“A missão é sobretudo graça”

 

Homilia do Papa Francisco na missa com os seminaristas, noviços, noviças, que estão em caminhada vocacional

 

CIDADE DO VATICANO, 07 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos a homilia do Papa Francisco pronunciada neste domingo, 07 de julho, na Missa com os seminaristas, noviços, noviças, que estão em caminhada vocacional.  

Amados irmãos e irmãs!

Já ontem tive a alegria de vos encontrar, e hoje a nossa festa é ainda maior porque nos reunimos para a Eucaristia, no Dia do Senhor. Sois seminaristas, noviços e noviças, jovens em caminhada vocacional, vindos dos diversos cantos do mundo: representais a juventude da Igreja. Se a Igreja é a Esposa de Cristo, de certo modo vós representais o seu tempo de noivado, a primavera da vocação, o período da descoberta, do discernimento, da formação. E é um período muito belo, em que se lançam as bases do futuro. Obrigado por terdes vindo!

Hoje a Palavra de Deus fala-nos da missão. Donde nasce a missão? A resposta é simples: nasce de uma chamada – a do Senhor – e Ele chama para ser enviado. Qual deve ser o estilo do enviado? Quais são os pontos de referência da missão cristã? As leituras que ouvimos sugerem-nos três: a alegria da consolação, a cruz e a oração.

1. O primeiro elemento: a alegria de consolação. O profeta Isaías dirige-se a um povo que atravessou o período escuro do exílio, sofreu uma prova muito dura; mas agora, para  Jerusalém, chegou o tempo da consolação; a tristeza e o medo devem dar lugar à alegria: «Alegrai-vos (…), rejubilai (…) regozijai-vos» – diz o Profeta (66, 10). É um grande convite à alegria. Porquê? Qual é o motivo deste convite à alegria? Porque o Senhor derramará sobre a Cidade Santa e seus habitantes uma «cascata» de consolação, uma cascata de consolação – ficando assim repletos de consolação –, uma cascata de ternura materna: «Serão levados ao colo e acariciados sobre os seus regaços» (v. 12). Como faz a mãe quando põe o filho no regaço e o acaricia, assim o Senhor fará connosco… faz connosco. Esta é a cascata de ternura que nos dá tanta consolação. «Como a mãe consola o seu filho, assim Eu vos consolarei» (v. 13). Cada cristão, mas sobretudo nós, somos chamados a levar esta mensagem de esperança, que dá serenidade e alegria: a consolação de Deus, a sua ternura para com todos. Mas só podemos ser seus portadores, se experimentarmos nós primeiro a alegria de ser consolados por Ele, de ser amados por Ele. Isto é importante para que a nossa missão seja fecunda: sentir a consolação de Deus e transmiti-la! Algumas vezes encontrei pessoas consagradas que têm medo da consolação de Deus e… pobrezinho, pobrezinha delas, se amofinam porque têm medo desta ternura de Deus. Mas não tenhais medo. Não tenhais medo, o nosso Deus é o Senhor da consolação, o Senhor da ternura. O Senhor é Pai e Ele disse que procederá connosco como faz uma mãe com o seu filho, com a ternura dela. Não tenhais medo da consolação do Senhor. O convite de Isaías: «consolai, consolai o meu povo» (40,1) deve ressoar no nosso coração e tornar-se missão. Encontrarmos, nós, o Senhor que nos consola e irmos consolar o povo de Deus: esta é a missão. Hoje as pessoas precisam certamente de palavras, mas sobretudo têm necessidade que testemunhemos a misericórdia, a ternura do Senhor, que aquece o coração, desperta a esperança, atrai para o bem. A alegria de levar a consolação de Deus!

2. O segundo ponto de referência da missão é a cruz de Cristo. São Paulo, ao escrever aos Gálatas, diz: «Quanto a mim, de nada me quero gloriar, a não ser na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo» (6, 14). E fala de «estigmas», isto é, das chagas de Jesus crucificado, como selo, marca distintiva da sua vida de apóstolo do Evangelho. No seu ministério, Paulo experimentou o sofrimento, a fraqueza e a derrota, mas também a alegria e a consolação. Isto é o mistério pascal de Jesus: mistério de morte e ressurreição. E foi precisamente o ter-se deixado configurar à morte de Jesus que fez São Paulo participar na sua ressurreição, na sua vitória. Na hora da escuridão, na hora e da prova, já está presente e operante a alvorada da luz e da salvação. O mistério pascal é o coração palpitante da missão da Igreja. E, se permanecermos dentro deste mistério, estamos a coberto quer de uma visão mundana e triunfalista da missão, quer do desânimo que pode surgir à vista das provas e dos insucessos. A fecundidade pastoral, a fecundidade do anúncio do Evangelho não deriva do sucesso nem do insucesso vistos segundo critérios de avaliação humana, mas de conformar-se com a lógica da Cruz de Jesus, que é a lógica de sair de si mesmo e dar-se, a lógica do amor. É a Cruz – sempre a Cruz com Cristo, porque às vezes oferecem-nos a cruz sem Cristo: esta não vale! É a Cruz, sempre a Cruz com Cristo – que garante a fecundidade da nossa missão. E é da Cruz, supremo acto de misericórdia e amor, que se renasce como «nova criação» (Gl 6, 15).

3. Finalmente, o terceiro elemento: a oração. Ouvimos no Evangelho: «Rogai ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Lc 10, 2). Os trabalhadores para a messe não são escolhidos através de campanhas publicitárias ou apelos ao serviço da generosidade, mas são «escolhidos» e «mandados» por Deus. É Ele que escolhe, é Ele que manda; sim, é Ele que manda, é Ele que confere a missão. Por isso é importante a oração. A Igreja – repetia Bento XVI – não é nossa, mas de Deus; e quantas vezes nós, os consagrados, pensamos que seja nossa! Fazemos dela… qualquer coisa que nos vem à cabeça. Mas não é nossa; é de Deus. O o campo a cultivar é d’Ele. Assim, a missão é sobretudo graça. A missão é graça. E, se o apóstolo é fruto da oração, nesta encontrará a luz e a força da sua acção. De contrário, a nossa missão não será fecunda; mais, apaga-se no próprio momento em que se interrompe a ligação com a fonte, com o Senhor.

