A Teologia do abraço

22 de Maio de 2018
POPE FRANCIS

Você sabe qual é o significado do abraço no contexto bíblico?

Já parou para pensar que dificilmente uma pessoa te abraça? Há quem se contente com um “tudo bem?”, outros com um “oi” e não passa disso. Já pensou se com todas as pessoas que encontrássemos tivéssemos a bondade de cumprimentá-la com um abraço ou, se preferir, um amasso?

No contexto bíblico, o abraço significa misericórdia. Vale recordar aqui o abraço do Pai no filho pródigo. As mazelas, as decepções, os pecados, a arrogância, a precariedade, a soberba, se dissolveran no abraço do Pai misericordioso.

Não tenho dúvida de que aquele sujeito sem nome (pode ser eu ou você) que pegou a parte da herança e partiu para o mundo contemplou a verdade interpretada por Martha Medeiros: “Tudo o que você pensa e sofre, dentro de um abraço se dissolve”. O abraço esmagante do Pai devolveu ao filho desgraçado o dom da vida, da eternidade.

O abraço, segundo alguns especialistas, faz bem para a saúde psíquica e física. Ele tem o poder de aumentar os níveis de uma substância chamada oxitocina, que tem a particularidade de reduzir os estados de stress e ansiedade, aumentando a felicidade e o bem estar das pessoas. Pessoas com um nível elevado de oxitocina têm a probabilidade de desenvolverem um comportamento maior de ligação entre as pessoas. Você sabia disto?

Mário Quintana faz questão de aludir o abraço a um laço. Diz ele: “Meu Deus! Como é engraçado! Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço… uma fita dando voltas. Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de braço”.

Penso que, nos tempos hodiernos, nossos casais precisam se abraçar. Precisam encostar um coração no outro (Rita Apoena). Já imaginou acalmar os corações atribulados por uma discussão, encostando um coração no outro? Corações atribulados se entendem e se acalmam no compasso da vida, que se renova dentro de um abraço.

Certa vez, havia um casal de idade mediana nas dependências de uma Praça. Eles viram quando ali estava uma menina, baixinha, com cabelos de fios dourados, muito pacífica. Passavam-se minutos e minutos, e ela ali persistia. Quando menos esperavam, salta de um ônibus um menino com trajes de viajante, mochilas nas costas, e apressadamente se direciona até a menina. Em fração de segundos, um atracou o outro num abraço, e os dois ficaram por um bom tempo sem trocar palavras. Certamente fazia muito tempo que o casal de namorados não se encontrava.

O normal seria que eles trocassem belas saudações, nobres palavras, ricas frases. Mas eles optaram pelo abraço. Pois o abraço permitia que eles se sentissem. Quando vemos uma sociedade (famílias, grupos, religiões) machucada, triste, sem rumo, sem esperança, nós podemos dizer que estamos vendo (e vivenciando) uma sociedade que perdeu a capacidade de se sentir. O poeta português Fernando Pessoa já dizia: “quem sente muito, cala; quem quer dizer quanto sente, fica sem alma nem fala, fica só, inteiramente”!

Já Drummond se atreve dizer que “se você sabe explicar o que sente, não ama, pois o amor foge de todas as explicações possíveis”.

Traduzindo: amar não é teoria, é sentir.  Abraçar é amar. Abraçar é discursar sem palavras. Abraçar é poder entrar no outro sem pisar no seu terreno. Abraçar é ser mais gente. Abraçar é uma forma de teologar… pois até Deus quis morar no abraço!

Por Vinícius Figueira e Fernanda Venturim Vantil, via A12

Como podemos ajudar as almas do Purgatório?

Pe. François Xavier Schouppe | 9 de Maio de 2018

Se Deus consola tão benignamente as almas do Purgatório, sua misericórdia brilha com ainda mais força no poder, que Ele concede a sua Igreja, de encurtar a duração de seus sofrimentos. Desejando executar com clemência a severa sentença de sua justiça, Ele consente em abater e mitigar a dor; fá-lo, porém, de maneira indireta, através da intervenção dos vivos. A nós Ele concede todo o poder de socorrermos nossos irmãos aflitos com sufrágios, isto é, por meio de impetração e satisfação.

A palavra sufrágio, em linguagem eclesiástica, é um sinônimo para oração. Entretanto, quando o Concílio de Trento declara que as almas no Purgatório são assistidas pelos sufrágios dos fiéis, o sentido da palavra é mais abrangente, incluindo, de modo geral, tudo o que formos capazes de oferecer a Deus em favor daqueles que partiram desta vida. De fato, nós podemos oferecer a Deus não somente nossas orações, mas todas as nossas boas obras, na medida em que elas sejam impetratóriasou satisfatórias.

Para entender essas expressões, tenhamos em mente que cada uma de nossas boas obras, quando praticadas em estado de graça, possui ordinariamente um triplo valor aos olhos de Deus:

  1. A obra é meritória, ou seja, aumenta o nosso mérito, dando-nos direito a um novo grau de glória no Céu.
  2. É impetratória (de “impetrar”, “obter”), ou seja, como uma oração, ela tem a virtude de alcançar graças de Deus.
  3. É satisfatória, ou seja, tem a capacidade de satisfazer à Justiça Divina e pagar o débito de nossas penas temporais diante de Deus.

mérito é inalienável e permanece como propriedade da pessoa que realiza a ação. Os valores impetratório e satisfatório, ao contrário, podem beneficiar a outrem, em virtude da comunhão dos santos.

Entendido isso, coloquemo-nos uma questão prática. Quais são os sufrágios por meio dos quais, de acordo com a doutrina da Igreja, nós podemos ajudar as almas do Purgatório?

“A Virgem, São Nicolau Tolentino e as almas do Purgatório”, por Bartolomeo Guidobono.

A essa pergunta nós respondemos: eles consistem em orações, esmolas, jejuns e penitências de qualquer tipo, indulgências e, acima de tudo, o santo sacrifício da Missa. Todas as obras que nós realizamos em estado de graça, Jesus Cristo permite que as ofereçamos à Majestade Divina para o alívio de nossos irmãos no Purgatório.

Por essa admirável disposição, ao mesmo tempo em que protege os direitos de sua justiça, nosso Pai celestial multiplica os efeitos de sua misericórdia, que é exercida então, ao mesmo tempo, em favor da Igreja padecente e da Igreja militante. A assistência misericordiosa que Ele permite prestarmos a nossos irmãos sofredores é, de fato, de excelente proveito para nós mesmos. Trata-se de uma obra não apenas vantajosa para os falecidos, mas também santa e salutar para os vivos. Sancta et salubris est cogitatio pro defunctis exorare, “É santa e piedosa a ideia de rezar pelos defuntos” (2Mc 12, 46, Vulg.).

É possível ler, nas Revelações de Santa Gertrudes (cf. Legatus Div. Pietatis, l. 5, c. 5), que, tendo uma humilde religiosa de sua comunidade coroado com uma morte piedosa sua vida exemplar, Deus dignou-se mostrar à santa o estado da falecida na outra vida. Gertrudes viu a alma da monja adornada de inefável beleza e querida por Jesus, que a fitava com amor. Entretanto, por conta de uma leve negligência sua, ainda não expiada, ela não podia entrar no Céu, sendo obrigada a descer à sombria morada do sofrimento. Mal havia ela desaparecido nas profundezas, porém, a santa viu-a voltar e subir em direção ao Céu, transportada pelos sufrágios da IgrejaEcclesiae precibus sursum ferri.

