Touro, águia, leão, homem: por que os evangelistas estão associados a essas criaturas?

Daniel R. Esparza | Ago 20, 2019
Uma tradição antiga e muitas vezes desconhecida sustenta esses temas cristãos tradicionais

Um dos temas mais comuns da arte cristã é o quase onipresente Tetramorph. Do grego tetra (“quatro”) e morphé (“forma” ou “forma”) a palavra aplica-se, em geral, a qualquer representação de um conjunto de quatro elementos.
Mas na arte cristã, o Tetramorph refere-se quase exclusivamente à maneira mais comum de descrever os quatro evangelistas, cada um deles acompanhado ou representado por uma figura, três deles sendo animais e apenas um (aquele que acompanha ou representa Mateus) humano ou, mais frequentemente, uma figura angelical alada.

Tais imagens, ao contrário de alguns outros motivos zoomórficos tradicionais da arte cristã, têm bases bíblicas. Elas correspondem à visão dos chamados “quatro seres viventes” de Ezequiel: o profeta descreve quatro seres: “Quanto ao aspecto de seus rostos tinham todos eles figura humana, todos os quatro uma face de leão pela direita, todos os quatro uma face de touro pela esquerda, e todos os quatro uma face de águia.” Esse Tetramorph carregou o trono ou carruagem do Senhor.

Pode-se apenas imaginar de onde Ezequiel tirou essas imagens complexas.

Todos sabemos que a combinação de diferentes seres e símbolos era bastante comum no antigo Egito, assim como na antiga Mesopotâmia. Lembremo-nos das esfinges egípcias, dos touros babilônicos alados e das harpias gregas. Curiosamente, o próprio Ezequiel foi um dos profetas judeus que viveu durante o exílio na Babilônia por volta do século 6 antes de Cristo, então sua visão poderia ter sido influenciada pelos antigos motivos da arte assíria, na qual essas combinações eram de fato bastante comuns.

A Revelação de João (isto é, o livro do Apocalipse) ecoa a visão de Ezequiel em seu quarto capítulo: “O primeiro animal vivo assemelhava-se a um leão; o segundo, a um touro; o terceiro tinha um rosto como o de um homem; e o quarto era semelhante a uma águia em pleno voo”.

   Agora, por que essas criaturas são designadas para um evangelista específico? Por que a águia está emparelhada com João, por exemplo? Há razões associadas às particularidades dos Evangelhos de cada autor, segundo São Jerônimo. Procure esses quatro símbolos nas gravuras dos evangelistas ou, por si só, decorando as fachadas dos livros e dos púlpitos do Evangelho.

Mateus é associado ao homem alado, ou anjo, porque o seu Evangelho se concentra na humanidade de Cristo, afirma São Jerônimo. O Evangelho de Mateus inclui uma narrativa sobre a genealogia de Jesus.
O leão é relacionado a São Marcos, porque o seu Evangelho enfatiza a majestade de Cristo e sua dignidade real, assim como o leão é tradicionalmente considerado o rei dos animais. O Evangelho de Marcos começa com a voz profética de João Batista, clamando no deserto como um rugido de leão.
A Lucas associa-se o touro, porque seu Evangelho se concentra no caráter sacrificial da morte de Cristo, e o touro sempre foi um animal sacrificial por excelência, tanto para o judaísmo quanto para o paganismo romano.

Por, João está associado à águia por duas razões: primeiro, porque seu Evangelho descreve a Encarnação do Logos divino, e a águia é um símbolo daquilo que vem de cima. A segunda, porque como a águia, João, em sua Revelação, viu além do que está imediatamente presente. Por isso São João Evangelista é chamado de “Águia de Patmos”.

Conheça a história de um pai de família mártir assassinado pelos nazistas

Franz Jagerstatter / Rook76, www.shutterstock.com

LIMA, 07 Abr. 16 / 02:00 pm (ACI).- Uma característica comum nas histórias de todos os santos é que Deus sempre está junto a eles, inclusive nas circunstâncias mais difíceis. Isto é possível perceber com o martírio do Beato Franz Jagerstatter, um pai de família que foi morto durante a ocupação nazista da Áustria.

Franz nasceu em um pequeno povoado de Alta Áustria, foi agricultor e se casou com Franziska Schwaninger na Quinta-feira Santa de 1936. Sua esposa foi uma mulher muito devota e, por sua influência, tornou-se sacristão da igreja deste local, onde começou a ler a Bíblia e conhecer a vida dos santos.

Em 1938, perto do dia do nascimento da mais velha de suas três filhas, os alemães invadiram a Áustria no contexto da Segunda Guerra Mundial.

A Igreja Católica no país havia advertido contra o nazismo durante anos. Os católicos na Alemanha enfrentavam graves restrições, incluindo a proibição da Missa – exceto aos domingos – inclusive para as solenidades mais sagradas e dias festivos.

Em 1937, Pio XI publicou a encíclica Mit Brennender sorge (Com ardente inquietação), que tratava acerca das tensas relações entre a Igreja e a Alemanha nazista.

Jagerstatter foi a única pessoa em todo seu povoado que repudiou e votou contra a anexação da Áustria pela Alemanha nazista em 1938. Estava consternado ao ver que muitos católicos apoiavam os nazistas. Inclusive um cardeal exigiu que todas as paróquias erguessem a bandeira nazista em suas igrejas no dia do aniversário de Hitler.

“Dificilmente poderia existir uma hora mais triste para a fé cristã em nosso país”, escreveu o pai de família.

O hoje beato sentiu naquele momento que não podia chamar a si mesmo de discípulo de Cristo se aceitasse os mandatos de um regime ao qual considerava “satânico”.

A princípio, parecia que ser agricultor lhe impediria de lutar pelo exército da Alemanha, pois requeriam a produção de grandes quantidades de alimentos. Infelizmente, em 1943, a necessidade de mais soldados aumentou e Jagerstatter foi chamado ao serviço ativo.

Dirigiu-se ao centro de indução e anunciou que não lutaria, por isso, foi enviado à prisão militar de Linz. “Estou convencido de que a melhor decisão é dizer a verdade, embora corra perigo de vida”, escreveu.

Amigos, familiares e até mesmo o Bispo local visitaram Jagerstatter na prisão, tentando convencê-lo a se alistar, mas ninguém lhe deu um argumento convincente para que desistisse de suas convicções morais e religiosas ao fazer uso da objeção de consciência.

Em vez disso, todos tentaram convencê-lo de que Deus não o tornaria responsável por fazer o que o obrigavam. Mas não o convenceram.

“Desde a morte de Cristo, cada século foi testemunha da perseguição dos cristãos; sempre houve heróis e mártires que entregaram sua vida – normalmente de maneiras horríveis – por Cristo e sua fé. Se esperamos chegar à nossa meta algum dia, então nós também devemos chegar a ser heróis dá fé”, escreveu Franz Jagerstatter.

O Beato permaneceu de maio a agosto de 1943 na mesma prisão do conhecido pastor luterano e mártir Dietrich Bonhoeffer. Além disso, soube que um sacerdote havia sido martirizado na mesma prisão pelas mesmas razões que ele e muitos outros.

Essa convicção lhe custou a própria vida. Foi levado a Berlim, onde foi condenado à morte. Suas últimas palavras registradas antes de morrer na guilhotina foram: “Estou completamente unido em união interior com o Senhor”.

Durante o Concílio Vaticano II, o testemunho de Jagerstatter ajudou a dar forma à seção do documento Gaudium et spes que menciona as objeções de consciência à guerra.

