Meus sentimentos, minhas regras

Meus sentimentos, minhas regras
 por Francisco Razzo  [ 09/01/2019 ] [ 1:00 ] Atualizado em [ 09/01/2019 ] [ 13:07 ]
 Não me lembro direito em qual programa de rádio foi, mas esses dias ouvi um rapaz dizendo que a discussão sobre teoria de gênero não pode ter respaldo na biologia. Segundo ele, “a biologia estaria atrelada à moral cristã opressora” e por isso não pode servir de base para determinar a identidade de alguém. Homem e mulher não são o que são por causa de aspectos biológicos. O que determina cada um de nós são as nossas inclinações psíquicas.Na minha não tão humilde opinião, a sempre polêmica teoria da identidade de gênero tem um furo gigantesco: depende de uma concepção dualista da “natureza humana”, que é falsa. Dualista por reduzir o ser humano a duas realidades independentes e até conflitantes: o corpo biológico e a consciência subjetiva. E, por favor, isso não tem nada a ver com o filósofo René Descartes, que também tinha uma visão dualista do ser humano. Para Descartes, a alma humana é imortal e capaz de conhecer Deus como seu criador. Descartes, devoto de Nossa Senhora, não enclausurou o homem num psiquismo medíocre.
No caso da teoria da identidade de gênero, há uma confusão tanto no significado do corpo quanto no da vida psíquica. Reduzem os dois: o corpo é reduzido como objeto de estudo para o biólogo; a vida psíquica é vista como nada além da expressão do que sentimos internamente. Fora o maniqueísmo por baixo da causa: o corpo é mau; o sentimento de si, bom.Por exemplo. Uma menina, anatomicamente constatada menina, chega para os pais e diz: “me sinto menino”. Os pais, confiantes na pureza do desejo de seu única e linda filha, acatam a percepção interna que só a criança pode ter de si mesma e a bajulam com todos os mimos possíveis. Nada contra. Sou pai e por isso sei bem o quanto um pai zeloso tomaria a atitude de consultar um bom psicólogo antes de chamar a filha de filho. Na dúvida, recorrer a um especialista para ajudar nossos pequenos é a melhor atitude. Meu filho Davi, por exemplo, diz ser o Hulk. Não me oponho. Na infância eu gostava de me vestir como o Super-Homem, com cueca vermelha e tudo — mas vamos deixar isso pra lá.De qualquer forma, quem melhor do que a própria criança para compreender e fazer coincidir, por meio do charme e da doçura, sua percepção psicológica interna com sua natureza corporal externa? Psicólogos estão aí justamente para ajudar na batalha interior travada por cada um de nós. E fazem isso sem assumir responsabilidades pelas derrotas ou créditos pelas vitórias, pois o mérito em aceitar que “ter experiência psicológica interna do jeito que me satisfaz” como algo “normal” a ser “absolutamente compreensível pela sociedade” é apenas dos jovens. Não sei o que é olhar para o meu corpo e ver outra coisa senão a mim mesmo, portanto não tenho competência para falar dos dramas alheios.A experiência psicológica interna de se “sentir” alguma coisa diferente do que se é em carne e osso está baseada numa ideia de que o sentimento interno é infalível, pois fundamenta-se na pureza moral dos bons sentimentos. O corpo, determinado pela biologia, seria mais um obstáculo opressor que precisa ser subjugado pelas regras da experiência interior. A teoria da identidade de gênero paradoxalmente nega a identidade antropológica da relação “mente-corpo”. Ao negar, portanto, rejeita o corpo como realidade irrelevante para construção da própria experiência da identidade pessoal. Não sou meu corpo, sou o que sinto a respeito de mim mesmo. Meus sentimentos, minhas regras.A propósito, falando de dramas pessoais, eu recomendaria o leitor procurar uma página no Facebook chamada Special Books by Special Kids Group. Conta com um pouco mais de 2 milhões de seguidores. Na verdade, o SBSK, como são conhecidos, é uma organização criada pelo professor Christopher Ulmer, da Filadélfia, que faz vídeos com crianças de todos os lugares do mundo e com um objetivo nobre. Curiosamente, as crianças são portadoras de alguma necessidade especial severa que provoca grandes deformação no corpo. Os relatos dessas crianças têm o objetivo de garantir que nenhuma seja estigmatizada pelo que… são, enquanto encarnadas num corpo. A missão de Christopher é demostrar a preciosa relação entre corpo e identidade pessoal. Porque é disso que se trata: somos, literalmente, encarnados. Não faz sentido falar de identidade pessoal sem considerar o corpo.Uma concepção mais correta e abrangente de ser humano não faz a distinção entre corpo e mente como duas realidades antagônicas. Pelo contrário, de um ponto de vista da antropologia filosófica mais robusta, que eu pessoalmente prezo muito por seu apelo à singularidade pessoal, o corpo pode ser entendido de três maneiras: material, orgânico e intencional. Cada um de nós, na verdade, encarna essas três concepções sem excluí-las ou reduzir nosso “corpo próprio” a cada uma delas. Dessa forma, podemos pensar o ser humano a partir de uma visão universal, e isso para ficar apenas no componente “corporal” — sem considerar a vida psíquica e as capacidades intelectuais.Em alemão, há duas palavras para “corpo”: Körper e Leib, que os filósofos chamam de “corpo objeto” e “corpo sujeito”.O termo Körper se refere à estrutura, à construção ou ao suporte esquemático; enquanto Leib é a carne, o corpo vivido do interior por alguém. Körper é o “corpo objeto”, o corpo que eu tenho e cujo funcionamento depende de leis que não tenho controle. Trata-se do corpo que o biólogo estuda, por exemplo. O aspecto material corresponde à totalidade físico-química e do corpo e o orgânico à totalidade biológica. É um erro achar que somos só expressão desse corpo biológico. Já Leib, por sua vez, tem a ver com o caráter intencional da nossa experiência pessoal. Leib é o “corpo sujeito”, o corpo que eu sou e que você é e mediante o qual eu vivo minha vida e você a sua. Os filósofos chamam a essa dimensão intencional de corpo próprio. Para você que está vivo e lendo este artigo, ser e ter um corpo é vivê-lo da maneira intencional antes de vivê-lo como matéria física e orgânica.Eu fico impressionado como o debate público sobre teoria de gênero desconsidera essas dificuldades enquanto perde tempo discutindo se menino veste azul e menina veste rosa. Um tratamento mais adequado não só acerca da experiência de sofrimento psicológico, mas também sobre a própria noção de corpo ajudaria muito o debate, hoje reduzido em meras expressões de “corpo” como entidade biológica e “alma” como mera expressão de sentimentalismo tóxico.”Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/francisco-razzo/minha-sentimentos-minhas-regras/?webview=1

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“Mulher” trans no Miss Universo expõe as contradições do feminismo progressista

A adoção incondicional da ideologia transgênero permite que os machos biológicos usem o manto da feminilidade simplesmente afirmando que é seu direito inato. Nunca houve uma reivindicação mais patriarcal

Alexandra Desanctis National Review  [18/12/2018] [12h00] 

A mulher transgênero Angela Ponce, da Espanha, concorre durante o concurso Miss Universo 2018, em Bangcoc, Tailândia, em 16 de dezembro de 2018. LILLIAN SUWANRUMPHA/AFPNo famoso conto de Hans Christian Andersen, o imperador não tinha roupas. Hoje em dia, se o imperador coloca a roupa certa, ele pode se chamar de imperatriz. E todos nós temos que aplaudir. 

