Jesus quer os cristãos livres como Ele

Papa Francisco antes de recitar o Angelus comenta o Evangelho do dia

CIDADE DO VATICANO, 30 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Milhares de pessoas estavam na Praça de São Pedro hoje para rezar o Angelus com o Papa. Antes de recitar a oração mariana, o Papa Francisco comentou o evangelho do dia. 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste domingo (Lc 9, 51-62) mostra uma passagem muito importante na vida de Cristo: o momento em que – como escreve São Lucas – “manifestou o firme propósito de ir a Jerusalém.”(9,51). Jerusalém é o destino final, onde Jesus, em sua última Páscoa, deve morrer e ressuscitar, e, assim, cumprir sua missão de salvação.

Desde aquele momento, após a “firme decisão”, Jesus fixa a meta, e também para as pessoas que ele encontra e que lhe pedem para segui-lo, ele diz claramente quais são as condições:não ter uma moradia estável; desapegar-se dos afetos humanos; não ceder à nostalgia do passado.

E Jesus disse também aos seus discípulos, instruídos a precedê-lo em seu caminho para Jerusalém para anunciar sua passagem, de não impor nada:se não encontrarem disponibilidade a acolhê-Lo, que continuem, que se prossiga. Jesus jamais impõe, Ele é humilde e convida. Sevocê quiser, venha. A humildade de Jesus é assim: Ele convida sempre, não impõe.

Tudo isso nos faz pensar. Nos fala, por exemplo, a importância que, mesmo para Jesus teve a consciência: de ouvir em seu coração a voz do Pai e segui-la. Jesus, em sua vida terrena, não foi, por assim dizer, “teleguiado”:era o Verbo encarnado, o Filho de Deus feito homem, e a um certo ponto tomou a firme decisão de ir a Jerusalém pela última vez; uma decisão tomada na sua consciência, mas não sozinho: com o Pai, em plena união com Ele! Decidiu em obediênciaao Pai, em escuta profunda,intimo de sua vontade. E por isso a decisão era firme, porque tomada com o Pai.E no Pai, Jesus encontrava a força e a luz para seu caminho. E Jesus era livre, naquela decisão estava livre. Jesus quer os cristãos livres como Ele, com a liberdade que vem deste diálogo com o Pai, a partir deste diálogo com Deus. Jesus não quer nem cristãos egoístas, que seguem o próprio eu, não falam com Deus; nem cristãos fracos, cristãos, que não têm vontade, cristãos, “teleguiados”, incapazes de criatividade, que tentam sempre se conectar com a vontade do outro, e não são livres. Jesus nos quer livres e esta liberdade, onde se realiza? Se realiza no diálogo com Deus na sua consciência. Se um cristão não sabe como falar com Deus, não sabe ouvir a Deus em sua própria consciência, não é livre, não é livre.

Por isso, devemos aprender a escutar mais a nossa consciência. Mas atenção! Isso não significa seguir o próprio eu, fazer o que me interessa, o que me convém, o que eu gosto… Não é isso! A consciência é o espaço interior da escuta da verdade, do bem, da escuta de Deus; é o lugar interior da minha relação com Ele, que fala ao meu coração e me ajuda a discernir, a compreender o caminho que deve percorrer, e uma vez tomada a decisão, a ir avante, a permanecer fiel.

Tivemos um exemplo maravilhoso de como é esta relação com Deus na própria consciência,um recente exemplo maravilhoso. O PapaBento XVI nos deu um grande exemplo quando o Senhor lhe fez entender, na oração, qual era o passo que ele tinha que dar. Ele seguiu, com grande sentido de discernimento e coragem, a sua consciência, ou seja, a vontade de Deus que falava ao seu coração.E este exemplo do nosso Pai faz bem a todos nós, comoum exemplo a seguir.

Nossa Senhora, com grande simplicidade, escutava e meditava no íntimo de si a Palavra de Deus e o que estava acontecendo com Jesus. Seguiu seu Filho com profunda convicção, com firme esperança. Marianos ajude a nos tornar sempre mais homens e mulheres de consciência,livres na consciência, pois é na consciência que se dá o diálogo com Deus; homens e mulherescapazes de escutar a voz de Deus e segui-la com decisão.

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje, na Itália, celebramos o Dia da caridade do Papa. Desejo agradecer aos Bispos e a todas as paróquias, especialmente as mais pobres, pelas orações e ofertas que socorrem tantas iniciativas pastorais e caritativas do Sucessor de Pedro em todas as partes do mundo. Obrigado a todos!”

Dirijo de coração a minha cordial saudação a todos os peregrinos presentes, em particular aos numerosos fiéis da Alemanha. Saúdo também os peregrinos de Madrid, Augsburg, Sonnino, Casarano, Lenola, Sambucetole e Montegranaro, o grupo de dominicanos leigos, a Fraternidade apostólica da Divina Misericórdia de Piazza Armerina, os Amigos das missões do Preciosíssimo Sangue, UNITALSI de Ischia di Castro e os meninos de Latisana.

Por favor, rezem por mim. Desejo a todos um bom domingo e um bom almoço. Arrivederci! 

Nosso Senhor entra em nossas vidas quando quer

Homilia do papa Francisco nesta sexta-feira: devemos ser pacientes e tentar ser irrepreensíveis

CIDADE DO VATICANO, 28 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Nosso Senhor nos pede ser pacientes e sem máculas, caminhando sempre em sua presença, afirmou nesta manhã o papa Francisco durante a missa na Casa Santa Marta. O santo padre enfatizou que nosso Senhor sempre escolhe o seu próprio jeito para entrar em nossas vidas e isto nos exige paciência, porque Ele nem sempre se deixa ver. Segundo a Rádio Vaticano, participou da missa um grupo de funcionários do Departamento de Saúde e Higiene do Vaticano, acompanhados pelo diretor, doutor Patrizio Polisca.