Foi beatificado 50 anos depois de sua morte pelo então Papa Bento XVI. Suas filhas, netos e bisnetos participaram da cerimônia.

Crise na Igreja? Estes dois Santos podem ajudar

Os males que o Senhor permite que nos aconteçam são um chamado bem forte para nos despertar e fazer-nos redescobrir nossa identidade como discípulos de Cristo.

Nós temos sempre necessidade do exemplo e da doutrina dos santos para nos mantermos no caminho certo. Em outubro, a Igreja celebra as festas de muitos santos de elevada estatura. Dois deles, especialmente amados pelos católicos, são lembrados bem no começo do mês: Santa Teresinha do Menino Jesus (dia 1.º de outubro no novo calendário, e 3 no antigo) e São Francisco de Assis (4 de outubro em ambos).

Santa Teresinha ensina-nos a não deixar passar jamais as pequenas coisas, nas quais Deus se encontra conosco e através das quais nós demonstramos o amor que lhe temos.

São Francisco ensina-nos, por sua vez, que tudo não passa de uma grande perda em comparação com o amor extraordinário de Cristo crucificado.

Ambos tornaram-se santos por meio do caminho apertado (cf. Mt 7, 14), colocando Cristo cada vez mais em primeiro lugar e fugindo do pecado com cada vez mais determinação. Não é que Teresa e Francisco não tenham experimentado percalços ou fracassos — uma perfeição assim completa não é possível para nenhum ser humano decaído; como diz Santo Tomás, seremos totalmente perfeitos apenas na pátria celeste —, mas eles sabiam para onde estavam indo e como chegariam a seu destino, sem jamais se deixarem demover por qualquer obstáculo.

Nosso Senhor age poderosamente dentro de nós, mesmo com os entraves que nós mesmos tantas vezes colocamos à sua ação. Por isso, não devemos parar de entregar a Ele o nosso coração com aquele ato de vontade único, simples e fundamental de dizer: “Senhor, eu quero pertencer-vos, eu quero ser vosso por toda a eternidade. Fazei-me vosso pelo poder de vosso Espírito Santo.”

A raiz da atual crise por que passa a Igreja nada mais é do que a ausência de um desejo ardente por estar com Nosso Senhor Jesus Cristo e permanecer nEle hoje, todos os dias, até o dia final. É esse o fundamento da santidade e de absolutamente tudo na vida cristã. Sem esse desejo por uma união cada vez mais perfeita com Cristo, nosso Salvador, nada mais importa nem chega a fazer qualquer sentido. Eis o que temos de redescobrir — a começar por aqui, no meu e no seu próprio coração.

Os males que o Senhor está permitindo que nos aconteçam são um chamado bem forte para nos despertar e fazer-nos redescobrir nossa identidade e compromisso básicos como discípulos de Cristo. E porque geralmente o amor tem chances de se revelar mais nos pequenos do que nos grandes caminhos, como Santa Teresinha nos recorda, é preciso que nós nos humilhemos, buscando o Senhor todos os dias na oração — recorrendo à Confissão, à Missa, à adoração eucarística, bem como ao auxílio de Nossa Senhora e dos santos, não obstante os desânimos, aborrecimentos, maus sentimentos ou quaisquer outras coisas que tentem nos tirar do que nós sabemos ser nosso dever.

Nossa rotina diária parece incluir todo o tempo do mundo para o escrutínio intenso de notícias, para o “lançamento” de reclamações como se fôssemos navios em uma batalha naval, para a produção de análises que se encaixem aos fatos do dia e para o cultivo da ansiedade quase como uma atividade artística. Eu mesmo conheço bem a tentação de ser absorvido e se perder nessas coisas.

Não me entendam mal! É claro que existe um tempo para se manter atualizado com as notícias, para fazer críticas e análises de conjuntura, ainda que não seja por ansiedade ou angústia excessivas.

Eu acredito, porém, que Santa Teresinha e São Francisco nos diriam: Não se esqueça de reservar tempo, e cada vez mais tempo, para fazer uma oração recolhida, humilde, generosa e de coração pela Igreja e por todos os seus membros, desde o Papa até o mais simples dos leigos, ou por seja lá o que mais o esteja incomodando.

Faça isso por amor a Cristo, que amou e se entregou por você, e isso quando você era ainda um miserável pecador (cf. Gl 2, 20; Rm 5, 8). Rezar será muito mais eficaz para uma reforma verdadeira e duradoura da Igreja do que todo e qualquer “ativismo” com que estejamos habituados.

O dia em que São João Paulo II profetizou o futuro da Irlanda

No último dia 25 de maio, o povo irlandês foi às urnas e votou pela chacina de seus filhos. Mas nós talvez não devêssemos ficar tão surpresos. O Papa São João Paulo II já havia profetizado tudo o que aconteceu.

Em 1979, o Papa João Paulo II olhou fixamente para uma multidão de 300 mil jovens, durante uma Missa em Galway, na Irlanda. “Lançando o olhar para vós”, ele disse na ocasião, “eu vejo a Irlanda do futuro. Amanhã, vós sereis a força viva de vosso país; vós decidireis o que será a Irlanda.”

Infelizmente, aquela mesma geração, e a dos filhos que ela educou desde então, acaba de decidir qual será o futuro da Irlanda. Não é difícil imaginar o luto deste Papa santo, estivesse ele fisicamente aqui conosco, para testemunhar o que o povo irlandês decidiu no último dia 25 de maio.

É estranho, muito, muito estranho, ver os vídeos e as fotografias de multidões de jovens irlandeses dançando, gritando e derramando lágrimas de alegria — alegria! — por uma façanha que nenhum outro país, nem o mais liberal e corrupto, conseguiu realizar: a autorização, por maioria esmagadora de votos, da chacina de seus irmãos e irmãs não-nascidos.

Na Irlanda, 64% dos eleitores compareceram às urnas no dia do referendum e, desses, 66% votaram para revogar a emenda constitucional (84% das pessoas entre 18 e 24 anos votaram “sim”) que protege o direito à vida do nascituro — quase exatamente a mesma proporção que votou, apenas três décadas atrás, para aprovar a Oitava Emenda. De lá para cá, tanto mudou, e tão rápido!

Eu, evidentemente, tinha meus pressentimentos. Apesar de toda a sua história católica e de sua evangelização por São Patrícioa Irlanda não estava imune ao poder onipresente da cultura popular, bem como à sedução da nova ideologia, de liberdade pessoal e autonomia sexual radicais, que tem devastado o Ocidente. Muitos dos sinais de alerta estavam presentes, incluindo a recente legalização do divórcio e do “casamento” entre pessoas do mesmo sexo. Mas nem eu — nem ninguém, pelo que parece — esperava uma derrota tão definitiva e esmagadora para os não-nascidos.

O alerta profético de São João Paulo II à Irlanda

Mas talvez nós não devêssemos ficar tão surpresos. O Papa São João Paulo II já havia profetizado tudo isso que aconteceu.

Nessa mesma homilia aos jovens, o Papa explicou, em seus dolorosos detalhes, precisamente o que aconteceria caso a Irlanda abandonasse a Cristo e suas raízes cristãs.

O Papa alertou à juventude que “as tradições religiosas e morais da Irlanda, a própria alma da Irlanda, serão desafiadas por tentações que não poupam nenhuma sociedade de nossa época”. Os jovens ouvirão que “é preciso fazer mudanças”, que eles devem “gozar de maior liberdade”, que devem ser “diferentes” dos próprios pais, “e que depende de vós, e só de vós, decidir a respeito de vossas vidas”.