Até no Antigo Testamento orações e sacrifícios eram oferecidos pelos mortos. A Sagrada Escritura relata como louvável a piedosa ação de Judas Macabeu depois de sua vitória sobre Górgias, general do Rei Antíoco. Os soldados haviam pecado, tomando dos espólios alguns objetos oferecidos aos ídolos, coisa que pela lei eles estavam proibidos de fazer. Então Judas, chefe do exército de Israel, mandou que se fizessem orações e sacrifícios pela remissão de suas culpas e pelo repouso de suas almas.

Vejamos como esse fato é contado na Escritura:

No dia seguinte ao sábado, Judas e seus homens foram recolher os corpos dos que tinham morrido na batalha, a fim de sepultá-los ao lado dos parentes, nos túmulos de seus antepassados.

Foi então que encontraram, debaixo das roupas dos que tinham sucumbido, objetos consagrados aos ídolos de Jâmnia, coisa que a Lei proíbe aos judeus. Então ficou claro, para todos, que foi por isso que eles morreram.

Todos louvaram, então, a maneira de agir do Senhor, justo Juiz, que torna manifestas as coisas escondidas.

puseram-se em oração, pedindo que o pecado cometido fosse completamente cancelado. Quanto ao valente Judas, exortou o povo a se conservar sem pecado, pois tinham visto com os próprios olhos o que acontecera por causa do pecado dos que haviam sido mortos.

Depois, tendo organizado uma coleta individual, que chegou a perto de duas mil dracmas de prata, enviou-as a Jerusalém, a fim de que se oferecesse um sacrifício pelo pecado: agiu assim, pensando muito bem e nobremente sobre a ressurreição. De fato, se ele não tivesse esperança na ressurreição dos que tinham morrido na batalha, seria supérfluo e vão orar pelos mortos. Mas, considerando que um ótimo dom da graça de Deus está reservado para os que adormecem piedosamente na morte, era santo e piedoso o seu modo de pensar.

Eis por que mandou fazer o sacrifício expiatório pelos falecidos, a fim de que fossem absolvidos do seu pecado. (2Mc 12, 39-45)

A família foi criada por Deus para ser a base da sociedade

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“Em torno da família se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem” (São João Paulo II)

O Dia Internacional da Família, 15 de maio, é uma boa oportunidade para lembrarmos da importância fundamental da família para a vida de cada pessoa e da sociedade. A família é sagrada, porque foi criada por Deus para ser a base de toda a sociedade. Ninguém jamais destruirá sua força, por ser ela uma instituição divina.

O Concílio Vaticano II chamou a família de “Igreja doméstica” (LG, 11), onde Deus reside e é reconhecido, amado, adorado e servido; e ensinou que “a salvação da pessoa e da sociedade humana estão intimamente ligadas à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS,47).

São João Paulo II chamou a família de “Santuário da vida” (Carta às Famílias,11) e “patrimônio da humanidade” (LG,11). Ele disse: “A família é uma comunidade insubstituível por qualquer outra”. Jesus habita com a família cristã, nascida no Sacramento do Matrimônio; Sua presença, nas Bodas de Caná da Galileia, significa que o Senhor quer estar no meio da família, ajudando-a a vencer todos os seus desafios.

Imagem e semelhança

Desde que Deus desejou criar o homem e a mulher à Sua imagem e semelhança (Gen 1,26), Ele os quis em família. Tal qual o próprio Deus, que é uma família em três Pessoas Divinas, assim também, o homem, criado à imagem do seu Criador, deveria viver em uma família,  em uma comunidade de amor, já que ‘Deus é amor’ (1 Jo 4,8) e o homem lhe é semelhante.

A família é o eixo da humanidade, a sua célula mater, é a sua pedra angular. O futuro da sociedade e da Igreja passam inexoravelmente por ela. É ali que os filhos e os pais devem ser felizes. Quem não experimentou o amor no seio do lar terá dificuldade para conhecê-lo fora dele.

A família é a comunidade, na qual, desde a infância, os filhos podem assimilar os valores morais, em que pode começar a honrar a Deus e usar corretamente da liberdade. A vida em família é iniciação para a vida em sociedade (cf. CIC 2207). Depois de ter criado a mulher da costela do homem (Gen 1, 21), Deus a levou para ele. Este, ao vê-la, suspirou de alegria: “Eis agora aqui, disse o homem, o osso dos meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher” (Gen 1,23). Após essa declaração de amor tão profunda – a primeira na história da humanidade – Deus, então, mostra-lhes toda a profundidade da vida conjugal: “Por isso, o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne” (Gen 1,24).

A família é sagrada

Deus lhes disse: “Crescei e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gen 1,28). Por isso, a única e verdadeira família, segundo a vontade de Deus, é aquela fruto da união matrimonial de um homem com uma mulher. Não existe outro tipo de família no plano de Deus.

Este é o desígnio de Deus para o homem e para a mulher, juntos, em família: crescer, multiplicar, encher a terra, submetê-la. E, para isso, Deus deu ao homem a inteligência para projetar e as mãos para construir o seu projeto. O Senhor vive no lar nascido de um matrimônio. Nessas palavras de Deus – “crescei e multiplicai-vos” – encerra-se todo o sentido da vida conjugal e familiar. Dessa forma, Deus constituiu a família humana a partir do casal, para durar para sempre, por isso, A FAMÍLIA É SAGRADA!

Vemos aí, também, a dignidade baseada no amor mútuo, que leva o homem e a mulher a deixarem a própria casa paterna, para se dedicarem um ao outro totalmente. Esse amor é tão profundo, que dos dois faz-se uma só carne, para que possam juntos realizar um grande projeto comum: a família.

União

Daí, podemos ver que sem o matrimônio, forte e santo, indissolúvel e fiel, não é possível termos uma família forte e santa, segundo o desejo do coração de Deus. Tudo isso mostra como o Senhor está implicado nesta união absoluta do homem com a mulher, de onde surgirá, então, a família. Por isso, não há poder humano que possa eliminar a presença de Deus no matrimônio e na família. Deus vive no lar nascido de um matrimônio, e a Virgem Maria também.

Isso nos faz entender que, a celebração do sacramento do matrimônio, é a garantia da presença de Jesus no lar ali nascente. Como é doloroso perceber, hoje, que muitos jovens, nascidos em famílias católicas, já não valorizam mais esse sacramento e acham, por ignorância religiosa, que já não é importante subir ao altar para começar uma família!

Toda essa reflexão nos leva a concluir que, cada homem e cada mulher, que deixam o pai e a mãe, para se unirem em matrimônio e constituir uma nova família, não o podem fazer levianamente, mas devem o fazer somente por um autêntico amor, que não é uma entrega passageira, mas uma doação definitiva, absoluta, total, até a morte.

Marcada pelo sinete divino, a família, em todos os povos, atravessou todos os tempos e chegou inteira até nós, no século XXI. Só uma instituição de Deus tem essa força. Cristo entrou na nossa história pela família; fez o primeiro milagre numa festa de casamento e viveu 30 anos numa família. O Concilio Vaticano II disse: “Se é certo que Cristo ‘revela plenamente o homem a si mesmo’, faz através da família onde escolheu nascer e crescer” (GS,2). “Desta maneira, a família constitui o fundamento da sociedade” (GS,52). “A salvação da pessoa e da sociedade humana está intimamente ligada à condição feliz da comunidade conjugal e familiar” (GS,47).

Papa João Paulo II

O Papa São João Paulo II dizia: “A família é o âmbito privilegiado para fazer crescer todas as potencialidades pessoais e sociais que o homem leva inscritas no seu ser”.

