A educação feminista e a desfeminilização das meninas

30 DE NOVEMBRO DE 2017 ~ CRISTIANE LASMAR

Como já sugeri nos dois artigos anteriores, o propósito mais pervasivo da chamada “ideologia de gênero” é promover a dissolução das noções de feminino e masculino, minando o padrão conjugal de complementariedade entre os sexos. O programa consiste, basicamente, em desfeminilizar as meninas e desvirilizar os meninos. Neste artigo, vou tratar especificamente do caso das meninas, que estão sendo expostas sem nenhuma defesa a uma torrente de mensagens desfeminilizantes vindas da mídia, da escola, e da indústria cultural. No final das contas, descontados todos os vernizes e recadinhos secundários, o conteúdo dessas mensagens é o seguinte: “para que sua existência seja validada pela sociedade, você precisa abrir mão de sua feminilidade.”

Um dos alvos prioritários desse discurso é a escolha da profissão. É bem sabido que as mulheres têm as suas carreiras prediletas. Em geral, predominam as profissões ligadas à docência e à saúde, à organização doméstica, ao cuidado de terceiros, e ao atendimento ao público em geral. Obviamente, nem todas as mulheres se encaixam nesse esquema. E, embora haja também áreas profissionais atraentes para ambos os sexos, a diferenciação vocacional é uma realidade inquestionável, que pode ser explicada pelo simples fato de homens e mulheres serem diferentes.

Os promotores da ideologia de gênero insistem, porém, que a maior propensão das mulheres a buscar preferencialmente certas atividades resulta de um modelo de educação machista e impositivo, que as levaria a se conformar aos “estereótipos femininos tradicionais”. Ora, um tal raciocínio seria válido se estivéssemos discutindo casos como o das meninas da Índia, do Paquistão, da China ou da maioria dos países muçulmanos. Mas no Ocidente contemporâneo, principalmente nas zonas urbanas, esse viés já não existe há muito tempo. Ao contrário, todo o esforço da escola e da mídia, ao longo das últimas décadas, tem sido no sentido de borrar as diferenças entre os sexos e tratá-los como perfeitamente intercambiáveis. Ou seja, o que vem ocorrendo é o oposto do que quer nos fazer crer esse discurso vitimista.

As meninas vêm sendo bombardeadas, de longa data, com uma intensa propaganda feminista cujo objetivo é lhes convencer não só de que devem colocar a vida profissional no centro de suas atenções, como também de que as profissões tidas como masculinas são mais interessantes que as outras. E, ainda assim, a maioria continua buscando profissões tradicionalmente femininas. O velho e batido argumento de que somos eternas vítimas de um sistema social opressor, que restringe as nossas opções, cai por terra à luz dos fatos reais.

O caso dos países nórdicos é particularmente exemplar. Em 2008, a Noruega foi eleita o primeiro país do mundo em igualdade de oportunidades para homens e mulheres. Trata-se da educação mais igualitária do mundo. Mas, como bem demonstrou o jornalista Harald Eia no documentário “O Paradoxo da Igualdade”, apesar de todos os esforços no sentido de se eliminar qualquer fator material ou simbólico que possa infletir as escolhas de futuro dos estudantes, apenas 10% dos enfermeiros noruegueses são homens, ao passo que apenas 10% dos engenheiros são mulheres. Ou seja, as escolhas profissionais das mulheres norueguesas não podem ser explicadas por nenhum tipo de discriminação.

Mas a forma especificamente feminina de estar no mundo não se atualiza apenas na escolha da profissão. Ela se revela também no tipo de relação que as mulheres estabelecem com a carreira. Mesmo quando exercem profissões tidas como masculinas, elas costumam colocar mais limites do que os homens à quantidade de tempo e de energia que disponibilizarão para o trabalho fora de casa. E isso porque sabem que as suas possibilidades de realização existencial plena dependem de serem capazes de construir um lar estruturado e harmônico. A verdade é que a maioria das mulheres não quer abrir mão de cuidar pessoalmente dos filhos, mesmo que a profissão seja um aspecto importante de suas vidas.

Qualquer pessoa esclarecida sabe que a coletividade só tem a ganhar com a presença e a atuação das mulheres na esfera pública. Foi com isso em vista que, no final do século XIX e início do XX, mulheres corajosas e inteligentes lideraram, na Europa e nos Estados Unidos, movimentos em prol da ampliação dos direitos e dos espaços de atuação social femininos. Porém, estando em perfeita sintonia com a perspectiva das mulheres que representavam, as primeiras “feministas” sabiam que as conquistas femininas precisavam ser conciliáveis com as conveniências da vida familiar. Caso contrário, não seriam conquistas, e sim mera permuta infeliz de papéis. Duas coisas fundamentais eram levadas em consideração. Primeiro, o fato das crianças precisarem da atenção de suas mães. Segundo, que parte significativa do bem-estar subjetivo das mulheres está atrelada às suas obrigações morais para com a família.

A partir dos anos 60, porém, houve uma ruptura e uma mudança de rumo. Com o respaldo intelectual de figuras então já consagradas, como a filósofa francesa Simone de Beauvoir, o chamado “feminismo da segunda onda” abraçou falsos pressupostos, dentre os quais o mais nocivo foi o de que cuidar dos filhos representa uma atividade menor. Em “O Segundo Sexo”, Beauvoir afirmou que a maternidade é uma espécie de maldição que pesa sobre a mulher, tornando-a “escrava da espécie” e confinando-a ao domínio da imanência. Ela desprezava a vocação materna com todas as suas forças e acreditava que qualquer possibilidade de transcendência feminina dependia da saída e do abandono do lar. Em certa ocasião, esse ícone do feminismo foi capaz de dizer a seguinte frase: “Nenhuma mulher deveria ser autorizada a ficar em casa e criar os filhos. A sociedade deveria ser totalmente diferente. As mulheres não deveriam ter essa escolha, precisamente porque se a tiverem, muitas vão fazer isso.”

Guardadas algumas pequenas diferenças individuais que não afetavam o conjunto da obra, as feministas da segunda onda comungavam dessa visão estreita de liberdade feminina e nutriam a mesma aversão à maternidade e ao trabalho doméstico. Elas ignoraram por completo, ou fingiram ignorar, o aporte de inteligência, vigor e inspiração necessário ao trabalho cotidiano de uma boa mãe. Não compreenderam que não pode haver maior expressão de poder criativo do que fomentar, dia após dia, noite após noite, durante anos a fio, a existência de outro ser. Aliás, elas não foram nem sequer capazes de enxergar a maternidade como uma responsabilidade social de amplas consequências. E assim, com base na opinião de mulheres nada razoáveis, que projetaram a imagem de uma nova sociedade movidas pelos seus ressentimentos em relação aos homens, e olhando apenas para o seu próprio umbigo, foi construída uma ideologia política falaciosa, individualista e autoritária.

