Deus nos salva nos nossos erros, não nas nossas seguranças

Não nos salva a nossa segurança de cumprirmos os mandamentos, mas a humildade de ter sempre necessidade de sermos curados por Deus: esta é a principal ideia da homilia do Papa Francisco na Missa em Santa Marta na manhã desta segunda-feira (24)

‘Nenhum profeta é bem aceito na sua pátria’: a homilia do Papa parte destas palavras de Jesus dirigidas aos seus conterrâneos, os habitantes de Nazaré, junto dos quais não pode fazer milagres porque não tinham fé. Jesus recorda dois episódios bíblicos: o milagre da cura de Naaman, o sírio, no tempo do profeta Eliseu, e o encontro do profeta Elias com a viúva de Sarepta de Sidon, que foi salva da carestia. Estes marginalizados, acolhendo os profetas foram salvos, ao contrário os nazarenos não aceitam Jesus, porque eram muito seguros da sua fé, tão seguros da sua observância dos mandamentos que não precisavam de ser salvos:

“É o drama da observância dos mandamentos sem fé: ‘Eu salvo-me sozinho, porque vou à sinagoga todos os sábados, tento obedecer aos mandamentos, mas que não venha este dizer-me que eram melhores do que eu o leproso e a viúva!’ Aqueles eram marginalizados! E Jesus diz: ‘ mas olha que se tu não te marginalizas, não te sentes nas margens, não terás salvação’. Esta é a humildade, o caminho da humildade: sentir-se tão marginalizado que temos necessidade da salvação do Senhor. Apenas Ele salva, não a nossa observância dos preceitos.”

Segundo o Santo Padre esta é a mensagem desta 3ª Semana da Quaresma: se nós queremos ser salvos devemos escolher o caminho da humildade:

“Maria no seu Canto não diz que está contente porque Deus olhou para a sua virgindade, a sua bondade e a sua doçura, tantas virtudes que tinha ela, não: mas porque o Senhor olhou a humildade da sua serva, a sua pequenez, a humildade. É aquilo que olha o Senhor.”
“A humildade cristã não é a virtude de dizer: ‘Mas eu não sirvo para nada! E esconder a soberba aí, não! A humildade cristã é dizer a verdade: ‘Sou pecador, sou pecadora’. Dizer a verdade: é esta a nossa verdade. Mas há a outra: Deus salva-nos: Mas salva-nos lá, quando nós somos marginalizados; não nos salva nas nossas seguranças. Peçamos esta graça de ter esta sabedoria de marginalizarmo-nos, a graça da humildade para receber a salvação do Senhor.”

Os cristãos sem fé são como os demônios

O Santo Padre nos recordou hoje que a fé sem obras não é fé, porque a fé verdadeira sempre envolve testemunho

Por Redacao

ROMA, 21 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) – “Uma fé que não dá frutos por meio das obras não é fé”, afirmou nesta manhã o Santo Padre durante a homilia na Casa Santa Marta. O papa ofereceu a missa pelos 90 anos de idade do cardeal Silvano Piovanelli, arcebispo emérito de Florença, agradecendo a ele “pelo trabalho, pelo testemunho e pela bondade”.

O mundo está cheio de cristãos que recitam muito as palavras do credo, mas as põem muito pouco em prática. Ou de eruditos que compartimentam a teologia em uma série de possibilidades, sem que essa erudição, depois, se reflita concretamente na vida. É um risco que, há dois mil anos, São Tiago já temia. O papa o abordou hoje na homilia ao comentar o fragmento em que o apóstolo o menciona em sua carta.

Francisco observou que a afirmação do apóstolo é clara: “A fé sem fruto na vida, a fé que não dá fruto nas obras, não é fé”. E continuou: “Também nós nos enganamos às vezes sobre isto: ‘Mas eu tenho muita fé’, ouvimos dizer. ‘Eu acredito em tudo, tudo…’. Mas a pessoa que diz isso, talvez, leva uma vida morna. A sua fé é como uma teoria, mas não é viva na sua vida. O apóstolo Tiago, quando fala da fé, fala precisamente da doutrina, do conteúdo da fé. Podemos conhecer todos os mandamentos, todas as profecias, todas as verdades da fé, mas, sem a prática, de nada serve. Podemos recitar o credo teoricamente, também sem fé, e há muita gente que faz isso. Até os demônios! Os demônios conhecem muito bem o que se diz no credo e sabem que é verdade”.

