Discurso do Papa Francisco na Comunidade de Varginha

Discurso do Papa aos funcionários da Vila Pontifícia

Viagem Apostólica ao Brasil 
Discurso do Papa Francisco
Comunidade de Varginha – Rio de Janeiro
Quinta-feira, 25 de julho de 2013

Queridos irmãos e irmãs,

Que bom poder estar com vocês aqui! Desde o início, quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um “cafezinho”, não um copo de cachaça, como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós… Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dos brasileiros, que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço ao casal Rangler e Joana pelas suas belas palavras.

1. Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo – não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! Se pode colocar mais água no feijão? sempre? E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!

E povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura da solidariedade; a cultura da solidariedade. Ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E todos nós somos irmãos.

Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de “pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!

2. Queria dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu» (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboração em todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo e de todo o homem. Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar. Fome de dignidade. Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano.

3. Queria dizer uma última coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos tenham vida, e vida em abundância» (Jo 10,10).

Hoje a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer: Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as intenções que vocês carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolação nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bênção. Obrigado.

Homilia do Papa Francisco no Santuário Nacional de Aparecida

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Viagem Apostólica ao Brasil 
Homilia do Papa Francisco 
Santuário Nacional de Aparecida
Quarta-feira, 24 de julho de 2013

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“Também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria”, afirma Papa Francisco

Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,
Queridos irmãos e irmãs!

Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério de Sucessor de Pedro. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latinoamericano.

Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.

Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.

1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.

2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI: «O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861).

Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.

Fonte: Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé

Inauguração Polo de Atendimento para Dependentes Químicos

Brasão do Papa

Viagem Apostólica ao Brasil
Discurso do Papa Francisco
Inauguração Polo de Atendimento para Dependentes Químicos
Quarta-feira, 24 de julho de 2013

Senhor Arcebispo do Rio de Janeiro,
Amados Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades,
Queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
Prezado médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde,
Amados jovens e familiares!

Quis Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele irmão sofredor foi «mediador de luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta enc. Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês – vocês que são a carne de Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de vocês e também o meu.

Abraçar. Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa necessidade, como São Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores de morte” que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.

Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem para frente com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem para frente, existe «um futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias» (Carta Encícl. Lumen fidei, 57). A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!

No Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35). Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente nos irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40), diz-nos Jesus.

E quero repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês familiares que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está longe dos esforços que vocês fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençôo.

Fonte: Boletim da Sala de Imprensa da Santa Sé

Discurso do Papa Francisco no Palácio Guanabara

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Visita Apostólica do Papa Francisco ao Brasil 
Discurso no Palácio da Guanabara – RJ
Segunda-feira, 22 de julho de 2013

Senhora Presidenta,
Ilustres Autoridades,
Irmãos e amigos!

Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do meu Pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao Sucessor de Pedro. Dou graças a Deus pela sua benignidade.

Aprendi que para ter acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta. Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em seu Nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja com vocês!”

:: OUÇA discurso na íntegra:

Saúdo com deferência a Senhora Presidenta e os ilustres membros do seu Governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento e por suas palavras que externaram a alegria dos brasileiros pela minha presença em sua Pátria. Cumprimento também o Senhor Governador deste Estado, que amavelmente nos recebe na Sede do Governo, e o Senhor Prefeito do Rio de Janeiro, bem como os Membros do Corpo Diplomático acreditado junto ao Governo Brasileiro, as demais Autoridades presentes e todos quantos se prodigalizaram para tornar realidade esta minha visita.

Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus irmãos no Episcopado, sobre quem pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e às suas amadas Igrejas Particulares. Esta minha visita outra coisa não quer senão continuar a missão pastoral própria do Bispo de Roma de confirmar os seus irmãos na Fé em Cristo, de animá-los a testemunhar as razões da Esperança que d’Ele vem e de incentivá-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu Amor.

O motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido, transcende as suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração, ouvir de novo o seu potente e claro chamado: «Ide e fazei discípulos entre todas as nações».

Estes jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas diferentes, são portadores de variegadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade.

Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé” nos jovens e confia-lhes o futuro de sua própria causa: “Ide, fazei discípulos”. Ide para além das fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os jovens “botam fé” em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que possuem porque sabem que não serão desiludidos.

Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao dirigir-me aos jovens, falarei às suas famílias, às suas comunidades eclesiais e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações.

Os pais usam dizer por aqui: “os filhos são a menina dos nossos olhos”. Que bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de seguir em frente? O meu auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe interpelar por esta desafiadora pergunta.

A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo e, por isso, nos impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos.

Concluindo, peço a todos a delicadeza da atenção e, se possível, a necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta excluído do afeto do Papa. Depois de amanhã, se Deus quiser, tenho em mente recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando sua proteção materna sobre seus lares e famílias. Desde já a todos abençôo. Obrigado pelo acolhimento!

Fonte: Boletim da Santa Sé

O diálogo entre as gerações é um tesouro que deve ser conservado e alimentado

Palavras do Papa Francisco antes de recitar o Angelus nesta sexta- feira, no Rio de Janeiro

RIO DE JANEIRO, 26 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Nesta sexta-feira, pouco antes do meio dia, o Papa Francisco se dirigiu ao balcão do Palácio Apostólico da Arquidiocese do Rio de Janeiro para rezar o Angelus com os peregrinos presentes. Apresentamos a seguir as palavras pronunciadas pelo Papa antes da oração mariana. 

Caríssimos irmãos e amigos! Bom dia!

Dou graças à divina Providência por ter guiado meus passos até aqui, na cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Agradeço de coração sincero a Dom Orani e também a vocês pelo acolhimento caloroso, com que manifestam seu carinho pelo Sucessor de Pedro. Desejaria que a minha passagem por esta cidade do Rio renovasse em todos o amor a Cristo e à Igreja, a alegria de estar unidos a Ele e de pertencer a Igreja e o compromisso de viver e testemunhar a fé. Uma belíssima expressão da fé do povo é a “Hora da Ave Maria”. É uma oração simples que se reza nos três momentos característicos da jornada que marcam o ritmo da nossa atividade quotidiana: de manhã, ao meio-dia e ao anoitecer.

É, porém, uma oração importante; convido a todos a rezá-la com a Ave Maria. Lembra-nos de um acontecimento luminoso que transformou a história: a Encarnação, o Filho de Deus se fez homem em Jesus de Nazaré.

Hoje a Igreja celebra os pais da Virgem Maria, os avós de Jesus: São Joaquim e Sant’Ana. Na casa deles, veio ao mundo Maria, trazendo consigo aquele mistério extraordinário da Imaculada Conceição; na casa deles, cresceu, acompanhada pelo seu amor e pela sua fé; na casa deles, aprendeu a escutar o Senhor e seguir a sua vontade. São Joaquim e Sant’Ana fazem parte de uma longa corrente que transmitiua féo amor a Deus, no calor da família, até Maria, que acolheu em seu seio o Filho de Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a nós. Vemos aqui o valor precioso da família como lugar privilegiado para transmitir a fé! Olhando para o ambiente familiar, queria destacar uma coisa: hoje, na festa de São Joaquim e Sant’Ana, no Brasil como em outros países, se celebra a festa dos avós.

Como os avós são importantes na vida da família, para comunicar o patrimônio de humanidade e de fé que é essencial para qualquer sociedade! E como é importante o encontro e o diálogo entre as gerações, principalmente dentro da família. O Documento de Aparecida nos recorda: “Crianças e anciãos constroem o futuro dos povos; as crianças porque levarão por adiante a história, os anciãos porque transmitem a experiência e a sabedoria de suas vidas” (DAp 447). Esta relação, este diálogo entre as gerações é um tesouro que deve ser conservado e alimentado! Nesta Jornada Mundial da Juventude, os jovens querem saudar os avós. Eles saúdam os seus avós com muito carinho.Saudamos aos avós !E lhes agradecem pelo testemunho de sabedoria que nos oferecem continuamente. E agora, nesta praça, nas ruas adjacentes, nas casas que acompanham conosco este momento de oração, sintamo-nos como uma única grande família e nos dirijamos a Maria para que guarde as nossas famílias, faça delas lares de fé e de amor, onde se sinta a presença do seu Filho Jesus.

“Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!”

Discurso do Santo Padre Francisco pronunciado na visita ao Hospital São Francisco

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos as palavras do Santo Padre Francisco pronunciadas durante sua visita ao Hospital São Francisco de Assis na Providência de Deus (Hospital da Venerável Ordem Terceira da Penitencia\VOT) realizada na noite de quarta- feira, 24 de julho.

Senhor Arcebispo do Rio de Janeiro,
Amados Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades,
Queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
Prezados médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde,
Amados jovens e familiares, boa noite!

Quis Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele irmão sofredor foi «mediador de luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta Enc. Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês – vocês que são a carne de Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de vocês e também o meu.

Abraçar, abraçar. Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa necessidade, como fez São Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores de morte” que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.

Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem para frente com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem para frente, existe «um futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias» (Carta Encícl. Lumen fidei, 57). A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a esperança! Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!

No Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Quantas vezes nós dizemos: não é um meu problema! Quantas vezes olhamos para o outro lado e fingimos que não vemos. Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35). Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente nos irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40), diz-nos Jesus.

E quero repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês familiares que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está longe dos esforços que vocês fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençôo. Obrigado!

A cultura da solidariedade: ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão

Discurso do Santo Padre Francisco durante visita à Comunidade de Varginha

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos o discurso do Papa pronunciado durante sua visita à Comunidade de Varginha em Manguinhos.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Que bom poder estar com vocês aqui! Que bom! Desde o início, quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um “cafezinho”, não um copo de cachaça, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós… Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dos brasileiros, que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço a Dom Orani Tempesta e ao casal Rangler e Joana pelas suas belas palavras.

1. Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo – não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! Se pode colocar mais água no feijão? Sempre! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração! E povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Quase um palavrão: solidariedade. Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, não é! Mas sim a cultura da solidariedade. A cultura da solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E todos nós somos irmãos.

Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de “pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. Não deixemos! Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos, ninguém e descartável.Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! Pensemos na multiplicação dos pães de Jesus. A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!

2. Queria dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu» (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboração em todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem e de todo homem.

Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar. Fome de dignidade! Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano.

3. Queria dizer uma última coisa. Uma última coisa! Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos tenham vida, e vida em abundância» (Jo 10,10).

Hoje a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer: Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as intenções que vocês carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolação nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bênção.

Papa Francisco: “sempre se pode colocar mais água no feijão”!

Visita do Papa Francisco à favela da Varginha

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Hoje pela manhã, por volta das11h, o Papa Francisco visitou a favela de Varginha na cidade do Rio de Janeiro, depois de ter recebido de forma simbólica a chave da cidade, no Palácio da cidade.

“Francisco, eu te amo”, gritavam moradores e peregrinos reunidos na Favela, enquanto o Pontífice, sorridente, caminhava em meio à multidão.

Que impressão não causou ver o Papa se aproximar de um grupo de crianças e, de forma carinhosa, pedir-lhes silêncio, juntar as mãos e rezar uns segundos; acompanhar o Papa Francisco que pega a camiseta oferecida por um peregrino, colocá-a na frente e posa para uma foto; notar policiais sorrindo, crianças sendo beijadas e abraçadas pelo Papa; contemplar uma multidão que o apertava por todos os lados, quando entrou numa residência e lá permaneceu por uns minutos… Até parece que estamos vendo o Evangelho, “E seguia-o uma grande multidão, que o apertava” (Mc 5,24).

Discurso de acolhida da comunidade

Pedindo-lhe licença para “quebrar o protocolo” e chamar-lhe de Pai em vez de Papa, um jovem casal cumprimentou o “Pai Francisco, aquele que acolhe a todos”. “Muitos nos perguntaram porque essa comunidade foi escolhida”, disse o jovem. “Até nós fazemos essa pergunta, ressaltou.

O jovem disse que a favela da Varginha não entra nos grandes diários normalmente, mas está sempre nos diários policiais, porém, “Na vida, Deus sempre se faz presente e fortalece o seu povo com a presença de um novo amanhecer”, disse.

