Dar primazia a Deus significa ter a coragem de dizer não para o mal

Homilia do Papa durante a Missa em Caserta

Por Redacao

ROMA, 27 de Julho de 2014 (Zenit.org) – Apresentamos a homilia do Papa Francisco pronunciada na missa celebrada em Caserta, Itália, durante viagem apostólica realizada neste sábado, 26 de julho.

Jesus se dirigia aos seus ouvintes com palavras simples que todos pudessem entender. Esta noite também Ele nos fala por meio de breves parábolas, que se referem à vida cotidiana das pessoas daquela época. As semelhanças entre o tesouro escondido no campo e a pérola de grande valor veem como protagonistas um operário pobre e um rico comerciante. O comerciante buscou durante toda a sua vida algo de valor, que satisfizesse sua sede de beleza e viagem pelo mundo, sem trégua, na esperança de encontrar o que estava procurando. O outro, o agricultor, nunca se afastou de seu campo e realizava o trabalho de sempre, com a rotina diária habitual. No entanto, o resultado final é o mesmo: a descoberta de algo valioso. Para um, um tesouro, para o outro, uma pérola de grande valor. Ambos também estão unidos por um sentimento comum: a surpresa e alegria de ter encontrado o cumprimento de todos os desejos. Finalmente, os dois não hesitam em vender tudo para comprar o tesouro que encontraram. Através destas duas parábolas Jesus ensina o que é o reino dos céus, como podemos encontrá-lo e o que fazer para possuí-lo.

O que é o reino dos céus? Jesus não se preocupa em explicar. Explica-o desde o início do seu Evangelho: “O reino dos céus está próximo”. No entanto, não nos faz vê-lo diretamente, mas sempre numa reflexão, narrando um modo de agir de um patrão, um rei, as dez virgens… Ele prefere deixar-nos a intui-lo por meio de parábolas e comparações, sobretudo revelando os efeitos: o reino dos céus é capaz de mudar o mundo, como o fermento escondido na massa; é pequeno e humilde como um grão de mostarda que, no entanto, se tornará tão grande quanto uma árvore. As duas parábolas que queremos refletir nos fazem entender que o reino de Deus está presente na própria pessoa de Jesus. Ele é o tesouro escondido e a pérola de grande valor. É de se entender a alegria do agricultor e do comerciante: eles encontraram! É a alegria de todos nós quando encontramos a proximidade e a presença de Jesus em nossas vidas. Uma presença que transforma nossas vidas e nos torna sensíveis às necessidades dos irmãos; uma presença que nos convida a aceitar uns aos outros, incluindo os estrangeiros e imigrantes.

Como se encontra o reino de Deus? Cada um de nós tem um caminho particular. Para alguns, o encontro com Jesus é esperado, desejado, procurado por muito tempo, como é mostrado na parábola do comerciante. Para outros, acontece de repente, quase por acaso, como na parábola do agricultor. Isso nos lembra que o próprio Deus se deixa encontrar, no entanto, porque é Ele que primeiro quer nos encontrar e busca nos encontrar: veio para ser o “Deus conosco”. É Ele quem nos procura e se deixa encontrar também por aqueles que não o buscam. Às vezes, Ele se deixa encontrar em lugares incomuns e em momentos inesperados. Quando alguém encontra Jesus, fica fascinado, conquistado, e é uma alegria deixar o nosso modo habitual de vida, às vezes árido e apático para abraçar o Evangelho e deixar se guiar pela nova lógica do amor e do serviço humilde e desinteressado.

O que fazer para possuir o reino de Deus? Sobre este ponto, Jesus é muito claro: não basta a emoção, a alegria da descoberta. Ele deve levar a pérola preciosa do reino a todos os outros terrenos bons; precisa colocar Deus em primeiro lugar em nossas vidas, preferi-Lo antes de tudo. Dar primazia a Deus significa ter a coragem de dizer não para o mal, a violência, a opressão. É viver uma vida de serviço aos outros e em favor da lei e do bem comum. Quando uma pessoa encontra Deus, o verdadeiro tesouro, abandona o estilo de vida egoísta e tentar compartilhar com os outros o amor que vem de Deus. Quem se torna amigo de Deus, ama seus irmãos, se empenha em proteger suas vidas e sua saúde, também respeitando o meio ambiente e a natureza. Isto é particularmente importante nessa bela terra de vocês que precisa ser protegida e preservada. Peço que tenham a coragem de dizer não a qualquer forma de corrupção e ilegalidade, que todos sejam servidores da verdade e assumam sempre um estilo de vida evangélico, que se manifesta no dom de si e na atenção aos pobres e excluídos.

A Festa de Santa Ana, a padroeira de Caserta, reuniu nesta praça os vários membros da comunidade diocesana com o bispo e a presença de autoridades civis e dos representantes das várias realidades sociais. Gostaria de encorajá-los a viver a festa da padroeira livre de todos os preconceitos, expressão pura da fé de um povo que se reconhece como família de Deus e fortalece os laços de fraternidade e solidariedade. Santa Ana talvez tenha escutado sua filha Maria proclamar as palavras do Magnificat: “Ele derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes, saciou os indigentes de bens” (Lc 1, 51-53). Ela irá ajudá-los a procurar o único tesouro, Jesus, e ensiná-los a descobrir os critérios do agir de Deus. Ele inverte os conceitos do mundo, vem em socorro dos pobres e pequenos e cumula de bens os humildes, os que confiam a Ele sua existência.