As palavras do pontífice ecoam a afirmação de Tiago: “Crês que há somente um Deus? Fazes bem. Até os demônios o creem e tremem diante dele”. A diferença, explicou o papa, é que os demônios “não têm fé”, porque “ter fé não é ter um conhecimento”, mas “acolher a mensagem de Deus” trazida por Cristo. O Santo Padre nos explica que, no Evangelho, encontramos dois sinais reveladores de quem “sabe o que se deve crer, mas não tem fé”. O primeiro sinal é a “casuística”, representada por aqueles que perguntavam a Jesus se era lícito pagar os impostos ou qual dos sete irmãos do marido devia se casar com a sua viúva. O segundo sinal é “a ideologia”.

E detalhou: “Os cristãos que pensam a fé como um sistema de ideias, ideológico: também no tempo de Jesus havia gente assim”. O apóstolo João diz que eles são o anticristo, os ideólogos da fé, sejam do tipo que forem. “Naquele tempo havia gnósticos, mas havia muitos… E assim, quem cai na casuística ou na ideologia é um cristão que conhece a doutrina, mas não tem fé; como os demônios. Com a diferença de que os demônios tremem, mas estes não: estes vivem tranquilos”.

Por outro lado, Francisco recordou que no Evangelho há também exemplos de pessoas que não conhecem a doutrina, mas têm muita fé. Ele citou a cananeia, que, com sua fé, chora pela cura da filha vítima de uma possessão, e a samaritana, que abre o seu coração porque “encontrou não verdades abstratas, mas o próprio Jesus Cristo”. O papa também fala do cego curado por Jesus e interrogado pelos fariseus e doutores da lei até se ajoelhar com simplicidade e adorar quem o curou. Três pessoas que, diz Francisco, “demostram que a fé e o testemunho são indissociáveis”.

Para terminar, o Santo Padre enfatizou que “a fé sempre leva ao testemunho. A fé é um encontro com Jesus Cristo, com Deus, e leva ao testemunho. É isto o que o apóstolo quer dizer: uma fé sem obras, uma fé que não nos compromete, que não nos leva ao testemunho, não é fé. São palavras e nada mais do que palavras”.

Para conhecer Jesus, não basta estudá-lo: temos que segui-lo

O Santo Padre reflete sobre a pergunta que Jesus fez aos discípulos: Quem dizeis que eu sou?

Por Redacao

ROMA, 20 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) – Conhecemos Jesus Cristo mais ao segui-lo do que ao estudá-lo, recordou-nos o papa Francisco na homilia desta manhã, durante a missa celebrada na Casa Santa Marta. O Santo Padre explicou que Cristo nos pergunta todos os dias quem Ele é para nós; e nós podemos dar a resposta vivendo como seus discípulos.

Mais do que uma vida de estudioso, é uma vida de discípulo o que permite ao cristão conhecer realmente quem é Jesus para ele. Um caminho que segue as pegadas do Mestre e que entrelaça testemunhos claros e também traições, quedas e novos impulsos, indo além de uma atitude intelectual. Para explicá-lo, o papa Francisco tomou Pedro como exemplo. O Evangelho do dia o retrata como uma testemunha valente (à pergunta de Jesus aos apóstolos, “Quem dizeis que eu sou?”, ele responde: “Tu és o Cristo”), mas, imediatamente depois, o mostra reticente diante do anúncio de Jesus, que acaba de avisar que deverá sofrer e morrer para depois ressuscitar. O papa ressaltou que, muitas vezes, “Jesus se dirige a nós e nos pergunta: ‘E para ti, quem sou eu?’, obtendo a mesma resposta que Pedro lhe deu e que nós aprendemos no catecismo”. Mas não é suficiente. Francisco enfatizou que, “para responder a essa pergunta, que todos nós sentimos no coração, ‘quem é Jesus para nós?’, não é suficiente o que aprendemos, o que estudamos no catecismo. É importante estudá-lo e conhecê-lo, mas não é suficiente. Para conhecer Jesus, é necessário trilhar o caminho que Pedro trilhou: depois desta humilhação, Pedro seguiu em frente com Jesus, viu os milagres que Jesus fazia, viu o seu poder, pagou os impostos como Jesus tinha mandado, pescou um peixe, tirou dele uma moeda, viu muitos milagres. Mas, a um certo ponto, Pedro negou Jesus, traiu Jesus, e aprendeu aquela ciência tão difícil, ou, mais do que ciência, a sabedoria, das lágrimas e do pranto”.

O Santo Padre continuou explicando que Pedro pediu perdão a Jesus, apesar de tudo. Depois da ressurreição, ele foi interrogado três vezes por Jesus no Mar de Tiberíades e, provavelmente ao reafirmar o amor total pelo Mestre, chorou e se envergonhou, recordando as suas três negações.

