sobre a relação com as Religiões não-cristãs), 28 de outubro de 1965 (2312 eleitores, 2221 placet)

Dignitatis Humanae (sobre a liberdade religiosa), 7 de dezembro de 1965 (2386 eleitores, 2308 placet)

Em 1966, o jornalista italiano Alberto Cavallaria escreveu em um livro-entrevista: “O verdadeiro significado do Concílio Vaticano II só será reconhecido depois de muitas décadas e toda conclusão rígida torna-se imprudente” (Il Vaticano che cambia, Mondadori, p. 27).

Hoje, após 50 anos desde o início do Concílio, essa reflexão aparece verdadeira.

(Para ler a primeira parte do artigo clique aqui)

* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]

História do Concílio Vaticano II (Parte I)

Anunciado pelo Papa João XXIII no dia 25 de janeiro de 1959

Mons. Vitaliano Mattioli*

Em 25 de janeiro de 1959 o Papa João XXIII, depois de um pontifical solene na Basílica de São Paulo, anunciou aos Cardeais o projeto de realizar um novo Concílio.

A surpresa foi grande porque João XXIII tinha sido eleito Papa em 28 de outubro do ano anterior.

Mais tarde soube-se que já o seu predecessor, Pio XII, teve essa ideia e, em segredo, começou os trabalhos preparatórios. Mas depois pensou que o tempo ainda não estava maduro.

João XXIII começou os preparativos no mês de maio seguinte constituindo a Pontifícia Comissão Antepreparatória. Nomeou Mons. Pericle Felici secretário da mesma.

Em junho de 1960 com o Motu proprio Superno Dei  instituiu as 11 Comissões preparatórias: teologia, bispos e governo das dioceses, disciplina do clero e do povo cristão, religiosos, sacramentos, liturgia, seminários, igrejas orientais, missões, leigos.

Finalmente no dia 11 de outubro de 1962 foi aberto oficialmente o novo Concílio. O Papa escolheu esta data porque, então, nesse dia celebrava-se a festa de Maria, Teothokos, Mãe de Deus. De tal forma manifestou a intenção de colocar o desempenho do Concílio sob a proteção de Maria.

O discurso de Santa Missa de abertura, Gaudet Mater Ecclesia, apontou as diretrizes do Concílio e motivou a oportunidade de celebrar o novo Concílio. Disse que o objetivo principal do Concílio deve ser a apresentação, defesa e difusão do sagrado depósito da doutrina cristã: “5.1. O que mais interessa para o Concílio é que o sagrado depósito da doutrina cristã seja custodiado e ensinado da forma mais eficaz. Tal doutrina abraça o homem integral, composto de alma e de corpo, e a nós, que moramos nessa terra, nos manda buscar como peregrinos a pátria celeste … 2. O vigésimo primeiro Concílio Ecumênico … quer transmitir de forma integral, não falseada, não em parte, a doutrina Católica”.

Em seguida, se move sobre o modo de se comportar da Igreja em torno aos erros doutrinários: “Abrindo o Concílio Ecumênico Vaticano II, é claro mais do que nunca que a verdade do Senhor permanece para sempre. 2. Não houve tempo em que a Igreja não se opôs a estes erros; muitas vezes também os condenou, e as vezes com a maior severidade. Quanto ao tempo presente, a Esposa de Cristo prefere usar o remédio da misericórdia ao invés de usar as armas do rigor; pensa que deva-se atender as necessidades de hoje, expondo mais claramente o valor do seu ensino e não condenando.

O discurso de abertura termina expressando o desejo de promover a unidade na família cristã e humana porque: “Infelizmente toda a família cristã ainda não conseguiu plenamente essa unidade visível na verdade.”

A primeira sessão terminou no dia 8 de dezembro de 1962. Os trabalhos foram atualizados pelo mês de setembro do ano seguinte.

Enquanto isso, no dia 3 de junho de 1963 o Papa João XXIII morreu. Automaticamente com a morte do Papa, o Concílio foi suspenso. Corresponde ao sucessor continuá-lo ou não.