São João Paulo II disse: “Em torno da família se trava hoje o combate fundamental da dignidade do homem” (FC,18). Há uma ameaça tremenda contra a família moderna: aborto, ideologia de gênero, divórcios,casamentos de pessoas do mesmo sexo, drogas, adultérios, inseminação artificial, e toda uma campanha internacional contra a família, o casamento e a maternidade.

Quando a família é destruída, os filhos sofrem, e muitos deles se encaminham para a criminalidade. Por isso, se a família – segundo a vontade de Deus – for destruída, então, a sociedade sofrerá suas consequências. Todos os cristãos são obrigados a lutar pela preservação da família segundo o coração de Deus.

Fonte: aleteia.org

Adoração, devoção e veneração: existe diferença?

Conhecer com profundidade o que significa devoção, veneração e adoração pode fazer toda a diferença em nossa vida espiritual

Parece muito óbvio o significado das palavras: devoção, veneração e adoração, mas não é tão simples assim. A devoção verdadeiramente católica foi perdendo-se ao longo do tempo, dando origem a várias expressões de culto, subjetivas, confusas e desconexas, as quais, na prática, acabam se tornando cada vez mais infrutíferas e estéreis. Sendo assim, precisamos redescobrir o verdadeiro sentido da devoção católica aos anjos e aos santos, e o que esse culto de veneração tem a ver com o de adoração, devido somente a Deus. Dessa forma, nossa espiritualidade poderá retomar o vigor da devoção dos santos e produzir muitos frutos, contribuir para a salvação das almas e para maior glória de Deus.

Adoração, devoção e veneração existe diferença
Foto: Wesley Almeida/cancaonova.com

A devoção católica e a perda de seu sentido

A palavra “devoção” tem raiz no latim devotione, e significa afeição, dedicação, sacrifício e culto. Na teologia e na espiritualidade católica, devoção é um ato de religião. São Tomás de Aquino diz que devoção é “a vontade pronta para se entregar a tudo que pertence ao serviço de Deus”1, ou seja, ao culto divino. Sendo assim, toda a verdadeira devoção tem como fim último o próprio Deus.

Na Idade Média – período que a maioria dos historiadores contemporâneos insiste erroneamente em chamar de “Idade das Trevas” –, as práticas de devoção se davam quase que exclusivamente no culto comunitário. Na chamada cristandade, o ato de religião, de dar a Deus o que é de Deus, era prestado por toda a sociedade. No entanto, a partir desse período histórico, a sociedade corrompeu-se gradativamente, chegando a um arrefecimento da fé tal, que o culto público não era mais viável. Como resposta às necessidades desse tempo, surgiu na Igreja o movimento que ficou conhecido como devotio moderna.

A devotio moderna rapidamente se espalhou por toda a Europa Ocidental. Nesse contexto histórico, surgiu o conhecido livro “Imitatio Christi” ou “Imitação de Cristo”, atribuído a Tomás de Kempis, cônego regular de Santo Agostinho. Esta obra destinava-se a todos, sem exceção, principalmente àquelas pessoas que desejavam transformar e santificar o seu quotidiano. No entanto, a devotio moderna não teve somente bons frutos, como o célebre livro de Kempis. O Movimento propunha um modelo de vida religiosa que colocava sacerdotes e leigos no mesmo nível, sem distinções hierárquicas. Além disso, a tradução de trechos das Sagradas Escrituras para outros idiomas e o subjetivismo nas práticas de devoção, de certa forma, abriram caminho para o protestantismo.

Em nossos dias, a maioria das pessoas não entende mais o significado da palavra devoção. Para grande parte dos católicos de hoje, as práticas devocionais não passam de sentimentalismo subjetivista, que não os leva a uma verdadeira conversão. Sendo assim, é urgente recuperar o sentido da palavra devoção, como vontade pronta de entregar-nos inteiramente a Deus, para então passarmos à prática.

Este ato da vontade pode ter como frutos a paz, alegria, sentimentos e consolações. No entanto, não necessariamente todos os atos de devoção terão esses frutos. Na experiência espiritual, sempre sob influxo da graça divina, a devoção pode ser acompanhada de sentimentos e consolações, como normalmente acontece nos iniciantes mais generosos. No entanto, na devoção pode acontecer também a aridez espiritual, que é bem diferente da tibieza ou mornidão, especialmente com as pessoas mais adiantadas espiritualmente.

Existem várias expressões de devoção na Igreja Católica, que podem ser divididas em duas categorias: a devoção de veneração, que é prestada aos anjos e santos; e a devoção de adoração, que é devida e prestada unicamente a Deus.

A devoção de veneração e o culto às imagens sagradas

A palavra veneração é derivada do latim veneratio – que em grego se diz δουλια (douleuo ou dulia) – e significa “honrar”. A devoção de veneração ou “dulia” é o culto prestado aos santos e aos anjos, enquanto servos de Deus na ordem sobrenatural. Entre os santos, o Patriarca São José tem proeminência na Igreja Católica, por ter sido pai adotivo de Jesus Cristo e guardião da Sagrada Família. Por isso, São José recebe o culto “protodulia” ou “suma dulia”, que significa a primazia e a superioridade do seu culto em relação aos outros santos. Outra exceção é veneração prestada a Santíssima Virgem Maria, que – por sua dignidade excelsa de Mãe de Deus, que a coloca acima de todos os anjos e santos, inclusive de São José – recebe o culto de hiperdulia, do grego υπερδουλεια, que significa a mais alta veneração prestada aos santos.

A devoção de veneração é expressa externamente pela reverência às imagens dos santos e dos anjos (estátuas, esculturas, pinturas, ícones). O culto de veneração é prestado também às relíquias dos santos.

O culto das imagens sagradas na Igreja Católica não é contrário ao primeiro mandamento, que proíbe os ídolos (Dt 6, 13-14). Pois, “a honra prestada a uma imagem remonta ao modelo original” e “quem venera uma imagem, venera nela a pessoa representada”. A honra prestada às imagens é uma “veneração respeitosa”, e não uma adoração, que é devida somente a Deus. “O culto da religião não se dirige às imagens em si mesmas como realidades, mas as vê sob o seu aspecto próprio de imagens que nos conduzem ao Deus encarnado. Ora, o movimento que se dirige à imagem enquanto tal não se detém nela, mas se orienta para a realidade de que ela é imagem”2. Sendo assim, o culto de veneração aos anjos e aos santos em suas sagradas imagens não é um fim em si mesmo, mas tem por finalidade a elevação das almas a Deus e a maior glória da Santíssima Trindade.

A devoção de adoração e o culto de veneração

A palavra “adoração” é derivada do latim “adoratio”, que tem sua raiz nos termos “ad oro”, e significa “oro ou rogo-te”, em grego se diz λατρεια (latria) – e significa “adorar”, é um termo bíblico e teológico que significa a devoção ou culto que é prestado somente a Deus. O próprio Jesus Cristo nos deu essa Lei: “Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto” (Lc 4,8; cf. Dt 6,13).

O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que “a adoração é o primeiro ato da virtude da religião. Adorar a Deus é reconhecê-Lo como tal, Criador e Salvador, Senhor e Dono de tudo quanto existe, Amor infinito e misericordioso”3.

Adorar a Deus é reconhecer, com respeito e submissão absoluta, o nosso nada, que só por Deus existimos. Adorar a Deus é louvá-Lo, exaltá-Lo e humilhar-nos na sua presença, confessando com gratidão que Ele fez grandes coisas em nós e que o seu Nome é santo, como fez a Virgem Maria no Magnificat (cf. Lc 1, 46-49). Além disso, a adoração do Deus único liberta-nos do fechamento em nós mesmos, da escravidão do pecado e da idolatria do mundo4.

