Quatro Constituições Conciliares (Parte II)

Mons. Vitaliano explica as quatro Constituições do Concílio Vaticano II

CRATO, segunda-feira, 24 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir a segunda parte do artigo que Mons. Vitaliano escreveu na sexta-feira, sobre as quatro Constituições do Vaticano II. Para ler a primeira parte clique aqui (http://www.zenit.org/article-31359?l=portuguese)

Constituição Dogmática sobre a Revelação: Dei Verbum, 18 de Novembro de 1965.

Documento de fundamental importância para a compreensão da Palavra de Deus e da relação com o Magistério da Igreja. Deus tem falado aos homens. O Cristo, Palavra (Verbo) de Deus, por quem todas as coisas foram criadas, é a plenitude da Revelação. A Constituição mostra como na Sagrada Escritura se encontra a Palavra de Deus fixada por escrito sob a inspiração do Espírito Santo, enquanto que a Palavra de Deus, confiada por Cristo aos Apóstolos, é transmitida pela Tradição integralmente aos sucessores dos apóstolos. A Hierarquia tem a tarefa de interpretar autenticamente a Palavra de Deus. Este aspecto é analisado no segundo capítulo (n. 7-10). O problema que mais ocupou a Assembleia Conciliar foi exatamente o das fontes da Revelação: só a Sagrada Escritura ou também a Tradição (a interpretação da Igreja ao longo dos séculos). O texto estabeleceu que existem duas fontes da Revelação: a S. Escritura e a Tradição da Igreja. Alguns passos fundamentais: “Relação entre a Sagrada Tradição e a Sagrada Escritura. A Sagrada Tradição, portanto, e a Sagrada Escritura estão intimamente unidas e compenetradas entre si. Com efeito, decorrente ambas da mesma fonte divina, fazem como que uma só coisa e tendem ao mesmo fim. A Sagrada Escritura é a palavra de Deus enquanto que foi escrita por inspiração do Espírito Santo; a Sagrada Tradição, por sua vez transmite integralmente aos sucessores dos Apóstolos a palavra de Deus confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos…  Disso resulta que a Igreja não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas. Por isso, ambas devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência (n. 9). Relação de uma e outra com a Igreja e com o Magistério eclesiástico.  A sagrada Tradição e a Sagrada Escritura constituem um só depósito sagrado da palavra de Deus, confiado à Igreja…Porém, o encargo de interpretar autênticamente a palavra de Deus escrita ou contida na Tradição, foi confiado só ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo. Este magistério não está acima da palavra de Deus, mas sim ao seu serviço, ensinando apenas o que foi transmitido… É claro, portanto, que a Sagrada Tradição, a Sagrada Escritura e o Magistério da Igreja, segundo o sapientíssimo desígnio de Deus, de tal maneira se unem e se associam que um sem o outro não se mantém, e todos juntos, cada um a seu modo, sob a ação do mesmo Espírito Santo, contribuem eficazmente para a salvação das almas”.  Finalmente, a Constituição enfatiza o papel fundamental que deve ter as Escrituras em toda a vida da Igreja.

Constituição sobre a Igreja no mundo do nosso tempo: Gaudium et Spes, 7 de Dezembro de 1965.

Esta Constituição está formada por uma primeira parte sobre a vocação do homem, e por uma segunda sobre alguns problemas mais urgentes. Uma introdução descreve primeiramente a condição do mundo de hoje, com as suas profundas transformações, as suas esperanças e os seus medos. A Igreja quer captar tudo o que seja sinal da presença e da vontade de Deus nos acontecimentos, nas exigências e aspirações dos homens. A primeira parte responde a algumas perguntas: o que a Igreja acha da dignidade do homem, o que se deve recomendar para a edificação da sociedade moderna, qual é o significado último da atividade humana. Finalmente, no último capítulo discute o papel que a Igreja quer desempenhar no mundo contemporâneo.

A segunda parte estuda sucessivamente a dignidade do matrimônio e da família, a promoção da cultura, da vida econômica e social, a vida da comunidade política, e por fim a paz e a promoção da comunidade das nações.

A Igreja em tudo isso, ainda que consciente de suas limitações, propõe-se a esta finalidade: ajudar com a sua luz onde for possível; ajudar com a sua esperança; a sua mão na mão dos homens, abertamente, para salvar o homem.

* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

[Trad. TS]

Quatro constituições conciliares (Parte I)

Mons. Vitaliano explica as quatro Constituições do Concílio Vaticano II

Mons. Vitaliano Mattioli*

CRATO, sexta-feira, 21 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – O Papa Bento XVI na Missa celebrada em Frascati (Itália) no dia 15 de julho de 2012 durante a homilia se expressou assim: “Os Documentos do Concílio contém uma riqueza enorme para a formação da nossa consciência”.