Ao tratar a maternidade como um fardo e atacar a figura da “mãe de família”, o feminismo se distanciou do universo feminino e fechou os olhos, de maneira covarde e perversa, para as necessidades das crianças. Fez estragos significativos na vida de pelo menos duas gerações de mulheres, transformando-as em pessoas angustiadas, existencialmente partidas, que correm atrás de um prejuízo que na verdade nunca tiveram. A boa notícia é que mesmo tendo sido impregnadas conceitualmente pelos slogans e palavras de ordem feministas, e a despeito de toda a tensão introduzida em suas vidas, a maioria das mulheres ainda mantêm o coração conectado ao projeto familiar, mesmo que de maneira um tanto quanto aflita. Por outro lado, não podemos deixar nos perguntar: até quando a feminilidade resistirá a tantas forças antagônicas?

Nos últimos anos, temos assistido a uma intensificação do proselitismo feminista em novas bases, com a introdução da ideologia de gênero no domínio da educação das crianças. Talvez pelo fato do discurso da auto vitimização e da acusação aos homens não ter sido suficiente para tirar as mulheres da rota do casamento e da família, a estratégia foi modificada e aprofundada. Na pauta feminista atual, influenciada pelo desconstrucionismo radical de autores ligados ao Movimento Queer, como Judith Butler, inclui-se o objetivo de solapar os próprios fundamentos da auto identificação sexual das meninas, privando-as do acesso a conceitos, imagens e símbolos que lhes permitam dar sentido cultural e expressar de maneira positiva a sua condição feminina.

Essa agenda está em andamento. Em muitos lugares, as meninas já não têm mais modelos positivos de feminilidade para imitar. Não podem mais se vestir de princesa, cuidar da boneca ou brincar de casinha sem que isso seja politicamente problematizado. Não devem dizer que sonham em se casar e ter filhos, sob pena de serem ridicularizadas. Só têm acesso a formas de literatura que questionem os chamados “estereótipos tradicionais”. E estão crescendo sem recursos cognitivos e culturais que lhes possibilitem desenvolver uma percepção clara de si mesmas como meninas e futuras mulheres. Aliás, em algumas escolas, já não se usa mais pronomes femininos para se referir a elas. Com tantas mensagens e injunções contrárias, é bem possível que, de tão sufocada, um dia a sua feminilidade natural já não tenha mais forças para emergir e direcionar suas escolhas.

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Cristiane Lasmar

Sou casada e mãe de dois meninos. Doutora em Antropologia, diretora de escola e autora do blog Infância Bem Cuidada.

BLOG NO WORDPRESS.COM.

A Guerra contra a masculinidade

Neste artigo, o quarto e último da série sobre a ideologia de gênero, vou falar sobre os meninos. Mais precisamente, sobre o modo como as suas disposições naturais vêm sendo depreciadas pela cultura feminista que domina a cena educacional contemporânea. No artigo anterior, mostrei que as meninas são educadas para a auto vitimização e a desfeminilização, e crescem com a falsa percepção de que os homens são inimigos potenciais. Os meninos, por sua vez, são levados a acreditar que aquilo que neles é mais espontâneo e específico, ou seja, a sua masculinidade, é nociva ao mundo e, principalmente, às mulheres.

As mensagens feministas dirigidas aos meninos devem ser entendidas como parte de um projeto político e ideológico mais amplo, cujos fundamentos, objetivos e métodos já foram dissecados por autoras como Christina Hoff Sommers, no livro “The War Against Boys” (2000) e Suzanne Venker, em “War on Men” (2013). Embora descrevendo o fenômeno a partir dos dados relativos à sociedade americana, essas análises descortinaram as bases do programa de ataque à masculinidade que está em curso em praticamente todos os países ocidentais. Vou me concentrar aqui no modo como esse programa é posto em prática na educação das crianças, começando por esclarecer quais são as disposições infantis que estou chamando de “masculinas” e que o projeto feminista tanto se esforça por neutralizar.

Sabemos que, durante a vida intra-uterina, o cérebro dos meninos é banhado por uma quantidade muito maior de testosterona do que o das meninas, e que isso determina, em ampla medida, a forma masculina de estar no mundo. Não é difícil perceber, por exemplo, que, em média, os meninos desenvolvem a coordenação ampla antes das meninas, ao passo que estas se antecipam no desenvolvimento da linguagem e da coordenação fina. E que, desde a mais tenra idade, a maioria dos meninos manifestam mais interesse imediato por objetos do que por pessoas, preferem brinquedos que possuem barulho e movimento, e mostram-se ávidos por brincadeiras que envolvam exploração, confronto corporal e dispêndio explosivo de energia.

A maior propensão dos meninos a recorrer à violência física para resolver conflitos também faz parte desse pacote. Quem os educa tem, portanto, diante de si, a importante tarefa de ajudá-los a mitigar e canalizar o seu potencial agressivo para formas de ação civilizadas e socialmente produtivas. Esse esforço de culturalização das disposições naturais masculinas é absolutamente necessário e jamais houve sociedade que deixasse de realizá-lo. Mas o que vem acontecendo no Ocidente contemporâneo é algo sem precedentes. Temos reprimido, em nossos meninos, todo tipo de comportamento que manifeste vigor combativo e espírito abertamente competitivo, sufocando assim traços essenciais de sua masculinidade. Em suma, os meninos estão sendo impedidos de ser meninos plenamente. E, quando resistem, seu modo de ser é problematizado, estigmatizado. Em muitos casos, chega a ser tratado como algo patológico.

É verdade que não se pode culpar a “ideologia de gênero” por absolutamente tudo. Alguns fatores sociológicos também contribuem para esse cerco à masculinidade. Um deles é a intensificação do padrão de vida urbano. A residência em apartamentos, a impossibilidade de brincar na rua ou em quintais, em contato íntimo com a natureza, assim como o fato das crianças precisarem estar sob a vigilância constante de um adulto, tudo isso restringe as suas possibilidades de experimentar situações não premeditadas de aventura, competição e confronto. A oportunidade de se movimentar amplamente ficou restrita à prática de esportes em clubes e academias, ou seja, a eventos de curta duração, rotinizadas e supervisionadas diretamente por professores e instrutores, ou seja, sem uma liberdade real. Em muitos casos, porém, nem isso é concedido aos meninos. Uma boa parte das crianças vive a triste realidade do sedentarismo absoluto. Durante o tempo em que não estão na escola, ficam paralisadas diante das telas dos aparelhos eletrônicos, assistindo por horas a fio as aventuras de personagens virtuais que lutam, correm e se arriscam. Tudo o que lhes resta é o exercício vicário da masculinidade.