Queridos seminaristas, queridas noviças e queridos noviços, queridos jovens em caminhada vocacional! Há dias, um de vós, um dos vossos formadores, dizia-me: évangéliser on le fait à genoux, a evangelização faz-se de joelhos. Ouvi bem: «A evangelização faz-se de joelhos». Sede sempre homens e mulheres de oração! Sem o relacionamento constante com Deus a missão torna-se um ofício. Mas que trabalho fazes? Trabalho de alfaiate, de cozinheira, de padre… Trabalhas de padre, de freira? Não. Não é um ofício, é diverso. O risco do activismo, de confiar demasiado nas estruturas, está sempre à espreita. Se olhamos a vida de Jesus, constatamos que, na véspera de cada decisão ou acontecimento importante, Ele Se recolhia em oração intensa e prolongada. Cultivemos a dimensão contemplativa, mesmo no turbilhão dos compromissos mais urgentes e pesados. E quanto mais a missão vos chamar para ir para as periferias existenciais, tanto mais o vosso coração se mantenha unido ao de Cristo, cheio de misericórdia e de amor. Aqui reside o segredo da fecundidade pastoral, da fecundidade de um discípulo do Senhor!

Jesus envia os seus sem «bolsa, nem alforge, nem sandálias» (Lc 10, 4). A difusão do Evangelho não é assegurada pelo número das pessoas, nem pelo prestígio da instituição, nem ainda pela quantidade de recursos disponíveis. O que conta é estar permeados pelo amor de Cristo, deixar-se conduzir pelo Espírito Santo e enxertar a própria existência na árvore da vida, que é a Cruz do Senhor.

Queridos amigos e amigas, com grande confiança vos  confio à intercessão de Maria Santíssima. Ela é a Mãe que nos ajuda a tomar as decisões definitivas com liberdade, sem medo. Que Ela vos ajude a testemunhar a alegria da consolação de Deus, sem ter medo da alegria; Ela vos ajude a conformar-vos com a lógica de amor da Cruz, a crescer numa união cada vez mais intensa com o Senhor na oração. Assim a vossa vida será rica e fecunda

 

Jesus quer os cristãos livres como Ele

Papa Francisco antes de recitar o Angelus comenta o Evangelho do dia

CIDADE DO VATICANO, 30 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Milhares de pessoas estavam na Praça de São Pedro hoje para rezar o Angelus com o Papa. Antes de recitar a oração mariana, o Papa Francisco comentou o evangelho do dia.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste domingo (Lc 9, 51-62) mostra uma passagem muito importante na vida de Cristo: o momento em que – como escreve São Lucas – “manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.”(9,51). Jerusalém é o destino final, onde Jesus, em sua última Páscoa, deve morrer e ressuscitar, e, assim, cumprir sua missão de salvação.

Desde aquele momento, após a “firme decisão”, Jesus fixa a meta, e também para as pessoas que ele encontra e que lhe pedem para segui-lo, ele diz claramente quais são as condições:não ter uma moradia estável; desapegar-se dos afetos humanos; não ceder à nostalgia do passado.

E Jesus disse também aos seus discípulos, instruídos a precedê-lo em seu caminho para Jerusalém para anunciar sua passagem, de não impor nada:se não encontrarem disponibilidade a acolhê-Lo, que continuem, que se prossiga. Jesus jamais impõe, Ele é humilde e convida. Sevocê quiser, venha. A humildade de Jesus é assim: Ele convida sempre, não impõe.

Tudo isso nos faz pensar. Nos fala, por exemplo, a importância que, mesmo para Jesus teve a consciência: de ouvir em seu coração a voz do Pai e segui-la. Jesus, em sua vida terrena, não foi, por assim dizer, “teleguiado”:era o Verbo encarnado, o Filho de Deus feito homem, e a um certo ponto tomou a firme decisão de ir a Jerusalém pela última vez; uma decisão tomada na sua consciência, mas não sozinho: com o Pai, em plena união com Ele! Decidiu em obediênciaao Pai, em escuta profunda,intimo de sua vontade. E por isso a decisão era firme, porque tomada com o Pai.E no Pai, Jesus encontrava a força e a luz para seu caminho. E Jesus era livre, naquela decisão estava livre. Jesus quer os cristãos livres como Ele, com a liberdade que vem deste diálogo com o Pai, a partir deste diálogo com Deus. Jesus não quer nem cristãos egoístas, que seguem o próprio eu, não falam com Deus; nem cristãos fracos, cristãos, que não têm vontade, cristãos, “teleguiados”, incapazes de criatividade, que tentam sempre se conectar com a vontade do outro, e não são livres. Jesus nos quer livres e esta liberdade, onde se realiza? Se realiza no diálogo com Deus na sua consciência. Se um cristão não sabe como falar com Deus, não sabe ouvir a Deus em sua própria consciência, não é livre, não é livre.

Por isso, devemos aprender a escutar mais a nossa consciência. Mas atenção! Isso não significa seguir o próprio eu, fazer o que me interessa, o que me convém, o que eu gosto… Não é isso! A consciência é o espaço interior da escuta da verdade, do bem, da escuta de Deus; é o lugar interior da minha relação com Ele, que fala ao meu coração e me ajuda a discernir, a compreender o caminho que deve percorrer, e uma vez tomada a decisão, a ir avante, a permanecer fiel.

Tivemos um exemplo maravilhoso de como é esta relação com Deus na própria consciência,um recente exemplo maravilhoso. O PapaBento XVI nos deu um grande exemplo quando o Senhor lhe fez entender, na oração, qual era o passo que ele tinha que dar. Ele seguiu, com grande sentido de discernimento e coragem, a sua consciência, ou seja, a vontade de Deus que falava ao seu coração.E este exemplo do nosso Pai faz bem a todos nós, comoum exemplo a seguir.