Muitos dos que estavam ali, disse o Papa, seriam tentados a abandonar a Cristo e a desprezar sua educação, sua família e sua cultura cristãs. No entanto, ele alertou, “uma sociedade que, desse modo, perdeu os seus mais altos princípios religiosos e morais, tornar-se-á presa fácil de manipulações e domínio por parte de forças que, sob o pretexto de maior liberdade, a tornarão pelo contrário mais escrava ainda”.

O Papa chegou mesmo a prever que, no futuro da Irlanda, esse ataque teria como foco especial o domínio da sexualidade. “O atrativo do prazer, que deseja ser satisfeito todas as vezes e em toda a parte onde se encontrar, será forte e poderá apresentar-se-vos como parte do progresso a caminho de maior autonomia e libertação das normas.” Essa tentação viria especialmente dos “meios de comunicação social”, que apresentariam uma visão de mundo em que “cada um vive para si mesmo e em que a desenfreada afirmação de si próprio não deixa espaço para o interesse pelos outros”.

É essa, de fato, a lição que centenas incalculáveis de milhares, senão milhões, de bebês irlandeses aprenderão nos próximos anos.

Em sua homilia, o Papa também incluiu uma frase desanimadora, dadas as coisas que se passaram desde então. Falando da tentação de se afastar de Cristo, o Papa disse que “isso pode acontecer especialmente se virdes contradição, na vida de alguns companheiros vossos, entre a fé que professam e o modo como vivem”.

Eu me pergunto se o Papa sabia quão proféticas viriam a ser essas palavras. Muitas pessoas notaram que a Igreja Católica teve um papel surpreendentemente tímido no debate sobre a Oitava Emenda. “A Igreja, com exceção de uma pastoral e outra, ficou taticamente ausente”, escreveu o comentarista irlandês John Waters para o First Things.

A razão disso não é segredo para ninguém. Em anos recentes, a credibilidade moral da Igreja se perdeu. Revelações de abusos físicos e sexuais ocorridos dentro de instituições geridas pela Igreja, e acobertados por ela, minaram catastroficamente o seu poder de dizer qualquer coisa em matéria moral. A mídia está sempre pronta, em casos como esse, para lançar os próprios erros da Igreja em rosto.

Mas isso ainda não explica inteiramente a ausência conspícua de muitos pastores na batalha pela vida. “Imperdoável foi esse silêncio ter se estendido aos púlpitos”, disse John Waters. Mas também essa triste traição parece ter sido predita por João Paulo II. O Papa notou que, entre as muitas pessoas a dizer à juventude que suas práticas religiosas são “irremediavelmente antiquadas” e embaraçam “a vossa maneira de ser e o vosso futuro”, estariam “até pessoas religiosas” — inclusive, eu suponho que o Papa soubesse, alguns padres e bispos.

Um remédio simples

A homilia do Papa não foi, no entanto, só desgraça e melancolia para o futuro da Irlanda. As mensagens dos grandes profetas nunca são assim, mesmo quando eles são implacáveis em seus diagnósticos.

Face a todas as forças articuladas contra o Evangelho e à “doença moral” que “espreita” a sociedade irlandesa, os jovens devem voltar-se à única fonte de felicidade autêntica: Cristo. “Em Cristo descobrireis a verdadeira grandeza da vossa humanidade”, exortou o Papa. “Cristo possui as respostas aos vossos problemas e a chave da história; tem o poder de elevar os corações. Ele continua a chamar-vos, continua a convidá-los, Ele que é ‘o caminho, a verdade e a vida’.” Ainda que o chamado de Cristo seja “exigente”, disse o Papa, a juventude não deve ter medo, pois “só com Ele a vossa vida terá significado e será digna de ser vivida”.

Uma mensagem simples, é verdade, mas do que mais precisamos?

Para os pró-vida irlandeses, que derramaram seus perfumes e suas lágrimas em vão na defesa do nascituro, e que devem viver agora em um país moralmente alheio a eles, o que mais lhes resta senão Cristo? Para aqueles de nós, fora da Irlanda, que lutaram, jejuaram e rezaram pela terra de São Patrício, na esperança de que ela continuasse a ser um farol de luz e de esperança para o Ocidente, o que mais nosresta senão Cristo?

Os poderes deste mundo são fortes e, por ora, eles prevaleceram. Mas o Papa tinha uma mensagem também para aqueles de nós que talvez sintam que, “diante das experiências da história e das situações concretas, o amor perdeu a sua força e é impossível praticá-lo”. Não é assim, disse esse grande santo, pois, “com o tempo, o amor ganha sempre a vitória, o amor não sucumbe nunca”.

Para a Irlanda pró-vida, o dia 25 de maio foi um dia de trevas, de muitas trevas. O mais tenebroso dos dias. Mas o amor ainda vive. Os pró-vida devem agora se adaptar ao novo regime e encontrar novas formas de expressar esse amor no futuro da Irlanda: continuando a lutar, evidentemente, por leis pró-vida, com unhas e dentes, mas também encontrando formas novas e criativas de trazer amor a homens e mulheres sem esperança que começarão a procurar por “soluções” falsas nos matadouros da Irlanda… ensinando-os a amar a si mesmos e a seus filhos. Muitas vidas serão salvas dessa forma, assim como tem acontecido em outros lugares do mundo.

“Levemos esta intenção”, concluiu o Papa, depois de pedir aos irlandeses que continuassem a escutar a mensagem do Evangelho, “aos pés de Maria, Mãe de Deus e Rainha da Irlanda, exemplo de amor generoso e dedicação ao serviço dos outros”. Esse era o melhor caminho naquela ocasião, e é o melhor caminho para nós também agora.

Nossa Senhora do Silêncio de Knock,
rogai por nós, rogai pela Irlanda!

O último pedido de Santa Mônica

Antes de morrer, a mãe de Santo Agostinho não se preocupou com seu corpo, “não desejou ter rico monumento, nem mesmo ter sepultura na própria pátria”. Seu último desejo era outro, bem diferente…

Na Nova Lei nós temos o santo Sacrifício da Missa, do qual os vários sacrifícios da lei mosaica eram apenas frágeis figuras. O Filho de Deus o instituiu, não só como uma digna homenagem prestada pela criatura à Divina Majestade, mas também como uma propiciação pelos vivos e pelos mortos, isto é, como um meio eficaz de aplacar a Justiça Divina, afrontada por nossos pecados.

O santo Sacrifício da Missa era celebrado pelos defuntos desde o tempo da fundação da Igreja. “Nós celebramos o aniversário do triunfo dos mártires”, escreve Tertuliano no século III (De Corona, c. 5), “e, de acordo com a tradição de nossos pais, nós oferecemos o santo Sacrifício pelos defuntos no aniversário de suas mortes.”

“Não resta dúvidas”, escreve por sua vez Santo Agostinho (Serm. 34, De Verbis Apost.), “que as orações da Igreja, o santo Sacrifício, as esmolas distribuídas pelos falecidos, aliviam essas santas almas e incitam Deus a tratá-las com mais clemência do que merecem os seus pecados. Trata-se da prática universal da Igreja, uma prática que ela observa por haver recebido de seus antepassados, isto é, dos Apóstolos.”