O concurso Miss Universo deste domingo apresentou, pela primeira vez na história de 66 anos do evento, uma mulher transgênero. Concorrendo como Miss Espanha, Angela Ponce entrou no concurso com muito aplauso, escrevendo em um post no Instagram: “Hoje estou aqui, orgulhosamente representando minha nação, todas as mulheres e os direitos humanos”.

Ponce não venceu, mas foi saudada pela mídia apenas por competir. “A Miss Filipinas, Catriona Gray, levou para casa a coroa no concurso de Miss Universo de 2018 na noite de domingo em Bangcoc, Tailândia, mas ela não foi a única vencedora da noite”, declarou o site da ABC News na manhã de segunda-feira. “A espanhola Angela Ponce se tornou a primeira transgênero da competição, um passo importante para o desfile de 66 anos.”

 “A espanhola Angela Ponce fez história como a primeira mulher transgênero a competir na Miss Universo”, afirmou o Yahoo News. A reportagem da NBC News sobre a competição nem sequer mencionou a vencedora até o quarto parágrafo do artigo, concentrando-se em celebrar como Ponce “quebrou barreiras”. 
Leia mais: O que é “ideologia de gênero”?
Toda essa fanfarra levanta a inevitável questão: Poderia Ponce realmente “representar todas as mulheres” sem ser uma mulher? Em nosso momento não científico, apenas ter a audácia de fazer essa pergunta é o suficiente para ser criticado em certos setores.

 Pense por um momento na realidade da biologia de Ponce — uma realidade que, não importa a quantidade de cirurgia plástica que Ponce consiga e independentemente de que Ponce realmente se pareça com uma mulher, não pode ser alterada. A tecnologia pode disfarçar essa verdade, mas nenhuma quantidade de remédio ou mutilação pode persuadir os cromossomos de Ponce à submissão.

 Leia mais: Presidenta e alunxs? O desafio da ideologia de gênero na sala de aula
Mas considere outra questão também, e talvez mais importante: Ponce pode viver como uma mulher transgênero sem nos forçar a entrar juntos nessa barca furada? O concurso Miss Universo, a mídia progressista e, cada vez mais, a ala esquerda da política americana, parecem acreditar que isso não é possível. 

Ponce disse à revista Time em novembro que ganhar o concurso seria simbólico: “As mulheres trans foram perseguidas e apagadas por tanto tempo. Se me derem a coroa, isso mostraria que as mulheres trans são tão mulheres quanto as mulheres cis ”. 
Essa é a farsa que estão nos forçando a aceitar. Não é suficiente dizer, como deveríamos, que a disforia de gênero é um fenômeno psicológico real, que uma sociedade justa e compassiva deve reconhecer a realidade da luta que pessoas como Ponce enfrentam, e que o bullying e o ódio dirigidos a tais pessoas são maus e errados. 

Leia mais: As consequências, no mundo real, de se submeter à ideologia de gênero
Nós também estamos destinados a cantar junto com a multidão que Ponce é uma mulher. Qualquer coisa menos que isso é transfobia. Decência e caridade já não são suficientes; afirmação e glorificação — idealmente diante de uma audiência tão grande quanto possível — são o único caminho aceitável. 

E o que essa nova fronteira do progressismo significa? O dogma inatacável de que as mulheres são constantemente oprimidas e subjugadas pelo patriarcado — que só podemos ser livres se reconhecermos e enfraquecermos a tirania do privilégio masculino branco que impede as mulheres de se expressarem e tomarem o controle de nossas vidas — exige que haja tal coisa como feminilidade, e que pode ser definida de forma consistente. 

A aparência muito elogiada de Ponce no concurso Miss Universo, por outro lado, implica a aceitação social da ideia de que os homens podem, de fato, ser mulheres. 
Leia mais: Ele mudou de gênero e se arrependeu. E conta as consequências
Essas duas doutrinas do progressismo brigam entre si. Mesmo se aceitarmos a noção de que alguns machos biológicos podem se sentir tão femininos que são essencialmente, de alguma forma intangível, mulheres, tal visão necessariamente entra em conflito com a afirmação feminista de que há algo único em ser mulher — e que a feminilidade merece ser protegida da invasão do poder masculino. 
A adoção incondicional da ideologia transgênero necessariamente, e intencionalmente, apaga a feminilidade. Ele permite que os machos biológicos usem o manto da feminilidade simplesmente afirmando que é seu direito inato. Nunca houve uma reivindicação mais patriarcal.

À medida que o partido democrata se aproxima da política de identidade, um choque dessas duas identidades se vislumbra no horizonte. Em um movimento “intersecional”, onde grupos minoritários recebem mais dinheiro por terem experimentado mais opressão, as mulheres que lutam contra o patriarcado poderiam facilmente ser excluídas por mulheres transexuais que insistem que seu status de minoria e experiência com estigma lhes dão o trunfo da vitimização. 
Talvez a extrema esquerda acredite que, se seus membros forçarem os céticos a concordar com a pompa de Ponce, eles podem evitar as cismas inerentes a um movimento que afirma valorizar o feminismo, enquanto insiste que ser mulher não tem nenhum significado.

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/mulher-trans-no-miss-universo-expoe-as-contradicoes-do-feminismo-progressista-e888ezz4fzsflxab7fbtgtyrz/app

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Horror: bebê ‘sobrevivente’ agoniza por 10 horas depois de aborto e morre em bandeja.

08 dez 2018 Por Carmadélio Souza

No hospital Masvernat, em Concordia, Entre Ríos na Argentina, uma menor de idade abortou no quinto mês de gravidez. Os médicos resistiram a fazê-lo porque entenderam que não era por abuso. Mas um novo juiz de família sem carreira judicial , Belén Esteves, ordenou que o aborto fosse realizado pelo protocolo provincial da ILE.
O bebê nasceu vivo. Seu pequeno corpo era apoiado no “plano” sem que ninguém ousasse encerrar sua existência, assumindo que sua suposta “inviabilidade” imediatamente faria com que o batimento de seu coração parasse. Mas isso não aconteceu:

Ele permaneceu vivo “cerca de dez horas”, disseram profissionais de saúde. Médicos, enfermeiras e testemunhas ultrajadas descrevem a atitude desumana como “abandono da pessoa”. O estupor chegou ao Serviço Neonatal, que não recebeu intervenção para prestar assistência mais digna à criança já nascida.
7 médicos apresentaram sua objeção de consciência porque o caso mostrou a natureza aterrorizante do protocolo de aborto não punível.

«Em Concórdia, nos declaramos« Ciudad Provida ». Estamos indignados com esta tragédia e não nos permitiremos ser impostos por essas práticas desumanas em nossa cidade ”. e eles exigem: “Pedimos ao governador Bordet para eliminar o protocolo de aborto não-punível”. Para concluir, os médicos dizem: “Não queremos que mais mortes sejam causadas por crianças. Nenhum tratamento mais desumano para crianças vítimas de aborto. Direito à vida para todos, sem excluir ninguém ».

Na declaração, que faz parte de uma campanha nas redes sociais, inclua os perfis do Governador Gustavo Bordet ( https://twitter.com/bordet ) para que aqueles que queiram se juntar ao pedido enviem uma mensagem direta.
O Bispo da Concórdia: «Nenhum protocolo pode alterar a Constituição que protege a vida»

O Bispo de Concordia, Dom Luis Armando Collazuol, expressou sua “profunda tristeza” para o caso de aborto realizado em um hospital público na cidade enterriana um adolescente no quinto mês de gravidez, por ordem judicial, e cujo bebê nasceu com vida e deixou-o a agonizar por dez horas.