Francisco nos recordou que “esta primeira pergunta feita a Pedro, ‘quem sou eu para ti?’, só pode ser entendida ao longo do caminho, depois de um longo caminho, um caminho de graça e de pecado, um caminho de discípulo. Jesus não disse a Pedro e aos apóstolos: ‘Conhece-me!’. Ele disse: ‘Segue-me!’. E seguir Jesus nos faz conhecer Jesus. Seguir Jesus com as nossas virtudes, com os nossos pecados, mas seguir Jesus sempre. Não é um estudo de coisas o que é necessário, mas uma vida de discípulo”.

O papa insistiu na necessidade de “um encontro cotidiano com o Senhor, todos os dias, com as nossas vitórias e com as nossas fraquezas”. Mas, acrescentou ele, é também “um caminho que não podemos fazer sozinhos”. É necessária a intervenção do Espírito Santo. Francisco afirmou que “conhecer Jesus é um dom do Pai; é Ele que nos leva a conhecer Jesus; é um trabalho do Espírito Santo, que é um grande trabalhador. Não é um sindicalista, é um grande trabalhador e trabalha sempre em nós. Ele faz esse trabalho de explicar o mistério de Jesus e de nos dar o sentido de Cristo. Olhemos para Jesus, para Pedro, para os apóstolos, e escutemos em nosso coração esta pergunta: ‘Quem sou eu para ti?’. E, como discípulos, peçamos ao Pai que nos dê o conhecimento de Cristo no Espírito Santo; que nos explique este mistério”.

Texto da catequese do Papa Francisco na audiência da quarta-feira

A celebração eucarística é mais do que um simples banquete, é o memorial da páscoa de Jesus, o mistério central da salvação

Por Redacao

ROMA, 05 de Fevereiro de 2014 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje falarei a vocês da Eucaristia. A Eucaristia coloca-se no coração da “iniciação cristã”, junto ao Batismo e à Confirmação, e constitui a fonte da própria vida da Igreja. Deste Sacramento de amor, de fato, nasce cada autêntico caminho de fé, de comunhão e de testemunho.

Aquilo que vemos quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia, a Missa, já nos faz intuir o que estamos para viver. No centro do espaço destinado à celebração encontra-se um altar, que é uma mesa, coberta por uma toalha e isto nos faz pensar em um banquete. Na mesa há uma cruz, a indicar que sobre aquele altar se oferece o sacrifício de Cristo: é Ele o alimento espiritual que ali se recebe, sob os sinais do pão e do vinho. Ao lado da mesa há o ambão, isso é, o lugar a partir do qual se proclama a Palavra de Deus: e isto indica que ali nós nos reunimos para escutar o Senhor que fala mediante as Sagradas Escrituras, e então o alimento que se recebe é também a sua Palavra.

Palavra e Pão na Missa tornam-se um só, como na Última Ceia, quando todas as palavras de Jesus, todos os sinais que havia feito, condensaram-se no gesto de partir o pão e de oferecer o cálice, antes do sacrifício da cruz, e naquelas palavras: “Tomai, comei, isto é o meu corpo…Tomai, bebei, isto é o seu sangue”.

O gesto de Jesus cumprido na Última Ceia é o extremo agradecimento ao Pai pelo seu amor, pela sua misericórdia. “Agradecimento” em grego se diz “Eucaristia”. E por isto o Sacramento se chama Eucaristia: é o supremo agradecimento ao Pai, que nos amou tanto a ponto de dar-nos o seu Filho por amor. Eis porque o termo Eucaristia resume todo aquele gesto, que é gesto de Deus e do homem junto, gesto de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem.

Então a Celebração Eucarística é bem mais que um simples banquete: é propriamente o memorial da Páscoa de Jesus, o mistério central da salvação. “Memorial” não significa somente uma recordação, uma simples recordação, mas quer dizer que cada vez que celebramos este Sacramento participamos do mistério da paixão, morte e ressurreição de Cristo.

A Eucaristia é o ápice da ação da salvação de Deus: O Senhor Jesus, se fez pão partido por nós, derrama sobre nós toda a sua misericórdia e seu amor, e assim renova o nosso coração, a nossa existência e a maneira como nos relacionamos com Ele e com os irmãos.

É por isto que sempre, quando nos aproximamos deste sacramento, se diz de: “Receber a Comunhão”, de “fazer a Comunhão”: isto significa que o poder do Espírito Santo, a participação na mesa eucarística se conforma de modo profundo e único a Cristo, nos fazendo experimentar já a plena comunhão com o Pai que caracterizará o banquete celeste, onde com todos os Santos teremos a alegria de contemplar Deus face a face.

