Hoje, vim para lhes confirmar nesta fé, a fé no Cristo Vivo que mora dentro de vocês

Discurso do Papa Francisco na Festa de Acolhida, na Praia de Copacabana

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos o discurso do Papa Francisco na Festa da Acolhida que aconteceu nesta quinta-feira, 25 de julho, na praia de Copacabana.

Queridos jovens,

Boa tarde!

Vejo em vocês a beleza do rosto jovem de Cristo e meu coração se enche de alegria! Lembro-me da primeira Jornada Mundial da Juventude a nível internacional. Foi celebrada em 1987 na Argentina, na minha cidade de Buenos Aires. Guardo vivas na memória estas palavras do Bem-aventurado João Paulo II aos jovens: «Tenho muita esperança em vocês! Espero, sobretudo, que renovem a fidelidade de vocês a Jesus Cristo e à sua cruz redentora» (Discurso aos jovens (11 de abril de 1987): Insegnamenti, X/1 (1987), 1261).

Antes de continuar, queria lembrar o trágico acidente na Guiana francesa, no qual a jovem Sophie Morinière perdeu a vida, e que deixou outros jovens feridos. Convido-lhes a fazer um minuto de silêncio e dirigir ao Senhor a nossa oração por Sophie, pelos feridos e pelos familiares.

Este ano, a Jornada volta, pela segunda vez, à América Latina. E vocês, jovens, responderam numerosos ao convite do Papa Bento XVI, que lhes convocou para celebrá-la. Agradecemos-lhe de todo coração! O meu olhar se estende por esta grande multidão: vocês são muitíssimos! Vocês vêm de todos os continentes! Normalmente vocês estão distantes não somente do ponto de vista geográfico, mas também do ponto de vista existencial, cultural, social, humano. Mas hoje vocês estão aqui, ou melhor, hoje estamos aqui, juntos, unidos para partilhar a fé e a alegria do encontro com Cristo, de ser seus discípulos.

Nesta semana, o Rio se torna o centro da Igreja, o seu coração vivo e jovem, pois vocês responderam com generosidade e coragem ao convite que Jesus lhes fez de permanecerem com Ele, de serem seus amigos. O “trem” desta Jornada Mundial da Juventude, veio de longe e atravessou toda a Nação brasileira seguindo as etapas do projeto «Bote Fé». Hoje chegou ao Rio de Janeiro. Do Corcovado, o Cristo Redentor nos abraça e abençoa.

Olhando para este mar, para a praia e todos vocês, me vem ao pensamento o momento em que Jesus chamou os primeiros discípulos a segui-lo nas margens do lago de Tiberíades. Hoje Jesus ainda pergunta: Você quer ser meu discípulo? Você quer ser meu amigo? Você quer ser testemunha do meu Evangelho? No coração do Ano da Fé, estas perguntas nos convidam a renovar o nosso compromisso de cristãos. Suas famílias e comunidades locais transmitiram a vocês o grande dom da fé; Cristo cresceu em vocês. Hoje, vim para lhes confirmar nesta fé, a fé no Cristo Vivo que mora dentro de vocês; mas vim também para ser confirmado pelo entusiasmo da fé de vocês! Saúdo a todos com muito carinho. A vocês, aqui congregados dos cinco Continentes e, por meio de vocês, a todos os jovens do mundo, particularmente aqueles que não puderam vir ao Rio de Janeiro, mas estão em ligação conosco através do rádio, televisão e internet, digo: Bem-vindos a esta grande festa da fé! Em várias partes do mundo, neste mesmo instante, muitos jovens estão reunidos para viver juntos este momento: sintamo-nos unidos uns com os outros, na alegria, na amizade, na fé. E tenham a certeza: o meu coração de Pastor abraça a todos com afeto universal. O Cristo Redentor, do alto da montanha do Corcovado, lhes acolhe na Cidade Maravilhosa.

Quero saudar o Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, estimado Cardeal Estanislau Ryłko, e todos aqueles que com ele trabalham. Agradeço a Dom Orani João Tempesta, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, pela cordialidade com que me recebeu e pelo grande trabalho realizado para preparar esta Jornada Mundial da Juventude, junto com as diversas dioceses desse imenso Brasil. Agradeço a todas autoridades nacionais, estaduais e locais, além de outros envolvidos, para concretizar esse momento único de celebração da unidade, da fé e da fraternidade. Obrigado aos Irmãos no Episcopado, aos sacerdotes, seminaristas, pessoas consagradas e fieis que acompanham os jovens de diferentes partes do nosso planeta, na sua peregrinação rumo a Jesus. A todos e a cada um meu abraço afetuoso no Senhor.

Irmãos e amigos, bem-vindos à vigésima oitava Jornada Mundial da Juventude, nesta cidade maravilhosa do Rio de Janeiro!

(Fonte:CN noticias)

“Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria”

Homilia pronunciada pelo Papa Francisco em Aparecida: três posturas para transmitir aos jovens valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno

APARECIDA DO NORTE, 24 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos a homilia do Santo Padre Francisco pronunciada nesta quarta-feira, 24 de julho, na Santa Missa na Basílica do Santuário de Aparecida do Norte.  

Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,

Queridos irmãos e irmãs!

Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério de Sucessor de Pedro. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.

Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.

Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.

1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.

2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI: «O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861).

Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.

A oração e a ação estão sempre profundamente unidas

Palavras do Papa Francisco antes de recitar o Angelus no domingo

ROMA, 22 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos as palavras do Papa Francisco pronunciadas antes de recitar a oração mariana do Angelus no domingo, 21 de julho.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Neste domingo, continua a leitura do décimo capítulo do evangelista Lucas. O trecho de hoje é o de Marta e Maria.