Santa Mônica, a valorosa mãe de Santo Agostinho, quando estava prestes a expirar, não pediu a seu filho senão uma só coisa: que ele se lembrasse dela diante do altar do Senhor. Este santo Doutor, por sua vez, ao relatar em suas Confissões (l. IX, c. 11-13) esse incidente comovedor, suplica a todos os seus leitores que se unam a ele e encomendem sua mãe a Deus durante o santo Sacrifício da Missa.

Querendo voltar para a África, Santa Mônica foi com Santo Agostinho até Óstia, a fim de embarcar; mas ela caiu doente e rapidamente sentiu que seu fim estava se aproximando. “Enterrai este corpo em qualquer lugar”, ela disse a seu filho, “e não vos preocupeis com ele. Faço-vos apenas um pedido: lembrai-vos de mim no altar do Senhor, seja qual for o lugar em que estiverdes”: ut ad altare Domini memineritis mei.

Não nos parecia justo celebrar o funeral com lamentos e choros, pois essas demonstrações servem usualmente para deplorar a morte como infelicidade ou aniquilamento total, ao passo que essa morte não era uma desgraça, nem era para sempre. Estávamos certos disso pelo testemunho de seus costumes, pela sinceridade de sua fé e por outros motivos bem fundados. O que é que me fazia então sofrer interiormente, senão a chaga recente causada pela ruptura inopinada de um hábito tão suave e querido da vida em comum? […]

Curado já o meu coração dessa ferida, pela qual podia ser repreendido por um apego demasiadamente carnal, derramo agora diante de ti, meu Deus, por tua serva, um tipo bem diferente de lágrimas, aquelas que brotam de um coração comovido pelos perigos que corre todo homem que deve morrer em Adão.

É verdade que ela, regenerada em Cristo, ainda antes de ser libertada da carne, vivia de tal modo que o teu nome era glorificado na sua fé e nos seus bons costumes. Contudo, não ouso afirmar que desde o tempo em que a regeneraste pelo batismo não tenha escapado de sua boca alguma palavra contra a tua Lei. […] Ai do homem, mesmo de vida irrepreensível, se tu o julgares sem misericórdia! […]

Por isso, Deus do meu coração, minha glória e minha vida, esquecendo por um momento as boas obras de minha mãe, pelas quais te dou graças alegremente, peço-te perdão por seus pecados. Ouve-me, pelos méritos daquele Médico das nossas feridas, que foi suspenso no madeiro e que, sentado à tua direita, intercede por nós.

“Santo Agostinho e Santa Mônica”, por Gioacchino Assereto.

Sei que ela agiu sempre com misericórdia e que perdoou de coração as faltas contra ela cometidas. Perdoa-lhe também as suas faltas, se algumas cometeu em tantos anos de vida depois do batismo. Perdoa, Senhor, perdoa, eu te suplico, e “não chames a juízo a tua serva” (Sl 142, 2). Que a misericórdia triunfe sobre a justiça. Tuas palavras são verdadeiras, e prometeste misericórdia aos misericordiosos. […]

Eu creio que já fizeste tudo o que peço, mas acolhe, Senhor, as livres oferendas de meus lábios. Aproximando-se o dia de sua morte, minha mãe não se preocupou em ter seu corpo suntuosamente revestido ou embalsamado com aromas, não desejou ter rico monumento, nem mesmo ter sepultura na própria pátria. Não nos pediu nenhuma dessas coisas, mas desejou somente que nos lembrássemos dela diante de teu altar, ao qual ela não deixou um só dia de servir, porque sabia que aí se oferece a Vítima santa, pela qual ‘foi destruído o libelo contra nós’ (Cl 2, 14). […]

Que ela repouse em paz ao lado do marido, antes e depois do qual a ninguém ela desposou. Serviu a ele, oferecendo-te os frutos da paciência a fim de ganhá-lo para ti. E inspira, meu Senhor e meu Deus, inspira aos teus servos, aos meus irmãos, aos teus filhos, aos meus senhores, a quem sirvo com o coração, com a voz e com a pena, a fim de que, ao lerem estas páginas, se lembrem, diante de teu altar, de Mônica tua serva, e de Patrício, outrora seu esposo, pelos quais me introduziste misteriosamente nesta vida. Que se lembrem com piedosa emoção dos que foram meus pais nesta vida transitória […].

Assim, o último desejo de minha mãe será satisfeito, graças às minhas Confissõese mais abundantemente com as orações de muitos, do que somente com as minhas.

Essa bela passagem de Santo Agostinho mostra-nos qual era a opinião desse grande Doutor quanto aos sufrágios oferecidos pelos defuntos, e fazem-nos ver claramente que o maior de todos os sufrágios é o santo Sacrifício da Missa.

Referências

  • Trecho extraído e levemente adaptado da obra “Purgatory: Explained by the Lives and Legends of the Saints” (p. II, c. X), Londres: Burns & Oates, 1893, pp. 149-152.
  • As citações de Santo Agostinho foram retiradas de: “Confissões” (trad. de Maria Luiza Jardim Amarante), 20.ª ed., São Paulo: Paulus, 2008.

Santa Teresinha revela, em 5 passos, como recebia a Sagrada Comunhão

“Ofereci-me a Jesus, não como uma pessoa que deseja receber sua visita para a própria consolação, mas, ao contrário, para dar prazer àquele que se dá a mim.”

Não posso dizer que tenha recebido muitas vezes consolações durante minhas ações de graças. Talvez seja este o momento em que menos as tenho… Acho isso muito natural, pois ofereci-me a Jesus, não como uma pessoa que deseja receber sua visita para a própria consolação, mas, ao contrário, para dar prazer àquele que se dá a mim.

Imagino minha alma como um terreno livre; peço à Santíssima Virgem para tirar os entulhos que o possam impedir de estar livre.
Em seguida, suplico-lhe levantar ela mesma uma vasta tenda, digna do Céu, que a orne com seus próprios adornos.
Depois, convido todos os Santos e Anjos a virem fazer um magnífico concerto. Parece-me que, ao descer ao meu coração, Jesus fica contente de se ver tão bem recebido, e fico contente também…
Tudo isso não impede que as distrações e o sono venham me visitar.
Mas, ao sair da ação de graças, vendo que a fiz tão mal, tomo a resolução de ficar o dia todo em ação de graças…
Referências
Extraído e levemente adaptado de “História de uma alma”, Manuscrito A, 80r. In: Obras completas, escritos e últimos colóquios. São Paulo: Paulus, 2002, p. 157.
(via Pe. Paulo Ricardo)

São Tomás de Aquino nos fala do aborto

Na Idade Média Tomás de Aquino[i], um dos grandes pensadores da humanidade, debateu e condenou o aborto.  Inicialmente afirma-se que Tomás de Aquino não escreveu um livro ou tratado sobre a problemática do aborto. Acima de tudo Tomás é um pensador preocupado com as questões metafísicas e éticas que envolvem o ser humano. Por isso, grande parte de sua obra versa sobre esses temas. No entanto, ele deixou, ao longo de sua vasta obra, referências diretas e explícitas sobre o aborto.