Deus entra aos poucos na vida de Abraão, que tem 99 anos quando o Senhor lhe promete um filho. Mas entra imediatamente na vida do leproso: Jesus escuta a sua oração, o toca e faz o milagre. Na reflexão de hoje, Francisco partiu da primeira leitura e do evangelho do dia para mostrar como Deus decide se envolver “nas nossas vidas, na vida do seu povo”. “Quando nosso Senhor chega, ele nem sempre chega da mesma maneira. Não existe um protocolo da ação de Deus em nossa vida, não existe (…) Uma vez, ele vem de um jeito; outra vez, de outro”, mas sempre vem. “Sempre acontece o encontro entre nós e o Senhor”.

“Nosso Senhor sempre escolhe o modo de entrar em nossa vida, muitas vezes tão lentamente que corremos o risco de perder um pouco a paciência: ‘Mas, Senhor, quando?’. E oramos, oramos… E não chega a intervenção dele na nossa vida. Outras vezes, quando pensamos em tudo o que o Senhor nos prometeu, isso é tão grande que ficamos um pouco incrédulos, um pouco céticos, e, como Abraão, tentamos meio que esconder um sorriso… Esta primeira leitura diz que Abraão escondeu o rosto e sorriu… Um pouco de ceticismo: ‘Mas como é que eu, com quase cem anos, vou ter um filho, e a minha mulher, aos 90 anos, vai ter um filho?’”.

A mulher de Abraão, Sara, terá o mesmo ceticismo, recordou o papa. “Quantas vezes, quando o Senhor não faz o milagre e não nos dá o que nós queremos, nós ficamos impacientes ou céticos!”.

“Mas Ele não faz, não pode fazer para os céticos. Deus se concede o seu próprio tempo. Mas Ele, nessa relação conosco, tem muita paciência. Não somos só nós que temos que ter paciência: Ele tem! Ele nos espera! Ele nos espera até o final da vida! Pensemos no bom ladrão, justo no final; foi no final que ele reconheceu a Deus. O Senhor caminha conosco, mas muitas vezes não se deixa ver, como no caso dos discípulos de Emaús. Nosso Senhor está envolvido na nossa vida, isto é certo, mas muitas vezes nós não vemos. Isto nos exige paciência. Mas Deus, que caminha conosco, Ele também tem muita paciência conosco”.

O papa aprofundou assim, no “mistério da paciência de Deus, que, ao caminhar, caminha ao nosso ritmo”. Às vezes, na vida, constatou Francisco, “as coisas ficam muito escuras, há tanta escuridão que, se tivermos problemas, queremos descer da cruz”. Este “é o momento preciso: a noite é mais escura quando se aproxima a alvorada. E sempre que descemos da cruz, descemos cinco minutos antes que chegue a libertação, no momento maior da impaciência”.

“Jesus, na cruz, ouviu que o desafiavam: ‘Desce, desce! Vem para baixo!’. Paciência até o final, porque Ele tem paciência conosco. Ele sempre está envolvido conosco, mas do jeito dele e quando Ele acha melhor. Ele só nos diz o que disse a Abraão: ‘Caminha na minha presença e sê perfeito’, sê irrepreensível; esta é a palavra correta. Caminha na minha presença e tenta ficar acima de qualquer repreensão. Este é o caminho com o Senhor e Ele intervém, mas temos que esperar, esperar o momento, caminhando sempre na presença dele e procurando ser irrepreensíveis. Vamos pedir esta graça ao Senhor: caminhar sempre na sua presença, tentando ser irrepreensíveis”.

Ser cristãos sem Cristo

Na homilia na Casa Santa Marta, o papa nos convida a não ser “cristãos só de nome”, mas a construir a vida sobre a “rocha” que é Cristo, o único que dá segurança

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 27 de Junho de 2013 (Zenit.org) – “Ao longo da história da Igreja, tem havido duas classes de cristãos: os cristãos de nome –aqueles do ‘Senhor, Senhor, Senhor’- e os cristãos de ação, de verdade”. O papa Francisco partiu desta clara distinção para desenvolver a sua reflexão na missa de hoje, concelebrada com outros bispos e com o cardeal arcebispo de Aparecida, dom Raimundo Damasceno.

Como faz toda manhã, o Santo Padre deu hoje mais algumas pinceladas no desenho do rosto do verdadeiro cristão. Infelizmente, disse ele hoje, não há somente um tipo de cristãos, mas até mesmo cristãos com várias caras. Há os cristãos “de superfície”; há os muito “rígidos” e, portanto, muito “tristes”; há os “alegres”, mas sem a verdadeira alegria de Cristo, e, pior ainda, há os que “se mascaram de cristãos”. O denominador comum entre todos eles é o fato de não se fundamentarem na “rocha” da Palavra de Cristo, conforme relatava o evangelho do dia, escrito por Mateus: eles seguem “um cristianismo de nome, um cristianismo sem Jesus, um cristianismo sem Cristo”, observou o papa.

Nos séculos da Igreja, “sempre houve a tentação de viver o nosso cristianismo fora da rocha que é Cristo”, acrescentou. As pessoas se esquecem muitas vezes que Jesus é “o único que nos dá a liberdade de chamar Deus de Pai”, é o único que “nos sustenta nos momentos difíceis” e nos protege quando “cai a chuva, quando os rios transbordam, quando sopram os vendavais”. Porque quando se está fundamentado sobre a rocha, tem-se uma segurança. As palavras, enquanto isso, apenas “voam; não são suficientes”.