Quem são essas duas mulheres? Marta e Maria, irmãs de Lázaro, são parentes e discípulas fiéis do Senhor, que moram em Betânia. São Lucas descreve as duas da seguinte maneira: Maria, aos pés de Jesus, “escutava a sua palavra”, enquanto Marta estava ocupada em muitos serviços (cf. Lc 10, 39-40).

Ambas oferecem hospitalidade ao Senhor, que está de passagem, mas fazem isso de maneiras diferentes. Maria se coloca aos pés de Jesus, ouvindo, e Marta se deixa absorver pelas coisas a preparar. E é assim, ocupada, que ela se volta a Jesus e diz: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe sozinha para servir? Diz-lhe que me ajude” (v. 40). E Jesus, respondendo, a repreende com doçura: “Marta, Marta, tu te inquietas e te preocupas com muitas coisas, quando só uma é necessária…” (v. 41).

O que Jesus quis dizer com isso? Qual é essa única coisa de que nós precisamos?

Primeiro, é importante entender que não é uma contraposição entre duas atitudes: a escuta da Palavra do Senhor, a contemplação, e o serviço prático aos outros. Não são duas atitudes opostas; pelo contrário, ambas são aspectos essenciais da nossa vida cristã: aspectos que não devem ser separados, mas vividos em profunda unidade e harmonia.

Então, por Marta recebe a repreensão, mesmo que feita com doçura? Porque ela considerou essencial apenas o que ela estava fazendo; ela estava muito absorta e preocupada com as coisas a “fazer”. No cristão, as obras de serviço e de caridade nunca devem ser separadas da fonte principal de todas as nossas ações: a escuta da Palavra do Senhor, o gesto de estar, como Maria, aos pés de Jesus, na atitude do discípulo. E foi por isso que Marta foi repreendida.

Também na nossa vida cristã, a oração e a ação estão sempre profundamente unidas. Uma oração que não leva às ações concretas em favor do irmão pobre, doente, necessitado de ajuda, do irmão em dificuldade, é uma oração estéril e incompleta. Mas, da mesma forma, quando no serviço eclesial ficamos atentos apenas ao fazer, quando damos mais peso às coisas, às funções, às estruturas, esquecendo-nos da centralidade de Cristo e não reservando tempo para o diálogo com Ele na oração, então corremos o risco de servir a nós mesmos e não a Deus presente no irmão necessitado. São Bento resumia o estilo de vida que apresentava aos seus monges em duas palavras: “ora et labora”, reza e trabalha. É da contemplação, de uma forte amizade com o Senhor, que nasce em nós a capacidade de viver e de transmitir o amor de Deus, a sua misericórdia e a sua ternura para com os outros. E o nosso trabalho com o irmão em necessidade, o nosso trabalho de caridade nas obras de misericórdia, nos leva ao Senhor porque vemos justamente o Senhor no irmão e na irmã necessitados.

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe da escuta e do serviço, que nos ensine a refletir em nosso coração sobre a palavra do seu Filho, a orar fielmente, para sermos cada vez mais atentos às necessidades concretas dos irmãos.


Depois do ângelus

Saúdo com afeto os peregrinos presentes: famílias, paróquias, associações, movimentos e grupos. Em particular, saúdo os fiéis de Florença, de Foggia e de Villa Castelli, e os coroinhas de Conselve com as suas famílias.

E vejo escrito lá embaixo: “Boa viagem!”. Obrigado! Obrigado! Peço a vocês para me acompanharem espiritualmente, com a oração,na viagemque vou fazer a partir de amanhã.

Como vocês sabem, vou ao Rio de Janeiro, no Brasil, para a 28ª Jornada Mundial da Juventude. Haverá muitos jovens, lá, de todas as partes do mundo. E eu acho que esta pode ser chamada de Semana da Juventude; isso, a Semana da Juventude! Os protagonistas dessa semana vão ser os jovens. Todos aqueles que vão ao Rio querem ouvir a voz de Jesus, escutar Jesus: “Senhor, o que eu devo fazer da minha vida? Qual é o caminho para mim?”. Vocês também, não sei se há jovens hoje, aqui na praça. Há jovens? Ah! Vocês também, jovens que estão na praça, façam a mesma pergunta ao Senhor: “Senhor Jesus, o que eu devo fazer com a minha vida? Qual é o caminho para mim?”.

Confiemos à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, tão amada e venerada no Brasil, essas perguntas: aquela que os jovens farão lá, e esta que vocês vão fazer hoje. E que Nossa Senhora nos ajude nessa nova etapa da peregrinação.

Desejo a todos vocês um bom domingo! Bom almoço. Até logo!

“Deus sempre quer a misericórdia e não a condenação”

Palavras do Papa Francisco antes de recitar o Angelus em Castel Gandolfo

ROMA, 14 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Às 12 horas de hoje, na Praça da Liberdade em frente ao Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, o Santo Padre Francisco rezou a oração do Angelus com os fiéis e peregrinos presentes. Estas foram as palavras do Papa:

“Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje o nosso encontro dominical do Angelus vivemos aqui em Castel Gandolfo. Eu saúdo os habitantes desta linda cidadezinha! Gostaria de vos agradecer, sobretudo pelas vossas orações, e o mesmo faço com todos vocês peregrinos, que vieram em grande número aqui.