No entanto, Tomás de Aquino distingue o aborto em duas categorias, sendo elas: o aborto natural e o aborto voluntário. No aborto natural o próprio organismo humano, por motivos diversos e expressamente médicos, expulsa, antes do tempo, o feto e, com isso, promove a morte do mesmo. Já o aborto voluntário[ii] é quando o indivíduo procura, de forma artificial e propositadamente, expulsar o feto de dentro do ventre materno, antes do momento apropriado para o nascimento e, com isso, provocar a morte do mesmo. Na perspectiva do Aquinate, o aborto voluntário trata-se de uma forma de assassinato e de um tipo de esterilização parcial, pois apesar do indivíduo continuar, na maioria dos casos, podendo engravidar e ter outros filhos, a gravidez interrompida artificialmente não gera nenhum filho.

Sem contar que Tomás de Aquino condena o uso do veneno da esterilidade, ou seja, dos anticoncepcionais que ou impedem a gravidez ou então, quando esta já está em pleno processo de desenvolvimento, impedem o desenvolvimento do feto e, com isso, provocam a realização de um aborto voluntário. Para ele[iii] quem procura tais métodos anti-natalidade, que atuam contra a natureza, mesmo sendo legalmente casados não podem receber o nome de cônjuges, pois não buscam conscientemente a realização plena do casamento, a qual se dá com a concepção e o nascimento dos filhos. Uma família só está totalmente formada quanto existe os cônjuges e os filhos. Impedir, por meio do aborto ou outro método anti-natalidade, o nascimento dos filhos é impedir o desenvolvimento natural da própria família.

No caso explicito do aborto, Tomás de Aquino afirma que de “nenhum modo é lícito matar ao inocente [o feto ainda no ventre da mãe]”[iv]. Além disso, ele afirma que o que “fere a mulher grávida faz algo ilícito, e, por esta razão, se disso resulta a morte da mulher ou do feto animado, não se desculpa do crime de homicídio, sobretudo, quando a morte segue certamente a esta ação violenta”[v].

Para ele a prática abortiva trata-se, pois, de um pecado gravíssimo, porque não mata somente o corpo, mas também a alma. É uma prática que se enquadra dentro do mandamento bíblico que determina: “Não Matarás” (Êxoto 20, 13; 23, 7; Deuteronômio 5, 17). Em suas palavras: “alguns matam somente o corpo, mas outros matam a alma, tolhendo-a a vida da graça, ou seja, arrastando-a ao pecado mortal; outros, porém, matam a ambos, o corpo e a alma: são os suicidas e aqueles que matam as crianças que ainda não nasceram [por meio da prática do aborto]”[vi]. Em Tomás de Aquino o aborto é uma das possibilidades de manifestação do homicídio qualificado, ou seja, é quando há um assassinato, neste caso do feto, com a clara intenção de cometer um crime.

Em grupos e ambientes que defendem o aborto e dentro de setores que, dentro da Igreja, se alto proclamam de progressistas, modernos e vanguarda teológica; é comum se encontrar um tipo de argumentação que afirma, dentre outras coisas, que Tomás de Aquino vê o aborto apenas como um ato antiético, mas que não chega a condenar a sua prática. Essa afirmação é uma tentativa de se buscar algum fundamento, mesmo que indireto, para se defender o aborto. O problema é que esse tipo de fundamentação é superficial e, em grande medida, falta de uma leitura mais atenta e analítica da obra do Aquinate. Se a obra de Tomás de Aquino for lida com atenção se verá que ele coloca dentro do mandamento do “Não Matarás” o aborto. Para ele o aborto é um assassinato de uma pessoa e, por isso, deve ser evitado de todas as formas.

Sobre a perspectiva do aborto na Idade Média a Declaração sobre o aborto provocado, da Congregação para a Doutrina da Fé, afirma: “É certo que, na altura da Idade Média em que era opinião geral não estar a alma espiritual presente no corpo senão passadas as primeiras semanas, se fazia uma distinção quanto à espécie do pecado e à gravidade das sanções penais. Excelentes autores houve que admitiram, para esse primeiro período, soluções casuísticas mais suaves do que aquelas que eles davam para o concernente aos períodos seguintes da gravidez. Mas, jamais se negou, mesmo então, que o aborto provocado, mesmo nos primeiros dias da concepção fosse objetivamente falta grave. Uma tal condenação foi de fato unânime”[vii].

[i] Sobre a reflexão de Tomás de Aquino sobre o aborto, recomenda-se consultar: SANTOS, Ivanaldo. Tomás de Aquino e o aborto. In: Teologia em Questão, v. X, p. 43-62, 2012; FAITANIN, Paulo. Acepção teológica de pessoa em Tomás de Aquino. In: Aquinate, Niterói, Rio de Janeiro, v. 3, p. 47-58, 2006.

[ii] AQUINO, Tomás. In IV Sent., d. 31, q.2, a.3, exp.

[iii] AQUINO, Tomas. In IV Sent., d. 31, q.2, a.3, exp.

[iv] AQUINO, Tomas. S. Theo., II-II, q. 64, a.6, e.

[v] AQUINO, Tomás. S. Theo., II-II, q. 64, a.8, ad2.

[vi] AQUINO, Tomás. In decem pracetis, a.7.

[vii] CONGREGAÇÃO PARA A DOUTIRNA DA FÉ. Declaração sobre o aborto provocado. Cidade do Vaticano, 18 de novembro de 1974, n. 7.

Fonte – www.zenit.org

Visões do Inferno da Beata Irmã Josefa Menendez

Nossa luta contra as trevas deve ser incessante. Para compensar aos que não mais acreditam nesta espantosa realidade, pessoas cuja falsa teologia é de perdição. Devemos nós, continuar a trazer estes textos de revelações visões de pessoas e de santos de nossa Igreja, para que todos finalmente acreditem e tenham tempo de conversão. Nem que seja pelo medo de cair lá. Acreditem, é horrível. Eu já vi…

A noite de 16 de Março às dez horas, ouvi, como os dias precedentes, um barulho confuso de gritos e cadeias. Levantei-me rapidamente e vesti-me, e tremendo de medo, ajoelhei-me na parte inferior da minha cama. O barulho aproximava-se, e sem saber o que fazer, marchei do dormitório, e fui à cela da nossa Santa Mãe; então fui de novo ao dormitório: os mesmos barulhos estarrecedores rodeavam-me; seguidamente, de repente vi frente de mim o diabo.

– Amarrem-lhe os pés e as mãos, urrou. Imediatamente perdi consciência de onde estava, e senti-me arrastada muito longe. Outras vozes gritavam: – ‘nada bom de amarrar os seus pés; é o seu coração o que devemos amarrar. – Isso não pertence a mim, foi a resposta do diabo.

Então fui arrastada por um corredor longo, muito escuro e sem fim, e dos lados ressoavam terríveis gritos. Dos lados opostos dos muros do estreito corredor havia uns nichos que vertiam fumo, não obstante com chamas muito pequenas, e que emitiam um cheiro intolerável. Destes nichos vinham vozes blasfemadoras, e gritos e palavras impuras. Alguns maldizem os seus corpos, outros os seus pais… Era um barulho de gritos confusos de fúria e desespero.

Então recebi uma pancada brutal no estômago que me dobrou em dois, e forçou-me dentro dum dos nichos. Senti-me como se fosse esmagada entre duas tábuas escaldantes e como se me perfurassem o corpo através de agulhas grossas, ardentes e pontiagudas parecia furar a minha carne. A minha alma caiu nas profundezas insondáveis, cujo fundo não pode ser visto, porque é imenso…

O que me causou a maior dor… e ao que nenhuma outra tortura pode ser comparada, era a angústia da minha alma achando-se separada de Deus…

Dizia uma alma: – Se algum de nós, que aqui estamos, pudesse fazer um só ato de amor, isto já não seria inferno!… Mas não podemos; nosso alimento é odiar e abominar! É ainda uma dessas desgraçadas almas quem fala: – O maior tormento aqui é não poder amar Aquele que devemos odiar. A fome de amor nos consome, mas é tarde demais… Tu também sentirás esta mesma fome: odiar, abominar e desejar a perdição das almas… É este o nosso único desejo!