Queridos amigos, nunca conseguiremos agradecer ao Senhor pelo dom que nos fez com a Eucaristia! É um grande dom e por isto é tão importante ir à Missa aos domingos.

Ir à missa não somente para rezar, mas para receber a Comunhão, este pão que é o Corpo de Jesus Cristo que nos salva, nos perdoa, nos une ao Pai. É muito bom fazer isto! E todos os domingos, vamos à Missa porque é o próprio dia da ressurreição do Senhor. Por isto, o domingo é tão importante para nós.

E com a Eucaristia sentimos esta pertença à Igreja, ao Povo de Deus, ao Corpo de Deus, a Jesus Cristo. Nunca terminará em nós o seu valor e a sua riqueza. Por isto, pedimos que este Sacramento possa continuar a manter viva na Igreja a sua presença e a moldar as nossas comunidades na caridade e na comunhão, segundo o coração do Pai. E isto se faz durante toda a vida, mas tudo começa no dia da primeira comunhão.

É importante que as crianças se preparem bem para a primeira comunhão e que todas as crianças a façam, porque é o primeiro passo desta forte adesão a Cristo, depois do Batismo e da Crisma.

(Tradução Canção Nova Notícias/Tradução: Jéssica Marçal e Paula Dizaró)

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2014

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2014
MENSAGEM

Mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2014
Terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Boletim da Santa Sé

Fez-Se pobre, para nos enriquecer com a sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9)

Queridos irmãos e irmãs!

Por ocasião da Quaresma, ofereço-vos algumas reflexões com a esperança de que possam servir para o caminho pessoal e comunitário de conversão. Como motivo inspirador tomei a seguinte frase de São Paulo: « Conheceis bem a bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, sendo rico, Se fez pobre por vós, para vos enriquecer com a sua pobreza » (2 Cor 8,9). O Apóstolo escreve aos cristãos de Corinto encorajando-os a serem generosos na ajuda aos fiéis de Jerusalém que passam necessidade. A nós, cristãos de hoje, que nos dizem estas palavras de São Paulo? Que nos diz, hoje, a nós, o convite à pobreza, a uma vida pobre em sentido evangélico?

1. A graça de Cristo

Tais palavras dizem-nos, antes de mais nada, qual é o estilo de Deus. Deus não Se revela através dos meios do poder e da riqueza do mundo, mas com os da fragilidade e da pobreza: « sendo rico, Se fez pobre por vós ». Cristo, o Filho eterno de Deus, igual ao Pai em poder e glória, fez-Se pobre; desceu ao nosso meio, aproximou-Se de cada um de nós; despojou-Se, « esvaziou-Se », para Se tornar em tudo semelhante a nós (cf. Fil 2,7; Heb 4,15). A encarnação de Deus é um grande mistério. Mas, a razão de tudo isso é o amor divino: um amor que é graça, generosidade, desejo de proximidade, não hesitando em doar-Se e sacrificar-Se pelas suas amadas criaturas. A caridade, o amor é partilhar, em tudo, a sorte do amado. O amor torna semelhante, cria igualdade, abate os muros e as distâncias. Foi o que Deus fez connosco. Na realidade, Jesus « trabalhou com mãos humanas, pensou com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-Se verdadeiramente um de nós, semelhante a nós em tudo, excepto no pecado » (ConC. ECum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 22).

A finalidade de Jesus Se fazer pobre não foi a pobreza em si mesma, mas – como diz São Paulo – « para vos enriquecer com a sua pobreza ». Não se trata dum jogo de palavras, duma frase sensacional. Pelo contrário, é uma síntese da lógica de Deus: a lógica do amor, a lógica da Encarnação e da Cruz. Deus não fez cair do alto a salvação sobre nós, como a esmola de quem dá parte do próprio supérfluo com piedade filantrópica. Não é assim o amor de Cristo! Quando Jesus desce às águas do Jordão e pede a João Baptista para O baptizar, não o faz porque tem necessidade de penitência, de conversão; mas fá-lo para se colocar no meio do povo necessitado de perdão, no meio de nós pecadores, e carregar sobre Si o peso dos nossos pecados. Este foi o caminho que Ele escolheu para nos consolar, salvar, libertar da nossa miséria. Faz impressão ouvir o Apóstolo dizer que fomos libertados, não por meio da riqueza de Cristo, mas por meio da sua pobreza. E todavia São Paulo conhece bem a « insondável riqueza de Cristo » (Ef 3,8), « herdeiro de todas as coisas » (Heb 1,2).