Nossa Senhora, com grande simplicidade, escutava e meditava no íntimo de si a Palavra de Deus e o que estava acontecendo com Jesus. Seguiu seu Filho com profunda convicção, com firme esperança. Marianos ajude a nos tornar sempre mais homens e mulheres de consciência,livres na consciência, pois é na consciência que se dá o diálogo com Deus; homens e mulherescapazes de escutar a voz de Deus e segui-la com decisão.

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje, na Itália, celebramos o Dia da caridade do Papa. Desejo agradecer aos Bispos e a todas as paróquias, especialmente as mais pobres, pelas orações e ofertas que socorrem tantas iniciativas pastorais e caritativas do Sucessor de Pedro em todas as partes do mundo. Obrigado a todos!”

Dirijo de coração a minha cordial saudação a todos os peregrinos presentes, em particular aos numerosos fiéis da Alemanha. Saúdo também os peregrinos de Madrid, Augsburg, Sonnino, Casarano, Lenola, Sambucetole e Montegranaro, o grupo de dominicanos leigos, a Fraternidade apostólica da Divina Misericórdia de Piazza Armerina, os Amigos das missões do Preciosíssimo Sangue, UNITALSI de Ischia di Castro e os meninos de Latisana.

Por favor, rezem por mim. Desejo a todos um bom domingo e um bom almoço. Arrivederci!

“O coração da mensagem de Deus é a misericórdia”

Homilia do papa Francisco na missa desta sexta-feira, concelebrada com cardeal venezuelano

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 05 de Julho de 2013 (Zenit.org) – “O coração da mensagem de Deus é a misericórdia”, destacou hoje o papa Francisco na missa da Casa Santa Marta, comentando o evangelho sobre a vocação de Mateus. Concelebrou com ele o cardeal Jorge Liberato Urosa, arcebispo de Caracas, no dia da festa nacional da Venezuela. Assistiu à missa um grupo de funcionários do Vaticano.

“Eu quero misericórdia e não sacrifício”: o papa repete as palavras de Jesus aos fariseus, que o criticam por comer com os pecadores. Os publicanos, explica o papa, “eram duplamente pecaminosos, porque estavam apegados ao dinheiro e porque eram traidores da pátria”, já que recolhiam os impostos do seu próprio povo para entregar aos romanos. Jesus vê Mateus, o arrecadador de impostos, e olha para ele com misericórdia:

“Jesus olha para aquele homem, sentado na banca de impostos, e aquele homem sente algo no olhar de Jesus, fica maravilhado no espírito, e escuta o convite de Jesus: ‘Segue-me! Segue-me!’. E naquele momento, ele se torna um homem cheio de alegria, mas também fica um pouco em dúvida, porque é muito apegado ao dinheiro. E basta um momento a sós, que nós sabemos como Caravaggio conseguiu expressar: aquele homem que olhava, mas que também, com as mãos, segurava o dinheiro… basta um momento a sós com Jesus para que Mateus diga ‘sim’, abandone tudo e vá atrás do Senhor. É o momento da misericórdia recebida e acolhida: ‘Sim, eu vou contigo!’. É o primeiro momento do encontro, uma experiência espiritual profunda”.

“Depois vem um segundo momento: a festa. Jesus faz festa com os pecadores”: celebra a misericórdia de Deus, que “muda a vida”. Depois desses dois momentos, o estupor do encontro e a festa, vem “o trabalho diário”, o anúncio do evangelho:

“Esse trabalho tem que ser alimentado com a lembrança daquele primeiro encontro, daquela festa. E isso não é apenas um momento, é um tempo: até o fim da vida. A lembrança. Lembrança de quê? Daqueles fatos! Daquele encontro com Jesus que mudou a minha vida! Quando Ele teve misericórdia! Quando Ele foi tão bom comigo e me disse: ‘Convida os teus amigos pecadores, para fazermos uma festa!’. Essa lembrança dá forças a Mateus para seguir em frente. ‘Jesus mudou a minha vida! Eu encontrei o Senhor’. Recordar sempre. É como soprar as brasas daquela lembrança, não é mesmo? Soprar para manter o fogo sempre aceso”.

Nas parábolas evangélicas, fala-se da recusa de muitos convidados à festa do Senhor. Por isso, Jesus foi “buscar os pobres, os doentes, e fez a festa com eles”.

“E Jesus, continuando com esse costume, celebra com os pecadores e oferece aos pecadores a graça. ‘Eu quero misericórdia, e não sacrifícios. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores’. Ele veio por nós, pecadores, e é isto o que é bonito. Deixemo-nos olhar pela misericórdia de Jesus, façamos festa e guardemos a lembrança desta salvação!”

“Filho de Deus”: uma carteira de identidade que ninguém pode nos tirar

Homilia em Santa Marta: Papa Francisco nos lembra que, graças ao sacrifício amoroso de Cristo, ganhamos a filiação divina e o perdão dos pecados

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 04 de Julho de 2013 (Zenit.org) –  “Nome? Filho de Deus. Estado Civil? Livre!”. Se podemos nos orgulhar desses dados em nossa “carteira de identidade” de cristãos, é graças a Jesus Cristo, que nos salvou. A homilia do papa Francisco na missa de hoje se destaca pela originalidade com que ele transmite a mensagem que, basicamente, é a mesma de todos os dias: a infinita misericórdia de Deus.

Na missa concelebrada com o cardeal indiano Telesphore Placidus Toppo, arcebispo de Ranchi, o Santo Padre focou no evangelho do dia, que narra a cura milagrosa de um paralítico por Jesus. Em particular, as palavras iniciais de Cristo, de acordo com o pontífice, são a chave de toda a passagem: “Coragem, filho, os teus pecados estão perdoados”.

A frase irrita os escribas, que se queixam e o acusam de blasfêmia, “porque só Deus pode perdoar os pecados”. Talvez, até mesmo o paralítico, disse o papa, continua “desconcertado”, porque o que ele desejava “era ser curado fisicamente”. Jesus, porém, realiza de fato o milagre e cura o homem também no corpo. Mas, no fundo, “as curas, o ensinamento, as palavras fortes contra a hipocrisia, eram apenas um sinal de algo mais que Jesus estava fazendo”: perdoar os pecados.

