“Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!”

Discurso do Santo Padre Francisco pronunciado na visita ao Hospital São Francisco

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos as palavras do Santo Padre Francisco pronunciadas durante sua visita ao Hospital São Francisco de Assis na Providência de Deus (Hospital da Venerável Ordem Terceira da Penitencia\VOT) realizada na noite de quarta- feira, 24 de julho.

Senhor Arcebispo do Rio de Janeiro,
Amados Irmãos no Episcopado
Distintas Autoridades,
Queridos membros da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência,
Prezados médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde,
Amados jovens e familiares, boa noite!

Quis Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que é o Hospital São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do Santo Patrono de vocês: o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando abraçou um leproso. Aquele irmão sofredor foi «mediador de luz (…) para São Francisco de Assis» (Carta Enc. Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês – vocês que são a carne de Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança segura o caminho de vocês e também o meu.

Abraçar, abraçar. Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa necessidade, como fez São Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química. Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São tantos os “mercadores de morte” que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo o custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem. Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança no futuro. Precisamos todos de olhar o outro com os olhos de amor de Cristo, aprender a abraçar quem passa necessidade, para expressar solidariedade, afeto e amor.

Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão a quem vive em dificuldade, a quem caiu na escuridão da dependência, talvez sem saber como, e digamos-lhe: Você pode se levantar, pode subir; é exigente, mas é possível se você o quiser. Queridos amigos, queria dizer a cada um de vocês, mas sobretudo a tantas outras pessoas que ainda não tiveram a coragem de empreender o mesmo caminho de vocês: Você é o protagonista da subida; esta é a condição imprescindível! Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar, mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar. Mas vocês nunca estão sozinhos! A Igreja e muitas pessoas estão solidárias com vocês. Olhem para frente com confiança; a travessia é longa e cansativa, mas olhem para frente, existe «um futuro certo, que se coloca numa perspectiva diferente relativamente às propostas ilusórias dos ídolos do mundo, mas que dá novo impulso e nova força à vida de todos os dias» (Carta Encícl. Lumen fidei, 57). A vocês todos quero repetir: Não deixem que lhes roubem a esperança! Não deixem que lhes roubem a esperança! Mas digo também: Não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança!

No Evangelho, lemos a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. As pessoas passam, olham, mas não param; indiferentes seguem o seu caminho: não é problema delas! Quantas vezes nós dizemos: não é um meu problema! Quantas vezes olhamos para o outro lado e fingimos que não vemos. Somente um samaritano, um desconhecido, olha, para, levanta-o, estende-lhe a mão e cuida dele (cf. Lc 10, 29-35). Queridos amigos, penso que aqui, neste Hospital, se concretiza a parábola do Bom Samaritano. Aqui não há indiferença, mas solicitude. Não há desinteresse, mas amor. A Associação São Francisco e a Rede de Tratamento da Dependência Química ensinam a se debruçar sobre quem passa por dificuldades porque veem nestas pessoas a face de Cristo, porque nelas está a carne de Cristo que sofre. Obrigado a todo pessoal do serviço médico e auxiliar aqui empenhado! O serviço de vocês é precioso! Realizem-no sempre com amor; é um serviço feito a Cristo presente nos irmãos: «Todas as vezes que fizestes isso a um destes mais pequenos, que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes» (Mt 25, 40), diz-nos Jesus.

E quero repetir a todos vocês que lutam contra a dependência química, a vocês familiares que têm uma tarefa que nem sempre é fácil: a Igreja não está longe dos esforços que vocês fazem, Ela lhes acompanha com carinho. O Senhor está ao lado de vocês e lhes conduz pela mão. Olhem para Ele nos momentos mais duros e Ele lhes dará consolação e esperança. E confiem também no amor materno de Maria, sua Mãe. Esta manhã, no Santuário da Aparecida, confiei cada um de vocês ao seu coração. Onde tivermos uma cruz para carregar, ao nosso lado sempre está Ela, nossa Mãe. Deixo-lhes em suas mãos, enquanto, afetuosamente, a todos abençôo. Obrigado!

A cultura da solidariedade: ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão

Discurso do Santo Padre Francisco durante visita à Comunidade de Varginha

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos o discurso do Papa pronunciado durante sua visita à Comunidade de Varginha em Manguinhos.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Que bom poder estar com vocês aqui! Que bom! Desde o início, quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um “cafezinho”, não um copo de cachaça, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós… Mas o Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir aqui, visitar a Comunidade de vocês que hoje representa todos os bairros do Brasil. Como é bom ser bem acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como vocês decoraram as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do carinho que nasce do coração de vocês, do coração dos brasileiros, que está em festa! Muito obrigado a cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço a Dom Orani Tempesta e ao casal Rangler e Joana pelas suas belas palavras.