“Ser cristãos sem Cristo” é algo que “aconteceu e está acontecendo na Igreja hoje”, prosseguiu Francisco. Em particular, podemos identificar atualmente duas categorias. O cristão “gnóstico”, que, “em vez de amar a rocha, ama as belas palavras” e vive um “cristianismo líquido”, acreditando em Cristo, sim, mas não como “o que lhe dá fundamento”. E o cristão “pelagiano”, que se caracteriza por um estilo de vida “engomado”: pessoas que acreditam que “a vida cristã deve ser levada tão a sério que acabam confundindo solidez e firmeza com rigidez” e, por isso mesmo, pensam que “para ser cristão é preciso viver de luto”.

“Há muitos cristãosassim”, disse o Santo Padre. Mas também é errado chamá-los de cristãos, porque eles são apenas máscaras: “Eles não sabem quem é nosso Senhor, não sabem o que é a rocha, não têm a liberdade dos cristãos. E, para falar de um modo simples, eles não têm a verdadeira alegria”. No meio desse leque que abrange desde os supostamente “alegres” até aqueles que vivem perpetuamente de luto, esses crentes “não sabem o que é a felicidade cristã, não sabem aproveitar a vida que Jesus nos dá, porque não sabem falar com Jesus. Eles não se fundamentam em Jesus, com aquela firmeza que a presença de Jesus nos dá”, constatou Bergoglio.

E não apenas não têm alegria genuína, acrescentou o papa, como sequer têm liberdade: “Uns são escravos da superficialidade, de uma vida difusa, e outros são escravos da rigidez, não são livres. O Espírito Santo não tem lugar na vida deles. É o Espírito que nos dá a liberdade”. Nosso Senhor, portanto, concluiu o papa, “nos convida hoje a construir a nossa vida cristã com base nele, a rocha, aquele que nos dá a liberdade, aquele que nos envia o Espírito, que nos impele a caminhar com felicidade, pela sua estrada, nas suas propostas”.

Que os padres também sejam pais

O papa exorta os sacerdotes a pedirem a “graça” de uma “paternidade espiritual”

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 26 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Os padres, mesmo celibatários, também devem ser “pais”. Não é uma proposta de mudança aventada pelo progressista de plantão, mas a mensagem do papa Francisco na missa de hoje, na Casa Santa Marta. A “paternidade” mencionada por Bergoglio não é “física”, e sim a paternidade espiritual dos padres no tocante às pessoas confiadas a eles. Uma “graça especial”, que só em alguns casos nosso Senhor concede.

O convite de hoje está ligado ao convite similar que o papa fez às oitocentas irmãs da União Internacional das Superioras Gerais, recebidas em audiência no dia 9 de maio na Sala Paulo VI, a ser “mães fecundas”. Sentir-se “pai” de um ser humano significa dar a vida por outro, explicou Bergoglio, e, nos torna semelhantes a Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou por nós, pelos outros.

O “desejo de ser pai”, disse o papa, está inscrito “nas fibras mais profundas do homem”. Inclusive do padre, que orienta e vive esse desejo, mas de forma espiritual. “Quando um homem não tem esse desejo”, prosseguiu o pontífice, “algo falta nele”. Todos nós, para “ser completos, maduros, precisamos sentir a alegria da paternidade: também nós, celibatários”. Porque “a paternidade é dar a vida aos outros, dar vida, dar vida… Para nós, é a paternidade pastoral, a paternidade espiritual; mas é dar vida, é tornar-nos pais”.

A reflexão do papa foi sugerida pela passagem de hoje do Gênesis, em que Deus promete a Abraão a alegria de um filho e de uma descendência infinita, apesar da sua idade avançada. Abraão sacrifica então alguns animais, de acordo com as instruções de Deus, para selar o pacto, e, depois, defende o seu holocausto do ataque de aves de rapina. Uma cena comovente, na opinião do papa, porque “olhar para aquele nonagenário, com seu bastão”, defendendo o seu sacrifício, “me faz pensar num pai que defende a família, os filhos”.

Ser pai segundo a paternidade “espiritual” é “uma bênção” que todo sacerdote deve pedir, disse o pontífice. “Pecados nós temos muitos, mas isso é commune sanctorum: todos nós temos pecados. Mas não ter filhos, não ser pai, é como se a vida não chegasse ao fim. Ela para no meio do caminho”. Os próprios fieis, observou Bergolio, querem ver isso no padre: “As pessoas nos chamam de padre, de pai… Temos que ser pais pela graça da paternidade pastoral”.

“Demos graças a Deus por essa bênção da paternidade na Igreja, que passa de pai para filho”, continuou o papa. Nisto, é de exemplo a dupla imagem de “Abraão que pede um filho” e de “Abraão que defende a família”. Temos também “a imagem do velho Simeão no templo, que, quando recebe a vida nova, faz uma liturgia espontânea, a liturgia da alegria”.

Certamente não é coincidência, mas as palavras de hoje do papa Francisco “caíram como uma luva” para o público presente na capela da Casa Santa Marta: talvez, pela primeira vez nestes três meses, composto exclusivamente por prelados e sacerdotes.

Eles acompanhavam o cardeal Salvatore De Giorgi, arcebispo emérito de Palermo, que hoje celebrava o seu 60º aniversário de ordenação sacerdotal.

O papa Francisco recordou o aniversário na homilia, dirigindo ao cardeal ​​palavras afetuosas e cheias de estima pelo “marco” alcançado. “Eu não sei o que foi que fez o nosso querido Salvador”, disse o pontífice, mas “tenho certeza de que ele foi ‘pai’. Este é um sinal”, acrescentou, pedindo à multidão de religiosos que o acompanhavam a seguir o seu exemplo. “Agora é com vocês”, incitou Bergoglio, simpaticamente: cada árvore “dá o fruto de si mesma, e, se a árvore é boa, o fruto deve ser bom, certo?”. E concluiu: “Não façam feio!”.

Sejamos pedras vivas da Igreja

Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira.