Em que consiste então esta pobreza com a qual Jesus nos liberta e torna ricos? É precisamente o seu modo de nos amar, o seu aproximar-Se de nós como fez o Bom Samaritano com o homem abandonado meio morto na berma da estrada (cf. Lc 10,25-37). Aquilo que nos dá verdadeira liberdade, verdadeira salvação e verdadeira felicidade é o seu amor de compaixão, de ternura e de partilha. A pobreza de Cristo, que nos enriquece, é Ele fazer-Se carne, tomar sobre Si as nossas fraquezas, os nossos pecados, comunicando-nos a misericórdia infinita de Deus. A pobreza de Cristo é a maior riqueza: Jesus é rico de confiança ilimitada em Deus Pai, confiando-Se a Ele em todo o momento, procurando sempre e apenas a sua vontade e a sua glória. É rico como o é uma criança que se sente amada e ama os seus pais, não duvidando um momento sequer do seu amor e da sua ternura. A riqueza de Jesus é Ele ser o Filho: a sua relação única com o Pai é a prerrogativa soberana deste Messias pobre. Quando Jesus nos convida a tomar sobre nós o seu « jugo suave » (cf. Mt 11,30), convida-nos a enriquecer-nos com esta sua « rica pobreza » e « pobre riqueza », a partilhar com Ele o seu Espírito filial e fraterno, a tornar-nos filhos no Filho, irmãos no Irmão Primogénito (cf. Rm 8,29).

Foi dito que a única verdadeira tristeza é não ser santos (Léon Bloy); poder-se-ia dizer também que só há uma verdadeira miséria: é não viver como filhos de Deus e irmãos de Cristo.

2. O nosso testemunho

Poderíamos pensar que este « caminho » da pobreza fora o de Jesus, mas não o nosso: nós, que viemos depois d’Ele, podemos salvar o mundo com meios humanos adequados. Isto não é verdade. Em cada época e lugar, Deus continua a salvar os homens e o mundo por meio da pobreza de Cristo, que Se faz pobre nos Sacramentos, na Palavra e na sua Igreja, que é um povo de pobres. A riqueza de Deus não pode passar através da nossa riqueza, mas sempre e apenas através da nossa pobreza, pessoal e comunitária, animada pelo Espírito de Cristo.

À imitação do nosso Mestre, nós, cristãos, somos chamados a ver as misérias dos irmãos, a tocá-las, a ocupar-nos delas e a trabalhar concretamente para as aliviar. A miséria não coincide com a pobreza; a miséria é a pobreza sem confiança, sem solidariedade, sem esperança. Podemos distinguir três tipos de miséria: a miséria material, a miséria moral e a miséria espiritual. A miséria material é a que habitualmente designamos por pobreza e atinge todos aqueles que vivem numa condição indigna da pessoa humana: privados dos direitos fundamentais e dos bens de primeira necessidade como o alimento, a água, as condições higiénicas, o trabalho, a possibilidade de progresso e de crescimento cultural. Perante esta miséria, a Igreja oferece o seu serviço, a sua diakonia, para ir ao encontro das necessidades e curar estas chagas que deturpam o rosto da humanidade. Nos pobres e nos últimos, vemos o rosto de Cristo; amando e ajudando os pobres, amamos e servimos Cristo. O nosso compromisso orienta-se também para fazer com que cessem no mundo as violações da dignidade humana, as discriminações e os abusos, que, em muitos casos, estão na origem da miséria. Quando o poder, o luxo e o dinheiro se tornam ídolos, acabam por se antepor à exigência duma distribuição equitativa das riquezas. Portanto, é necessário que as consciências se convertam à justiça, à igualdade, à sobriedade e à partilha.

Não menos preocupante é a miséria moral, que consiste em tornar-se escravo do vício e do pecado. Quantas famílias vivem na angústia, porque algum dos seus membros – frequentemente jovem – se deixou subjugar pelo álcool, pela droga, pelo jogo, pela pornografia! Quantas pessoas perderam o sentido da vida; sem perspectivas de futuro, perderam a esperança! E quantas pessoas se vêem constrangidas a tal miséria por condições sociais injustas, por falta de trabalho que as priva da dignidade de poderem trazer o pão para casa, por falta de igualdade nos direitos à educação e à saúde. Nestes casos, a miséria moral pode-se justamente chamar um suicídio incipiente. Esta forma de miséria, que é causa também de ruína económica, anda sempre associada com a miséria espiritual, que nos atinge quando nos afastamos de Deus e recusamos o seu amor. Se julgamos não ter necessidade de Deus, que em Cristo nos dá a mão, porque nos consideramos auto-suficientes, vamos a caminho da falência. O único que verdadeiramente salva e liberta é Deus.

