Adolescência sem sexo: um debate necessário

Por Cristina Graeml

[24/01/2020] [14:05] 

Trago aqui um tema para reflexão: adolescência sem sexo e a importância de nós, adultos, discutirmos isso sem dar margem à paixão ideológica ou à polarização política.
Temos abordado o assunto em muitas reportagens na Gazeta do Povo (a imprensa toda está cobrindo). Estranhamente, o tema virou alvo de uma gigantesca polêmica, quando não deveria. A saúde física, mental e emocional de adolescentes deveria ser motivo de união, jamais de discórdia.
Há vários pontos importantes nessa discussão. Primeiro é preciso olhar para a questão legal, o que a legislação brasileira entende por adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) descreve a adolescência como o período que vai dos 12 aos 18 anos de idade. A partir do 12.° aniversário, portanto, a criança brasileira já é considerada adolescente. Seria o momento de começar a vida sexual? Aos 12 anos?

O Código Penal responde, em seu artigo 217-A. Lá está escrito que “ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 anos é crime de estupro de vulnerável”, com pena de reclusão de 8 a 15 anos.
Então tem uma faixa da adolescência (de 12 a 14 anos) que fica protegida pela lei, mas desprotegida pelos costumes, já que a pressão para o jovem perder a virgindade é constante neste país onde letras e coreografias de funk vulgarizam o sexo e seriados de TV ou vídeos do YouTube banalizam o amor, o casamento e a família.
Quando se fala em abstinência sexual de adolescentes, o foco não está nos jovens que já estão mais perto da fase adulta, mas nesses de 12 ou 13 anos, que acabaram de sair da infância e ainda não têm maturidade para lidar com o sexo e tudo que ele pode ocasionar, inclusive gravidez.
Motivos da polêmica
O assunto veio à tona após uma fala da ministra Damares Alves, que costuma ser muito criticada sempre que menciona algum tema da área de costumes. Ela disse publicamente que estudava uma forma de incluir a sugestão da abstinência sexual nas campanhas de prevenção à gravidez na adolescência. Bastou isso para o mundo vir abaixo.
Já de cara teve gente insinuando que o governo ia parar de distribuir camisinhas, preservativos femininos ou pílulas anticoncepcionais e suspender campanhas pelo sexo seguro, mas nada disso foi dito pela ministra.

O que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos propõe a partir de agora é trazer o tema da abstinência sexual na adolescência como uma alternativa. O próprio Ministério da Saúde, que é o responsável pela distribuição de métodos contraceptivos para os estados (que depois distribuem para os municípios para que cheguem aos postos de saúde e sejam entregues à população) esclareceu que nada mudaria.
Declarações em jornais e nas redes sociais acusaram o governo de querer tirar direitos dos adolescentes, quando a ideia é justamente o oposto: garantir aos brasileiros de 12 a 18 anos o direito à informação de forma mais completa, para que tenham a opção de escolher entre fazer ou não sexo nessa fase da vida. Isso é garantir o direito a uma adolescência segura, sadia, saudável, como está previsto na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente – leis que, aliás, chamam a sociedade para agir em conjunto com o Estado. Então nenhum de nós, adultos, pode se omitir em relação a proteger crianças e adolescentes seja lá do que for, que dirá de gravidez precoce e indesejada.
Por fim apontaram que o Estado é laico e que esta é uma discussão religiosa. Não é. É de saúde pública, o que fica provado nas estatísticas.
Estudos que justificam a discussão sobre o tema
Dados de 2018 da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que o Brasil é o campeão na América Latina em número de adolescentes grávidas. Aqui a média é de 68,4 bebês nascidos para cada grupo de mil adolescentes de 15 a 19 anos, quando a média latino-americana é de 65,5 e a mundial, de 46.
Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, nos últimos 20 anos 13,2 milhões de crianças e adolescentes engravidaram no país e a gravidez precoce foi responsável por 20% das mortes de adolescentes do sexo feminino.