Assim, vimos que toda a verdadeira devoção tem Deus como seu fim último. Sendo assim, a devoção de veneração, prestada aos anjos e aos santos, somente tem valor se nos faz crescer na fé, na esperança e na caridade, se nos leva a amar Deus de todo nosso coração, com toda nossa alma, com todo nosso espírito (cf. Mt 22, 37; Dt 6, 5) e ao próximo como a nós mesmos (cf. Mt 22, 39; Lv 19, 18). Na veneração dos anjos e dos santos, glorificamos Deus, que é o fim último não somente da nossa devoção, mas também de toda a nossa existência. Dessa forma, compreendemos que a devoção de adoração diferencia-se da de veneração somente na forma que prestamos nosso culto a Deus: na adoração, prestamos culto a Deus em si mesmo; e na veneração, a Ele também, mas em suas criaturas. Assim, entendemos que não há nenhuma contradição entre o mandamento divino: “Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto” (Lc 4,8; cf. Dt 6,13), e a devoção católica de veneração aos anjos e aos santos.

Referências:
1 SANTO TOMÁS DE AQUINO. ST II-II, Q 82, A 1.
2 PAPA JOÃO PAULO II. Catecismo da Igreja Católica, 2132.
3 Idem, 2096.
4 Cf. idem, 2097.

Fonte: cancaonova.com

A queda do homem

Ora, Deus tinha criado o homem para que o amasse e vivesse unido a Ele, desfrutando de sua presença e deu ordens para multiplicarem-se, encherem a terra, submeterem-na e ainda, que não tocassem na árvore da ciência do bem e do mal – símbolo da soberania e autonomia moral que só pertencia ao Criador. No dia que o fizessem, morreriam indubitavelmente .

O que se pode dizer é que, pela queda original, o homem perdeu esse belo equilíbrio que Deus lhe tinha dado, e que, relativamente ao estado primitivo, ele é agora um ente ferido e sem inteiro equilíbrio, como podemos ver pelo estado presente de nossas faculdades.

Para o profundo conhecimento e crescimento em seu plano de amor, Deus tinha dado ao homem os dons preter-naturais:

• Domínio das paixões, que o animavam. Capacidade de controlar os sentimentos, emoções, afetos.
• Ciência infusa, ou seja, o profundo conhecimento de tudo o que se referia a pessoa de Deus.
• Imortalidade corporal, que privava o homem da doença e da morte.
• E ainda cinco áreas de seu ser que contribuía para amá-lo ainda mais, a saber:

• Memória
• Vontade
• Afetividade
• Imaginação
• Inteligência

Sabemos, então, que a serpente sendo muito astuta, aproxima-se de Eva, mente, põe em dúvida, a mentira distorcida da palavra de Deus e depois a nega . A mulher confundida, achando agora que o mal é bem e o bem é mal, por confiar mais na criatura, que no criador é agora impulsionada a não mais querer se submeter a Deus e leva o homem também a provar deste fruto da insubmissão, desobediência e orgulho.

AS CONSEQÜÊNCIAS DO PECADO

O homem perde os três dons preter-naturais:
1. Perdendo o domínio das paixões fica sujeito a ferir e ser ferido;
2. A mortalidade corporal fica sujeito a morte e a doença e a;
3. Ciência infusa, a buscar outros deuses e outros caminhos para Deus.

A imaginação, memória e afetividade são corrompidas e logo em seguida vemos o fruto de tudo isso, o homem:

• Perde a pureza , ou seja, o equilíbrio consigo mesmo;
• Perde a intimidade com Deus ;
• Perde a intimidade com o próximo – a mulher que puseste junto de mim, me deu da árvore e comi.
O homem, então fica sujeito a traumas, enfermidades e desordens espirituais.

OS ATAQUES SÃO
• Ao corpo;
• À alma;
• Ao espírito.

Ao Corpo – Luxúria, cobiça da carne “Caríssimos, rogo-vos que, como estrangeiros e peregrinos, vos abstenhais dos desejos da carne, que combatem contra a alma.” .

À Alma – há 5 áreas chaves no ataque à alma, à vontade, a afetividade, o intelecto, a imaginação e a memória.

a) A Vontade – Deus criou o homem com uma vontade. Ele não criou “robôs”, mas filhos. É a nossa vontade que escolhe o céu ou o inferno. Deus não é culpado de nossas decisões; somente nós. Quando nossa vontade é obediente á Palavra e ao Espírito de Deus, o resto da alma logo segue.

O objetivo do inimigo é roubar nossa vontade. Como a vontade do homem fica sob o ataque demoníaco? Pela passividade e letargia. São os maiores aniquiladores da vida espiritual, tornando preguiçoso, descuidados e indolentes.

A indecisão se torna o fator predominante em nossas vidas. Não vemos (ou não
queremos ver) o que é certo ou errado. Descansamos sobre as opiniões alheias. O que os outros dizem tem mais importância para nós do que pensamos. Ficamos descuidados, confusos, balançados por qualquer opinião.
Como pode o inimigo causar passividade na vontade humana? Pela importunação molesta até a impaciência. Pelo cansaço sobre aquilo que mais significa nossa fraqueza, nosso “calcanhar de Aquiles”, até que nos rendamos. Não temos força de vontade suficiente para lutar o combate espiritual sem termos a força de Deus.

O demônio não pode influir diretamente sobre nossas faculdades superiores, inteligência e a vontade. Deus reservou para si este santuário: só Deus pode penetrar no centro de nossa alma e mover as energias da nossa vontade sem nos fazer violência.

O demônio, pode influir diretamente sobre o corpo, sobre os sentidos exteriores e interiores, em particular sobre a imaginação e a memória, bem como sobre as paixões, que residem no apetite sensitivo, e por essa via, influir indiretamente sobre a vontade que, se vencida, vem a dar o seu consentimento.
Não importa a quantidade de dons que tenhamos. O exemplo de Salomão é diferente do exemplo de José , que preferiu fugir.

b) A Afetividade (Emoções) – Deus nos deu vontade e também emoções. Nós sentimos coisas boas e más. Não é errado sentir emoções. Errado é ser controlado pelas emoções. Deus não nos impede ter emoções. Ele no-las deu. Tal como a cor dá vida a uma TV em branco e preto, assim as emoções colorem nossas vidas.
As emoções não devem nos regrar, mas realçar momentos de nossas vidas. Se somos controlados pelas nossas emoções não podemos manter comunhão com Deus.
Advertências: Uma oração não é respondida segundo a quantidade de emoção que existe nela. A oração é respondida quando brotada do coração do homem, segundo a vontade de Deus, na unção do Espírito de Deus.
As emoções têm que estar submetidas (como de resto a alma inteira) ao espírito do homem e este ao Espírito de Deus.

Algumas emoções daninhas: é a autopiedade, é um sinal do ataque demoníaco. Quando a autopiedade nos domina, nossa visão torna-se “empenada”, torta, turva. Achamos que todos estão contra nós e ninguém nos quer. Começamos a achar que todos estão errados, e nós, somente nós, estamos certos. Amargura, é outra perniciosa. Quando a amargura nos domina, cada ação nossa resulta em contenda, disputa. Vingança torna-se o nosso objetivo máximo.