Ser Igreja é sentir-se nas mãos de Deus

Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral

Por Redacao

ROMA, 18 de Junho de 2014 (Zenit.org) – O Papa Francisco iniciou, nesta quarta-feira (18), um ciclo de catequeses dedicado à Igreja durante a Audiência Geral.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia. E parabéns a vocês porque vocês são bravos, com este tempo que não se sabe se vem água, se não vem… Bravos! Esperamos terminar a catequese sem água, que o Senhor tenha piedade de nós.

Hoje começo um ciclo de catequese sobre a Igreja. É um pouco como um filho que fala da própria mãe, da própria família. Falar da Igreja é falar da nossa mãe, da nossa família. A Igreja, na verdade, não é uma instituição com fim em si mesma ou uma associação privada, uma ONG, nem tão pouco se deve restringir o olhar ao clero e ao Vaticano… “A Igreja pensa…”. Mas a Igreja somos todos! “De quem você fala?”. “Não, dos padres…” Ah, os padres são parte da Igreja, mas a Igreja somos todos! Não restringi-la aos sacerdotes, aos bispos, ao Vaticano… Estes são partes da Igreja, mas a Igreja somos todos, todos família, todos da mãe. E a Igreja é uma realidade muito mais ampla, que se abre a toda a humanidade e que não nasce em um laboratório, a Igreja não nasceu em laboratório, não nasceu de improviso. Foi fundada por Jesus, mas é um povo com uma história longa e uma preparação que tem início muito antes do próprio Cristo.

1. Esta história, ou “pre-história”, da Igreja se encontra já nas páginas do Antigo Testamento. Ouvimos o Livro do Gênesis: Deus escolheu Abraão, nosso pai na fé, e lhe pede para partir, para deixar a sua pátria terrena e seguir rumo a uma outra terra, que Ele indicaria (cfr Gen 12, 1-9). E nesta vocação Deus não chama Abraão sozinho, como indivíduo, mas envolve desde o início a sua família, os seus parentes e todos aqueles que estão a serviço da sua casa. Uma vez em caminho, – sim, assim a Igreja começa a caminhar- , depois, Deus ainda ampliará o horizonte e transbordará Abraão da sua benção, prometendo-lhe uma descendência numerosa como as estrelas do céu e como a areia da praia. O primeiro dado importante é justamente esse: começando de Abraão, Deus forma um povo para que leve a sua benção a todas as famílias da terra. E dentro desse povo nasce Jesus. É Deus que faz esse povo, esta história, a Igreja em caminho, e ali nasce Jesus, neste povo.

2. Um segundo elemento: não é Abraão a constituir em torno de si um povo, mas é Deus a dar a vida a este povo. Geralmente era o homem que se dirigia à divindade, procurando preencher a lacuna e invocando apoio e proteção. O povo rezava aos deuses, às divindades. Nesse caso, em vez disso, se assiste a algo sem precedentes: é o próprio Deus a tomar a iniciativa. Escutemos isso: é o próprio Deus que bate à porta de Abraão e lhe diz: segue adiante, distante da sua terra, comece a caminhar e eu farei de ti um grande povo. E este é o início da Igreja e neste povo nasce Jesus. Deus toma a iniciativa e dirige a sua palavra ao homem, criando um vínculo e uma relação nova com ele. “Mas, padre, como é isto? Deus nos fala?”. “Sim”. “E nós podemos falar com Deus?”. “Sim”. “Mas nós podemos ter uma conversa com Deus?”. “Sim”. Isto se chama oração, mas é Deus que fez isso desde o início. Assim, Deus forma um povo com todos aqueles que escutam a sua Palavra e que se colocam em caminho, confiando Nele. Esta é a única condição: confiar em Deus. Se você confia em Deus, escuta-O e se coloca em caminho, isto é fazer Igreja. O amor de Deus precede tudo. Deus sempre é primeiro, chega antes de nós, Ele nos precede. O profeta Isaías, ou Jeremias, não me lembro bem, dizia que Deus é como a flor da amendoeira, porque é a primeira árvore que floresce na primavera. Para dizer que Deus sempre floresce antes de nós. Quando nós chegamos, Ele nos espera, Ele nos chama, Ele nos faz caminhar. Sempre está antecipado em relação a nós. E isto se chama amor, porque Deus nos espera sempre. “Mas, padre, eu não acredito nisto, porque se o senhor soubesse, padre, a minha vida tem sido tão ruim, como posso pensar que Deus me espera?”. “Deus te espera. E se você foi um grande pecador, te espera mais ainda e te espera com tanto amor, porque Ele é o primeiro. Esta é a beleza da Igreja, que nos leva a este Deus que nos espera!”. Precede Abraão, precede também Adão.

3. Abraão e os seus escutam o chamado de Deus e se colocam em caminho, não obstante não saibam bem quem seja este Deus e onde quer conduzi-los. É verdade, porque Abraão se coloca em caminho confiando neste Deus que lhes falou, mas não tinha um livro de teologia para estudar o que era este Deus. Confia, confia no amor. Deus lhe faz sentir o amor e ele confia. Isto, porém, não significa que este povo esteja sempre convencido e fiel. Antes, desde o início há resistências, o olhar para si mesmo e para seus próprios interesses e a tentação de negociar com Deus e resolver as coisas do próprio modo. E estas são as traições e os pecados que marcam o caminho do povo ao longo de toda a história da salvação, que é a história da fidelidade de Deus e da infidelidade do povo. Deus, porém, não se cansa, Deus tem paciência, tem tanta paciência, e no tempo continua a educar e a formar o seu povo, como um pai com o próprio filho. Deus caminha conosco. Diz o profeta Oseias: “Eu caminhei contigo e te ensinei a caminhar como um pai ensina o seu filho a caminhar”. Bela esta imagem de Deus! E assim é conosco: ensina-nos a caminhar. E é a mesma atitude que mantém em relação à Igreja. Também nós, de fato, mesmo no nosso propósito de seguir o Senhor Jesus, fazemos a experiência a cada dia do egoísmo e da dureza do nosso coração. Quando, porém, nos reconhecemos pecadores, Deus nos enche da sua misericórdia e do seu amor. E nos perdoa, nos perdoa sempre. E é justamente isso que nos faz crescer como povo de Deus, como Igreja: não é a nossa bravura, não são os nossos méritos – não somos pouca coisa, não é isso – mas é a experiência cotidiana de quanto o Senhor nos quer bem e cuida de nós. É isto que nos faz sentir realmente seus, nas suas mãos, e nos faz crescer na comunhão com Ele e entre nós. Ser Igreja é sentir-se nas mãos de Deus, que é Pai e nos ama, nos acaricia, nos espera, nos faz sentir a sua ternura. E isto é muito belo!