1. Desde o primeiro instante em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso tempo – não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar a comida: como diz o ditado, sempre se pode “colocar mais água no feijão”! Se pode colocar mais água no feijão? Sempre! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração! E povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda. Quase um palavrão: solidariedade. Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário! Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo! Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela que constrói e conduz a um mundo mais habitável, não é! Mas sim a cultura da solidariedade. A cultura da solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão. E todos nós somos irmãos.

Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas, através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de “pacificação” será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma. Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de essencial para si mesma. Não deixemos! Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável, porque nós somos irmãos, ninguém e descartável.Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se multiplica! Pensemos na multiplicação dos pães de Jesus. A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!

2. Queria dizer-lhes também que a Igreja, «advogada da justiça e defensora dos pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam ao céu» (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboração em todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem e de todo homem.

Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar. Fome de dignidade! Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro; a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano.

3. Queria dizer uma última coisa. Uma última coisa! Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos tenham vida, e vida em abundância» (Jo 10,10).

Hoje a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de Varginha, quero dizer: Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as intenções que vocês carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolação nos momentos de tristeza e sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bênção.

Papa Francisco: “sempre se pode colocar mais água no feijão”!

Visita do Papa Francisco à favela da Varginha

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Hoje pela manhã, por volta das11h, o Papa Francisco visitou a favela de Varginha na cidade do Rio de Janeiro, depois de ter recebido de forma simbólica a chave da cidade, no Palácio da cidade.

“Francisco, eu te amo”, gritavam moradores e peregrinos reunidos na Favela, enquanto o Pontífice, sorridente, caminhava em meio à multidão.

Que impressão não causou ver o Papa se aproximar de um grupo de crianças e, de forma carinhosa, pedir-lhes silêncio, juntar as mãos e rezar uns segundos; acompanhar o Papa Francisco que pega a camiseta oferecida por um peregrino, colocá-a na frente e posa para uma foto; notar policiais sorrindo, crianças sendo beijadas e abraçadas pelo Papa; contemplar uma multidão que o apertava por todos os lados, quando entrou numa residência e lá permaneceu por uns minutos… Até parece que estamos vendo o Evangelho, “E seguia-o uma grande multidão, que o apertava” (Mc 5,24).

Discurso de acolhida da comunidade

Pedindo-lhe licença para “quebrar o protocolo” e chamar-lhe de Pai em vez de Papa, um jovem casal cumprimentou o “Pai Francisco, aquele que acolhe a todos”. “Muitos nos perguntaram porque essa comunidade foi escolhida”, disse o jovem. “Até nós fazemos essa pergunta, ressaltou.

O jovem disse que a favela da Varginha não entra nos grandes diários normalmente, mas está sempre nos diários policiais, porém, “Na vida, Deus sempre se faz presente e fortalece o seu povo com a presença de um novo amanhecer”, disse.

Discurso do Papa

Papa Francisco começou o seu discurso com um forte Bom dia, respondido quase que em coro por todos os presentes. “Queria bater em cada porta, dizer “bom dia”, pedir um copo de água fresca, beber um ‘cafezinho’, não um pouco de cachaça –acrescentou de forma espontânea e alegre -, falar como a amigos de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós…” disse o Papa no início das suas palavras.

Riqueza

Referindo-se à calorosa acolhida que tem recebido no Brasil, Papa Francisco refletiu na importância de ser generoso. “É importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite ou decoração”.

“A verdadeira riqueza não está nas coisas, mas no coração!”, como diz o ditado – disse o Papa – “sempre se pode colocar mais água no feijão”! destacando que o povo brasileiro sempre faz isso com amor e pode ensinar muito ao mundo.

 Solidariedade

Não é a cultura do egoísmo, não é a cultura do individualismo que constrói o mundo e o faz mais habitável, mas é a solidariedade, “a cultura da solidariedade”, afirmou o Papa.

“E o povo brasileiro, sobretudo as pessoas mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade”, palavra incômoda –disse o papa – “Que parece um palavrão” – acrescentou falando a braccio. E lançou um apelo às autoridades, pedindo-lhes que “não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário!”, pois é preciso “Ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão”, destacou o Papa.

Pacificação

O Pontífice fez também uma referência às “pacificações” realizadas em muitas das favelas do Rio de Janeiro, no último ano. O Papa encorajou e reconheceu o esforço da sociedade brasileira de “integrar todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas”.

Porém, “Nenhum esforço de ‘pacificação’ – falou o Papa – será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte de si mesma”. “Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de compartilhar é que se enriquece de verdade”.

Fome de Felicidade

O Pontífice destacou a importância da ajuda social e da prioridade que a Igreja dá como “advogada da justiça”. “Certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade que só Deus pode saciar”, afirmou o Papa.