O novo Papa eleito no dia 21 de junho foi Giovanni Battista Montini, que tomou o nome de Paulo VI. Ele expressou imediatamente o desejo de continuar o Concílio.

A segunda sessão foi aberta no dia 29 de setembro de 1963 e terminou no dia 4 de dezembro de 1963.

Em seu discurso de abertura, Paulo VI apresentou os quatro objetivos do Concílio: “Resumiremos em quatro pontos, que são: a definição ou, se preferir, a consciência de Igreja, a sua reforma, a restauração da unidade entre todos os cristãos e o diálogo da Igreja com os homens contemporâneos”.

Em janeiro de 1964 Paulo VI fez a histórica visita à Terra Santa seja para retornar às origens do cristianismo, como para reacender as relações entre a religião hebraica e o Estado de Israel, ainda não reconhecido oficialmente pela Santa Sé. Mas também para fazer novas  alianças com a Igreja Ortodoxa. Comovente e único na história anterior foi o encontro e o abraço em Jerusalém entre Paulo VI e Atenágoras, Patriarca de Constantinopla.

“A terceira sessão foi a do 14 de setembro de 1964 a 21 de novembro. Em seu discurso de encerramento, Paulo VI proclamou Maria: Mãe da Igreja: “Por esta razão, parece-nos necessário que nesta sessão pública anunciemos publicamente um título com o qual seja honrada a Beata Virgem Maria, que foi solicitado por diversas partes do mundo católico e nos é especialmente caro e aceitável, porque com admirável síntese expressa a posição privilegiada que na Igreja este Concílio reconheceu ser própria da Mãe de Deus.

Por isso para a glória da Beata Virgem e para a nossa consolação declaramos Maria Santíssima Mãe da Igreja, ou seja de todo o povo cristão, seja dos fieis que dos Pastores, que a chamamos Mãe amadíssima; e estabelecemos que com este título todo o povo cristão a partir de agora honre ainda mais a Mãe de Deus e lhe dirija súplicas”.

(Para ler o primeiro artigo sobre o Concilio acesse aqui. Publicaremos a segunda parte desta matéria amanhã, 17 de agosto)

* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]

O aborto, por qualquer motivo, sempre deixa uma marca profunda (Parte II)

Entrevista com Mons. Vitaliano Mattioli, missionário italiano no Brasil

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, sexta-feira, 10 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Em entrevista a ZENIT, Mons. Vitaliano Mattioli, missionário italiano fidei donum no Brasil, revela os principais perigos do aborto para uma mulher e para uma nação.

Publicamos a segunda parte da entrevista hoje. Para ler a primeira parte clique aqui.

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ZENIT: Por que o aborto é uma coisa ruim para a mulher?

ZENIT: Falar de mulher é sinônimo de maternidade. É uma sensibilidade totalmente feminina que o homem não possui, pelo menos nesse nível. Quando uma mulher está grávida não diz: “Dentro de mim tenho um zigoto ou um embrião”, mas diz: “estou esperando um filho”. Ela sabe que aquela realidade que está amadurecendo dentro dela é um outro ser humano, seu filho. Fiquei impressionado com uma página de um romance grego (Sec I ou II d.C.). Uma senhora tornou-se escrava enquanto se encontrava no segundo mês de gravidez. Confidenciou a uma amiga a sua preocupação. Esta respondeu-lhe que a solução era abortar. Mas a mulher disse: “Como, você que é uma mulher, me aconselha matar o meu filho?” (Caritón de Afrodisias, O Romance de Caliroe). O corpo da mulher, que deve ser o primeiro berço da criança, o lugar privilegiado para o desenvolvimento de uma vida, transforma-se em um lugar de morte, em um cemitério. A mulher sabe que traiu seu filho, mas especialmente que traiu a si mesma. O seu organismo genital, onde Deus trabalha para gerar e amadurecer uma vida, foi profanado. À ação divina de amadurecer e proteger uma vida, substituiu-se uma vontade humana de condenar à morte.