CIDADE DO VATICANO, 26 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir a catequese do Papa Franscisco durante a Audiência Geral desta Quarta-feira, na Praça de São Pedro: 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de fazer uma breve referência a outra imagem que nos ajuda a ilustrar o mistério da Igreja: aquela do templo (cfr Con. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 6).

Em que nos faz pensar a palavra templo? Nos faz pensar em um edifício, em uma construção. De modo particular, a mente de muitos vai à história do Povo de Israel narrada no Antigo Testamento. Em Jerusalém, o grande Templo de Salomão era o lugar de encontro com Deus na oração; dentro do Templo havia a Arca da Aliança, sinal da presença de Deus em meio ao povo; e na Arca havia as Tábuas da Lei, o maná e a vara de Arão um lembrete de que Deus estava sempre dentro da história de seu povo, o acompanhava no caminho, guiava seus passos. O templo recorda essa história: também nós quando vamos ao templo devemos recordar esta história, cada um de nós a nossa história, como Jesus me encontrou, como Jesus caminhou comigo, como Jesus me ama e me abençoa.

Então, isso que era prefigurado no antigo Templo, é realizado, pelo poder do Espírito Santo, na Igreja: a Igreja é a “casa de Deus”, o lugar da sua presença, onde possamos encontrar e conhecer o Senhor; a Igreja é o Templo no qual mora o Espírito Santo que a anima, a guia e a apoia. Se nos perguntamos: onde podemos encontrar Deus? Onde podemos entrar em comunhão com Ele através de Cristo? Onde podemos encontrar a luz do Espírito Santo que ilumina a nossa vida? A resposta é: no povo de Deus, entre nós, que somos Igreja. Aqui encontraremos Jesus, o Espírito Santo e o Pai.

O antigo Templo era edificado pelas mãos dos homens: desejava-se “dar uma casa” a deus, para ter um sinal visível da sua presença em meio ao povo. Com a encarnação do Filho de Deus, cumpre-se a profecia de Natan ao rei Davi (cfr 2 Sam 7, 1-29): não é o reio, não somos nós a “dar uma casa a Deus”, mas é o próprio Deus que “constrói a sua casa” para vir e morar em meio a nós, como escreve São João em seu Evangelho (cfr 1,14). Cristo é o Templo vivo do Pai, e o próprio Cristo edifica a sua “casa espiritual”, a Igreja, feita não de pedras materiais, mas de ‘pedras vivas’, que somos nós. O Apóstolo Paulo diz aos cristãos de Éfeso: vós sois “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo como pedra angular o próprio Cristo Jesus. Nele toda a construção cresce bem ordenada para ser templo santo do Senhor; Nele também vós sois edificados juntos para transformar-se morada de Deus por meio do Espírito Santo” (Ef 2,20-22). Isto é uma coisa bela! Nós somos as pedras vivas do edifício de Deus, unidos profundamente a Cristo, que é a pedra de sustentação e também de sustentação entre nós. O que isso quer dizer? Quer dizer que o templo somos nós, nós somos a Igreja viva, o templo vivo e quando estamos juntos entre nós há também o Espírito Santo, que nos ajuda a crescer como Igreja. Nós não somos isolados, mas somos povo de Deus: esta é a Igreja!

E é o Espírito Santo, com os seus dons, que desenha a variedade. Isto é importante: o que faz o Espírito Santo entre nós? Ele desenha a variedade que é a riqueza na Igreja e une tudo e todos, de forma a construir um templo espiritual, no qual oferecemos não sacrifícios materiais, mas nós mesmos, a nossa vida (cfr 1Pt 2,4-5). A Igreja não é um conjunto de coisas e de interesses, mas é o Templo do Espírito Santo, o Templo no qual Deus trabalha, o Templo do Espírito Santo, o Templo no qual Deus trabalha, o Templo no qual cada um de nós com o dom do Batismo é pedra viva. Isto nos diz que ninguém é inútil na Igreja e se alguém às vezes diz ao outro: “Vá pra casa, você é inútil”, isto não é verdade, porque ninguém é inútil na Igreja, todos somos necessários para construir este Templo! Ninguém é secundário. Ninguém é o mais importante na Igreja, todos somos iguais aos olhos de Deus. Alguém de vocês poderia dizer: “Ouça, Senhor Papa, o senhor não é igual a nós”. Sim, sou como cada um de vocês, todos somos iguais, somos irmãos! Ninguém é anônimo: todos formamos e construímos a Igreja. Isto nos convida também a refletir sobre o fato de que se falta o tijolo da nossa vida cristã, falta algo à beleza da Igreja. Alguns dizem: “Eu não tenho nada a ver com a Igreja”, mas assim pula o tijolo de uma vida neste belo Templo. Ninguém pode sair, todos devemos levar à Igreja a nossa vida, o nosso coração, o nosso amor, o nosso pensamento, o nosso trabalho: todos juntos.

Gostaria então que nos perguntássemos: como vivemos o nosso ser Igreja? Somos pedras vivas ou somos, por assim dizer, pedras cansadas, entediadas, indiferentes? Vocês viram como é ruim ver um cristão cansado, entediado, indiferente? Um cristão assim não vai bem, o cristão deve ser vivo, alegre por ser cristão; deve viver esta beleza de fazer parte do povo de Deus que é a Igreja. Nós nos abrimos à ação do Espírito Santo para ser parte ativa nas nossas comunidades ou nos fechamos em nós mesmos dizendo: “tenho tantas coisas a fazer, não é tarefa minha”?

O Senhor nos dê a todos a sua graça, a sua força, a fim de que possamos ser profundamente unidos a Cristo, que é a pedra angular, a pilastra, a pedra de sustentação da nossa vida e de toda a vida da Igreja. Rezemos para que, animados pelo seu Espírito, sejamos sempre pedras vivas da sua Igreja.