O dado mais assustador, porém – que fez a ministra Damares Alves abraçar a causa -, é o do Observatório da Família (ONF), órgão de pesquisa do próprio ministério, vinculado à Secretaria Nacional da Família. O levantamento mais recente do ONF indica que, na média, os meninos brasileiros estão iniciando a vida sexual aos 12 anos e 9 meses e as meninas, aos 13 anos e 7 meses. Não é apenas cedo demais. É dentro da faixa etária em que sexo é considerado crime pela lei penal. Quem vai dizer isso pra eles?
Com certeza não é o funkeiro, nem o roteirista ou os atores do seriado de sucesso. É preciso que representantes do governo e da sociedade civil organizada digam, como reforço ao que as famílias e a escola já deveriam estar fazendo. Quanto mais se falar no assunto mais fácil vai ficar a conversa com os adolescentes e mais rico o papo entre eles.
Esta semana eu conversei com o teólogo Nelson Ferreira Neto Júnior, pai de duas meninas, ex-pastor e ex-terapeuta que há dez anos começou um trabalho de orientação para relacionamentos saudáveis e felizes especificamente com jovens e adolescentes. Ele sugere o mesmo que a ministra Damares: que meninos e meninas podem escolher esperar uma idade mais madura para perder a virgindade. Nelson vem sendo ouvido por multidões (500 mil já assistiram às suas palestras e 7 milhões o seguem nas redes sociais, onde a discussão segue através de postagens sugeridas por uma equipe de médicos e psicólogos voluntários do Instituto Eu Escolhi Esperar). Você pode conhecer a experiência e os resultados clicando aqui ou no vídeo acima, em que eu conto tudo isso e parte da conversa que tive com o Nelson Júnior.”

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/adolescencia-sem-sexo-um-debate-necessario/

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“A pornografia é a teoria, o estupro é a prática”

Os homens não nascem estupradores, mas, por algum motivo, muitos deles tendem cada vez mais a justificar a violência sexual. Por quê? Porque a pornografia transformou o corpo de mulheres e meninas em mercadoria.

Jonathon van MarenTradução: Equipe Christo Nihil Praeponere

29 de Maio de 2019


“A pornografia é a teoria”, escreveu certa vez a conhecida feminista Robin Morgan, “o estupro é a prática”.

De fato, as feministas em geral costumavam pensar que a pornografia, na melhor das hipóteses, era algo desumano e degradante, um produto criado por homens e para homens que retratava as mulheres como meros objetos de desejos masculinos; na pior das hipóteses, era a celebração violenta da destruição do feminino, em que as mulheres eram espancadas, estupradas, humilhadas e, em todo caso, agredidas para satisfazer os prazeres perversos de misóginos que afirmavam ser um “fetiche” o seu ódio às mulheres.

Hoje, porém, espera-se que as feministas sejam “pró-sexo”, o que significa que elas têm de apoiar a pornografia, pois seria inútil opor-se aos mais de 80% da população masculina que a consomem.

Lembro-me de um debate sobre pornografia durante uma de minhas primeiras aulas de ciência política na universidade: na classe inteira, apenas eu e um outro colega nos opomos à pornografia. A maioria dos rapazes permaneceu sentada, em silêncio, numa tentativa de não interferir na discussão, ao passo que eram algumas das alunas as mais ferozes defensoras desta imundície; era como se elas tivessem que provar alguma coisa.

A pornografia — diz o nosso novo dogma sexual — é inofensiva, senão benéfica. E quando comecei a afirmar em alguns artigos meus que a pornografia promove a “cultura do estupro”, a reação dos homens que não conseguem abandoná-la foi rápida e agressiva.

Por isso, comecei a entrar em contato com especialistas na área, com pessoas que estudaram o impacto da pornografia em homens e mulheres. A entrevista mais reveladora e chocante que já fiz foi com a dr.ª Mary Anne Layden, diretora do Programa de Trauma Sexual e Psicopatologia, do Departamento de Psiquiatria da Universidade da Pensilvânia. Já tive ocasião de citar o trabalho dela sobre pornografia e violência antes, e quis descobrir em primeira mão o que os seus estudos tinham revelado.

— Quando — perguntei à dr.ª Layden — começaram seus estudos sobre a relação entre violência e pornografia?