Destacou assim 5 pontos a ter em conta, cinco “pilares fundamentais que sustentam uma nação”: Vida, “que é dom de Deus”; família “fundamento da convivência e remédio contra a desagregação”; educação integral, que não é só “transmissão de informações”; saúde, que busque o bem integral; e segurança, “na convicção de que a violência só pode ser vencida a partir da mudança do coração humano”.

Diante dos constantes anti-testemunhos de corrupção que os jovens recebem a cada dia, o Papa quis dar um último conselho: “nunca desanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar”.

Por fim, o Papa concluiu com estas palavras e confiou tudo à Proteção de Nossa Senhora: “Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o Papa está com vocês”.

Francisco encontra os argentinos: Jovens e velhos contra a exclusão

Papa revela a esperança de uma Igreja que sai das igrejas e vai ao encontro do povo

Por Antonio Gaspari

ROMA, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Durante o encontro, no Rio de Janeiro, com bispos, sacerdotes, jovens e fiéis da Argentina, o Papa Francisco convidou os idosos e os jovens a construírem uma aliança que rejeite a cultura da exclusão.

Em uma igreja superlotada, com trinta mil pessoas de fora, na chuva, o Papa exortou fortemente os bispos e o clero a sair da igreja para ir ao encontro das pessoas.

Ele convidou os idosos a não aceitarem ser excluídos e “eutanasiados”. Pediu aos jovens para não aceitarem uma fé diluída, e se unirem aos mais velhos para testemunhar a mensagem do Filho de Deus que morreu na cruz.

Falando de improviso, o Bispo de Roma confessou nutrir a esperança de que a partir da JMJ Rio 2013 comece um movimento que fará a Igreja sair da Diocese e ir para as ruas, ao encontro das pessoas.

“Precisamos sair ou nos tornaremos uma organização não governamental, e a Igreja não pode ser uma ONG”, frisou. “Eu dou um conselho, e os bispos e aqueles que discordam me perdoem”, acrescentou.

Referindo-se à situação do mundo, Francisco explicou que estamos diante da “cultura do deus dinheiro que tende a excluir as pessoas.”

Os idosos, por exemplo, correm o risco da eutanásia, excluídos de cuidado, cultura e da sociedade.

De acordo com o Pontífice, o número de jovens sem trabalho é muito alto, e se não for remediado, o futuro da nossa sociedade está em risco.

Por isso Francisco propôs uma aliança entre os jovens que “devem sair e se afirmarem através da promoção de virtudes e valores” e os anciãos que “devem transmitir a sabedoria, memória e justiça”.

Papa Francisco fez um apelo aos jovens dizendo: “não andem contra as pessoas idosas, mas as escutem” e “avancem juntos, não se excluam”.

Falando da fé em Jesus Cristo, o Papa disse que “é uma coisa muito séria”. “Não é brincadeira”. “É um escândalo o fato de que Jesus morreu na cruz” – acrescentou. Mas o seu sacrifício na cruz continua a ser o único caminho certo”.

Papa Francisco concluiu dizendo: “neste momento eu sinto que é belo tê-los em meu coração. Eu gostaria de estar mais perto de vocês, obrigado por estarem perto de mim. Obrigado por suas orações. Eu preciso da oração de vocês.”

A legalização das drogas não reduz a dependência química

O papa Francisco visita o hospital São Francisco de Assis na Providência de Deus

Por Alfonso M. Bruno

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Do santuário mariano de Aparecida, o papa Francisco foi a outro “santuário”, o do sofrimento humano provocado pela doença e pelo vício em drogas e álcool.

O hospital São Francisco de Asis da Providência de Deus, visitado pelo papa na tarde de ontem, recebe pessoas com grave dependência de drogas e de álcool, disponibilizando 500 leitos para o seu tratamento.

Sua origem remonta ao desejo do jovem brasileiro Nélio Joel Ângelo Belotti, que queria imitar São Francisco de Assis.

A conversão do poverello de Assis teve um momento crucial depois que ele beijou um leproso, como foi destacado pelo papa Francisco em seu discurso no hospital, citando a sua recente encíclica Lumen Fidei, em que faz referência explícita a esse episódio, no qual um irmão marginalizado se torna o mediador da graça para o jovem de Assis, que está em busca de referências precisas para a sua vocação e missão na Igreja.

Nélio Joel se ordenou sacerdote em 1984, depois de fundar, com alguns poucos voluntários que podiam tomar conta de no máximo sete pacientes indigentes, uma obra que, vinte anos depois, na carne dos homens que carregam a cruz do sofrimento e da doença, mostra as evidências da intervenção do Crucificado.

É desses bons samaritanos que o Brasil e o mundo precisam, sobrecarregados como estão de indiferença e de egoísmo. É eficaz o exemplo de um jovem da “Terra da Vera Cruz, que se faz portador da esperança apesar dos poucos recursos humanos e financeiros.

O hospital está abrindo uma nova ala, abençoada pelo papa Francisco, com a especial característica de cuidar de jovens viciados em drogas sintéticas.