Tradução: Jéssica Marçal/ Canção Nova

Uma Igreja sem ideologias, seguindo o exemplo de São João Batista

O papa nos lembra a vocação da Igreja: “ser voz” da Palavra de Deus e proclamá-la “até o martírio”

Por Redacao

ROMA, 25 de Junho de 2013 (Zenit.org) – São João Batista era uma “lua”, cuja luz mostra o caminho para quem está no escuro, mas começa a diminuir à medida que nasce o sol do Cristo ressuscitado.

É sugestiva a imagem que o papa Francisco propôs ontem na missa da Casa Santa Marta, no dia de São João. O “profeta” é um símbolo da vocação da Igreja, chamada a anunciar, servir e proclamar até o martírio, não para aparecer ela própria, mas para divulgar a verdade do Evangelho.

Antes de iniciar a homilia, o papa saudou a todos os homens chamados “João”. Um nome importante, disse ele, porque nos lembra uma das principais figuras do cristianismo. Uma figura “nem sempre fácil de entender”.

Se olharmos para a vida de João Batista, prosseguiu o papa, parece que “tem algo que não fecha”: ele é um homem “que foi grande” desde o seio materno, que foi saudado como “profeta” e, no fim, “termina como um coitado”. A grandeza de João, no entanto, se distancia de qualquer concepção humana, e consiste em ser “uma voz no deserto”, como ele mesmo se define. Ele “é uma voz sem Palavra, porque a Palavra não é ele, mas Outro”. Ele “nunca se apodera da Palavra”, porque o “sentido da sua vida é apontar para Outro”, observou o pontífice.

Não por acaso, a Igreja escolheu comemorar a sua festa na época do ano em que, no hemisfério norte, os dias são mais longos e “têm mais luz”, disse Bergoglio. Um aspecto que ressalta o ser de João como um “homem da luz”, que “portava a luz”.

Não uma luz própria, mas uma “luz refletida”, como a da lua, que “começou a se apagar” com o início da pregação de Cristo. “Essa é a vocação de João: aniquilar-se”, disse o papa. E quando “contemplamos a vida deste homem, tão grande, tão poderoso”, a tal ponto que todos pensavam era ele o Messias, mas que se aniquila “até a escuridão do cárcere”, estamos contemplando “um grande mistério”.

“Nós não sabemos como foram os últimos dias de João”, continuou o papa. “Sabemos apenas que ele foi morto, que a cabeça dele foi colocada em uma bandeja, como um grande presente de uma dançarina para uma adúltera”. Sabemos que na prisão ele sofreu todo tipo de dor, de angústia e de dúvida: ele mesmo chamou os seus discípulos e os mandou até Jesus para lhe perguntar: “É você ou devemos esperar por outro?”. Nem isto “lhe foi poupado”, disse Bergoglio, acrescentando: “Eu não acho que seja possível descer mais ainda, aniquilar-se. Esse foi o fim de João”.

Mas, como todo martírio, também o de João Batista não aconteceu em vão, porque tem iluminado na Igreja o caminho a seguir, feito de sangue, pregação e verdadeira fé. “A figura de João me faz pensar muito na Igreja”, disse o pontífice. Ela “existe para proclamar, para ser a voz de uma Palavra, do seu Esposo, que é a Palavra”. “João podia se fazer de importante, podia falar de si mesmo”, mas ele apenas “indicava, ele se considerava uma voz, não a Palavra”.

Este é o “segredo” de João. É por este motivo que ele é santo. “Porque ele nunca, nunca tomou uma verdade como sua própria”, nunca “quis ser um ideólogo”, mas, ao contrário, “negou a si mesmo, para ressaltar somente a Palavra”.

Seguindo o seu exemplo, exortou Francisco, “nós, como Igreja, podemos pedir hoje a graça de não ser uma Igreja ideologizada”, mas uma Igreja “que é o mysterium lunae, que tem luz porque ela vem do seu Esposo, e que deve diminuir para que Ele cresça”; uma Igreja que “está sempre a serviço da Palavra” e que “nunca toma nada para si mesma”.

“Oremos”, pediu o papa Francisco, “para que o Senhor nos conceda o dom de ser a voz dessa Palavra, de pregar essa Palavra”, imitando João, “sem ideias próprias, sem um evangelho usado como propriedade nossa”, “até o martírio”.

Os pilares da salvação cristã

CIDADE DO VATICANO, 24 de Junho de 2013 (Zenit.org) – As riquezas e as preocupações do mundo nos fazem esquecer o passado, ficar confusos no presente e estar incertos quanto ao futuro. Elas nos fazem perder de vista os três pilares da história da salvação cristã: um Pai que, no passado, nos escolheu; que fez uma promessa para o nosso futuro e a quem nós demos uma resposta ao firmar com ele, no presente, uma aliança. Este é o sentido da reflexão proposta pelo papa Francisco na missa deste último sábado, 22 de junho, na Domus Sanctae Marthae, da qual participaram funcionários dos Museus do Vaticano.

A homilia do papa se baseou na passagem do evangelho de Mateus 6, 24-34, sobre as recomendações de Jesus aos discípulos: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque há de odiar a um e amar o outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas”. E continua: “Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa vida, com o que haveis de comer ou beber”. Disse o papa: “O capítulo 13 de São Mateus nos ajuda a entender isso, ao narrar que Jesus explica aos seus discípulos a parábola do semeador. Ele diz que a semente que caiu no terreno cheio de espinhos foi sufocada. Mas o que a sufoca? Jesus diz: ‘as riquezas e as preocupações do mundo’. Vemos que Jesus tinha uma ideia clara sobre isso”.

Assim, “as riquezas e os cuidados do mundo sufocam a Palavra de Deus. Não a deixam crescer. E a Palavra morre porque não é protegida, é sufocada. São os casos em que prevalecem a riqueza e os cuidados do mundo, mas não a Palavra de Deus”.