O Evangelho é o verdadeiro antídoto contra a miséria espiritual: o cristão é chamado a levar a todo o ambiente o anúncio libertador de que existe o perdão do mal cometido, de que Deus é maior que o nosso pecado e nos ama gratuitamente e sempre, e de que estamos feitos para a comunhão e a vida eterna. O Senhor convida-nos a sermos jubilosos anunciadores desta mensagem de misericórdia e esperança. É bom experimentar a alegria de difundir esta boa nova, partilhar o tesouro que nos foi confiado para consolar os corações dilacerados e dar esperança a tantos irmãos e irmãs imersos na escuridão. Trata-se de seguir e imitar Jesus, que foi ao encontro dos pobres e dos pecadores como o pastor à procura da ovelha perdida, e fê-lo cheio de amor. Unidos a Ele, podemos corajosamente abrir novas vias de evangelização e promoção humana.

Queridos irmãos e irmãs, possa este tempo de Quaresma encontrar a Igreja inteira pronta e solícita para testemunhar, a quantos vivem na miséria material, moral e espiritual, a mensagem evangélica, que se resume no anúncio do amor do Pai misericordioso, pronto a abraçar em Cristo toda a pessoa. E poderemos fazê-lo na medida em que estivermos configurados com Cristo, que Se fez pobre e nos enriqueceu com a sua pobreza. A Quaresma é um tempo propício para o despojamento; e far-nos-á bem questionar-nos acerca do que nos podemos privar a fim de ajudar e enriquecer a outros com a nossa pobreza. Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói.

Pedimos a graça do Espírito Santo que nos permita ser « tidos por pobres, nós que enriquecemos a muitos; por nada tendo e, no entanto, tudo possuindo » (2 Cor 6,10). Que Ele sustente estes nossos propósitos e reforce em nós a atenção e solicitude pela miséria humana, para nos tornarmos misericordiosos e agentes de misericórdia. Com estes votos, asseguro a minha oração para que cada crente e cada comunidade eclesial percorra frutuosamente o itinerário quaresmal, e peço-vos que rezeis por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos guarde!

Vaticano, 26 de Dezembro de 2013

Festa de Santo Estêvão, diácono e protomártir

FRANCISCUS

Quando acolhemos o Espírito Santo no nosso coração o próprio Cristo se torna presente em nós

Texto da catequese do Papa Francisco na audiência da quarta-feira

 

ROMA, 30 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs, bom dia,

Nesta terceira catequese sobre os Sacramentos, concentremo-nos na Confirmação ou Crisma, que é entendida em continuidade com o Batismo, ao qual está ligada de modo inseparável. Estes dois sacramentos, junto com a Eucaristia, formam um único evento salvífico que se chama “iniciação cristã”, na qual somos inseridos em Jesus Cristo morto e ressuscitado e nos tornamos novas criaturas e membros da Igreja. Eis porque na origem estes três sacramentos se celebravam em um único momento, ao término do caminho catecumenal, normalmente na Vigília Pascal. Assim era selado o percurso de formação e de gradual inserção na comunidade cristã que poderia durar também alguns anos. Fazia-se passo a passo para chegar ao Batismo, depois à Crisma e à Eucaristia.

Comumente se fala de sacramento da “Crisma”, palavra que significa “unção”. E, de fato, através do óleo chamado “Sagrado Crisma” somos confirmados, no poder do Espírito, em Jesus Cristo, o qual é o único e verdadeiro “ungido”, o “Messias”, o Santo de Deus. O termo “Confirmação” recorda-nos então que este Sacramento leva a um crescimento da graça batismal: une-nos mais firmemente a Cristo; cumpre a nossa ligação com a Igreja; dá-nos uma especial força do Espírito Santo para difundir e defender a fé, para confessar o nome de Cristo e para não nos envergonharmos nunca da sua cruz (cfr Catecismo da Igreja Católica, n. 1303).

Por isto é importante cuidar para que nossas crianças, nossos jovens, recebam este Sacramento.  Todos nós cuidamos para que sejam batizados e isto é bom, mas talvez não cuidamos tanto para que recebam a Crisma. Deste modo, ficam no meio do caminho e não receberão o Espírito Santo, que é tão importante na vida cristã, porque nos dá a força para seguir adiante. Pensemos um pouco, cada um de nós: de fato temos a preocupação que as nossas crianças, os nossos jovens recebam a Crisma? É importante isto, é importante! E se vocês, em suas casas, têm crianças, jovens que ainda não a receberam e têm idade para recebê-la, façam tudo o possível para que esses terminem a iniciação cristã e recebam a força do Espírito Santo. É importante!