Com certeza o Concílio foi uma grande graça para a Igreja, mas ao longo destes 50 anos desde a sua abertura, nem sempre se ouviram vozes de acordo sobre a sua interpretação e atuação. Mais de uma vez o Vaticano foi apresentado como  uma linha de demarcação entre o pré e o pós-Concílio, ou seja numa linha de descontinuidade. Nada podia estar mais errado. Por isso Bento XVI poucos meses depois da sua eleição pontifícia considerou oportuno chamar a atenção sobre a correta interpretação com que se deve ler este Concílio. Aproveitou a ocasião de cumprimentos de Natal apresentando-lhes o Sagrado Colégio dos Cardeais, no dia 22 de dezembro de 2005.

Depois da primeira parte, começou a falar sobre o Concílio. Assim se expressou: “O último acontecimento deste ano, sobre o qual gostaria de me deter nesta ocasião, é a celebração do encerramento do Concílio Vaticano II, há quarenta anos. Tal memória suscita a interrogação: qual foi o resultado do Concílio? Foi recebido de modo correcto? O que, na recepção do Concílio, foi bom, o que foi insuficiente ou errado? O que ainda deve ser feito? Ninguém pode negar que, em vastas partes da Igreja, a recepção do Concílio teve lugar de modo bastante difícil… Surge a pergunta: por que a recepção do Concílio, em grandes partes da Igreja, até agora teve lugar de modo tão difícil? Pois bem, tudo depende da justa interpretação do Concílio ou como diríamos hoje da sua correcta hermenêutica, da justa chave de leitura e de aplicação. Os problemas da recepção derivaram do facto de que duas hermenêuticas contrárias se embateram e disputaram entre si. Uma causou confusão, a outra, silenciosamente mas de modo cada vez mais visível, produziu e produz frutos. Por um lado, existe uma interpretação que gostaria de definir “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”… Por outro lado, há a “hermenêutica da reforma”, da renovação na continuidade do único sujeito-Igreja, que o Senhor nos concedeu; é um sujeito que cresce no tempo e se desenvolve, permanecendo porém sempre o mesmo, único sujeito do Povo de Deus a caminho. A hermenêutica da descontinuidade corre o risco de terminar numa ruptura entre a Igreja pré-conciliar e a Igreja pós-conciliar”.

Para facilitar “Hermenêutica da Reforma,” Eu quero apresentar, ainda que de forma condensada, as 4 constituições conciliares. Em outra ocasião escrevi sobre os 9 documentos, clique aqui para ler.

A Constituição sobre a Sagrada Liturgia: Sacrosanctum Concilium, 4 de dezembro de 1963

A Constituição se limitou a definir as orientações para a reforma, cuja execução foi confiada em grande parte às Conferências episcopais (esta é a primeira atribuição de uma competência jurídica dada às Conferências Episcopais pelo Concílio). Esta Constituição fixa os princípios gerais da reforma e apresenta um caráter doutrinal. Faz ver como a liturgia é “o cume ao qual tenda a ação da Igreja, e ao mesmo tempo a fonte de onde mana a sua força” (n. 10). Fala sobre a participação ativa dos leigos: Discussão sobre a participação ativa dos leigos: “Os cristãos não assistam a este mistério de fé como estranhos ou expectadores mudos, mas participem na ação sagrada, consciente, piedosa e ativamente” (n. 48). Desenvolve claramente uma noção de Povo de Deus, no meio da qual a Hierarquia tem uma função de serviço. O Documento fala também da música sagrada, dos sacramentos, da liturgia das Horas, do ano litúrgico e da reforma do calendário. Paulo VI com o Motu Próprio ‘Sacram Liturgia’ (25 de Janeiro de 1964) deu início a uma primeira série de reformas. Com a Constituição Apostólica “Missale Romanum” (3 de Abril de 1969) entra em vigor a “Instrução Geral do Missal Romano e Introdução ao Lecionário”. Paulo VI, com a Carta Apostólica “Mysterii Paschalis” estabeleceu as normas para a reforma do calendário e do ano litúrgico.

A Constituição Dogmática sobre a Igreja: Lumen Gentium, 21 de novembro de 1964.