Depois de ressaltar que Jesus, nas suas explicações para os discípulos, introduz o elemento temporal, o papa perguntou: “O que as riquezas e as preocupações causam em nós? Simplesmente nos roubam o tempo. Toda a nossa vida se sustenta em três pilares: um no passado; um no presente; o outro no futuro. E isso está claro na bíblia: o pilar do passado é a escolha. O Senhor nos escolheu. Cada um de nós pode dizer: ‘O Senhor me escolheu, me amou e me chamou, e, no batismo, me escolheu para seguir um caminho, o caminho cristão’”. O futuro é a promessa que Jesus fez aos homens: “Fui eleito para caminhar rumo a uma promessa. Ele nos fez uma promessa”. Finalmente, o presente “é a nossa resposta a esse Deus tão bom que me escolheu, que me faz uma promessa e que me propõe uma aliança. E eu faço uma aliança com ele”.

Escolha, promessa e aliança são os três pilares de toda a história da salvação. Mas pode acontecer, às vezes, que, “quando o nosso coração entra nisto que Jesus nos explica, ele corta o tempo. Corta o passado, corta o futuro e confunde o presente”. Isso acontece porque aquele “que está apegado às riquezas não se interessa pelo passado, nem pelo futuro; ele tem tudo. A riqueza é um ídolo. Ele não precisa de um passado, de uma promessa, de uma escolha, de futuro, de nada. O que o preocupa é o que pode acontecer”; por isso, ele “corta a sua relação com o futuro”, que, para ele, se torna um ‘futurível’”. Mas não o orienta para uma promessa e isso o deixa confuso, solitário. “É por isso que Jesus nos diz: ou Deus ou a riqueza, ou o reino de Deus e a sua justiça ou as preocupações”. Simplesmente nos convida a seguir a estrada desse presente tão grande que ele nos deu: ser os seus escolhidos. Com o batismo, nós fomos escolhidos no amor”, afirmou o pontífice.

“Não cortem o passado. Temos um Pai que nos colocou a caminho. E o futuro também é alegre, porque caminhamos em direção a uma promessa. O Senhor é fiel, não decepciona. E por isso, vamos caminhar!”, exortou o papa. Quanto ao presente,” façamos o que podemos, mas façamos na prática, sem ilusões e sem esquecer que temos um Pai no passado que nos escolheu”.

Por isso, acrescentou Francisco, “lembrem-se bem: a semente que cai entre os espinhos é sufocada, sufocada pelas riquezas e pelas preocupações do mundo”, dois elementos que nos fazem esquecer o passado e o futuro. Assim, “temos um Pai, mas vivemos como se não tivéssemos”, e deixamos o nosso futuro incerto. Desta forma, o presente também é “algo que não vai bem”. Mas é precisamente por esta razão, assegurou o papa, que “devemos confiar no Senhor que diz: ‘Não se preocupem, procurem o Reino de Deus e a sua justiça. Todo o resto virá’”.

Terminando a homilia, o papa exortou os fiéis a pedir ao Senhor a graça de não errar, dando peso às preocupações e à idolatria da riqueza, mas sempre lembrando que “temos um Pai que nos escolheu e que nos promete algo bom”. Devemos, por isto, “caminhar em direção àquela promessa, acolhendo o presente do jeito que ele vem”.

O que significa perder a vida por causa de Jesus?

Antes de recitar o Angelus Papa Francisco recorda o exemplo do martírio de São João Batista

ROMA, 23 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos as palavras do Papa Francisco dirigidas aos peregrinos reunidos na Praça de São Pedro para recitar o Angelus

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

No Evangelho deste domingo ressoa uma das palavras mais incisivas de Jesus: “Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salva-la-á” (Lc 9, 24).

Aqui há uma síntese da mensagem de Cristo, e é expressa com um paradoxo muito eficaz, que nos faz conhecer o seu modo de falar, quase nos faz ouvir a sua voz…

Mas o que significa “perder a vida por causa de Jesus”? Isso pode acontecer de dois modos: explicitamente confessando a fé ou implicitamente defendendo a verdade. Os mártires são exemplos máximos do perder a vida por Cristo. Em dois mil anos há uma série imensa de homens e mulheres que sacrificaram a vida para permanecerem fiéis a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. E hoje, em tantas partes do mundo, há tantos, tantos, – mais que nos primeiros séculos – tantos mártires que dão a própria vida por Cristo, que são levados à morte para não renegar Jesus Cristo. Esta é a nossa Igreja. Hoje temos mais mártires que nos primeiros séculos! Mas há também o martírio cotidiano, que não comporta a morte, mas também esse é um “perder a vida” por Cristo, cumprindo o próprio dever com amor, segundo a lógica de Jesus, a lógica da doação, do sacrifício. Pensemos: quantos pais e mães todos os dias colocam em prática a sua fé oferecendo concretamente a própria vida pelo bem da família! Pensemos nisto! Quantos sacerdotes, frades, irmãs desenvolvem com generosidade o seu serviço pelo reino de Deus! Quantos jovens renunciam aos próprios interesses para dedicar-se às crianças, aos deficientes, aos idosos… Também esses são mártires! Mártires cotidianos, mártires do dia-a-dia!

E depois há tantas pessoas, cristãos e não cristãos, que “perdem a própria vida” pela verdade. E Cristo disse “eu sou a verdade”, então quem serve à verdade serve a Jesus.