— Quando comecei a atuar como psicoterapeuta há cerca de 30 anos — respondeu —, comecei a tratar pacientes que tinham sido vítimas de violência sexual, e senti-me particularmente tocada pelos danos que a violência sexual nelas tinha causado. Depois de mais ou menos 10 anos atuando na área […], finalmente percebi que jamais tinha tratado um único caso de violência sexual que não envolvesse pornografia… Alguns casos eram de estupro, outros de incesto, outros de abuso infantil, outros de assédio sexual; mas, apesar da diversidade de casos, a pornografia estava presente em cada um deles. Assim, pareceu-me haver ali alguma relação. Com o passar do tempo, comecei a me interessar pelos aspectos comuns aos criminosos sexuais, porque me dei conta de que jamais resolveríamos o problema da violência sexual tratando, uma por uma, as vítimas que foram atingidas por ele. Não havia terapeutas suficientes no mundo; mas havia, isso, sim, demasiadas vítimas no mundo. Não podíamos resolver isto tratando cada vítima em particular; era necessário ver as coisas de cima e descobrir qual era a causa geral do problema.

“Jamais tinha tratado um único caso de violência sexual que não envolvesse pornografia.”
E, como a dr.ª Layden descobriu, era a indústria pornográfica que estava por trás de tudo. “Os homens não nascem estupradores”, disse-me ela. Mas, por algum motivo, muitos deles tendem cada vez mais a justificar a violência sexual. Por quê? Porque a pornografia transformou o corpo de mulheres e meninas em mercadoria. A pornografia está moldando a forma como os homens vêem as mulheres.

— Trata-se de um produto — disse enfaticamente a dr.ª Layden. — É todo um negócio, e creio que muitos rufiões deixariam de o fazer se não houvesse dinheiro envolvido; mas se trata de um negócio, e a partir do momento que se diz que isso é um produto, que é algo que se pode comprar, então é algo que também se pode roubar. As duas coisas estão entrelaçadas: se você pode comprá-lo, pode também roubá-lo, e é até “melhor” que o roube, porque não será necessário pagar por ele. Assim, a indústria da exploração sexual, seja um clube de strip, seja a prostituição ou a pornografia, é onde você o compra; a violência sexual (o estupro, o abuso, o assédio) é onde você o rouba. Estas coisas estão indissoluvelmente ligadas. Não há maneira de traçar uma linha de demarcação clara entre o estupro e a prostituição, entre a pornografia e o abuso de menores. Não há linhas claras de separação. Os que praticam essas coisas possuem um conjunto comum de crenças, e quando analisamos os resultados da pesquisa podemos distinguir algumas delas. Desta forma, sabemos que os indivíduos que se expõem a conteúdos pornográficos costumam pensar, por exemplo, que as vítimas de estupro “gostam” de ser estupradas; que elas “não sofrem muito” quando são violentadas; que “elas receberam o que queriam”; que as mulheres inventam acusações falsas de estupro, porque o estupro, na verdade, não existe (o sexo é bom ou ótimo, e não há meio termo); que ninguém fica realmente traumatizado depois da experiência etc. Todas essas ideias fazem parte do “mito do estupro”, e quem consome pornografia aceita o “mito do estupro” em grau muito superior às outras pessoas. Por isso, temos a impressão de que a pornografia as está ensinando a pensarem como um estuprador e agirem como um.

A pornografia está moldando a forma como os homens vêem as mulheres.
A pornografia, como todo produto, fez do corpo feminino o que a economia sempre faz com qualquer produto: se algo se torna mercadoria, acaba perdendo valor. É simples assim. Mas quando a estratégia de mercado consiste em inflamar a luxúria e apelar para o poder de degradar as mulheres, os resultados são devastadores. Como a dr.ª Layden afirmou em nossa entrevista, nós deixamos inclusive de nos ver como seres humanos.