O Evangelho de hoje – estamos no capítulo 10 de Lucas – é a famosa parábola do Bom Samaritano. Quem era esse homem? Era alguém, que descia de Jerusalém em direção à Jericó na estrada que atravessa o deserto da Judéia. Há pouco, nesta estrada, um homem havia sido atacado por bandidos, roubado, espancado e deixado quase morto. Antes do samaritano, passaram um sacerdote e um levita, ou seja, duas pessoas envolvidas com o culto no Templo do Senhor. Eles vêem aquele pobre homem, mas seguem sem parar. Em vez disso, o samaritano, quando viu o homem, “teve compaixão” (Lc 10:33), diz o Evangelho. Ele aproximou-se e enfaixou as feridas, derramando um pouco de azeite e vinho, depois e colocou-o em seu próprio animal e levou-o para uma hospedaria, e pagou para ele o alojamento … Quer dizer, cuidou dele: é o exemplo de amor ao próximo. Mas porque Jesus escolheu um samaritano como protagonista desta parábola? Por que os samaritanos eram desprezados pelos judeus, por causa de diferentes tradições religiosas; e Jesus faz ver que o coração daquele Samaritano é bom e generoso e que – ao contrário do sacerdote e do levita – ele coloca em prática a vontade de Deus, que quer a misericórdia e não o sacrifício (cf. Mc 12:33). Deus sempre quer a misericórdia e não a condenação. Quer a misericórdia do coração, porque Ele é misericordioso e sabe entender bem as nossas misérias, as nossas dificuldades e também os nossos pecados. Dá a todos nós este coração misericordioso! O samaritano faz exatamente isto: imita a misericórdia de Deus, a misericórdia para aqueles que tem necessidade.

Um homem que viveu plenamente este Evangelho do Bom Samaritano é o Santo que hoje recordamos: São Camilo de Lellis, fundador dos Ministros dos Enfermos, o padroeiro dos doentes e dos profissionais de saúde. São Camilo morreu 14 de julho de 1614 e exatamente hoje se abre a celebração do seu quarto centenário, que terá o seu ápice em um ano. Saúdo com grande afeto a todos os filhos e filhas espirituais de São Camilo, que vivem o seu carisma de caridade no contato diário com os doentes. Sejam como ele bons samaritanos! E também aos médicos, aos enfermeiros e àqueles que trabalham em hospitais e asilos, auguro serem animados pelo mesmo espírito. Confiemos esta intenção à intercessão de Maria Santíssima.

E uma outra intenção eu gostaria de confiar à Nossa Senhora, junto a todos vocês. Está próxima a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro. Se vê que existem tantos jovens de idade, mas todos vocês são jovens no coração! Parabéns! Eu partirei em oito dias, mas muitos jovens irão ao Brasil antes. Rezemos então por esta grande peregrinação que começa, para que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, guie os passos dos participantes e abra os seus corações para acolher a missão que Cristo dará a eles”.

(Após o Angelus)

Me uno em oração aos Prelados e fiéis da Igreja na Ucrânia, reunidos na Catedral de Lutsk para a Missa em sufrágio das vítimas dos massacres de Volinia, ocorridos 70 anos atrás. Tais atos, provocados pela ideologia nacionalista no trágico contexto da II Guerra Mundial, provocaram dezenas de milhares de vítimas e feriram as relações fraternas entre dois povos – polonês e ucraniano. Confio á misericórdia de Deus as almas das vítimas, e para os seus povos, peço a graça de uma profunda reconciliação e de um futuro sereno na esperança e na sincera colaboração pela comum edificação do Reino de Deus.

Penso também nos pastores e fieis que participam da peregrinação da Família da Radio MariaJasnaGóra, Częstochowa.Confio-vos à proteção da Mãe de Deus eabençôo-vosde coração.

Saúdo com afeto os fiéis da Diocese de Albano! Invoco sobreelesa proteção de São Boaventura, patrono,cuja festa a Igreja celebraamanhã. Que sejauma boa festae muitas felicidades! Saúdo todos os peregrinos aqui presentes: os gruposparoquiais, famílias, jovens, especialmente aqueles que vieram da Irlanda; jovens surdos que estãoparticipando de um encontro internacional em Roma.

Saúdo as Irmãs deSantaElizabeth,às quais augurouma renovação espiritual frutífera; os Apóstolos do Sagrado Coração de Jesus, com as famílias de diferentes nações; as Filhas da Caridade Divina,empenhadasno Capítulo Geral; e asSuperiorasdas Filhas de Maria Auxiliadora.

Desejo a todos um bom domingo e um bom almoço!

(Trad.Radio Vaticana\Zenit)

O foco não é socializar, passar o tempo juntos, o foco é anunciar o Reino de Deus

Palavras do Papa Francisco pronunciadas neste domingo antes da tradicional oração mariana do Angelus

CIDADE DO VATICANO, 07 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs! Bom dia!

Antes de tudo desejo partilhar convosco a alegria de ter encontrado, ontem e hoje, uma peregrinação especial do Ano da Fé: aquela dos seminaristas, noviços e noviças. Peço-vos para rezarem por eles, para que o amor por Cristo amadureça sempre mais na vida deles e eles se tornem verdadeiros missionários do Reino de Deus.

O Evangelho deste domingo (Lc 10,1-12.17-20) nos fala propriamente disto: do fato de que Jesus não é um missionário isolado, não quer cumprir sozinho a sua missão, mas envolve os seus discípulos. E hoje vemos que, além dos Doze apóstolos, chama outros setenta e dois, e os manda às aldeias, dois a dois, a anunciar que o Reino de Deus está próximo. Isto é muito belo! Jesus não quer agir sozinho, veio para trazer ao mundo o amor de Deus e quer difundi-lo com o estilo da comunhão, com o estilo da fraternidade. Por isto forma imediatamente uma comunidade de discípulos, que é uma comunidade missionária. Imediatamente os prepara para a missão, para ir.