ZENIT: O senhor tem atendido algum caso de casal que tenha abortado?

MONS.VITALIANO: Atendi vários casos. É preciso muita compreensão e, ao mesmo tempo

atrair essas pessoas para se tornarem apóstolos da vida, ajudando outras mulheres que se encontram nesta situação para não cometerem o mesmo erro. De um mal pode vir bem.

ZENIT: O brasil está a ponto de votar pela aprovação do novo código penal que despenalizará o aborto até a 12 semana. O que essa legislação pode trazer para o Brasil e para as famílias brasileiras?

MONS.VITALIANO: O Brasil é um país maravilhoso. Espero que o Congresso de Brasília não cometa o mesmo erro que o italiano e de outras Nações. Pergunto-me: qual é o significado desta 12ª semana, ou seja, o terceiro mês. A genética nos diz que o feto, no terceiro mês, é um bebê completamente formado. Mas já a partir do momento da concepção o novo indivíduo possui todo o patrimônio genético, possui a sua carta de identidade genética. Só precisa de tempo para desenvolver-se, para amadurecer. Todas as transformações depois da concepção não são mais do que desenvolvimento das suas características que já possui desde o começo da sua existência. O zigoto é um ser humano com todas as potencialidades e não um ser humano em potência. No primeiro caso trata-se de desenvolver o que o zigoto, embrião, feto já tem em sua composição genética; no segundo trata-se de uma intervenção de fora para dar-lhes o que não possui. Mas não há uma outra intervenção externa depois da concepção. Portanto, o desenvolvimento da gestação consiste no amadurecimento daqueles elementos que o novo indivíduo possui desde o começo. É necessário chamar a realidade com o próprio nome e não com outras palavras que obscurecem a verdadeira essência da ação. A palavra aborto é indolor. O mesmo: interrupção de uma gravidez. Mas se falamos: o aborto é a interrupção de uma vida humana nas primeiras fases da sua existência, ou seja, é um assassinato, o impacto psicológico é muito diferente. Se o Brasil aprova essa lei, mais do que dizer: lei que permite o aborto, seria mais honesto dizer: “lei que permite a interrupção de uma vida humana nas primeiras fases da sua existência, ou seja, um assassinato. As conseqüências desta lei são desastrosas, como ocorre naqueles Países onde o aborto é legalizado. Antes de mais nada, a desvalorização da vida humana. Quando um Governo permite a uma mãe matar o seu próprio filho, não devemos mais surpreender-nos se a vida humana não tem mais valor. Além disso, o relaxamento dos costumes sexuais, já muito em crise, vai aumentar. Em vez de formar uma sociedade forte, o mesmo Governo irá contribuir de forma decisiva para formar uma sociedade fraca e frágil. O Brasil é um país que conserva uma grande sensibilidade e um grande amor à vida. No mundo a população mundial é invejada pelo desejo, a alegria, o gosto de viver. Tomara que não seja justamente o Governo que prive este povo maravilhoso, de tanta felicidade e alegria.

Ser católico por inteiro

Discutindo o problema da adesão à fé católica

Edson L. Sampel*

SAO PAULO, sexta-feira, 10 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Gostaria de discutir o problema da adesão à fé católica, não na perspectiva prática, porque nesta seara, infelizmente, por causa do pecado, os católicos vivemos os ditames do evangelho mais ou menos.

Quero tratar do tema no viés doutrinal. Neste diapasão, ou se é 100% católico ou não se é católico em hipótese nenhuma. Não posso ser católico e, ao mesmo tempo, advogar a tese de que Jesus não fundou nenhuma Igreja específica; apenas instaurou uma novel religião. Não posso ser católico e perfilhar a teoria de que nossa Senhora teve relações sexuais com seu casto esposo. Não posso ser católico e, concomitantemente, asseverar que não há demônios nem Satanás. Não posso ser católico e, outrossim, prestar atenção ao espiritismo. Não posso ser católico e fazer ouvidos moucos ao que o papa ensina. Não posso ser católico e me escusar de divulgar o parecer da Igreja contrário ao homossexualismo. Não posso ser católico e me colocar em prol do aborto, ou, então, ficar em cima do muro.  Eis somente alguns exemplos.

