Jovem com microcefalia e seu testemunho

Médicos disseram que Ana Carolina Cáceres não sobreviveria; hoje ela tem 24 anos, mantém blog, toca violino e defende discussão informada sobre aborto

01/02/2016 10h39 – Atualizado em 01/02/2016 10h41

Por Ricardo Senra
Da BBC
Ana Carolina Cáceres, de 24 anos, moradora de Campo Grande (MS), desafiou todos os limites da microcefalia previstos por médicos. Eles esperavam que ela não sobrevivesse. Hoje, Ana tem 24 anos. Neste depoimento, ela defende uma discussão informada sobre o aborto.
ana-carolina-caceres‘Sou plena, feliz e existo porque minha mãe não optou pelo aborto’, diz jornalista com microcefalia (Foto: Arquivo pessoal)

“Quando li a reportagem sobre a ação que pede a liberação do aborto em caso de microcefalia no Supremo Tribunal Federal (STF), levei para o lado pessoal. Me senti ofendida. Me senti atacada.
No dia em que nasci, o médico falou que eu não teria nenhuma chance de sobreviver. Tenho microcefalia, meu crânio é menor que a média. O doutor falou: “ela não vai andar, não vai falar e, com o tempo, entrará em um estado vegetativo até morrer”.
Ele – como muita gente hoje – estava errado.
Meu pai conta que comecei a andar de repente. Com um aninho, vi um cachorro passando e levantei para ir atrás dele. Cresci, fui à escola, me formei e entrei na universidade. Hoje eu sou jornalista e escrevo em um blog.

microcefalia2Ana se formou em jornalismo para ser ‘porta-voz da microcefalia’ (Foto: Arquivo pessoal)

Escolhi este curso para dar voz a pessoas que, como eu, não se sentem representadas. Queria ser uma porta-voz da microcefalia e, como projeto final de curso, escrevi um livro sobre minha vida e a de outras 5 pessoas com esta síndrome (microcefalia não é doença, tá? É síndrome!).
Com a explosão de casos no Brasil, a necessidade de informação é ainda mais importante e tem muita gente precisando superar preconceitos e se informar mais. O ministro da Saúde, por exemplo. Ele disse que o Brasil terá uma ‘geração de sequelados’ por causa da microcefalia.
Se estivesse na frente dele, eu diria: ‘Meu filho, mais sequelada que a sua frase não dá para ser, não’.
Porque a microcefalia é uma caixinha de surpresas. Pode haver problemas mais sérios, ou não. Acho que quem opta pelo aborto não dá nem chance de a criança vingar e sobreviver, como aconteceu comigo e com tanta gente que trabalha, estuda, faz coisas normais – e tem microcefalia.
As mães dessas pessoas não optaram pelo aborto. É por isso que nós existimos.
Não é fácil, claro. Tudo na nossa casa foi uma batalha. Somos uma família humilde, meu pai é técnico de laboratório e estava desempregado quando nasci. Minha mãe, assistente de enfermagem, trabalhava num hospital, e graças a isso nós tínhamos plano de saúde.
A gente corta custos, economiza, não gasta com bobeira. Nossa casa teve que esperar para ser terminada: uma parte foi levantada com terra da rua para economizar e até hoje tem lugares onde não dá para pregar um quadro, porque a parede desmancha.
O plano cobriu algumas coisas, como o parto, mas outros exames não eram cobertos e eram muito caros. A família inteira se reuniu – tio, tia, gente de um lado e do outro, e cada um deu o que podia para conseguir o dinheiro e custear testes e cirurgias.
No total, foram cinco operações. A primeira com nove dias de vida, para correção da face, porque eu tinha um afundamento e por causa dele não respirava.
Durante toda a infância também tive convulsões. É algo que todo portador de microcefalia vai ter – mas, calma, tem remédios que controlam. Eu tomava Gardenal e Tegretol até os 12 anos – depois nunca mais precisei (e hoje sei até tocar violino!).
Depois da raiva, lendo a reportagem com mais calma, vi que o projeto que vai ao Supremo não se resume ao aborto. Eles querem que o governo erradique o mosquito, dê mais condições para as mães que têm filhos como eu e que tenha uma política sexual mais ampla – desde distribuição de camisinhas até o aborto.
Isso me acalmou. Eu acredito que o aborto sozinho resolveria só paliativamente o problema e sei que o mais importante é tratamento: acompanhamento psicológico, fisioterapia e neurologia. Tudo desde o nascimento.
Também sei que a microcefalia pode trazer consequências mais graves do que as que eu tive e sei que nem todo mundo vai ter a vida que eu tenho.
Então, o que recomendo às mães que estão vivendo esse momento é calma. Não se desespere, microcefalia é um nome feio, mas não é esse bicho de sete cabeças, não.
Façam o pré-natal direitinho e procurem sobretudo um neurologista, de preferência antes de o bebê nascer. Procurem conhecer outras mães e crianças com microcefalia. No próprio Facebook há dois grupos de mães que têm um, dois, até três filhos assim e trabalham todos os dias tranquilas, sem dificuldade.
Caso o projeto de aborto seja aprovado, mas houver em paralelo assistência para a mãe e garantia de direitos depois de nascer, tenho certeza que a segunda opção vai vencer.
Se ainda assim houver pais que preferirem abortar, não posso interferir. Acho que a escolha é deles. Só não dá para fazê-la sem o mais importante: informação.
Quanto mais, melhor. Sempre. É o que me levou ao jornalismo, a conseguir este espaço na BBC e a ser tudo o que eu sou hoje: uma mulher plena e feliz.
*Este depoimento é resultado de uma conversa entre o repórter da BBC Brasil Ricardo Senra e Ana Carolina Cáceres. E começou com um comentário da jovem no perfil da BBC Brasil no Facebook.

Você está ajudando a financiar a ideologia de gênero?

Julio Severo

Obviamente, o governo tem sua culpa na agenda de gênero. Mas há outros culpados, mais por ignorância do que por maldade.

ideologia de gênero 3

A maior entidade de planejamento familiar do mundo, a Federação Internacional de Planejamento Familiar (conhecida pela sigla IPPF), é a maior promotora mundial de contracepção, aborto e educação sexual, inclusive a agenda de gênero. A IPPF é culpada por maldade.

A IPPF está por trás da legalização do aborto em vários países, inclusive nos EUA.

A IPPF ajudou a financiar a invenção da pílula anticoncepcional, que tem também função micro-abortiva.

A IPPF foi fundada pela ocultista americana Margaret Sanger.

O melhor livro sobre a IPPF e suas origens tenebrosas foi escrito pelo pastor presbiteriano George Grant. O título é: “Grand Illusions: The Legacy of Planned Parenthood” (Grandes Ilusões: O Legado do Planejamento Familiar). Recomendo esse livro porque eu o li pela primeira vez há 22 anos. Desde então, eu o reli várias vezes. Para comprá-lo em inglês, clique aqui.

Grand Illusions

Hoje, as grandes empresas farmacêuticas que vendem produtos contraceptivos destinam parte de seus lucros para vários grupos de controle populacional, especialmente a IPPF, como gratidão pelo trabalho que essa entidade faz alastrando o planejamento familiar no mundo inteiro.