Mas atenção: o foco não é socializar, passar o tempo juntos, não, o foco é anunciar o Reino de Deus, e isto é urgente! E também hoje é urgente! Não há tempo a perder batendo papo, não é preciso esperar o consenso de todos, é preciso ir e anunciar. A todos leva a paz de Cristo, e se não a acolhem, se segue em frente da mesma maneira. Aos doentes se leva a cura, porque Deus quer curar o homem de todo mal. Quantos missionários fazem isto! Semeiam vida, saúde, conforto às periferias do mundo. Que belo é isto! Não viver para si mesmo, não viver para si mesma, mas vive para ir e fazer o bem! Tantos jovens estão hoje na Praça: pensem nisso, questionem: Jesus me chama a ir, a sair de mim e fazer o bem? A vocês, jovens, a vocês rapazes e moças, pergunto: vocês são corajosos para isto, têm a coragem de ouvir a voz de Jesus? É belo ser missionários!… Ah, são bravos! Eu gosto disso!

Estes setenta e dois discípulos, que Jesus envia à sua frente, quem são? Quem representam? Se os Doze são os Apóstolos, e então, representam também os Bispos, seus sucessores, estes setenta e dois podem representar os outros ministros ordenados, presbíteros e diáconos; mas em sentido mais amplo, podemos pensar nos outros ministérios na Igreja, nos catequistas, nos fiéis leigos que se empenham nas missões paroquiais, em quem trabalha com os doentes, com as diversas formas de desconforto e alienação; mas sempre como missionários do Evangelho, com a urgência do Reino que está próximo. Todos devem ser missionários, todos podem ouvir aquele chamado de Jesus e ir adiante e anunciar o Reino!

Diz o Evangelho que aqueles setenta e dois voltaram da sua missão repletos de alegria, porque tinham experimentado o poder do Nome de Cristo contra o mal. Jesus confirma isso: a estes discípulos Ele dá a força para derrotar o maligno. Mas acrescenta: “Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam nos céus” (Lc 10, 20). Não devemos nos vangloriar como se fôssemos nós os protagonistas: protagonista é um só, é o Senhor! Protagonista é a graça do Senhor! Ele é o único protagonista! E a nossa alegria é somente esta: ser seus discípulos, seus amigos. Ajude-nos Nossa Senhora a sermos bons operários do Evangelho.

Queridos amigos, a alegria! Não tenham medo de ser alegres! Não tenham medo da alegria! Aquela alegria que nos dá o Senhor quando O deixamos entrar na nossa vida, deixamos que Ele entre na nossa vida e nos convide a sair de nós para as periferias da vida e anunciar o Evangelho. Não tenham medo da alegria. Alegria e coragem!

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

Como vocês sabem, ha dois dias foi publicada a Encíclica sobre a fé, intitulada Lumen Fidei, “a luz da fé”. Por ocasião do Ano da Fé,o Papa emérito Bento XVI iniciou esta encíclica, após a da caridade e esperança. Eu peguei esse projeto e o concluí. Eu o ofereço com alegria a todo o Povo de Deus. Hoje, especialmente precisamos ir ao essencial da fé cristã, precisamos aprofundá-la e confrontá-la com as problemáticas atuais. Acredito que esta encíclica, pelo menos em algumas partes, poderá ser útil para aqueles que estão à procura de Deus e do sentido da vida. Eu a coloco nas mãos de Maria, ícone perfeita da fé, para que possa dar os frutos que o Senhor deseja.

Dirijo minha cordial saudação a todos, caros fiéis de Roma e peregrinos. Saúdo especialmente os jovens da Diocese de Roma que se preparam para partir para o Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude. Queridos jovens, eu também estou me preparando! Caminhemos juntos rumo a esta grande festa da fé; Maria nos acompanhe, e nos encontramos lá!

Saúdo as Irmãs Rosminianas e as Franciscanas Angelinas que realizam seus Capítulos Gerais e os responsáveis pela Comunidade de Santo Egídio que vieram de vários países para o curso de formação. A todos auguro um bom domingo! Bom almoço! Adeus.

“A missão é sobretudo graça”

 

Homilia do Papa Francisco na missa com os seminaristas, noviços, noviças, que estão em caminhada vocacional

 

CIDADE DO VATICANO, 07 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos a homilia do Papa Francisco pronunciada neste domingo, 07 de julho, na Missa com os seminaristas, noviços, noviças, que estão em caminhada vocacional.  

Amados irmãos e irmãs!

Já ontem tive a alegria de vos encontrar, e hoje a nossa festa é ainda maior porque nos reunimos para a Eucaristia, no Dia do Senhor. Sois seminaristas, noviços e noviças, jovens em caminhada vocacional, vindos dos diversos cantos do mundo: representais a juventude da Igreja. Se a Igreja é a Esposa de Cristo, de certo modo vós representais o seu tempo de noivado, a primavera da vocação, o período da descoberta, do discernimento, da formação. E é um período muito belo, em que se lançam as bases do futuro. Obrigado por terdes vindo!

Hoje a Palavra de Deus fala-nos da missão. Donde nasce a missão? A resposta é simples: nasce de uma chamada – a do Senhor – e Ele chama para ser enviado. Qual deve ser o estilo do enviado? Quais são os pontos de referência da missão cristã? As leituras que ouvimos sugerem-nos três: a alegria da consolação, a cruz e a oração.

