Como os grupos LGBTQ estão destruindo as normas e mudando a educação

Hora da Drag Queen: nos principais centros urbanos dos Estados Unidos, drag queens leem contos para crianças em idade pré-escolar.

Foto: DivulgaçãoDennis PragerDaily Signal[15/08/2019] [13:52]

Praticamente todas as semanas surge algum problema que deixa os Estados Unidos preocupados.
Mas com nossa atenção voltada para o presidente Donald Trump, Google, Charlottesville, Rússia, impeachment, Jeffrey Epstein, as próximas eleições, racismo, guerra comercial com a China, o movimento #MeToo ou qualquer outra coisa, as organizações LGBTQ trabalham em silêncio para desmantelar as normas éticas, zombando da educação, arruinando a vida de pessoas inocentes e destruindo a ingenuidade infantil.
Se você acha que estou exagerando, eis aqui alguns exemplos:
A destruição dos esportes femininos
No último mês, uma levantadora de peso transgênero ganhou várias medalhas de ouro nos Jogos do Pacífico 2019, em Samoa. Laurel Hubbard, da Nova Zelândia, ganhou duas medalhas de ouro e uma de prata em três categorias de levantamento de peso para mulheres com mais de 87 quilos. Hubbard é fisicamente um homem.
Ano passado, dois homens biológicos de duas escolas de ensino médio diferentes de Connecticut competiram na divisão feminina da competição estadual de atletismo. Eles chegaram em primeiro e segundo lugares nos 100 e 200 metros rasos.
Como o Ocidente se acovarda diante das exigências dos grupos LGBTQ, ainda que isso seja injusto para as atletas mulheres, os homens que se consideram mulheres têm permissão para competirem contra elas.
E eles quase sempre ganham.
A destruição do gênero – ainda no nascimento
Como relatado pela Associated Press: “Pais também podem escolher o gênero ‘X’ para os recém-nascidos. Nova York está se juntando à Califórnia, Óregon e Washington, permitindo que o gênero não seja designado nas certidões de nascimento. Uma medida semelhante entra em vigor em Nova Jersey em fevereiro”.
Que porcentagem de norte-americanos acredita que as crianças têm sorte se nascem em famílias cujos pais não as identificam como homens ou mulheres quando do nascimento? Por outro lado, quantos de nós achamos que esses pais estão praticando uma forma de abuso infantil?
A destruição da inocência infantil e da autoridade parental
A Associated Press recentemente também informou que “a Califórnia reformulou seu manual de educação sexual, voltado para os professores das escolas públicas, encorajando-os a falarem de identidade de gênero para os alunos do jardim de infância”.
Tatyana Dzyubak, uma professora do ensino fundamental na região de Sacramento, reclamou: “Eu não deveria estar ensinando essas coisas. Isso cabe aos pais”.
Mas os pais e a autoridade parental sempre foram um empecilho para o totalitarismo. Portanto, a destruição da autoridade parental é um dos principais objetivos da esquerda, da qual as organizações LGBTQ são um dos principais componentes.
Hoje as bibliotecas dos principais centros urbanos promovem a Hora da Drag Queen – na qual drag queens leem histórias para crianças em idade pré-escolar. (Leia, por exemplo, o laudatório artigo “A Hora da Drag Queen Traz o Arco-íris para a Leitura”, publicado no New York Times em 19 de maio de 2017).
Há algumas semanas, o famoso apresentador e ator Mario Lopez disse à analista conservadora Candace Owens:
Se você tem três anos de idade e está dizendo que se sente de uma certa forma ou que acha que é menino ou menina, seja qual for o caso, acho perigoso que um pai tome uma decisão a respeito disso: “OK, então você seja menino ou menina” (…) Acho que os pais precisam deixar que os filhos sejam crianças, mas ao mesmo tempo você precisa ser o adulto na situação.
Por expressar com sensibilidade e respeito o que qualquer pai de uma criança de três anos de deveria dizer, ele foi condenado pela GLAAD (Aliança de Gays e Lésbicas contra a Difamação) e a PFLAG (Pais e Amigos de Lésbiscas e Gays), duas das maiores organizações LGBTQ. Sabendo que sua fonte de renda estava em jogo, ele imediatamente recuou do que disse.
Ao estilo da Revolução Cultural Chinesa, ele recuou de tudo o que disse e ainda afirmou que tinha muito o que aprender sobre pais permitirem que crianças de três anos escolham o próprio gênero.
A destruição das normas educacionais
Semana passada, a CNN transmitiu uma reportagem que dizia:
O governador de Illinois, J.B. Pritzker, sancionou uma lei que a contribuição dos LGBTQ será ensinada nas escolas públicas. (…) [A lei diz que] ‘Nas escolas públicas, o ensino de história deve incluir o estudo do trabalho e da contribuição dada por lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros para a história deste país e estado’.
A Equality Illinois, maior organização de defesa LGBTQ do estado, deu apoio à lei e disse que o currículo pode “ter um efeito positivo sobre a autoimagem dos alunos, tornando-os mais tolerantes’.
Uma vez que o objetivo do ensino de história passe a ser ensinar o que aconteceu para que isso tenha “um efeito positivo sobre a autoimagem dos alunos”, a história deixa de ter a ver com o passado; ela se torna propaganda. Mas reescrever a história não é problema para a esquerda.
Como dizia a velha piada de um dissidente soviético: “Na União Soviética, o futuro é conhecido; o passado é que está sempre mudando”.
Noto quase todos os dias que a verdade é um valor moral progressista e conservador, mas ela jamais foi um valor importante para a esquerda. Este é apenas mais um exemplo.
A destruição da realidade
David Zirin, editor de esportes do Nation: “Outro argumento para impedir que atletas trans participem de competições com atletas cis sugere que a presença deles faz mal a meninas e mulheres cis. Mas essa linha de raciocínio não reconhece o fato de que mulheres trans são mulheres” (grifos meus).
Deputada Ilhan Omar, numa carta para a Federação Norte-americana de Levantamento de Peso: “O mito de que mulheres trans têm ‘uma vantagem competitiva direta’ não tem base científica”.
Sunu Chandy, do Centro Nacional de Direito Feminino: “Não há nenhuma pesquisa que fundamente a ideia de que permitir atletas trans de jogarem em equipes adequadas ao seu gênero criará um desequilíbrio competitivo”.
Como essas pessoas podem dizer tanta mentira? Elas dizem isso porque mentir não é um problema quando a verdade não é um valor moral.
As organizações LGBTQ se preocupam com lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros tanto quanto os comunistas se importavam com os operários. Elas os usam para encobrir sua pauta real: a destruição da civilização com a conhecemos.”

Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/como-grupos-lgbtq-estao-destruindo-as-normas-e-mudando-a-educacao/?webview=1

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Um bebê nunca é “conveniente”

Ter um filho certamente fará com que você perca um pouco do controle sobre suas finanças, sobre seu tempo e, em última instância, sobre toda a sua vida. Mas também pode ser uma grande oportunidade para experimentar a ação da divina Providência.
Julie MachadoTradução: Equipe Christo Nihil Praeponere28 de Junho de 2019
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Meu marido e eu estamos esperando o quarto filho e, quando chegou a temida hora de contar a todos, percebi que fazê-lo nunca fica mais fácil. Esperamos o maior tempo possível para dar a notícia, e é difícil receber perguntas, críticas e conselhos indesejados quando se está em uma posição tão vulnerável…

Vulnerabilidades. — Há, primeiro, uma evidente vulnerabilidade física quando você está esperando um bebê. Por só ter ficado doente nos últimos anos em períodos gestacionais (pois a gravidez afeta seu sistema imunológico), eu fiquei sabendo que estava grávida justamente por conta de uma gripe. Tive os sintomas habituais de náusea e sonolência. Tentei ser mais cuidadosa porque tive perda de sangue durante o primeiro trimestre de gestações anteriores. Procurei pegar menos meus outros filhos no colo. Durante o nascimento e depois dele, ficarei fisicamente ainda mais vulnerável e todos precisaremos contar com ajuda de fora, especialmente de nossos irmãos mais velhos.