Resumo: toda vez que uma mulher casada compra um produto contraceptivo muito provavelmente ela está financiando a IPPF e seu horrendo trabalho de contracepção, aborto e educação sexual, inclusive a agenda de gênero. Ela se torna financiadora dessa agenda maligna. Ela se torna culpada por ignorância.

Mas agora que você não mais está inocente sobre a realidade, o que você fará?

Você continuará a financiar a ideologia de gênero?

Fonte: www.juliosevero.com

Bioética à luz da verdade

10 coisas que você precisa saber sobre aborto e eutanásia!
Postado em 5 de outubro de 2013 por vidasemduvida

O texto abaixo é uma pequena cartilha que contém algumas informações básicas sobre aborto, eutanásia e esterilização em massa, que tem sido distribuída nas Caminhadas pela Vida e pela Família. No entanto, qualquer pessoa pode fazer uso dela para qualquer ocasião em sua cidade.

O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE ABORTO E EUTANÁSIA

Você já se perguntou por que ultimamente tem havido uma campanha tão grande pela legalização do aborto?  Você acredita que seria uma ideia que nasceu espontaneamente? Pois saiba que:

1. Toda a ideologia em defesa do aborto, da eutanásia e da esterilização em massa provém das ideias de Thomas Malthus (1766-1834) e Charles Darwin (1809-1882). A teoria malthusiana propõe que a produção de alimentos não acompanhará o crescimento da população, e a teoria darwiniana defende que os mais fortes devem sobrepujar os mais fracos. Ambas as teorias, absolutamente anticristãs, formaram a base pretensamente científica das ideologias mais cruéis da humanidade, como o nazismo e o comunismo.

2. O aborto, a eutanásia e até mesmo a esterilização em massa, por meio de substâncias adicionadas às vacinas, tem sido uma política da ONU, que pretende instituir um governo mundial, e de grandes organizações internacionais de índole coletivista (socialista), entre as quais a Fundação Ford, a Fundação Soros, a Fundação Rockfeller, entre outras, mas especialmente, da fundação Planned Parenthood (“Paternidade Planejada”).

3. Margaret Sanger, uma ativa militante eugenista é a fundadora da fundação Planned Parenthood, que a criou com o objetivo explícito de reduzir a população de raças por ela consideradas inferiores, bem como crianças com deficiência física ou mental.

4. A instituição Católicas pelo Direito de Decidir (“Catholics for a free choice”)  nada tem de católica nem de cristã: trata-se de um grupo tático criado pela Planned Parenthood, para confundir os católicos e infiltrar heresias dentro da Igreja, com a finalidade de destruí-la.

5. Os abortistas, que contam com muito dinheiro (centenas de milhões de dólares só no Brasil) e têm a simpatia da mídia, fazem uso de argumentos enganosos e divulgam estatísticas escandalosamente inverídicas e sem fontes idôneas.

6. Ultimamente, em uma tentativa de diminuir a reação negativa popular, têm divulgado que eles não defendem o aborto, mas sim apenas a legalização do aborto. Isto não é verdade! A Planned Parenthood e a Católicas pelo direito de decidir ativamente realizam abortos em vários países, e têm à disposição navios que se posicionam fora das águas territoriais para promover abortos em massa, principalmente nos países mais pobres.

7. Em 1995, o Supremo Tribunal das Filipinas descobriu que as vacinas usadas numa campanha de vacinação antitetânica do UNICEF continham o B-hCG, que quando dado numa vacina, destrói permanentemente a capacidade de uma mulher sustentar uma gravidez. Aproximadamente três milhões de mulheres já haviam tomado a vacina.

8. Os velhinhos da Holanda estão fugindo para a Alemanha, com medo que seus filhos autorizem a eutanásia para livrarem-se de cuidar deles e pegarem a herança.

9. O atual governo do Partido dos Trabalhadores está completamente envolvido com a causa abortista, tendo a presidente Dilma Roussef nomeado uma feroz militante abortista e aborteira, Eleonora Menicucci, que já havia realizado centenas de abortos na Colômbia.

10. Em 2012, o Ministério da Saúde mandou imprimir uma cartilha com o título “Protocolo Misoprostol” (Cytotec), com as instruções para o uso desse medicamento abortivo, de comercialização proibida. O responsável pela publicação é o Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção à Saúde.

Klauber Cristofen Pires

O ato conjugal e a contracepção: perguntas e respostas à luz da fé católica

1. Para que serve o ato conjugal?

Para exprimir o amor entre os cônjuges e para transmitir a vida humana.

2. Todo ato conjugal tem que gerar filhos?

Não necessariamente. Mas ela deve estar sempre aberta à procriação. Senão ela deixa de ser um ato de amor para ser um ato de egoísmo a dois.

3. Uma mulher depois da menopausa não pode mais ter filhos. Ela pode continuar a ter o ato conjugal com seu marido?

Pode. Pois não foi ela quem pôs obstáculos à procriação. Foi a própria natureza que a tornou infecunda.

4. Um homem que tenha o sêmen estéril não pode ter filhos. Mesmo assim ele pode ter o ato conjugal com sua esposa?

Pode. Pois não foi ele quem pôs obstáculos à procriação. Foi a própria natureza que o tornou infecundo.

5. E se o homem ou a mulher decidem por vontade própria impedir que a o ato conjugal produza filhos?

Neste caso eles estarão pecando contra a natureza. Pois é antinatural separar a união da procriação.

6. Quais são os meios usados para separar a união da procriação?

Há vários meios, todos eles pecaminosos:

a) o onanismo ou coito interrompido: consiste em interromper a relação sexual antes da ejaculação (ver Gn 38,6-10)

b) os métodos de barreira, como o preservativo masculino (condom ou “camisinha de vênus”), o diafragma e o preservativo feminino.

c) as pílulas e injeções anticoncepcionais, que são substâncias tomadas pela mulher para impedir a ovulação.

7. Como é que a pílula anticoncepcional funciona?

A pílula anticoncepcional é um conjunto de dois hormônios – o estrógeno e a progesterona – que a mulher toma para enganar a hipófise (uma glândula situada dentro do crânio) e impedir que ela produza o hormônio FSH, que faz amadurecer um óvulo. A mulher que toma pílula deixa de ovular, pois a hipófise está sempre recebendo a mensagem falsa de que ela está grávida.

8. A pílula é um remédio para não ter filhos?

Você não chamaria de remédio a um comprimido que alguém tomasse para fazer o coração parar de bater ou para fazer o pulmão deixar de respirar. O que a pílula faz é que o ovário (que está funcionando bem) deixe de funcionar. Logo ela não é um remédio, mas um veneno.

