Entrevista com o presidente do Instituto de Política Familiar
MADRI, quinta-feira, 15 de setembro de 2011 (ZENIT.org) – A Espanha registrou, em 2010, três rupturas em cada quatro casamentos. O Instituto de Política Familiar alertou recentemente que, se continuar a tendência a aumentar o número de rupturas familiares e diminuir o número de casamentos, em breve haverá tantas rupturas quanto casamentos.
Seu presidente na Espanha, Eduardo Hertfelder, adverte, na seguinte entrevista concedida a ZENIT, que o país avança rumo a uma “sociedade egoísta e individualizada”. “Famílias fortes e estáveis geram uma sociedade forte e estável; família sem futuro é sociedade sem futuro”, afirma.
ZENIT: Dentro de alguns anos, realmente poderia haver, na Espanha, tantas rupturas como casamentos?
Eduardo Hertfelder: A tendência é que cada vez haja menos casamentos. Passamos de 220 mil a 170 mil nos últimos 20 anos. Desde 2000, perdemos 45 mil casamentos. Por outro lado, está aumentando a ruptura familiar como os divórcios.
Portanto, neste momento, já estamos falando de 170 mil casamentos e 125 mil rupturas.
Se estas duas tendências não diminuírem – ou seja, se diminuírem os casamentos e aumentarem as rupturas –, as duas linhas vão convergir. De fato, nas Canárias já houve mais rupturas que casamentos em 2010.
ZENIT: Que consequências tem o aumento da taxa de ruptura por casamento?
Eduardo Hertfelder: Consequências nefastas para os cônjuges: a ruptura produz um drama, causa problemas psicológicos, entre outros fatores.
É um drama para os filhos, que passam a viver em famílias desestruturadas. Os estudos nacionais e internacionais indicam que os maiores prejudicados são os filhos.
A partir desse momento, os filhos começam a ver que a fidelidade, a entrega, o sacrifício não têm validez, porque as pessoas que mais amam – seus pais – não o viveram, e não consideram que estes serão valores para transmitir amanhã a outra pessoa.
Se não viveram nem a fidelidade, nem a entrega… não o farão amanhã, quando tiverem um projeto de vida.
Depois, isso traz consequências negativas para a sociedade, porque vamos vivendo em uma sociedade mais desestruturada, mais individualista, na qual, não tenho relações, porque as famílias estão destruídas, acabo me preocupando mais comigo mesmo, uma sociedade mais egoísta.
Caminhamos rumo a uma sociedade com problemas para os pais, os filhos e a sociedade, uma sociedade egoísta e individualizada.
ZENIT: Em sua opinião, a que se deve esta tendência?
Eduardo Hertfelder: Há muitas causas e seria muito simplista reduzi-la a uma só causa.
Em primeiro lugar, está a causa de tipo cultural: transmitiram-se ideias que penetraram, como a de que, diante da crise, a única solução é a ruptura; não existe o dar-se uma segunda oportunidade.
Foi-nos transmitido também que a fidelidade e a indissolubilidade são uma utopia, que o casamento é uma questão de afetividade exclusivamente e, quando acaba, posso mudar, que é um contrato, que em um dado momento posso anular.
De fato, atualmente, na Espanha, é mais fácil anular este contrato matrimonial que o contrato com uma operadora de telefones celulares.
É preciso permanecer 18 meses em fidelidade a uma companhia telefônica, por exemplo, enquanto, com a lei do divórcio expresso, a pessoa pode se divorciar em três meses.
Além das causas de índole cultural, existem as de índole jurídica: na Espanha, não há lei de família, de prevenção e mediação familiar, nem de natalidade, mas sim uma lei que potencia a ruptura.
Não temos legislações de apoio à família, mas regressivas, legislações antifamiliares.
Na Espanha, há problemas estruturais, laborais, há um déficit de conciliação de vida familiar e laboral, em que os horários de trabalho são cada vez mais longos.
Frequentemente, os dois cônjuges trabalham, chegam tarde a casa e não há tempo para comunicar-se com os filhos nem entre eles; há uma falta cada vez maior de comunicação no casal.
Por outro lado, existem questões de índole econômica: a Espanha é o país – dos 27 países da União Europeia – que menos ajuda a família, em todos os sentidos: econômico, estrutural, de leis, de medidas etc.
Em conclusão, causas culturais e de cunho legislativo, econômico e trabalhista estão incidindo em que haja cada vez menos casamentos e mais rupturas.
ZENIT: Que propostas existem para lutar contra esta tendência?
Eduardo Hertfelder: Incidir, em primeiro lugar, na derrogação da lei do divórcio expresso, pelo seu caráter regressivo, e potencializar os centros de orientação familiar seriam as duas grandes medidas.
Uma lei tem de resolver problemas, mas o que fez, em apenas cinco anos, foi duplicar o número de divórcios na Espanha, passando de 50 mil a 100 mil.
É uma lei absolutamente má. Não tem comparação em todo o mundo ocidental, porque introduz três características: a possibilidade do divórcio, de forma unilateral, sem nenhuma causa imediata. Legalizou-se o direito ao repúdio na Espanha.
Com relação aos centros de orientação familiar (COF), eles ajudam as famílias a superar os conflitos. Mas, até agora, com exceção dos centros de iniciativa privada, como os COF diocesanos, houve um descuido no âmbito público, de administração.
Foram ignoradas as recomendações do Conselho da Europa, que leva mais de trinta anos instando a criar tais organismos.
ZENIT: Por que lutar pelo casamento?
Eduardo Hertfelder: Porque é a base da sociedade. Pensemos somente em uma sociedade sem família, sem casamentos: seria uma sociedade de indivíduos solitários, amorfa, na qual não haveria relação entre as pessoas e somente o Estado educaria, legislaria e determinaria o que é bom ou mau, segundo OS seus interesses.
A história demonstra que a família é a célula básica da sociedade, a que transmite vida, a primeira escola. A primeira coisa que uma criança diz é “papai” e “mamãe”; ela não diz “Zapatero” ou “Aznar”.
Na família, ensinam-se os valores, as virtudes, a generosidade, a entrega, a doação e, graças a isso, se aprende a estar na sociedade.
Dizer família é dizer futuro; sem ela, não haveria futuro nem sociedade. Famílias fortes e estáveis geram uma sociedade forte e estável. Família sem futuro é sociedade sem futuro.
fonte: ZENIT.org