1. O primeiro elemento: a alegria de consolação. O profeta Isaías dirige-se a um povo que atravessou o período escuro do exílio, sofreu uma prova muito dura; mas agora, para  Jerusalém, chegou o tempo da consolação; a tristeza e o medo devem dar lugar à alegria: «Alegrai-vos (…), rejubilai (…) regozijai-vos» – diz o Profeta (66, 10). É um grande convite à alegria. Porquê? Qual é o motivo deste convite à alegria? Porque o Senhor derramará sobre a Cidade Santa e seus habitantes uma «cascata» de consolação, uma cascata de consolação – ficando assim repletos de consolação –, uma cascata de ternura materna: «Serão levados ao colo e acariciados sobre os seus regaços» (v. 12). Como faz a mãe quando põe o filho no regaço e o acaricia, assim o Senhor fará connosco… faz connosco. Esta é a cascata de ternura que nos dá tanta consolação. «Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei» (v. 13). Cada cristão, mas sobretudo nós, somos chamados a levar esta mensagem de esperança, que dá serenidade e alegria: a consolação de Deus, a sua ternura para com todos. Mas só podemos ser seus portadores, se experimentarmos nós primeiro a alegria de ser consolados por Ele, de ser amados por Ele. Isto é importante para que a nossa missão seja fecunda: sentir a consolação de Deus e transmiti-la! Algumas vezes encontrei pessoas consagradas que têm medo da consolação de Deus e… pobrezinho, pobrezinha delas, se amofinam porque têm medo desta ternura de Deus. Mas não tenhais medo. Não tenhais medo, o nosso Deus é o Senhor da consolação, o Senhor da ternura. O Senhor é Pai e Ele disse que procederá connosco como faz uma mãe com o seu filho, com a ternura dela. Não tenhais medo da consolação do Senhor. O convite de Isaías: «consolai, consolai o meu povo» (40,1) deve ressoar no nosso coração e tornar-se missão. Encontrarmos, nós, o Senhor que nos consola e irmos consolar o povo de Deus: esta é a missão. Hoje as pessoas precisam certamente de palavras, mas sobretudo têm necessidade que testemunhemos a misericórdia, a ternura do Senhor, que aquece o coração, desperta a esperança, atrai para o bem. A alegria de levar a consolação de Deus!

2. O segundo ponto de referência da missão é a cruz de Cristo. São Paulo, ao escrever aos Gálatas, diz: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo» (6, 14). E fala de «estigmas», isto é, das chagas de Jesus crucificado, como selo, marca distintiva da sua vida de apóstolo do Evangelho. No seu ministério, Paulo experimentou o sofrimento, a fraqueza e a derrota, mas também a alegria e a consolação. Isto é o mistério pascal de Jesus: mistério de morte e ressurreição. E foi precisamente o ter-se deixado configurar à morte de Jesus que fez São Paulo participar na sua ressurreição, na sua vitória. Na hora da escuridão, na hora e da prova, já está presente e operante a alvorada da luz e da salvação. O mistério pascal é o coração palpitante da missão da Igreja. E, se permanecermos dentro deste mistério, estamos a coberto quer de uma visão mundana e triunfalista da missão, quer do desânimo que pode surgir à vista das provas e dos insucessos. A fecundidade pastoral, a fecundidade do anúncio do Evangelho não deriva do sucesso nem do insucesso vistos segundo critérios de avaliação humana, mas de conformar-se com a lógica da Cruz de Jesus, que é a lógica de sair de si mesmo e dar-se, a lógica do amor. É a Cruz – sempre a Cruz com Cristo, porque às vezes oferecem-nos a cruz sem Cristo: esta não vale! É a Cruz, sempre a Cruz com Cristo – que garante a fecundidade da nossa missão. E é da Cruz, supremo acto de misericórdia e amor, que se renasce como «nova criação» (Gl 6, 15).

3. Finalmente, o terceiro elemento: a oração. Ouvimos no Evangelho: «Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). Os trabalhadores para a messe não são escolhidos através de campanhas publicitárias ou apelos ao serviço da generosidade, mas são «escolhidos» e «mandados» por Deus. É Ele que escolhe, é Ele que manda; sim, é Ele que manda, é Ele que confere a missão. Por isso é importante a oração. A Igreja – repetia Bento XVI – não é nossa, mas de Deus; e quantas vezes nós, os consagrados, pensamos que seja nossa! Fazemos dela… qualquer coisa que nos vem à cabeça. Mas não é nossa; é de Deus. O o campo a cultivar é d’Ele. Assim, a missão é sobretudo graça. A missão é graça. E, se o apóstolo é fruto da oração, nesta encontrará a luz e a força da sua acção. De contrário, a nossa missão não será fecunda; mais, apaga-se no próprio momento em que se interrompe a ligação com a fonte, com o Senhor.

Queridos seminaristas, queridas noviças e queridos noviços, queridos jovens em caminhada vocacional! Há dias, um de vós, um dos vossos formadores, dizia-me: évangéliser on le fait à genoux, a evangelização faz-se de joelhos. Ouvi bem: «A evangelização faz-se de joelhos». Sede sempre homens e mulheres de oração! Sem o relacionamento constante com Deus a missão torna-se um ofício. Mas que trabalho fazes? Trabalho de alfaiate, de cozinheira, de padre… Trabalhas de padre, de freira? Não. Não é um ofício, é diverso. O risco do activismo, de confiar demasiado nas estruturas, está sempre à espreita. Se olhamos a vida de Jesus, constatamos que, na véspera de cada decisão ou acontecimento importante, Ele Se recolhia em oração intensa e prolongada. Cultivemos a dimensão contemplativa, mesmo no turbilhão dos compromissos mais urgentes e pesados. E quanto mais a missão vos chamar para ir para as periferias existenciais, tanto mais o vosso coração se mantenha unido ao de Cristo, cheio de misericórdia e de amor. Aqui reside o segredo da fecundidade pastoral, da fecundidade de um discípulo do Senhor!

Jesus envia os seus sem «bolsa, nem alforge, nem sandálias» (Lc 10, 4). A difusão do Evangelho não é assegurada pelo número das pessoas, nem pelo prestígio da instituição, nem ainda pela quantidade de recursos disponíveis. O que conta é estar permeados pelo amor de Cristo, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e enxertar a própria existência na árvore da vida, que é a Cruz do Senhor.