“Nenhum direito individual pode justificar a eliminação da vida humana que não pode ser defendida. Quando uma mulher está grávida, não falamos de uma vida, mas de duas, a da mãe e a do seu filho ou filha em gestação. Ambos devem ser preservados e respeitados. O direito à vida é o direito humano fundamental “, disse ele em um comunicado.

‘Não’ protocolo de ação’ pode alterar o conteúdo da Constituição como proteger a pessoa humana desde a concepção, ou o correspondente direito à vida garantido flagrantemente pela Constituição e tratados internacionais incorporados em nossa Constituição, com hierarquia constitucional “, disse ele.

Monsenhor Collazuol pediu às autoridades provinciais emitir uma decisão de anular o “Protocolo para o atendimento integral das pessoas com direito a rescisão legal da gravidez”, e endossou as palavras do Papa Francis em matéria de proteção do nascituro .
“A defesa do inocente que não nasceu … deve ser clara, firme e apaixonada, porque a dignidade da vida humana, sempre sagrada, está em jogo, e é exigida pelo amor de cada pessoa além de seu desenvolvimento”, concluiu, citando a exortação apostólica Gaudete et exsultate.

Fonte Original da notícia AQUI

“Definitivamente satânica”: um exorcista fala da ideologia de gênero

Este exorcista está convencido de que “a forma como essa coisa de gênero tem se espalhado é demoníaca”, por mais que as pessoas não enxerguem, ou se recusem a fazê-lo.

Crianças “treinadas” desde cedo para “descobrir” a própria sexualidade ou questionar o próprio “gênero”, pais punidos pelo Estado por não aceitar que seus filhos recebam a “educação sexual” tendenciosa da escola, programas de TV cada vez mais abertamente ideológicos e pervertidos, inclusive para o público infantil… A lista de investidas que os ideólogos de gênero têm promovido nos últimos anos, em todas as áreas, parece não ter mais fim. Talvez seja necessário, em um futuro próximo, isolar-se numa caverna para escapar à sua influência.

Um episódio recente de promoção dessa agenda — protagonizado pela famosa cantora Celine Dion, cuja posição favorável à família e contra o divórcio já foi elogiada em outros tempos por sítios católicos — acendeu o alerta de muitos para o poder de sedução e de manipulação dessa ideologia. A artista fez campanha para a linha internacional de roupas infantis “NuNuNu”, inaugurando uma marca com a finalidade de “liberar as crianças dos papéis tradicionais de menino e menina”.

Não fosse isso o suficiente, a empresa em questão tem em seu histórico um mural de fotos para lá de controverso, com máscaras sem rostoespelhos refletindo caveirasbodes segurando livros infantiscrianças com tatuagens de piratas e anéis sombrios.

Para o monsenhor John Esseff, padre há 65 anos e exorcista experiente, que conversou com a escritora católica Patti Armstrong, colunista de National Catholic Register, “a forma como essa coisa de gênero tem-se espalhado é demoníaca”. O sacerdote exerce seu ministério na diocese de Scranton, no estado norte-americano da Pensilvânia, já foi diretor espiritual de Santa Teresa de Calcutá e ajudou a fundar e dirigir um instituto de formação para exorcistas.

“Quando uma criança nasce”, ele se pergunta, “quais as primeiras coisas que se dizem dela? Que é um menino ou que é uma menina. É a coisa mais natural do mundo de se dizer. Dizer que não há nenhuma diferença, ao contrário, é algo satânico. Eu não sei nem mesmo quantos gêneros deve haver agora, mas há apenas dois criados por Deus.”

Ainda que o demônio esteja em guerra com a humanidade desde o princípio, o padre John destaca que os ataques satânicos neste período da história têm-se tornado mais intensos. “O maligno sente que, de alguma forma, ele pode fazer essas coisas sem ser reconhecido. Ele é um mentiroso, e há grandes mentiras sendo contadas.”

Diante das fortes declarações do exorcista, houve quem sugerisse na internet que religiosos contrários à ideologia de gênero estariam acusando de “satanismo” a cantora Celine Dion. De fato, tanto o comercial quanto a marca apoiada por ela encontram-se repletos de elementos sombrios e perturbadores. Mas, ainda que não fosse o caso, nem por isso a proposta veiculada se tornaria menos perigosa. Muito pelo contrário, quanto mais disfarces usa o demônio, maior o seu poder de infiltração e conquista.

Trata-se, a propósito, de um grande erro da nossa época em relação ao mal: achar que a ação do demônio limita-se a rituais ocultistas, a possessões ou a manifestações malignas evidentes e indisfarçáveis. Não, o que o sacerdote acima está alertando é que Satanás age de modo sutil, muitas vezes “sem ser reconhecido”.

Como consequência de as pessoas não mais acreditarem na Verdade, não mais terem fé na Revelação divina, não mais levarem a sério o Credo e os preceitos da religião cristã, não mais escutarem a Palavra de Deus, elas acabam dando ouvidos às mentiras e ilusões do inimigo de Deus — entre as quais se inclui justamente a ideologia de gênero.

O Papa Bento XVI notou certa vez, com perspicácia, que por trás dessa ideia de que, à parte sua sexualidade como dado natural, o ser humano poderia moldar como bem entendesse o seu “gênero”, está uma “revolução antropológica”, uma noção não só herética de humanidade, mas avessa à própria razão natural. Não estivessem já confundidos pelas ideologias e obstinados em sua malícia, os homens de nossa época seriam facilmente curados com uma simples aula de catequese. Se desde crianças tivessem aprendido que o ser humano é corpore et anima unus — “uno de corpo e alma”, na expressão do Catecismo (n. 362) —, não se deixariam enganar por uma ideia tão maluca e distante tanto do bom senso quanto da realidade das coisas.

Ideias como essa, no entanto, não são apenas “mentirinhas” de mau gosto, contos sem nenhuma influência no dia-a-dia das pessoas… Quantas vidas não foram e não estão sendo “transtornadas”, no sentido mais literal da palavra, por uma teoria supostamente “científica” e com ares de modernidade!

Ponhamos de vez em nossa cabeça: a falta de fé e, com ela, as heresias e apostasias de nosso tempo não são inofensivas, ao contrário do que nossa época liberal tem sido levada a acreditar. Não é preciso invocar espíritos maus ou praticar rituais satânicos para estar a serviço do Anticristo. Na verdade, nunca foi tão fácil pertencer a esse corpo maligno que, “macaqueando” o Corpo místico de Cristo, a Igreja, constrói um verdadeiro império, e de proporções mundiais.

Se Santo Tomás de Aquino já falava, no século XIII, do Anticristo como cabeça dos maus (cf. Suma Teológica, III, q. 8, a. 8), nunca como agora esse organismo teve contornos tão nítidos, tão visíveis e tão… humanos. Na educação, nos governos civis, nos meios de comunicação, o satânico está por toda parte — e a ideologia de gênero é apenas um instrumento, muito poderoso e destruidor, desse sistema perverso.