Este documento envolve toda a Igreja na sua estrutura e na sua atividade. O primeiro capítulo fala do mistério da Igreja que “é, no Cristo, como que o Sacramento, ou seja, o sinal e o meio da união íntima com Deus e da unidade de todo o gênero humano” (n.1, e descreve a relação da Igreja de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo. O segundo capítulo apresenta a Igreja como Povo de Deus, constituído pelo Batismo e do qual a cabeça é Cristo, a caminho através da história e destinado a reunir todos os homens. Lembra os laços entre a Igreja e os Cristãos não católicos, seus relacionamentos com os não-cristãos e afirma os caráter missionário do Povo de Deus. Apresenta em seguida os membros do Povo de Deus: a hieraquia (bispos, sacerdotes e diáconos) e os leigos. O terceiro, sobre a hierarquia, afirma a colegialidade do episcopado (os bispos sucessores dos apóstolos, ao redor do Papa sucessor de Pedro, seu chefe, receberam de Cristo a responsabilidade da Igreja universal) e decide que os Episcopados locais podem restaurar o diaconado como uma Ordem permanente, e conferir esta Ordem a homens casados. O capítulo quarto, sobre os leigos, mostra a eles a participação na vida e na missão da Igreja (culto, proclamação do Evangelho, orientação para o Cristo da vida e das atividades de toda a humanidade). O quinto capítulo fala da vocação à santidade por parte de todos os membros do Povo de Deus. O capítulo sexto, sobre os religiosos, explica a função da vida religiosa em relação à vida espiritual de todo o povo cristão. O sétimo capítulo apresenta a Igreja, peregrina na terra, para a vida eterna, em comunhão com a Igreja celeste. Finalmente o capítulo oitavo apresenta a função materna da Virgem Maria no mistério de Cristo e da Igreja. Está em sintonia com este texto que Paulo VI, no dia 21 de novembro de 1954, deu à Virgem o título de Mãe da Igreja, porque ela, em quanto mãe de Cristo, é também mãe de todo o Povo de Deus, seja dos fiéis como dos pastores.

Ao documento foi adicionado por vontade explícita de Paulo VI, uma “Nota Explicativa Prévia”, contendo alguns fundamentos sobre o texto para evitar interpretações erradas. Esta Nota deve ser considerada parte integral do mesmo Documento.

A segunda parte será publicada no dia 24 de Setembro.

Trad. TS

História do Concílio Vaticano II (Parte II)

Anunciado pelo Papa João XXIII no dia 25 de janeiro de 1959

Mons. Vitaliano Mattioli*

CRATO, sexta-feira, 17 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – A quarta sessão: aberta no dia 14 de Setembro de 1965, terminou no dia 8 de dezembro de 1965, festa da Imaculada Conceição.

No discurso de abertura caracterizou dessa forma o Concílio: “Não parece difícil dar ao nosso Concílio Ecuménico o caráter de um ato de amor: de um grande e tríplice ato de amor: para com Deus, para com a igreja, para com a humanidade”.

Nesta sessão, no dia 4 de outubro de 1965, Paulo VI visitou a Assembléia das Nações Unidas em Nova York, oficialmente convidado para celebrar o vigésimo aniversário da ONU.

No dia 18 de novembro de 1965 Paulo VI, perto do encerramento do Concílio deu um discurso falando da atitude que se deveria ter no pós-concílio, quase que prevendo a confusão que aconteceria em seguida.  “Veneráveis Irmãos, não devemos tanto prestar atenção a essas reformas necessárias, mas sim àquelas morais e espirituais, que nos façam mais em conformidade com o nosso Divino Mestre e mais aptos para os deveres da nossa respectiva vocação. Devemos principalmente esperar isso: a nossa efetiva santificação e a real capacidade de difundir entre os homens do nosso tempo a mensagem evangélica”.

No dia 7 de dezembro de 1965, véspera do encerramento, celebrou-se a Santa Missa da última sessão. Paulo VI na homilia resumiu dessa forma todo o Concílio: “No rosto de cada homem deve-se ver o rosto de Cristo, e neles, aquele do Pai Celestial. Para conhecer a Deus é preciso conhecer o homem. Amar a Deus para amar o homem. Todo este Concílio resume-se no seu significado conclusivo religioso, como um poderoso convite à humanidade de hoje a encontrar, através do amor fraterno, a Deus”.