Queridos amigos, este é o projeto de Deus; quando chamou Abraão, Deus pensava isto: formar um povo abençoado pelo seu amor e que leve a sua benção a todos os povos da terra. Este projeto não muda, está sempre em ação. Em Cristo teve o seu cumprimento e ainda hoje Deus continua a realizá-lo na Igreja. Peçamos, então, a graça de permanecer fiéis ao seguimento do Senhor Jesus e na escuta da sua Palavra, prontos a partir a cada dia, como Abraão, rumo à terra de Deus e do homem, a nossa verdadeira pátria e assim nos tornarmos benção, sinal do amor de Deus para todos os seus filhos. Eu gosto de pensar que um sinônimo, um outro nome que nós cristãos podemos ter seria este: somos homens e mulheres, somos povo que bendiz. O cristão, com a sua vida, deve bendizer sempre, bendizer Deus e bendizer todos. Nós cristãos somos povo que bendiz, que sabe bendizer. Esta é uma bela vocação!

Ser santo não é ser faquir; a santidade é um dom de Jesus

Papa Francisco: carregar com humildade e testemunho a cruz de todos os dias, a exemplo de São João Paulo II, humilhado pela doença

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 09 de Maio de 2014 (Zenit.org) – Os santos são pessoas que praticaram as virtudes com heroísmo, mas não devemos confundi-los com os super-heróis, porque os santos são pecadores que seguiram Jesus no caminho da humildade e da cruz. Ninguém pode se santificar por si mesmo.

Esta foi a ideia que o Santo Padre desenvolveu na homilia desta sexta-feira, na Casa Santa Marta, partindo da primeira leitura do dia: a conversão de São Paulo, que, de perseguidor dos cristãos, se transforma em santo. Francisco interroga: se somos todos pecadores e estamos dentro a Igreja, como é possível que ela seja santa?

E responde: “Nós todos somos pecadores, mas ela é santa. É a esposa de Jesus Cristo e Ele a ama, a santifica, todo dia, com o seu sacrifício eucarístico. Nós somos pecadores, mas dentro de uma Igreja santa, e nós também nos santificamos pelo fato de pertencer à Igreja. Somos filhos da Igreja e a Mãe Igreja nos santifica com o seu amor, com os sacramentos do seu Esposo”.

“São Paulo, em suas cartas, se dirige aos santos e a nós: pecadores, mas filhos da Igreja santa, santificada pelo sangue e pelo corpo de Jesus”.

“Nesta Igreja santa, nosso Senhor escolhe algumas pessoas para mostrar melhor a santidade, para fazer ver que é ele quem santifica e que ninguém santifica a si mesmo, que não há um curso para se tornar santo, que ser santo não é ser um faquir… Não, não é!”.

“A santidade é um dom de Jesus para a sua Igreja e, para mostrar isto, Ele escolhe pessoas nas quais fique clara a sua obra santificadora”.

No evangelho, diz o papa, existem muitos exemplos de santos: Madalena, de quem Jesus tinha expulsado sete demônios; Mateus, “que era um traidor do seu povo e lhe tirava dinheiro para dar aos romanos”; Zaqueu e tantos outros, para mostrar a todos qual é a primeira regra da santidade: “é necessário que Cristo cresça e nós diminuamos. É a regra da santidade: a nossa humilhação para que nosso Senhor cresça”.

Assim, Cristo escolhe Saulo, um perseguidor da Igreja. “Nosso Senhor o espera e o leva a sentir o seu poder”. Saulo “fica cego e obedece”, e, grande que era, “se torna como criança e obedece”. Seu coração muda: “é outra vida”. Mas Paulo não se transforma em herói, porque, depois de pregar o evangelho em todo o mundo, “termina a vida junto com um pequeno grupo de amigos, aqui em Roma, vítima dos seus discípulos”.

E, certa manhã, “três, quatro, cinco soldados foram até o local onde ele estava, o levaram consigo e, simplesmente, cortaram a cabeça dele. O grande, aquele que tinha ido por todo o mundo, termina assim”.

O papa lembra que “a diferença entre os heróis e os santos é o testemunho, a imitação de Jesus Cristo. É seguir pelo caminho de Jesus Cristo”, o caminho das cruzes. E acrescenta que muitos santos “terminam de maneira muito humilde. Os grandes santos. Penso, por exemplo, nos últimos dias de João Paulo II… Todos nós o vimos. Não poderia deixar de falar deste grande atleta de Deus, deste grande guerreiro de Deus, que termina assim: demolido pela enfermidade, humilhado como Jesus. Este é o percurso da santidade dos grandes”.