A todos os pacientes e às pessoas que os atendem no hospital, o papa quis expressar o seu afeto com um grande abraço.

“Todos precisamos olhar para o outro com os olhos do amor de Cristo”, disse Francisco. “Precisamos aprender a abraçar quem está em necessidade, para expressar proximidade, afeto, amor”.

E continuou: “Mas abraçar não é suficiente. Estendamos a mão para aqueles que precisam, para aqueles que caíram na escuridão do vício, talvez sem saber como, e digamos: ‘Você consegue se levantar! É cansativo, mas você consegue, se quiser!’”.

O papa nos convidou, enfim, a passar do abraço para os atos. E, como bom pai e mestre, para que a assistência não vire assistencialismo, afirmou para cada vítima do vício em drogas: “Você é o protagonista da saída. Esta é a condição indispensável! Você vai encontrar a mão estendida de quem quer ajudar, mas ninguém pode se levantar no seu lugar”.

Depois, Francisco elogiou o trabalho dos médicos e dos profissionais que prestam antedimento psicológico às vítimas da dependência.

Ao tocar numa proposta de política tão polêmica quanto atual em vários países, o papa declarou:

“Não é com a liberalização do uso das drogas, como está sendo discutido em várias partes da América Latina, que iremos reduzir a propagação e a influência da dependência química. É necessário encarar os problemas que estão na raiz do seu uso, provendo mais justiça, educando os jovens nos valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldades e dando esperanças no futuro”.

Com a doçura de sempre, o papa dedicou palavras a todos e a cada um, mas também condenou com firmeza os “mercadores da morte”, os traficantes de drogas.

E a todos, repetiu: “Não deixem que roubem a sua esperança! Não roubemos a esperança! Mas sim, sejamos portadores de esperança!”.

Hoje, vim para lhes confirmar nesta fé, a fé no Cristo Vivo que mora dentro de vocês

Discurso do Papa Francisco na Festa de Acolhida, na Praia de Copacabana

RIO DE JANEIRO, 25 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos o discurso do Papa Francisco na Festa da Acolhida que aconteceu nesta quinta-feira, 25 de julho, na praia de Copacabana.

Queridos jovens,

Boa tarde!

Vejo em vocês a beleza do rosto jovem de Cristo e meu coração se enche de alegria! Lembro-me da primeira Jornada Mundial da Juventude a nível internacional. Foi celebrada em 1987 na Argentina, na minha cidade de Buenos Aires. Guardo vivas na memória estas palavras do Bem-aventurado João Paulo II aos jovens: «Tenho muita esperança em vocês! Espero, sobretudo, que renovem a fidelidade de vocês a Jesus Cristo e à sua cruz redentora» (Discurso aos jovens (11 de abril de 1987): Insegnamenti, X/1 (1987), 1261).

Antes de continuar, queria lembrar o trágico acidente na Guiana francesa, no qual a jovem Sophie Morinière perdeu a vida, e que deixou outros jovens feridos. Convido-lhes a fazer um minuto de silêncio e dirigir ao Senhor a nossa oração por Sophie, pelos feridos e pelos familiares.

Este ano, a Jornada volta, pela segunda vez, à América Latina. E vocês, jovens, responderam numerosos ao convite do Papa Bento XVI, que lhes convocou para celebrá-la. Agradecemos-lhe de todo coração! O meu olhar se estende por esta grande multidão: vocês são muitíssimos! Vocês vêm de todos os continentes! Normalmente vocês estão distantes não somente do ponto de vista geográfico, mas também do ponto de vista existencial, cultural, social, humano. Mas hoje vocês estão aqui, ou melhor, hoje estamos aqui, juntos, unidos para partilhar a fé e a alegria do encontro com Cristo, de ser seus discípulos.

Nesta semana, o Rio se torna o centro da Igreja, o seu coração vivo e jovem, pois vocês responderam com generosidade e coragem ao convite que Jesus lhes fez de permanecerem com Ele, de serem seus amigos. O “trem” desta Jornada Mundial da Juventude, veio de longe e atravessou toda a Nação brasileira seguindo as etapas do projeto «Bote Fé». Hoje chegou ao Rio de Janeiro. Do Corcovado, o Cristo Redentor nos abraça e abençoa.