Este é o “milagre mais profundo”, disse Francisco: “Essa reconciliação é a recriação do mundo. Esta é a missão mais profunda de Jesus. A redenção de todos nós, pecadores…”. Cristo faz esse milagre não “com as palavras”, nem “com gestos”, nem “caminhando pela estrada”, disse Bergoglio. Ele “faz isto com a sua carne. É Ele, Deus, quem se torna um de nós, homem, para nos curar por dentro, a nós, pecadores”. Ele nos liberta do pecado tomando sobre si próprio “todo o pecado”, afirmou.

Jesus “desce da sua glória e se abaixa até a morte e morte de cruz”. Mas é precisamente esta “a sua glória” e, ao mesmo tempo, “a nossa salvação”. “Este é o maior milagre”, disse o pontífice, através do qual Jesus “nos torna filhos, com a liberdade dos filhos”.

Em virtude desse gesto de amor divino infinito, “nós podemos dizer ‘Pai’”, e dizê-lo “com uma atitude tão boa e tão bela, com liberdade!”. “Nós, escravos do pecado”, ressaltou o papa, estamos livres graças a Jesus Cristo. Fomos curados “no profundo da nossa existência”.

“Pensar nisso nos fará bem, pensar no maravilhoso que é ser filho! É tão linda a liberdade dos filhos, porque o filho está em casa e Jesus nos abriu as portas de casa… Agora nós estamos em casa!”, disse Bergoglio. Este fato esclarece as palavras já citadas no evangelho de hoje: “Coragem, filho, teus pecados estão perdoados”. “Essa”, disse o papa, “é a raiz da nossa coragem. Eu sou livre, eu sou filho… O Pai me ama e eu amo o Pai”.

A graça a pedir hoje é a de “compreender bem essa obra” de Deus, que “reconciliou consigo o mundo em Cristo, confiando-nos a palavra da reconciliação” e a graça “de levar adiante, com força, com a liberdade dos filhos, a palavra da reconciliação”. “Nós fomos salvos em Jesus Cristo”, concluiu o Santo Padre, e “ninguém pode nos roubar essa carteira de identidade. Eu me chamo assim: Filho de Deus! Que bela carteira de identidade! Estado civil: livre!”.

Beijar as feridas dos pobres e dos necessitados para encontrar o Deus vivo

Homilia do Papa Francisco: Só existe uma forma de realmente conhecer a Cristo – beijar as suas feridas nas pessoas que sofrem

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 03 de Julho de 2013 (Zenit.org) – São Tomé “foi um teimoso”, mas “Cristo quis justamente um teimoso” para afirmar plenamente a sua divindade. O papa Francisco, na missa de hoje na Casa Santa Marta, lança nova luz sobre a figura do apóstolo cuja festa litúrgica é celebrada hoje e que se tornou conhecido na história como “o incrédulo”.

Partindo do seu gesto de querer “tocar nas chagas de Cristo para acreditar”, o Santo Padre deu hoje mais uma indicação a quem quer seguir o caminho que leva até Deus: beijar as feridas de Jesus em nossos irmãos em necessidade.

Comentando o evangelho do dia, que fala da aparição de Jesus aos apóstolos depois da ressurreição, o papa destacou a ausência de Tomé. Um fato não casual: Cristo, disse o papa, “quis que ele esperasse uma semana”. Ele “sabe por que faz as coisas” e “dá para cada um de nós o tempo que acha melhor. Para Tomé, Ele deu uma semana”.

Quando o apóstolo vê Jesus se revelando com o seu corpo “limpo, belíssimo e cheio de luz”, mas ainda coberto de chagas, é “convidado a colocar o dedo na ferida dos pregos, a colocar a mão em seu lado trespassado”. Tomé, fazendo este gesto, “não disse ‘É verdade: o Senhor ressuscitou’, mas foi ainda mais longe”, disse o papa. Tomé afirmou: “Deus!” e o adorou, tornando-se “o primeiro dos discípulos a fazer a confissão da divindade de Cristo após a ressurreição”.

Isso explica “a intenção do Senhor ao fazê-lo esperar”, disse Bergoglio: “levar a sua descrença não apenas à afirmação da ressurreição, mas à afirmação da sua divindade”. Porque há somente um caminho “para o encontro com Jesus-Deus: as suas feridas. Não há outro”.

“Na história da Igreja”, prosseguiu Francisco, “houve alguns enganos no caminho rumo a Deus”. Alguns, disse ele, “acreditaram que o Deus vivo, o Deus dos cristãos, pode ser encontrado no caminho da meditação, indo ‘mais alto’ na meditação. Isso é perigoso”, alertou: “muitos se perderam nessa estrada, porque, mesmo que até possam ter chegado ao conhecimento de Deus, nunca chegaram ao de Jesus Cristo, Filho de Deus, segunda Pessoa da Santíssima Trindade”. É como “o caminho dos gnósticos”, disse o pontífice, que “são bons, que trabalham”, mas que não seguem o “caminho certo”, e sim outro caminho “muito complicado”, que “não leva a bom porto”.

Há outros, disse o Santo Padre, que “pensaram que, para chegar até Deus, devemos nos mortificar, ser austeros, e escolheram o caminho da penitência e do jejum”. Nem estes, no entanto, “chegaram até o Deus vivo, até Jesus Cristo Deus vivo”. Eles “são os pelagianos, que acreditam que podem chegar lá com o seu próprio esforço”, e que, portanto, erram completamente o caminho indicado por Jesus Cristo para encontrá-lo, isto é, “as suas chagas”.

O problema é entender como e onde estão essas chagas de Cristo. O papa Francisco respondeu a esta pergunta afirmando: “Nós encontramos as feridas de Jesus fazendo as obras de misericórdia, ao corpo e à alma, e eu destaco ‘ao corpo’, dos nossos irmãos e irmãs que sofrem, que passam fome, que têm sede, que estão nus, que são humilhados, que são escravos, que estão presos, que estão no hospital”.