Qual é a questão de fundo? Em minha opinião, é o relativismo, já bastas vezes  exprobrado por Bento XVI, combinado com uma equivocada interpretação do ecumenismo. Exemplificando, a pretexto de não vulnerar a suscetibilidade dos nossos irmãos separados, a doutrina protestante não é mais herética: cuida-se apenas de visões diferentes, verberam alguns. Deixemos o mínimo que nos separa, postulam outros, e nos unamos no máximo que nos é comum! Que máximo é esse, se frei Lutero solapou todos os sacramentos, preservando unicamente o batismo?

Quando o mal da não adesão plena e obsequiosa é perpetrado por certos padres ou teólogos, estamos em face de uma vicissitude gravíssima. Aqui, em vários casos, vigem a arrogância e a soberba, uma espécie de desdobramento do pecado original: quer-se saber mais do que a Igreja de Cristo!

Temos de ser ecumênicos sim, sempre amorosos com os outros cristãos e com os membros de qualquer credo, cônscios de que não somos melhores do que eles e que Deus ama todos os homens. No entanto, devemos resgatar nossa belíssima identidade católica, assumindo-a plenamente, sem respeitos humanos, acatando cabalmente o magistério infalível. Esta obrigação é ainda mais urgente por parte dos padres, que têm o múnus de industriar a puríssima doutrina de nosso Senhor Jesus Cristo, custodiada pela Igreja católica.

Edson Luiz Sampel

Doutor em direito canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.

Membro da Sociedade Brasileira de Canonistas (SBC)

O Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro (Parte III)

Entrevista com especialista em bioética, Pe. Helio Luciano

Por Thácio Lincon Siqueira

BRASILIA, quarta-feira, 8 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Em entrevista a ZENIT o especialista em bioética, Pe. Hélio Luciano, membro da comissão de bioética da CNBB, respondeu várias questões relativas ao Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro.

Para ler as partes anteriores: primeira parte clique aqui; segunda parte clique aqui.

Publicamos hoje a terceira e última parte dessa entrevista.

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ZENIT: Além do aborto, o senhor referia outros problemas também incluídos no Anteprojeto. Quais seriam estes problema?

PE.HELIO – De fato, além da liberação, na prática, do aborto, o Anteprojeto apresenta outros problemas. Não pretendo ser exaustivo, mas para citar alguns, podemos falar dos problemas relativos à eutanásia, à liberação do consumo de drogas e à despenalização de algumas atividades terroristas.

O art. 122 do Anteprojeto apresenta a prática da eutanásia – definida pelo Anteprojeto como “matar, por piedade ou compaixão, paciente em estado terminal, imputável e maior, a seu pedido, para abreviar-lhe sofrimento físico insuportável em razão de doença grave” – como um crime diferente ao do homicídio, reduzindo a pena do mesmo. É verdade que as circunstâncias dramáticas de algumas situações deveriam reduzir a pena de alguém que comete este tipo de homicídio, porém, matar a outra pessoa, ainda que por compaixão, não deixa de ser homicídio. Para deixar claro o valor da vida e a gravidade do crime, o Anteprojeto poderia ter inserido a eutanásia dentro dos crimes de homicídio, incluindo-a apenas nos atenuantes da pena. Porém, o mais grave não é isso, mas sim que o Parágrafo Primeiro do mesmo artigo deixa ao juiz a possibilidade de não aplicar nenhuma pena para os casos de eutanásia, reduzindo dessa forma, o valor da vida, um dos bens primários previstos na Constituição.