Ser médico católico hoje exige heroísmo

Ser médico católico hoje exige heroísmo

BERNARD ARS

Listas de espera, especulação financeira, depressão, pressão para promover a eutanásia, gravidez de aluguel… Os desafios que os médicos enfrentam hoje em dia são numerosos e, para alguns, inéditos. Entrevista com o Dr. Bernard Ars, novo presidente da Federação Internacional das Associações dos Médicos Católicos

À frente da Federação Internacional das Associações de Médicos Católicos (FIAMC) há alguns meses, o Dr. Bernard Ars, professor universitário (PhD) e especialista em otorrinolaringologia e cirurgia cérvico-facial, definiu três prioridades: “estimular a compaixão particular que nós, médicos católicos, devemos desenvolver diante da precariedade vital e social, espalhando a antropologia e a moral cristã, assim como o justo diálogo entre Fé, Razão e Ciência, permanecendo fiéis à Igreja e a seu Magistério, e aumentar nossa vida interior”.

A FIAMC é composto por 80 associações que representam cerca de 120.000 membros de todo o mundo. Tem uma missão dupla: por um lado, fortalecer os médicos que se comprometem com a federação por sua fé em Jesus Cristo, para ajudá-los a aplicar a mensagem do Evangelho em sua prática diária. Por outro lado, informar a Santa Sé das realidades e evoluções da medicina em relação à clínica e à pesquisa.

– Aleteia: Os médicos católicos estão cada vez mais em situações onde eles devem reivindicar o direito à objeção de consciência, porque os sistemas de cuidados de saúde os obrigam a práticas contrárias à dignidade humana: manipulação genética, eutanásia, aborto… O que você recomenda a esses médicos?

Dr. Bernard Ars: Por um lado, eu os aconselho a estarem sempre cientes de que a cláusula de consciência está incluída em todos os seus contratos com uma instituição ou um colaborador, bem como na legislação de seus países e, por outro lado, formar adequadamente sua própria consciência moral ao longo de sua vida estudando a antropologia cristã e estimulando momentos de revitalização da vida interior.

– O que diz a cláusula de consciência?

O dever da objeção de consciência manifesta a grandeza da dignidade humana. Uma pessoa nunca pode ser forçada a cometer um mal moral. Ela não pode consciente e deliberadamente aderir a uma ação que destrói sua própria dignidade. A liberdade do ser humano é um reflexo da imagem e semelhança que Deus imprimiu de Si mesmo no coração dessa pessoa. Essa pessoa não pode usar sua liberdade para apagar o reflexo da presença de Deus nela.

É por isso que deve resistir às leis humanas injustas. Este foi o caso em certos momentos da história com a discriminação racial e o apartheid, é o caso hoje com o aborto, a eutanásia e outros atos inconciliáveis com a dignidade da pessoa. Se um médico católico se opõe a certas práticas, não é porque seja católico em primeiro lugar, mas porque é uma pessoa, um ser que ouve a voz de sua consciência, iluminada e confirmada pela doutrina da Igreja.

Todos conhecemos a anedota do cardeal Newman, a quem perguntaram se brindaria antes pela consciência ou pelo Papa. Quando ele respondeu que iria levantar a taça primeiro pela consciência e, em seguida, pelo Papa, não tinha a intenção de se opor ao cristão, contra a Igreja, mas honrar a voz única da verdade cujo eco soa primeiro na consciência do cristão, com a confirmação, se fosse necessário, do juízo da Igreja.

– O Papa e a Santa Sé recorrem a sua associação para aprender sobre problemas de bioética. Como o relacionamento com o Vaticano é articulado?

Nossas trocas de informações não dizem respeito apenas a problemas de bioética. A medicina está envolvida em muitas áreas do ser humano: pesquisa científica, cultura, família… Os problemas de bioética são essencialmente da responsabilidade da Academia Pontifícia para a Vida, que depende do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida. Quanto à FIAMC, depende do Dicastério para o Serviço de Desenvolvimento Humano Integral.

– Quais são as questões éticas que hoje são colocadas aos médicos católicos?

Os problemas éticos encontrados pelos médicos católicos variam em intensidade, de acordo com a prática e as regiões do mundo. Por exemplo, os clínicos gerais enfrentam dificuldades éticas e deontológicas no relacionamento pessoa a pessoa. Especialistas médicos enfrentam dificuldades éticas referentes à dominação da tecnociência, à indústria, especialmente a farmacêutica, bem como o consumismo sanitário.

Por último, os pesquisadores médicos enfrentam dificuldades éticas relacionadas aos objetivos e estratégias de trabalho, bem como os laços de financiamento. Muitas vezes, nos últimos anos, a bioética tem sido interpretada e instrumentalizada ideologicamente de maneira inconsistente com seus objetivos iniciais, que eram a defesa da vida e do ser humano, e também a visão cristã da pessoa. Para devolver seu profundo sentido à bioética, é importante formar consciências morais baseadas em uma antropologia cristã atualizada, orientada para o bem comum.

– A medicina contemporânea, baseada no hospital e no big data, corre o risco de perder a relação médico-paciente. Como seria possível recuperar o papel do médico em nossa sociedade?

Além do verdadeiro problema ético do big data, a coleta automatizada de dados do paciente permite um diagnóstico rápido e uma terapia precisa. Embora seja, sem dúvida, um progresso no tratamento de doenças, a tecnicidade da medicina científica tende a reduzir o contato entre médico e paciente a um inventário do desempenho objetivo de funções biológicas essenciais.

No entanto, o paciente espera algo mais do médico. Embora certamente não é indiferente à dor e ao sofrimento de seu corpo e à ameaça que uma doença representa para seu futuro e de seu ambiente, o paciente também espera do médico que lhe ensine a viver com a doença.

– Mas, como você ajuda os doentes a desenvolver sua resiliência?

No paciente, a resiliência é um processo dinâmico e interativo entre você mesmo, sua família e seu meio ambiente e que lhe permite desenvolver uma trajetória nova e bem-sucedida, mudando a representação da realidade que lhe causa mal. Para isso, nós médicos devemos mostrar empatia, apoio, e saber escutar. Ouvir significa dar todo o valor que a palavra do outro merece. Através da escuta aprendemos do paciente o que ele está sentindo, assim como os meios para lidar com isso.

Para que a escuta seja frutífera e benéfica para o paciente, é conveniente respeitar seu ritmo. Não tente forçar as confidências e também devemos discernir o momento favorável para terminar a conversa. A resiliência é um processo de longo prazo. Somente deixando que o tempo faça seu trabalho pode nascer um “novo” modo de vida a partir da doença. Você tem que dar tempo ao tempo. Para que esse momento difícil seja suportável, precisamos saber como vivenciá-lo dia a dia.

– Então, como é dito no Evangelho de Mateus, “basta a cada dia o seu próprio mal”?

Todos os dias há muitas dificuldades, mas cada um tem a coragem de enfrentá-las. Devemos ajudar o paciente a receber os recursos que cada dia oferece e saber como deixar para trás, com confiança, o dia que termina. Mesmo nas piores condições, o ser humano tem a capacidade de se afastar das más circunstâncias usando o humor. Vamos ser receptivos e interativos! “Os homens são fortes enquanto representam uma ideia forte”, disse Freud.

É em torno dessa ideia forte, desse sentido que dá coerência à sua vida, que o ser humano pode ser construído e reconstruído. “Você tem que encontrar o sentido, porque é um objeto de busca, mas em nenhum caso deve ser dado. Cabe ao paciente encontrá-lo por si mesmo”, disse o professor de neurologia e psiquiatria Viktor Frankl. Além disso, o médico católico, além de sua competência científica e empatia humana, é também uma alma que vê Cristo sofrendo em sua doença e reza pelo homem ou mulher que sofre.

– Muitos médicos católicos exercem sua profissão em circunstâncias de extrema pobreza. Existe uma mensagem que você gostaria de passar para esses médicos?