“Essas são as chagas de Jesus hoje”, reiterou, “e Jesus nos pede um ato de fé nele através destas chagas”. É muito bom criar uma fundação para ajudar os necessitados, “mas se ficarmos só nesse âmbito, seremos apenas filantrópicos. Temos que tocar nas chagas de Jesus, acariciar as feridas de Jesus, cuidar das feridas de Jesus com ternura, temos que beijar as chagas de Jesus, e isso literalmente”. Como São Francisco, que, depois de abraçar o leproso, “viu a sua vida mudar”.

Em essência, concluiu o papa, “não precisamos de um curso de reciclagem para tocar no Deus vivo”, mas “simplesmente sair às ruas”, indo procurar, encontrar e tocar nas chagas de Cristo em quem é pobre, frágil, marginalizado. Uma coisa que não é simples nem natural. Por esta razão, exortou o Santo Padre, “peçamos a São Tomé a graça de ter a coragem de entrar nas feridas de Jesus com a nossa ternura e certamente teremos a graça de adorar o Deus vivo

“Saudade” e “curiosidade” nos amarram ao pecado

Na homilia de hoje o Papa Francisco exorta a ser corajosos em meio à fraqueza para continuar seguindo a estrada de nosso Senhor

Por Luca Marcolivio

ROMA, 02 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Fugir do pecado, deixando-o para trás sem “saudades”: foi em torno a este assunto difícil que o papa Francisco articulou a homilia desta manhã, na Casa Santa Marta.

Participou da missa um grupo de sacerdotes e funcionários do Tribunal da Penitenciaria Apostólica, um grupo da Pontifícia Academia Eclesiástica e, como concelebrantes, o cardeal Manuel Monteiro de Castro e dom Beniamino Stella.

Nas situações “difíceis” ou “de conflito”, explicou o papa, as atitudes recorrentes são quatro: a primeira é a da “lentidão”, encontrada hoje em Lot, o protagonista da primeira leitura (cf. Gn 19,15-29).

Quando o anjo o aconselha a deixar para trás a sua cidade destruída, Lot obedece, mas com bastante hesitação: ele sofre “a incapacidade do desapego do mal e do pecado”. Por esta razão, começa até a negociar com o anjo.

Embora as situações de pecado sejam muitas vezes difíceis de superar, nosso Senhor sempre nos diz: “Fuja! Você não consegue lutar ali, porque o fogo e o enxofre vão matar você”.

Quem seguiu à risca este princípio foi Santa Teresinha do Menino Jesus, que reconhecia que, em determinadas tentações, “nós somos fracos e temos que fugir”: mas é uma fuga “para frente, para avançar no caminho de Jesus”, disse o Santo Padre.

O anjo disse a Lot: “Não olhes para trás”. Pediu-lhe vencer “a saudade do pecado”, na qual tinha caído o povo de Deus no deserto quando sentiu “saudades das cebolas do Egito”, esquecendo-se que aquelas cebolas eram servidas “à mesa da escravidão”.

É preciso, portanto, vencer a tentação da “curiosidade”, que, em situações de pecado, “não nos serve de nada”, mas apenas “nos prejudica”, advertiu o papa.

Uma terceira tentação a vencer, depois da “lentidão” e da “saudade” do pecado, é a do “medo”, que assalta os apóstolos durante uma tempestade no mar de Tiberíades (cf. Mt 8,23-27). Em pânico, eles exclamam: “Senhor, salva-nos, que perecemos!”. Ter “medo de avançar no caminho do Senhor” também é uma “tentação do diabo”. O medo “não é um bom conselheiro”, o que Jesus deixa claro diversas vezes, observou o Santo Padre.

A quarta atitude diante do pecado é virtuosa: é “a graça do Espírito Santo”. Diante da lentidão para combater o pecado, diante da saudade do pecado e diante do medo de avançar, devemos nos voltar para Deus e admitir: “Senhor, eu tenho essa tentação. Eu quero continuar nessa situação de pecado. Senhor, eu tenho a curiosidade de conhecer essas coisas. Senhor, eu tenho medo”.

O que nos salva é sempre “a maravilha do novo encontro com Jesus”, disse o papa Francisco. Mesmo na nossa fraqueza, “não somos cristãos ingênuos nem mornos, somos valentes, corajosos”, observou ele.

Mantendo-nos “corajosos em meio à nossa fraqueza”, devemos perseverar, não nos deixar levar pela “saudade ruim” nem pelo medo, olhando sempre para Deus, finalizou o papa.

Três pensamentos sobre o ministério petrino, guiados pelo verbo «confirmar»

Homilia pronunciada pelo Papa Francisco na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo

CIDADE DO VATICANO, 01 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos o texto da homilia pronunciada pelo Papa Francisco na Solenidade dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e Santa Missa e imposição do pálio aos novos arcebispos metropolitanos celebrada sábado, 29 de junho, na Basílica Vaticana.

Senhores Cardeais,

Eminentíssimo Metropolita Ioannis, Venerados Irmãos no Episcopado e no Sacerdócio, Amados irmãos e irmãs!

Celebramos a solenidade dos Apóstolos São Pedro e São Paulo, padroeiros principais da Igreja de Roma; uma festa tornada ainda mais jubilosa pela presença de Bispos de todo o mundo. Uma enorme riqueza que nos faz reviver, de certa forma, o evento de Pentecostes: hoje, como então, a fé da Igreja fala em todas as línguas e quer unir os povos numa só família.

Saúdo cordialmente e com gratidão a Delegação do Patriarcado de Constantinopla, guiada pelo Metropolita Ioannis. Agradeço ao Patriarca ecuménico Bartolomeu I este novo gesto fraterno. Saúdo os Senhores Embaixadores e as Autoridades civis. Um obrigado especial ao Thomanerchor, o Coro da Thomaskirche [Igreja de São Tomé] de Lípsia – a igreja de Bach – que anima a Liturgia e constitui mais uma presença ecuménica.

Três pensamentos sobre o ministério petrino, guiados pelo verbo «confirmar». Em que é chamado a confirmar o Bispo de Roma?