Nossos olhos espirituais ficam turvos quando somos dirigidos pelas emoções, e passamos a ser dirigidos pelos nossos olhos naturais, isto é, pelo que olhamos e escutamos, e então, Satanás se encarregará de fazer com que olhemos e escutemos o bastante para afetar, pelas emoções, nossa alma.

c) O Intelecto, Inteligência – é maravilhosa obra de Deus. Ninguém pôde até hoje criar algo parecido. Para a ciência, a inteligência é inexplicável. Acontece que Deus vê o homem segundo o seu (dele,homem) coração, e não, segundo a sua (dele, homem) inteligência, intelecto.
Deus usa a inteligência do homem para se fazer entender: “… o seu sempiterno poder e divindade se tornam visíveis à inteligência…” .
A inteligência natural (“animal”, de “anima”) resiste a Deus. O homem quer colocá-la acima do seu espírito, mas é o espírito que deve nortear nossa inteligência. Como podemos desconfiar de que nossa inteligência está sendo atacada?
Quando o raciocínio começa a ser mais importante para nós do que o testemunho interior. A partir daí, a fé e a confiança em Deus começam a diminuir. Começamos a intelectualizar cada coisa que ouvimos, vemos ou lemos. Nosso pensar torna-se “superior” e “objetivo”. A morte interior acontece.

É importante contra-atacar logo: a) peça ao Espírito de Deus que se torne real para você; b) peça-lhe novos olhos e ouvidos para ver e ouvir suas obras e Sua Palavra; c) envolva-se com os interesses da sua Igreja; d) ordene que o espírito de descrença se afaste de você, em nome de Jesus; e) associe-se com pessoas crentes, de sua Igreja.

d) Imaginação – é algo extremamente poderoso. Nós temos a habilidade para imaginar além da nossa inteligência. Realizamos aquilo que antes esteve na nossa imaginação. O que chega ao plano concreto, existiu, antes, na imaginação.
Uma imaginação preguiçosa, fútil, não produz nada. O perigo com a imaginação está quando nos leva à exaltação própria.
Gn 3; 2Cor 10,5

e) Memória – seu futuro não está baseado nas feridas do passado. Não olhe para trás imaginando que se repetirá necessariamente, ou para culpar-se doentiamente. São Paulo diz: “não olhando para trás…”
Passos na Oração de Libertação:

1. Esclareça quanto aos problemas decorrentes de experiências e contatos do passado.
2. Faça com que as pessoas tomem uma decisão.
3. Realizar a renúncia.
4. Ordenar a libertação em nome de Jesus.
5. Pedir os frutos do Espírito Santo.

Cristiano Ronaldo, Thiago Silva e o “Chaves” quase foram abortados por suas mães

Redação da Aleteia | Abr 10, 2018

3 testemunhos retumbantes para as mulheres que temem abraçar a vida dos próprios bebês que crescem em seu ventre

Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo | Twitter
Quando Maria Dolores descobriu que estava grávida pela quarta vez, procurou por um médico para fazer o aborto. O médico, porém, respondeu que não havia nenhuma razão física para abortar e que, além do mais, aquele bebê lhe traria muita alegria na vida.

Sem a cumplicidade do médico, Maria Dolores tentou sozinha outros métodos “caseiros” de aborto que, felizmente, não funcionaram. Por fim, ela se arrependeu e decidiu:

“Se a vontade de Deus é que esta criança nasça, que assim seja!”
Durante o parto, o mesmo médico disse uma frase que ficou para sempre na memória de Maria Dolores:

“Com pés como estes, ele será um jogador de futebol!”
Em outras consultas, vendo a preocupação da mãe, o médico a animava dizendo:

“Fica alegre, mulher, que este bebê vai te dar muita sorte na vida e muitas felicidades!”
Cristiano Ronaldo é hoje o craque decisivo de um dos maiores clubes de futebol do planeta, o Real Madrid, e já levou, diversas vezes, diferentes premiações de melhor jogador do mundo.

Thiago Silva

Dona Ângela, mãe do jogador brasileiro de futebol Thiago Silva, também revelou que tinha pensado em abortar.

“Eu cheguei a chorar no colo do meu pai dizendo que não queria fazer o aborto, mas que eu também não tinha condição de criar mais um filho. Só que ele não deixou que eu fizesse isso, que cometesse um pecado!”
De origem humilde, Thiago cresceu na favela de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Hoje, o caçula de dona Ângela é considerado um dos melhores zagueiros do mundo.

Roberto Gómez Bolaños, o “Chaves”

Conhecido no Brasil pela sua atuação como os personagens Chaves e Chapolin Colorado, o ator mexicano Roberto Gómez Bolaños revelou que, quando sua mãe estava grávida, sofreu um acidente em que quase morreu. Os médicos então recomendaram que ela abortasse.

A mãe respondeu:

“Abortar, eu? Jamais!”
E o “Chaves”, anos mais tarde, pôde assim testemunhar:

“Ela defendeu a vida, a minha vida. É graças a ela que eu estou aqui”

Sem Vida de Oração é impossível chegar à santidade

Os Santos Padres e os grandes mestres da vida espiritual estão todos de acordo em proclamar a eficácia santificadora, verdadeiramente extraordinária, da oração. Sem oração — sem muita oração — é impossível chegar à santidade.

Os testemunhos que se poderiam apresentar são inúmeros [1]. A título de exemplo, porém, reuniremos aqui apenas alguns.

São Boaventura. — “Se queres sofrer com paciência as adversidades e misérias desta vida, sê homem de oração.

Se queres alcançar virtude e fortaleza para vencer as tentações do inimigo, sê homem de oração.

São Boaventura.
Se queres mortificar tua vontade própria com todas os seus gostos e apetites, sê homem de oração.

Se queres conhecer as astúcias de Satanás e defender-te de seus enganos, sê homem de oração.

Se queres viver alegremente e caminhar com suavidade pelo caminho da penitência e do trabalho, sê homem de oração.

Se queres afugentar da tua alma as moscas importunas dos vãos pensamentos e cuidados, sê homem de oração.

Se a queres sustentar com a gordura da devoção e trazê-la sempre cheia de bons pensamentos e desejos, sê homem de oração.

Se queres fortalecer e confirmar teu coração no caminho de Deus, sê homem de oração.

Finalmente, se queres desenraizar da tua alma todos os vícios e plantar em seu lugar as virtudes, sê homem de oração: porque nela se recebe a unção e a graça do Espírito Santo, que ensina todas as coisas.

Além disso, se queres subir à altura da contemplação e gozar dos doces abraços do esposo, exercita-te na oração, porque este é o caminho por onde a alma sobe à contemplação e gosto das coisas celestiais.” [2]

São Pedro de Alcântara. — Citando um outro autor, escreve:

Na oração, purifica-se a alma dos pecados, apascenta-se a caridade, certifica-se a fé, fortalece-se a esperança, alegra-se o espírito, derretem-se as entranhas, pacifica-se o coração, descobre-se a verdade, vence-se a tentação, renovam-se os sentidos, repara-se a virtude enfraquecida, despede-se a tibieza, consome-se a ferrugem dos vícios, e saltam as centelhas vivas de desejos do céu, entre as quais arde a chama do divino amor. Grandes são as excelências da oração, grandes são seus privilégios. A ela estão abertos os céus, a ela se descobrem os segredos, e a ela estão sempre atentos os ouvidos de Deus. [3]
Santa Teresa. — Para a grande mestra da vida espiritual, a oração é o tudo! Não há outro exercício no qual insista tanto, em todos os seus escritos, e ao qual conceda tanta importância santificadora como à oração. Parece-nos inútil citar textos: basta abrir ao acaso qualquer um dos seus livros. Segundo ela, a alma que não faz oração está perdida; jamais chegará à santidade. De igual modo pensava São João da Cruz, tão identificado com a insigne reformadora do Carmelo.

A alma que não faz oração está perdida; jamais chegará à santidade.
São Francisco de Sales. — “Pela oração falamos a Deus e Deus reciprocamente nos fala, aspiramos a Ele e respiramos n’Ele, e Ele nos inspira e respira sobre nós.