9. Quais são os efeitos desse veneno?

Além de fechar o ato sexual a uma nova vida, a pílula – conforme estudos realizados – expõe a mulher a graves conseqüências para a sua saúde. Eis algumas delas:

doenças circulatórias: varizes, tromboses cerebrais e pulmonares, tromboflebites, trombose da veia hepática, enfarto do miocárdio;
aumento da pressão arterial;
tumores no fígado;
câncer de mama;
problemas psicológicos, como depressão e frigidez;
obesidade;
manchas de pele;
cefaléias (dores de cabeça);
certos distúrbios de visão;
aparecimento de caracteres secundários masculinos;
envelhecimento precoce.
(Cf. GASPAR, Maria do Carmo; GÓES, Arion Manente. Amor conjugal e paternidade responsável. 2. ed. Vargem Grande Paulista: Cidade Nova, 1984, p. 50-51.)

10. É verdade que as pílulas de hoje têm menos efeitos colaterais do que as de antigamente?

É verdade. Para reduzir os efeitos colaterais, os fabricantes diminuíram a dose de estrógeno e progesterona presentes na pílula. Isto significa que cada vez menos a pílula é capaz de impedir a ovulação.

11. Assim as mulheres de hoje que usam pílula podem ovular?

Podem. E, caso tenham relação sexual, podem conceber. Mas quando a criança concebida na trompa chegar ao útero, não encontrará um revestimento preparado para acolhê-la. O resultado será um aborto.

12. Então a pílula anticoncepcional é também abortiva?

Sim. Este é um dos seus mecanismos de ação: impedir a implantação da criança no útero. Isto está escrito, por exemplo, na bula de anticoncepcionais como Evanor e Nordette: “mudanças no endométrio (revestimento do útero) que reduzem a probabilidade de implantação (da criança)”. A bula de Microvlar diz: “Além disso, a membrana uterina não está preparada para a nidação do ovo(a criança)”.

13. Em resumo, quais são os mecanismos de ação das pílulas ou injeções anticoncepcionais?

a) inibir a ovulação;

b) aumentar a viscosidade do muco cervical, dificultando a penetração dos espermatozóides;

c) impedir a implantação da criança concebida (aborto).

14. Existem dias em que a mulher não é fértil. Nesses dias o casal pode ter relação sexual?

Pode. Pois ao fazer isso eles não colocam nenhum obstáculo à procriação. A própria natureza é que não é fértil naqueles dias.

15. O casal pode procurar voluntariamente ter relações sexuais somente nos dias que não são férteis, a fim de impedir uma nova gravidez?

Pode, mas deve ter razões sérias para isso. Pois em princípio um filho não deve ser “evitado”, mas desejado e recebido com amor. Uma família numerosa sempre foi considerada uma bênção de Deus (Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2373).

16. Como se chama a abstinência de atos conjugais nos dias férteis?

Chama-se continência periódica. É popularmente conhecida como “método natural” de regulação da procriação. Não se deve falar em “planejamento familiar”, pois esse termo foi criado pelos defensores do aborto, da esterilização e da anticoncepção. Os documentos oficiais da Igreja nunca usam a expressão “planejamento familiar”. Ao contrário, usam paternidade responsável ou procriação responsável.

17. Que diz a Igreja sobre a paternidade responsável?

“Em relação às condições físicas, econômicas, psicológicas e sociais, a paternidade responsável exerce-se tanto com a deliberação ponderada e generosa de fazer crescer uma família numerosa, como com a decisão, tomada por motivos graves e com respeito à lei moral, de evitar temporariamente, ou mesmo por tempo indeterminado, um novo nascimento” (Paulo VI, Encíclica Humanae Vitae, n.º 10).

18. Dê exemplos de motivos graves que seriam válidos para se limitar ou espaçar os nascimentos através da continência periódica.

Nas palavras de Dom Rafael Llano Cifuentes, “já que o matrimônio se ordena, por sua própria natureza, aos filhos, esta decisão [de praticar a continência periódica] só se justifica em circunstâncias graves, de ordem médica, psicológica, econômica ou social”.

As razões médicas “poderiam reduzir-se a duas:

1º) perigo real e certo de que uma nova gravidez poria em risco a saúde da mãe;

2º) perigo real e certo de transmitir aos filhos doenças hereditárias”.

“As razões psicológicas estão constituídas por determinados estados de angústia ou ansiedade anômalas ou patológicas da mãe diante da possibilidade de uma nova gravidez”.

“As razões econômicas e sociais são aquelas situações problemáticas nas quais os cônjuges não podem suportar a carga econômica de um novo filho; a falta de moradia adequada ou a sua reduzida dimensão, etc.

Estas razões são difíceis de avaliar, porque o padrão mental é muito variado e porque se introduzem também no julgamento outros motivos como o comodismo, a mentalidade consumista, a visão hipertrofiada dos próprios problemas, o egoísmo, etc.” (CIFUENTES, Rafael Llano. 274 perguntas e respostas sobre sexo e amor. 2. ed. Rio de Janeiro: Marques Saraiva, 1993. p. 141.)

19. Um casal poderia utilizar a continência periódica sem ter nenhum motivo sério para espaçar ou limitar o número de filhos?

Não. Se fizesse isso estaria frustrando o plano de Deus, que disse: “Crescei e multiplicai-vos” (Gn 1,22). Para evitar que o casal decida valer-se da continência periódica por motivos egoísticos, a Igreja dá aos confessores a seguinte orientação: “… será conveniente [para o confessor] averiguar a solidez dos motivos que se têm para a limitação da paternidade ou maternidade e a liceidade dos métodos escolhidos para distanciar e evitar uma nova concepção” (PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A FAMÍLIA, Vade-mécum para os confessores sobre alguns temas de moral relacionados com a vida conjugal, 1997, n.º 12).

20. É mais fácil educar um só filho do que muitos?

O Papa João Paulo II, quando ainda era cardeal de Cracóvia, escreveu: “A família é na realidade uma instituição educadora, portanto é necessário que ela conte, se for possível, vários filhos, porque para que o novo homem forme sua personalidade é muito importante que não seja único, mas que esteja inserido numa sociedade natural. Às vezes fala-se que é ‘mais fácil educar muitos filhos do que um filho único’. Também diz-se que ‘dois não são ainda uma sociedade; eles são dois filhos únicos’”(WOJTYLA, Karol. Amor e responsabilidade: estudo ético. São Paulo: Loyola, 1982. p. 216.)

De fato, o filho único está arriscado a ser uma criança problema. Recebe toda a atenção dos pais e não está acostumado a dividir. Poderá ter dificuldade no futuro ao ingressar na sociedade civil. Já um filho com muitos irmãos acostuma-se desde pequeno às regras do convívio social. Os irmãos maiores ajudam a cuidar dos menores, e todos crescem juntos.

21. Quantos métodos naturais existem para regulação da procriação?

Existem vários métodos usados para se identificar os dias férteis da mulher, a fim de que o casal possa praticar a continência periódica.

a) o método Ogino-Knauss, ou método da tabela. É o mais antigo de todos e tem pouca eficácia. Hoje seu uso está abandonado.

b) o método da temperatura. Baseia-se na observação da temperatura da mulher, que varia quando ocorre ovulação. O aparelho Mini-Sophia é uma versão eletrônica e computadorizada do uso deste método.

c) o método Billings, que se baseia na observação do muco cervical, que se torna fluido e úmido nos dias férteis, e seco nos dias inférteis. Não exige que o ciclo menstrual seja regular. Pode ser usado pelos casais mais pobres e mais incultos.