Outro fator importante que concorre para esse processo é a dinâmica própria da escola. Por seu caráter universalista e homogeneizante, a escola moderna não pode permitir a expressão plena das individualidades dos alunos, e precisa mantê-los quietos pelo maior período de tempo possível. Além disso, com o fenômeno da judicialização crescente das relações sociais, as escolas têm se tornado alvo potencial de processos por parte dos pais, o que leva os gestores a tentar reduzir o risco de acidentes a zero, aprofundando o controle sobre a corporalidade exuberante dos meninos. Eles não podem brincar de luta, envolver-se em competições espontâneas e, em muitos casos, não são nem mesmo autorizados a correr no recreio. Devem ficar sentados por horas a fio, mimetizando a duras penas o comportamento das meninas, que, embora mais conversadeiras, são, em geral, mais maduras e capazes de se manter quietas e concentradas quando necessário. Por serem mais empáticas, elas também têm mais facilidade para desenvolver relações de cumplicidade com os professores.

Além de não possuírem meios para dar expressão às suas necessidades de movimento, ação e competição, os meninos ainda recebem poucos estímulos imaginativos na escola. Os professores são, em sua maioria, mulheres, e os currículos escolares têm se distanciado cada vez mais da sensibilidade masculina típica. Pensemos, por exemplo, na nova onda de desenvolver nos alunos “competências socioemocionais”. Não é preciso ser PHD em desenvolvimento infantil para saber que esse tipo de conteúdo será, já de saída, muito mais atraente para as meninas, as quais têm mais facilidade e desenvoltura para falar de seus próprios sentimentos, e gostam de fazê-lo. Não obstante, a matéria é introduzida como se atendesse a uma necessidade geral e irrestrita, e sem nenhuma consideração relativa às diferenças entre os sexos. É claro que isso não ocorre por desconhecimento ou descaso. O objetivo é exatamente o de transformar a sensibilidade dos meninos, da mesma forma como acontece com a seleção da literatura a ser trabalhada em sala de aula. Onde estão as histórias de batalhas, aventuras e heroísmo que tanto encantam a imaginação masculina? Foram substituídas por narrativas politicamente corretas e eivadas de ideologia de gênero.

Em condições normais, esses dois fatores de cerco à masculinidade – a vida urbana e a dinâmica escolar  – poderiam ser relativamente contornados pela adoção de estratégias de compensação e adaptação por parte da família e da própria escola. Porém, as chances de se encontrar caminhos alternativos que beneficiem os meninos têm sido limitadas pela interferência de um terceiro fator, que é dentre todos o mais perverso, justamente por impedir o ajuste dos outros dois. Refiro-me à influência nefasta do discurso feminista que apresenta o modo de ser masculino como potencialmente “tóxico”, como algo de que os homens precisam se livrar, para o bem das mulheres e para o seu próprio bem. Nesse ponto, já não estamos mais falando de um constrangimento à masculinidade criado por circunstâncias históricas e sociológicas, e sim de um juízo de valor ideológico e politicamente interessado.

O discurso da “masculinidade tóxica” já se embrenhou em todos os níveis da atividade educacional, impregnando a visão de mundo de boa parte das famílias e de quase todos os gestores e agentes escolares. Em seu nome, os meninos têm sido submetidos a um processo de desvirilização de amplas consequências individuais e sociais. Um exemplo é a redução significativa de suas chances de sucesso escolar. Ao exercer tamanha pressão sobre a masculinidade, a educação atual coloca os meninos em notória desvantagem acadêmica em relação às meninas. Eles são os campeões nos índices de suspensão, expulsão e reprovação. Entre a população menos favorecida economicamente, essa situação tem resultados cruéis. Diminui as chances de mobilidade social e, em casos de maior vulnerabilidade, pode levar à marginalização e à exclusão social.

Do ponto de vista individual, abafar a expressão da sensibilidade natural dos meninos e impedir que ela se desenvolva em formas socialmente legítimas e valorizadas, significa despersonalizá-los e restringir as suas perspectivas de vida. Do ponto de vista coletivo, significa deixar de prepará-los para assumir as suas responsabilidades futuras como cidadãos e pais de família. Em muitas ocasiões cruciais, e para certas atividades específicas permanentes, uma comunidade precisa contar com a energia viril, do mesmo modo como uma família precisa contar com um homem que seja capaz de assumir riscos e obrigações pesadas para provê-la e protegê-la. É nas situações de calamidade, nos eventos de emergência, e no enfrentamento das ameaças externas, que nos damos conta do quanto a força física, a intrepidez e a objetividade masculinas são predicados imprescindíveis e admiráveis. Como escreveu C. Hoff Sommers, no livro já citado: “A história nos ensina que a masculinidade sem moralidade pode ser letal. Mas quando a masculinidade é imbuída de moralidade, ela se torna poderosa e construtiva, e uma dádiva para as mulheres (grifo meu).”

Mas os promotores da “ideologia de gênero” não estão preocupados com nada disso. O que nós percebemos como um problema sério, para eles é o corolário de um projeto que foi laboriosamente posto em prática ao longo de cinco décadas e cujos efeitos começam a se tornar mais visíveis agora. O cenário que temos hoje diante de nossos olhos – meninos pressionados em sua masculinidade, meninas confusas em relação à sua feminilidade – vem sendo idealizado, planejado e executado desde o início da segunda onda feminista nos anos 60, quando as universidades, as escolas e os meios de comunicação começaram a ser ocupados por agentes dedicados à pauta da desconstrução.

Em suma, o projeto de desvirilização dos meninos é a outra face do projeto de desfeminilização das meninas. As meninas são convencidas de que a sua feminilidade as transforma em vítimas dos homens. Ressentidas, elas se desfeminilizam para competir com eles. Os meninos são convencidos de que a sua masculinidade os torna algozes das mulheres. Culpados pela dor que alegadamente lhes causariam, eles se desvirilizam para tentar agradá-las. E, desse modo, chega-se mais perto da desestruturação da família heterossexual monogâmica, por meio do ataque a um de seus principais fundamentos, a complementariedade entre os sexos.

Na ONU, Brasil vota SIM em proposta de retirar dos pais a “autoridade sobre a educação sexual dos filhos”

30 nov 2017

Por Carmadélio Souza
O controle dos pais sobre o modo como as crianças serão expostas à educação sexual na sala de aula foi debatido na semana passada numa comissão das Nações Unidas dedicada ao tema da infância.