— Quando você deprecia o corpo das mulheres — continuou ela —, quando você trata as pessoas como coisas, há consequências, e uma delas é a violência sexual, e outra consequência é também a deterioração dos relacionamentos. Existe uma série interessante de estudos que joga um pouco de luz sobre como se dá esse fenômeno. Os pesquisadores mostraram aos voluntários algumas imagens de conteúdo levemente sexual, de homens e mulheres em trajes de banho ou apenas com a roupa de baixo. As imagens eram vistas de cabeça para baixo e de cabeça para cima, e depois os pesquisadores observavam os processos que tinham lugar no cérebro dos voluntários, porque isto permite determinar que parte do cérebro é utilizada para processar a visualização de determinadas imagens. O que vemos com os homens é que, quando as pessoas olham para um deles, e o veem em traje de banho ou só com a roupa de baixo, elas usam a parte do cérebro que processa rostos humanos; mas quando olhamos para mulheres em traje de banho ou só com a roupa de baixo, usamos a parte do nosso cérebro que processa instrumentos e objetos, e quando você processa uma mulher como um instrumento ou objeto, a tendência é utilizá-lo. As regras de que nos servimos quando lidamos com instrumentos ou objetos diz que, se eles não estão cumprindo a sua função, é melhor jogá-los fora e procurar outros. As feministas diziam anos atrás que os homens estavam tratando as mulheres como objetos sexuais, e pensávamos que isso não passava de uma metáfora. Mas não era uma metáfora. Era, sim, uma descrição da realidade: os homens estavam usando a mesma parte do cérebro que utilizam para processar objetos e coisas, e há uma consequência para a sociedade quando você começa a tratar o sexo como um produto e a mulher como uma coisa.

“Quando você trata as pessoas como coisas, há consequências, e uma delas é a violência sexual.”
Obviamente, os que evidenciam estes fatos e os que se opõem à pornografia são condenados como “retrógrados”, “puritanos” e “antissexo”. Quando o lembrei à dr.ª Layden, ela não se mostrou nem um pouco impressionada.

— O desejo de amor — disse ela — está incrustado em nós. Um de meus colegas disse uma vez: “O verdadeiro perigo é que isto põe a perder o amor em um mundo em que somente o amor traz felicidade”. Isso resume o que estamos fazendo, que todos estamos “programados” para amar e ser amados. É isso que alimenta o nosso coração faminto, e nós temos agora uma geração que está esfomeada e tem o coração ávido; mas o que eles têm consumido é lixo sexual, eles estão se tornando “obesos sexuais” porque é tão grande a sua fome [de amor] que estão dispostos a comer até mesmo esse lixo, se não há outro alimento disponível. Por isso, o que precisamos, em parte, são pessoas que falem sobre a beleza do sexo, sobre a maravilha do sexo, sobre como o sexo une os casais comprometidos e os ajuda a manterem suas promessas de fidelidade mútua; precisamos de pessoas que falem que existe, sim, uma sexualidade boa, que enobrece, que anima e se baseia no amor, mas que todo esse lixo sexual que aí está não é nada disso.

Que pensar, no fim das contas? Que os que se opõem à pornografia não são “antissexo”. São apenas gente sábia o bastante para reconhecer que a pornografia é veneno. Quando usada como um sucedâneo do amor, ela equivale a dar um copo de água salgada para alguém morrendo de sede: ela irá provocar ainda mais desejo, mas sem proporcionar satisfação alguma. Para a dr.ª Mary Anne Layden, isso é autoevidente, e ela pretende que o maior número possível de pessoas seja capaz de o ver assim também.

“A pornografia provoca ainda mais desejo, mas sem proporcionar satisfação alguma.”
— Se eu dissesse às pessoas: “Quero que tenham uma alimentação saudável e deixem de ir ao McDonald’s”, elas não me chamariam de “anticomida”. Elas apenas diriam que eu quero promover uma alimentação saudável […]. Ora, o mesmo acontece com a sexualidade: quero promover uma sexualidade saudável, amorosa, que enobreça e alimente a alma, e não uma “sexualidade fast food”.