Embora menos óbvia que a primeira, existe também uma vulnerabilidade emocional para ambos os cônjuges quando se está esperando um bebê. Nossa gravidez não foi planejada e, de imediato, eu senti que seria vista como uma irresponsável. A coisa “responsável” em nossa sociedade é ser autossuficiente e não depender da ajuda de ninguém. Fiquei com medo do julgamento dos outros, de como eles nos veriam e das coisas que eles diriam. Eu gostaria de poder manter isso em segredo, pelo menos por um tempo, mas aquilo era como um trem já em movimento e com uma rota irreversível. Minha barriga cresceria e todos descobririam. O bebê nasceria e demandaria seus cuidados. A criança cresceria e continuaria a exigir cuidados. Uma vez adulto, seria mais uma pessoa no mundo, independente de mim, mas em constante relação comigo. Esse era definitivamente um trem em movimento do qual, até aquele momento, só eu tinha conhecimento.

A coisa “responsável” em nossa sociedade é ser autossuficiente e não depender da ajuda de ninguém.
Sem controle. — Eu descrevo a gravidez como entrar em uma montanha russa. Você não tem ideia do que vai acontecer. Tudo pode transcorrer perfeitamente bem, de acordo com seus desejos ideais, ou você e seu filho podem morrer, e entre esses dois extremos tudo é possível. Foi na minha primeira gravidez que eu descobri que a gestação e o parto são como uma montanha russa. Tivemos uma perda de sangue no primeiro trimestre que nos assustou muito; nossa filha tinha apenas uma artéria umbilical; ela ficou na posição pélvica (“sentada”); tivemos uma versão cefálica externa (que a virou para a posição correta), mas ainda assim tivemos uma cesariana, que era a única coisa que nós absolutamente não queríamos ter.

Também gosto de dizer que ninguém tem alguns milhares em sua conta para, sem saber o que fazer com o próprio dinheiro, chegar e dizer: “Ah, vamos ter outro filho”. As pessoas em geral não sentem que simplesmente têm dinheiro sobrando por aí. Há estudos mostrando que as pessoas, em média, sentem que precisam ter 20% a mais do que já possuem. Nossa gravidez coincidiu com a descoberta de que estávamos apertados financeiramente e precisávamos reduzir substancialmente nossos gastos. Não são exatamente duas notícias que alguém gostaria de receber ao mesmo tempo. Tenho certeza de que essa é uma preocupação de todo casal. 

Mas há um ditado segundo o qual cada criança que nasce vem com um pão debaixo do braço. E Belém significa “casa do pão”. Ter um filho certamente fará com que você perca um pouco do controle sobre suas finanças, mas também pode ser uma grande oportunidade para experimentar a Providência.

Uma gestação e um parto também afetam, sem dúvida, suas emoções e saúde psicológica. Maria Montessori dizia que o nascimento de uma criança é o renascimento de uma família. É algo que “sacode” você e toda a dinâmica familiar.

O nascimento de uma criança é o renascimento de uma família.
Abertura à graça. — A abertura à vida é uma boa analogia para a abertura à graça. Nosso principal modelo para ambas é a santíssima Virgem Maria, pois, nela, ficar grávida e receber a Cristo foram literalmente a mesma coisa. Ficar grávida também foi uma experiência de vulnerabilidade, de algo que estava fora de seu controle. Ficar grávida, para ela, naquela ocasião, também não parecia ser conveniente, humanamente falando. Na pior das hipóteses, ela corria o risco de ser apedrejada até a morte; na melhor delas, corria o risco de ver rompido seu noivado com São José. Humanamente falando, também não parecia conveniente que Jesus nascesse em um estábulo, em meio aos animais, na estrada. Não teria sido, naturalmente, o “plano de parto” que Maria e José tinham em mente. Tudo transcorreu, todavia, em conformidade com as Escrituras e de acordo com o “plano de parto” de Deus.

Sendo de ordem sobrenatural, a graça escapa à nossa experiência e só pode ser conhecida pela fé. Não podemos, portanto, nos basear em nossos sentimentos ou em nossas obras para daí deduzir que estamos justificados e salvos. No entanto, segundo a palavra do Senhor: “É pelos seus frutos que os reconhecereis” (Mt 7, 20), a consideração dos benefícios de Deus em nossa vida e na dos santos nos oferece uma garantia de que a graça está operando em nós e nos incita a uma fé sempre maior e a uma atitude de pobreza confiante (Catecismo da Igreja Católica, § 2005).
Mesmo que a sua gestação e parto se dêem de acordo com os seus planos e tudo transcorra bem, trata-se sempre de uma experiência dramática que “sacudirá” a sua vida, se você assim permitir. A graça de Deus também se destina a “sacudir” a sua vida, se você deixá-la entrar. Ela irá abalar você, desarmar você; colocará você em uma aventura inesperada. Mas também irá curar você e fazê-lo crescer.

A porta larga da esterilização

Muitos entram por ela

Uma mulher, mãe de quatro filhos, três nascidos e um por nascer, vem a um sacerdote perguntar se é permitido praticar a laqueadura tubária ou ligadura de trompas. Ela explica que os três primeiros partos foram cesáreos e que, segundo o médico, o quarto também deverá ser cesáreo. Haveria assim uma oportunidade de aproveitar a abertura do abdômen para fazer a laqueadura.

O sacerdote, por falta de conhecimento ou de fidelidade à Igreja, diz que, sem dúvida alguma, é lícito àquela senhora laquear suas trompas.

A mulher não se dá por satisfeita, pois ouvira dizer que a laqueadura tubária é um pecado grave. O padre lhe responde:

– Sim, é um pecado grave se for feita por motivo fútil. Mas o caso da senhora é diferente. Com três cesarianas sucessivas, o útero está fragilizado e se tornará mais frágil ainda no próximo parto cesáreo. A laqueadura, em seu caso, será feita para evitar os perigos que uma nova gravidez traria para a senhora e para o bebê. Pode laquear-se sem o menor escrúpulo de consciência.

A mulher sente-se aliviada e agradece entre lágrimas ao padre por aquela solução cômoda. Após a cirurgia, com o recém-nascido nos braços, vem novamente manifestar gratidão ao sacerdote “compreensivo” que lhe apontara a porta larga da esterilização. E a história termina em “final feliz”.

A porta estreita

Imagine-se que a mesma mulher da história anterior tenha ido consultar um sacerdote fiel ao Magistério da Igreja. A resposta dele seria:

– Embora eu compreenda todo o problema pelo qual a senhora está passando, não posso dizer que a laqueadura seja lícita. Essa cirurgia danifica e mutila as trompas de Falópio, que são órgãos que Deus criou para a sublime missão de transmitir a vida.

– Mas o médico disse que se eu não ligar as trompas, vou morrer na próxima gravidez!

– Primeiramente vamos consultar outro médico para verificar se esse perigo existe e se é tão grande assim. Mas ainda que se pudesse assegurar que na próxima gravidez a senhora morreria, nem assim seria lícito recorrer à laqueadura, que é uma esterilização direta.

– O que é uma esterilização direta?

– É uma intervenção que tem como fim ou como meio tornar a pessoa estéril. Se a senhora estivesse com câncer no útero, o médico removeria o útero para extirpar o tumor. Tal cirurgia deixaria a senhora estéril, mas não diretamente. A esterilidade não seria querida como fim nem como meio, mas apenas tolerada como um efeito colateral da cirurgia. No caso da senhora, porém, o médico pretende praticar a esterilização como meio de evitar riscos em uma nova gravidez.

– Mas evitar riscos não é um fim bom?

– Sim, mas o fim não justifica os meios. Não se pode obter esse fim por meio de uma laqueadura, que é uma esterilização direta.

– Então, o que eu devo fazer?