Naturalmente, é importante oferecer aos crismandos uma boa preparação, que deve buscar conduzi-los a uma adesão pessoal à fé em Cristo e a despertar neles o sentido de pertença à Igreja.

A Confirmação, como todo Sacramento, não é obra dos homens, mas de Deus, que cuida da nossa vida de modo a plasmar-nos à imagem e semelhança de seu Filho, para nos tornar capazes de amar como Ele. Ele o faz infundindo em nós o seu Espírito Santo, cuja ação permeia toda a pessoa e toda a vida, como refletido pelos sete dons que a Tradição, à luz da Sagrada Escritura, sempre evidenciou. Estes sete dons: eu não quero perguntar a vocês se vocês se lembram dos sete dons. Talvez vocês todos o sabem…Mas os digo eu em nome de vocês. Quais são estes dons? Sabedoria, Inteligência, Conselho, Fortaleza, Ciência, Piedade e Temor de Deus. E estes dons nos foram dados propriamente com o Espírito Santo no sacramento da Confirmação. A estes dons pretendo então dedicar as catequeses que seguirão àquelas sobre os Sacramentos.

Quando acolhemos o Espírito Santo no nosso coração e O deixamos agir, o próprio Cristo se torna presente em nós e toma forma na nossa vida; através de nós, será Ele o próprio Cristo a rezar, a perdoar, a infundir esperança e consolação, a servir os irmãos, a fazer-se próximo aos necessitados e aos últimos, a criar comunhão, a semear paz. Pensem em quão importante é isto: por meio do Espírito Santo, o próprio Cristo vem fazer tudo isso em meio a nós e por nós. Por isso é importante que as crianças e os jovens recebam o Sacramento da Crisma.

Queridos irmãos e irmãs, recordemo-nos de que recebemos a Confirmação! Todos nós! Recordemos antes de tudo para agradecer ao Senhor por este dom, e depois para pedir-lhe que nos ajude a viver como verdadeiros cristãos a caminhar sempre com alegria segundo o Espírito Santo que nos foi dado.

(Tradução Canção Nova / Jéssica Marçal)

Mas se é capaz de gritar quando seu time marca um gol, não é capaz de louvar ao Senhor?

Francisco convida a romper a formalidade e louvar: a oração de louvor nos torna fecundos

Por Redacao

ROMA, 28 de Janeiro de 2014 (Zenit.org) – O Santo Padre na missa desta terça-feira falou sobre a fecundidade da oração de louvor. Ao comentar a primeira leitura, extraída do segundo Livro de Samuel, destacou que se nos fecharmos na formalidade, nossa oração se torna fria e estéril.

Em sua homilia, Francisco deteve-se principalmente sobre a figura de Davi “que dança com todas as suas forças diante do Senhor” e recordou que “todo o povo de Deus estava em festa, porque a Arca da Aliança havia regressado à casa. A oração de louvor de Davi- explicou- “o levou a perder a compostura e dançar diante do Senhor “com todas as suas forças”. Isto é oração de louvor! – exclamou o Papa-.

Este trecho o levou “a pensar em Sara”, depois de dar à luz: “O senhor me fez dançar de alegria”.  Por isso, “é fácil entender a oração para pedir uma coisa ao Senhor, para agradecer-Lhe, ou mesmo a oração de adoração”, mas a “oração de louvor não nos vem de maneira tão espontânea”.

Alguns podem dizer: “‘Mas, Padre, isso é para aqueles da Renovação no Espírito, não para todos os cristãos!’”. “Não – afirmou o Papa- a oração de louvor é uma oração cristã para todos nós! Na Missa, todos os dias, quando cantamos o Santo… Esta é uma oração de louvor: louvamos a Deus pela sua grandeza, porque é grande! E dizemos a Ele coisas bonitas, porque gostamos disso. ‘Mas, Padre, eu não sou capaz…’ – alguém pode dizer. Mas se é capaz de gritar quando seu time marca um gol, não é capaz de louvar ao Senhor? De perder um pouco a compostura para cantar? Louvar a Deus é totalmente gratuito! Não pedimos, não agradecemos: louvamos!”

Devemos rezar “com todo o coração”. “É um ato inclusive de justiça, porque Ele é grande! É o nosso Deus!”. Davi -recordou o Papa- “estava feliz porque voltava com a Arca, com o Senhor: seu corpo rezava com a dança”.