Mas de que tratamos nós na oração? Qual é o assunto da nossa conversação? Nela, Teótimo, não se fala senão de Deus; porque de que mais pode falar e se entreter o amor senão do amado? Por isso, a oração e a teologia mística são uma mesma coisa. Chama-se teologia porque, assim como a teologia especulativa tem a Deus por objeto, também a teologia mística não fala senão de Deus, mas com três diferenças:

aquela trata de Deus enquanto Deus, e esta fala de Deus enquanto sumamente amável; isto é, aquela considera a Divindade da Suma Bondade, e esta a Bondade da Divindade;
a especulativa trata de Deus com os homens e entre os homens; a teologia mística fala de Deus, com Deus e em Deus;
a especulativa tende ao conhecimento de Deus, e a mística ao amor, de modo que aquela torna seus alunos sábios, doutos e teólogos; enquanto esta os torna ardentes, afeiçoados e amantes de Deus.” [4]
Os textos poderiam multiplicar-se com abundância, mas não é necessário. Todas as escolas de espiritualidade cristã concordam em proclamar a necessidade absoluta da oração e sua extraordinária eficácia santificadora.

À medida que a alma intensifica a sua vida de oração, aproxima-se mais de Deus, em cuja perfeita união consiste a santidade. A oração é a frágua do amor, onde se acende a caridade e se ilumina e abrasa a alma com suas labaredas, que são luz e vida ao mesmo tempo. Se a santidade é amor, união com Deus, o caminho mais curto e rápido para que a alcancemos é a contínua e ardente vida de oração.

Referências

Remetemos o leitor à preciosa obra do P. Arintero, Cuestiones místicas, principalmente à questão 2, artigos 4-5, onde se pode encontrar um verdadeiro arsenal de testemunhos dos Santos Padres e místicos experimentais.
Citado ou comentado por São Pedro de Alcântara: Tratado de la oración, p. 1.ª, c. I. Esta pequena obra, como se sabe, é uma recopilação da que, com o mesmo título, foi publicada pelo Frei Luís de Granada.
Tratado de la oración, p. 1ª, c. I.
Tratado do Amor de Deus, l. 6, c. 1.
Notas

Traduzido e adaptado de Teología de la Perfección Cristiana. Madri: BAC, 2015, pp. 636-638, n. 481.

Anjos da Guarda

É doutrina comum e cara na Igreja que a um anjo do Senhor está confiada a guarda de cada batizado. O Catecismo do Concílio de Trento resumia a doutrina tradicional dos séculos anteriores nestes termos:

Por desígnio de sua providência, confiou Deus aos anjos a obrigação de guardarem o gênero humano e de assistirem a todos os homens individualmente, para que não sofram dano de maior gravidade. Assim como os pais dão aos filhos guardas, que os defendem de perigos, quando precisam viajar por caminhos expostos e arriscados, assim também o Pai Celeste destinou a cada um de nós um anjo que nos proteja, com seu auxílio e vigilância, para podermos evitar as emboscadas dos inimigos e repelir seus tremendos ataques contra nós; para que, sob a sua direção, possamos conservar-nos no caminho reto e que nenhum ardil do falso adversário nos faça desviar do rumo que leva ao céu.
O Catecismo tem ainda o cuidado de explicar: “Deus não só envia seus anjos em certas ocasiões e para fins particulares, mas também lhes confiou nossa proteção desde o primeiro instante de nossa existência e incumbiu-lhes de velarem pela salvação individual de todos os homens”.

A Igreja endossou oficialmente esta doutrina estabelecendo para o dia 2 de outubro uma festa litúrgica universal para os santos anjos da guarda. A liturgia deste dia nos oferece um rico florilégio de textos (orações, hinos, leituras, responsórios, antífonas e salmos), nos quais a fé da Igreja se transforma em oração. A oração oficial deste dia reza: “Ó Deus, que na vossa misteriosa providência mandais os vossos anjos para guardar-nos, concedei que nos defendam de todos os perigos e gozemos eternamente do seu convívio”.

Todos conhecemos esta oração familiar: “Santo anjo do Senhor, meu zeloso guardador, a ti me confiou a piedade divina. Sempre me rege e guarda, governa e ilumina. Amém”. Durante o último Concílio ecumênico, o Vaticano II (de 1962 a 1965), todas as reuniões gerais dos bispos do mundo inteiro terminavam sempre com esta piedosa invocação. Era a expressão da fé da Igreja universal em forma de oração, segundo o conhecido adágio: a lei da oração é a lei da fé, isto é: a lei da fé deve estabelecer a lei da oração.

Pode-se por isso afirmar que a doutrina acerca do ministério dos anjos, tal como está nos numerosos textos litúrgicos, é a expressão pública da fé católica. A Igreja:

reza aos anjos da guarda porque crê que eles receberam de Deus a especial missão de servir aos que devem herdar a salvação;
suplica ao anjo que apresente nossas orações ao Senhor porque crê que o espírito celeste serve de intermediário;
manda que unamos nossas vozes com as dos anjos porque crê que eles estão ao nosso lado, na igreja, para cantar conosco as glórias do Criador;
ordena com frequência implorar o auxílio do anjo na hora da luta contra as tentações e emboscadas do diabo e seus demônios porque crê que estes andam de fato por aí como um leão a rugir procurando a quem devorar, e que o anjo é particularmente indicado para valer-nos nesta sorte de combates espirituais;
em cerimônia solene implora do céu anjo especial para custodiar um templo porque crê que Deus há de enviá-lo realmente;
faz-nos rezar todos os dias ao anjo para que nos ilumine porque crê que ele pode fazê-lo e está disposto a isso;
suplica a presença do anjo da paz porque crê que os espíritos celestes podem ser deputados para tal missão;
exige o afastamento do demônio e a presença do anjo bom porque crê na atuação real de um e de outro;
nomeia e estabelece anjos como patronos e protetores de nações, províncias, dioceses, paróquias ou comunidades porque crê que os espíritos virão mesmo tomar conta e defender o que lhes foi confiado;
pede aos anjos que acompanhem e protejam seus filhos nas viagens porque crê que o exemplo de Tobias não foi nem é singular;
chama os anjos na hora da morte, roga-lhes que nos defendam na derradeira agonia porque crê que os anjos nos acompanham de fato até estar definitivamente garantida nossa eterna beatitude.
Na Carta aos Hebreus damos com um texto particularmente expressivo. O inspirado autor fala da superioridade de Jesus Cristo sobre os anjos, apresenta vários argumentos para sua tese e lança então, no v. 14 (do capítulo I), uma pergunta como se fosse um argumento: “Porventura, não são todos eles (os anjos) espíritos servidores, enviados ao serviço dos que devem herdar a salvação?”

Esta pergunta do Apóstolo permite uma afirmação positiva, que é precisamente a doutrina da Igreja sobre os anjos da guarda: os anjos são espíritos destinados a ministrar (o grego diz: leit-ourgikós: destinado ao serviço, ao ministério), enviados por Deus para servir (diakonia) aos que devem herdar a salvação. Jesus falou provavelmente destes anjos-diáconos quando, em Mt 18, 10, nos admoesta que não devemos dar escândalo aos pequeninos “porque seus anjos no céu contemplam continuamente a face do Pai”.