– Se de fato houver motivos sérios para adiar uma nova gravidez, a senhora e seu marido poderão, após o parto, abster-se dos atos conjugais nos dias férteis. A isto se chama continência periódica.

– Mas para mim é muito difícil reconhecer os sinais de fertilidade. Parece que eu sou diferente das outras mulheres.

– Vou conduzir a senhora a um casal que conhece bem a última versão do método Billings, incluindo o caso de mulheres que apresentam umidade constante nos dias inférteis.

* * *

Como se vê, ao dizer não à laqueadura, o padre não pôde despedir sumariamente aquela mulher, como fizera o padre da história anterior. Prometeu levá-la a um outro médico, a fim de confirmar ou não aquele prognóstico sombrio, e ainda ofereceu-lhe um casal para instruí-la corretamente no método Billings.

Para não trair a verdade, aquele sacerdote teve um grande trabalho. Acompanhou aquela mãe e seu marido durante a gestação, o parto e o pós-parto. Deu-lhes palavras de encorajamento e conforto, mas nunca lhes disse que a laqueadura era lícita.

Ao receberem uma instrução atualizada sobre o método Billings, a mulher e seu marido admiraram-se de sua própria ignorância. Quanta coisa eles não sabiam ou haviam aprendido de maneira incorreta!

E ao consultarem o outro médico, indicado pelo padre, o casal entendeu que seu caso não era tão sério assim. Era verdade que a mulher já se havia submetido a três cesarianas, mas isso não equivalia a uma sentença de morte. No caso dela, a cicatrização tinha sido ótima, quase sem deixar vestígios[1]. Provavelmente ela poderia ainda submeter-se a vários partos cesáreos[2].

A história terminou em um verdadeiro final feliz, mas o pastor, que apontou a porta estreita da verdade, teve que se cansar muito.

Reflexões

Várias vezes a Igreja se pronunciou contra a laqueadura usada para impedir os riscos de uma futura gravidez. Pio XII já dizia que em tal caso não se pode aplicar o princípio da totalidade:

Nesse caso, o perigo, que corre a mãe, não provém, nem direta nem indiretamente, da presença ou do funcionamento normal das trompas […]. O perigo não aparece a não ser que a atividade sexual livre leve a uma gravidez. Faltam as condições, que permitiriam dispor duma parte, a favor do todo, em virtude do princípio da totalidade. Portanto, não é permitido intervir nas trompas sadias[3].

Em 1975, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé emitiu um documento em resposta a perguntas da Conferência Episcopal dos Estados Unidos sobre a esterilização nos hospitais católicos[4], reafirmando a posição de Pio XII:

Toda esterilização que por si mesma, isto é, por sua própria natureza e condição, tem por único efeito imediato tornar a faculdade generativa incapaz de procriar, deve ser considerada esterilização direta […]. Por isso, não obstante qualquer boa intenção subjetiva daqueles cujas intervenções são inspiradas pelo cuidado ou pela prevenção de uma doença física ou mental prevista ou temida como resultado de uma gravidez, tal esterilização permanece absolutamente proibida segundo a doutrina da Igreja.

Se, portanto, constitui pecado grave o uso de um preservativo para tornar estéril um único ato conjugal, quanto maior será a gravidade de uma cirurgia feita para tornar estéreis todos os atos conjugais futuros! Assim adverte o citado documento:

E de fato, a esterilização da faculdade (generativa) é proibida por um motivo ainda mais grave que a esterilização dos atos singulares, uma vez que produz na pessoa um estado de esterilidade quase sempre irreversível.

Em 1993, a mesma Congregação reforçou sua posição ao responder sobre o “isolamento uterino” (= laqueadura tubária) feito para evitar os riscos de uma futura gravidez[5]. Segundo o documento, em tal caso a laqueadura é feita

… para tornar estéreis os futuros atos sexuais férteis, livremente realizados. O fim de evitar os riscos para a mãe, derivantes de uma eventual gravidez, vem portanto perseguido por meio de una esterilização direta, em si mesma sempre moralmente ilícita […].

Se, por absurdo, a Igreja decidisse autorizar um único caso de esterilização direta, deveria, por coerência, autorizar também a anticoncepção e despedir todos os instrutores do método Billings de regulação da procriação. Isso, porém, jamais a Igreja poderá fazer, pois a proibição da esterilização direta não é uma lei criada pela Igreja (e, portanto, reformável por ela), mas uma lei divina, que a Igreja apenas reconhece e expõe fielmente para a nossa observância.

Anápolis, 4 de julho de 2016.

Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz

[1] “Algumas pacientes são tão ‘boas cicatrizadoras’ que às vezes é difícil ver a cicatriz mesmo depois de quatro cesarianas” (H.P. DUNN. The doctor and Christian marriage. New York: Society of Saint Paul, 1992. Tradução nossa).

[2] “O recorde de cesarianas está em catorze, no Texas” (Kimberly HAHN, O amor que dá vida, São Paulo: Quadrante, 2012, p. 111).

[3] Edvino FRIDERICHS. Mensagem de Pio XII aos médicos, 11. ed. São Paulo: Paulinas, 1960. Duas respostas de Pio XII ao XXVI Congresso Italiano de Urologia (08.10.1953), p. 319.

[4] SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Resposta sobre a esterilização nos hospitais católicos. 13 mar 1975, AAS 68 (1976), 738-740.

[5] CONGREGAÇÃO PARA A DOUTRINA DA FÉ. Respostas às duvidas propostas sobre o ‘isolamento uterino’ e outras questões. 31 jul. 1993. AAS 86 (1994) 820-821.

Filhos são um dom de Deus, não um “direito”

Por trás da mentalidade que justifica os métodos contraceptivos está um erro funesto: conceber o filho, não como um dom de Deus, mas como uma “commodity” a ser produzida e comercializada.

Leila MillerTradução: Equipe Christo Nihil Praeponere

7 de Agosto de 2017

Em nossa sociedade, os adultos têm “descoberto” e se arrogado novos “direitos” num ritmo assustador, e isto em detrimento dos verdadeiros direitos — inclusive os das crianças. Depois de ler há alguns anos o seguinte parágrafo do Catecismo, decidi pôr fim às minhas buscas. Eu nunca mais o esqueci, talvez porque a cultura em que vivemos o tenha esquecido completamente:

O filho não é algo devido, mas um dom. O “dom mais excelente do matrimônio” é uma pessoa humana. O filho não pode ser considerado como objeto de propriedade, a que conduziria o reconhecimento de um pretenso “direito ao filho”. Nesse campo, somente o filho possui verdadeiros direitos: o “de ser fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais, e também o direito de ser respeitado como pessoa desde o momento de sua concepção” (CIC 2378).
A Igreja está dizendo aos adultos: vocês não têm direito a um filho. Vocês têm um direito natural e de origem divina a muitas coisas, mas um filho não é uma delas.

E por quê? Porque a criança é um dom, um presente.

Talvez já tenhamos ouvido esta frase cá e lá, mas será que a entendemos de fato? Pensemos na natureza de todo e qualquer dom — trata-se de algo que, em si mesmo, nunca é “devido”. Um dom é algo entregue livre e voluntariamente pelo doador; nunca é exigido nem reivindicado. Não podemos forçar quem quer que seja a dar-nos um presente, porque neste caso ele já não seria mais um presente.

A partir do momento em que um adulto acredita que ter um filho é um “direito” seu, a criança passar a ser vista como objeto de uma prestação que tem de ser satisfeita, quaisquer que sejam os meios necessários para isso. Tratar-se-ia de uma questão de justiça, uma vez que temos direito aos nossos direitos!

Mas quando nossas ideias chegam a este patamar (e isto aconteceu em nossa cultura), começamos a justificar os meios de “conseguir” o filho que nos é devido; a criança é agora uma commodity a ser produzida e adquirida. Além disso, visto que um filho é “considerado um objeto de propriedade”, como diz a Igreja, tornam-se permitidas todas as formas de injustiça praticadas contra as crianças. Afinal de contas, o que é que fazemos com nossa propiedade? Ora, tudo o que quisermos: comprar, vender, manipular, dispor etc. Uma propriedade não tem absolutamente direito a nada.