1. Em primeiro lugar, confirmar na fé. O Evangelho fala da confissão de Pedro: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16), uma confissão que não nasce dele, mas do Pai celeste. É por causa desta confissão que Jesus diz: «Tu és Pedro, e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja» (16, 18). O papel, o serviço eclesial de Pedro tem o seu fundamento na confissão de fé em Jesus, o Filho de Deus vivo, tornada possível por uma graça recebida do Alto. Na segunda parte do Evangelho de hoje, vemos o perigo de pensar de forma mundana. Quando Jesus fala da sua morte e ressurreição, do caminho de Deus que não corresponde ao caminho humano do poder, voltam ao de cima em Pedro a carne e o sangue: «Pedro começou a repreendê-Lo, dizendo: (…) Isso nunca Te há-de acontecer!» (16, 22). E Jesus tem uma palavra dura: «Afasta-te, Satanás! Tu és para Mim um estorvo» (16, 23). Quando deixamos prevalecer os nossos pensamentos, os nossos sentimentos, a lógica do poder humano e não nos deixamos instruir e guiar pela fé, por Deus, tornamo-nos pedra de tropeço. A fé em Cristo é a luz da nossa vida de cristãos e de ministros na Igreja!

2. Confirmar no amor. Na segunda leitura, ouvimos as palavras comoventes de São Paulo: «Combati o bom combate, terminei a corrida, permaneci fiel» (2 Tm 4, 7). Qual combate? Não é o das armas humanas, que, infelizmente, ainda ensanguenta o mundo, mas o combate do martírio. São Paulo tem uma única arma: a mensagem de Cristo e o dom de toda a sua vida por Cristo e pelos outros. E foi precisamente este facto de expor-se em primeira pessoa, deixar-se consumar pelo Evangelho, fazer-se tudo para todos sem se poupar, que o tornou credível e edificou a Igreja. O Bispo de Roma é chamado a viver e confirmar neste amor por Cristo e por todos, sem distinção, limite ou barreira. E não só o Bispo de Roma, mas todos vós, novos arcebispos e bispos, tendes o mesmo dever: deixar-se consumar pelo Evangelho, fazer-se tudo para todos. O dever de não se poupar, de se esquecer de si ao serviço do povo santo e fiel de Deus.

3. Confirmar na unidade. Aqui detenho-me a considerar o gesto que realizámos. O Pálio é símbolo de comunhão com o Sucessor de Pedro, «princípio e fundamento perpétuo e visível da unidade de fé e comunhão» (Conc. Ecum. Vat. II, Lumen gentium, 18). E hoje a vossa presença, amados Irmãos, é o sinal de que a comunhão da Igreja não significa uniformidade. Referindo-se à estrutura hierárquica da Igreja, o Concílio Vaticano II afirma que o Senhor «constituiu [os Apóstolos] em colégio ou grupo estável e deu-lhes como chefe a Pedro, escolhido de entre eles» (ibid., 19). Confirmar na unidade: o Sínodo dos Bispos, em harmonia com o primado. Devemos avançar por esta estrada da sinodalidade, crescer em harmonia com o serviço do primado. E continua o Concílio: «Este colégio, enquanto composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do Povo de Deus» (ibid., 22). Na Igreja, a variedade, que é uma grande riqueza, sempre se funde na harmonia da unidade, como um grande mosaico onde todos os ladrilhos concorrem para formar o único grande desígnio de Deus. E isto deve impelir a superar sempre todo o conflito que possa ferir o corpo da Igreja. Unidos nas diferenças: não há outra estrada para nos unirmos. Este é o espírito católico, o espírito cristão: unir-se nas diferenças. Este é o caminho de Jesus! O Pálio, se é sinal da comunhão com o Bispo de Roma, com a Igreja universalcom o Sínodo dos Bispos é também um compromisso que obriga cada um de vós a ser instrumento de comunhão.

Confessar o Senhor deixando-se instruir por Deus, consumar-se por amor de Cristo e do seu Evangelho, ser servidores da unidade: estas são as incumbências que os Apóstolos São Pedro e São Paulo confiam a cada um de nós, amados Irmãos no Episcopado, para serem vividas por cada cristão. Sempre nos guie e acompanhe com a sua intercessão a Santíssima Mãe de Deus: Rainha dos Apóstolos, rogai por nós! Amen.

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Orar com insistência, até ser inconvenientes com Deus

Missa na Casa Santa Marta: papa Francisco explica que a oração não é pedir coisas a Deus, mas “negociar” com ele corajosamente, até cansá-lo

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 01 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Rezem, rezem, rezem. Com coragem, insistentemente, “negociando” com Deus. A exortação do papa Francisco na missa de hoje na Casa Santa Marta é clara: não devemos nos dirigir a Deus com orações “descartáveis”, mas rezar até o ponto de ser inconvenientes com ele. A missa foi concelebrada com mons. Brian Farrell e com o cardeal Kurt Koch, acompanhado por um grupo de sacerdotes e de colaboradores do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

O convite do Santo Padre parte da primeira leitura do dia, Gênesis 18, 16-33, que conta a história de Abraão: com coragem e persistência, ele se volta a Deus para salvar Sodoma da destruição. “Abraão é um bravo e reza com coragem”, disse o pontífice; ele “sente a força de falar cara a cara com o Senhor e procura defender a cidade”, inclusive com certa obstinação.

Existem diferentes tipos de coragem, explicou o papa: “Quando falamos de coragem, sempre pensamos na coragem apostólica, em ir pregar o evangelho, essas coisas… Mas há também a coragem diante do Senhor: aquela parresia diante do Senhor, de se dirigir a Ele corajosamente para pedir as coisas”.

Talvez, acrescentou o Santo Padre, seja algo “um pouco engraçado”. O próprio Abraão, na leitura de hoje, “fala com o Senhor de maneira especial”, disse o papa, a ponto de às vezes não sabermos se estamos “diante de um homem de oração ou de um comprador fenício, que vai puxando o preço para baixo, pechinchando. Ele insiste: de cinquenta, consegue baixar o preço para dez”.