Olhando para este mar, para a praia e todos vocês, me vem ao pensamento o momento em que Jesus chamou os primeiros discípulos a segui-lo nas margens do lago de Tiberíades. Hoje Jesus ainda pergunta: Você quer ser meu discípulo? Você quer ser meu amigo? Você quer ser testemunha do meu Evangelho? No coração do Ano da Fé, estas perguntas nos convidam a renovar o nosso compromisso de cristãos. Suas famílias e comunidades locais transmitiram a vocês o grande dom da fé; Cristo cresceu em vocês. Hoje, vim para lhes confirmar nesta fé, a fé no Cristo Vivo que mora dentro de vocês; mas vim também para ser confirmado pelo entusiasmo da fé de vocês! Saúdo a todos com muito carinho. A vocês, aqui congregados dos cinco Continentes e, por meio de vocês, a todos os jovens do mundo, particularmente aqueles que não puderam vir ao Rio de Janeiro, mas estão em ligação conosco através do rádio, televisão e internet, digo: Bem-vindos a esta grande festa da fé! Em várias partes do mundo, neste mesmo instante, muitos jovens estão reunidos para viver juntos este momento: sintamo-nos unidos uns com os outros, na alegria, na amizade, na fé. E tenham a certeza: o meu coração de Pastor abraça a todos com afeto universal. O Cristo Redentor, do alto da montanha do Corcovado, lhes acolhe na Cidade Maravilhosa.

Quero saudar o Presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, estimado Cardeal Estanislau Ryłko, e todos aqueles que com ele trabalham. Agradeço a Dom Orani João Tempesta, Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, pela cordialidade com que me recebeu e pelo grande trabalho realizado para preparar esta Jornada Mundial da Juventude, junto com as diversas dioceses desse imenso Brasil. Agradeço a todas autoridades nacionais, estaduais e locais, além de outros envolvidos, para concretizar esse momento único de celebração da unidade, da fé e da fraternidade. Obrigado aos Irmãos no Episcopado, aos sacerdotes, seminaristas, pessoas consagradas e fieis que acompanham os jovens de diferentes partes do nosso planeta, na sua peregrinação rumo a Jesus. A todos e a cada um meu abraço afetuoso no Senhor.

Irmãos e amigos, bem-vindos à vigésima oitava Jornada Mundial da Juventude, nesta cidade maravilhosa do Rio de Janeiro!

(Fonte:CN noticias)

“Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria”

Homilia pronunciada pelo Papa Francisco em Aparecida: três posturas para transmitir aos jovens valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno

APARECIDA DO NORTE, 24 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos a homilia do Santo Padre Francisco pronunciada nesta quarta-feira, 24 de julho, na Santa Missa na Basílica do Santuário de Aparecida do Norte.  

Venerados irmãos no episcopado e no sacerdócio,

Queridos irmãos e irmãs!

Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu ministério de Sucessor de Pedro. Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo latino-americano.

Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário, seis anos atrás, quando aqui se realizou a V Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato belíssimo: ver como os Bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido, inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos romeiros, sob a proteção maternal de Maria. A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: “Mostrai-nos Jesus”. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria.

Assim, de cara à Jornada Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos jovens os valores que farão deles construtores de um País e de um mundo mais justo, solidário e fraterno. Para tal, gostaria de chamar à atenção para três simples posturas: Conservar a esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria.

1. Conservar a esperança. A segunda leitura da Missa apresenta uma cena dramática: uma mulher – figura de Maria e da Igreja – sendo perseguida por um Dragão – o diabo – que quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque Deus intervém e coloca o filho a salvo (cfr. Ap 12,13a.15-16a). Quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos luzeiros de esperança! Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração espiritual de um povo, a memória de um povo. Neste Santuário, que faz parte da memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade, solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.

2. A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do Rio Parnaíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade com Ele.

3. A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria. O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf. Est 5, 3). Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista! Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver ao nosso lado. Como dizia Bento XVI: «O discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro” (Discurso inaugural da Conferência de Aparecida [13 de maio de 2007]: Insegnamenti III/1 [2007], 861).

Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos, fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ela nos pede: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2,5). Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser! E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de alegria. Assim seja.

A oração e a ação estão sempre profundamente unidas

Palavras do Papa Francisco antes de recitar o Angelus no domingo

ROMA, 22 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos as palavras do Papa Francisco pronunciadas antes de recitar a oração mariana do Angelus no domingo, 21 de julho.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Neste domingo, continua a leitura do décimo capítulo do evangelista Lucas. O trecho de hoje é o de Marta e Maria.

Quem são essas duas mulheres? Marta e Maria, irmãs de Lázaro, são parentes e discípulas fiéis do Senhor, que moram em Betânia. São Lucas descreve as duas da seguinte maneira: Maria, aos pés de Jesus, “escutava a sua palavra”, enquanto Marta estava ocupada em muitos serviços (cf. Lc 10, 39-40).

Ambas oferecem hospitalidade ao Senhor, que está de passagem, mas fazem isso de maneiras diferentes. Maria se coloca aos pés de Jesus, ouvindo, e Marta se deixa absorver pelas coisas a preparar. E é assim, ocupada, que ela se volta a Jesus e diz: “Senhor, não te importa que minha irmã me deixe sozinha para servir? Diz-lhe que me ajude” (v. 40). E Jesus, respondendo, a repreende com doçura: “Marta, Marta, tu te inquietas e te preocupas com muitas coisas, quando só uma é necessária…” (v. 41).