Ainda assim, a Igreja diz às crianças: vocês têm o direito de nascer do ato conjugal daqueles que são seus pais. Vocês, crianças, são as únicas que “possuem verdadeiros direitos” nesse campo da existência humana.

Apesar das opiniões que por aí circulam, toda criança tem o direito natural e primordial de ser concebida a partir de um ato de amor entre seu pai e sua mãe, unidos em matrimônio. Fechemos os ouvidos ao murmúrio que nos rodeia, à falsa promessa de que “você pode ter tudo o que quiser”. Não percamos de vista qual era o projeto originário de Deus, “no princípio”, para o casamento e a família — a criança é fruto da união de seus pais em uma só carne. Esse projeto não foi alterado.

Ora, uma vez que a criança tem direito a ser o “fruto do ato específico do amor conjugal de seus pais”, técnicas reprodutivas como, por exemplo, a FIV (fecundação in vitro), a doação de esperma e as chamadas “barrigas de aluguel” são sempre moralmente reprováveis. A advogada pró-vida Dorinda Bordlee, do Bioethics Defense Fund (Fundo de Defesa Bioética), chama a estes procedimentos “tráfico de reprodução humana”: negociam-se contratos e investem-se vultosas somas de dinheiro para comprar gametas humanos. A concepção de uma criança é posta literalmente na mão de terceiros, e as mães e pais biológicos são alugados, comprados e vendidos como simples “partes” de um corpo.

Esta é uma verdade que nem todos estão dispostos a ouvir. Afinal, o que poderia haver de errado com o desejo de ter um filho, sobretudo quando se trata de casais inférteis e de boa vontade que, desesperados por trazer um bebê para casa, não têm a intenção nem de descartar os embriões “excedentes” durante um ciclo de FIV nem de “reduzir seletivamente” (ou seja, abortar) uma ou mais crianças, já que muitas são implantadas? A resposta é que não há nada de errado com o desejo em si. O desejo de um marido e uma mulher de ter um filho é bom e santo. Mas a boa intenção deles não justifica o uso de meios maus (cf. CIC 1750-1761).

A infertilidade é, de fato, uma cruz pesada, e os casais inférteis podem, sem dúvida nenhuma, servir-se de todas as tecnologias reprodutivas moralmente aceitáveis à disposição para tratar ou curar sua infertilidade, a fim de conceberem e criarem uma criança de modo natural. Aqui se incluem, por exemplo, as terapias hormonais e os fármacos que estimulam a ovulação ou facilitam a implantação do embrião. Há ainda as terapias holísticas (como a NaPro Technology), voltadas para a cura dos problemas de saúde responsáveis pela infertilidade, algo que as técnicas de reprodução artificial são incapazes de fazer.

Uma bela opção para os casais que ou não podem conceber, mesmo depois de um tratamento, ou que preferem renunciar a métodos terapêuticos é a adoção. Mas alguém poderia objetar: acaso a adoção não trata a criança como um “direito”, e não como um dom? E o que pensar do fato de um filho adotado não ficar sob os cuidados do casal que o concebeu? Em primeiro lugar, precisamos ter em mente que a adoção se ordena, antes de tudo, a suprir as necessidades da criança, e não a satisfazer os desejos dos adultos (embora, é claro, isso possa ser uma feliz consequência). A adoção, portanto, consiste em recuperar o que a criança perdeu. É ela que possui aqui os direitos, não os adultos.

De acordo com o Catecismo, o outro direito fundamental de que a criança é titular é o de “ser respeitada como pessoa desde o momento de sua concepção”. O “dom mais excelente do matrimônio”, uma nova pessoa humana, é uma vida sagrada e inviolável, como todos nós o somos. Toda criança concebida vem ao mundo para amar e ser amada, e nunca, evidentemente, para ser morta. Esta realidade afirma e protege não somente a dignidade da criança, mas também a dignidade de toda pessoa, assim como a do matrimônio.

A criação e as leis de Deus são belas porque formam uma tapeçaria de verdades. Talvez fiquemos confusos e perdidos em uma cultura relativista e consequencialista; mas, quando voltamos à razão, quando esclarecemos nossas ideias e abrimos nosso coração para os primeiros princípios, todas as coisas vão para os seus devidos lugares e nos tornamos capazes de enxergar a beleza do perfeito projeto de Deus.

A família foi criada por Deus para ser a base da sociedade

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“Em torno da família se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem” (São João Paulo II)

O Dia Internacional da Família, 15 de maio, é uma boa oportunidade para lembrarmos da importância fundamental da família para a vida de cada pessoa e da sociedade. A família é sagrada, porque foi criada por Deus para ser a base de toda a sociedade. Ninguém jamais destruirá sua força, por ser ela uma instituição divina.

O Concílio Vaticano II chamou a família de “Igreja doméstica” (LG, 11), onde Deus reside e é reconhecido, amado, adorado e servido; e ensinou que “a salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS,47).

São João Paulo II chamou a família de “Santuário da vida” (Carta às Famílias,11) e “patrimônio da humanidade” (LG,11). Ele disse: “A família é uma comunidade insubstituível por qualquer outra”. Jesus habita com a família cristã, nascida no Sacramento do Matrimônio; Sua presença, nas Bodas de Caná da Galileia, significa que o Senhor quer estar no meio da família, ajudando-a a vencer todos os seus desafios.

Imagem e semelhança

Desde que Deus desejou criar o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança (Gen 1,26), Ele os quis em família. Tal qual o próprio Deus, que é uma família em três Pessoas Divinas, assim também, o homem, criado à imagem do seu Criador, deveria viver em uma família,  em uma comunidade de amor, já que ‘Deus é amor’ (1 Jo 4,8) e o homem lhe é semelhante.

A família é o eixo da humanidade, a sua célula mater, é a sua pedra angular. O futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela. É ali que os filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor no seio do lar terá dificuldade para conhecê-lo fora dele.

A família é a comunidade, na qual, desde a infância, os filhos podem assimilar os valores morais, em que pode começar a honrar a Deus e usar corretamente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade (cf. CIC 2207). Depois de ter criado a mulher da costela do homem (Gen 1, 21), Deus a levou para ele. Este, ao vê-la, suspirou de alegria: “Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher” (Gen 1,23). Após essa declaração de amor tão profunda – a primeira na história da humanidade – Deus, então, mostra-lhes toda a profundidade da vida conjugal: “Por isso, o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gen 1,24).

A família é sagrada

Deus lhes disse: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gen 1,28). Por isso, a única e verdadeira família, segundo a vontade de Deus, é aquela fruto da união matrimonial de um homem com uma mulher. Não existe outro tipo de família no plano de Deus.

Este é o desígnio de Deus para o homem e para a mulher, juntos, em família: crescer, multiplicar, encher a terra, submetê-la. E, para isso, Deus deu ao homem a inteligência para projetar e as mãos para construir o seu projeto. O Senhor vive no lar nascido de um matrimônio. Nessas palavras de Deus – “crescei e multiplicai-vos” – encerra-se todo o sentido da vida conjugal e familiar. Dessa forma, Deus constituiu a família humana a partir do casal, para durar para sempre, por isso, A FAMÍLIA É SAGRADA!

Vemos aí, também, a dignidade baseada no amor mútuo, que leva o homem e a mulher a deixarem a própria casa paterna, para se dedicarem um ao outro totalmente. Esse amor é tão profundo, que dos dois faz-se uma só carne, para que possam juntos realizar um grande projeto comum: a família.

União

Daí, podemos ver que sem o matrimônio, forte e santo, indissolúvel e fiel, não é possível termos uma família forte e santa, segundo o desejo do coração de Deus. Tudo isso mostra como o Senhor está implicado nesta união absoluta do homem com a mulher, de onde surgirá, então, a família. Por isso, não há poder humano que possa eliminar a presença de Deus no matrimônio e na família. Deus vive no lar nascido de um matrimônio, e a Virgem Maria também.