Uma dessas pessoas, que deu a vida pela verdade, é João Batista: propriamente amanhã, 24 de junho, é a sua grande festa, a solenidade do seu nascimento. João foi escolhido por Deus para preparar o caminho diante de Jesus, e o indicou ao povo de Israel como o Messias, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cfr Jo 1, 29). João consagrou-se todo a Deus e ao seu enviado, Jesus. Mas, no final, o que aconteceu? Foi morto por causa da verdade, quando denunciou o adultério do rei Herodes e de Herodíades. Quantas pessoas pagam por preço caro o compromisso pela verdade! Quantos homens justos preferem ir contracorrente, de modo a não renegar a voz da consciência, a voz da verdade! Pessoas justas, que não têm medo de ir contracorrente! E nós, não devemos ter medo! Entre vocês há tantos jovens. A vocês jovens digo: não tenham medo de ir contracorrente, quando nos querem roubar a esperança, quando nos propõem estes valores que estão danificados, valores como a comida estragada e quando uma comida está estragada, nos faz mal; estes valores nos fazem mal. Devemos ir contracorrente! E vocês, jovens, sejam os primeiros: vão contracorrente e tenham este orgulho de ir contracorrente. Avante, sejam corajosos e vão contracorrente! E sejam orgulhosos de fazê-lo!

Queridos amigos, acolhamos com alegria esta palavra de Jesus. É uma regra de vida oferecida a todos. E São João Batista nos ajuda a colocá-la em prática.

Neste caminho nos precede, como sempre, a nossa Mãe, Maria Santíssima: ela perdeu a sua vida por Jesus, até a Cruz, e a recebeu em plenitude, com toda a luz e a beleza da Ressurreição. Maria nos ajude a fazer sempre mais nossa a lógica do Evangelho.

(Depois do Angelus)

Lembrem-se bem: “Não tenham medo de caminhar contracorrente! Sejam corajosos! E assim, como não queremos comer uma comida estragada, não carreguemos conosco estes valores deteriorados e que prejudicam a vida e tiram a esperança. Adiante!”

Saúdo-vos com afeto: as famílias, os grupos paroquiais, as associações, as escolas. Saúdo os alunos do Liceo diocesano Vipava na Eslovénia, a comunidade polonesa de Ascoli Piceno, UNITALSI de Ischia di Castro, os jovens do Oratório de Urgnano – vejo a bandeira de vocês, muito bem, ! -, Os fiéis de Pordenone, as irmãs e os operadores do hospital “Miulli” de Acquaviva delle Fonti, um grupo de delegados sindicais do Veneto.

Desejo a todos um bom domingo!

Rezem por mim e bom almoço!

(Trad.:Canção Nova/Zenit)

Francisco: “Nunca vi um caminhão de mudança atrás de um cortejo fúnebre”

Papa propõe uma reflexão na missa diária sobre não acumular riquezas na terra

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 21 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Pedir a Deus a graça de um coração que saiba amar e que não se deixe desviar por tesouros inúteis: esta é a substância da homilia do papa Francisco na Casa Santa Marta, durante a missa concelebrada nesta manhã com o cardeal Francisco Coccopalmerio, o bispo Juan Ignacio Arrieta e o auxiliar José Aparecido Gonçalves de Almeida, presidente, secretário e subsecretário do Pontifício Conselho para os Textos Legislativos, respectivamente, acompanhados por alguns dos funcionários do dicastério. Estavam presentes também os funcionários da Fábrica da Basílica de São João de Latrão, com mons. Santiago Ceretto, e os empregados da Casa Santa Marta.

Atesourar no céu

A luta pelo único tesouro que podemos levar conosco depois desta vida é a razão de ser de um cristão. É a razão de ser que Jesus explica aos discípulos, na passagem de hoje do evangelho de Mateus: “Onde estiver o teu tesouro, ali estará também teu coração”. A questão, explica o papa, é não confundir as riquezas. Há “tesouros arriscados” que seduzem, “mas que devemos abandonar”: aqueles acumulados durante a vida e que a morte destrói. Francisco observa com um toque de ironia: “Nunca vi um caminhão de mudança atrás de um cortejo fúnebre”. Mas há um tesouro que “podemos levar conosco”, um tesouro que ninguém pode nos roubar e que “não é o que você vem guardando para si”, mas sim “o que você dá para os outros”.

“O tesouro que damos aos outros é o tesouro que nós levamos. E esse vai ser o nosso mérito, entre aspas, mas é um ‘nosso mérito’ de Jesus Cristo em nós! E é isso o que nós temos que levar. E é aquilo que nosso Senhor nos deixa levar. O amor, a caridade, o serviço, a paciência, a bondade, a ternura são lindos tesouros: são os tesouros que nós levamos. Os outros, não”.

Conforme o evangelho, o tesouro que tem valor perante os olhos de Deus é aquele que acumulamos no céu a partir da terra. Mas Jesus, destaca o papa Francisco, dá um passo a mais: ele vincula o tesouro ao “coração”, criando uma “relação” entre os dois termos. Isto porque o nosso “é um coração inquieto”, que nosso Senhor “fez desse jeito para procurarmos por Ele”.

“Nosso Senhor nos criou inquietos para o encontrarmos, para crescermos. Mas se o nosso tesouro é um tesouro que não está perto dele, que não é do Senhor, então o nosso coração se inquieta por coisas que não duram, por esses tesouros… Muita gente, inclusive nós, está inquieta… Para ter isso, para comprar aquilo, e, no fim, o nosso coração se cansa, nunca está satisfeito: ele se cansa, fica preguiçoso, se torna um coração sem amor. O cansaço do coração. Vamos pensar nisso. O que é que eu tenho? Um coração cansado, que só quer se acomodar, três ou quatro coisas, uma boa conta bancária, isto, aquilo?  Ou um coração irrequieto, que procura sempre as coisas do Senhor? Essa inquietação do coração tem que ser cuidada sempre”.