“Também é o percurso da nossa santidade, se nós deixarmos o coração se converter neste caminho de Jesus, de levar a cruz todos os dias, a cruz cotidiana, a cruz simples, e deixarmos que Jesus cresça. E se não tomarmos este caminho, não seremos santos. Mas se o tomarmos, todos nós daremos testemunho de Jesus Cristo, que nos ama tanto. E daremos testemunho de que, mesmo pecadores, a Igreja é Santa, é a esposa de Jesus”.

João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restaurar e atualizar a Igreja

Texto completo da homilia do Santo Padre na missa de canonização de João XXIII e de João Paulo II

Por Redacao

ROMA, 27 de Abril de 2014 (Zenit.org) – No centro deste domingo, que encerra a Oitava de Páscoa e que São João Paulo II quis dedicar à Misericórdia Divina, encontramosas chagas gloriosas de Jesus ressuscitado.

Já as mostrara quando apareceu pela primeira vez aos Apóstolos, ao anoitecer do dia depois do sábado, o dia da Ressurreição. Mas, naquela noite – como ouvimos –, Tomé não estava; e quando os outros lhe disseram que tinham visto o Senhor, respondeu que, se não visse e tocasse aquelas feridas, não acreditaria. Oito dias depois, Jesus apareceu de novo no meio dos discípulos, no Cenáculo, encontrando-se presente também Tomé; dirigindo-Se a ele, convidou-o a tocar as suas chagas. E então aquele homem sincero, aquele homem habituado a verificar tudo pessoalmente, ajoelhou-se diante de Jesus e disse: «Meu Senhor e meu Deus!» (Jo 20, 28).

Se as chagas de Jesus podem ser de escândalo para a fé, são também a verificação da fé. Por isso, no corpo de Cristo ressuscitado, as chagas não desaparecem, continuam, porque aquelas chagas são o sinal permanente do amor de Deus por nós, sendo indispensáveis para crer em Deus: não para crer que Deus existe, mas sim que Deus é amor, misericórdia, fidelidade. Citando Isaías, São Pedro escreve aos cristãos: «pelas suas chagas, fostes curados» (1 Ped 2, 24; cf. Is 53, 5).

São João XXIII e SãoJoão Paulo II tiveram a coragem de contemplar as feridas de Jesus, tocar as suas mãos chagadas e o seu lado trespassado. Não tiveram vergonha da carne de Cristo, não se escandalizaram d’Ele, da sua cruz; não tiveram vergonha da carne do irmão (cf. Is 58, 7), porque em cada pessoa atribulada viam Jesus. Foram dois homens corajosos, cheios da parresia do Espírito Santo, e deram testemunho da bondade de Deus, da sua misericórdia, à Igreja e ao mundo.

Foram sacerdotes, bispos e papas do século XX. Conheceram as suas tragédias, mas não foram vencidos por elas. Mais forte, neles, era Deus; mais forte era a fé em Jesus Cristo, Redentor do homem e Senhor da história; mais forte, neles, era a misericórdia de Deus que se manifesta nestas cinco chagas; mais forte era a proximidade materna de Maria.

Nestes dois homens contemplativos das chagas de Cristo e testemunhas da sua misericórdia, habitava «uma esperança viva», juntamente com «uma alegria indescritível e irradiante» (1 Ped 1, 3.8). A esperança e a alegria que Cristo ressuscitado dá aos seus discípulos, e de que nada e ninguém os pode privar. A esperança e a alegria pascais, passadas pelo crisol do despojamento, do aniquilamento, da proximidade aos pecadores levada até ao extremo, até à náusea pela amargura daquele cálice. Estas são a esperança e a alegria que os dois santos Papas receberam como dom do Senhor ressuscitado, tendo-as, por sua vez, doado em abundância ao Povo de Deus, recebendo sua eterna gratidão.

Esta esperança e esta alegria respiravam-se na primeira comunidade dos crentes, em Jerusalém, de que falam os Actos dos Apóstolos (cf. 2, 42-47), que ouvimos na segunda Leitura. É uma comunidade onde se viveo essencial do Evangelho, isto é, o amor, a misericórdia, com simplicidade e fraternidade.

E esta é a imagem de Igreja que o Concílio Vaticano II teve diante de si.João XXIII e João Paulo II colaboraram com o Espírito Santo para restabelecer e actualizar a Igreja segundo a sua fisionomia originária, a fisionomia que lhe deram os santos ao longo dos séculos. Não esqueçamos que são precisamente os santos que levam avante e fazem crescer a Igreja. Na convocação do Concílio,São João XXIII demonstrou uma delicada docilidade ao Espírito Santo, deixou-se conduzir e foi para a Igreja um pastor, um guia-guiado, guiado pelo Espírito. Este foi o seu grande serviço à Igreja; por isso gosto de pensar nele como o Papa da docilidade ao Espírito Santo.

Neste serviço ao Povo de Deus, São João Paulo II foi o Papa da família. Ele mesmo disse uma vez que assim gostaria de ser lembrado: como o Papa da família. Apraz-me sublinhá-lo no momento em que estamos a viver um caminho sinodal sobre a família e com as famílias, um caminho que ele seguramente acompanha e sustenta do Céu.

Que estes doisnovos santos Pastores do Povode Deus intercedam pela Igreja para que, durante estes doisanos de caminho sinodal, seja dócilao Espírito Santono serviço pastoral à família. Que ambos nos ensinem a não nos escandalizarmos das chagas de Cristo, a penetrarmos no mistério da misericórdia divina que sempre espera, sempre perdoa, porque sempre ama.