Aos meus queridos colegas, sem dúvida, faltam ferramentas básicas de diagnóstico e terapias atualizadas para cuidar de seus pacientes e salvar vidas humanas. Eu diria a eles que não hesitem em alertar, por todos os meios a sua disposição, as organizações internacionais e seus círculos mais próximos para atenuar a gravidade de sua situação. Não obstante, saibam que são os melhores de nós, sua empatia é mais desenvolvida, e vocês compreendem melhor do que ninguém a angústia dos doentes.

Saibam também que muitos de nós oramos por vocês. E quando nós, médicos, não temos nada mais eficaz a propor que enfrentar a doença e o sofrimento, sempre temos nosso acompanhamento, nossa escuta e nosso tempo para oferecer. Trazemos sempre a esperança. Podemos sempre oferecer, por último e não menos importante, a ajuda poderosa da oração.

– Você poderia nos contar um pouco sobre sua trajetória? Por que decidiu se dedicar à medicina? E como médico cristão?

Eu escolhi a medicina com 17 anos porque era uma profissão de relacionamento humano – de dar e receber – e porque eu sentia que poderia ser feliz praticando-a. Escolhi a otorrinolaringologia porque essa especialidade me dava, em proporções iguais, as alegrias das consultas clínicas, da cirurgia e dos trabalhos funcionais.

Quanto à vocação de médico cristão, não a escolhi na realidade. Ela veio devagar e suavemente. Eu sempre fui crente e praticante. No entanto, diante dos problemas e sofrimentos da vida, a prática cristã e também a minha vida de oração com Jesus me pareciam a única e verdadeira forma de vida.

– Gostaria de dar alguns conselhos aos jovens cristãos que querem se tornar médicos?

Comprometa-se onde quer que seu coração te chame! E quando assumir o compromisso, pratique sem cessar, no nível científico e técnico e de forma contínua. É uma questão de profissionalismo! Mas faça isso também no nível cultural, artístico, filosófico e mesmo teológico, a fim de ter a maior abertura humanística possível na escuta de nossos pacientes.

Com efeito, o paciente que vem nos consultar vem falar de si e espera que o médico ouça e responda. Ele está passando mal. Pode se sentir excluído. A resposta ao paciente se faz de maneira aberta sobre a doença. Isso leva o paciente a refletir sobre si mesmo e a doença que o aflige. A doença arredia e, mais ainda, a morte, podem aparecer como um limite para a eficácia médica. A tendência natural seria escapar dessa doença ou morte, mas o importante é estar disponível para que o paciente não se sinta sozinho diante dessa experiência.

O médico não é dono da vida ou da morte do paciente que lhe foi confiado. Ele não tem seu paciente, mas ele está a serviço da vida da pessoa que sofre. O médico católico vive de Cristo. Tem uma unidade vital, uma coerência em todos os aspectos da sua vida, que implica não só uma competência profissional e responsável, científica e técnica, em colaboração com as outras disciplinas sanitárias mas, acima de tudo, uma vida interior forte e cotidiana, bem como um conhecimento profundo da visão cristã do ser humano.

Em suma, uma antropologia cristã atualizada, expressada tanto na pesquisa quanto na clínica, em uma palavra, na cultura. A medicina não é uma ciência, é uma arte. É a profissão mais bonita do mundo!

300 milhões de cristãos são perseguidos hoje no mundo – e sua situação piora

RED WEDNESDAY

Há até países em que a situação se manteve inalterada na comparação com o relatório anterior porque já era tão grave que não tinha como piorar

Foi apresentado em Roma na última quinta-feira o XIV Relatório da Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, pela sigla internacionalmente adotada em inglês).

O relatório demonstra, em números e fatos documentados, que a perseguição religiosa continua dramática em pleno terceiro milênio, sendo os cristãos os mais perseguidos, discriminados e oprimidos em todo o planeta, em diferentes contextos.

Informações que destacam a mesma conclusão têm sido divulgadas também por organismos laicos, como a USCIRF, sigla em inglês da Comissão dos Estados Unidos para a Liberdade Religiosa Internacional, e a International Society for Human Rights, uma ONG de Frankfurt, na Alemanha, bem como por entidades ligadas ao protestantismo, como a associação norte-americana Open Doors e o Center for the Study of Global Christianity, do Gordon Conwell Theological Seminary, uma instituição evangélica de South Hamilton, no Estado norte-americano de Massachusetts.

O relatório da ACN

PERÍODO – O período examinado vai de junho de 2016 a junho de 2018.

CONTEÚDO – No estudo, são apresentados incidentes e episódios significativos, relatados graças ao trabalho de parceiros do projeto presentes em mais de 150 países. Entre tais casos contam-se conversões e casamentos forçados, atentados, sequestros, destruição de locais de culto e de símbolos religiosos, prisões arbitrárias, acusações de blasfêmia, regulamentos para o controle de assuntos religiosos e várias medidas para a limitação do culto público.

PAÍSES – São 38 os países em que mais abertamente são discriminados ou perseguidos os cristãos e os fiéis de outras confissões diferentes da majoritária. Na maioria dos casos, a religião majoritária nesses lugares é o islamismo, mas há também países em que a discriminação e a perseguição vêm do laicismo ateísta imposto pelo governo, como na China e na Coreia do Norte. Desses 38 países em que são registradas violações graves ou extremas da liberdade religiosa, 21 são classificados como “lugares de perseguição” e 17 como “lugares de discriminação”:

  • Os 21 “lugares de perseguição” são o Afeganistão, a Arábia Saudita, Bangladesh, a Birmânia, a China, a Coreia do Norte, a Eritreia, a Índia, a Indonésia, o Iraque, a Líbia, o Níger, a Nigéria, o Paquistão, a Palestina, a Síria, a Somália, o Sudão, o Turcomenistão, o Uzbequistão e o Iêmen.
  • Os 17 “lugares de discriminação” são a Argélia, o Azerbaijão, o Butão, Brunei, o Egito, a Federação Russa, o Irã, o Cazaquistão, o Quirguistão, o Laos, as Maldivas, a Mauritânia, o Catar, o Tadjiquistão, a Turquia, a Ucrânia e o Vietnã.

NÚMEROS – 300 milhões de fiéis sofrem discriminação e perseguição atualmente no mundo. 61% dos cristãos vivem em países onde a liberdade religiosa não é respeitada. 1 em cada 7 cristãos vive hoje num país onde a perseguição é uma realidade dramática do cotidiano.

PIORA – Durante o período analisado, a situação piorou em 17 desses 38 países. Em outros, como a Coreia do Norte, a Arábia Saudita, a Nigéria, o Afeganistão e a Eritreia, a situação se manteve inalterada porque, segundo a ACN, ela já é tão grave que não pode piorar.

ESPERANÇAS – Foi registrada, por outro lado, uma queda brusca nas violências perpetradas pelo grupo islâmico fanático Al-Shabaab, o que levou a Tanzânia e o Quênia, anteriormente classificados como “países de perseguição”, a voltarem ao grupo dos “não classificados”. Destaca-se igualmente o sucesso de campanhas militares contra o Estado Islâmico e outros grupos hiper-extremistas islâmicos em regiões da África e do Oriente Médio, embora eles ainda não tenham sido derrotados de modo definitivo.