Queridos amigos e amigas, com grande confiança vos  confio à intercessão de Maria Santíssima. Ela é a Mãe que nos ajuda a tomar as decisões definitivas com liberdade, sem medo. Que Ela vos ajude a testemunhar a alegria da consolação de Deus, sem ter medo da alegria; Ela vos ajude a conformar-vos com a lógica de amor da Cruz, a crescer numa união cada vez mais intensa com o Senhor na oração. Assim a vossa vida será rica e fecunda

 

Jesus quer os cristãos livres como Ele

Papa Francisco antes de recitar o Angelus comenta o Evangelho do dia

CIDADE DO VATICANO, 30 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Milhares de pessoas estavam na Praça de São Pedro hoje para rezar o Angelus com o Papa. Antes de recitar a oração mariana, o Papa Francisco comentou o evangelho do dia.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste domingo (Lc 9, 51-62) mostra uma passagem muito importante na vida de Cristo: o momento em que – como escreve São Lucas – “manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.”(9,51). Jerusalém é o destino final, onde Jesus, em sua última Páscoa, deve morrer e ressuscitar, e, assim, cumprir sua missão de salvação.

Desde aquele momento, após a “firme decisão”, Jesus fixa a meta, e também para as pessoas que ele encontra e que lhe pedem para segui-lo, ele diz claramente quais são as condições:não ter uma moradia estável; desapegar-se dos afetos humanos; não ceder à nostalgia do passado.

E Jesus disse também aos seus discípulos, instruídos a precedê-lo em seu caminho para Jerusalém para anunciar sua passagem, de não impor nada:se não encontrarem disponibilidade a acolhê-Lo, que continuem, que se prossiga. Jesus jamais impõe, Ele é humilde e convida. Sevocê quiser, venha. A humildade de Jesus é assim: Ele convida sempre, não impõe.

Tudo isso nos faz pensar. Nos fala, por exemplo, a importância que, mesmo para Jesus teve a consciência: de ouvir em seu coração a voz do Pai e segui-la. Jesus, em sua vida terrena, não foi, por assim dizer, “teleguiado”:era o Verbo encarnado, o Filho de Deus feito homem, e a um certo ponto tomou a firme decisão de ir a Jerusalém pela última vez; uma decisão tomada na sua consciência, mas não sozinho: com o Pai, em plena união com Ele! Decidiu em obediênciaao Pai, em escuta profunda,intimo de sua vontade. E por isso a decisão era firme, porque tomada com o Pai.E no Pai, Jesus encontrava a força e a luz para seu caminho. E Jesus era livre, naquela decisão estava livre. Jesus quer os cristãos livres como Ele, com a liberdade que vem deste diálogo com o Pai, a partir deste diálogo com Deus. Jesus não quer nem cristãos egoístas, que seguem o próprio eu, não falam com Deus; nem cristãos fracos, cristãos, que não têm vontade, cristãos, “teleguiados”, incapazes de criatividade, que tentam sempre se conectar com a vontade do outro, e não são livres. Jesus nos quer livres e esta liberdade, onde se realiza? Se realiza no diálogo com Deus na sua consciência. Se um cristão não sabe como falar com Deus, não sabe ouvir a Deus em sua própria consciência, não é livre, não é livre.

Por isso, devemos aprender a escutar mais a nossa consciência. Mas atenção! Isso não significa seguir o próprio eu, fazer o que me interessa, o que me convém, o que eu gosto… Não é isso! A consciência é o espaço interior da escuta da verdade, do bem, da escuta de Deus; é o lugar interior da minha relação com Ele, que fala ao meu coração e me ajuda a discernir, a compreender o caminho que deve percorrer, e uma vez tomada a decisão, a ir avante, a permanecer fiel.

Tivemos um exemplo maravilhoso de como é esta relação com Deus na própria consciência,um recente exemplo maravilhoso. O PapaBento XVI nos deu um grande exemplo quando o Senhor lhe fez entender, na oração, qual era o passo que ele tinha que dar. Ele seguiu, com grande sentido de discernimento e coragem, a sua consciência, ou seja, a vontade de Deus que falava ao seu coração.E este exemplo do nosso Pai faz bem a todos nós, comoum exemplo a seguir.

Nossa Senhora, com grande simplicidade, escutava e meditava no íntimo de si a Palavra de Deus e o que estava acontecendo com Jesus. Seguiu seu Filho com profunda convicção, com firme esperança. Marianos ajude a nos tornar sempre mais homens e mulheres de consciência,livres na consciência, pois é na consciência que se dá o diálogo com Deus; homens e mulherescapazes de escutar a voz de Deus e segui-la com decisão.

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje, na Itália, celebramos o Dia da caridade do Papa. Desejo agradecer aos Bispos e a todas as paróquias, especialmente as mais pobres, pelas orações e ofertas que socorrem tantas iniciativas pastorais e caritativas do Sucessor de Pedro em todas as partes do mundo. Obrigado a todos!”

Dirijo de coração a minha cordial saudação a todos os peregrinos presentes, em particular aos numerosos fiéis da Alemanha. Saúdo também os peregrinos de Madrid, Augsburg, Sonnino, Casarano, Lenola, Sambucetole e Montegranaro, o grupo de dominicanos leigos, a Fraternidade apostólica da Divina Misericórdia de Piazza Armerina, os Amigos das missões do Preciosíssimo Sangue, UNITALSI de Ischia di Castro e os meninos de Latisana.

Por favor, rezem por mim. Desejo a todos um bom domingo e um bom almoço. Arrivederci!

“O coração da mensagem de Deus é a misericórdia”

Homilia do papa Francisco na missa desta sexta-feira, concelebrada com cardeal venezuelano

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 05 de Julho de 2013 (Zenit.org) – “O coração da mensagem de Deus é a misericórdia”, destacou hoje o papa Francisco na missa da Casa Santa Marta, comentando o evangelho sobre a vocação de Mateus. Concelebrou com ele o cardeal Jorge Liberato Urosa, arcebispo de Caracas, no dia da festa nacional da Venezuela. Assistiu à missa um grupo de funcionários do Vaticano.