A proposta era que, após a leitura do Terceiro Comitê da 72ª Sessão, fosse aprovada uma resolução recomendando que crianças pequenas pudessem ser expostas a aulas sobre sexo sem a necessidade de os pais serem informados. Entre os favoráveis estava o Brasil.

A maneira como votou cada país pode ser visto aqui. Y (sim) é para barrar as resoluções e N (não) é para sua aprovação.

Contudo, após a manifestação contrária dos Estados Unidos, que sob o governo Trump tem impedido o avanço das agendas liberais, os países do continente africano votaram em massa uma emenda contrária. A exceção foi a África do Sul, que ficou ao lado dos países europeus, que sugeriram a mudança.

Sendo assim, a autoridade dos pais sobre a educação sexual dos filhos está, temporariamente, garantida.

O Center for Family and Human Rights, uma ONG pró-vida, explica que o bloco africano e a pequena nação caribenha de Santa Lúcia orquestraram a votação que barrou – com 90 votos a favor da mudança e 78 contrários – as três resoluções abusivas.

Os africanos, liderados pelo Egito, foram inflexíveis, deixando claro que se oporiam a qualquer resolução das Nações Unidas que não levassem em conta a necessidade de “orientação dos pais e dos responsáveis legais”.

Santa Lúcia foi a primeira a propor uma alteração em parágrafos que falavam sobre crianças e adolescentes, que para a ONU são pessoas a partir dos 10 anos de idade.

“Os pais e a família desempenham um papel importante na orientação das crianças”, disse a delegada de Santa Lúcia na Assembleia Geral, insistindo que a linguagem original da resolução não era “adequada”, pois colocava a opinião dos pais em pé de igualdade a das crianças e dos professores.

Ela lembrou a todos do tratado da própria ONU sobre os direitos da criança, que reconhece o papel dos pais no direcionamento da educação de seus filhos.

Visivelmente frustrados, os delegados europeus e latino-americanos pediram uma votação sobre essas emendas. Acabaram vendo prevalecer a vontade dos países mais conservadores.

A União Europeia disse que não “virou a página” sobre educação sexual, indicando que o tema voltará a ser votado. Na mesma linha, os delegados da América Latina chamaram o texto final de “altamente problemático”.

O representante do Canadá disse: “não podemos aceitar isso”. Um delegado australiano afirmou que eles estavam “extremamente decepcionados”.

O delegado da Noruega foi o mais transparente, deixando claro que não podiam aceitar a premissa da emenda porque “as crianças devem decidir de forma livre e autônoma” sobre assuntos que envolvam saúde sexual e reprodutiva.

O representando egípcio, falando em nome dos países africanos, respondeu com igual transparência: “Nossa cultura africana respeita os direitos dos pais” e “rejeita as tentativas de alguns países de impor seu sistema educacional sobre nós”.

Os Estados Unidos e o Vaticano se pronunciaram, enfatizando o papel dos pais na educação sexual e rejeitaram o aborto como um componente da saúde sexual e reprodutiva.

As agências das Nações Unidas continuarão promovendo “educação abrangente sobre sexualidade” através de seus escritórios em todo o mundo. A falta de consenso sobre a questão na comissão frustrou as tentativas de legitimar a erotização precoce como um programa oficial da ONU.

Via G prime, Fonte; ONU e Center for Family and Human Rights

Estabelecer políticas educacionais oficiais de estímulo à masturbação não é uma boa ideia

Isto, além de violar o direito à intimidade, a liberdade sexual e religiosa, ainda desconsidera o pudor, a castidade que advém de um genuíno sentimento de respeito próprio ou de delicadeza pessoal de quem vê a sexualidade como um dom a ser compartilhado responsavelmente com um cônjuge, no interior de uma relação afetiva estável e consequente, e não esvaída em brincadeiras egoístas e autocomplacentes

Paulo Vasconcelos Jacobina |  03 de Dezembro |  ZENIT.org |  Análise |  Brasília |  40
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Hoje pela manhã, enquanto eu estava trabalhando, recebi um telefonema de um amigo, professor de ensino médio aqui no Distrito Federal, que queria me falar sobre uma certa proposta de inserir informações sobre a masturbação nas agendas estudantis a serem distribuídas aos estudantes da rede pública para o ano de 2016. Diante do meu espanto, ele me passou o arquivo em PDF por e-mail. O arquivo que ele me enviou estava devidamente redigido e formatado, com todos os logotipos governamentais, pronta para, eventualmente, ser encaminhada à produção e distribuição.

Relutei muito em transcrever o material que ele me transmitiu, mas, diante do fato de que a ideia ali contida é a de que algo assim seja um dia distribuído aos nossos pré-adolescentes e adolescentes, é importante que nós saibamos exatamente de que se trata. Peço a compreensão do leitor.

Eis o texto que ele me enviou, sobre masturbação feminina:

“Masturbação feminina. Sabe aquelas horas que você tira para se conhecer? É natural e permite um maior conhecimento do corpo. Feita com cuidado não machuca. É importante explorar a região da vagina e toda a área pubiana de forma tranquila e relaxada, descobrindo o que lhe dá mais prazer. Ah! Mãos e unhas limpas são fundamentais. Sujeirinhas indesejáveis podem causar infecções mais indesejáveis ainda. Sabe o que é isto? Masturbação feminina.”

O texto sobre masturbação masculina enviado por ele é assim:

“Eu comigo mesmo. Sabe aquelas horas que você tira para se conhecer? É natural e permite um maior conhecimento do corpo. Não cria cabelos nem calos nas mãos. O que pode acontecer em masturbações frequentes ou intensas é irritação na pele do pênis (ele literalmente fica um pouco esfoliado) e diminuição na quantidade de esperma ejaculado. O esperma, contudo, é constantemente renovado pelo organismo. Por isso o homem não corre o risco de ficar estéril (incapaz de ter filhos) ou com o esperma “ralo”. Sabe o que é isto? Masturbação masculina”.

Perguntei ao meu amigo professor qual objetivo educacional se quer atingir, ao pleitear que se publique, com dinheiro público, e se distribua, por meios oficiais, a pré-adolescentes e adolescentes um material assim. Qual seria exatamente o objetivo pedagógico? Combater, em plena escola, o pudor e a castidade que alguns jovens têm de discutir publicamente suas práticas íntimas? Expor estes jovens ao bullying por terem estes sentimentos de pudor ou princípios religiosos? Arrancar deles estes sentimentos, que algum educador ou profissional da saúde considere inadequados para a contemporaneidade? Ou talvez parta de visão, sem qualquer fundamento científico, de que valorizar a prática de sexo solitário reduziria as doenças sexualmente transmissíveis. O que seria contraditório: estimular alguém a despertar precocemente para o sexo não parece ser exatamente uma medida inteligente para reduzir a respectiva atividade sexual.