FUNDAMENTALISMO E ULTRANACIONALISMO – Além do fundamentalismo de matriz islâmica, foi registrado como “tendência preocupante” o aumento de um ultranacionalismo agressivo contra minorias ou mesmo contra quaisquer crenças religiosas, como ocorre há décadas na Coreia do Norte e na China. Esta, ao longo dos últimos dois anos, adotou novas medidas para reprimir grupos religiosos percebidos como “resistentes ao domínio das autoridades comunistas”. No entanto, um fenômeno similar ocorre também na Índia, país em que vêm sendo evidenciados cada vez mais atos de violência motivados por ódio religioso. Um deputado indiano chegou recentemente a descrever as minorias religiosas como “ameaça à unidade do país”, que, para os ultranacionalistas, deve ser exclusivamente hinduísta.

ANTISSEMITISMO – O relatório ressalta ainda que “o período em análise viu um aumento do antissemitismo na Europa, fenômeno frequentemente ligado ao crescimento do islamismo militante. Na França, onde a comunidade judaica é a mais populosa da Europa, com cerca de 500.000 judeus, foi registrado um pico bem documentado de ataques antissemitas e de violência contra centros culturais e religiosos judaicos”.

AVERSÃO AO ISLà– A aversão às minorias islâmicas também aumentou significativamente no período analisado, motivada por uma onda de ataques terroristas no Ocidente, em particular na Europa. O relatório observa: “A maioria dos governos ocidentais não conseguiu fornecer a assistência necessária e urgente aos grupos religiosos minoritários, em particular às comunidades de pessoas deslocadas que desejam voltar para as suas respectivas nações, das quais foram forçadas a fugir”.

Pronunciamentos

Durante a apresentação do relatório, pronunciaram-se o cardeal Mauro Piacenza, presidente internacional da ACN; dom Boutros Fahim Awad Hanna, bispo copta católico de Minya, no Egito; Tabassum Yousaf, advogado do Supremo Tribunal de Sindh, no Paquistão, e defensor de vítimas de perseguição religiosa; e Marta Petrosillo, porta-voz da ACN-Itália.

cardeal Piacenza recordou que os cristãos contribuíram para o correto amadurecimento da ideia de liberdade e tiveram um papel não somente no âmbito religioso, mas também no histórico e cultural:
“A liberdade religiosa não é um direito dos muitos; é, antes, uma rocha sobre a qual todos os direitos humanos se arraigam firmemente, porque se refere à dimensão transcendente da pessoa humana. Na liberdade religiosa há liberdade de pensamento e até mesmo a liberdade para se distanciar do elemento religioso”.

Dom Hanna testemunhou que, no Egito, a liberdade religiosa faz parte da constituição nacional, mas, na prática, resta muito a ser feito para a sua plena aplicação.

Tabassum Yousaf relatou, em seu depoimento, as dramáticas intimidações sofridas pelos cristãos no Paquistão, um país que adota arbitrariamente a chamada “lei antiblasfêmia” para perseguir cristãos, fiéis de outras minorias religiosas e até mesmo outros cidadãos muçulmanos vistos como adversários políticos.

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A partir de informações do Vatican News

Apresentadora espera bebê com anencefalia e avisa: “Não vamos abortar”

anencefalia

“Deus tem um plano para ela”, declarou a profissional, junto com o esposo

Apresentadora do canal norte-americano Wish TV, Brooke Martincomunicou no início deste mês que espera uma bebê diagnosticada com anencefalia e acrescentou que, junto com o marido, Cole, decidiu não abortá-la.

“Nossa bebê foi diagnosticada com anencefalia, uma doença rara que faz com que o crânio do bebê não se desenvolva. Descobrimos que é uma menina e que ela não tem possibilidade de sobreviver, mas decidimos prosseguir com a gravidez até quando ela continuar viva”.

A fé de Brooke e do esposo foi a inspiração para o nome da pequena:

“Escolhemos o nome dela: Emma Noelle. Os dois nomes, juntos, soam como Emmanuel, que significa ‘Deus conosco’”.

Anencefalia e manipulação ideológica

Os casos de anencefalia são frequentemente utilizados ​​como um “argumento” para se legalizar o aborto. Entretanto, a forma de tratar o assunto costuma ser impregnada de manipulação emocional unilateral, chegando-se a empregar, em certos discursos pró-aborto, expressões como “gestar um funeral” para “descrever” a gravidez de um bebê com esta condição.

É fato que ainda não existe nenhum tratamento padrão para a anencefalia e que a quase totalidade dos bebês anencéfalos morre logo após o nascimento. No entanto, há muitas controvérsias quanto à forma de lidar com esta situação por parte da gestante e da sua família, com testemunhos de mulheres que levaram a gravidez adiante e consideraram que esta decisão foi determinante para o seu próprio processo de cura psicológica. Trata-se de um processo de aceitação, superação e cura mediante a escolha da vida, semelhante ao que ocorre quando uma vítima de estupro consegue fazer a objetiva separação entre o trauma da violência sexual e a inocência do bebê gestado nesse ato de violência: há muitos relatos de mães para quem o bebê se revelou um “bálsamo” capaz de saná-las, em contraposição aos relatos de vítimas que optaram pelo aborto e depois constataram que, além de manterem o trauma do estupro, ainda acrescentaram a ele o trauma do aborto. Esta perspectiva, porém, é frequentemente omitida no debate público.

Um plano de Deus

Brooke e Cole, que já são pais do pequeno Max, hoje com 2 anos, complementam:

“Estamos desolados. Estamos muito tristes. Por outro lado, temos a certeza de que Deus tem um plano para Emma e ​​que Ele vai redimir a sua história”.

Enquanto Cole se declara orgulhoso da esposa e “da forma como ela lidou com a notícia“, Brooke prossegue:

“Normalmente, um bebê com anencefalia morre. Existe a possibilidade de que possamos perdê-la até antes do parto (…) Nós sabemos que algum dia vamos poder estar com ela na eternidade. E esta é a nossa confiança. Esta é a nossa esperança”.

O milagre de Lourdes que converteu um ganhador do Nobel

ALEXIS CARREL

Ele aceitou ir a Lourdes pensando em comprovar pessoalmente a falsidade dos supostos milagres – mas acabou presenciando um deles

Desde a primeira aparição da Santíssima Virgem Maria à menina francesa Bernadette Soubirous, a água da gruta de Lourdes tem sido fonte de curas milagrosas, tanto para quem visitou a gruta quanto para quem usou a água em lugares distantes. Desde a época de Bernadette, mais de 7.000 curas milagrosas foram relatadas ao Departamento Médico de Lourdes por peregrinos que visitaram o santuário. Este número não inclui os casos ocorridos fora de Lourdes.

LOURDES GROTTE

Jean-Paul Corlin I CC BY-SA 4.0

Havia tantas curas supostamente associadas à água e à gruta de Lourdes que a Igreja Católica decidiu criar o Departamento Médico de Lourdes, a ser constituído e liderado por médicos e cientistas. O objetivo do “Bureau“, como também é chamado, é avaliar os alegados casos milagrosos e verificar, entre outros critérios, se a cura em questão foi quase instantânea, se a saúde restabelecida se manteve durante todo o resto da vida e se a cura é cientificamente inexplicável. O Bureau é constituído por 20 médicos e cientistas. Seus registros estão abertos a qualquer médico ou cientista que queira fazer a própria investigação particular ou contestar qualquer caso específico reconhecido como “milagroso”.

Um dos casos mais significativos já registrados em Lourdes foi a cura de Marie Bailly, testemunhada por um médico então agnóstico, o Dr. Alexis Carrell. Ele próprio acabou se convertendo à fé católica depois de estudar a inexplicável cura que tinha presenciado.sua conversão.