O que Jesus quis dizer com isso? Qual é essa única coisa de que nós precisamos?

Primeiro, é importante entender que não é uma contraposição entre duas atitudes: a escuta da Palavra do Senhor, a contemplação, e o serviço prático aos outros. Não são duas atitudes opostas; pelo contrário, ambas são aspectos essenciais da nossa vida cristã: aspectos que não devem ser separados, mas vividos em profunda unidade e harmonia.

Então, por Marta recebe a repreensão, mesmo que feita com doçura? Porque ela considerou essencial apenas o que ela estava fazendo; ela estava muito absorta e preocupada com as coisas a “fazer”. No cristão, as obras de serviço e de caridade nunca devem ser separadas da fonte principal de todas as nossas ações: a escuta da Palavra do Senhor, o gesto de estar, como Maria, aos pés de Jesus, na atitude do discípulo. E foi por isso que Marta foi repreendida.

Também na nossa vida cristã, a oração e a ação estão sempre profundamente unidas. Uma oração que não leva às ações concretas em favor do irmão pobre, doente, necessitado de ajuda, do irmão em dificuldade, é uma oração estéril e incompleta. Mas, da mesma forma, quando no serviço eclesial ficamos atentos apenas ao fazer, quando damos mais peso às coisas, às funções, às estruturas, esquecendo-nos da centralidade de Cristo e não reservando tempo para o diálogo com Ele na oração, então corremos o risco de servir a nós mesmos e não a Deus presente no irmão necessitado. São Bento resumia o estilo de vida que apresentava aos seus monges em duas palavras: “ora et labora”, reza e trabalha. É da contemplação, de uma forte amizade com o Senhor, que nasce em nós a capacidade de viver e de transmitir o amor de Deus, a sua misericórdia e a sua ternura para com os outros. E o nosso trabalho com o irmão em necessidade, o nosso trabalho de caridade nas obras de misericórdia, nos leva ao Senhor porque vemos justamente o Senhor no irmão e na irmã necessitados.

Peçamos a Nossa Senhora, Mãe da escuta e do serviço, que nos ensine a refletir em nosso coração sobre a palavra do seu Filho, a orar fielmente, para sermos cada vez mais atentos às necessidades concretas dos irmãos.


Depois do ângelus

Saúdo com afeto os peregrinos presentes: famílias, paróquias, associações, movimentos e grupos. Em particular, saúdo os fiéis de Florença, de Foggia e de Villa Castelli, e os coroinhas de Conselve com as suas famílias.

E vejo escrito lá embaixo: “Boa viagem!”. Obrigado! Obrigado! Peço a vocês para me acompanharem espiritualmente, com a oração,na viagemque vou fazer a partir de amanhã.

Como vocês sabem, vou ao Rio de Janeiro, no Brasil, para a 28ª Jornada Mundial da Juventude. Haverá muitos jovens, lá, de todas as partes do mundo. E eu acho que esta pode ser chamada de Semana da Juventude; isso, a Semana da Juventude! Os protagonistas dessa semana vão ser os jovens. Todos aqueles que vão ao Rio querem ouvir a voz de Jesus, escutar Jesus: “Senhor, o que eu devo fazer da minha vida? Qual é o caminho para mim?”. Vocês também, não sei se há jovens hoje, aqui na praça. Há jovens? Ah! Vocês também, jovens que estão na praça, façam a mesma pergunta ao Senhor: “Senhor Jesus, o que eu devo fazer com a minha vida? Qual é o caminho para mim?”.

Confiemos à intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, tão amada e venerada no Brasil, essas perguntas: aquela que os jovens farão lá, e esta que vocês vão fazer hoje. E que Nossa Senhora nos ajude nessa nova etapa da peregrinação.

Desejo a todos vocês um bom domingo! Bom almoço. Até logo!

“Deus sempre quer a misericórdia e não a condenação”

Palavras do Papa Francisco antes de recitar o Angelus em Castel Gandolfo

ROMA, 14 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Às 12 horas de hoje, na Praça da Liberdade em frente ao Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, o Santo Padre Francisco rezou a oração do Angelus com os fiéis e peregrinos presentes. Estas foram as palavras do Papa:

“Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje o nosso encontro dominical do Angelus vivemos aqui em Castel Gandolfo. Eu saúdo os habitantes desta linda cidadezinha! Gostaria de vos agradecer, sobretudo pelas vossas orações, e o mesmo faço com todos vocês peregrinos, que vieram em grande número aqui.