E como consegui-lo? Com altíssimos índices de adicção à pronografia, isso sequer é possível? A dr.ª Layden tem tantas sugestões, que é difícil resumi-las:

— Acho que deveríamos nos educar a nós mesmos; precisamos contar a verdade aos outros; cada um tem de falar a verdade porque, uma vez que sabemos de tudo isso, calar-se é tornar-se cúmplice. Precisamos ir às nossas escolas e centros de ensino e dizer aos responsáveis: “Vocês precisam proteger nossas crianças”. Precisamos exigir dos nossos governantes que impeçam a difusão de ideias como “com consentimento, vale tudo”, o que significa impedir a legalização da prostituição. Ideias como aquela dizem aos homens que a prostituição não é um problema, e assim mais e mais homens irão atrás de prostitutas. Precisamos criar leis contra o que prejudica as pessoas; é preciso que a sociedade se indigne de verdade quando um caso de violência sexual é varrido para debaixo do tapete, por ter sido cometido por uma celebridade, por exemplo. Precisamos nos reunir e ter a jornalistas, advogados e pais de mãos dadas, como um time forte, para dizer que a nossa sociedade é digna de ser salva, que as nossas crianças são dignas de ser protegidas, que a sexualidade é algo sagrado. Mas precisamos fazê-lo em conjunto, e isso exige um esforço conjunto… Quando ouço alguém dizer que não, não é possível pôr o leite derramado de volta na embalagem, digo que há 50 anos 60% dos habitantes de Nova Iorque eram fumantes, e hoje somente 18% das pessoas fumam na cidade. É possível, sim, “pôr o leite de volta na embalagem”. Nós podemos fazê-lo e vale a pena fazê-lo.

“A nossa sociedade é digna de ser salva, as nossas crianças são dignas de ser protegidas, a sexualidade é algo sagrado.”
Eu, assim como a dr.ª Mary Anne Layden, não sou “antissexo”, embora não me oponha a ser chamado de retrógrado. Eu sou, contudo, totalmente “antipornografia”, e isso porque a pornografia está transformando em “retrógrados” relacionamentos saudáveis, amorosos e fiéis. Ela está roubando da geração atual a sua capacidade de aproveitar relacionamentos duradouros e felizes. É por isso que temos a responsabilidade de dar voz ao chamado da dr.ª Layden e de muitos outros especialistas a lutarmos contra o mal da pornografia, onde quer que ele se encontre. Os que afirmam que a pornografia é inofensiva estão, ao fim e ao cabo, muitíssimo mal informados.

5 motivos que fazem Satanás adorar pornografia

Tom Hoopes | Maio 23, 2017

Você pode inclusive dizer que ele é o fã número 1 do pornô

Todos os anos, em minha aula de Cristianismo e Meios de Comunicação no Colégio Beneditino, abordamos a pornografia – o rolo compressor da mídia de massa no século 21

E a cada ano o problema da pornografia piora. A mais recente: os dois serviços de streaming de vídeo online mais populares estão apresentando programas pornograficamente amigáveis – um documentário e um filme biográfico.

Leia também: Oração de libertação do vício da pornografia
Eu não assisti, nem vou assistir a nenhum deles. Mas o fato de eu ter falado com exorcistas recentemente me fez perceber algo sobre esse fenômeno: o maior fã de pornografia é Satanás.

Por quê?

Primeiro: Satanás adora pornografia porque ele odeia liberdade.

Quando renovamos a nossa promessa batismal, a Igreja pergunta: “Você rejeitar Satanás, de modo a viver na liberdade dos filhos de Deus?”

Praticar a pornografia é o mesmo que responder: “Eu não”. A pornografia milita contra a liberdade. A ciência disso é bem conhecida: o cérebro humano, quando estimulado por imagens eróticas, despeja substâncias químicas na corrente sanguínea que empurram o acelerador do espectador para a mais alta velocidade, no modo “me dê mais”. Uma paradinha movida pela curiosidade rapidamente se transforma em um vício obsessivo.

Brincar com pornografia é como abrir a janela de um avião pressurizado a uma altitude elevada. Ele te puxa para dentro e cospe para fora.

A mesma coisa acontece com as mulheres envolvidas na indústria da pornografia. Mulheres que procuram carreiras de modelagem ou uma breve injeção de dinheiro em tempos difíceis caem rapidamente nas garras de uma indústria degradante, com suas imagens circulando online para sempre, mesmo que elas se arrependam.