No final da celebração eucarística aconteceu um fato importante. Paulo VI com a Carta Apostólica Ambulate in Dilectione, aboliu a excomunhão imposta no dia 16 de julho de 1054 ao Patriarca de Constantinopla Miguel Cerulário. Ao mesmo tempo em Constantinopla (Istambul), o Patriarca Atenágoras, revogava a excomunhão do Seu predecessor ao Papa Leão IX. Assim a Carta de Paulo VI: “Queremos eliminar da memória da Igreja a sentença de excomunhão emitida então, tirá-la do caminho, e a queremos enterrada no esquecimento e apagada. Temos o prazer de que nos seja dada a oportunidade de realizar este ato de caridade fraterna aqui em Roma, ao lado do túmulo do Apóstolo Pedro, no mesmo dia em que o mesmo acontece em Constantinopla (Istambul), que é chamada de Nova Roma.” O Card. Johannes Willebrands leu a Declaração Conjunta da Igreja Católica Romana e da Igreja Ortodoxa de Constantinopla. Logo depois, o Cardeal Agostino Bea leu a carta citada Ambulate in Dilectione.

Os documentos conciliares são:

Quatro Constituições:

Sacrosanctum Concilium (sobre a Liturgia), 4 de dezembro de 1963 (2178 eleitores, 2159 placet)

Lumen Gentium (sobre a Igreja), 21 de novembro de 1964 (2145 eleitores, 1921 placet)

Dei Verbum (sobre a Revelação Divina), 18 de novembro de 1965 (2350 eleitores,  2344 placet)

Gaudium et Spes (sobre a Igreja no Mundo contemporâneo), 7 de dezembro de 1965 (2373 eleitores, 2309 placet)

Nove Decretos:

Inter Mirifica (sobre as ferramentas da comunicação social), 4 de dezembro de 1963 (2124 eleitores, 1960 placet)

Orientalium Ecclesiarum (sobre as Igrejas Orientais católicas), 21 de novembro de 1964 (2149 eleitores, 2110 placet)

Unitatis Redintegratio (sobre o Ecumenismo), 21 de novembro de 1964 (2148 eleitores, 2137 placet)

Christus Dominus (sobre os bispos), 28 de outubro de 1965 (2322 eleitores, 2319 placet)

Perfectae Caritatis (sobre os religiosos) 28 de outubro de 1965 (2325 eleitores, 2321 placet)

Optatam totius (sobre a formação sacerdotal) 28 de outubro de 1965 (2321 eleitores, 2318 placet)

Apostolicam Actuositatem (sobre o apostolado dos Leigos) 18 de novembro de 1965 (2342 eleitores, 2340 placet)

Ad Gentes (sobre a atividade missionária), 7 de dezembro de 1965 (2399 eleitores, 2394 placet)

Presbyterorum Ordinis (sobre o ministério e a vida dos Presbíteros), 7 de dezembro de 1965 (2394 eleitores, 2390 placet)

Três declarações:

Gravissimum Educationis (sobre a educação cristã), 28 de outubro de 1965 (2096 eleitores, 1912 placet)

Nostra Aetate (sobre a relação com as Religiões não-cristãs), 28 de outubro de 1965 (2312 eleitores, 2221 placet)

Dignitatis Humanae (sobre a liberdade religiosa), 7 de dezembro de 1965 (2386 eleitores, 2308 placet)

Em 1966, o jornalista italiano Alberto Cavallaria escreveu em um livro-entrevista: “O verdadeiro significado do Concílio Vaticano II só será reconhecido depois de muitas décadas e toda conclusão rígida torna-se imprudente” (Il Vaticano che cambia, Mondadori, p. 27).

Hoje, após 50 anos desde o início do Concílio, essa reflexão aparece verdadeira.

(Para ler a primeira parte do artigo clique aqui)

* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]

História do Concílio Vaticano II (Parte I)

Anunciado pelo Papa João XXIII no dia 25 de janeiro de 1959

Mons. Vitaliano Mattioli*

Em 25 de janeiro de 1959 o Papa João XXIII, depois de um pontifical solene na Basílica de São Paulo, anunciou aos Cardeais o projeto de realizar um novo Concílio.

A surpresa foi grande porque João XXIII tinha sido eleito Papa em 28 de outubro do ano anterior.

Mais tarde soube-se que já o seu predecessor, Pio XII, teve essa ideia e, em segredo, começou os trabalhos preparatórios. Mas depois pensou que o tempo ainda não estava maduro.

João XXIII começou os preparativos no mês de maio seguinte constituindo a Pontifícia Comissão Antepreparatória. Nomeou Mons. Pericle Felici secretário da mesma.

Em junho de 1960 com o Motu proprio Superno Dei  instituiu as 11 Comissões preparatórias: teologia, bispos e governo das dioceses, disciplina do clero e do povo cristão, religiosos, sacramentos, liturgia, seminários, igrejas orientais, missões, leigos.