O Evangelho de hoje – estamos no capítulo 10 de Lucas – é a famosa parábola do Bom Samaritano. Quem era esse homem? Era alguém, que descia de Jerusalém em direção à Jericó na estrada que atravessa o deserto da Judéia. Há pouco, nesta estrada, um homem havia sido atacado por bandidos, roubado, espancado e deixado quase morto. Antes do samaritano, passaram um sacerdote e um levita, ou seja, duas pessoas envolvidas com o culto no Templo do Senhor. Eles vêem aquele pobre homem, mas seguem sem parar. Em vez disso, o samaritano, quando viu o homem, “teve compaixão” (Lc 10:33), diz o Evangelho. Ele aproximou-se e enfaixou as feridas, derramando um pouco de azeite e vinho, depois e colocou-o em seu próprio animal e levou-o para uma hospedaria, e pagou para ele o alojamento … Quer dizer, cuidou dele: é o exemplo de amor ao próximo. Mas porque Jesus escolheu um samaritano como protagonista desta parábola? Por que os samaritanos eram desprezados pelos judeus, por causa de diferentes tradições religiosas; e Jesus faz ver que o coração daquele Samaritano é bom e generoso e que – ao contrário do sacerdote e do levita – ele coloca em prática a vontade de Deus, que quer a misericórdia e não o sacrifício (cf. Mc 12:33). Deus sempre quer a misericórdia e não a condenação. Quer a misericórdia do coração, porque Ele é misericordioso e sabe entender bem as nossas misérias, as nossas dificuldades e também os nossos pecados. Dá a todos nós este coração misericordioso! O samaritano faz exatamente isto: imita a misericórdia de Deus, a misericórdia para aqueles que tem necessidade.

Um homem que viveu plenamente este Evangelho do Bom Samaritano é o Santo que hoje recordamos: São Camilo de Lellis, fundador dos Ministros dos Enfermos, o padroeiro dos doentes e dos profissionais de saúde. São Camilo morreu 14 de julho de 1614 e exatamente hoje se abre a celebração do seu quarto centenário, que terá o seu ápice em um ano. Saúdo com grande afeto a todos os filhos e filhas espirituais de São Camilo, que vivem o seu carisma de caridade no contato diário com os doentes. Sejam como ele bons samaritanos! E também aos médicos, aos enfermeiros e àqueles que trabalham em hospitais e asilos, auguro serem animados pelo mesmo espírito. Confiemos esta intenção à intercessão de Maria Santíssima.

E uma outra intenção eu gostaria de confiar à Nossa Senhora, junto a todos vocês. Está próxima a Jornada Mundial da Juventude do Rio de Janeiro. Se vê que existem tantos jovens de idade, mas todos vocês são jovens no coração! Parabéns! Eu partirei em oito dias, mas muitos jovens irão ao Brasil antes. Rezemos então por esta grande peregrinação que começa, para que Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, guie os passos dos participantes e abra os seus corações para acolher a missão que Cristo dará a eles”.

(Após o Angelus)

Me uno em oração aos Prelados e fiéis da Igreja na Ucrânia, reunidos na Catedral de Lutsk para a Missa em sufrágio das vítimas dos massacres de Volinia, ocorridos 70 anos atrás. Tais atos, provocados pela ideologia nacionalista no trágico contexto da II Guerra Mundial, provocaram dezenas de milhares de vítimas e feriram as relações fraternas entre dois povos – polonês e ucraniano. Confio á misericórdia de Deus as almas das vítimas, e para os seus povos, peço a graça de uma profunda reconciliação e de um futuro sereno na esperança e na sincera colaboração pela comum edificação do Reino de Deus.

Penso também nos pastores e fieis que participam da peregrinação da Família da Radio MariaJasnaGóra, Częstochowa.Confio-vos à proteção da Mãe de Deus eabençôo-vosde coração.

Saúdo com afeto os fiéis da Diocese de Albano! Invoco sobreelesa proteção de São Boaventura, patrono,cuja festa a Igreja celebraamanhã. Que sejauma boa festae muitas felicidades! Saúdo todos os peregrinos aqui presentes: os gruposparoquiais, famílias, jovens, especialmente aqueles que vieram da Irlanda; jovens surdos que estãoparticipando de um encontro internacional em Roma.

Saúdo as Irmãs deSantaElizabeth,às quais augurouma renovação espiritual frutífera; os Apóstolos do Sagrado Coração de Jesus, com as famílias de diferentes nações; as Filhas da Caridade Divina,empenhadasno Capítulo Geral; e asSuperiorasdas Filhas de Maria Auxiliadora.

Desejo a todos um bom domingo e um bom almoço!

(Trad.Radio Vaticana\Zenit)

O foco não é socializar, passar o tempo juntos, o foco é anunciar o Reino de Deus

Palavras do Papa Francisco pronunciadas neste domingo antes da tradicional oração mariana do Angelus

CIDADE DO VATICANO, 07 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs! Bom dia!

Antes de tudo desejo partilhar convosco a alegria de ter encontrado, ontem e hoje, uma peregrinação especial do Ano da Fé: aquela dos seminaristas, noviços e noviças. Peço-vos para rezarem por eles, para que o amor por Cristo amadureça sempre mais na vida deles e eles se tornem verdadeiros missionários do Reino de Deus.