Discurso do Papa

Papa Francisco começou o seu discurso com um forte Bom dia, respondido quase que em coro por todos os presentes. “Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um ‘cafezinho’, não um pouco de cachaça –acrescentou de forma espontânea e alegre -, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós…” disse o Papa no início das suas palavras.

Riqueza

Referindo-se à calorosa acolhida que tem recebido no Brasil, Papa Francisco refletiu na importância de ser generoso. “É importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração”.

“A verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!”, como diz o ditado – disse o Papa – “sempre se pode colocar mais água no feijão”! destacando que o povo brasileiro sempre faz isso com amor e pode ensinar muito ao mundo.

 Solidariedade

Não é a cultura do egoísmo, não é a cultura do individualismo que constrói o mundo e o faz mais habitável, mas é a solidariedade, “a cultura da solidariedade”, afirmou o Papa.

“E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade”, palavra incômoda –disse o papa – “Que parece um palavrão” – acrescentou falando a braccio. E lançou um apelo às autoridades, pedindo-lhes que “não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário!”, pois é preciso “Ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão”, destacou o Papa.

Pacificação

O Pontífice fez também uma referência às “pacificações” realizadas em muitas das favelas do Rio de Janeiro, no último ano. O Papa encorajou e reconheceu o esforço da sociedade brasileira de “integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas”.

Porém, “Nenhum esforço de ‘pacificação’ – falou o Papa – será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”. “Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade”.

Fome de Felicidade

O Pontífice destacou a importância da ajuda social e da prioridade que a Igreja dá como “advogada da justiça”. “Certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar”, afirmou o Papa.

Destacou assim 5 pontos a ter em conta, cinco “pilares fundamentais que sustentam uma nação”: Vida, “que é dom de Deus”; família “fundamento da convivência e remédio contra a desagregação”; educação integral, que não é só “transmissão de informações”; saúde, que busque o bem integral; e segurança, “na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano”.

Diante dos constantes anti-testemunhos de corrupção que os jovens recebem a cada dia, o Papa quis dar um último conselho: “nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar”.

Por fim, o Papa concluiu com estas palavras e confiou tudo à Proteção de Nossa Senhora: “Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês”.

Francisco encontra os argentinos: Jovens e velhos contra a exclusão

Papa revela a esperança de uma Igreja que sai das igrejas e vai ao encontro do povo

Por Antonio Gaspari

ROMA, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Durante o encontro, no Rio de Janeiro, com bispos, sacerdotes, jovens e fiéis da Argentina, o Papa Francisco convidou os idosos e os jovens a construírem uma aliança que rejeite a cultura da exclusão.

Em uma igreja superlotada, com trinta mil pessoas de fora, na chuva, o Papa exortou fortemente os bispos e o clero a sair da igreja para ir ao encontro das pessoas.

Ele convidou os idosos a não aceitarem ser excluídos e “eutanasiados”. Pediu aos jovens para não aceitarem uma fé diluída, e se unirem aos mais velhos para testemunhar a mensagem do Filho de Deus que morreu na cruz.

Falando de improviso, o Bispo de Roma confessou nutrir a esperança de que a partir da JMJ Rio 2013 comece um movimento que fará a Igreja sair da Diocese e ir para as ruas, ao encontro das pessoas.

“Precisamos sair ou nos tornaremos uma organização não governamental, e a Igreja não pode ser uma ONG”, frisou. “Eu dou um conselho, e os bispos e aqueles que discordam me perdoem”, acrescentou.

Referindo-se à situação do mundo, Francisco explicou que estamos diante da “cultura do deus dinheiro que tende a excluir as pessoas.”

Os idosos, por exemplo, correm o risco da eutanásia, excluídos de cuidado, cultura e da sociedade.

De acordo com o Pontífice, o número de jovens sem trabalho é muito alto, e se não for remediado, o futuro da nossa sociedade está em risco.

Por isso Francisco propôs uma aliança entre os jovens que “devem sair e se afirmarem através da promoção de virtudes e valores” e os anciãos que “devem transmitir a sabedoria, memória e justiça”.