Outro problema do Anteprojeto encontra-se no art. 212, Parágrafo Segundo, que exclui de crime a aquisição, armazenamento, transporte e cultivo de drogas para consumo próprio. Segundo o Anteprojeto, “presume-se a destinação da droga para uso pessoal quando a quantidade apreendida for suficiente para o consumo médio individual por cinco dias”. Não há dúvidas que o tráfico de drogas será favorecido com tal medida. Com o intuito de permitir, de um modo velado, o consumo de maconha – um dos verbos contemplados é o de “semear” e “colher”, claramente referidos a esta droga – o Anteprojeto parece esquecer que o tráfico obedece às regras de mercado: aumentando o consumo, aumentará também a oferta. Certamente os distribuidores de drogas jamais levarão consigo uma quantidade maior do que a “suficiente para o consumo médio individual por cinco dias”, e, deste modo, não incorrerão em crime.

Por fim, o Anteprojeto, tratando dos crimes de terrorismo, exclui de crime tais atividades quando movidas por “propósitos sociais ou com fins reivindicatórios” (art. 239, Parágrafo Sétimo). Certamente o limite dos meios utilizados para ser configurado ou não em crime será definido pelo juiz, mas, com esta lei, por exemplo, os jovens que tomaram a reitoria da USP no fim do ano passado, não teriam incorrido em crime algum. Como dissemos anteriormente, a exaltação da liberdade individual por cima do bem comum da população degrada a sociedade e mina a força da autoridade constituída.

Repito o que afirmei no começo desta entrevista – são muitos os pontos positivos do Anteprojeto, mas agora se faz necessário ressaltar as suas deficiências para que, enquanto ainda houver tempo, possamos solucioná-las de modo democrático.

ZENIT: Será que a proposta contida no Anteprojeto contempla a vontade de toda a população brasileira?

A resposta a esta pergunta corresponde, em parte, ao final do que foi dito na pergunta anterior: A maior parte do Anteprojeto contempla a vontade de toda a população brasileira, mas existem pontos complicados, que devem ser revistos e adaptados aos valores próprios da nossa sociedade.

Não podemos permitir que novamente – como vem ocorrendo nos últimos anos no Brasil – a opinião de pessoas que se creem “iluminadas” e com a “missão de iluminar” o ordenamento jurídico brasileiro, corrompam nossos valores e as opiniões da imensa maioria do povo brasileiro.

O Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro (Parte II)

Entrevista com especialista em bioética, Pe. Helio Luciano

Por Thácio Lincon Siqueira

BRASILIA, terça-feira, 7 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Em entrevista a ZENIT o especialista em bioética, Pe. Hélio Luciano, membro da comissão de bioética da CNBB, respondeu várias questões sobre o Anteprojeto do Novo Código Penal Brasileiro.

Publicamos ontem a primeira parte da entrevista (clique aqui para ler a primeira parte). Hoje publicamos a segunda parte e a terceira parte será publicada amanhã, quarta-feira.

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ZENIT: “O direito não é filho do céu. É um produto cultural e histórico da evolução humana”, frase de Tobias Barreto, que se encontra no cabeçalho da apresentação do Anteprojeto assinado pelo Relator Geral. Essa frase, não mostra a raiz do problema do direito na nossa época contemporânea, que elimina a existência de um direito natural? E que autoriza, de certa forma, as sociedades a inventarem as suas normas de conduta, de acordo com os interesses do momento?

PE.HELIO – De fato, infelizmente, uma parte dos juristas brasileiros interpreta a justiça de um modo puramente positivo. Segundo estes, o que define o certo e o errado é apenas aquilo que está escrito na lei, mas esta não corresponderia a nenhuma natureza humana, ou seja, não expressaria, em forma de lei, o modo como o homem é de fato. É lógico que a expressão da natureza humana pode dar-se de distintos modos ao longo da história – e isso também deve ser contemplado pelo ordenamento jurídico – mas não será a cultura quem configurará o modo de ser do homem. Consequentemente, as leis devem expressar este modo de ser – o matrimônio, a defesa da vida, a busca do bem comum, são elementos que transcendem a cultura, pois pertencem ao homem em si mesmo.

