Homilia do Papa na Missa celebrada na praça do Santuário Mariano de Caacupé, sábado, 11 de julho
Por Redação
Roma, 12 de Julho de 2015 (ZENIT.org)
O Santo Padre Francisco chegou nesta sexta-feira, 10 de julho, ao Paraguai, onde encerra sua viagem à América do Sul. Na manhã deste sábado, 11 de julho, o Papa presidiu a Santa Missa na praça do Santuário Mariano de Caacupé. Eis a homilia na íntegra:
Estar aqui convosco é sentir-me em casa, aos pés da nossa Mãe, a Virgem dos Milagres de Caacupé. Num santuário, nós, filhos, encontramo-nos com a nossa Mãe e lembramo-nos de que somos irmãos uns dos outros. É um lugar de festa, de encontro, de família. Vimos apresentar as nossas necessidades, vimos agradecer, pedir perdão e recomeçar. Muitos baptismos, muitas vocações sacerdotais e religiosas, muitos namoros e matrimónios nasceram aos pés da nossa Mãe. Muitas lágrimas e despedidas. Vimos sempre com a nossa vida, porque aqui estamos em casa e o melhor de tudo é saber que há alguém que nos espera.
Como tantas outras vezes, viemos porque queremos renovar a paixão de viver a alegria do Evangelho.
Como não reconhecer que este santuário é parte vital do povo paraguaio, parte da vossa vida. Assim o sentis, assim o rezais, assim o cantais: «No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé». E estamos hoje, como Povo de Deus, aos pés da nossa Mãe para Lhe dar o nosso amor e fé.
No Evangelho, acabámos de ouvir o anúncio do Anjo a Maria com estas palavras: Alegra-Te, ó cheia de graça, o Senhor está contigo. Alegra-Te, Maria; alegra-Te! Perante esta saudação, Ela ficou perplexa e interrogava-Se acerca do seu significado. Não entende grande coisa do que estava a acontecer; mas soube que vinha de Deus e disse: Sim. Maria é a Mãe do Sim. Sim ao sonho de Deus, sim ao projecto de Deus, sim à vontade de Deus.
Um sim que não foi nada fácil de viver, como sabemos. Um sim, que não a cumulou de privilégios nem distinções; antes, como Lhe dirá Simeão na sua profecia, «uma espada [Lhe] trespassará a alma» (Lc 2, 35) E sabemos que a trespassou… Por isso A amamos tanto, encontrando n’Ela uma verdadeira Mãe que nos ajuda a manter viva a fé e a esperança no meio das situações mais complicadas. Seguindo a profecia de Simeão, far-nos-á bem rever brevemente três momentos difíceis na vida de Maria.
1. Primeiro: o nascimento de Jesus. Não havia lugar para eles. Não tinham uma casa, uma morada para receber o seu filho. Não havia lugar, onde pudesse dar à luz. Nem família por perto, estavam sozinhos. O único lugar disponível era um curral de animais. E, na sua memória, ecoavam certamente as palavras do Anjo: Alegra-Te, Maria, o Senhor está contigo. E poderia ter-Se perguntado: Onde está Ele agora?
2. Segundo momento: a fuga para o Egipto. Tiveram de partir, exilar-Se. Em Belém, não só não havia lugar nem família, mas até mesmo as suas vidas corriam perigo. Tiveram que sair, partindo para uma terra estrangeira. Foram emigrantes perseguidos pela cobiça e a ganância do Rei Herodes. E lá ela também poderia ter-se perguntado: Onde está aquilo que o Anjo Me disse?
3. Terceiro momento: a morte na cruz. Não deve haver uma situação mais difícil para uma mãe do que acompanhar a morte do seu filho. São momentos lancinantes. Lá, ao pé da cruz, vemos Maria, como qualquer mãe, firme, sem abandonar, mas acompanhando seu filho até ao momento extremo da morte e morte de cruz. E lá também poderia ter-se perguntado: Onde está aquilo que o Anjo Me disse? Em seguida, a vemos contendo e sustentando os discípulos.
Contemplamos a sua vida e sentimo-nos compreendidos, entendidos. Podemos sentar-nos a rezar e usar uma linguagem comum a tantas situações que vivemos diariamente. Podemo-nos identificar com muitas situações da sua vida. Contar-Lhe as nossas coisas, porque Ela entende-as.