“Eu quero misericórdia e não sacrifício”: o papa repete as palavras de Jesus aos fariseus, que o criticam por comer com os pecadores. Os publicanos, explica o papa, “eram duplamente pecaminosos, porque estavam apegados ao dinheiro e porque eram traidores da pátria”, já que recolhiam os impostos do seu próprio povo para entregar aos romanos. Jesus vê Mateus, o arrecadador de impostos, e olha para ele com misericórdia:

“Jesus olha para aquele homem, sentado na banca de impostos, e aquele homem sente algo no olhar de Jesus, fica maravilhado no espírito, e escuta o convite de Jesus: ‘Segue-me! Segue-me!’. E naquele momento, ele se torna um homem cheio de alegria, mas também fica um pouco em dúvida, porque é muito apegado ao dinheiro. E basta um momento a sós, que nós sabemos como Caravaggio conseguiu expressar: aquele homem que olhava, mas que também, com as mãos, segurava o dinheiro… basta um momento a sós com Jesus para que Mateus diga ‘sim’, abandone tudo e vá atrás do Senhor. É o momento da misericórdia recebida e acolhida: ‘Sim, eu vou contigo!’. É o primeiro momento do encontro, uma experiência espiritual profunda”.

“Depois vem um segundo momento: a festa. Jesus faz festa com os pecadores”: celebra a misericórdia de Deus, que “muda a vida”. Depois desses dois momentos, o estupor do encontro e a festa, vem “o trabalho diário”, o anúncio do evangelho:

“Esse trabalho tem que ser alimentado com a lembrança daquele primeiro encontro, daquela festa. E isso não é apenas um momento, é um tempo: até o fim da vida. A lembrança. Lembrança de quê? Daqueles fatos! Daquele encontro com Jesus que mudou a minha vida! Quando Ele teve misericórdia! Quando Ele foi tão bom comigo e me disse: ‘Convida os teus amigos pecadores, para fazermos uma festa!’. Essa lembrança dá forças a Mateus para seguir em frente. ‘Jesus mudou a minha vida! Eu encontrei o Senhor’. Recordar sempre. É como soprar as brasas daquela lembrança, não é mesmo? Soprar para manter o fogo sempre aceso”.

Nas parábolas evangélicas, fala-se da recusa de muitos convidados à festa do Senhor. Por isso, Jesus foi “buscar os pobres, os doentes, e fez a festa com eles”.

“E Jesus, continuando com esse costume, celebra com os pecadores e oferece aos pecadores a graça. ‘Eu quero misericórdia, e não sacrifícios. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores’. Ele veio por nós, pecadores, e é isto o que é bonito. Deixemo-nos olhar pela misericórdia de Jesus, façamos festa e guardemos a lembrança desta salvação!”

“Filho de Deus”: uma carteira de identidade que ninguém pode nos tirar

Homilia em Santa Marta: Papa Francisco nos lembra que, graças ao sacrifício amoroso de Cristo, ganhamos a filiação divina e o perdão dos pecados

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 04 de Julho de 2013 (Zenit.org) –  “Nome? Filho de Deus. Estado Civil? Livre!”. Se podemos nos orgulhar desses dados em nossa “carteira de identidade” de cristãos, é graças a Jesus Cristo, que nos salvou. A homilia do papa Francisco na missa de hoje se destaca pela originalidade com que ele transmite a mensagem que, basicamente, é a mesma de todos os dias: a infinita misericórdia de Deus.

Na missa concelebrada com o cardeal indiano Telesphore Placidus Toppo, arcebispo de Ranchi, o Santo Padre focou no evangelho do dia, que narra a cura milagrosa de um paralítico por Jesus. Em particular, as palavras iniciais de Cristo, de acordo com o pontífice, são a chave de toda a passagem: “Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados”.

A frase irrita os escribas, que se queixam e o acusam de blasfêmia, “porque só Deus pode perdoar os pecados”. Talvez, até mesmo o paralítico, disse o papa, continua “desconcertado”, porque o que ele desejava “era ser curado fisicamente”. Jesus, porém, realiza de fato o milagre e cura o homem também no corpo. Mas, no fundo, “as curas, o ensinamento, as palavras fortes contra a hipocrisia, eram apenas um sinal de algo mais que Jesus estava fazendo”: perdoar os pecados.

Este é o “milagre mais profundo”, disse Francisco: “Essa reconciliação é a recriação do mundo. Esta é a missão mais profunda de Jesus. A redenção de todos nós, pecadores…”. Cristo faz esse milagre não “com as palavras”, nem “com gestos”, nem “caminhando pela estrada”, disse Bergoglio. Ele “faz isto com a sua carne. É Ele, Deus, quem se torna um de nós, homem, para nos curar por dentro, a nós, pecadores”. Ele nos liberta do pecado tomando sobre si próprio “todo o pecado”, afirmou.

Jesus “desce da sua glória e se abaixa até a morte e morte de cruz”. Mas é precisamente esta “a sua glória” e, ao mesmo tempo, “a nossa salvação”. “Este é o maior milagre”, disse o pontífice, através do qual Jesus “nos torna filhos, com a liberdade dos filhos”.

Em virtude desse gesto de amor divino infinito, “nós podemos dizer ‘Pai’”, e dizê-lo “com uma atitude tão boa e tão bela, com liberdade!”. “Nós, escravos do pecado”, ressaltou o papa, estamos livres graças a Jesus Cristo. Fomos curados “no profundo da nossa existência”.