Mas antes de falar desta crise do direito natural é necessário falar da crise da “verdade”. Parece que, em alguns ambientes, a “verdade” deixou de existir – expressões típicas como “você tem a sua verdade e eu tenho a minha”, demonstram tal crise. É certo que podemos ver a realidade desde distintas perspectivas, mas um dos princípios mais básicos da racionalidade humana é o princípio da não contradição – uma coisa não pode “ser” e “não ser” ao mesmo tempo. Um exemplo mais simples: se chegarmos a um consenso absoluto – 100% dos votos – de que uma vaca é um cavalo, não converteremos a vaca em cavalo. As coisas existem na realidade e podemos alcançar o conhecimento delas ou não, mas jamais podemos alcançar duas verdades contraditórias sobre a mesma realidade: a vaca não pode ser vaca e cavalo ao mesmo tempo. Isso nos leva àquilo que o Papa chamou de “ditadura do relativismo” – não se pode impor nada a não ser a absoluta necessidade de ser relativista. Todos os que disserem conhecer uma “verdade” são considerados totalitaristas ou fundamentalistas.

Parte da nossa cultura jurídica sofre também deste mal: segundo esta cultura, seria necessário fazer um ordenamento jurídico que não possua “verdades”, mas apenas normas. Seria a norma que converteria a realidade em “verdade”. A “marcha da maconha”, ainda induzindo às drogas e incentivando o tráfico, é “liberdade de expressão” – segundo o Anteprojeto do Código Penal até mesmo o consumo pessoal de qualquer droga é lícito – enquanto defender a vida de um feto é um desrespeito à liberdade individual.

Desta crise da “verdade” nasce a crise do direito natural. Se não existe “verdade” não pode existir um verdadeiro modo de ser do homem. Sendo assim, todas as liberdades devem ser respeitadas, ainda que destruam a sociedade. A “liberdade” tomou o lugar da “verdade” – e não uma liberdade que busca o bem, mas uma simples liberdade de escolha. Esquecemos que o que deve guiar a sociedade é a busca do bem comum e não a busca dos bens individuais – e assim deixamos de ser uma sociedade fraterna e nos convertemos, como diria Hobbes, em lobos para os outros lobos.

ZENIT: No Anteprojeto, no art. 128, inciso IV fala-se da descriminalização do aborto quando a mulher, até a décima semana, quiser abortar, seguindo o parecer de um psicólogo. É lícito, moralmente falando, que uma mulher decida pela vida do seu filho? A lei tem o poder de definir isso? Não será injusto deixar para a mãe a decisão, principalmente na hora da fraqueza?

PE.HELIO – É necessário, primeiro, distinguir o texto escrito da intenção dada ao artigo – deixemos de lado se a confusão textual foi colocada de modo proposital ou não. O texto mencionado diz que o aborto, até a décima segunda semana de gestação (aproximadamente três meses), não poderia ser punido “quando o médico ou psicólogo constatar que a mulher não apresenta condições psicológicas de arcar com a maternidade”. Segundo o texto, o aborto não seria mais punido, pois se alguém decide abortar, é lógico que se sente – psicologicamente – incapaz de arcar com a maternidade. A Espanha, em 1983, aprovou o aborto com um texto bastante similar a este. As clínicas de aborto tinham psicólogos contratados somente para assinar os prontuários, sem nem mesmo conversar com as mães.

Por outro lado, o Anteprojeto apresenta na justificação do mesmo artigo e inciso – tal justificação não faz parte do texto oficial – que esta despenalização abordada no texto refere-se apenas a “estados psicológicos mórbidos, como a adicção por entorpecentes”. Parece-me que a comissão de juristas é suficientemente competente para redatar – se assim o quisesse – o texto do inciso de forma clara, contemplando somente esta intenção explicitada na justificação. Além disso, mesmo que o texto fosse claro para contemplar somente estes casos citados, não se poderia, nem deveria tomar tal decisão sem uma ampla consulta à sociedade, sendo esse um tema tão sensível aos brasileiros.