Todos estes dias em que sou arrastada ao inferno, (diz Josefa) quando o demônio ordena aos outros que me martirizem, eles respondem: “Não podemos… Seus membros já foram martirizados por Aquele… (designam a Nosso Senhor com uma blasfêmia). Então ele manda que me deem enxofre a beber…  Reparai também que, quando eles me acorrentam para me levar ao inferno, nunca podem atar-me pelo lugar em que usei instrumentos de penitência. Tudo isto escrevo para obedecer.

Alguns rugem pelo martírio que sofrem nas mãos. Penso que roubaram porque dizem: – Onde está o que tiraste?… Malditas mãos!… Por que aquela ambição de ter o que não era meu e que não poderia guardar… Senão alguns dias?… Outros acusam as próprias línguas, os próprios olhos… Cada um aquilo que lhe havia sido motivo de pecado: – Bem pagas estão agora as delícias que tomavas meu corpo!… e foste tu que quiseste!…

Parece que as almas se acusam principalmente de pecados contra a pureza, de roubos, de negócios injustos e que a maioria dos condenados por estas causas é que estão pagando. Vi muita gente do mundo cair naquele abismo e não se pode explicar, nem compreender o grito que lançavam e como rugiam assustadoramente.

– Eterna maldição!… Enganei-me, perdi-me… Estou aqui para sempre… Não há mais remédio… Maldito sejas! Alguns culpavam tal pessoa, outros, tal circunstância e todos a ocasião da sua própria queda.

Em outro dia, senti-me como se tentassem arrancar a minha língua, mas não podiam. Esta tortura trouxe-me a uma tal agonia que os meus olhos mesmo pareciam começar a sair fora das suas órbitas. Penso que era devido ao fogo que queima e queima; nem uma unha do dedo escapa a estes tormentos arrepiantes, e a toda a hora não se pode deslocar mesmo um dedo para ganhar um pouco de alívio, nem fazer tampouco câmbio nenhum, porque o corpo parece estar aplainado e dobrado em dois. Os barulhos de confusão e de blasfêmias não cessam nem um só momento. Um cheiro terrível asfixia e corrompe tudo, é como a queimadura da carne podre, misturada com alcatrão e enxofre… uma mistura à qual nada sobre a terra pode ser comparada…”

Bem que estas torturas foram terríveis, seriam suportáveis se a alma tivesse paz. Mas sofre indescritivelmente… Uma das almas danada gritava: – Eis aí o meu tormento… Querer amar e não mais poder. Não me resta outra coisa senão ódio e desespero.

Vejo claramente que todas as dores sobre terra não são nada em comparação com o horror de não poder amar nunca mais, porque neste lugar só se respira ódio e sede de perdição de outras almas. Pareceu-me que passei muitos anos neste inferno, no entanto apenas durou seis ou sete horas… Todo o que escrevi, é somente uma sombra do que a alma sofre, por que nenhuma palavra pode exprimir tão grande tormento.

Hoje vi cair no inferno grande número de almas, creio que eram pessoas do mundo. O demônio gritava: – Agora o mundo está em ponto de bala para mim… Conheço o melhor meio de agarrar as almas!… É excitar nelas desejos de gozar! Eis o que me garante a vitória, o que as traz aqui em abundância.

Ouvi o demônio ao qual uma alma acabava de escapar, forçado a confessar a sua impotência: – Confusão! Confusão!… Como escapam tantas almas?… Eram minhas!… (e ele lhe enumera os pecados)

Na noite passada, não estive no inferno, mas fui carregada para um lugar onde não havia luz, somente um fogo ardente e vermelho no centro. Fui estendida e amarrada, sem poder fazer um só movimento. Em volta de mim, estavam sete ou oito pessoas sem roupa, e os corpos negros eram iluminados apenas pelos reflexos do fogo. Estavam sentados e falavam.

Dizia um: – É preciso grande precaução a fim de que não conheçam nossa mão, pois, somos facilmente descobertos. O diabo respondeu: – Insinuai-vos induzindo a negligência neles, mas mantendo-vos na sombra, de modo que não sejais descobertos… Podeis entrar pelo sentimento de indiferença… Sim, creio que a estes, dissimulando-vos a fim de que não percebam, podeis torná-los indiferentes ao bem e ao mal e, pouco a pouco, inclinar a sua vontade para o mal. A esses outros, tentai-os com ambições; que só procurem os seus próprios interesses… Por graus ficarão endurecidos, e podereis incliná-los ao mal. Tentai estes outros à ambição, o interesse, a fazer riquezas assem trabalhar, seja legal ou não. – Excitai aqueles outros à sensualidade e ao amor ao prazer. – Deixai que o vício os cegue… Quanto ao resto… entrai pelo seu coração… sabei as inclinações dos seus corações… provocai que amem com paixão… – Trabalhai muito duro… não tomeis nenhum descanso… não tenhais nenhuma piedade. – Ide… Ide… com firmeza!… que eles se apaixonem…, é preciso perder o mundo… não me escapem essas almas! – Deixai que comam muito e engrossem! Assim será todo mais fácil para nós… Deixai que comam e bebam nos seus banquetes. O amor ao prazer é a porta pela qual vos os caçareis. Os outros respondiam, de vez em quando: – Somos teus escravos… Trabalharemos sem descanso. Sim, muitos nos combatem, mas nós trabalharemos dia e noite, sem trégua. Reconhecemos teu poder… Etc.

Assim, todos falavam e aquele que creio ser o demônio dizia horríveis palavrões. Ouvi ao longe um ruído, como de taças e de copos e ele gritava: – Deixai-os embriagarem-se, depois tudo nos será fácil.. Acabem seus banquetes, já que tanto gostam de gozar. É a porta pela qual entrareis. Acrescentou coisas tão horríveis que não se podem dizer nem escrever. Depois como que mergulhando na fumaça, desapareceram.

Hoje, o demônio gritava com raiva por que uma alma lhe escapava: – Excitai-lhe o temor! Desesperai-a. Ah! Se ela confiar na Misericórdia Daquele (e blasfemava de Nosso Senhor) estou perdido! Mas, não! Enchei-a de medo, não a deixeis um só instante e, sobretudo desesperai-a. Então, o inferno se encheu com um só grito de raiva e, quando o demônio me lançou fora do abismo, continuou a ameaçar-me. Dizia, entre outras coisas: – Será possível… Será verdade que criaturas fracas tenham mais poder do que eu que sou tão poderoso! Mas esconder-me-ei para passar despercebido!… O cantinho mais pequeno me basta para colocar uma tentação: Atrás de uma orelha, nas folhas de um livro, de baixo de uma cama… algumas não fazem caso de mim, mas eu falo, falo… a custa de falar ficam algumas palavras… Sim, hei de esconder-me em lugar onde não me encontrem.

Vi caírem muitas almas. Entre elas, uma menina de 15 anos que amaldiçoava os próprios pais, porque não lhes haviam ensinado o temor de Deus, nem que existia o inferno. Dizia que sua vida, embora curta, tinha sido cheia de pecados, porque se considera a si mesma todas as satisfações que seu corpo e suas paixões exigiam dela. Acusava-se principalmente de ter lido maus livros.