22. É verdade que o método Billings “não funciona”?

“Não funciona” para os fabricantes de anticoncepcionais, que não querem perder seus lucros. Mas a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que a eficiência do método é de 98,5 %. Ele foi testado em diversos países como Filipinas, Índia, Nova Zelândia, Irlanda e El Salvador.

23. Mas não é muito mais cômodo tomar a pílula anticoncepcional do que abster-se de relações sexuais em certos dias?

Sem dúvida é mais cômodo. Mas o verdadeiro amor se prova pelo sacrifício.

24. E se a mulher engravidar apesar de praticar a continência periódica?

O filho deve ser recebido com amor e alegria. Aliás, o casal já deveria estar contando com esta possibilidade. A atitude de abertura à vida é fundamental para o verdadeiro amor.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

Presidente do Pró-Vida de Anápolis

As conseqüências do pecado contra a natureza

O Partido Comunista da China anunciou nesta quinta-feira (29) o fim da política do filho único, permitindo que agora cada casal tenha até dois filhos.
O anúncio foi feito na reunião anual do partido. Todos os casais do país poderão agora ter dois filhos, uma reforma que põe fim a mais de 30 anos da política que limitava os nascimentos no país.
Desde o fim de 2013 a China já adota medidas de relaxamento do controle de natalidade. Apesar das mudanças, pesquisas mostraram que o número de chineses que querem ter o segundo filho ficou abaixo do esperado.
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No início de 2015, o vice-diretor da comissão de planejamento familiar da província de Shanxi afirmou que a China deveria abandonar a política do filho único. A declaração dele foi criticada pela imprensa estatal.
Contra superpopulação
A política do filho único entrou em vigor entre o fim de 1979 e 1980. O objetivo era de reduzir os problemas de superpopulação da China. Segundo especialistas, as medidas serviram para evitar que a população atual do país fosse de 1,7 bilhão de habitantes, contra os atuais 1,3 bilhão.
O governo chinês sempre defendeu que a restrição ao número de filhos, sobretudo em áreas urbanas, contribuiu para o desenvolvimento do país e para a saída da pobreza de mais de 400 milhões nas últimas três décadas. No entanto, também admitiu que estava chegando a hora de essa política ser encerrada.
O envelhecimento rápido da população está entre os efeitos secundários mais prejudiciais da política do filho único para a China. Em 2012, pela primeira vez em décadas, a população em idade ativa caiu. O índice de fecundação no país, de 1,5 filhos por mulher, é muito inferior ao nível que garante a renovação geracional.
“Apesar de ainda ser um país em desenvolvimento, a China enfrenta um problema que é de países desenvolvidos, que é o envelhecimento da sociedade. E o custo disso é muito alto”, afirma Segundo Alexandre Uehara, pesquisador do núcleo de relações internacionais da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo Uehara, a China não tem uma política nacional de previdência, apenas alguns programas regionais esparsos de aposentadoria. “Não haverá fundos suficientes para arcar com isso. É uma preocupação inclusive política, o governo pode sofrer pressões no futuro”, avalia.
Além disso, o país sofre com o descompasso entre o número de homens e mulheres. A preferência tradicional por filhos homens levou a um alto índice de abandono de meninas em orfanatos, a abortos seletivos de acordo com o sexo do feto e até a casos de infanticídio feminino.
Mudanças recentes
A mudança representa uma grande liberalização nas restrições de planejamento familiar do país, que foram aliviadas inicialmente em 2013, quando Pequim informou que iria permitir que milhões de famílias tivessem dois filhos.
Na época, o governo passou a permitir que casais em que pelo menos um dos pais era filho único poderiam ter dois filhos. Até então, a lei chinesa proibia que os casais tivessem mais de um filho.
A decisão de 2013 teve por ora um efeito limitado porque não se aplicava a todo o território e porque muitos casais preferem ter apenas um filho por razões econômicas.
Os rumores de que a política seria abandonada aumentaram recentemente. O primeiro-ministro da China, Li Keqiang, disse em março, em seu discurso anual na Assembleia Popular, que o governo seguiria fazendo mudanças no controle da natalidade.
Exceções à regra
A política do filho único tinha, além disso, algumas exceções: a quase totalidade das 55 minorias étnicas do país não tinham que obedecê-la e também os casais de zonas rurais podiam ignorá-la caso seu primeiro filho fosse uma menina.
De acordo com vários estudos, as famílias chinesas se acostumaram com a política do filho único e, com o tamanho reduzido dos apartamentos e o custo de vida em geral e dos estudos em particular, não têm muitos estímulos para desejar um segundo filho.
Impacto na sociedade

Alexandre Uehara, da USP, acredita que as novas regras não devem gerar uma mudança de comportamento automaticamente. “Nas cidades chinesas mais desenvolvidas, a cultura é próxima das sociedades capitalistas. A mulher quer empreender, quer se realizar profissionalmente e quer ter poucos filhos”, diz. “Além disso, imagine que que durante 30 anos só se podia ter um filho no país. Vai ser necessária toda uma mudança cultural”, completa.Um dos mais conhecidos ativistas chineses nos Estados Unidos, Chen Guangcheng, criticou Pequim por não se esforçar o suficiente para abolir a “Política do Filho Único”.

“Acho que todos precisamos ser cautelosos”, disse à agência France Presse o defensor de direitos humanos, que já foi preso por expor abusos cometidos no âmbito dessa polêmica política.
“O país ainda levará 50 anos para se recuperar do envelhecimento de sua população”, disse Chen. “Mas sob as circunstâncias atuais (de continuação dos controles), isso levará 100 anos”, acrescentou. “A economia sofrerá e continuará se degradando”, advertiu.

Novas provas científicas: o bebê se comunica com a mãe desde os primeiros instantes da sua vida como embrião!

O corpo materno se prepara para recebê-lo – coisa que não aconteceria se ele fosse um mero “aglomerado de células”

bebê

Um tema crucial para a Bioética é o “estatuto biológico do embrião humano”: demonstrar que o embrião humano é um ser biológico da nossa espécie, e não um simples aglomerado informe de células, é fundamental para afirmar que qualquer técnica que leve à sua destruição é bioeticamente inaceitável.

Um argumento em defesa desta tese é o “dialogo entre o embrião e sua mãe”, ou seja, a comunicação biológica estabelecida entre o filho e a mãe desde a passagem do embrião pela trompa de Falópio até a sua implantação no útero materno.

O fato de o embrião humano estabelecer esse dialogo biológico com o endométrio uterino é uma prova sólida de que ele não é um mero “aglomerado celular”, mas um ser vivo da nossa espécie.

 

Diálogo materno fetal

E em que consiste esse diálogo?

Durante a sua passagem pela trompa de Falópio e sua implantação no endométrio materno, o embrião produz e segrega uma série de compostos bioquímicos que agem sobre o endométrio para facilitar a implantação; é como se o embriãoavisasse à sua mãe de que está chegando ao lugar de aninhamento em seu útero para que ela se prepare, adequando o entorno em que o filho vai se implantar.