Segunda razão pela qual Satanás adora pornografia: a estrutura cabal do pecado

Quando mentimos, enganamos ou roubamos, nós cometemos pecados sozinhos. Quando nós envolvemos outras pessoas em nosso pecado, é pior. Mas o que dizer de um pecado que ajuda a criar, perpetuar e turbinar sindicatos internacionais do pecado?

A pornografia é a ferramenta que Satanás usa para arrastar grupos inteiros de pessoas – artistas, programadores, vendedores e transeuntes inocentes – para baixo do seu covil.

Terceiro: Satanás adora desfigurar a imagem de Deus.

A meta final de Satanás não somos nós; é Deus. Como ele não pode atingir o Senhor e nós somos feitos à imagem e semelhança de Deus, atingir-nos é a sua melhor opção.

Se entendêssemos como as nossas almas são imensas e como elas refletem lindamente a Santíssima Trindade, nós iríamos nos amedrontar com a nossa responsabilidade. Satanás entende isso e usa todas as oportunidades para quebrar essa imagem.

Quarto: o demônio adora fazer as pessoas se parecerem com animais.

No capítulo 12 do Apocalipse, há a visão de uma mulher – um ser de carne e sangue humanos – vestida com o sol e coroada de estrelas, que enfurece os anjos desobedientes.

Os demônios, criaturas feitas apenas de espírito, não conseguem suportar um ser superior a eles. Então eles adoram mostrar o quão nojentas são essas criaturas humanas.

Um exorcista me descreveu como as vítimas de possessões, muitas vezes, imitam animais – grunhindo ou arqueando suas costas. Os demônios não se apropriam de mais pessoas porque nós as salvamos. Nós escolhemos imitar animais por conta própria.

Quinto: o diabo adora destruir a inocência das crianças.

No capítulo 18 de Mateus, quando os apóstolos discutem quem é o maior, Jesus coloca uma criança no meio deles. Depois, alguns versos à frente, acrescenta que qualquer um que cometer pecado contra uma criança deveria atirar-se ao mar com uma pedra de moinho amarrada no pescoço.

Os demônios já escolheram a pedra.  Agora, eles querem pecar contra o maior número de crianças possível.

Eu acho que, junto com o aborto, a história vai nos condenar por nossa recusa em proteger as crianças da pornografia. Até mesmo um conhecido ator pornô está revoltado com a forma pela qual as crianças experimentam a pornografia.

A razão para o nosso fracasso aqui é óbvia: os adultos querem acesso fácil e anônimo para pornografia. Nós nos preocupamos mais sobre como proteger o acesso ao que fazemos do que em proteger os nossos filhos de acessarem por conta própria.

Os demônios são como insetos predatórios.

Eles se preocupam única e exclusivamente com uma coisa: furar sua alma e colocá-lo contra Deus. A pornografia é meio que ele usa para quebrar sua colmeia ali no seu desktop.

Algo inédito sobre amor e sexo

Um jeito incrível de mudar nosso coração e nossa mente sobre amor e sexo

O que você pensaria se a Igreja Católica lançasse um material inédito sobre o corpo humano tendo como objetivo mostrar o quanto uma relação sexual pode levar a uma felicidade plena e a um êxtase sem fim? O que você acharia se a Igreja Católica falasse: “As regras agora são: ame e faça o que quiseres”?. O que você concluiria se essa Igreja escrevesse: “O verdadeiro amor é para todo mundo, ninguém pode ficar sem ele”.

Alguns pensariam que a Igreja Católica estaria se “pervertendo”. “Desde quando ela se tornou uma editora de ‘pornografia’? E onde já se viu um material sobre o corpo humano e relações sexuais com direito a felicidade sem fim? É o fim dos tempos mesmo!” Outros achariam que a Igreja está surtando e falando abobrinhas, beirando um delírio. Imagine se as pessoas levam a sério isso: “amar e fazer o que quiser!”. O mundo viraria uma anarquia e uma nova Babilônia. Muitos, na certa, concluiriam que, de fato, a Igreja Católica está em fim de jogo com direito a prorrogação, tentando de tudo para conseguir adeptos. Pense: todo mundo é muita gente para ter um amor verdadeiro. Não dá! É propaganda enganosa. Por favor, chamem o PROCON!