Fiz estas ponderações a ele. Há, neste texto, além de toda a inconveniência de lidar com valores morais que não estão entregues ao governo, mas aos jovens e às suas famílias, certamente uma falácia lógica, a de que, se as consequências clínicas e físicas da masturbação não são graves nem permanentes, então nenhuma outra objeção de ordem moral, educacional ou mesmo religiosa à prática seria válida. Mas isto é tão evidentemente falso que se faz desnecessário reafirmá-lo.

Imagino que tipo de mensagem um texto assim passaria, por sob suas palavras, quando dirigido diretamente aos jovens em material oficial do governo. Cito algumas: seria uma mensagem impícita às famílias de que elas não têm o direito de transmitir seus próprios princípios aos seus filhos, ou seja, que eventualmente as restrições morais ou religiosas ao vício da masturbação que as famílias tiverem são consideradas presumidamente inválidas pelo governo. Aliás, haveria também a mensagem implícita de que o julgamento moral da conduta sexual cabe à autoridade pública de educação ou de saúde. E é claro que, sendo esta autoridade tão libertária em matéria de promoção de prazeres sexuais, não é difícil imaginar quão facilmente isto seria introjetado pelos jovens.

Outra consequência implícita é passar a mensagem de que é lícito ao governante estabelecer os critérios morais sexuais, impondo-os coativamente à população, com uso de dinheiro público, à exclusão de quaisquer outros que as famílias, líderes religiosos ou sociais, conselheiros e orientadores possam ter. Ademais, o Estado estimularia os jovens a “gastar horas” para “se conhecer” (ou seja, a expressão eufemística para masturbar-se) como atividade pedagogicamente pelo menos tão importante quanto estudar matemática ou física, a ponto de merecer conselhos de encorajamento da autoridade educacional. Como consequência, argumento, será que a rede pública de educação estaria legitimada a, por exemplo, promover sessões escolares de “autoconhecimento sexual” em que os jovens tirem, na prática e reciprocamente, suas dúvidas sobre como sentir mais prazer sexual masturbatório, assistidos por algum professor ou agente de saúde?

Se esta proposta fosse acolhida e divulgada, seria, além disso, muito desrespeitosa com todas as famílias que têm valores divergentes em matéria de pudor sexual, independentemente dos princípios religiosos que possam ou não professar. Seria desrespeitoso também com o direito das famílias de educar moralmente seus filhos de forma livre. Seria desrespeitoso, no limite, com os artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente que criminalizam a promoção e divulgação pública de práticas sexuais com ou para crianças e adolescentes. Seria implicitamente ofensivo à liberdade religiosa, de opinião e de intimidade dos próprios jovens. E tudo isto, segundo está proposto, partiria do Poder público, com dinheiro público, na rede pública de educação. Dinheiro que advém do trabalho honesto de uma população cujos valores morais majoritários são, arrisco dizer, majoritariamente diferentes daqueles que fundamentam uma proposta assim.

Portanto, eu disse a ele que não consigo atinar com a razão para pleitear a aprovação de tal proposta. Não pode ser a simples pretensão de ensinar a prática da masturbação aos jovens. Isto, ressalte-se, já seria ruim o suficiente. Mas reconheçamos que seria desnecessário: todas as gerações que nos antecederam foram capazes de chegar até estas práticas sozinhas, e de modo bem eficaz, sem ajuda oficial da rede de ensino e do dinheiro público. Na verdade, o que se transmitiria aqui seria a ideia de que a “repressão” sexual parental não somente é ilegítimo, como tem falsos fundamentos, minando a confiança das crianças e jovens na capacidade das famílias de orientá-las bem. A ideia de que qualquer autoridade parental deve ser objeto de desconfiança juvenil reforça o poder cada vez maior do Estado sobre crianças e jovens, como única instância de discernimento moral (ou, no caso, imoral), que, além disso, se opõe às demais e as deslegitima. Haveria, no limite, a mensagem de que simplesmente é inaceitável, para o Estado, que algum jovem tenha algum tipo de sentimento de pudor ou castidade para com o próprio corpo. É como se todo pudor, toda castidade, viesse apenas de preconceitos e tabus que devem ser quebradospor atuação estatal positiva.

Mas isto é absurdamente falso. É evidente que existe um pudor, uma castidade que advém de um genuíno sentimento de respeito próprio ou de delicadeza pessoal de quem vê a sexualidade como um dom precioso demais, a ser compartilhado responsavelmente com um cônjuge, no interior de uma relação afetiva estável e consequente, e não esvaída em brincadeiras egoístas e autocomplacentes. Isto parece ter sido esquecido na contemporaneidade, que cultiva o pensamento de que o mal do mundo não está nos comportamentosdesordenados, mas na culpa que eles provocam, culpa que alguns estudiosos e filósofos imputam à cultura judaico-cristã. Para destruir o mal, pensam eles, não se deve ensinar os jovens a ordenar seus comportamentos, de modo a torná-los dignos de orgulho e louvor e não de culpa; eles propõem simplesmente eliminar a cultura judaico-cristã, de modo que todos possam fazer o que bem entenderem sem que sintam culpa. Estão errados. Os problemas de consciência que são causados pelas práticas desordenadas não se resolvem pela eliminação da própria consciência, mas da ordenação da conduta. O mal não está na culpa, mas na conduta que a gera. Eliminar a culpa sem examinar a conduta em si não faz a humanidade mais feliz. Apenas a faz mais psicopática.

Por fim, eu ponderei com meu amigo, há algum motivo para que todas as culturas, em todos os tempos, terem considerado a masturbação como uma prática menor, imatura,egoística e fechada, a ser superada em prol do desenvolvimento de relações afetivas saudáveis, envolvimento amoroso e responsável com o outro, o que representa a maturidade sexual humana. É por isto, por representar uma incompletude individualista, uma fixação narcisista que não aperfeiçoa ninguém, que a masturbação, mesmo quando foi (em raríssimas situações e culturas) em algum grau tolerada, nunca foi promovida por nenhuma cultura, povo, religião ou nação como comportamento a ser fomentado e estimulado publicamente, como política de Estado para crianças e adolescentes, como este texto propõe. É por tudo isto, por embutir desrespeito à intimidade, à liberdade sexual e religiosa, ao direito das famílias de estabelecer seus próprios standarts morais sem intervenções indevidas do Estado, que uma proposta assim não deve ser aprovada. E não porque provoque “calos” ou “pelos”, “infertilidade” ou “infecções”. Não se trata de moralismo, mas de ter critérios para educar. Educar significa conduzir, e conduzir significa levar para fora de si, para aabertura saudável ao outro, não para o fechamento narcisista e autocomplacente da masturbação. Tal fechamento, conduz, isto sim, do melhor para o pior, do mais perfeito para oimperfeito. Significa, também, estabelecer coordenação e parceria entre os atores sociais, e não a presunção de ilegitimidade e desconfiança recíproca entre eles. Isto tudo é ocontrário exato de educar.