Ela é mulher de fé, é a Mãe da Igreja, Ela acreditou. A sua vida é testemunha de que Deus não decepciona, que Deus não abandona o seu Povo, embora existam momentos ou situações onde parece que Ele não está. Ela foi a primeira discípula que acompanhou seu Filho e sustentou a esperança dos apóstolos nos momentos difíceis. Estavam trancados com não sei quantas chaves, com medo, no cenáculo. Foi a mulher que esteve atenta e soube dizer – quando parecia ser o fim da festa e da alegria –: «Não têm vinho!» (Jo 2, 3). Foi a mulher que soube ir e ficar com a sua prima «cerca de três meses» (Lc 1, 56), para esta não estar sozinha no parto. Esta é nossa mãe, tão boa, tão generosa, tão presente acompanhando-nos na nossa vida.
Sabemos tudo isto pelo Evangelho; mas também sabemos que, nesta terra, é a Mãe que esteve ao nosso lado em muitas situações difíceis. Este santuário guarda como um tesouro a memória de um Povo que sabe que Maria é Mãe, que esteve e está ao lado dos seus filhos.
Esteve e está nos nossos hospitais, nas nossas escolas, nas nossas casas. Esteve e está nos nossos trabalhos e nos nossos caminhos. Esteve e está à mesa de cada lar. Esteve e está na formação da Pátria, fazendo-nos uma Nação. Sempre com uma presença discreta e silenciosa. Quando olhamos uma imagem, um santinho ou uma medalha, o sinal dum terço, sabemos que não andamos sozinhos, porque ela nos acompanha.
E por que motivo? Porque Maria simplesmente quis estar no meio de seu Povo, com os seus filhos, com a sua família. Seguindo sempre Jesus, no meio da multidão. Como boa mãe, não abandonou os seus; antes pelo contrário, sempre apareceu onde um filho podia ter necessidade d’Ela. E isto, só porque é Mãe.
Uma Mãe que aprendeu a ouvir e a viver, no meio de tantas dificuldades, aquele «não temas, o Senhor está contigo». Uma Mãe que continua a dizer-nos: «Fazei o que Ele vos disser». Este é o seu convite constante e contínuo: «Fazei o que Ele vos disser». Não tem um programa próprio, não vem dizer-nos nada de novo; antes, ela gosta de ficar calada, apenas a sua fé acompanha a nossa fé.
Vós sabeis isto, experimentastes o que estamos a partilhar convosco. Todos vós, todos os paraguaios têm a memória viva de um Povo que encarnou estas palavras do Evangelho. E quero referir-me de modo especial a vós, mulheres e mães paraguaias, que, com grande coragem e dedicação, soubestes levantar um país derrotado, afundado, submerso por uma guerra iniqua.
Vós tendes a memória, vós tendes o DNA daquelas que reconstruíram a vida, a fé, a dignidade do seu povo, junto com Maria. Vivestes situações muito, muito difíceis, que, vistas sob uma lógica comum, poriam em causa toda a fé. Pelo contrário vós impelidas e sustentadas pela Virgem Maria, continuastes crentes, inclusive «com uma esperança para além do que se podia esperar» (Rm 4, 18). E quando tudo parecia desmoronar-se, dizíeis juntamente com Maria: Não temamos! O Senhor está connosco, está com o nosso povo, com as nossas famílias; façamos o que Ele nos disser. E assim encontrastes ontem e encontrais hoje força para não deixar que esta terra caia no caos. Deus abençoe esta tenacidade, Deus vos abençoe e anime, Deus abençoe a mulher paraguaia, a mais gloriosa da América.
Como povo, viemos à nossa casa, à casa da Pátria paraguaia, para ouvir mais uma vez estas palavras que nos fazem muito bem: «Alegra-te, o Senhor está contigo». São um apelo a não perder a memória, a não perder as raízes, os inúmeros testemunhos que receberam de povo crente, comprovado pelas suas lutas. Uma fé que se fez vida, uma vida que se fez esperança e uma esperança que vos leva a «primeirear» na caridade. Sim, como Jesus, continuem a «primeirear» no amor. Sede vós os portadores desta fé, desta vida, desta esperança. Vós, paraguaios, sede forjadores deste hoje e do amanhã.
Voltando o olhar para a imagem de Maria, convido-vos a dizer juntos: «No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé». Todos juntos: «No teu Éden de Caacupé, é o teu povo, Virgem pura, que Te dá o seu amor e fé». Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, para que sejamos dignos de alcançar as promessas e graças de nosso Senhor Jesus Cristo. Amen.
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