Gaudium et spes: iter do texto e interpretação (Parte III)

Mons. Vitaliano explica a Gaudium et Spes

Por Mons. Vitaliano Mattioli*

CRATO, quarta-feira, 28 de novembro de 2012 (ZENIT.org) – Hoje falaremos sobre a interpretação geral do texto.

Só uma palavra sobre a caraterística do documento. A Gaudium et Spes é uma Constituição Pastoral. Nesta, a Igreja entra em diálogo e comunhão ativa com o mundo, ressoando, de modo especial, no “aggiornamento” (atualização) e nos sinais dos tempos. Ela não é apenas sinal da salvação de Deus para o mundo, mas faz acontecer a salvação do mundo na história humana.

São evidenciados dois objetivos: o doutrinal, por ser uma Constituição, e o pastoral, por ser uma Constituição Pastoral. O pastoral indica, não a ausência de doutrina, mas um estilo de relação entre a Igreja e o mundo e uma linguagem dos ensinamentos conciliares.

Não há oposição nenhuma entre o doutrinal e o pastoral, pois este é uma dimensão intrínseca da natureza doutrinal do Magistério. Esta é a recomendação que o Sínodo extraordinário de 1985 nos oferece no texto Final- Ecclesia sub verbo Dei: “ Não é permitido separar a dimensão pastoral do vigor doutrinal dos documentos. O Concílio deve ser compreendido em continuidade com a grande tradição da Igreja… A Igreja é sempre a mesma em todos os Concílios (n. 5), deve ser evitada e superada aquela falsa oposição entre a dimensão doutrinal e pastoral. De fato , o verdadeiro fim da pastoral consiste na atualização e concretização da verdade da salvação, válida por todos os tempos (B1). Nunca deve-se esquecer que a pastoralidade é uma dimensão intrínseca à natureza doutrinal do Magistério”.

O Vaticano II, enquanto concílio que se auto-qualificou como “pastoral”, esteve privado de um carácter Doutrinal “definitório”. Mas não se pode naturalmente deduzir que esteja privado de doutrina própria.

Na homilía de conclução do Concílio (7 de dezembro de 1965), Paulo VI explicou este ponto: “Convém notar uma coisa: o magistério da Igreja, embora não tenha querido pronunciar-se com sentenças dogmáticas extraordinárias sobre nenhum capítulo doutrinal, propôs, todavia, o seu ensinamento autorizado acerca de muitas questões que hoje comprometem a consciência e a atividade do homem. Por assim dizer, a Igreja abaixou o diálogo com o homem conservando sempre a sua autoridade e a sua virtude, adaptou a maneira de fala acessível e amiga que é própria da caridade pastoral”.

Já o Proêmio demonstra que a exposição doutrinal, da primeira parte, se conecta com a índole pastoral da segunda parte, como esclarece a nota 1(§ 3) “A Constituição Pastoral – A Igreja no mundo de hoje’, formada por duas partes, constitui um todo unitário. É chamada ‘pastoral’, porque, apoiando-se em princípios doutrinais, pretende expôr as relações da Igreja com o mundo e os homens de hoje”.

É por isso que a maioria dos teólogos são unânimes em considerar que a Gaudium et Spes representa a expressão particularmente significativa de uma atitude da Igreja, a partir do Vaticano II, em relação com o mundo contemporâneo. A categoria do diálogo fornece a chave para a elaboração e para a compreensão do texto. Como tal, a GS é considerada a “magna carta” do diálogo entre a Igreja e o mundo.

O Santo Padre Bento XVI no dia 10 de outubro deste ano, disse que as quatro Constituições conciliares devem ser consideradas como uma espécie de “quatro pontos cardeais da bússola que podem nos orientar”.

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