O que é a Teologia do Corpo?

corpo

“Deus modelou o homem com as próprias mãos (…) e imprimiu na carne modelada sua própria forma, de modo que até o que fosse visível tivesse a forma divina”. CIC § 704

“Teologia do Corpo” é o título que papa João Paulo II deu ao primeiro grande projeto de ensino de seu pontificado. Em 129 pequenas palestras, pronunciadas entre setembro de 1979 e novembro de 1984, ofereceu à Igreja e ao mundo uma valiosa reflexão bíblica sobre o sentido da corporeidade humana, em especial sobre a sexualidade e o desejo erótico.

O teólogo católico George Weigel descreve esta teologia do corpo como “uma das mais ousadas reconfigurações da teologia católica dos últimos tempos” (…), “algo como uma bomba-relógio teológica, programada para detonar com dramáticas consequências (…) talvez no século 21″. Esta visão nova do amor sexual “apenas começou a tocar a teologia da Igreja, a pregação e a educação religiosa”. Quando, porém, ela se impuser plenamente – prenuncia Weigel- “produzirá um dramático desenvolvimento no modo de pensar, virtualmente, sobre todos os temas importantes do Credo” (WH pp. 336, 343, 853).

DEUS, SEXO E SENTIDO DA VIDA

Por que a reflexão do Papa sobre o amor sexual iria afetar “todos os ternas importantes do Credo?” Porque sexo não é apenas sexo. A maneira corno entendemos e expressamos nossa sexualidade revela as nossas convicções mais profundas sobre quem somos, quem é Deus, o significado do amor, da organização da sociedade e até do universo. Por isso a teologia do corpo de João Paulo II representa muito mais que urna reflexão sobre o sexo e o amor conjugal. Através da objetiva do matrimônio e da união “numa só carne” dos cônjuges – diz o Papa -, descobrimos “o sentido de toda existência, o sentido da vida” (29/10/1980)1.

E o sentido da vida, segundo Cristo, é amar como ele ama (cf. Jo 15,12). Uma das intuições mais importantes do Papa é o de ter Deus gravado esta vocação de amar como ele ama em nossos corpos, ao nos criar homem e mulher e chamando-nos a ser “uma só carne” (d. Gn 2, 24). Muito mais que uma simples nota de rodapé da vida cristã, a maneira como entendemos o corpo e o relacionamento sexual “abarca toda a Bíblia” (13.01.1982). Ela nos imerge na “perspectiva de todo o Evangelho, de todo o ensinamento, de toda a missão de Cristo” (03.12.1980).

A missão de Cristo é restaurar a ordem do amor num mundo seriamente corrompido pelo pecado. E, corno sempre, a união dos sexos encontra-se na base da humana “ordem do amor”. Portanto, o que aprendemos na teologia do corpo apresentada pelo Papa é muito “importante para o matrimônio e a vocação cristã dos esposos e das esposas”. Não obstante, “é igualmente essencial e valioso para a compreensão do homem em geral: para a compreensão fundamental de si mesmo e da sua existência no mundo” (15.12.1982).

Não admira que tenhamos tanto interesse pelo sexo. A união do homem com a mulher é um “grande mistério” que nos leva – se não nos desviarmos do caminho em nossa jornada exploratória – ao âmago do plano de Deus em relação ao universo (cf. Ef 5, 31-32).

O CRISTIANISMO NÃO REJEITA O CORPO

Na área da religião, as pessoas estão habituadas com a ênfase no campo espiritual. Daqui porque muitos sentem-se até desconfortáveis diante do relevo que às vezes se dá ao corpo. Mas, para João Paulo II, esta é uma separação artificial. O espírito, claro, tem prioridade sobre a matéria. No entanto, o Catecismo da Igreja Católica ensina que” sendo o homem um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual, exprime e percebe as realidades espirituais através de sinais e de símbolos materiais” (n. 1146).

Como criaturas corporais que somos, esta é, em certo sentido, a única via pela qual nos é dado experimentar o mundo espiritual: no mundo físico e através dele, em nosso corpo e através dele. Deus, ao assumir um corpo na Encarnação, é justamente aqui que, com toda a humildade, se encontra conosco, isto é, em nosso estado físico e humano.

Tragicamente, muitos cristãos crescem pensando que seus corpos (especialmente sua sexualidade) são obstáculos inerentes à vida espiritual. Acham que a doutrina cristã considera a alma como “boa”, e o corpo como” ruim”. Ora, esta maneira de pensar está longe da autêntica perspectiva cristã! A ideia de o corpo ser mau é uma heresia (um erro aberrante, explicitamente condenado pela Igreja) conhecida com o nome de Maniqueísmo.

A denominação vem de Mani ou Maniqueu, criador de uma seita baseada num dualismo, em que corpo e alma estão engajados numa luta sem tréguas entre si. Segundo eles, o corpo e tudo o que fosse ligado à sexualidade devia ser condenado como fonte de mal. Nós, entretanto, como cristãos, cremos que tudo quanto Deus criou é “muito bom”, conforme nos garante a Bíblia (d. Gn 1,31). João Paulo II resumiu assim a distinção essencial: se a mentalidade maniqueísta considera o corpo e a sexualidade um “antivalor”, o cristianismo ensina que eles “constituem um ‘valor que nunca chegaremos a apreciar suficientemente’” (22.10.1980).

Noutras palavras, se o Maniqueísmo afirma que “o corpo é mau”, o Cristianismo responde que, ao contrário, ele “é tão bom que somos incapazes de avaliar toda a sua bondade”.

Então, o problema da nossa cultura saturada de sexo não é propriamente a supervalorização do corpo e do sexo. O problema está em termos falhado na compreensão de quanto o corpo e o sexo são realmente valiosos. O cristianismo não rejeita o corpo! Numa espécie de “ode à carne”, o Catecismo proclama: ”’A carne é o eixo da salvação’. Cremos em Deus que é o criador da carne. Cremos na Palavra feita carne para redimir a carne. Cremos na ressurreição da carne, na consumação da criação e na redenção da carne” (CIC 1015, ênfase do autor).

