Papa Francisco: “sempre se pode colocar mais água no feijão”!

Visita do Papa Francisco à favela da Varginha

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Hoje pela manhã, por volta das11h, o Papa Francisco visitou a favela de Varginha na cidade do Rio de Janeiro, depois de ter recebido de forma simbólica a chave da cidade, no Palácio da cidade.

“Francisco, eu te amo”, gritavam moradores e peregrinos reunidos na Favela, enquanto o Pontífice, sorridente, caminhava em meio à multidão.

Que impressão não causou ver o Papa se aproximar de um grupo de crianças e, de forma carinhosa, pedir-lhes silêncio, juntar as mãos e rezar uns segundos; acompanhar o Papa Francisco que pega a camiseta oferecida por um peregrino, colocá-a na frente e posa para uma foto; notar policiais sorrindo, crianças sendo beijadas e abraçadas pelo Papa; contemplar uma multidão que o apertava por todos os lados, quando entrou numa residência e lá permaneceu por uns minutos… Até parece que estamos vendo o Evangelho, “E seguia-o uma grande multidão, que o apertava” (Mc 5,24).

Discurso de acolhida da comunidade

Pedindo-lhe licença para “quebrar o protocolo” e chamar-lhe de Pai em vez de Papa, um jovem casal cumprimentou o “Pai Francisco, aquele que acolhe a todos”. “Muitos nos perguntaram porque essa comunidade foi escolhida”, disse o jovem. “Até nós fazemos essa pergunta, ressaltou.

O jovem disse que a favela da Varginha não entra nos grandes diários normalmente, mas está sempre nos diários policiais, porém, “Na vida, Deus sempre se faz presente e fortalece o seu povo com a presença de um novo amanhecer”, disse.

Discurso do Papa

Papa Francisco começou o seu discurso com um forte Bom dia, respondido quase que em coro por todos os presentes. “Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um ‘cafezinho’, não um pouco de cachaça –acrescentou de forma espontânea e alegre -, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós…” disse o Papa no início das suas palavras.

Riqueza

Referindo-se à calorosa acolhida que tem recebido no Brasil, Papa Francisco refletiu na importância de ser generoso. “É importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração”.

“A verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!”, como diz o ditado – disse o Papa – “sempre se pode colocar mais água no feijão”! destacando que o povo brasileiro sempre faz isso com amor e pode ensinar muito ao mundo.

 Solidariedade

Não é a cultura do egoísmo, não é a cultura do individualismo que constrói o mundo e o faz mais habitável, mas é a solidariedade, “a cultura da solidariedade”, afirmou o Papa.

“E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade”, palavra incômoda –disse o papa – “Que parece um palavrão” – acrescentou falando a braccio. E lançou um apelo às autoridades, pedindo-lhes que “não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário!”, pois é preciso “Ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão”, destacou o Papa.

Pacificação

O Pontífice fez também uma referência às “pacificações” realizadas em muitas das favelas do Rio de Janeiro, no último ano. O Papa encorajou e reconheceu o esforço da sociedade brasileira de “integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas”.

Porém, “Nenhum esforço de ‘pacificação’ – falou o Papa – será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”. “Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade”.

Fome de Felicidade

O Pontífice destacou a importância da ajuda social e da prioridade que a Igreja dá como “advogada da justiça”. “Certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar”, afirmou o Papa.

Destacou assim 5 pontos a ter em conta, cinco “pilares fundamentais que sustentam uma nação”: Vida, “que é dom de Deus”; família “fundamento da convivência e remédio contra a desagregação”; educação integral, que não é só “transmissão de informações”; saúde, que busque o bem integral; e segurança, “na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano”.

Diante dos constantes anti-testemunhos de corrupção que os jovens recebem a cada dia, o Papa quis dar um último conselho: “nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar”.

Por fim, o Papa concluiu com estas palavras e confiou tudo à Proteção de Nossa Senhora: “Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês”.

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