O milagre de Marie Bailly

Em 1902, um amigo médico do Dr. Carrell o convidou para ajudar a cuidar de pacientes doentes que eram transportados por trem de Lyon até Lourdes. Carrell, na época, não acreditava em milagres, mas concordava em ajudar por amizade e pelo interesse em descobrir as causas naturais que permitiam curas tão rápidas como as que aconteciam em Lourdes.

No trem, ele encontrou uma mulher chamada Marie Bailly, que sofria de peritonite tuberculosa aguda. Seu abdômen estava consideravelmente distendido, com grandes massas duras. Marie estava apenas parcialmente consciente. Carrell acreditava que ela morreria muito rapidamente depois de chegar a Lourdes – ou até antes. Outros médicos presentes no trem concordaram com esse diagnóstico.

Assim que o trem chegou a Lourdes, Marie foi levada até a gruta, onde três jarros d’água foram derramados sobre seu abdômen distendido. Após o primeiro derramamento, ela sentiu uma dor lancinante, que diminuiu depois do segundo. Após o terceiro derramamento d’água, ela experimentou o que descreveu como uma sensação agradável. Seu estômago começou a se achatar e seu pulso voltou ao normal.

Carrel estava em pé logo atrás de Marie, junto com outros médicos, tomando notas enquanto a água era derramada sobre seu abdômen. Ele escreveu:

“O abdome, enormemente distendido e muito duro, começou a se achatar. Em 30 minutos [a protuberância] havia desaparecido completamente. Nenhuma descarga foi observada do corpo”.

Marie, pouco depois, se sentou na cama, jantou (sem vomitar) e, no dia seguinte, saiu da cama sozinha e se vestiu. Embarcou no trem, sentou-se em um dos bancos duros e chegou a Lyon revigorada.

Carrel continuou interessado em suas condições psicológicas e físicas e pediu que ela fosse monitorada por um psiquiatra e um médico durante quatro meses. Depois desse tempo, Marie se juntou às Irmãs da Caridade para trabalhar com os doentes e os pobres em uma vida bastante árdua. Ela faleceu em 1937, aos 58 anos.

A conversão de Carrel

Quando Carrel testemunhou esse evento inacreditavelmente rápido e medicamente inexplicável, acreditou ter visto o que as pessoas chamavam de milagre, mas era difícil, para ele, apartar-se do antigo agnosticismo cético.

Além disso, ele não queria ser testemunha, como médico, de um evento milagroso: Carrel sabia que, se o caso se tornasse público, a sua carreira na faculdade de medicina de Lyon se arruinaria.

Mas a cura de Marie Bailly se mostrava tão evidentemente milagrosa, por ter sido tão rápida, tão completa e tão inexplicável, que acabaria se tornando pública de qualquer forma na mídia da França e do mundo todo. Repórteres chegaram a publicar que Carrel não considerava que a cura tivesse sido um milagre, o que o forçou a escrever uma resposta pública. Em sua manifestação, o doutor afirmou que um lado, composto por crentes, tinha chegado rapidamente demais à conclusão de que ocorrera um milagre, mas também declarou que o outro lado, composto pela comunidade médica, tinha se recusado injustificadamente a reconhecer fatos que pareciam de fato milagrosos.

Como Carrel temia, a sua defesa da possibilidade da cura milagrosa de Bailly causou o fim da sua carreira na Faculdade de Medicina de Lyon. Ironicamente, porém, o efeito foi muito positivo para o seu futuro: ele se transferiu para a Universidade de Chicago e, depois, para a Universidade Rockefeller. Graças ao seu trabalho em anastomose vascular, Carrel recebeu nada menos que o Prêmio Nobel de Medicina de 1912.

Ele ainda retornaria muitas vezes a Lourdes, e, em uma das ocasiões, testemunhou um segundo milagre: a cura instantânea de um menino cego de 18 meses.

Apesar desses dois milagres que viu com os próprios olhos, Carrel relutou até 1942 antes de finalmente conseguir afirmar conclusivamente a realidade dos milagres. Naquele ano, ele anunciou publicamente que acreditava em Deus, na imortalidade da alma e nos ensinamentos da Igreja Católica.

Cientistas e fé

Mais próximo da nossa época, outro médico premiado com o Nobel de Medicina afirmou:

“Muitos cientistas cometem o erro de rejeitar o que não entendem. Não gosto dessa atitude. Frequentemente cito a frase do astrofísico Carl Sagan: ‘A ausência de prova não é prova de ausência’ (…) Quanto aos milagres de Lourdes que eu estudei, creio que realmente se trata de algo inexplicável (…) Não consigo entender esses milagres, mas reconheço que há curas que não estão previstas no estado atual da ciência”.

Trata-se do Dr. Luc Montagnier, que, entre outras relevantes contribuições à ciência, ficou famoso pela descoberta do vírus HIV. Segundo ele, é recomendável que os incrédulos, em vez de promulgarem os seus próprios dogmas de “intelectualidade superior” diante daquilo que não entendem, procurem conhecer o assunto com mais rigor científico e menos conclusões precipitadas (e anticientíficas).

De fato, são milhares os registros de “curas inexplicáveis” que acontecem todos os anos no santuário mariano de Lourdes, mas são pouquíssimas as curas consideradas efetivamente milagrosas por parte da Igreja, que, talvez para surpresa de muitos, adota critérios rigorosos em sua minuciosa avaliação científica de cada caso.

Oito dias de indulgência

Solícita pelos que já morreram, a Igreja nos concede de hoje até o dia 8 de novembro a oportunidade de sufragar, com uma indulgência plenária por dia, as benditas almas do Purgatório.

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
(Lc 13, 31-35)

Naquela mesma hora, alguns fariseus chegaram perto de Jesus para lhe dizer: “Parte, some daqui, porque Herodes quer matar-te”. Ele respondeu: “Ide dizer a essa raposa que eu fico expulsando demônios e curando, hoje e amanhã; e no terceiro dia levarei a cabo a minha obra. Entretanto, devo continuar meu caminho hoje, amanhã e no dia seguinte, porque não convém que um profeta morra fora de Jerusalém. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os mensageiros de Deus, quantas vezes quis reunir teus filhos, como a galinha a sua ninhada sob suas asas… e não o quiseste. Eis que vossa casa será deixada deserta para vós. Sim, eu vos garanto: não me vereis mais até (o tempo em) que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor!”

Hoje, dia 1.º de novembro, a Igreja celebra ao redor do mundo inteiro a solenidade de todos os santos. Aqui no Brasil, contudo, a celebração é transferida para o domingo seguinte, para facilitar a participação dos fiéis na Santa Missa. Em todo caso, a Igreja nos concede a partir de hoje um período de oito dias para lucrarmos uma série de indulgências plenárias em sufrágio das almas dos fiéis falecidos. Lembremos, antes de tudo, que condições impõe a Igreja para que possamos obter qualquer indulgência plenária: a) em primeiro lugar, é preciso confessar-se, sendo que uma só confissão basta para esses oito dias, a não ser que se cometa entrementes algum pecado mortal; b) em segundo, é necessário receber a Sagrada Comunhão; c) por fim, deve-se rezar pelas intenções do Santo Padre, bastando para isso recitar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria. Lembremos ainda que só se pode ganhar uma única indulgência plenária por dia, de sorte que para lucrar diversas indulgências plenárias se requerem, para cada uma delas, uma Comunhão distinta e uma nova oração nas intenções do Sumo Pontífice. Cumpridas estas condições, teremos de 1 a 8 de novembro a oportunidade de obter uma indulgência plenária, aplicável apenas às almas do Purgatório, sempre que visitarmos devotamente um cemitério e rezarmos, mesmo em espírito, pelos defuntos. Não é necessário, além disso, que a pessoa pela qual quisermos rezar esteja enterrada no cemitério visitado. Vale lembrar, por fim, que no dia de 2 novembro, comemoração dos fiéis defuntos, a Igreja não nos obriga a visitar nenhum cemitério: trata-se de um piedoso costume, mas a norma estabelece apenas que, neste, é suficiente cumprir as condições de costume e visitar piedosamente uma igreja ou oratório para receber a indulgência [1].