O Evangelho deste domingo (Lc 10,1-12.17-20) nos fala propriamente disto: do fato de que Jesus não é um missionário isolado, não quer cumprir sozinho a sua missão, mas envolve os seus discípulos. E hoje vemos que, além dos Doze apóstolos, chama outros setenta e dois, e os manda às aldeias, dois a dois, a anunciar que o Reino de Deus está próximo. Isto é muito belo! Jesus não quer agir sozinho, veio para trazer ao mundo o amor de Deus e quer difundi-lo com o estilo da comunhão, com o estilo da fraternidade. Por isto forma imediatamente uma comunidade de discípulos, que é uma comunidade missionária. Imediatamente os prepara para a missão, para ir.

Mas atenção: o foco não é socializar, passar o tempo juntos, não, o foco é anunciar o Reino de Deus, e isto é urgente! E também hoje é urgente! Não há tempo a perder batendo papo, não é preciso esperar o consenso de todos, é preciso ir e anunciar. A todos leva a paz de Cristo, e se não a acolhem, se segue em frente da mesma maneira. Aos doentes se leva a cura, porque Deus quer curar o homem de todo mal. Quantos missionários fazem isto! Semeiam vida, saúde, conforto às periferias do mundo. Que belo é isto! Não viver para si mesmo, não viver para si mesma, mas vive para ir e fazer o bem! Tantos jovens estão hoje na Praça: pensem nisso, questionem: Jesus me chama a ir, a sair de mim e fazer o bem? A vocês, jovens, a vocês rapazes e moças, pergunto: vocês são corajosos para isto, têm a coragem de ouvir a voz de Jesus? É belo ser missionários!… Ah, são bravos! Eu gosto disso!

Estes setenta e dois discípulos, que Jesus envia à sua frente, quem são? Quem representam? Se os Doze são os Apóstolos, e então, representam também os Bispos, seus sucessores, estes setenta e dois podem representar os outros ministros ordenados, presbíteros e diáconos; mas em sentido mais amplo, podemos pensar nos outros ministérios na Igreja, nos catequistas, nos fiéis leigos que se empenham nas missões paroquiais, em quem trabalha com os doentes, com as diversas formas de desconforto e alienação; mas sempre como missionários do Evangelho, com a urgência do Reino que está próximo. Todos devem ser missionários, todos podem ouvir aquele chamado de Jesus e ir adiante e anunciar o Reino!

Diz o Evangelho que aqueles setenta e dois voltaram da sua missão repletos de alegria, porque tinham experimentado o poder do Nome de Cristo contra o mal. Jesus confirma isso: a estes discípulos Ele dá a força para derrotar o maligno. Mas acrescenta: “Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam nos céus” (Lc 10, 20). Não devemos nos vangloriar como se fôssemos nós os protagonistas: protagonista é um só, é o Senhor! Protagonista é a graça do Senhor! Ele é o único protagonista! E a nossa alegria é somente esta: ser seus discípulos, seus amigos. Ajude-nos Nossa Senhora a sermos bons operários do Evangelho.

Queridos amigos, a alegria! Não tenham medo de ser alegres! Não tenham medo da alegria! Aquela alegria que nos dá o Senhor quando O deixamos entrar na nossa vida, deixamos que Ele entre na nossa vida e nos convide a sair de nós para as periferias da vida e anunciar o Evangelho. Não tenham medo da alegria. Alegria e coragem!

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

Como vocês sabem, ha dois dias foi publicada a Encíclica sobre a fé, intitulada Lumen Fidei, “a luz da fé”. Por ocasião do Ano da Fé,o Papa emérito Bento XVI iniciou esta encíclica, após a da caridade e esperança. Eu peguei esse projeto e o concluí. Eu o ofereço com alegria a todo o Povo de Deus. Hoje, especialmente precisamos ir ao essencial da fé cristã, precisamos aprofundá-la e confrontá-la com as problemáticas atuais. Acredito que esta encíclica, pelo menos em algumas partes, poderá ser útil para aqueles que estão à procura de Deus e do sentido da vida. Eu a coloco nas mãos de Maria, ícone perfeita da fé, para que possa dar os frutos que o Senhor deseja.

Dirijo minha cordial saudação a todos, caros fiéis de Roma e peregrinos. Saúdo especialmente os jovens da Diocese de Roma que se preparam para partir para o Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude. Queridos jovens, eu também estou me preparando! Caminhemos juntos rumo a esta grande festa da fé; Maria nos acompanhe, e nos encontramos lá!

Saúdo as Irmãs Rosminianas e as Franciscanas Angelinas que realizam seus Capítulos Gerais e os responsáveis pela Comunidade de Santo Egídio que vieram de vários países para o curso de formação. A todos auguro um bom domingo! Bom almoço! Adeus.