Isso nos faz entender que, a celebração do sacramento do matrimônio, é a garantia da presença de Jesus no lar ali nascente. Como é doloroso perceber, hoje, que muitos jovens, nascidos em famílias católicas, já não valorizam mais esse sacramento e acham, por ignorância religiosa, que já não é importante subir ao altar para começar uma família!

Toda essa reflexão nos leva a concluir que, cada homem e cada mulher, que deixam o pai e a mãe, para se unirem em matrimônio e constituir uma nova família, não o podem fazer levianamente, mas devem o fazer somente por um autêntico amor, que não é uma entrega passageira, mas uma doação definitiva, absoluta, total, até a morte.

Marcada pelo sinete divino, a família, em todos os povos, atravessou todos os tempos e chegou inteira até nós, no século XXI. Só uma instituição de Deus tem essa força. Cristo entrou na nossa história pela família; fez o primeiro milagre numa festa de casamento e viveu 30 anos numa família. O Concilio Vaticano II disse: “Se é certo que Cristo ‘revela plenamente o homem a si mesmo’, faz através da família onde escolheu nascer e crescer” (GS,2). “Desta maneira, a família constitui o fundamento da sociedade” (GS,52). “A salvação da pessoa e da sociedade humana está intimamente ligada à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS,47).

Papa João Paulo II

O Papa São João Paulo II dizia: “A família é o âmbito privilegiado para fazer crescer todas as potencialidades pessoais e sociais que o homem leva inscritas no seu ser”.

São João Paulo II disse: “Em torno da família se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem” (FC,18). Há uma ameaça tremenda contra a família moderna: aborto, ideologia de gênero, divórcios,casamentos de pessoas do mesmo sexo, drogas, adultérios, inseminação artificial, e toda uma campanha internacional contra a família, o casamento e a maternidade.

Quando a família é destruída, os filhos sofrem, e muitos deles se encaminham para a criminalidade. Por isso, se a família – segundo a vontade de Deus – for destruída, então, a sociedade sofrerá suas consequências. Todos os cristãos são obrigados a lutar pela preservação da família segundo o coração de Deus.

Fonte: aleteia.org

O projeto de criação de crianças confusas

31 DE OUTUBRO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

No artigo anterior, expliquei o que é, de onde vem, e por que devemos nos preocupar com a disseminação, na mídia e nas escolas, da chamada “ideologia de gênero.” Argumentei que essa ideologia nada tem de científica, tampouco de libertária, e que seu propósito geral é tornar as crianças confusas acerca das noções de feminino e masculino, investindo, assim, contra o modelo de família que se apoia na complementariedade entre os sexos.

Não é de hoje que somos bombardeados com reportagens e falas de especialistas que querem nos ensinar com que brinquedos nossos filhos e filhas precisam brincar, que cores de roupa devem usar, e que elogios podemos dirigir a eles. Porém, de uns tempos para cá, a agenda da desconstrução começou a ganhar contornos mais perturbadores. Crianças supostamente “transgênero” têm sido exibidas nas mídias impressa e eletrônica, em ritmo praticamente diário, como se fossem provas vivas de que ser menino ou menina nada tem a ver com o sexo de nascimento. Não há um só dia em que não nos deparemos com matérias permeadas por essa narrativa, cujas falácias e imposturas pretendo demonstrar aqui.

É necessário começar dizendo o óbvio. Existem, sim, diferenças inatas entre meninos e meninas, e essas diferenças apontam para tendências em termos de comportamento e estilos de desenvolvimento. Não obstante, o modo de ser e de se desenvolver de cada criança será resultado da interação entre tais diferenças inatas, o temperamento individual, e a forma como ela reage aos estímulos que recebe do ambiente. Nesse sentido, em termos de suas escolhas lúdicas e modos de se comportar, algumas meninas podem assemelhar-se mais aos meninos com quem convivem do que à média das meninas de sua idade, preferindo, inclusive, brincar somente com eles. E o mesmo pode acontecer a alguns meninos. Esses casos, perfeitamente normais, não representam contudo maioria.

O importante é ter sempre em mente que, quaisquer que sejam as preferências e o modo de ser de uma criança, privá-la da certeza de ser menino ou menina é uma das maiores violências que se pode cometer contra a sua infância. Pois, ao contrário do que querem nos fazer crer os promotores da ideologia de gênero, não há desejo, figurino, tratamento hormonal ou intervenção nos órgãos genitais capaz de anular as implicações do fato de se possuir em todas as células do corpo um par de cromossomos sexuais. Nos últimos tempos, porém, esse assunto vem sendo tratado de modo tão leviano que se um menino insistir em brincar de boneca, ou em calçar os sapatos da mãe, logo aparecerá algum incauto para classificá-lo como “transgênero” e sugerir que ele seja encaminhado para uma clínica especializada para fazer a sua “transição”.

Além de irresponsável, o discurso sobre as supostas “crianças transgênero” é cheio de incoerências. Os promotores da ideologia de gênero insistem na ideia de que as alegadas diferenças entre meninos e meninas resultam, não de uma realidade naturalmente constituída, e sim de um processo de socialização que reforçaria os “estereótipos sexuais da sociedade ocidental”. Entretanto, são eles próprios os primeiros a projetar nas crianças ditas “transgênero” os atributos que em outros contextos de militância se esforçam por dissolver. Como justificar, no registro de uma narrativa que se diz tão libertária e avessa a “estereótipos”, que um menino atraído pelo universo feminino precise “virar” menina? E que, para tanto, seja estimulado a pintar as unhas e vestir-se de princesa ?

Vejam o malabarismo: quando os comportamentos e preferências das crianças se conformam aos chamados “estereótipos sexuais da sociedade ocidental”, eles são vistos como males a serem combatidos. Mas quando se trata de decidir que uma criança é “transgênero”, os supostos “estereótipos sexuais” tornam-se critérios válidos. E o mais grave: os formuladores desse discurso têm plena consciência da contradição. Eles costumam se referir a essa forma de manipular os conceitos como “essencialização estratégica”. E qual é a estratégia? Criar um contingente de crianças e jovens confusos em relação à sua própria identidade sexual.

O discurso sobre as crianças “transgênero” revela, ainda, uma profunda ignorância a respeito de aspectos cruciais do desenvolvimento infantil. Até os seis ou sete anos de idade, a capacidade imaginativa da criança é praticamente ilimitada. Ela pode se imaginar princesa, super-herói, sereia, cachorro, borboleta, nuvem, o que quer que seja, sem prejuízo algum do fato de saber-se menino ou menina. Essa efervescência da imaginação é, em boa parte, impulsionada pelo comportamento mimético, que nos primeiros anos de vida funciona como um poderoso mecanismo de aprendizagem. Toda criança saudável passa boa parte de seu tempo a imitar os coleguinhas, os adultos com os quais convive, os personagens das histórias. E não há nenhuma barreira que a impeça de, sendo um menino, imitar um personagem real ou fictício do sexo feminino, e vice-versa.

Mas é claro que nenhum processo de identificação se faz sem modelos. Se a criança nunca viu a imagem de um soldado, por exemplo, jamais poderá pretender-se um. Nesse sentido, quanto mais modelos positivos e inequívocos de homem e mulher ela tiver à sua disposição, mais fácil será o seu processo de auto identificação. Para a grande maioria das crianças criadas num ambiente razoavelmente bem provido de modelos, a formação da subjetividade sexual se dá de maneira natural e tranquila, embora sempre modulada pelas idiossincrasias individuais.

Quando os desejos de uma criança por brinquedos, roupas e coleguinhas do sexo oposto se tornam exclusivos e vêm acompanhados de sofrimento psíquico, prejuízo no desenvolvimento social e afetivo, e veementes expressões de desgosto com a sua própria anatomia sexual, não se deve descartar a possibilidade de que ela seja portadora de um transtorno intitulado “disforia de gênero”. Segundo a Associação Americana de Psiquiatria, a prevalência dessa condição mental é de 0,005% a 0,014% em indivíduos do sexo masculino, e 0,002% a 0,003% em indivíduos do sexo feminino. Ou seja, trata-se de um transtorno muito raro.

