O Santo Padre nos recordou hoje que a fé sem obras não é fé, porque a fé verdadeira sempre envolve testemunho
Por Redacao
ROMA, 21 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) – “Uma fé que não dá frutos por meio das obras não é fé”, afirmou nesta manhã o Santo Padre durante a homilia na Casa Santa Marta. O papa ofereceu a missa pelos 90 anos de idade do cardeal Silvano Piovanelli, arcebispo emérito de Florença, agradecendo a ele “pelo trabalho, pelo testemunho e pela bondade”.
O mundo está cheio de cristãos que recitam muito as palavras do credo, mas as põem muito pouco em prática. Ou de eruditos que compartimentam a teologia em uma série de possibilidades, sem que essa erudição, depois, se reflita concretamente na vida. É um risco que, há dois mil anos, São Tiago já temia. O papa o abordou hoje na homilia ao comentar o fragmento em que o apóstolo o menciona em sua carta.
Francisco observou que a afirmação do apóstolo é clara: “A fé sem fruto na vida, a fé que não dá fruto nas obras, não é fé”. E continuou: “Também nós nos enganamos às vezes sobre isto: ‘Mas eu tenho muita fé’, ouvimos dizer. ‘Eu acredito em tudo, tudo…’. Mas a pessoa que diz isso, talvez, leva uma vida morna. A sua fé é como uma teoria, mas não é viva na sua vida. O apóstolo Tiago, quando fala da fé, fala precisamente da doutrina, do conteúdo da fé. Podemos conhecer todos os mandamentos, todas as profecias, todas as verdades da fé, mas, sem a prática, de nada serve. Podemos recitar o credo teoricamente, também sem fé, e há muita gente que faz isso. Até os demônios! Os demônios conhecem muito bem o que se diz no credo e sabem que é verdade”.
As palavras do pontífice ecoam a afirmação de Tiago: “Crês que há somente um Deus? Fazes bem. Até os demônios o creem e tremem diante dele”. A diferença, explicou o papa, é que os demônios “não têm fé”, porque “ter fé não é ter um conhecimento”, mas “acolher a mensagem de Deus” trazida por Cristo. O Santo Padre nos explica que, no Evangelho, encontramos dois sinais reveladores de quem “sabe o que se deve crer, mas não tem fé”. O primeiro sinal é a “casuística”, representada por aqueles que perguntavam a Jesus se era lícito pagar os impostos ou qual dos sete irmãos do marido devia se casar com a sua viúva. O segundo sinal é “a ideologia”.
E detalhou: “Os cristãos que pensam a fé como um sistema de ideias, ideológico: também no tempo de Jesus havia gente assim”. O apóstolo João diz que eles são o anticristo, os ideólogos da fé, sejam do tipo que forem. “Naquele tempo havia gnósticos, mas havia muitos… E assim, quem cai na casuística ou na ideologia é um cristão que conhece a doutrina, mas não tem fé; como os demônios. Com a diferença de que os demônios tremem, mas estes não: estes vivem tranquilos”.
Por outro lado, Francisco recordou que no Evangelho há também exemplos de pessoas que não conhecem a doutrina, mas têm muita fé. Ele citou a cananeia, que, com sua fé, chora pela cura da filha vítima de uma possessão, e a samaritana, que abre o seu coração porque “encontrou não verdades abstratas, mas o próprio Jesus Cristo”. O papa também fala do cego curado por Jesus e interrogado pelos fariseus e doutores da lei até se ajoelhar com simplicidade e adorar quem o curou. Três pessoas que, diz Francisco, “demostram que a fé e o testemunho são indissociáveis”.
Para terminar, o Santo Padre enfatizou que “a fé sempre leva ao testemunho. A fé é um encontro com Jesus Cristo, com Deus, e leva ao testemunho. É isto o que o apóstolo quer dizer: uma fé sem obras, uma fé que não nos compromete, que não nos leva ao testemunho, não é fé. São palavras e nada mais do que palavras”.