Não é sem comoção que lemos esta revelação do anjo a Tobias:

Vou descobrir-vos a verdade — diz o anjo — e não vos ocultarei o que está em segredo: quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos e deixavas o teu jantar e escondias os mortos em tua casa de dia e os enterravas de noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor. (Tb 12, 11-12; cf. 3, 25)
Os Santos Padres falam frequentemente deste “anjo da oração”. A Igreja Orante exprime esta sua fé num momento solene, na Oração Eucarística chamada Cânon Romano, num texto que inexplicavelmente foi omitido na atual tradução brasileira oficial: “Supplices te rogamos, omnipotens Deus: iube haec perferri per manus sancti Angeli tui in sublime altare tuum, in conspectu divinae maiestatis tuae”. Lembra as “taças de ouro cheias do perfume, que são as orações dos santos” e que estão sobre o altar do céu (Ap 5, 8).

Os anjos nos acompanham desde o primeiro instante de nossa existência até estar definitivamente garantida nossa eterna beatitude.
Por isso a Igreja reza sobre as oferendas, na missa votiva dos santos anjos: “Nós vos apresentamos, ó Deus, com nossas humildes preces, estas oferendas de louvor; levadas pelos anjos à vossa presença, sejam recebidas com agrado e obtenham para nós a salvação”.

Alegram-se os anjos com a perseverança dos justos e a conversão dos pecadores (cf. Lc 15, 10). Procuram, por isso, levar os pecadores ao arrependimento e à penitência. O “anjo da penitência” ocupa um lugar especial na Patrística. O anjo deve excitar na alma a contrição. Mas se ele acorda em nós o remorso, será para o nosso bem e nossa paz. O “anjo da paz” passou da Patrística para a Liturgia. Nosso atual ritual romano exclama muitas vezes: “Esteja presente o anjo da paz!” Como confortou a Cristo em agonia (cf. Lc 22, 43), assim deve trazer também a nós a paz interior.

O anjo da guarda é particularmente invocado “para que nos ilumine”. Pode e deve haver com o anjo verdadeira “conversação”. Mas não é dado aos anjos penetrar em nossa intimidade mais profunda. Só Deus é o perscrutador dos corações. Falando da nossa consciência, ensina o Concílio Vaticano II que ela “é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus” (Gaudium et Spes, 16). Lá o anjo só entra se for convidado e lhe abrirmos o coração.

“Enviado por Deus para nos servir” (Hb 1, 14), alguma coisa real o anjo terá que fazer em nosso favor. Com ordem divina para nos ajudar, com vontade de socorrer, com possibilidade de auxiliar, com inúmeras oportunidades para isso, o anjo de fato nos favorece na medida em que nele confiarmos e a ele nos abrirmos. Mas também com relação aos anjos parece valer a admoestação do apóstolo: “Não apagueis o espírito” (1Ts 5, 19). Desgraçadamente, pode o homem “apagar o espírito”, anular sua ação, fechar-se em orgulhosa autossuficiência, não querer o auxílio do anjo, não confiar nele, não rezar a ele, ignorá-lo, desprezá-lo, pode até negar sua existência.

Devemos estar abertos para a ação do anjo, confiar nele, dar-lhe oportunidades, manifestar-lhe nossos pensamentos e desejos íntimos, querer receber suas iluminações, manter com ele verdadeiras relações de amizade: ele quer ser nosso companheiro e amigo!

Referências

Transcrito e levemente adaptado de “Espiritismo, orientação para os católicos”, 9.ª ed., São Paulo: Loyola, 2014, pp. 191-194.

A verdadeira razão pela qual católicos não podem ser maçons

Padre Paulo Ricardo | Ago 31, 2017

Três séculos após a fundação da primeira Grande Loja Maçônica, os princípios dessa instituição continuam frontalmente incompatíveis com a doutrina católica

Por Ed Condon [*] — O antagonismo recíproco entre a Igreja Católica e a Maçonaria está bem firmado e é de longa data. Durante a maior parte dos últimos 300 anos, as duas instituições têm sido reconhecidas, mesmo pela mentalidade secular, como implacavelmente opostas uma à outra. Em décadas recentes, a animosidade entre elas tem-se apagado da consciência pública em grande medida, devido ao menor envolvimento direto da Igreja em assuntos civis e à derrocada dramática da Maçonaria, tanto em números quanto em importância. Mas, por ocasião dos 300 anos da Maçonaria, vale a pena rever o que sempre esteve no “núcleo” da absoluta oposição da Igreja a esse grupo. Aparentemente, a Maçonaria pode não passar de um clube esotérico masculino, mas ela já foi, e continua sendo, um movimento filosófico altamente influente — e que impactou de modo dramático, ainda que sutil, a sociedade e a política modernas no Ocidente.

A história da Franco-maçonaria preenche, por si só, vastas páginas. A sua gradual transformação de guildas de pedreiros medievais em uma rede de sociedades secretas, com uma filosofia e um rito gnósticos próprios, pode ser lida com grande interesse. A versão mais recente da Franco-maçonaria teve início com a formação da Grande Loja da Inglaterra, em 1717, em um bar chamado Goose & Gridiron, próximo à Catedral londrina de São Paulo Apóstolo. Nos primeiros anos, antes que a Igreja fizesse qualquer pronunciamento formal sobre o assunto, muitos católicos já faziam parte da associação e a “diáspora” dos católicos e jacobitas ingleses foi crucial para espalhar a Franco-maçonaria na Europa continental. Ela chegou a se tornar, em alguns lugares, tão popular entre os católicos que o Rei Francisco I da Áustria serviu de protetor formal da instituição.

Mesmo assim, a Igreja se converteu na maior inimiga das lojas maçônicas. Entre o Papa Clemente XII, em 1738, e a promulgação do primeiro Código de Direito Canônico, em 1917, oito papas ao todo escreveram condenações explícitas à Franco-maçonaria. Todas previam a mais estrita pena eclesiástica para quem se associasse: excomunhão automática reservada à Sé Apostólica.

Mas o que a Igreja entendia, e entende hoje, por Franco-maçonaria? Que características fizeram com que ela merecesse uma tal condenação?

É comum ouvirmos dizer que a Igreja se opôs à Franco-maçonaria por causa do caráter supostamente revolucionário ou sedicioso das lojas. Está relativamente difundida a ideia de que as lojas maçônicas eram células essencialmente políticas para republicanos e outros reformistas, e a Igreja se opunha a elas para defender o velho regime absolutista, ao qual ela estava institucionalmente atrelada. No entanto, embora a sedição política eventualmente se sobressaísse na oposição da Igreja à Maçonaria, essa não era, em hipótese alguma, a razão originária de sua rejeição. O que Clemente XII denunciou originalmente não era uma sociedade republicana revolucionária, mas um grupo que propagava o indiferentismo religioso: a ideia de que todas as religiões (e nenhuma delas) têm igual validade, e que na Maçonaria estão todas unidas para servirem a um entendimento comum e mais elevado da virtude. Os católicos, como membros, deveriam colocar sua adesão à loja acima de sua pertença à Igreja. Em outras palavras, a proibição rigorosa da Igreja devia-se não a motivos políticos, mas ao cuidado com as almas.

Desde o princípio, a preocupação primária da Igreja foi a de que a Maçonaria submete a fé de um católico à da loja, obrigando-o a colocar uma fraternidade secularista fundamental acima da comunhão com a Igreja. A linguagem legal e as penalidades aplicadas nas condenações à Franco-maçonaria eram, na verdade, muito similares àquelas usadas na supressão dos albigenses: a Igreja vê a Franco-maçonaria como uma forma de heresia. Ainda que os próprios ritos maçônicos contenham um material considerável que pode ser chamado de herético — e até de explicitamente anticatólico, em alguns casos —, a Igreja sempre esteve muito mais preocupada com a filosofia geral da Franco-maçonaria do que com a ostentação de seus rituais.

Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a Igreja Católica e o seu lugar de privilégio no governo e na sociedade de muitos países europeus tornaram-se objeto de crescente oposição secular e até mesmo de violência. Existem, é verdade, poucas evidências históricas — se é que as há — de que as lojas maçônicas tenham desempenhado um papel ativo no início da Revolução Francesa. De qualquer modo, a causa dos horrores anticlericais e anticatólicos da Revolução pode ser encontrada na mentalidade secularista descrita pelas várias bulas papais que condenam a Maçonaria. As sociedades maçônicas foram condenadas não porque pretendessem ameaçar as autoridades civis e eclesiásticas, mas porque uma tal ameaça, na verdade, constituía a consequência inevitável de sua existência e crescimento. A revolução era o sintoma, não a doença.

A coincidência de interesses entre Igreja e Estado, e o ataque a elas empreendido por sociedades secretas revolucionárias, foram mais claros nos Estados Papais da Península Itálica, onde a Igreja e o Estado eram uma só coisa. Assim que começou o século XIX, ganhou notoriedade uma imitação da Franco-maçonaria, de caráter revolucionário explícito e oposição declarada à Igreja: eles se chamavam de Carbonari (“carbonários”, palavra italiana para “carvoeiros”) e, em sua campanha por um governo constitucional secular, praticavam tanto o assassinato quanto a insurreição armada contra os vários governos da Península Itálica, sendo identificados como uma ameaça imediata à fé, aos Estados Papais e à própria pessoa do Pontífice Romano.

A ligação entre a ameaça passiva da filosofia secreta maçônica e a conspiração ativa da Carbonária foi explicada na Constituição Apostólica Ecclesiam a Jesu Christo, do Papa Pio VII, promulgada em 1821. Mesmo tratando e condenando a oposição aberta e declarada dos Carbonari à governança temporal dos Estados Papais, ainda assim era claro que a mais grave ameaça colocada por essas células violentamente revolucionárias era a sua filosofia secularista.

Ao longo de todas as várias condenações papais à Franco-maçonaria, mesmo quando as lojas financiavam ativamente campanhas militares contra o papa, como fizeram com a conquista de Garibaldi e a unificação da Itália, o que sempre constituiu a primeira objeção da Igreja à Loja foi a ameaça que ela representava à fé dos católicos e à liberdade da Igreja de agir em sociedade. O fato de os ensinamentos da Igreja serem minados nas lojas, e a sua autoridade em matéria de fé e moral ser questionada, era repetidamente descrito como uma conspiração contra a fé, tanto nos indivíduos quanto em sociedade.

Na encíclica Humanum Genus, o Papa Leão XIII descreveu a agenda maçônica como sendo a exclusão da Igreja da participação em assuntos públicos e a perda gradual de seus direitos como um membro institucional da sociedade. Durante o seu tempo como papa, Leão escreveu um grande número de condenações à Franco-maçonaria, tanto no âmbito pastoral quanto no âmbito legislativo. Ele sublinhou em detalhes o que a Igreja considerava ser a agenda maçônica, agenda esta que, lida com um olhar contemporâneo, ainda é de uma relevância surpreendente.

Ele se referiu especificamente ao objetivo de secularizar o Estado e a sociedade. Ressaltou em particular a exclusão do ensino religioso das escolas públicas e o conceito de que “o Estado, que deve ser absolutamente ateu, tem o inalienável direito e dever de formar o coração e os espíritos de seus cidadãos” ( Dall’Alto dell’Apostolico Seggio, n. 6). Também denunciou abertamente o desejo maçônico de tirar da Igreja qualquer forma de controle ou influência sobre escolas, hospitais, instituições de caridade públicas, universidades e qualquer outra associação que servisse ao bem comum. Também deu um destaque específico ao impulso maçônico de repensar o matrimônio como um mero contrato civil, promover o divórcio e apoiar a legalização do aborto.

É praticamente impossível ler esta agenda e não reconhecer nela a base de quase todo o nosso discurso político contemporâneo. O fato de muitos de nossos principais partidos políticos, se não todos, apoiarem tranquilamente essas ideias, e o próprio conceito de Estado secular e suas consequências sobre a sociedade ocidental, incluindo a pervasiva cultura do divórcio e a disponibilidade quase universal do aborto, tudo isso é uma vitória da agenda maçônica. E isso levanta questões canônicas muito sérias sobre a participação católica no atual processo político secular.

Ao longo de séculos de condenações papais à Franco-maçonaria, era normal que cada papa incluísse nomes de novas sociedades que compartilhavam da filosofia e da agenda maçônicas e que, por isso, também deveriam ser entendidas pelos católicos, nos termos da lei canônica, como “maçônicas”. No século XX, isso chegou a incluir partidos políticos e movimentos como o comunismo.

Quando o Código de Direito Canônico foi reformado, após o Vaticano II, o cânon específico que proibia os católicos de aderirem a “seitas maçônicas” foi revisado. No novo código, promulgado em 1983 por São João Paulo II, a menção explícita à Franco-maçonaria foi retirada completamente. O novo cânon 1374 refere-se somente a associações “que maquine[m] contra a Igreja”. Muitos entenderam essa mudança como um indicativo de que a Franco-maçonaria não mais era considerada má aos olhos da Igreja. Na verdade, os membros do comitê responsável pela reforma esclareceram que eles queriam se referir não apenas aos franco-maçons, mas a muitas outras organizações; a conspiração da agenda secularista maçônica tinha-se espalhado para tão além das lojas que continuar usando um termo abrangente como “maçônico” seria confuso. O então Cardeal Ratzinger emitiu um esclarecimento da nova lei em 1983, no qual deixou claro que o novo cânon havia sido formulado para encorajar uma interpretação e uma aplicação mais abrangentes.

Dado o entendimento cristalino, no ensinamento da Igreja, do que a conspiração ou a agenda maçônica incluem — a saber, o matrimônio como um mero contrato civil aberto ao divórcio à vontade; o aborto; a exclusão do ensino religioso das escolas públicas; a exclusão da Igreja do provimento de bem-estar social ou do controle de instituições de caridade —, parece-nos impossível não perguntar: quantos de nossos partidos políticos no Ocidente não estariam agora sob a proibição do cânon 1374? A resposta talvez não agrade muito aqueles que querem ver um fim para a chamada “guerra cultural” dentro da Igreja.

Mais recentemente, o Papa Francisco tem falado repetidas vezes de sua grave preocupação com uma infiltração maçônica na Cúria e em outras organizações católicas. Ao mesmo tempo, ele alertou contra a Igreja se tornar uma mera ONG em seus métodos e objetivos — perigo que vem diretamente dessa mentalidade secularista a que a Igreja sempre chamou “filosofia maçônica”.

A infiltração maçônica na hierarquia e na Cúria tem sido tratada há muito tempo como uma espécie de versão católica do “bicho-papão” embaixo da cama, ou da paranoia macarthista com infiltrados comunistas. De fato, quando se conversa com pessoas que trabalham no Vaticano, rapidamente se descobre que, para cada dois ou três que riem dessa história, há pelo menos um que deparou diretamente com esse fato. Eu mesmo conheço pelo menos duas pessoas que, durante o tempo em que trabalharam em Roma, foram abordadas para se associarem. O papel das lojas maçônicas como ponto de encontros confidencial para pessoas com ideias e agendas heterodoxas mudou pouco desde a França pré-revolucionária até o Vaticano de hoje. 300 anos após a fundação da primeira Grande Loja Maçônica, o conflito entre a Igreja e a Franco-maçonaria nunca esteve tão vivo.

(Via Pe. Paulo Ricardo)