Referências

  1. Cf. Manual das Indulgências. Trad. port. da CNBB, 1986, nn. 13 e 67.

Viver mais alguns anos ou ir para o Purgatório?

Ressuscitado milagrosamente por um santo, este homem preferiu voltar ao Purgatório a viver novamente sobre a terra. A razão? Nesta vida estamos expostos ao perigo de nos perdermos; no Purgatório, não mais.

Em meio aos mais intensos sofrimentos, as almas do Purgatório vivem contentes, e isso não se pode explicar senão pelas divinas consolações que o Espírito Santo lhes concede. Esse divino Espírito, por meio da fé, da esperança e da caridade, dispõe-nas como a uma pessoa doente que tem de se submeter a um tratamento muito doloroso, cujo efeito, todavia, é restaurar-lhe completamente a saúde. Essa pessoa enferma sofre, mas ama o seu sofrimento, pois é um sofrimento que a salva.

O Espírito Santo Consolador dá um contentamento similar às santas almas. Disso nós temos um impressionante exemplo na história de um homem, chamado Pedro de Piotravin, ressuscitado dos mortos por Santo Estanislau da Cracóvia, e que preferiu voltar ao Purgatório a viver novamente sobre a terra [1].

O aclamado milagre dessa ressurreição deu-se no ano de 1070, e é assim relatado nos Acta Santorum, em 7 de maio [2].

Santo Estanislau era bispo de Cracóvia quando o duque Boleslau II governava a Polônia. O santo bispo não deixava de lembrar o príncipe de seus deveres, os quais, no entanto, ele escandalosamente violava diante de todo o povo.

Como se irritasse com o santo destemor do prelado, Boleslau decidiu vingar-se dele, levantando contra o bispo os herdeiros de um certo Pedro de Piotravin, que morrera três anos antes, tendo vendido uma porção de terra para a igreja da Cracóvia. Os herdeiros acusaram o santo de ter se apossado indevidamente do terreno, sem tê-lo pagado ao dono. Estanislau declarou que havia pagado pela terra, mas, como as testemunhas que deviam defendê-lo tinham sido ou subornadas ou intimidadas, o bispo foi denunciado como usurpador da propriedade de outrem e condenado a restituir a terra.

Vendo que nada podia esperar da justiça humana, o santo bispo elevou então o seu coração a Deus, de quem recebeu uma inspiração repentina. Ele pediu um prazo de três dias, prometendo fazer Pedro de Piotravin aparecer pessoalmente para atestar a aquisição legal e o pagamento do terreno. O tempo foi-lhe concedido como escárnio.

Destaque de uma pintura de Bernardino Cervi retratando o Purgatório (1625).

O santo jejuou, fez vigílias e suplicou a Deus que defendesse sua causa. No terceiro dia, depois de haver celebrado a Santa Missa, ele saiu, acompanhado de seu clero e de muitos dos fiéis, ao lugar onde Pedro fora enterrado. A suas ordens o túmulo foi aberto, no qual nada havia senão ossos. Ele os tocou, então, com seu báculo e em nome daquele que é a ressurreição e a vida, ordenou ao homem morto que se levantasse. Subitamente os ossos se reuniram, revestiram-se de carne e, à vista do povo estupefato, o homem morto foi visto tomando o bispo pela mão e caminhando rumo ao tribunal.

Boleslau, com sua corte e uma imensa multidão de pessoas, estava esperando o resultado com ansiosa expectativa. “Olhai para Pedro”, disse o santo a Boleslau. “Ele veio, príncipe, para dar testemunho diante de vós. Interrogai-o, ele vos responderá”. Impossível era descrever o estupor do duque, de seus conselheiros e de toda a assembleia ali reunida. Pedro afirmou que tinha recebido o pagamento pela terra; voltando-se para seus herdeiros, ele repreendeu-os por ter acusado injustamente o santo prelado; e exortou-os, por fim, a fazer penitência por um pecado tão grave. Foi assim que a iniquidade, já estimando seu sucesso, foi confundida.

Eis que se dá, então, a circunstância que diz respeito ao nosso assunto, e à qual gostaríamos de nos referir. Desejando completar esse grande milagre para a glória de Deus, Estanislau propôs ao falecido que, se ele desejasse viver mais alguns anos, ele obter-lhe-ia esse favor da parte de Deus. Mas Pedro replicou que não tinha tal desejo. Ele estava no Purgatório, mas preferiria retornar para lá imediatamente e suportar-lhe as penas do que expor-se à condenação nesta vida terrestre. O homem só suplicou ao santo que implorasse de Deus abreviar o tempo de seus sofrimentos, a fim de que ele pudesse entrar o quanto antes na morada dos bem-aventurados.

Depois disso, acompanhado do bispo e de uma vasta multidão, Pedro retornou a seu túmulo, deitou-se, seu corpo se desfez em pedaços e seus ossos retornaram ao mesmo estado em que haviam sido achados. Temos razão para acreditar que o santo obteve rapidamente a libertação dessa alma.

Mas o mais extraordinário nesse exemplo, e que mais nos deve atrair a atenção, é uma alma do Purgatório, tendo experimentado tormentos os mais excruciantes, preferir esse estado à vida deste mundo; e a razão dada a essa preferência é que nesta vida mortal estamos expostos ao perigo de nos perdermos e termos como destino último a condenação eterna.

Notas

  1. Como conciliar essa revelação particular com a do frei Daniele Natale, publicada também aqui, segundo a qual nenhum sofrimento desta vida se compara em dureza às penas do outro mundo? A resposta encontra-se na profundidade da conversão de cada pessoa: de fato, para uma alma que está ainda nos primeiros degraus da vida espiritual, ver-se livre da possibilidade de condenar-se eternamente conta muito mais do que o desejo de aumentar a própria glória no Céu; é a mesma distância que separa o temor do amor (Equipe CNP).
  2. Essa história encontra-se nos Acta Sanctorum de maio, t. II, p. 276c: “Em honra do Deus altíssimo. A Pedro de Piotravin, ginete, morto duas vezes. Venera, ó visitante, este cidadão do céu, que, depois de estar por três anos no purgatório expiando as culpas desta vida que lhe retardavam o eterno descanso, foi chamado das sombras <da morte> por Santo Estanislau, Bispo, e, unido outra vez à própria carne, aduzido como testemunha da legítima propriedade deste contra uns sacrílegos usurpadores. Admiras-te do milagre? Pois aprende a admirar antes a imortalidade da alma, a ressurreição dos corpos, as chamas que purgam do pecado, o direito sacrossanto das posses da Igreja e, por último, a santidade de vida do prelado Estanislau, que com o auxílio de Deus realizou tamanho prodígio. Simão Koludzki, prelado de Gniezno […].  Ano da graça de 1660” (tradução nossa).