Além de ser raro, na maior parte dos casos o transtorno tende a desaparecer. As taxas de resolução da “disforia de gênero” antes da idade adulta variam, mas chegam à proporção de 97,8%  em meninos, e de 88% em meninas. Diante desses dados, não há absolutamente nenhuma justificativa para outra atitude a não ser a de apoiar afetivamente a criança enquadrada nesse diagnóstico e ajudá-la a se reconciliar psicologicamente com o seu sexo biológico. Porém, na narrativa disseminada na mídia com a conivência de parte da classe médica, esses dados têm sido escamoteados, quando não ativamente distorcidos, o que leva muitas famílias a acreditar que se trata de um quadro muito mais frequente e definitivo. Desencadeiam-se assim temores, ansiedades e condutas absolutamente equivocadas.

Em resumo, o ponto importante é que dizer “criança portadora de disforia de gênero” não é o mesmo que dizer “criança transgênero”. O primeiro termo refere-se a um diagnóstico clínico que, na maioria dos casos, é temporário, ao passo que o segundo denota uma atribuição de identidade, feita por terceiros, com sérias repercussões sociais e psicológicas. A distância entre ser portador de “disforia de gênero” e ser “transgênero” só pode ser percorrida por uma pessoa adulta, autoconsciente, dotada de discernimento e responsabilidade para tomar decisões que afetarão a sua vida de maneira estrutural e, provavelmente, irreversível. Por tudo isso, podemos considerar mudança de nome, travestismo, e tratamento hormonal para bloqueio da puberdade em crianças como procedimentos abusivos e inteiramente condenáveis. E não só do ponto de vista ético.

Nas numerosas matérias de jornais e revistas impressas e eletrônicas que nos chegam cotidianamente, praticamente não se fala nas altas taxas de suicídios entre pessoas que se submetem a tratamento hormonal e fazem cirurgia de redesignação sexual. Tampouco nos graves riscos que a utilização de hormônios do sexo oposto – passo subsequente ao bloqueio da puberdade – representa para a saúde global e reprodutiva. Tamanho silêncio a respeito de dados extremamente relevantes não deve levantar imediatamente a suspeita de má-fé?

Na verdade, como não somos ingênuos e estamos perfeitamente cientes do objetivo por trás do discurso proselitista da mídia sobre as ditas “crianças transgênero”, bem como de suas fontes bilionárias de financiamento, essa omissão infame não deve nos surpreender. Pois ela apenas corrobora o que já sabemos: nesse ponto, assim como em praticamente todos os outros que compõem a agenda da ideologia de gênero, os interesses político-ideológicos prevalecem sobre a preocupação com o bem-estar dos indivíduos envolvidos.

O que se pretende com toda essa propaganda é induzir os pais e a escola a questionar a identidade sexual das crianças até que todas, ou praticamente todas, acabem se tornando em alguma medida disfóricas em relação à sua própria natureza. Angústias e inseguranças infantis, que podem ter as mais variadas origens, vão sendo assim capitalizadas e imediatamente traduzidas no idioma da identidade sexual. E aí eu pergunto: quem vai pagar a conta quando, daqui a duas ou três décadas, essa geração de crianças perceber que foi submetida a um experimento social que lhe tirou, na melhor das hipóteses, a possibilidade de dar plena expressão à sua condição sexuada?

A maternidade e a educação das meninas

12 DE MAIO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

Em um artigo anterior, publicado aqui no blog e intitulado Devotamento Materno, falei do despreparo das mulheres ocidentais contemporâneas para a maternidade. Mostrei que boa parte do problema reside no fato de estarmos imersas numa cultura individualista, utilitarista e hedonista, que nos infantiliza e estimula a acreditar que o sentido da vida consiste em satisfazer todos os nossos desejos. Num clima moral como esse, evidentemente sobrará muito pouco espaço para o devotamento materno.

Cuidar de um filho e dispensar a ele toda a atenção necessária requer uma boa dose de abnegação. Acontece que fomos acostumadas a pensar em nós mesmas como incapazes de sacrificar prazeres e satisfações imediatas em prol de um projeto que desafie as nossas forças e nos transcenda. E por isso ficamos desnorteadas quando a experiência da maternidade nos chega com toda a sua realidade, sem os adornos românticos dos comerciais de televisão, e exigindo que deixemos o nosso mundinho auto referenciado para propiciar a existência de outrem.

Mas a questão não se resume à dificuldade de integrar essa experiência a uma configuração existencial frágil e imatura. Há também um despreparo de ordem prática, que diz respeito aos saberes e afazeres envolvidos na atividade materna. Ora, os conceitos, habilidades e técnicas implicados na criação de um filho não surgem, como num passe de mágica, junto com a criança. Antigamente, as meninas os adquiriam intuitivamente, observando suas mães, tias e vizinhas, e ajudando-as na lida com as crianças menores. Esse conhecimento era passado de um modo muito natural e realista, como ainda ocorre nas sociedades de feição mais tradicional.

Entre nós, já há algumas décadas tais saberes culturais deixaram de ser transmitidos verticalmente no interior da mesma família. Isso faz parte de um processo mais geral de enfraquecimento da autoridade e da função educativa dos pais, que foi sendo pouco a pouco absorvida pela escola. Desde que a educação escolar se universalizou e passou a representar a principal instância de formação da geração mais jovem, as meninas têm crescido sem nenhuma atenção ao exercício futuro da função materna. Os conhecimentos relativos ao desenvolvimento infantil e ao cuidado das crianças deixaram de ser contemplados como parte integrante e relevante do repertório cultural feminino, tendo sido deslocados para a alçada de especialistas investidos de autoridade científica.

Não se trata de sugerir que se ensine formalmente às meninas como se troca uma fralda ou se prepara uma papinha. Isso vêm com a própria necessidade. Ou pode ser resolvido com um cursinho de final de semana. O problema é de outra ordem. E ele reside no fato das meninas não serem minimamente estimuladas a trazer à imaginação questões de importância crucial para quem um dia vai assumir o papel de mãe. “Como é a rotina de um bebê? De que uma criança precisa para se desenvolver bem? Que aspectos e qualidades do meu ser terão que ser mobilizados para a tarefa de cuidar de meus filhos e educá-los? O que posso fazer para me preparar?”

As mulheres, por sua vez, só começam a perceber o quanto estão despreparadas quando se veem sozinhas com o seu recém-nascido e precisam administrar as questões da lida diária; quando a falta de segurança na condução dos pequenos rituais cotidianos e, mais tarde, na tomada de decisão educacionais, vai transformando a atividade materna em fonte de ansiedade e angústia. Muitas reagem à pressão emocional terceirizando o cuidado dos filhos, perdendo assim a chance de acompanhar e influenciar de perto o crescimento e o desenvolvimento de suas pequenas criaturas. E o triste saldo nós conhecemos. De um lado, crianças que não desenvolvem um vínculo de apego seguro com a mãe; de outro, mães que se sentem culpadas e frustradas com o conjunto de sua obra.

É muito bom poder contar com ajuda de confiança para aliviar a carga de trabalho envolvida no dia-a-dia com os filhos. E é também indispensável que os pais das crianças assumam toda a parte que lhes cabe. Mas nada substitui a atenção e o cuidado maternos e por isso não podemos tomar como natural o fato da educação das meninas não as preparar para as circunstâncias reais da maternidade. Não é digno de espanto que ninguém tenha nada a ensinar às meninas a respeito de filhos a não ser o modo mais seguro de evitá-los? Por que isso ocorre?