Por sua vez, o endométrio materno produz e segrega outros compostos no fluido endometrial em que o embrião está imerso, os quais são fundamentais para a sua implantação.

Nesse diálogo materno fetal também ocorre outro fato biológico: adiminuição da atividade imunológica da mãe para facilitar a implantação do filho, o que igualmente destaca a natureza de ser vivo organizado do embrião.

O embrião é um ente biológico estranho à mãe, pois a metade do seu conteúdo genético procede do pai: portanto, ele poderia ser rejeitado pelo sistema imunológico materno; para evitar isto, a mãe reduz a sua atividade imunológica, facilitando a implantação do filho (imunidade materno-fetal).

Acaba de ser publicado um artigo no periódico científico “Development” (142; 3210-3221, 2015 ) comprovando que os elementos incluídos no fluido secretado pelo endométrio materno, que embebe o filho durante o seu processo de implantação, podemmodificar a expressão gênica do filho.

Esta constatação tem importantes consequências biomédicas e bioéticas. Do ponto de vista biomédico, esta inter-relação genética poderia aumentar o risco de que o filho sofresse de algumas doenças, como diabetes de tipo 2, ou de condições biológicas capazes de aumentar riscos como o da obesidade.

Esta inter-relação entre mãe e filho poderia também ocorrer na fecundação in vitro quando se utilizam óvulos doados, ou seja, que não são da mãe, ou quando se recorre à chamada “mãe de aluguel”.

Na primeira circunstância, poderia ser modificada a expressão gênica do filho pela influência das mensagens maternas; isto quer dizer que seria incorporada ao genoma do filho uma informação procedente do endométrio materno. Assim, de alguma forma e muito parcialmente, chegaria a constituir-se um embrião modificado geneticamente pela influência da mãe biológica.

Por outro lado, no caso das mães de aluguel, também elas poderiam influenciar o genoma do filho, isto é, poderiam estabelecer-se laços biológicos com o filho gestado, indo-se além dos laços que a própria gravidez propicia. Portanto, com a mãe modificando a expressão do genoma do filho, a sua relação se intensificaria substancialmente, o que poderia criar mais problemas biológicos e sociológicos do que hoje se pensa a propósito dessas práticas.

 

Justo Aznar e Julio Tudela

Observatório de Bioética da Universidade Católica de Valência, Espanha

 

A triste história de Piera e a eutanásia

A eutanásia é sempre a decisão de uma miserável solidão

GERIATRIA, BIOÉTICA E HUMANISMO

Faz pouco mais de dois anos que foi lançado na Itália, por uma associação conhecida por suas atividades radicais, um vídeo que tinha o propósito de chocar. Era a história de Piera, uma senhora de 76 anos que tinha recebido o diagnóstico de um câncer de fígado em estágio avançado e incurável.

Piera conta que “morreu” no dia em que recebeu o diagnóstico de incurabilidade da sua doença. E em três minutos, enquanto faz as malas, explica que, visto que não havia possibilidades de cura e que iria encontrar o sofrimento no caminho, decidiu ir à Suíça para acabar com tudo. Piera deixa claro no vídeo que não queria mais o sofrimento, que não servia para nada. Por isso Piera, e só ela, tinha o direito de decidir sobre a sua vida e a sua morte.

“A escolha de Piera”, nome do pequeno filme, foi exatamente essa. Viajou a uma cidadezinha próxima de Zurique e lá escolheu o momento exato para colocar um ponto final na sua vida. Deixou em herança aquele filme-testemunho para a campanha que busca a legalização da eutanásia na Itália.

Piera dizia amargurada no vídeo: “Os outros caminhos não me levam à cura, não me levam a uma vida diferente, não me levam a lugar nenhum. Levam-me sempre e de qualquer forma ao fim da vida. E então, por que não escolher o caminho menos turbulento, que mesmo assim me dá medo? Mas não tenho dúvidas. Não quero mais sofrer. O direito ao sofrimento é um fim em si mesmo, um sofrimento que não beneficia a ninguém. A quem beneficia o meu sofrimento ou de tantos outros? Para quem serve? Por que motivo eu devo sofrer até morrer?! Sofre-se até que se morre. Quem se pode dar o direito de dizer ou de fazer isso?! Sou eu, eu, eu, a minha vida, a minha morte, eu decido sobre mim”.

São palavras fortes. Mas de qualquer forma, mais forte é a solidão de Piera. Ela decidiu algo muito grave, de forma solitária. É verdade que todo mundo morre sozinho. É inevitável. A morte, como a vida, só cada um pode saborear e percorrer. Mas a solidão do suicida, especialmente do suicida assistido, parece ser mais aguda e dolorosa. Não porque Piera não tenha podido contar com a proximidade dos seus familiares e amigos porque se viu “obrigada” a ir à Suíça para morrer. Mas porque quem procura ajuda para morrer, não deixa de estar pedindo ajuda para viver, mesmo que de forma inconsciente. Todos os seres humanos têm necessidade de compartilhar a vida. E todos necessitam viver e morrer acompanhados.

Parece que Piera, a pesar da ajuda que recebeu para ir à Suíça, não podia contar com ninguém que lhe dissesse “fique aqui o tempo que for, eu estarei com você, eu cuido de você”. A eutanásia é sempre uma decisão de uma miserável solidão: de quem não quer incomodar os outros, de quem tem medo de sofrer fisicamente sem ter o alívio de uma presença realmente gratuita e voluntária, de quem a ama.

É por isso que a eutanásia é sempre uma derrota, do indivíduo e da sociedade. Derrota do indivíduo que se vê impotente diante do presunto monstro da morte dolorosa. Derrota da sociedade que não pode ou não quer oferecer ajuda a quem se sente débil e marginalizado pelo sofrimento de uma doença.

As mesmas mãos amigas que ajudaram Pietra a ir à Suíça ou que a filmaram pela última vez, não eram amigas o bastante para acolhê-la nesses seus piores dias. Piera estava sozinha a pesar da presença de alguns que compartilhavam da sua convicção de procurar uma “boa morte”.

Naquele momento em que um se sente sozinho e desesperado, apavorado pelo porvir, encontra na indústria da eutanásia, o impulso que lhe faltava: “Sim, o seu sofrimento é inútil. Acabe com a sua vida que é melhor para você e para aqueles que ficam”.

Mas existem alternativas! Talvez tudo possa ser diferente se aquele que se encontra nessa situação encontra o acolhimento daqueles que praticam os Cuidados Paliativos e pode, então, ouvir e sentir e tocar aquilo que dizia Cicely Saunders, uma das fundadoras do movimento Hospice:

“Você é importante porque você é você. E você é importante até o fim da sua vida. Faremos todo o possível não só para ajudá-lo a morrer em paz, mas também para fazer você viver até o momento de morrer.”