Um coração que brilhe

Continua o papa Francisco: Cristo também coloca na berlinda o “olho”, que simboliza “a intenção do coração” e que se reflete no corpo: “um coração cheio de amor” deixa o corpo “brilhante”, enquanto um “coração mau” o torna escuro. Do contraste luz-escuridão, explica o papa, depende “o nosso parecer sobre as coisas”, como também é demonstrado pelo fato de que o gerador das guerras é um “coração de pedra”, “apegado a um tesouro da terra”, a “um tesouro egoísta”, que pode se transformar em um tesouro “do ódio”. Na oração final, o papa pediu, através da intercessão de São Luis Gonzaga, a quem a Igreja recorda hoje, “a graça de um coração novo”, um “coração de carne”.

“Deus torna humanos todos aqueles pedaços do coração que são feitos de pedra, com aquela inquietação positiva, com aquela ânsia boa de ir para frente, procurando por Ele, deixando-se buscar por Ele! Que nosso Senhor mude o nosso coração! E assim ele nos salvará. Ele nos protegerá dos tesouros que não nos ajudam para o nosso encontro com Ele, para servirmos aos outros, e nos dará a luz para ver e julgar de acordo com o verdadeiro tesouro: a sua verdade. Que nosso Senhor mude o nosso coração para procurarmos o verdadeiro tesouro e nos tornarmos pessoas luminosas e não pessoas da escuridão”.

Para rezar o pai-nosso: coração em paz com os irmãos

Papa Francisco na homilia: um Deus Pai, não um deus cósmico. Oração não é magia.

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 20 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Para rezar o pai-nosso, precisamos ter o coração em paz com os nossos irmãos. É o que foi destacado nesta manhã pelo papa Francisco na missa da Casa Santa Marta. O papa ressaltou que acreditamos em um Deus que é Pai, que está muito perto de nós, que não é anónimo, que não é “um Deus cósmico”. A missa foi concelebrada, entre outros, pelo cardeal Zenon Grocholewski. Participaram um grupo de funcionários da Congregação para a Educação Católica e outro dos Museus Vaticanos.

“A oração não é magia”, mas um “confiar-se ao abraço do Pai”. O papa concentrou a homilia na oração do pai-nosso, que Jesus ensinou aos discípulos e da qual fala o evangelho de hoje. Jesus nos dá um conselho na oração: “Não desperdicem palavras, não façam mero barulho”, o barulho “do mundano, da vaidade”, disse o papa. “A oração não é uma coisa mágica, não se faz magia com a oração. Me disseram que, quando você procura um curandeiro, ele diz um monte de palavras para curar. Mas aquilo é pagão. O que Jesus nos ensina é: não temos que ir até Ele com muitas palavras, porque Ele já sabe tudo”. E completa: “A primeira palavra é pai, esta é a chave da oração. Sem dizer, sem escutar essa palavra, não se pode orar”.

“A quem eu devo orar? Ao Deus Todo-Poderoso? Distante demais. A quem devo orar? Ao Deus cósmico? Um tanto comum nos dias de hoje, não é? Orar ao Deus cósmico, não? Essa cultura politeísta, que tem essa cultura light… Nós temos que rezar ao nosso Pai! É uma palavra forte: Pai. Temos que orar àquele que nos gerou, que nos deu a vida. Ele não deu a vida ‘a todos’: todos é muito anônimo. Ele deu a vida a você, a mim. E também orar para aquele que nos acompanha no caminho: que conhece toda a nossa vida. Tudo: o que é bom e o que não é tão bom assim. Ele sabe tudo. Se não começamos a oração com essa palavra, dita não dos lábios para fora, mas de dentro do coração, então não podemos orar ‘em cristão’”.

A palavra “pai”, reiterou o papa, “é uma palavra forte”, mas que “abre as portas”. No momento do sacrifício, Isaac se dá conta de que “algo estava errado”, já que “faltava a ovelha”, mas ele confia no Pai. “Mais ainda: pai é a palavra em que pensou aquele filho que foi embora de casa com a sua parte da herança e que depois queria voltar para casa. E aquele pai ‘o vê chegar e vai correndo ao seu encontro’, se lança ao seu abraço para enchê-lo de amor.  E aquele ‘Pai, eu pequei’: esta é a chave de toda oração, sentir-se amado por um Pai”.

“Nós temos um Pai. E muito próximo, que nos abraça… Todas estas preocupações, inquietações que nós temos, vamos entregá-las ao Pai: ele sabe do que nós precisamos. Pai o quê, meu? Não, pai nosso! Porque eu não sou filho único, nenhum de nós é, e se eu não consigo ser um irmão, será difícil me tornar um filho desse Pai, porque ele é o pai de todos. Claro que é meu, mas também dos outros, dos meus irmãos. E se eu não estou em paz com os meus irmãos, não posso chamá-lo de pai”.

Isto explica o fato de que Jesus, depois de nos ensinar o pai-nosso, enfatiza que, se não perdoarmos aos outros, o Pai não nos perdoará os pecados. “É muito difícil perdoar aos outros, é muito difícil mesmo, porque sempre temos aquele pesar por dentro. Pensamos: ‘Você me aprontou, espera só…’, para ‘devolver’”.

“Não, não podemos orar com inimigos no coração, com irmãos e inimigos no coração. Isso é difícil, sim, é difícil, não é fácil. ‘Pai, eu não posso dizer Pai, não consigo’. É verdade, eu entendo. ‘Não posso dizer nosso, porque fulano me fez isso, aquilo e…’, enfim, não posso! ‘Aqueles lá merecem ir para o inferno’, não é assim? ‘Eles não são dos meus!’. Não é fácil. Mas Jesus nos prometeu o Espírito Santo: é ele que nos ensina, a partir de dentro, do coração, a dizer ‘Pai’ e ‘nosso’. Peçamos hoje ao Espírito Santo que ele nos ensine a dizer ‘Pai’ e a dizer ‘nosso’, selando a paz com todos os nossos inimigos”.