A SACRAMENTALIDADE DO CORPO

A fé católica – se o leitor ainda não se deu conta – é uma religião bem carnal, sensual. Encontramos Deus mais intimamente através de nossos sentidos corporais e de “tudo” o que constitui o mundo material: banhando o corpo com água, no batismo; ungindo-o com óleo no batismo, na crisma, nas ordens sagradas, na unção dos enfermos; comendo o corpo de Cristo e bebendo seu sangue na Eucaristia; impondo as mãos nas ordens sagradas e na unção dos enfermos; declarando os pecados com nossa boca na confissão, e unindo indissoluvelmente o homem com a mulher em “uma só carne”, no matrimônio.

De que melhor maneira podemos descrever o “grande mistério” dos sacramentos senão dizendo que eles são os meios materiais, através dos quais alcançamos os tesouros espirituais de Deus? Nos sacramentos, o espírito e a matéria como que “se beijam”. O céu e a terra se abraçam numa união sem fim.

O próprio corpo humano, em certo sentido, é um “sacramento”. Usamos aqui a palavra num sentido mais amplo e mais antigo que aquele que estamos habituados a ouvir. Mais do que referir-se aos sete sinais da graça instituídos por Cristo, João Paulo II, ao falar no corpo como um “sacramento”, quer dizer que ele é um sinal que torna visível o mistério invisível de Deus. Nós não podemos ver Deus, que é puro espírito. No entanto, o cristianismo é a religião do Deus que se manifesta. Deus quer revelar-se a nós. Ele quer tornar visível a todos o seu ministério espiritual invisível, de forma a podermos “vê-lo”. Como faz isto?

Quem de nós não experimentou ainda um profundo sentimento de pasmo, de admiração, ao contemplar uma noite estrelada, ou um magnífico pôr-do-sol, ou a delicadeza de uma flor? Em tais momentos estamos, de certo modo, “contemplando a Deus”. Ou, mais exatamente, vendo seu reflexo. Sim, porque “a beleza da criação reflete a beleza infinita do Criador” (CIC n. 341). E, contudo, quem é a coroa da criação? Quem, com mais eloquência que as outras criaturas de Deus, “fala” na beleza divina? A resposta é: o homem e a mulher e o seu chamado a uma comunhão fecunda. “Deus criou o ser humano à sua imagem. À imagem de Deus o criou. Homem e mulher ele os criou. Deus os abençoou e disse: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos’” (…) (Gn 1,27-28).

1 As citações tiradas da “Teologia do Corpo” de João Paulo II são indicadas pela data em que foi proferida a palestra.

West, Christopher. Teologia do Corpo para principiantes, Uma introdução básica à Revolução Sexual por João Paulo II.Trad. Cláudio A. Cassola. Ed.Myrian: Porto Alegre,2008.

Um corpo para amar

corpo amor

Por que a sexualidade humana está se tornando um problema? Especialistas falam sobre os riscos da desinformação e sobre o que pode nos realizar como pessoas, no campo da afetividade.

O corpo é amor que se encarna e se exprime, uma espécie de sacramento primordial – dizia o beato João Paulo II – que revela a vocação da criatura humana à reciprocidade, ao recíproco dom de si. Mas, atualmente, a sexualidade, essa misteriosa dimensão do ser na qual se exercita esse dom, está se tornando um problema.

Passados mais de 30 anos da chamada “liberação sexual”, os “radares” sociológicos são unânimes: a sexualidade está deixando de ser impulso em direção ao outro para se transformar em território secreto do individualismo. A incapacidade de se relacionar gera conflitos de todos os tipos que corroem a base dos casamentos.

Apresentamos aqui uma síntese da reflexão feita em conjunto com alguns especialistas, iniciada com essa pergunta: Que explicação pode ser dada para esse problema?

Rino Ventriglia (neuropsiquiatra): “As dificuldades sexuais são quase sempre dificuldades de comunicação. Tratei alguns casos de casamentos não consumados por causa de aparentes dificuldades físicas. Na realidade, essas dificuldades são derivadas de distorções de comunicação entre os dois, ou de pontos obscuros que não foram esclarecidos. É por isso que não podemos nos deter apenas na esfera sexual. Quase sempre se consegue resolver os problemas enfrentando essas dificuldades de comunicação. Além disso, é muito importante o diálogo do corpo, que tem mil maneiras de exprimir o amor”.

Carlos Conversa (andrologista): “Existe uma estreita interdependência entre o amor e o corpo. Às vezes sou procurado por casais que não conseguem ter filhos. Fazemos os exames e não encontramos nenhum problema físico. Estimulando o diálogo entre os dois, entendemos que, no fundo, o marido não ama a mulher ou, por exemplo, a rejeita por um complexo de Édipo não resolvido. Praticamente, é o sub-consciente deles que não quer o filho. O egoísmo narcisista bloqueia até mesmo o caminho dos espermatozóides. Na minha opinião, a preparação para o casamento que existe hoje em dia é insuficiente. Achar que tudo vai dar certo e não sentir a necessidade de aprofundar o valor da sexualidade pode conduzir a uma experiência conjugal difícil, que transmitirá sérios problemas às novas gerações”.

Graça Ventura (pediatra): “Há dois dias atendi um menino de 8 anos com tendências homossexuais. Em uma conversa que tive com a mão da criança, revelaram-se tensões muito graves entre ela e o marido. Em pediatria, comprovamos diariamente os efeitos que essas tensões produzem nos filhos. O verdadeiro problema é a divisão entre o físico e o espiritual, entre o sexo e o amor. Muitos chegam ao casamento com uma absoluta incapacidade de dialogar, muitas vezes porque o namoro se reduziu à descoberta prematura da genitalidade. Conseqüentemente, os dois se encontram depois sem nenhuma experiência de comunicação recíproca. É a sexualidade traída, reduzida a repetições mecânicas de gestos sem conteúdo”.

Por que não conseguimos oferecer aos jovens um humanismo integral, no qual o homem se desenvolve harmonicamente em todas as suas potencialidades? Caminhamos de excesso em excesso: antes, uma embriaguez de ideais massificados; agora, a idolatria da sexualidade individualista… o que é que nos torna tão fragmentários nas propostas?