(Geriatria, Bioética e Humanismo)

Um ataque aos direitos humanos

Quando a Igreja defende a lei natural, ela defende os próprios fundamentos dos direitos humanos

A insistência da Igreja Católica no combate à legalização do aborto e de outras práticas contrárias à família é fonte de muitas críticas. Não se consegue entender por que uma instituição religiosa poderia influenciar nas decisões políticas de um Estado que, a princípio, se declara laico. Assistimos a este tipo de argumentação, por exemplo, durante o debate acerca da Sugestão Legislativa 15/2014, a qual pretende “regular a interrupção voluntária da gravidez, dentro das doze primeiras semanas de gestação, pelo Sistema Único de Saúde”.

Essa confusão sobre o papel da Igreja na sociedade tem sua origem em um problema bastante complexo para a mentalidade moderna, e que diz respeito aos próprios fundamentos dos direitos humanos. “A ideia do direito natural” é vista, nos dias de hoje, como “uma doutrina católica bastante singular, sobre a qual não valeria a pena discutir fora do âmbito católico, de tal modo que quase se tem vergonha mesmo só de mencionar o termo” [1]. Isso se deve basicamente a dois fatores: a) a cisão entre fé e razão, a qual gerou uma noção de lei natural rígida demais, sem a consideração de processos históricos; b) o surgimento da doutrina positivista, cuja explicação sobre o ser humano tende a reduzi-lo a uma natureza apenas funcional.

Há, no entanto, outro aspecto a ser considerado. A lei natural constitui um obstáculo à arbitrariedade, pois exige do indivíduo uma adequação às necessidades dos outros, de modo que as paixões não deteriorem a harmonia social. Ela assegura ao homem o direito à objeção de consciência frente a imposições injustas, mesmo quando aprovadas pela maioria ou por juízes aparentemente capazes. O próprio Hans Kelsen, um dos maiores opositores da lei natural, viu-se obrigado a evocá-la para condenar a perseguição nazista que sofreu.

Eis o ponto. Toda a luta a favor do aborto, como disse Padre Paulo Ricardo durante o debate, resume-se a uma luta contra o direito natural. Não se trata de uma defesa das minorias marginalizadas, não se trata de uma defesa das mulheres pobres e negras nem da saúde pública — apesar de insistirem muito neste discurso. O objetivo é bem outro: manipulação e poder.

A razão defende a lei natural

A luz da razão mostra-nos que existe uma verdade natural acerca do ser humano e que, precisamente por isso, deve existir uma coerência ética comum para que essa verdade seja respeitada como um direito inalienável da humanidade. Isso se expressa de maneira eloquente no desejo moral compartilhado por vários grupos étnicos, culturais e sociais ao longo da história. Em praticamente todas as sociedades de que se tem notícia, encontra-se uma máxima ligada à famosaregra de ouro, isto é, aquele conselho de não fazer aos outros aquilo que não queres que façam contigo. Vemos, assim, que a moral não é uma construção social, embora seja influenciada por esse aspecto. Trata-se de algo que corresponde às exigências do próprio ser.

Na tradição filosófica clássica, essa verdade sobre o homem e o meio à sua volta foi denominada lei natural. Aristóteles, talvez o maior expoente desse período, considerava moralmente lícito aquilo que correspondia à natureza [2]. Nesta visão, o Estagirita queria explicar que a busca do homem pela felicidade só poderia ser plenamente cumprida se houvesse um respeito à sua vocação. Aqui entra o papel de instituições como a família e o Estado.

O homem, para poder cumprir sua vocação, necessita de condições favoráveis ao seu agir moral. Nem todos os preceitos da lei natural são evidentes. Eles precisam ser refletidos e ponderados pela razão, para que possam ganhar clareza e força de adesão. No entanto, em um ambiente de vícios, em que se proliferem preconceitos, paixões e má vontade, o indivíduo facilmente tende a ignorar a lei natural, senão mesmo a repudiá-la [3]. Como explica Santo Tomás de Aquino, “a lei natural pode ser destruída do coração humano, seja por más persuasões, como se dão erros relativos às conclusões necessárias na ordem especulativa, seja por maus costumes e hábitos corruptos” [4]. Nestas condições, restam a anarquia e a lei dos mais fortes.

A partir disso, podemos intuir a função da família. Cabe a ela o dever de assegurar uma educação virtuosa, a fim de que os filhos mantenham-se sempre atentos à verdade. Para Aristóteles, as famílias “originam-se da necessidade de os seres humanos manterem-se vivos e protegerem e criarem seus filhos” [5]. E isso postula a complementariedade dos sexos. O Estado, por sua vez, tem a obrigação de proteger as famílias, ajudando-as a educar as crianças para as virtudes. Isso porque a pessoa é “anterior à sociedade e a sociedade é humanizadora somente quando responde às expectativas inscritas na pessoa enquanto ser social” [6].

Por isso a Igreja defende a lei natural. Defendê-la é defender o homem, como explicou o Papa Emérito Bento XVI no Congresso do Partido Popular Europeu, em 2006. A “tutela da vida em todas as suas fases”, o “reconhecimento e promoção da estrutura natural da família” e a “tutela do direito dos pais de educar os próprios filhos” são direitos humanos inegociáveis, que garantem a perfeita realização do ser humano [7]:

Estes princípios não são verdades de fé mesmo se recebem ulterior luz e confirmação da fé. Eles estão inscritos na natureza humana e, portanto, são comuns a toda a humanidade. A ação da Igreja de os promover não assume, por conseguinte, um caráter confessional, mas dirige-se a todas as pessoas, prescindindo da sua filiação religiosa. Ao contrário, esta ação é tanto mais necessária quanto mais estes princípios forem negados ou mal compreendidos porque isto constitui uma ofensa contra a verdade da pessoa humana, uma grave ferida infligida à própria justiça.

Uma antropologia manipuladora

As fundações internacionais — relativistas que são — negam a existência do direito natural e, por assim dizer, a inviolabilidade desses três valores defendidos não somente pela fé católica, mas, em primeiro lugar, pela racionalidade das coisas. Entendem a sociedade como uma massa de modelar, passível de modificações arbitrárias, pois, afinal, na origem de sua constituição, não haveria princípios elementares para a manutenção de um ambiente virtuoso, voltado para a realização do homem conforme sua própria natureza. Ao contrário. A sociedade atual, para esses ideólogos, seria apenas resultado de uma estrutura opressora, sustentada pelo discurso da Igreja e de outras instituições, no jargão marxista, burguesas.

Encontramos esse tipo de abordagem no livro Sociologia em movimento, comentado recentemente aqui no site. A moral sexual, segundo dizem, seria apenas “um meio de estabelecer relações de poder construídas historicamente nas sociedades ocidentais” [8].

As fundações Ford, Rockfeller, MacArthur e cia. puseram na cabeça que o grande mal da humanidade é o crescimento populacional. Até a década de 1950, a estratégia adotada para impedir novos nascimentos foi o apoio maciço à indústria contraceptiva. O método, porém, não obteve o resultado almejado. A partir da década de 1960, com o investimento em pesquisas sociológicas, essas mesmas fundações encontraram um meio de danificar o tecido social, incentivando o aborto e justificando todos os tipos de práticas sexuais desordenadas.