Hoje, vi um vasto número de pessoas caírem no abismo ardente. Pareciam ser gente rica, bem vivedora e opulenta e um demônio berrou: – O mundo é maduro para mim.’ Sei que a melhor maneira de caçar almas é alimentar o seu desejo de prazer… Eu primeiro que ninguém… Eu antes que os outros… Nenhuma humildade para mim! Deixa que os demais louvem-me… Esta triagem de coisas assegura a minha vitória… e eles lançam-se de cabeça para o inferno.

Certas almas amaldiçoavam a vocação que tinham recebido e à qual não haviam correspondido… a vocação que haviam perdido, por que não tinham querido viver escondidas e mortificadas. Uma vez em que fui ao inferno, vi muitos padres, religiosos e religiosas que amaldiçoavam seus Votos, suas Ordens, seus Superiores, e tudo o que teria podido dar-lhes a luz e a graça que haviam perdido… Vi também prelados… Um se acusava a si mesmo de ter usado ilegitimamente de bens que não lhe pertenciam. Padres amaldiçoavam a própria língua que consagrara, os dedos que tocaram em Nosso Senhor, as absolvições que haviam dado sem saberem salvar-se a si mesmos, a ocasião que os havia levado ao inferno… Um padre dizia: – Comi veneno, servi-me de dinheiro que não me pertencia… e se acusava de ter usado o dinheiro que lhe haviam dado para missas, sem as dizer. Outro dizia que pertencia a uma sociedade secreta na qual traíra a Igreja e a religião e que, por dinheiro, facilitara horríveis sacrilégios e profanações.

Instantaneamente, achei-me no inferno, mas sem ter sido arrastada como das outras vezes. A alma aí se precipita por si mesma, como se desejasse desaparecer da vista de Deus para poder odiá-lo e amaldiçoa-Lo. A minha alma deixou-se cair num abismo cujo fundo não se pode ver, pois, é imenso!… Imediatamente, ouvi outras almas se regozijarem vendo-me nos mesmos tormentos. Ouvir aqueles horríveis gritos já é um martírio, mas creio que nada é comparável em dor à sede de maldição que se apodera da alma e, quanto mais maldizemos, mais aumenta a sede. Nunca tinha experimentado aquilo.

Outrora, a minha alma ficava cheia de dor diante daquelas horríveis blasfêmias, embora não pudesse produzir nem um ato de amor. Mas, hoje se dava o contrário! Vi o inferno como sempre, longos corredores, cavidades, fogo… ouvi as mesmas almas a gritar e a blasfemar, pois – como já escrevi muitas vezes – embora se vejam as formas corporais, sentem-se os tormentos como se os corpos estivessem presentes e as almas se reconhecem. Gritavam: – Olá, aqui estás! Como nós!… Éramos livres de não fazer aqueles votos (religiosa)!… mas agora… e maldiziam seus votos. Então fui empurrada para aquele nicho inflamado e esmagada como entre duas tábuas ardentes e como se ferros e ponta em brasa se me enfiassem no corpo.

Senti como se quisessem, sem o conseguir, arrancar-me a língua, tormento que me reduzia aos extremos da dor. Os olhos pareciam sair-me das órbitas, creio que por causa do fogo que tanto os queimava! Não havia uma só unha que não sofresse horríveis tormentos. Não se pode nem mover um dedo para buscar alívio, nem mudar de posição, o corpo fica como que achatado e dobrado pelo meio. Os ouvidos são acabrunhados com os tais gritos de confusão que não cessam um só instante. Um cheiro nauseabundo e repugnante asfixia e invade tudo; é como se carne em putrefação estivesse queimando com piche e enxofre… mistura que não se pode comparar a coisa alguma deste mundo.

Tudo o que estou escrevendo, não é senão uma sombra ao lado do que a alma sofre, pois, não há palavras que possam exprimir tormento semelhante.

Irmã Josefa Menéndez (1890-1923) recebeu mensagens de Jesus no convento da Sociedade do Sagrado Coração de Jesus en Les Feuillants, em Poitiers, França, entre 1920 e 1923. O então Cardeal Eugênio Pacelli, depois Papa Pio XII, aprovou a divulgação.

Santa Gianna, a mãe que escolheu morrer, mas não abortar

Aleteia Brasil  | Abr 28, 2017

Hoje, 28 de abril, celebramos esta padroeira das mães, dos médicos e das crianças por nascer

A Igreja celebra no dia 28 de abril a padroeira das mães, dos médicos e das crianças por nascer: Santa Gianna Beretta Molla, que foi descrita pelo beato Papa Paulo VI como “uma mãe que, para dar à luz seu bebê, sacrificou a própria vida em imolação deliberada”.

Santa Gianna nasceu em 1922 em Magenta, na província italiana de Milão. Acompanhava a mãe à Missa diária desde pequena e, aos 15 anos, depois de participar de um retiro espiritual segundo o método de Santo Inácio de Loyola, fez o seguinte propósito:

“Mil vezes morrer a cometer um pecado mortal”.
Muito devota de Nossa Senhora, ela disse a Maria por ocasião do falecimento de sua mãe:

“Confio em vós, doce Mãe, e tenho a certeza de que nunca me abandonareis”.
Falava da Mãe de Deus nos seus encontros com as jovens da Ação Católica e nas cartas escritas ao noivo, que logo se tornaria seu esposo.

Santa Gianna se formou em medicina com um propósito firme:

“Não esqueçamos que, no corpo do nosso paciente, existe uma alma imortal. Sejamos honestos e médicos de fé”.
Ela incentivava as grávidas a verem nos seus filhos um presente de Deus e as alertava com clareza contra o aborto, descrito com objetividade como o assassinato de uma vida humana indefesa e inocente.

Quando ela própria engravidou pela quarta vez, a descoberta de um tumor no útero exigia que ela passasse por uma cirurgia: os médicos propuseram o aborto “terapêutico” e a extirpação do fibroma. Ela optou sem qualquer hesitação por descartar completamente esta hipótese, deixando claro o que pensava:

“Se tiverem que escolher entre a minha vida e a da criança, não tenham dúvida: eu exijo que escolham a dela. Salvem-na”.
Santa Gianna deu à luz a sua filhinha no dia 21 de abril de 1962. Ela própria, porém, não se recuperou, e, em 28 de abril, repetindo “Jesus, te amo; Jesus te amo”, partiu para a Casa do Pai aos 39 anos de idade.

São João Paulo II a canonizou em 2004.

Sugestão de oração a Santa Gianna Beretta Molla:

Santa Gianna,

Rogai pelas gestantes tentadas a sacrificarem os próprios filhos; iluminai a sua consciência, aquecei o seu coração e dai-lhes a coragem de optar pela vida que, por graça de Deus, foi concebida em seu ventre. Ajudai-as na desafiadora missão da maternidade, que, em muitos contextos, pode parecer assustadora demais para mulheres fragilizadas.

Iluminai também a consciência e o coração dos pais, para assumirem com hombridade e protegerem com valentia os seus filhos, dando a eles, junto com suas mães, todo o amor que deve sempre preencher os corações de todo ser humano, criado para a vida e para o amor e nunca para o medo, o descarte e a morte.

Fazei-nos sempre ter a coragem e o amor necessários para escolher a Vida!

Amém.