Rita Della Valle (ginecologista): “A primeira fragmentação que existe é entre o homem e a mulher. Acho que a libertação da mulher deu-se pela metade, no sentido que ela se liberou de certos esquemas, mas ainda não encontrou pontos de referência seguros. O conflito do homem se revela em pequenos indícios. Por exemplo: o pai que está mais próximo do recém-nascido que a mãe; a mãe que não aguenta a dor do parto natural, suportada pelas mulheres durante milênios. Basta analisar as estatísticas de cesarianas. Tanto o homem como a mulher devem ainda encontrar a própria identidade e o equilíbrio nos seus papéis, que estão mudando”.

Graça Ventura: “Existe um forte condicionamento no tecido social, que não oferece as opções responsáveis. Há vinte anos, quando eu iniciava o meu trabalho no hospital e fazia às pacientes uma pergunta obrigatória: “Já teve abortos?”, todas me respondiam “não”, mesmo se tivessem tido. Agora, a grande maioria declara tranquilamente “sim”. Só porque existe uma lei permitindo o aborto em certos casos, caíram por terra todos os filtros críticos, tudo fica justificado, não se tem mais nenhuma dúvida ética. São os condicionamentos de uma sociedade confusa e fragmentada. Para quem ama, tudo é certo. Numa mentalidade desse tipo, que se difunde rapidamente, é difícil intervir. Somente uma sociedade de tendência oposta, que vive valores “contracorrente”, será capaz de influenciar positivamente em alguma coisa”.

Antonio Mancini (andrologista): “Além do conflito entre as funções próprias do homem e da mulher, penso que existe um problema mais geral: o conflito dentro da própria pessoa, que gera também essa conflitualidade entre os vários níveis da sexualidade. Falamos até agora de sexualidade relacional, mas não é esse o conceito mais difundido. Fala-se, em geral, de uma sexualidade hedonista, que busca a satisfação do próprio instinto ou que se serve do outro, mas não vai ao encontro do outro. Penso que o ponto principal seja justamente este: procurar entender de que modo vários níveis da sexualidade podem se integrar, não apenas o físico ou o fisiológico, mas também o psicológico, o da autoconsciência, o espiritual. A verdadeira fenomenologia sexual integrada não é conflitual”.

Raimundo Scotto (clínico): “A linguagem do marketing é em grande parte responsável pelo imaginário de massa. Para uma certa cultura comercial, o corpo é uma espécie de reservatório de desejos que devem ser satisfeitos. Isso desencadeia uma série de patologias que levam à desintegração da pessoa, considerada não na sua unidade mas do ponto de vista dos seus desejos. A supervalorização do sexo feita pela publicidade tem efeitos desastrosos, porque os casais são levados inadvertidamente a comparar a própria vida sexual com aquela da propaganda e da novela, que vendem a ideia do prazer fácil, proporcionado pelo fato de se usar um certo desodorante ou uma determinada técnica. Esconde-se assim a verdade, ou seja, que a gratificação é fruto da comunhão das pessoas. Na realidade, cada casal deve descobrir sozinho o seu modo de se relacionar. Só se poderá fazer aos jovens uma proposta de humanismo integral apresentando-lhes uma vida vivida na dimensão dO amor”.

Elena Giacchi (ginecologista): “Penso que na raiz dessa problemática encontra-se um “ambiente cultural” que prega a afirmação do indivíduo: tudo o que vem do ambiente externo e do relacionamento com as pessoas é apresentado como algo que deve contribuir para a minha realização pessoal. Até mesmo a vida conjugal é condicionada pela expectativa de gratificação por parte de cada um. Ora, é lógico que a gratificação é sempre inferior a expectativa e, assim, inconscientemente, cada um se coloca na posição de usar o outro, de instrumentalizar o companheiro, tolhendo-lhe a liberdade de exprimir o melhor de si.

Não é tão simples entender que a verdadeira gratificação não depende de uma satisfação fisiológica que, no final, terminará em si mesma, mas é fruto de uma experiência de doação feita num contexto de amor recíproco. Quando se consegue entender essa diferença, se aprende o verdadeiro significado do corpo, que é expressão de amor, de gratuidade”.

Fonte: Revista Cidade Nova nº 11 – Ano XXXVIII/ Nedo Pozzi

Juventude e Dignidade do Corpo

Há alguns dias, fui realizar uma formação para um grupo de jovens, que aconteceu em uma escola pública, aqui na cidade de Natal.

Durante o retiro fui ao banheiro e enquanto esperava na fila, me chamou atenção um cartaz que falava sobre o cuidados higiênicos após uso do banheiro. Até aí achei muito interessante, mas no mesmo cartaz, tinha uma figura de um jovem, aparentemente nú, segurando uma camisinha na mão.

Continuei a leitura e, para minha surpresa, falava de camisinha para uma vida sexual de muito prazer, apimentada. Fiquei imaginando o que tem haver higiene pessoal e camisinha?

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Esta é a formação, sutil, disfarçada, que estão fazendo para os nossos jovens. Não estão interessados de saber se irão se ferir, se irão sentir-se usados, coisificados, não se preocupam com a pessoa, apenas transem a vontade, sintam prazer, com tanto que usem camisinha.

Lemos diariamente propagandas incentivando a promiscuidade dos nossos jovens, que infelizmente são pessoas que não estão preocupados com a dignidade da pessoa, do jovem em questão, mas unicamente desejam cumprir metas de vendas, contratos realizados entre partes.

Os nossos jovens não querem ser objetos de prazer nas mãos uns dos outros, eles querem ser felizes e buscam este caminho. Por isso precisamos apresentar aos jovens que, felicidade e liberdade não está em fazer sexo, usar drogas e embriagar-se, mas eles precisam primeiro descobrir que são preciosos, são um prodígio de Deus, um dom, e seu corpo é um Templo, um recorte do céu o qual Deus habita. Que o sexo que tem como objetivo só o prazer, cai em um profundo vazio, sem sentido, sem futuro.

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A sexualidade nos foi dada por Deus, é uma graça, mas deve ser vivida no momento de doação, de partilha de vida, de entrega, por isso só encontra seu valor e sentido pleno, vivenciado entre os cônjuges.

Por isso é necessário, é urgente, irmos ao encontro dos jovens, promovendo uma cultura da Vida, da Dignidade.

E vocês jovens, nós acreditamos na força e coragem de vocês, de dizerem Não a este tipo de formação, de propaganda, que não tem outro objetivo a não ser trazer lucro as fábricas de camisinhas, que muitas vezes custeiam campanhas politicas.

Nós acreditamos em vocês jovens, os santos de calça jeans, que gostam de dançar, sorrir, comer pizza, mas também serem felizes e livres, testemunhando que seus corpos não são objetos de uso, de prazer.

Que possamos ser protagonistas de uma nova cultura da Dignidade,da Vida,com o nosso testemunho.

 

Janet Alves