Essa é a razão da causa LGBT e da liberação do aborto estarem tão atreladas. Qualquer coisa que corrompa a sensibilidade humana para a lei inscrita em sua própria natureza serve como instrumento de manipulação. Tudo se resume a um grande engodo, como já mostramos aqui em outras ocasiões. Acompanhem o raciocínio: se, em matéria sexual, não existe verdade — não existe lei natural, diferentemente do que indica a razão —, mas apenas discursos para a legitimação de poderes “historicamente construídos”, acaso essa crítica não caberia também à própria sociologia desenvolvida pelos pesquisadores financiados por tais fundações? A rigor, a tese deles é esta: deixem de ser manipulados pela malvada Igreja Católica para serem manipulados por nós, as fundações internacionais, pois sabemos o que é melhor para a humanidade.

A “ditadura do relativismo”, para usar uma expressão do Cardeal J. Ratzinger, é a única tábua de salvação para essas fundações internacionais — em que pese todas as lacunas dessa ditadura. O que elas querem é o poder; por isso, precisam quebrar a coluna da sociedade, ou seja, destruir o direito natural, pois quando este é negado, o que resta é somente a “vontade do legislador que faz a lei” [9].

O que está em jogo nesta questão não é só a aprovação do aborto, que de per si já bastaria para protestarmos. Estamos diante de um ataque orquestrado aos fundamentos dos direitos humanos, sob uma falsa promessa de liberdade e defesa dos oprimidos. O aborto é só a ponta do iceberg.

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. Papa Bento XVI, Discurso ao Parlamento Federal (22 de setembro de 2011).
  2. Comissão Teológica Internacional, Em busca de uma ética universal: novo olhar sobre a lei natural (6 de dezembro de 2008), n. 20.
  3. Papa Pio XII, Carta Encíclica Humani Generis (12 de agosto de 1950), n. 1.
  4. Suma Teológica, I-II, q. 94, a. 6.
  5. ADLER, Mortimer. Aristóteles para todos: uma introdução simples a um pensamento complexo. São Paulo: É Realizações, 2014, p. 117.
  6. Comissão Teológica Internacional, op. cit., n. 86.
  7. Papa Bento XVI, Discurso aos participantes no congresso promovido pelo Partido Popular Europeu (30 de março de 2006).
  8. SILVA, A. et alSociologia em movimento. São Paulo: Moderna, 2013, p. 347.
  9. Comissão Teológica Internacional, op. cit., n. 89.

Quais são os maiores interesses no uso de fetos abortados?

Existem outros interesses em fetos abortados, além dos fabulosos recursos financeiros para o controle populacional

O aborto é entendido como a interrupção da gravidez antes do tempo, isto é, quando o feto ainda não tem condições de subsistir fora do útero materno. O aborto pode acontecer de modo espontâneo ou voluntário. Muitas são as razões de quem busca o aborto voluntário, seja quando a gestação põe em risco a vida da mãe, quando existe o risco de a criança nascer com anomalias ou malformações, em casos de gravidez indesejada, por questões estéticas, psicológicas, para o comércio de tecidos fetais, uso dos órgãos para transplantes etc.

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Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

Quais são os maiores interesses no uso de fetos abortados? 

O comércio de tecidos humanos de fetos abortados; o interesse em transplantes de tecidos e pesquisas com embriões e fetos humanos; os defensores da inseminação artificial; fabricantes de cosméticos e sabonetes, que se utilizam de fetos abortados como matéria prima para seus produtos1 ; a preservação de partes vivas de embriões em cultura de células para obtenção de órgãos para transplantes2; e outros3.

Além dos fabulosos recursos financeiros para o controle populacional, os fabricantes de cosméticos e sabonetes investem milhões de dólares para tornar o aborto legal e a contracepção um programa de governo, objetivando a venda de seus produtos e a expansão de seus negócios. O que menos vem em conta é a vida humana. A ganância supera a mínima preocupação com a ética, a moral, a saúde e o bem-estar de seus clientes.

Conforme o site “LifeSite Daily News” – August 8, 2002 (LSN.ca) -, tecidos de fetos abortados serão vendidos no mercado internacional. A companhia com sede em Melbourne, ES Cell International, disse que vai usar tecido de fetos se for considerado o melhor material para produzir células-tronco embrionárias humanas em grande quantidade para experimentos.

“Protocolo Confidencial Maio” – Agosto de 1999 -, em seu site, apresenta uma tabela de preços de embriões/fetos abortados que variam de acordo com a “idade gestacional”, se é “fresco ou congelado”. Apresenta também outra tabela de acordo com os gastos por serviço.

Trago aqui alguns exemplos:

* Fígado de um feto com 8 semanas ou menos tem 30% de desconto se significativamente fragmentado – US$ 150;
* Fígado de um feto com mais de 8 semanas, tem 30% de desconto se significativamente  fragmentado – US$ 125;

* Baço de um feto de 8 semanas ou menos – US$ 75;
* Baço de um feto com mais de 8 semanas – US$ 50;

*Cérebro de um feto com 8 semanas ou menos, 30% de desconto se significativamente fragmentado – US$ 999;
*Cérebro de um feto com mais de 8 semanas, tem 30% de desconto se significativamente fragmentado – US$ 150.

Dentre todos os crimes que o homem pode realizar contra a vida, o aborto provocado apresenta características que o tornam particularmente grave e detestável. O Concílio Vaticano II o define, juntamente com o infanticídio, como “crime abominável”. “Existem os que ousam trazer soluções desonestas a esses problemas e não recuam até mesmo diante da destruição da vida. Deus, com efeito, que é o Senhor da vida, confiou aos homens o nobre encargo de preservar a vida para ser exercido de maneira condigna do homem. Por isso, a vida deve ser protegida com o máximo cuidado desde a concepção” (Constituição Pastoral “Gaudium et Spes”, 51).

A morte direta e voluntária de um ser humano inocente é sempre gravemente imoral. Importante lembrar o que nos disse São João Paulo II: “Nada nem ninguém pode autorizar que se dê a morte a um ser humano inocente, seja ele feto ou embrião, criança ou adulto, velho, doente incurável ou agonizante”. Todos têm direito à vida. Também o Catecismo da Igreja Católica afirma: “A vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver reconhecidos os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida” (Catecismo da Igreja Católica, 2270).

Outro ponto importante, quando se fala de aborto, são as leis que permitem ou não o aborto. Temos de ter a consciência de que nem tudo aquilo que é legal é moral; leis que aprovam o aborto, que não defendem a vida desde o nascimento, são danosas e não merecem ser respeitadas. Nenhuma legislação jamais poderá tornar lícito um ato que é intrinsecamente ilícito. Portanto, o aborto é uma pena de morte decretada contra um ser humano frágil e indefeso. Por isso, com toda certeza, afirmo que a vida humana é sagrada, possui dignidade inviolável e precisa ser defendida e preservada desde a concepção.

