“Houve uma batalha no céu”: a história de São Miguel Arcanjo e os anjos caídos

Redação da Aleteia | Set 28, 2018
O que sabemos sobre o poderoso Arcanjo Miguel, a partir do relato do Apocalipse sobre a queda dos anjos rebeldes capitaneados por Lúcifer

São Miguel Arcanjo é, provavelmente, o mais famoso dos guerreiros de Deus contra o mal, especialmente o mal personificado no anjo rebelde Lúcifer, que optou por afastar-se eternamente do Criador. O que conhecemos sobre essa grande “batalha no céu” é condensado no seguinte excerto de um texto publicado pelo site do Pe. Paulo Ricardo a propósito da Quaresma de São Miguel.


São Miguel e o auxílio dos anjos
De uma forma geral, o nosso relacionamento com os anjos, essas criaturas de Deus, é bastante desleixado: agimos, muitas vezes, como se os anjos sequer existissem. E, no entanto, eles verdadeiramente existem: são uma criação extraordinária de Deus, situada, hierarquicamente, entre o homem e Deus. Eles são puramente espirituais, não têm corpo, mas também estão a serviço de Deus e são muito mais poderosos e gloriosos que os homens, estando alguns ordenados para o auxílio dos seres humanos.

Dispostos em hierarquia, os anjos que estão em contato com os homens são os das miríades inferiores, como, por exemplo, os arcanjos, que constituem o segundo coro angélico. É nesse nível que se encontra São Miguel Arcanjo, cuja celebração acontece no dia 29 de setembro.

São Miguel e os anjos caídos
A história desse arcanjo está ligada ao relato da queda dos anjos. Deus criou-os, antes mesmo da criação do mundo, inseridos, de algum modo, no tempo, e ofereceu-lhes uma ocasião para demonstrar o seu amor. É importante lembrar que, quando Deus criou os anjos, eles não estavam em Sua presença. Ele revelava-se a eles de alguma forma, mas não era um contato face a face, pois isso obstruiria a liberdade angélica: Deus é uma verdade tão atraente que, uma vez contemplada, elimina a capacidade das criaturas de escolher. Então, certa vez, para testar o seu amor, Deus deu-lhes uma provação. Sabe-se disso pela Tradição, mas também pelo ministério dos exorcistas, que expõe que certas ideias são insuportáveis ao demônio, a saber: a encarnação do Verbo divino, o seu aniquilamento na Cruz e, por fim, a posição de primazia de Nossa Senhora entre todas as criaturas. Foi por tais ideias que Lúcifer – um anjo cheio de glória e beleza –, juntamente com um terço dos anjos, decaiu. O relato da batalha travada no Céu por essa ocasião está resumida no livro do Apocalipse de São João:

“Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar no céu para eles. Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente, chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra, e com eles os seus anjos” (Ap 12, 7-9).

Eugène Delacroix | Public Domain
O relato de um exorcista
O padre exorcista espanhol José Antonio Fortea, no livro “História do mundo dos anjos“, destrincha essa impressionante história, colocando a rica teologia angélica dentro de uma obra literária. Para explicar por que São Miguel, mesmo sendo de uma hierarquia inferior, é aclamado como “príncipe da milícia celeste”, ele coloca na boca de um anjo a seguinte narração:

“Dentre os anjos fiéis a Deus, no meio de todas essas lutas houve um que se destacou. Não se tratava de um anjo superior, mas o seu amor era superior. Foi ele quem manteve mais viva a chama da fidelidade nos piores momentos da batalha, quando tudo estava escuro e parecia que a metade dos anjos iriam se rebelar. Foi destacado no bem e a sua fé iluminou a muitos. Foi ele quem no momento mais escuro, na hora mais terrível no qual as multidões começaram a duvidar, no meio do inicial silêncio geral gritou:

– Quem como Deus!