Finalmente no dia 11 de outubro de 1962 foi aberto oficialmente o novo Concílio. O Papa escolheu esta data porque, então, nesse dia celebrava-se a festa de Maria, Teothokos, Mãe de Deus. De tal forma manifestou a intenção de colocar o desempenho do Concílio sob a proteção de Maria.

O discurso de Santa Missa de abertura, Gaudet Mater Ecclesia, apontou as diretrizes do Concílio e motivou a oportunidade de celebrar o novo Concílio. Disse que o objetivo principal do Concílio deve ser a apresentação, defesa e difusão do sagrado depósito da doutrina cristã: “5.1. O que mais interessa para o Concílio é que o sagrado depósito da doutrina cristã seja custodiado e ensinado da forma mais eficaz. Tal doutrina abraça o homem integral, composto de alma e de corpo, e a nós, que moramos nessa terra, nos manda buscar como peregrinos a pátria celeste … 2. O vigésimo primeiro Concílio Ecumênico … quer transmitir de forma integral, não falseada, não em parte, a doutrina Católica”.

Em seguida, se move sobre o modo de se comportar da Igreja em torno aos erros doutrinários: “Abrindo o Concílio Ecumênico Vaticano II, é claro mais do que nunca que a verdade do Senhor permanece para sempre. 2. Não houve tempo em que a Igreja não se opôs a estes erros; muitas vezes também os condenou, e as vezes com a maior severidade. Quanto ao tempo presente, a Esposa de Cristo prefere usar o remédio da misericórdia ao invés de usar as armas do rigor; pensa que deva-se atender as necessidades de hoje, expondo mais claramente o valor do seu ensino e não condenando.

O discurso de abertura termina expressando o desejo de promover a unidade na família cristã e humana porque: “Infelizmente toda a família cristã ainda não conseguiu plenamente essa unidade visível na verdade.”

A primeira sessão terminou no dia 8 de dezembro de 1962. Os trabalhos foram atualizados pelo mês de setembro do ano seguinte.

Enquanto isso, no dia 3 de junho de 1963 o Papa João XXIII morreu. Automaticamente com a morte do Papa, o Concílio foi suspenso. Corresponde ao sucessor continuá-lo ou não.

O novo Papa eleito no dia 21 de junho foi Giovanni Battista Montini, que tomou o nome de Paulo VI. Ele expressou imediatamente o desejo de continuar o Concílio.

A segunda sessão foi aberta no dia 29 de setembro de 1963 e terminou no dia 4 de dezembro de 1963.

Em seu discurso de abertura, Paulo VI apresentou os quatro objetivos do Concílio: “Resumiremos em quatro pontos, que são: a definição ou, se preferir, a consciência de Igreja, a sua reforma, a restauração da unidade entre todos os cristãos e o diálogo da Igreja com os homens contemporâneos”.

Em janeiro de 1964 Paulo VI fez a histórica visita à Terra Santa seja para retornar às origens do cristianismo, como para reacender as relações entre a religião hebraica e o Estado de Israel, ainda não reconhecido oficialmente pela Santa Sé. Mas também para fazer novas  alianças com a Igreja Ortodoxa. Comovente e único na história anterior foi o encontro e o abraço em Jerusalém entre Paulo VI e Atenágoras, Patriarca de Constantinopla.

“A terceira sessão foi a do 14 de setembro de 1964 a 21 de novembro. Em seu discurso de encerramento, Paulo VI proclamou Maria: Mãe da Igreja: “Por esta razão, parece-nos necessário que nesta sessão pública anunciemos publicamente um título com o qual seja honrada a Beata Virgem Maria, que foi solicitado por diversas partes do mundo católico e nos é especialmente caro e aceitável, porque com admirável síntese expressa a posição privilegiada que na Igreja este Concílio reconheceu ser própria da Mãe de Deus.

Por isso para a glória da Beata Virgem e para a nossa consolação declaramos Maria Santíssima Mãe da Igreja, ou seja de todo o povo cristão, seja dos fieis que dos Pastores, que a chamamos Mãe amadíssima; e estabelecemos que com este título todo o povo cristão a partir de agora honre ainda mais a Mãe de Deus e lhe dirija súplicas”.

(Para ler o primeiro artigo sobre o Concilio acesse aqui. Publicaremos a segunda parte desta matéria amanhã, 17 de agosto)

* Mons. Vitaliano Mattioli, nasceu em Roma em 1938, realizou estudos clássicos, filosóficos e jurídicos. Foi professor na Universidade Urbaniana e na Escola Clássica Apollinaire de Roma e Redator da revista “Palestra del Clero”. Atualmente é missionário Fidei Donum na diocese de Crato, no Brasil.

[Tradução do Italiano por Thácio Siqueira]