Em ampla medida, essa lamentável lacuna pode ser explicada pelo fato da cultura educacional nos países ocidentais ter sido gradativamente impregnada por uma agenda de viés progressista, também hegemônica na mídia e no ambiente acadêmico, e que tem num feminismo avesso à maternidade um de seus principais pilares. Tanto a educação escolar quanto a doméstica passaram a estar pautadas pela ideia de que preparar as meninas para a vida consiste em formar competências para que atuem na esfera pública, mais especificamente no mundo do trabalho.

Mas a coisa não para por aí. Pois não se trata somente de dotar as meninas dos recursos necessários para tanto. Todo um esforço vem sendo feito no sentido de convencê-las de que o desejo de construir uma carreira é mais legítimo e subjetivamente relevante do que qualquer outro. A importância social das relações domésticas de cuidado, nas quais as mulheres sempre exerceram um papel fundamental, é assim expressamente desprezada. E nada disso é por acaso. Seguindo as linhas mestras do progressismo global, o projeto educacional que está sendo implementado em nossas escolas e em nossas casas tem por escopo precisamente minar o protagonismo das mulheres na esfera privada, principalmente no que diz respeito ao papel maternal.

Devemos, sim, celebrar o fato de termos conquistado a possibilidade de exercer nossos talentos individuais também na esfera extrafamiliar. Isso é bom para nós, e também é bom para o mundo. Mas se o objetivo da educação é ampliar os horizontes existenciais das mulheres e elevar as suas possibilidades de realização pessoal, ela não pode se limitar a lhes acenar com uma posição no mercado de trabalho ou com espaços de influência na esfera pública. A grande maioria das mulheres quer se casar, ter filhos, construir uma família estável. Uma educação de fato comprometida com os seus interesses, e que vise habilitá-las para trilhar os seus próprios caminhos com liberdade e responsabilidade, precisa abraçar este dado incontestável da realidade: o sucesso profissional e o prestígio social jamais poderão preencher todos os espaços da alma feminina.

Devotamento materno: por que e como não perder o foco?

15 DE FEVEREIRO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

A maternidade costuma chegar para a mulher contemporânea como um acontecimento festivo, uma conquista pessoal. Porém, ela logo se dá conta da falta de disponibilidade interna para exercer o papel de mãe com devotamento e entrega. Em muitos momentos, a despeito de todo o amor que sente pelo pequeno ser que colocou no mundo, corresponder ao alto grau de dedicação que ele demanda parece estar além de suas forças físicas e psicológicas. Pelo menos, essa é a experiência concreta das mulheres do meio em que eu nasci, cresci e me tornei mãe.

Por que será que nos sentimos existencialmente tão despreparadas para a maternidade? A resposta é simples. Porque nossa cultura individualista, materialista e hedonista não valoriza o devotamento materno. Ao contrário, ela desqualifica a mulher que coloca os filhos no centro de sua existência. Há sempre aquelas que, corajosamente, teimam. Mas como a cultura não lhes ofereceu modelos, elas precisam realizar um enorme e solitário esforço de reconfiguração existencial, além de mobilizar muita energia para nadar contra a corrente.

Não é a primeira vez na história que uma cultura desestimula as mulheres a assumirem de corpo e alma suas responsabilidades maternas. Outros exemplos poderiam ser citados. Mas meu objetivo aqui é falar de nós, e a verdade é que há algumas décadas as mulheres ocidentais urbanas vêm sendo bombardeadas, por todos os lados, com uma intensa propaganda contra a mãe devotada. Não vou nem tratar aqui da militância das correntes feministas que, seguindo o argumento equivocado de Simone de Beauvoir, veem a maternidade como uma opressão da mulher. Estou me dirigindo às mulheres que valorizam sinceramente a maternidade, mas ainda assim hesitam, temendo se desconstruir diante do projeto maternal.

Crescemos ouvindo que ter filhos é algo desejável, desde que eles não sejam um obstáculo às nossas conquistas pessoais. Como se criar bem um filho não fosse, em si, uma grande conquista! Disseram-nos que os filhos, o trabalho, o lazer e a vida amorosa/sexual, são aspectos equivalentes e igualmente imprescindíveis de nossas vidas, que devem ser equacionados de modo que possamos satisfazer cada uma de nossas necessidades, sem perder nada. Crescemos como adultos mimados, incapazes de abrir mão de coisa alguma. E, como, de todas as pessoas com as quais nos relacionamos, as crianças são as que possuem menos recursos para fazer valer sua perspectiva e expressar suas necessidades, acabamos terceirizando demasiadamente os seus cuidados para fazer frente às outras demandas.

Acontece que nossos filhos não são artigos de consumo, eles não vieram ao mundo apenas para satisfazer o nosso desejo de possuí-los. A maternidade não deve ser encarada como uma experiência narcísica. Ela é o projeto grandioso de produzir pessoas, e requer da mulher uma boa dose de maturidade. Como superar a dificuldade de abrir mão, consciente e voluntariamente, de certos prazeres e hábitos que nos distraem e nos levam a perder esse foco?

O primeiro passo é nos convencermos da relevância, ou melhor, da grandiosidade da tarefa materna. Como alguém em sã consciência pode achar, honestamente, que dirigir empresas, vender produtos, estrelar novelas de TV, salvar baleias, ou qualquer outra atividade que uma mulher possa exercer fora de casa, compara-se em importância ao trabalho de cuidar bem dos pequenos seres humanos que colocou no mundo? Essa pergunta deve ser repetida para nós mesmas como se fosse um mantra, principalmente naqueles momentos em que sentimos falta dos aplausos dos outros.

Amamos nossos filhos mais do que tudo. E por eles seríamos capazes de dar a nossa vida. Mas nem sempre conseguimos abrir, em nossa rotina, o espaço prioritário que eles ocupam em nosso coração, e por isso vivemos em conflito. Ficamos enredadas em nossos próprios desejos individualistas, que se transformam e se amplificam na medida mesma em que são satisfeitos. Para escapar dessa armadilha, precisamos de uma profunda mudança de perspectiva, que começa por sermos capazes de discernir entre o que é prioritário e o que é secundário, de valorizar o essencial em lugar do acessório. Essa mudança pode ser libertadora, porque a energia de uma pessoa deve estar ali onde está o seu coração. Exercer a liberdade nada mais é do que fazer o que deve ser feito.

Ninguém faria tanta falta em nossas vidas quanto nossos filhos. E ninguém precisa mais de nós do que eles. Não seriam essas duas constatações já suficientes para nos convencer de que todas as outras coisas devem estar em segundo plano? Diferentemente dos demais projetos com os quais podemos eventualmente nos comprometer, o projeto materno não admite fugas ou escapes honrosos. E isso porque do outro lado da gangorra está um pequeno ser inocente e dependente que possui menos recursos do que nós para lidar com as frustrações. Por isso, o certo é equilibrar todas as outras coisas de modo que ele não seja prejudicado.

Mas que fique claro: o meu elogio ao devotamento materno não envolve nenhum tipo de sentimentalismo ou idealização. Não existe a mãe impecável, pois, como seres humanos que somos, nascemos inevitavelmente imperfeitas. Porém existe, sim, a mãe madura e responsável, que não se furta a assumir com zelo e determinação o seu papel. Quaisquer que sejam as circunstâncias concretas de sua vida, ela sempre acaba acertando no conjunto da obra. Porque se uma criança tem a atenção e o cuidado de sua mãe, tudo o mais virá como consequência.

O que pensar a respeito do naturismo?

Se a história da humanidade e a etnografia são tão contundentes em desmentir as pretensões do naturismo, por que há famílias hoje em dia que insistem em adotá-lo dentro de casa, e até mesmo fora dela?

O que pensar daquelas famílias que optam por um estilo de vida naturista, ou seja, que decidem viver o nudismo dentro de casa? Antes de responder a esta pergunta, é preciso saber em primeiro lugar o que se entende por naturismo.