Não sejamos cristãos morcegos

Francisco explica que há fiéis que têm medo da ressurreição e cuja vida parece um funeral

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 24 de Abril de 2014 (Zenit.org) – Há cristãos que têm medo da alegria da ressurreição que Jesus quer nos dar: a vida deles parece um funeral. Mas o Senhor ressuscitado está sempre conosco, ressaltou o papa Francisco em sua homilia durante a missa celebrada na manhã de hoje na capela da Casa Santa Marta.

A liturgia do dia narra a aparição de Cristo ressuscitado aos seus discípulos. Diante da saudação de paz de nosso Senhor, os discípulos, em vez de se alegrarem, ficaram “transtornados e cheios de temor”, pensando “que viam um fantasma”. Jesus tentou fazê-los entender que o que viam era real, os convidou a tocar nele e pediu que lhe dessem de comer. Ele quer conduzi-los à “alegria da ressurreição, à alegria da sua presença entre eles”. Mas os discípulos “não podiam crer, porque tinham medo da alegria”, disse o papa.

“Esta é uma doença dos cristãos. Temos medo da alegria. É melhor pensar: ‘Sim, sim, Deus existe, mas está lá longe; Jesus ressuscitado, Ele está lá’. Um pouco de distância. Temos medo da proximidade de Jesus, porque ela nos traz alegria. E isso explica a existência de tantos cristãos com cara de enterro, não é? Que a vida deles parece um funeral contínuo. Preferem a tristeza, não a alegria. Ficam mais à vontade não na luz da alegria, mas nas sombras, como aqueles bichos que só conseguem sair de noite, mas não à luz do dia, porque não enxergam nada. Como os morcegos. E, com um pouco de senso de humor, podemos dizer que existem cristãos morcegos, que preferem as sombras à luz da presença do Senhor”.

Mas “Jesus, com a sua ressurreição, nos dá a alegria: a alegria de ser cristãos; a alegria de segui-lo de perto; a alegria de andar pelo caminho das bem-aventuranças, a alegria de estar com Ele”.

“E nós, muitas vezes, ficamos transtornados com essa alegria, ou cheios de medo, ou achando que estamos vendo um fantasma, ou pensando que Jesus é um modo de ser: ‘Mas nós somos cristãos e temos que fazer assim. Mas onde é que está Jesus? ‘Não, Jesus está lá no Céu’. Você fala com Jesus? Você diz a Jesus: ‘Eu creio que Tu vives, que Tu ressuscitaste, que Tu estás perto de mim, que Tu não me abandonas’? A vida cristã tem que ser isso: um diálogo com Jesus, porque Jesus está sempre conosco. Isso é verdade! Ele está sempre conosco no meio dos nossos problemas, das nossas dificuldades, das nossas obras boas”.

Quantas vezes nós, cristãos, “não somos alegres porque temos medo!”. Cristãos que “foram vencidos” na cruz!

“Na minha terra há um ditado que diz assim: ‘Quem se queima com leite fervendo, quando vê uma vaca chora’. E esses cristãos se queimaram com o drama da cruz e disseram: ‘Não, vamos parar por aqui. Ele está no Céu. Muito bem, Ele ressuscitou, mas que não venha aqui de novo, porque não vamos poder mais’. Peçamos a nosso Senhor que Ele faça conosco o que fez com os discípulos que tinham medo da alegria: que Ele abra a nossa mente. ‘Então abriu-lhes a mente para compreenderem as Escrituras’. Que Ele abra a nossa mente e nos faça compreender que Ele é uma realidade viva, que Ele tem corpo, que Ele está conosco, que Ele nos acompanha e que Ele venceu. Peçamos ao Senhor a graça de não ter medo da alegria”.

Onde está o meu coração? Com qual destas pessoas me pareço?

Homilia do Papa na Celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

CIDADE DO VATICANO, 14 de Abril de 2014 (Zenit.org) – CELEBRAÇÃO DO DOMINGO DE RAMOS  E DA PAIXÃO DO SENHOR

HOMILIA DO PAPA FRANCISCO
Praça de São Pedro
XXIX Jornada Mundial da Juventude
Domingo, 13 de Abril de 2014

Esta semana começa com a festiva procissão dos ramos de oliveira: todo o povo acolhe Jesus. As crianças, os adolescentes cantam, louvam Jesus.

Mas esta semana continua com o mistério da morte de Jesus e da sua ressurreição. Ouvimos a Paixão do Senhor. Será bom pormo-nos apenas uma pergunta: Quem sou eu? Quem sou eu, face ao meu Senhor? Quem sou eu à vista de Jesus que entra festivamente em Jerusalém? Sou capaz de exprimir a minha alegria, de O louvar? Ou fico à distância? Quem sou eu, face a Jesus que sofre?

Escutámos muitos nomes, muitos nomes. O grupo dos líderes, alguns sacerdotes, alguns fariseus, alguns doutores da lei, que decidiram matá-Lo. Esperavam só a oportunidade boa para O prenderem. Sou eu como um deles?

Ouvimos também outro nome: Judas. Trinta moedas. Sou eu como Judas? Escutámos outros nomes: os discípulos que não entendiam nada, que adormeciam enquanto o Senhor sofria. A minha vida está adormecida? Ou sou como os discípulos, que não compreendiam o que era trair Jesus? Ou então como aquele discípulo que queria resolver tudo com a espada: sou eu como eles? Sou como Judas, que finge de amar e beija o Mestre para O entregar, para O trair? Sou eu um traidor? Sou eu como aqueles líderes que montam à pressa o tribunal e procuram testemunhas falsas: sou eu como eles? E, quando faço estas coisas – se é que as faço –, creio que, com isso, salvo o povo?