“Pensar nisso nos fará bem, pensar no maravilhoso que é ser filho! É tão linda a liberdade dos filhos, porque o filho está em casa e Jesus nos abriu as portas de casa… Agora nós estamos em casa!”, disse Bergoglio. Este fato esclarece as palavras já citadas no evangelho de hoje: “Coragem, filho, teus pecados estão perdoados”. “Essa”, disse o papa, “é a raiz da nossa coragem. Eu sou livre, eu sou filho… O Pai me ama e eu amo o Pai”.

A graça a pedir hoje é a de “compreender bem essa obra” de Deus, que “reconciliou consigo o mundo em Cristo, confiando-nos a palavra da reconciliação” e a graça “de levar adiante, com força, com a liberdade dos filhos, a palavra da reconciliação”. “Nós fomos salvos em Jesus Cristo”, concluiu o Santo Padre, e “ninguém pode nos roubar essa carteira de identidade. Eu me chamo assim: Filho de Deus! Que bela carteira de identidade! Estado civil: livre!”.

Beijar as feridas dos pobres e dos necessitados para encontrar o Deus vivo

Homilia do Papa Francisco: Só existe uma forma de realmente conhecer a Cristo – beijar as suas feridas nas pessoas que sofrem

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 03 de Julho de 2013 (Zenit.org) – São Tomé “foi um teimoso”, mas “Cristo quis justamente um teimoso” para afirmar plenamente a sua divindade. O papa Francisco, na missa de hoje na Casa Santa Marta, lança nova luz sobre a figura do apóstolo cuja festa litúrgica é celebrada hoje e que se tornou conhecido na história como “o incrédulo”.

Partindo do seu gesto de querer “tocar nas chagas de Cristo para acreditar”, o Santo Padre deu hoje mais uma indicação a quem quer seguir o caminho que leva até Deus: beijar as feridas de Jesus em nossos irmãos em necessidade.

Comentando o evangelho do dia, que fala da aparição de Jesus aos apóstolos depois da ressurreição, o papa destacou a ausência de Tomé. Um fato não casual: Cristo, disse o papa, “quis que ele esperasse uma semana”. Ele “sabe por que faz as coisas” e “dá para cada um de nós o tempo que acha melhor. Para Tomé, Ele deu uma semana”.

Quando o apóstolo vê Jesus se revelando com o seu corpo “limpo, belíssimo e cheio de luz”, mas ainda coberto de chagas, é “convidado a colocar o dedo na ferida dos pregos, a colocar a mão em seu lado trespassado”. Tomé, fazendo este gesto, “não disse ‘É verdade: o Senhor ressuscitou’, mas foi ainda mais longe”, disse o papa. Tomé afirmou: “Deus!” e o adorou, tornando-se “o primeiro dos discípulos a fazer a confissão da divindade de Cristo após a ressurreição”.

Isso explica “a intenção do Senhor ao fazê-lo esperar”, disse Bergoglio: “levar a sua descrença não apenas à afirmação da ressurreição, mas à afirmação da sua divindade”. Porque há somente um caminho “para o encontro com Jesus-Deus: as suas feridas. Não há outro”.

“Na história da Igreja”, prosseguiu Francisco, “houve alguns enganos no caminho rumo a Deus”. Alguns, disse ele, “acreditaram que o Deus vivo, o Deus dos cristãos, pode ser encontrado no caminho da meditação, indo ‘mais alto’ na meditação. Isso é perigoso”, alertou: “muitos se perderam nessa estrada, porque, mesmo que até possam ter chegado ao conhecimento de Deus, nunca chegaram ao de Jesus Cristo, Filho de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade”. É como “o caminho dos gnósticos”, disse o pontífice, que “são bons, que trabalham”, mas que não seguem o “caminho certo”, e sim outro caminho “muito complicado”, que “não leva a bom porto”.

Há outros, disse o Santo Padre, que “pensaram que, para chegar até Deus, devemos nos mortificar, ser austeros, e escolheram o caminho da penitência e do jejum”. Nem estes, no entanto, “chegaram até o Deus vivo, até Jesus Cristo Deus vivo”. Eles “são os pelagianos, que acreditam que podem chegar lá com o seu próprio esforço”, e que, portanto, erram completamente o caminho indicado por Jesus Cristo para encontrá-lo, isto é, “as suas chagas”.

O problema é entender como e onde estão essas chagas de Cristo. O papa Francisco respondeu a esta pergunta afirmando: “Nós encontramos as feridas de Jesus fazendo as obras de misericórdia, ao corpo e à alma, e eu destaco ‘ao corpo’, dos nossos irmãos e irmãs que sofrem, que passam fome, que têm sede, que estão nus, que são humilhados, que são escravos, que estão presos, que estão no hospital”.

“Essas são as chagas de Jesus hoje”, reiterou, “e Jesus nos pede um ato de fé nele através destas chagas”. É muito bom criar uma fundação para ajudar os necessitados, “mas se ficarmos só nesse âmbito, seremos apenas filantrópicos. Temos que tocar nas chagas de Jesus, acariciar as feridas de Jesus, cuidar das feridas de Jesus com ternura, temos que beijar as chagas de Jesus, e isso literalmente”. Como São Francisco, que, depois de abraçar o leproso, “viu a sua vida mudar”.

Em essência, concluiu o papa, “não precisamos de um curso de reciclagem para tocar no Deus vivo”, mas “simplesmente sair às ruas”, indo procurar, encontrar e tocar nas chagas de Cristo em quem é pobre, frágil, marginalizado. Uma coisa que não é simples nem natural. Por esta razão, exortou o Santo Padre, “peçamos a São Tomé a graça de ter a coragem de entrar nas feridas de Jesus com a nossa ternura e certamente teremos a graça de adorar o Deus vivo