Foi assim que ficou o seu nome: Mika-El, Miguel. O lutador infatigável e invencível. Miguel continuava a se destacar como guerreiro. A luz do seu veemente amor iluminou a muitos que estavam confusos. O seu amor arrebatador derrubou a muitos que lutavam em favor do erro. Inclusive, aqueles que combatiam com Lúcifer reconheciam que nenhum dardo envenenado com suas razões, poderia penetrar a couraça da sua fé inquebrantável. No meio da dúvida, ele foi imbatível.

Ele é representado com uma couraça, mas ele não portava nenhuma couraça material. Tratava-se de uma couraça espiritual impenetrável às seduções lançadas pelo iníquos. A única arma dele era a espada da verdade, da verdade sobre Deus.

Miguel conhecia melhor a Deus que os inteligentes, porque ele amava mais. Por essa razão, aqueles que foram ao seu encontro, tiveram que recuar” (José Antonio Fortea. História do mundo dos anjos. Trad. Laura de Andrade. São Paulo: Palavra & Prece, 2012. p. 61-62).

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“Miguel conhecia melhor a Deus que os inteligentes, porque ele amava mais”. Mesmo sendo de hierarquia inferior, “o seu amor era superior”. Por isso, venceu as hostes inimigas que, embora tivessem como líder o regente dos coros angélicos, Lúcifer, por seu ódio, “tiveram que recuar”.

Mas, que as pessoas não se enganem, pensando que Deus pode perdoar o demônio. De fato, Ele ofereceu a reconciliação a Lúcifer, no tempo da provação, mas ele a rejeitou total e absolutamente. Ainda do livro de padre Fortea:

“Inesperadamente o onipotente Deus, Senhor de todas as coisas, falou. Dirigiu-se a Satanás. Todos sabiam que eram as últimas palavras que iria lhe dirigir.

‘Filho Meu, volta para Mim. Repito, esta é a última oportunidade. O Teu pecado não é maior que a Minha misericórdia. Fui grande ao criar o Céu, mas é maior Meu perdão. Se retornares e coras as tuas faltas, você será a joia do Céu. A luz da Minha compaixão perfeita resplandecerá em ti. Os milênios te contemplarão e Me glorificarão’.

Quão grande foi o Altíssimo ao lhe perdoar todo o seu mal. ‘Filho Meu, você será a joia da Minha misericórdia. Haverás de brilhar e ficarão atônitos os humanos que virão. Eles te olhando compreenderão que não há pecado que eu não possa perdoar. Você melhor do que ninguém poderá transmitir essa confiança ao caído. Você será um grande pregador, um grande intercessor que ao longo dos séculos me repetirá: se me perdoaste a mim, perdoa ele’.

(…)

O diabo ergueu a cabeça e com toda a frialdade respondeu:

– Jamais! Nunca me ajoelharei!

(…)

No mesmo momento que o Dragão ameaçou em se lançar de novo em direção ao mundo angélico, Miguel o arcanjo, desembainhou a espada e mostrou-a para ele. Satã deu um sorriso e com um gesto de desprezo deu um impulso para se jogar em direção das nuvens de anjos. Miguel, sem duvidar e com um gesto instantâneo, cravou-lhe a espada no coração. A Verdade enterrada no próprio coração do diabo teve um efeito fulminante. O imenso Dragão ficou como com seus pés colados ao chão, como se não pudesse levantá-los nenhum milímetro. Parecia que houvesse batido com um muro, essa espada era como uma muralha de granito” (José Antonio Fortea. História do mundo dos anjos. Trad. Laura de Andrade. São Paulo: Palavra & Prece, 2012. p. 89-90).

Martinidry – shutterstock
A vida do homem na terra é uma luta. O combate que se travou no Céu continua no mundo dos homens. Invoquemos a intercessão de São Miguel Arcanjo, para que, assim como ele, sejamos destemidos e experimentemos, em nossas vidas, o primado de Deus.

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