Verdades mentirosas

Quero lhe dizer que já faz um tempo, um bom tempo, desde que Jesus se encarnou, que tudo isso já é verdade na Igreja Católica. Porém, foram nos confundindo sobre a verdade do homem e da mulher, sobre amor e sexo. Foram criando verdades mentirosas e separando o inseparável que, nessa Igreja, ficou com o papel de vilã da história. Separaram o amor do sexo e o sexo do amor, igualaram sexo a pecado e colocaram santidade contra desejos sexuais em uma arena de UFC. Posso lhe dizer que não só fizeram da Igreja Católica uma vilã como negaram ao homem o acesso e a vivência de um amor total e para sempre.

De uma maneira revolucionária, na década de 60 e 70, enquanto o mundo declarava Woodstock como lugar do amor livre, Karol Wojtyla tinha, na Igreja, o lugar onde se aprende a verdade sobre o amor e o quanto esse amor nos faz mais felizes e realizados. Depois, nos anos de 79 a 84, já como Papa João Paulo II, ele foi, a cada quarta-feira, gastando tempo para revelar ao homem o quanto amor e sexo, vividos de maneira verdadeira, conduzia-os a uma antecipação do que viveriam em plenitude no céu.

Manual de nossos desejos sexuais

Posso lhe dizer que esses anos foram testemunhas da confecção de um material inédito sobre o corpo humano, revelando-o (o corpo) como um lugar teológico, ou seja, como um lugar de encontro com Deus. A teologia do corpo (nome dado às catequeses de João Paulo II sobre o amor humano realizadas de 1979 a 1984 – total de 129 catequeses), de fato, é um manual de como nossos desejos sexuais são, na verdade, nobres e nos encaminham para o céu.

Os desejos sexuais foram colocados por Deus

Você deve estar se pensando: “Espera aí! Adriano, você está louco? Sempre lutei contra meus desejos, pensando que eram pecados e que eu tinha de reprimi-los; assim, deixaria Deus feliz! Mas, agora, você me diz que eles me encaminham para o céu?”. Acalme-se, meu amigo! Os desejos sexuais, ou seja, a atração de um homem por uma mulher e de uma mulher por um homem foram colocados pelo próprio Deus, isso porque, na verdade, os dois revelam a imagem de Deus, que é amor. Logo, nossos desejos mais profundos são de amor, por isso não dá para tirar o amor do sexo. Então, você me pergunta: “Agora, viveremos tudo o que desejamos? Como você disse, “amar e fazer o que quiser”?.

Vamos devagar! Quando a Igreja, pela boca de Santo Agostinho, fala: “Ame e faça o que quiseres”, na verdade, ela está nos chamando à essencialidade do amor. E olha que não só a definição do amor como também sua vivência andam bem desgastadas; como gasolina em posto “clandestino”, estão “adulteradas” na concepção mundana.

O amor verdadeiro é total, livre, fiel e fecundo

Na Teologia do Corpo, quando o Papa fala de amor, ele o define com características bem concretas como “totalidade, liberdade, fidelidade e fecundidade”, ou seja, o amor verdadeiro é total, livre, fiel e fecundo. Se amamos assim, podemos fazer o que quisermos, pois esse nosso querer baterá com o querer de Deus!
É preciso resgatar a riqueza que a Igreja Católica tem sobre a sexualidade humana, sobre o corpo, quem é o homem e a mulher. Nunca ela foi do contra, mas sim e sempre a favor de nossa plena felicidade.

Teologia do corpo é um material sobre o quanto podemos, merecemos e somos destinados a fazer do nosso corpo um caminho de verdadeiro prazer e condução para salvação de nossa alma. Dessa forma, em meio ao amor que requer sacrifícios, atingiremos o que nosso coração e o nosso corpo tanto anseia: o céu.

Neste e em outros artigos que escreverei, vamos, por meio de uma linguagem mais fácil, entrar na beleza da Teologia do Corpo. Vamos descobrir uma forma inédita de mudar nosso coração e nossa mente, vamos nos aventurar na riqueza de nossa sexualidade e afetividade vividas no plano de Deus, e, assim, teremos como resultado a liberdade e a plenitude do amor!

(Canção Nova)