Sou eu como Pilatos? Quando vejo que a situação é difícil, lavo as mãos e não assumo a minha responsabilidade, condenando ou deixando condenar as pessoas?

Sou eu como aquela multidão que não sabia bem se estava numa reunião religiosa, num julgamento ou num circo, e escolhe Barrabás? Para ela tanto valia: era mais divertido, para humilhar Jesus.

Sou eu como os soldados, que batem no Senhor, cospem-Lhe em cima, insultam-No, divertem-se com a humilhação do Senhor?

Sou eu como Simão de Cirene que voltava do trabalho, cansado, mas teve a boa vontade de ajudar o Senhor a levar a cruz?

Sou eu como aqueles que passavam diante da Cruz e escarneciam de Jesus: «Era tão corajoso! Desça da cruz e nós acreditaremos n’Ele!». Escarnecem de Jesus…

Sou eu como aquelas mulheres corajosas, e como a Mãe de Jesus, que estavam lá e sofriam em silêncio?

Sou eu como José, o discípulo oculto, que leva o corpo de Jesus, com amor, para Lhe dar sepultura?

Sou eu como as duas Marias que permanecem junto do sepulcro chorando, rezando?
Sou eu como aqueles líderes que, no dia seguinte, foram ter com Pilatos para lhe dizer: «Olha que Ele afirmava que havia de ressuscitar. Não queremos mais enganos!» e bloqueiam a vida, bloqueiam o sepulcro para defender a doutrina, para que a vida não irrompa?

Onde está o meu coração? Com qual destas pessoas me pareço? Que esta pergunta nos acompanhe durante toda a semana.

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Não há nenhum limite para a misericórdia de Deus

Francisco comentou a passagem do Evangelho que narra a ressurreição de Lázaro

CIDADE DO VATICANO, 07 de Abril de 2014 (Zenit.org) – Antes de rezar a oração do Angelus com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro neste domingo, 06 de abril, o Papa Francisco comentou a passagem do Evangelho que narra a ressurreição de Lázaro. Eis a íntegra do texto:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho deste domingo de Quaresma nos narra a ressurreição de Lázaro. É o ápice dos “sinais” prodigiosos feitos por Jesus: é um gesto muito grande, muito claramente divino para ser tolerado pelos sumos sacerdotes, os quais, sabendo do fato, tomaram a decisão de matar Jesus (cfr Jo 11, 53).

Lázaro já estava morto há três dias, quando chega Jesus; e às irmãs Marta e Maria Ele disse palavras que ficaram gravadas para sempre na memória da comunidade cristã. Jesus diz assim: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (Jo 11, 25). Sobre esta Palavra do Senhor nós acreditamos que a vida de quem crê em Jesus e segue o seu mandamento depois da morte será transformada em uma vida nova, plena e imortal. Como Jesus ressuscitou com o próprio corpo, mas não retornou a uma vida terrena, assim nós ressurgiremos com os nossos corpos que serão transfigurados em corpos gloriosos. Ele nos espera junto ao Pai e a força do Espírito Santo, que O ressuscitou, ressuscitará também quem está unido a Ele.

Diante do túmulo lacrado do amigo Lázaro, Jesus “exclamou em voz forte: Lázaro, vem para fora”. O morto saiu, atado de mãos e pés com os lençóis mortuários e o rosto coberto com um pano (vv. 43-44). Este grito peremptório é dirigido a cada homem, porque todos estamos marcados pela morte, todos nós; é a voz Daquele que é o Senhor da vida e quer que todos “a tenham em abundância” (Jo 10, 10). Cristo não se conforma com os túmulos que construímos para nós com as nossas escolhas do mal e da morte, com os nossos erros, com os nossos pecados. Ele não se conforma com isso! Ele nos convida, quase nos ordena, a sair do túmulo em que os nossos pecados nos afundaram. Chama-nos com insistência para sairmos da escuridão da prisão em que nos fechamos, contentando-nos com uma vida falsa, egoísta, medíocre. “Vem para fora!”, noz diz, “Vem para fora!”. É um belo convite à verdadeira liberdade, a deixar-nos agarrar por estas palavras de Jesus que hoje repete a cada um de nós. Um convite a deixar-nos livrar das “ataduras”, das ataduras do orgulho. Porque o orgulho nos faz escravos, escravos de nós mesmos, escravos de tantos ídolos, de tantas coisas. A nossa ressurreição começa aqui: quando decidimos obedecer a esta ordem de Jesus saindo para a luz, para a vida; quando da nossa face caem as máscaras – tantas vezes estamos mascarados pelo pecado, as máscaras devem cair! – e nós reencontramos a coragem da nossa face original, criada à imagem e semelhança de Deus.

O gesto de Jesus que ressuscita Lázaro mostra até onde pode chegar a força da Graça de Deus e também até onde pode chegar a nossa conversão, a nossa mudança. Mas ouçam bem: não há limite algum para a misericórdia divina oferecida a todos! Não há limite algum para a misericórdia divina oferecida a todos! Lembrem-se bem desta frase. E possamos dizê-la todos juntos: “Não há limite algum para a misericórdia de Deus oferecida a todos”. O Senhor está sempre pronto para levantar a pedra do túmulo dos nossos pecados, que nos separa Dele, a luz dos vivos.

Queres a cura?

Nesta terça-feira, Francisco comentou a parábola do paralítico e dos fariseus e nos alertou contra o formalismo e a inércia dos cristãos

Por Sergio Mora

CIDADE DO VATICANO, 01 de Abril de 2014 (Zenit.org) – Os “cristãos anestesiados” fazem mal à Igreja com os seus formalismos; é necessário vencer a inércia espiritual e se arriscar, em primeira pessoa, para anunciar o evangelho. Esta foi a proposta do papa Francisco na missa rezada hoje na Casa Santa Marta.