“É engraçado”, reiterou o papa, mas “está tudo bem”, porque se realça a “atitude teimosa” que é necessária no diálogo com Deus. Às vezes, nós nos voltamos a Ele para “pedir uma coisa para uma pessoa” e acabamos pedindo outra, e outra e mais outra. “Isso não é a oração”, disse o papa Francisco. “Se você quer uma graça do Senhor, você tem que pedir com coragem e fazer o que Abraão fez, com insistência”.

Jesus nos ensina a orar com essa insistência, contando e reforçando episódios como o da viúva que recorre ao juiz, ou do homem que vai bater à porta do amigo à noite, ou da mulher siro-fenícia que pede repetidamente a cura da filha. Esta insistência “é muito cansativa”, disse o papa, mas “esta é a oração, isto é pedir uma graça de Deus”. Santa Teresa também “fala da oração como uma negociação com o Senhor”, diz Francisco. Isto só é possível quando se tem “a familiaridade com Deus”.

Rezar, portanto, “é negociar com Deus, até ser inoportunos com o Senhor”, insistiu Bergoglio: é “louvar o Senhor nas suas coisas boas e pedir que Ele dê aquelas coisas lindas a nós. E se Ele é tão misericordioso, tão bom, pedir que nos ajude”.

O papa fez um pedido pessoal e espontâneo no fim da homilia: “Eu gostaria que, hoje, todos nós, durante cinco minutos, não precisa mais do que isto, pegássemos a bíblia e, lentamente, rezássemos o Salmo 102: ‘Bendiz o Senhor, ó minha alma! Que tudo o que há em mim bendiga o seu nome! Não te esqueças de todos os seus benefícios. Ele perdoa todas as culpas, sara todas as feridas, salva a tua vida do fosso, te circunda de bondade e de misericórdia…’ ”.

Recitando essas palavras, explicou o Santo Padre, “vamos aprender as coisas que temos que dizer a Deus quando pedimos uma graça: ‘Tu, que és misericordioso, tu que me perdoas,me dáessa graça’, como pediu Abraão, como pediu Moisés”. Assim, concluiu Francisco, “vamos em frente na oração, corajosos, com esses ‘argumentos’ que vêm direto do próprio coração de Deus”.

Jesus quer os cristãos livres como Ele

Papa Francisco antes de recitar o Angelus comenta o Evangelho do dia

CIDADE DO VATICANO, 30 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Milhares de pessoas estavam na Praça de São Pedro hoje para rezar o Angelus com o Papa. Antes de recitar a oração mariana, o Papa Francisco comentou o evangelho do dia.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste domingo (Lc 9, 51-62) mostra uma passagem muito importante na vida de Cristo: o momento em que – como escreve São Lucas – “manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.”(9,51). Jerusalém é o destino final, onde Jesus, em sua última Páscoa, deve morrer e ressuscitar, e, assim, cumprir sua missão de salvação.

Desde aquele momento, após a “firme decisão”, Jesus fixa a meta, e também para as pessoas que ele encontra e que lhe pedem para segui-lo, ele diz claramente quais são as condições:não ter uma moradia estável; desapegar-se dos afetos humanos; não ceder à nostalgia do passado.

E Jesus disse também aos seus discípulos, instruídos a precedê-lo em seu caminho para Jerusalém para anunciar sua passagem, de não impor nada:se não encontrarem disponibilidade a acolhê-lo, que continuem, que se prossiga. Jesus jamais impõe, Ele é humilde e convida. Se você quiser, venha. A humildade de Jesus é assim: Ele convida sempre, não impõe.

Tudo isso nos faz pensar. Nos fala, por exemplo, a importância que, mesmo para Jesus teve a consciência: de ouvir em seu coração a voz do Pai e segui-la. Jesus, em sua vida terrena, não foi, por assim dizer, “teleguiado”:era o Verbo encarnado, o Filho de Deus feito homem, e a um certo ponto tomou a firme decisão de ir a Jerusalém pela última vez; uma decisão tomada na sua consciência, mas não sozinho: com o Pai, em plena união com Ele! Decidiu em obediência ao Pai, em escuta profunda,intimo de sua vontade. E por isso a decisão era firme, porque tomada com o Pai.E no Pai, Jesus encontrava a força e a luz para seu caminho. E Jesus era livre, naquela decisão estava livre. Jesus quer os cristãos livres como Ele, com a liberdade que vem deste diálogo com o Pai, a partir deste diálogo com Deus. Jesus não quer nem cristãos egoístas, que seguem o próprio eu, não falam com Deus; nem cristãos fracos, cristãos, que não têm vontade, cristãos, “teleguiados”, incapazes de criatividade, que tentam sempre se conectar com a vontade do outro, e não são livres. Jesus nos quer livres e esta liberdade, onde se realiza? Se realiza no diálogo com Deus na sua consciência. Se um cristão não sabe como falar com Deus, não sabe ouvir a Deus em sua própria consciência, não é livre, não é livre.

Por isso, devemos aprender a escutar mais a nossa consciência. Mas atenção! Isso não significa seguir o próprio eu, fazer o que me interessa, o que me convém, o que eu gosto… Não é isso! A consciência é o espaço interior da escuta da verdade, do bem, da escuta de Deus; é o lugar interior da minha relação com Ele, que fala ao meu coração e me ajuda a discernir, a compreender o caminho que deve percorrer, e uma vez tomada a decisão, a ir avante, a permanecer fiel.

Tivemos um exemplo maravilhoso de como é esta relação com Deus na própria consciência,um recente exemplo maravilhoso. O Papa Bento XVI nos deu um grande exemplo quando o Senhor lhe fez entender, na oração, qual era o passo que ele tinha que dar. Ele seguiu, com grande sentido de discernimento e coragem, a sua consciência, ou seja, a vontade de Deus que falava ao seu coração.E este exemplo do nosso Pai faz bem a todos nós, como um exemplo a seguir.

Nossa Senhora, com grande simplicidade, escutava e meditava no íntimo de si a Palavra de Deus e o que estava acontecendo com Jesus. Seguiu seu Filho com profunda convicção, com firme esperança. Maria nos ajude a nos tornar sempre mais homens e mulheres de consciência,livres na consciência, pois é na consciência que se dá o diálogo com Deus; homens e mulheres capazes de escutar a voz de Deus e segui-la com decisão.

