Viver a Eucaristia é “derrotar o medo de doar e de ser transformados por Ele”

Homilia na solenidade de Corpus Christi: papa Francisco exorta à partilha e 

Por Luca Marcolivio

ROMA, 31 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Seguimento de Cristo, comunhão, partilha: com base nesta nova “tríade”, em estilo inaciano, o papa Francisco articulou a sua homilia na missa da solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo, celebrada ontem na basílica de São João de Latrão.

O primeiro dos três conceitos aborda a presença de Jesus no meio das pessoas e as “situações concretas do mundo”. Cristo “acolhe as pessoas, fala com elas, cuida delas, lhes mostra a misericórdia de Deus”. E as pessoas “o seguem” e “escutam”, porque Jesus “fala e age de um modo novo, com a autoridade de quem é autêntico e coerente, de quem fala e age com verdade, de quem dá a esperança que vem de Deus, que é a revelação do Rosto de um Deus que é amor”, afirmou o pontífice.

Convidando os fiéis reunidos na praça de São João de Latrão a se identificarem com a “multidão do Evangelho”, que se encaminhava para seguir o Messias, o Santo Padre colocou a seguinte pergunta: “Como é que eu sigo Jesus?”. Do silêncio da Eucaristia, a partir da qual Ele nos fala, Jesus “nos lembra que segui-lo significa sair de nós mesmos e fazer da nossa vida não uma posse nossa, mas um presente para ele e para os outros”.

O segundo conceito, o de comunhão, decorre da “preocupação dos discípulos, que pediram que Jesus mandasse a multidão procurar comida e abrigo nos povoados das redondezas” (cf. Lc 9:12). A tentação de se abster de ajudar um irmão necessitado, despachando-o com um “Deus te ajude!”, é comum também entre os cristãos.

A solução de Jesus, no entanto, é muito mais grandiosa. Diante da multidão faminta, Ele pede que os discípulos assentem os recém-chegados e, pouco depois, realiza o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Disse o papa: “É um momento de profunda comunhão: a multidão, saciada pela palavra do Senhor, é agora alimentada pelo pão da sua vida. E todos ficaram satisfeitos, escreve o evangelista”.

A escuta da Palavra de Deus e a alimentação com o Corpo e Sangue de Cristo “nos faz passar da condição de multidão para a condição de comunidade, do anonimato para a comunhão”, e, por meio da Eucaristia, “nos faz sair do individualismo para vivermos juntos o seguimento de Cristo, a fé nele”.

Surge daqui uma nova pergunta: “Como é que eu vivo a Eucaristia? Anonimamente ou como um momento de verdadeira comunhão com o Senhor, e também com os muitos irmãos e irmãs que compartilham da mesma mesa?”.

O último conceito apresentado pelo papa é o da partilha, que, no caso específico, diz respeito aos “cinco pães e dois peixes”. E os discípulos, “diante da incapacidade dos seus meios, da pobreza do que podiam pôr à disposição”, colocaram a sua confiança na palavra de Jesus e conseguiram alimentar a multidão imensa que estava ali à sua frente.

É somente na solidariedade, “palavra malvista pelo espírito mundano”, disse o papa, que “a nossa vida será fecunda e dará frutos”. Ao doar o seu corpo através da Eucaristia, Nosso Senhor nos torna participantes da “solidariedade de Deus”, uma solidariedade que “nunca se esgota” e que “não deixa de nos surpreender”.

Também nessa noite, Jesus se deu a nós na Eucaristia, “o verdadeiro alimento que sustenta a nossa vida, inclusive nos momentos em que a estrada se torna íngreme, em que os obstáculos deixam os nossos passos mais lentos”.

É na Eucaristia que “o pouco que temos, o pouco que somos, se compartilhado, vira riqueza, porque o poder de Deus, que é o poder do amor, desce até a nossa pobreza para transformá-la”, acrescentou Francisco.

O Santo Padre concluiu a homilia com um convite para cada um sair  da sua “caixinha” e derrotar o “medo de doar, de partilhar, de amar a Deus e ao próximo”: em suma, de se deixar “transformar por Ele”.

 

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