“Eu, Irmã Faustina, estive nos abismos do Inferno”

“Eu, Irmã Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos do Inferno para falar às almas e testemunhar que o Inferno existe.”

Um dos argumentos de que mais se servem os inimigos da Igreja para pôr em questão a verdade do inferno diz respeito à misericórdia divina. “Se Deus é misericordioso”, dizem, “não condenará ninguém a fogo nenhum, quanto mais eternamente.”

O primeiro problema por trás dessa forma de pensamento é, sobretudo, a falta de fé. Se Jesus Cristo realmente é Deus, como crê e ensina desde o princípio a Igreja Católica, e se foi Ele próprio quem disse, conforme consignado inúmeras vezes no Evangelho, que existe o “inferno” (cf. Mt 11, 23; 23, 33; Lc 12, 5; 16, 23), o “fogo eterno” (cf. Mt 18, 8; 25, 41), a “geena” (cf. Mt 5, 22ss; 10, 28; Mc 9, 43ss), ou o “castigo eterno” (cf. Mt 25, 46), a única resposta possível do ser humano é crer em suas palavras. O próprio Deus falou; a segunda Pessoa da Santíssima Trindade se pronunciou, Ele que nec falli nec fallere potest, isto é, “não se engana nem nos pode enganar” [1]. Ou aceitamos por issoa verdade do inferno, ou então estamos brincando quando dizemos crer em Deus, em Jesus e na sua Igreja. Quem escolhe da doutrina que o próprio Senhor revelou somente aquilo que lhe agrada, pondo de lado o que lhe desagrada, não é em Deus que crê, mas em si mesmo; não é católico, mas herege.

É claro que a teologia pode explicar a doutrina do inferno e demonstrar, àqueles que já crêem, a razoabilidade desse ensinamento de Nosso Senhor. O Deus cristão, afinal de contas, é também λόγος (“logos”); o que Ele faz não nasce do puro arbítrio, como acreditam os voluntaristas, os fideístas ou os muçulmanos. Ao mesmo tempo, porém, àqueles que estão do lado de fora, nenhuma explicação será suficiente para que creiam. Se essas pessoas, resistindo, não derem seu assentimento de fé à autoridade de Deus revelante, aceitando em sua totalidade o depositum fideique a Igreja custodia e anuncia, todo e qualquer esforço argumentativo será em vão.

Nesse sentido, a visão de Santa Faustina Kowalska, descrita a seguir, serve menos para convencer os descrentes que para confirmar, no coração dos católicos mornos ou vacilantes, a veracidade da doutrina católica de sempre sobre o inferno. Pode-se muito bem, é verdade, duvidar dessa revelação privada que recebeu a Apóstola da Misericórdia, assim como se pode duvidar da visão do inferno de Fátima e de outros tantos fenômenos místicos semelhantes por que passaram os santos da Igreja [2]. O que não pode questionar, ao menos quem foi batizado na fé da Igreja e enche a boca para se dizer “católico”, é que o inferno existe e a condenação eterna é uma possibilidade real e terrível, confirmada pelos Evangelhos, pela Tradição e pelo Magistério — ainda que, na verdade, os teólogos avessos a essas revelações privadas (aprovadas pela Igreja!) sejam, na maioria das vezes, justamente os hereges que rechaçam essa parte, incômoda, da doutrina católica.

Quem tem fé, entretanto, na vida eterna (e talvez até seja devoto da Divina Misericórdia), atente-se bem às palavras dessa santa religiosa, que recebeu de Deus o privilégio de visitar o inferno: “Estou escrevendo isso por ordem de Deus, para que nenhuma alma se escuse dizendo que não há Inferno, ou que ninguém esteve lá e não sabe como é“; “Eu, Irmã Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos do Inferno para falar às almas e testemunhar que o Inferno existe“. O testemunho de Santa Faustina é dirigido a nós, homens céticos e incrédulos do século XXI!

Escutemos o apelo que a Misericórdia Divina nos faz e, temendo a principal pena do inferno, que é “a perda de Deus”, aprendamos a evitar o pecado, que nos faz viver a amargura e a infelicidade ainda nesta vida.

Hoje conduzida por um Anjo, fui levada às profundezas do Inferno. É um lugar de grande castigo, e como é grande a sua extensão. Tipos de tormentos que vi: o primeiro tormento que constitui o Inferno é a perda de Deus; o segundo, o contínuo remorso de consciência; o terceiro, o de que esse destino já não mudará nunca; o quarto tormento, é o fogo, que atravessa a alma, mas não a destrói; é um tormento terrível, é um fogo puramente espiritual aceso pela ira de Deus; o quinto é a contínua escuridão, um horrível cheiro sufocante e, embora haja escuridão, os demônios e as almas condenadas vêem-se mutuamente e vêem todo o mal dos outros e o seu; o sexto é a continua companhia do demônio; o sétimo tormento, o terrível desespero, ódio a Deus, maldições, blasfêmias. São tormentos que todos os condenados sofrem juntos, mas não é o fim dos tormentos. Existem tormentos especiais para as almas, os tormentos dos sentidos. Cada alma é atormentada com o que pecou, de maneira horrível e indescritível. Existem terríveis prisões subterrâneas, abismos de castigo, onde um tormento se distingue do outro. Eu teria morrido vendo esses terríveis tormentos, se não me sustentasse a onipotência de Deus. Que o pecador saiba que será atormentado com o sentido com que pecou, por toda eternidade. Estou escrevendo isso por ordem de Deus, para que nenhuma alma se escuse dizendo que não há Inferno, ou que ninguém esteve lá e não sabe como é.

Eu, Irmã Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos do Inferno para falar às almas e testemunhar que o Inferno existe. Sobre isso não posso falar agora, tenho ordem de Deus para deixar isso por escrito. Os demônios tinham grande ódio contra mim, mas, por ordem de Deus, tinham que me obedecer. O que eu escrevi dá apenas a pálida imagem das coisas que vi. Percebi, no entanto, uma coisa: o maior número das almas que lá estão, é justamente daqueles que não acreditavam que o Inferno existisse. Quando voltei a mim, não podia me refazer do terror de ver como as almas sofrem terrivelmente ali e, por isso, rezo com mais fervor ainda pela conversão dos pecadores; incessantemente, peço a misericórdia de Deus para eles. “Ó meu Jesus, prefiro agonizar até o fim do mundo nos maiores suplícios a ter que Vos ofender com o menor pecado que seja.”

[…]

Hoje ouvi as palavras: No Antigo Testamento, Eu enviava Profetas ao Meu povo com ameaças. Hoje estou enviando-te a toda a humanidade com a Minha misericórdia. Não quero castigar a sofrida humanidade, mas desejo curá-la estreitando-a ao Meu misericordioso Coração. Utilizo os castigos, apenas quando eles mesmos Me obrigam a isso, e é com relutância que a Minha mão empunha a espada da justiça. Antes do dia da justiça estou enviando o dia da Misericórdia. Eu respondi: “Ó meu Jesus, falai Vós mesmo às almas, porque as minhas palavras são insignificantes. [3]

Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Dei Filius (24 de abril de 1870), III: DS 3008.
  2. A expressão “Pode-se muito bem”, aqui, deve ser lida de acordo com as orientações do Catecismo da Igreja Católica a esse respeito: “No decurso dos séculos tem havido revelações ditas ‘privadas’, algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é ‘aperfeiçoar’ ou ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja.” (§ 67)
  3. Diário de Santa Faustina, n. 741 e 1588.