Sejamos pedras vivas da Igreja

Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira.

CIDADE DO VATICANO, 26 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir a catequese do Papa Franscisco durante a Audiência Geral desta Quarta-feira, na Praça de São Pedro: 

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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de fazer uma breve referência a outra imagem que nos ajuda a ilustrar o mistério da Igreja: aquela do templo (cfr Con. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 6).

Em que nos faz pensar a palavra templo? Nos faz pensar em um edifício, em uma construção. De modo particular, a mente de muitos vai à história do Povo de Israel narrada no Antigo Testamento. Em Jerusalém, o grande Templo de Salomão era o lugar de encontro com Deus na oração; dentro do Templo havia a Arca da Aliança, sinal da presença de Deus em meio ao povo; e na Arca havia as Tábuas da Lei, o maná e a vara de Arão um lembrete de que Deus estava sempre dentro da história de seu povo, o acompanhava no caminho, guiava seus passos. O templo recorda essa história: também nós quando vamos ao templo devemos recordar esta história, cada um de nós a nossa história, como Jesus me encontrou, como Jesus caminhou comigo, como Jesus me ama e me abençoa.

Então, isso que era prefigurado no antigo Templo, é realizado, pelo poder do Espírito Santo, na Igreja: a Igreja é a “casa de Deus”, o lugar da sua presença, onde possamos encontrar e conhecer o Senhor; a Igreja é o Templo no qual mora o Espírito Santo que a anima, a guia e a apoia. Se nos perguntamos: onde podemos encontrar Deus? Onde podemos entrar em comunhão com Ele através de Cristo? Onde podemos encontrar a luz do Espírito Santo que ilumina a nossa vida? A resposta é: no povo de Deus, entre nós, que somos Igreja. Aqui encontraremos Jesus, o Espírito Santo e o Pai.

O antigo Templo era edificado pelas mãos dos homens: desejava-se “dar uma casa” a deus, para ter um sinal visível da sua presença em meio ao povo. Com a encarnação do Filho de Deus, cumpre-se a profecia de Natan ao rei Davi (cfr 2 Sam 7, 1-29): não é o reio, não somos nós a “dar uma casa a Deus”, mas é o próprio Deus que “constrói a sua casa” para vir e morar em meio a nós, como escreve São João em seu Evangelho (cfr 1,14). Cristo é o Templo vivo do Pai, e o próprio Cristo edifica a sua “casa espiritual”, a Igreja, feita não de pedras materiais, mas de ‘pedras vivas’, que somos nós. O Apóstolo Paulo diz aos cristãos de Éfeso: vós sois “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo como pedra angular o próprio Cristo Jesus. Nele toda a construção cresce bem ordenada para ser templo santo do Senhor; Nele também vós sois edificados juntos para transformar-se morada de Deus por meio do Espírito Santo” (Ef 2,20-22). Isto é uma coisa bela! Nós somos as pedras vivas do edifício de Deus, unidos profundamente a Cristo, que é a pedra de sustentação e também de sustentação entre nós. O que isso quer dizer? Quer dizer que o templo somos nós, nós somos a Igreja viva, o templo vivo e quando estamos juntos entre nós há também o Espírito Santo, que nos ajuda a crescer como Igreja. Nós não somos isolados, mas somos povo de Deus: esta é a Igreja!

E é o Espírito Santo, com os seus dons, que desenha a variedade. Isto é importante: o que faz o Espírito Santo entre nós? Ele desenha a variedade que é a riqueza na Igreja e une tudo e todos, de forma a construir um templo espiritual, no qual oferecemos não sacrifícios materiais, mas nós mesmos, a nossa vida (cfr 1Pt 2,4-5). A Igreja não é um conjunto de coisas e de interesses, mas é o Templo do Espírito Santo, o Templo no qual Deus trabalha, o Templo do Espírito Santo, o Templo no qual Deus trabalha, o Templo no qual cada um de nós com o dom do Batismo é pedra viva. Isto nos diz que ninguém é inútil na Igreja e se alguém às vezes diz ao outro: “Vá pra casa, você é inútil”, isto não é verdade, porque ninguém é inútil na Igreja, todos somos necessários para construir este Templo! Ninguém é secundário. Ninguém é o mais importante na Igreja, todos somos iguais aos olhos de Deus. Alguém de vocês poderia dizer: “Ouça, Senhor Papa, o senhor não é igual a nós”. Sim, sou como cada um de vocês, todos somos iguais, somos irmãos! Ninguém é anônimo: todos formamos e construímos a Igreja. Isto nos convida também a refletir sobre o fato de que se falta o tijolo da nossa vida cristã, falta algo à beleza da Igreja. Alguns dizem: “Eu não tenho nada a ver com a Igreja”, mas assim pula o tijolo de uma vida neste belo Templo. Ninguém pode sair, todos devemos levar à Igreja a nossa vida, o nosso coração, o nosso amor, o nosso pensamento, o nosso trabalho: todos juntos.

Gostaria então que nos perguntássemos: como vivemos o nosso ser Igreja? Somos pedras vivas ou somos, por assim dizer, pedras cansadas, entediadas, indiferentes? Vocês viram como é ruim ver um cristão cansado, entediado, indiferente? Um cristão assim não vai bem, o cristão deve ser vivo, alegre por ser cristão; deve viver esta beleza de fazer parte do povo de Deus que é a Igreja. Nós nos abrimos à ação do Espírito Santo para ser parte ativa nas nossas comunidades ou nos fechamos em nós mesmos dizendo: “tenho tantas coisas a fazer, não é tarefa minha”?

O Senhor nos dê a todos a sua graça, a sua força, a fim de que possamos ser profundamente unidos a Cristo, que é a pedra angular, a pilastra, a pedra de sustentação da nossa vida e de toda a vida da Igreja. Rezemos para que, animados pelo seu Espírito, sejamos sempre pedras vivas da sua Igreja.

Tradução: Jéssica Marçal/ Canção Nova