Papa Francisco fez um apelo aos jovens dizendo: “não andem contra as pessoas idosas, mas as escutem” e “avancem juntos, não se excluam”.

Falando da fé em Jesus Cristo, o Papa disse que “é uma coisa muito séria”. “Não é brincadeira”. “É um escândalo o fato de que Jesus morreu na cruz” – acrescentou. Mas o seu sacrifício na cruz continua a ser o único caminho certo”.

Papa Francisco concluiu dizendo: “neste momento eu sinto que é belo tê-los em meu coração. Eu gostaria de estar mais perto de vocês, obrigado por estarem perto de mim. Obrigado por suas orações. Eu preciso da oração de vocês.”

A legalização das drogas não reduz a dependência química

O papa Francisco visita o hospital São Francisco de Assis na Providência de Deus

Por Alfonso M. Bruno

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Do santuário mariano de Aparecida, o papa Francisco foi a outro “santuário”, o do sofrimento humano provocado pela doença e pelo vício em drogas e álcool.

O hospital São Francisco de Asis da Providência de Deus, visitado pelo papa na tarde de ontem, recebe pessoas com grave dependência de drogas e de álcool, disponibilizando 500 leitos para o seu tratamento.

Sua origem remonta ao desejo do jovem brasileiro Nélio Joel Ângelo Belotti, que queria imitar São Francisco de Assis.

A conversão do poverello de Assis teve um momento crucial depois que ele beijou um leproso, como foi destacado pelo papa Francisco em seu discurso no hospital, citando a sua recente encíclica Lumen Fidei, em que faz referência explícita a esse episódio, no qual um irmão marginalizado se torna o mediador da graça para o jovem de Assis, que está em busca de referências precisas para a sua vocação e missão na Igreja.

Nélio Joel se ordenou sacerdote em 1984, depois de fundar, com alguns poucos voluntários que podiam tomar conta de no máximo sete pacientes indigentes, uma obra que, vinte anos depois, na carne dos homens que carregam a cruz do sofrimento e da doença, mostra as evidências da intervenção do Crucificado.

É desses bons samaritanos que o Brasil e o mundo precisam, sobrecarregados como estão de indiferença e de egoísmo. É eficaz o exemplo de um jovem da “Terra da Vera Cruz, que se faz portador da esperança apesar dos poucos recursos humanos e financeiros.

O hospital está abrindo uma nova ala, abençoada pelo papa Francisco, com a especial característica de cuidar de jovens viciados em drogas sintéticas.

A todos os pacientes e às pessoas que os atendem no hospital, o papa quis expressar o seu afeto com um grande abraço.

“Todos precisamos olhar para o outro com os olhos do amor de Cristo”, disse Francisco. “Precisamos aprender a abraçar quem está em necessidade, para expressar proximidade, afeto, amor”.

E continuou: “Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão para aqueles que precisam, para aqueles que caíram na escuridão do vício, talvez sem saber como, e digamos: ‘Você consegue se levantar! É cansativo, mas você consegue, se quiser!’”.

O papa nos convidou, enfim, a passar do abraço para os atos. E, como bom pai e mestre, para que a assistência não vire assistencialismo, afirmou para cada vítima do vício em drogas: “Você é o protagonista da saída. Esta é a condição indispensável! Você vai encontrar a mão estendida de quem quer ajudar, mas ninguém pode se levantar no seu lugar”.

Depois, Francisco elogiou o trabalho dos médicos e dos profissionais que prestam antedimento psicológico às vítimas da dependência.

Ao tocar numa proposta de política tão polêmica quanto atual em vários países, o papa declarou:

“Não é com a liberalização do uso das drogas, como está sendo discutido em várias partes da América Latina, que iremos reduzir a propagação e a influência da dependência química. É necessário encarar os problemas que estão na raiz do seu uso, provendo mais justiça, educando os jovens nos valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldades e dando esperanças no futuro”.

Com a doçura de sempre, o papa dedicou palavras a todos e a cada um, mas também condenou com firmeza os “mercadores da morte”, os traficantes de drogas.

E a todos, repetiu: “Não deixem que roubem a sua esperança! Não roubemos a esperança! Mas sim, sejamos portadores de esperança!”.