No entanto, a vida de uma criança no ventre da mãe deve ser protegida pela lei, cada qual no seu estágio de desenvolvimento. Trata-se de um direito inalienável. Permitir a interrupção dessa vida é praticar o crime de aborto. Não podemos admitir exceções. Independente das condições da mãe ou da criança, a vida humana sempre deve ser preservada. A Igreja se mostra radical quando o assunto é a defesa da vida humana, em particular a indefesa. A defesa da vida humana tem que ser garantida apesar do que possa se desenvolver depois.

“Desde o momento da concepção, a vida de todo ser humano deve ser respeitada de modo absoluto, porque o homem é, na terra, a única criatura que Deus “quis por si mesma”. A vida é sagrada, porque comporta “a ação criadora de Deus” e permanece para sempre em uma relação especial com o Criador, seu único fim” (Donum vitae, p.17).

Assim resumimos: todo ser humano, inclusive a criança no útero materno, possui o direito à vida imediatamente de Deus, não dos pais nem de qualquer outra autoridade humana. Todo aborto voluntário é um atentado contra a vida e é contrário à vontade divina.

Referências:

1 – “Quem Decide? Poder Política e Controle de População” – Tradução da Associação Nacional Provida e Pró-Família.
2 – Comunicado da “American Life League, Inc”, de 21.3.94.
3 – Fonte: Associação Nacional Pró-Vida e Pró-Família

Padre Mário Marcelo Coelho

Mestre em zootecnia pela Universidade Federal de Lavras (MG), padre Mário é também licenciado em Filosofia pela Fundação Educacional de Brusque (SC) e bacharel em Teologia pela PUC-RJ. Mestre em Teologia Prática pelo Centro Universitário Assunção ( SP), o sacerdote é autor e assessor na área de Bioética e Teologia Moral; além de professor da Faculdade Dehoniana em Taubaté (SP).

Vida e Dignidade humana (parte I)

Entrevista com Dr. Ivanaldo Santos, filósofo, pesquisador e professor universitário

Por Thácio Siqueira

BRASILIA, quinta-feira, 26 de julho de 2012 (ZENIT.org) – O atual debate sobre a Reforma do código penal brasileiro, com a proposta de descriminalização do aborto, etc, está mostrando que estamos vendo chegar ao Brasil propostas de leis contrárias à vida, à moral cristã, e, filosóficamente contrárias ao próprio desenvolvimento e progresso da nação.

Para ajudar nesse debate ZENIT entrevistou o Dr. Ivanaldo Santos, doutor em filosofia e autor de inúmeros artigos em revistas especializadas de todo o mundo, perguntado-lhe o significado da vida, visto desde a filosofia.

O Dr. Ivanaldo Santos é filósofo, pesquisador e professor universitário. Publicou mais de 70 artigos em revistas científicas nacionais e internacionais e tem 8 livros publicados.

Publicamos hoje a primeira parte da entrevista. A segunda parte será publicada amanhã, dia 27 de Julho.

ZENIT: O que é a vida, filosoficamente falando?

DR. IVANALDO:Do ponto de vista estritamente da filosofia não é possível se construir um conceito fechado de vida. Vale lembrar que as tentativas de conceitos fechados de vida conduziram a experiências trágicas, como é o caso dos campos de concentração no regime nazista. Na verdade vida, podemos assim falar, é a grande manifestação do logos, que engloba, entre outras coisas, a dimensão biológica, cultural, familiar, psicológica, social e religiosa. Vida é o mais amplo e complexo movimento que o ser humano tem acesso.

ZENIT: A vida é propriedade do homem?

DR. IVANALDO:Nos últimos séculos, devido, em grande medida, as experiências oriundas do capitalismo e do estatismo socialista, tem se discutido muito a noção de propriedade. Fala-se, por exemplo, em propriedade privada, em propriedade intelectual e em propriedade do Estado. Nos últimos anos essa discussão chegou até mesmo a vida humana. Com isso, passou-se a discutir sobre a propriedade de medicamentos, tratamentos de doenças e até mesmo do genoma humano. Além disso, é preciso esclarecer que contemporaneamente o mundo vive um retrocesso nas relações trabalhistas e nos direitos humanos.  Por exemplo, temos o retorno da escravidão, a exploração de mulheres para fins sexuais, são as chamadas escravas do sexo, o trágico de sangue e órgãos humanos, uma política agressiva de legalização do aborto e do infanticídio, dentro do mercado de trabalho está sendo aceito largamente o trabalho precarizado e semi-escravizado, como o que acontece em muitas fábricas na China e em outros países que, são apresentados, como modelos de desenvolvimento econômico. Dentro desse triste quadro passa a haver uma visão reducionista que a vida é um simples objeto comercial, uma propriedade, que, como toda propriedade, é possível se vender e comprar. No entanto, a realidade ontoética do ser humano é bem diferente. O ser humano é a única espécie capaz de refletir filosoficamente sobre si mesma e sobre, a sociedade e o cosmo. Ele é capaz de construir a arte, a poesia e tudo mais que existe de belo e sublime na sociedade. Trata-se, por conseguinte, de uma grande responsabilidade. A vida humana é um patrimônio de Deus e de toda a sociedade. Por isso é preciso valorizar todas as formas e manifestações da vida humana, como, por exemplo, a vida das populações pobres, de regiões isoladas, de mulheres em risco de prostituição, dos deficientes físicos, e do feto, o bebê ainda no ventre da mãe. É por esse motivo que não se pode aceitar e incentivar a cultura da morte, uma cultura que tem como “comércio” a venda da morte para os seres humanos. Essa cultura, ou melhor uma anti-cultura, se manifesta, por exemplo, no retorno da escravidão, na exploração de mulheres para fins sexuais, na tentativa de legalização do aborto, da eutanásia, do infanticídio e de outras barbaridades.

ZENIT: Em ordem de importância, qual vida é mais importante: a vida humana ou a vida animal?

DR. IVANALDO:Inicialmente é preciso esclarecer que todas às formas de vida devem ser valorizadas, preservadas e respeitadas. Sem dúvida que os maus tratos a animais selvagens e domésticos não devem ser aceitos. Nesse sentido tem havido no mundo, inclusive no Brasil, um avanço na legislação de proteção aos animais. Entretanto, é preciso esclarecer que a proteção aos animais passa pela proteção e valorização da vida humana. Em muitas ocasiões, o ser humano é o destruidor da natureza e da vida selvagem, mas também é o promotor da cultura, da arte e da própria preservação da vida animal. Do ponto de vista ontoético, a vida humana é mais sublime e mais especial do que a vida animal. É claro que devemos promover a defesa da vida animal, mas, por compromisso ético, temos que respeitar, promover e garantir as condições socioculturais de desenvolvimento da vida humana. Neste sentido a vida humana tem prioridade sobre a via animal. Isso não significa que vamos sair por aí matando animais, mas, pelo contrário, temos que garantir a, num primeiro plano, a dignidade da vida humana e, num segundo plano, a vida animal. Levando em conta o desenvolvimento econômico e científico do mundo, afirma-se que há condições técnico-científicas suficientes para a realização dessa tarefa.

Para mais informações: Ivanaldo Santos, doutor em filosofia. Email: ivanaldosantos@yahoo.com.br.