A homilia se baseou no evangelho, que narra o encontro de Jesus com um homem que, havia 38 anos, estava paralítico. O homem não encontrava ninguém que o submergisse nas águas; alguém sempre lhe passava na frente. Jesus então lhe ordenou levantar-se. O milagre despertou as críticas dos fariseus, por ter sido feito em um sábado, dia de descanso obrigatório.

O pontífice declarou que encontramos aqui duas doenças espirituais sérias. Por um lado, a resignação do enfermo, que, triste, apenas se lamentava. O papa enfatizou: “Penso em tantos cristãos, tantos católicos, que, sim, são católicos, mas sem entusiasmo, tristes. Que dizem: ‘É a vida, é assim… Vou à missa todos os domingos, mas é melhor não me meter com a fé dos outros; eu mantenho a minha fé por motivos de saúde e não tenho necessidade de transmiti-la para os outros… É melhor cada um na sua casa, tranquilo da vida… Além disso, se você faz alguma coisa, corre o risco de ser criticado. Não, é melhor não arriscar…’”.

Esta é a doença da indolência, da indiferença dos cristãos. Esta atitude paralisa o zelo apostólico. “São pessoas anestesiadas. São cristãos tristes, pessoas não luminosas, pessoas negativas. E esta é uma enfermidade dos cristãos. Vamos à missa todos os domingos, mas dizemos: ‘Por favor, não nos incomodem’. Esses cristãos sem zelo apostólico não fazem bem à Igreja. Há muitos cristãos que são egoístas, só para eles mesmos. O pecado da indiferença é contrário ao zelo apostólico, de transmitir a novidade que Jesus nos trouxe, que eu recebi de graça”.

Nesta passagem do evangelho, explicou o papa, encontramos também outro pecado, quando vemos que Jesus é criticado porque realizou uma cura em dia de sábado. É o pecado do formalismo. “Cristãos que não abrem espaço para a graça de Deus. E a vida cristã, para essa gente, é ter todos os documentos em ordem, todos os certificados (…) Os cristãos hipócritas, como eles, se interessam só pelas formalidades. Era sábado? Então não pode fazer milagre. A graça de Deus não pode agir no sábado. E então eles fecham a porta para a graça de Deus”.

“Temos tantos assim na Igreja, tantos! É outro pecado. Primeiro, os que não têm zelo apostólico, porque decidiram ficar parados neles mesmos, nas suas tristezas, ressentimentos. E esses outros que não são capazes de transmitir a salvação porque fecham a porta para ela”.

Para eles, só contam as formalidades. E nós? “Tantas vezes fomos apáticos ou hipócritas como os fariseus. São tentações, e temos que conhecê-las para nos defender delas (…) Jesus se aproxima e pergunta apenas: ‘Queres a cura?’ E dá a graça. E depois, quando encontra o paralítico de novo, Ele só diz: ‘Não peques mais’”.

“As duas palavras cristãs são estas: ‘Queres a cura?’ e ‘Não peques mais’. Mas primeiro Jesus cura e depois diz para não pecarmos mais. Palavras de ternura e de amor. E este é o caminho cristão, o caminho do zelo apostólico: ir em busca de tantas pessoas feridas, neste hospital de campo [que é a vida], e tantas vezes feridas por homens da Igreja! É uma palavra de irmão e de irmã: queres a cura? E depois Ele diz: ‘Não peques mais, porque não te faz bem’. É muito melhor assim. As duas palavras de Jesus são mais bonitas do que a atitude da indiferença e da hipocrisia”.

Deus perde no saldo, mas ganha no amor

Deus é como o pai da parábola do filho pródigo: espera, perdoa e festeja

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 28 de Março de 2014 (Zenit.org) – Deus nos ama e “não sabe fazer outra coisa”, declarou o papa Francisco na missa desta manhã, celebrada na Casa Santa Marta. O pontífice afirmou que nosso Senhor sempre nos espera e nos perdoa: Ele é “o Deus da misericórdia”, que faz festa quando voltamos para Ele. Francisco acrescentou que Deus sente saudade de nós quando nos afastamos dele.

O Santo Padre desenvolveu a homilia com base na primeira leitura do dia, do livro do profeta Oseias. Deus nos fala com ternura e “nos convida à conversão”. Embora isto “soe um pouco forte”, é uma realidade que contém “a amorosa saudade de Deus”. Francisco fez referência à exortação do pai ao filho: “Volta, é hora de voltar para casa”. E completou: “Só com esta palavra, podemos passar horas e horas em oração”.

O papa explicou que “assim é o coração do nosso Pai; Deus é assim: Ele não se cansa, não se cansa! E durante tantos séculos Ele fez isso, apesar de muita apostasia, muita apostasia do povo. E ele sempre volta, porque nosso Deus é um Deus que espera. Desde aquela tarde no paraíso terrestre. Adão saiu do paraíso em meio à dor, mas também com uma promessa. E Ele é fiel. O Senhor é fiel à sua promessa, porque não pode negar a si mesmo. Ele é fiel. E assim Ele esperou por todos nós, ao longo da história. Ele é o Deus que nos espera, sempre”.

O papa recordou que o Evangelho de Lucas nos diz que o pai vê o filho pródigo ainda ao longe, porque o esperava. O pai “ia todos os dias até a estrada para ver se o filho voltava. E esperava. E quando o viu, foi rápido, se lançou ao seu abraço”, ressaltou Francisco. O filho tinha preparado as palavras que ia dizer, mas o pai não o deixava falar: “Com o abraço, ele tapou a sua boca”. Francisco concluiu: “Este é o nosso Pai, o Deus que nos espera. Sempre”.