Com essa expressão costuma-se designar a “filosofia” segundo a qual o homem deve viver da forma mais “natural” possível, de modo a rejeitar tudo o que é artificial e produto da cultura humana. Desse ponto de vista, não só a ideia de pudor e modéstia como também as roupas com que nos cobrimos têm de ser abandonadas e abolidas, uma vez que são contrárias ao “estado natural” em que o homem nasce, ou seja, antes de ser “moldado” pela sociedade.

A inspiração remota do naturismo pode ser encontrada nas ideias morais de um dos principais representantes da “ilustração” francesa, Jean-Jacques Rousseau. Segundo ele, o ser humano nasceria bom e inocente por natureza, sendo a sociedade — ou o “sistema”, de acordo com o jargão moderno — o grande responsável por depravá-lo e corromper-lhe o espírito.

Ora, se o homem nasce dotado de uma bondade inata, que se vai perdendo à medida que a civilização o influencia e absorve, o único critério moral de suas ações é obedecer ao que lhe dita a natureza, sem dar atenção às instituições e costumes humanos [1].

Isso, é óbvio, não corresponde à realidade dos fatos e é desmentido taxativamente pela história dos povos. Ainda que de formas e em graus diversos, não há comunidade humana que não considere o pudor e o recato como valores mínimos e indispensáveis para o convívio social; são, numa palavra, “o pressentimento”, nascido com o despertar da consciência, “duma dignidade espiritual própria do homem” [2].

A razão disto, como nos revela a fé cristã, é que o ser humano não vem ao mundo em seu estado natural. Marcado pelo pecado original, todo homem nasce com uma natureza, se não substancialmente corrompida, ao menos debilitada, sujeita ao pecado, à dor, às enfermidades e à morte. Embora Deus nos tenha criado para o amor, todos levamos na alma uma ferida, que nos inclina ao pecado e, portanto, ao egoísmo, cuja manifestação mais palpável e, por assim dizer, mais “material” é a concupiscência [3].

A concupiscência consiste numa desordem apetitiva que nos leva, não a amar os demais, mas a usá-los, tomando-os, não com fins em si mesmos, mas como objetos da nossa satisfação pessoal. Essa tendência enfermiça nos afeta com tal intensidade que, sem o auxílio sobrenatural da graça, opera em nossos membros como uma “lei” (cf. Rm 7, 23) estruturante de nossa conduta ao modo de desordem e insubmissão ao império da razão [4].

É por isso que em todas as sociedades humanas encontram-se formas, ainda que diversificadas, de preservar a integridade e a dignidade do corpo, a fim de regular a relação entre os sexos e o exercício da sexualidade [5]. O pudor, nesse sentido, pode ser visto como um “sentimento” natural que surge diante da necessidade de impor um limite ao uso desordenado e socialmente nocivo das faculdades sexuais a que todos estamos inclinados.

Mas se a história e etnografia são tão contundentes em pôr por terra as pretensões do naturismo, por que há famílias hoje em dia que insistem em adotá-lo dentro de casa, e às vezes até fora dela?

Sem levar em conta os ingênuos, que aderem a semelhantes modismos por falta de reflexão, não podemos deixar de reconhecer que boa parte dos lares adeptos do naturismo foi contaminada, em maior ou menor medida, por ideias de corte ou inspiração marxista.

O naturismo, ao menos dessa perspectiva, não é mais do que um dos muitos instrumentos com que ideólogos anticristãos pretendem impor um novo modelo antropológico que desmonte a instituição familiar, entendida como protótipo e germe das desigualdades sociais e frente única de resistência à vontade absoluta do Estado.

Isso não significa, é claro, que em toda família naturista se pratiquem, necessariamente, imoralidades sexuais, como o incesto, por exemplo. Em todo caso, seria uma grande ingenuidade crer que em um lar onde não se guarde o devido recato e respeito à intimidade, tanto alheia como própria, não haja uma atmosfera malsã e tendente ao erotismo.

O naturismo, além disso, se apresenta como uma “filosofia” de caráter reducionista, já que, negando a existência de valores transcendentes e espirituais, reduz o ser humano ao corpo, ao qual atribui o primado da expressão do amor e dos afetos. Ignora, portanto, que o nosso olhar, marcado pelo pecado original, dificilmente consegue remeter-se à beleza e às virtudes da alma ao centrar-se quase exclusivamente nas formas do corpo.

Expor as crianças a um ambiente como o promovido pelo naturismo significa não apenas faltar com o grave dever de educar que compete aos pais, mas também deformá-las e impedi-las de desenvolver aquele casto respeito pelo corpo humano sem o qual é impossível, ao fim e ao cabo, despertar para o verdadeiro respeito pela pessoa humana [6].

Se hoje em dia investe-se tanto em fazer desaparecer o pudor, o recato e a modéstia, inclusive na intimidade das famílias, é precisamente porque tais valores, nas palavras do Catecismo da Igreja Católica, são a nossa primeira salvaguarda contra as solicitações da moda e a pressão das ideologias dominantes [7].

Referências

[1] Cf., por exemplo, J.-J. Rousseau, Emílio, l. 3, t. 3: “Suivez toujours les indications de la nature”; v. G. Fraile, Historia de la Filosofía. Madrid: BAC, 1966, vol. 3, p. 935; J. Luiz Fernández; M. Jesús Soto, Historia de la Filosofía Moderna. 2.ª ed., Pamplona: EUNSA, 2006, p. 244.
[2] Catecismo da Igreja Católica, n. 2524.
[3] Cf. Martín F. Echavarría, La Praxis de La Psicología y sus Niveles Epistemológicos según Santo Tomás de Aquino. Girona: Documenta Universitaria, 2005, p. 487.
[4] Cf. Id., p. 488.
[5] Cf. P. Trevijano, Orientación Cristiana de la Sexualidad. Madrid: Voz de Papel, 2009, p. 61.
[6] Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2524.
[7] Cf. Id., n. 2523.

Como falar de sexo com meus filhos?

Não sabe como conversar com seus filhos sobre sexo? Confira as dicas do Pe. Paulo Ricardo

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Falar de sexo com os filhos, hoje mais do que noutros tempos, é não somente uma prerrogativa, mas um grave dever dos pais, porque é apenas no ambiente doméstico, em que se resguarda o pudor e o respeito à pureza de cada um, que se encontram as “condições psicológicas e morais para uma educação sadia e eficiente em matéria tão delicada” [1].

Não se trata, porém, de iniciar precocemente as crianças nos mistérios da vida, despertando-lhes imagens e curiosidades malsãs, mas de saber vaciná-las o quanto antes contra o que o mundo e a sociedade atuais, hipnotizados por diversão e prazer fácil, vão querer ensinar-lhes no futuro. Os pais de hoje em dia precisam, pois, vencer a vergonha que este tema naturalmente suscita e, “sem exposição solene nem cerimônias misteriosas” [2], mostrar aos adolescentes que sexo tem a ver, antes e sobretudo, com família.

Sim, com família. Porque é por meio da maturidade física que Deus vai preparando os corações para a maturidade do espírito, para a plena formação da vontade e das forças morais do indivíduo. Entrar na puberdade implica não apenas umas tantas alterações no corpo, mas também uma verdadeira transformação interior; implica, fundamentalmente, entrar na vida adulta, ou seja, tornar-se capaz de viver para o outro, com o espírito de entrega e autodoação que se encarna na figura de um pai ou de uma mãe.

Por isso, os adolescentes têm de compreender que o ato sexual, longe de ser um divertido passatempo, está essencialmente vinculado à capacidade procriativa do homem e, portanto, à sua vocação a ser família, a sair de si mesmo para dar-se sem reservas à esposa ou ao esposo, aos filhos e filhas frutos da união entre os dois. Falar de sexo — ainda mais para nós, católicos — é falar das vidas que Deus confia aos cuidados do pais, a fim de que estes as levem consigo para aquela Vida que nunca há de ter fim.

Referências

  1. Leonel Franca, “Educação Sexual”, inA Formação da Personalidade (Obras Completas, vol. 15). Rio de Janeiro: Vozes, 1954, p. 34.