“‘Mas, padre, eu tenho muitos pecados, eu não sei se Ele está contente…’, dirá alguém. Então tente! Se você quer conhecer a ternura desse Pai, vá até Ele e tente! E depois me conte!”, aconselhou o papa.

Deus é o Deus da misericórdia: Ele não se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de pedir perdão, mas Ele não se cansa de perdoar. Setenta vezes sete: sempre. “Do ponto de vista de uma empresa, o balanço seria negativo. Ele sempre perde: perde no balanço das coisas, mas ganha no amor”, comparou Francisco.

O Santo Padre recordou que Deus é o primeiro a cumprir o mandamento do amor. “Ele ama, não sabe fazer outra coisa. Os milagres que Jesus fazia, com tantos doentes, também eram um sinal do grande milagre que todos os dias nosso Senhor faz conosco, quando temos a coragem de nos levantar e ir até Ele”. E quando isto acontece, Deus faz a festa. “Não como o banquete daquele homem rico, que tinha na porta de casa o pobre Lázaro”, mas “outro banquete, como o do pai do filho pródigo”.

Para encerrar, Francisco afirmou que “‘florescerás como um lírio’, promete Deus; ‘Eu te farei festa’. ‘Espalharão as tuas sementes e terás a beleza da oliveira e a fragrância do Líbano’. A vida de cada pessoa, de cada homem, de cada mulher, que tem a coragem de se aproximar do Senhor, encontrará a alegria da festa de Deus. Que esta palavra nos ajude a pensar em nosso Pai, o Pai que nos espera sempre, que nos perdoa sempre e que faz festa quando voltamos”.

Com o perdão o coração se renova e se revigora

Homilia do Papa Francisco na Celebração Penitencial

CIDADE DO VATICANO, 28 de Março de 2014 (Zenit.org) – O Papa Francisco presidiu nesta sexta-feira, 28, uma Celebração Penitencialna Basílica de São Pedro, no Vaticano. Eis a homilia na íntegra:

Caros irmãos e irmãs,

No período da Quaresma, a Igreja, em nome de Deus, renova o apelo à conversão. É um chamado a mudar de vida. Converter-se não é questão de um momento ou de um período do ano, é um empenho para toda a vida. Quem entre nós pode presumir não ser um pecador? Ninguém. Escreve o Apóstolo João: “Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos e a verdade não está em nós. Se confessamos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados  e nos purificar de toda iniquidade”(1 Jo 1,8-9). É o que acontece também nesta celebração e durante toda a jornada penitencial. A Palavra de Deus que ouvimos nos introduz em dois elementos essenciais da vida cristã.

O primeiro: Revestir-nos do homem novo. O homem novo, “criado segundo Deus” (Ef 4,24), nasce no batismo, momento em que se recebe a própria vida de Deus, que nos torna Seus filhos e nos incorpora a Cristo e Sua Igreja. Essa vida nova permite olhar a realidade com outros olhos, sem nos distrair com as coisas que não são importantes e não duram. Por isso, somos chamados a abandonar os comportamentos pecaminosos e fixar o olhar sobre o essencial. “O homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem” (Gaudium et Spes, 35). Eis a diferença entre a vida deformada pelo pecado e a vida iluminada pela graça. Do coração do homem, renovando por Deus, provêm os bons comportamentos: falar sempre com verdade e evitar sempre qualquer mentira; não roubar, mas compartilhar aquilo que possui com os outros, principalmente com quem passa necessidade; não ceder à ira, ao rancor e à vingança, mas ser manso, magnânimo e pronto ao perdão, não ceder à maledicência que corrói a boa fama das pessoas, mas olhar sempre o lado positivo de todos.

O segundo elemento: Permanecer no amor. O amor de Jesus Cristo dura para sempre, não terá jamais fim, porque é a própria vida de Deus. Esse amor vence o pecado e nos dá forças para nos levantarmos e recomeçarmos, porque com o perdão o coração se renova e se revigora. O nosso Pai nunca se cansa de amar, e Seus olhos não se cansam de olhar para a estrada de casa para ver se o filho que se foi e se perdeu está retornando. E esse Pai não se cansa nem mesmo de amar o outro filho que, mesmo permanecendo sempre em casa com ele, todavia,  não é participante de Sua misericórdia , de Sua compaixão. Deus não é somente a origem do amor, mas, em Jesus Cristo, Ele nos chama a imitar o Seu próprio modo de amar: “Como eu vos amei, amai-vos também vós uns aos outros” (Jo 13,34). Na medida em que os cristãos vivem este amor, tornam-se, no mundo, discípulos de credibilidade de Cristo. O amor não pode suportar permanecer fechado em si mesmo. Por sua própria natureza é aberto, difunde-se e é fecundo, gera sempre novo amor.

Caros irmãos e irmãs, após esta celebração, muitos de vós serão missionários para propor aos outros a experiência da reconciliação com Deus. “24 horas para o Senhor” é a iniciativa que tantas dioceses no mundo aderiram. Aos que vocês encontrarem, comuniquem a alegria de receber o perdão do Pai e reencontrar a amizade com Ele. Quem experimenta a Misericórdia Divina é impulsionado a se torna artífice da misericórdia entre os últimos e mais pobres. Nestes “pequenos irmãos” Jesus nos espera (conf. Mt 25,40). Vamos ao encontro d’Ele e celebremos a Páscoa na alegria de Deus!

(Trad.: Canção Nova)