O Papa Francisco, como de costume, sugeriu algumas perguntas: “Mas como vai a minha oração de louvor? Eu sei louvar ao Senhor? Sei louvar ao Senhor quando rezo o Glória ou o Sanctus, ou movo somente a boca sem usar o coração?’. O que me diz Davi, dançando? E Sara, dançando de alegria? Quando Davi entra na cidade, começa outra coisa: uma festa!”

“A alegria do louvor nos leva à alegria da festa –explicou o Papa-.Então, o Pontífice recordou que quando Davi entra no palácio, a filha do Rei Saul, Micol, o repreende e lhe pergunta se não sente vergonha por ter dançado daquela maneira diante de todos, já que ele era o rei. Micol “desprezou Davi”.

“Eu me pergunto – continuou- quantas vezes nós desprezamos no nosso coração pessoas boas, que louvam ao Senhor como bem entendem, assim espontaneamente, porque não são cultas, não seguem atitudes formais? E diz a Bíblia que Micol ficou estéril por toda a vida devido a isso! “O que quer dizer a Palavra de Deus? Que a alegria, que a oração de louvor nos torna fecundos! Sara dançava no auge da sua fecundidade, aos noventa anos! O homem e a mulher que louva ao Senhor, que quando reza o Glória se alegra ao prenunciá-lo, que quando canta o Sancto na missa se alegra por cantá-lo, é uma mulher ou um homem fecundo”.

Por fim, advertiu Francisco, “os que se fecham na formalidade de uma oração fria, comedida, talvez acabem como Micol: na esterilidade de sua formalidade”. E convidou a imaginar Davi que dança “com todas as suas forças diante do Senhor”. Disse ainda que “nos fará bem repetir as palavras do Salmo 23 que rezamos hoje: “Levantai, ó portas, os vossos frontões, elevai-vos antigos portais, para que entre o rei da glória! Quem é este Rei da glória? É o Senhor forte e poderoso, o Senhor poderoso na batalha.

“A alegria do cristão está em descobrir que é acolhido e amado por Deus”

Texto completo das palavras do Papa Francisco. Em uma praça de São Pedro sob chuva, abençoou as imagens do Menino Jesus para os presépios

Por Redacao

ROMA, 15 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) –

Obrigado!

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje é o terceiro domingo do Advento, dito também domingo Gaudete, isso é, domingo da alegria. Na liturgia, ressoa várias vezes o convite à alegria, a alegrar-se, por que? Porque o Senhor está próximo. O Natal está próximo. A mensagem cristã se chama “evangelho”, isso é, “boa notícia”, um anúncio de alegria para todo o povo; a Igreja não é um refúgio para o povo triste, a Igreja é a casa da alegria! E aqueles que estão tristes encontram nessa a alegria, encontram nessa a verdadeira alegria!

Mas aquela do Evangelho não é uma alegria qualquer. Encontra a sua razão no saber-se acolhido e amado por Deus. Como nos recorda hoje o profeta Isaías (cfr 35, 1-6.8ª.10), Deus é aquele que vem para nos salvar, e presta socorro especialmente aos desanimados de coração. A sua vinda em meio a nós nos fortalece, torna sãos, dá coragem, faz exultar e florir o deserto e o estepe, isso é, a nossa vida quando se torna árida. E quando a nossa vida se torna árida? Quando está sem a água da Palavra de Deus e do seu Espírito de amor. Por mais que sejam grandes os nossos limites e os nossos desânimos, não nos é permitido sermos fracos e vacilantes diante das dificuldades e das nossas próprias fraquezas. Ao contrário, somos convidados a robustecer as mãos, a firmar os joelhos, a ter coragem e não temer, porque o nosso Deus nos mostra sempre a grandeza da sua misericórdia. Ele nos dá a força para seguir adiante. Ele está sempre conosco para nos ajudar a seguir adiante. É um Deus que nos quer tanto bem, nos ama e por isto está conosco, para nos ajudar, para nos robustecer e seguir adiante. Coragem! Sempre avante! Graças à sua ajuda nós podemos sempre começar de novo. Como? Começar de novo? Alguém pode me dizer: “Não, padre, eu fiz tantas coisas…Sou um grande pecador, uma grande pecadora…Eu não posso recomeçar!”. Você está errado! Você pode recomeçar! Por que? Porque Ele te espera, Ele está próximo a você, Ele te ama, Ele é misericordioso, Ele te perdoa, Ele te dá a força de recomeçar! A todos! Então somos capazes de reabrir os olhos, de superar tristeza e choro e entoar um canto novo. E esta alegria verdadeira permanece também na prova, também no sofrimento, porque não é uma alegria superficial, mas desce no profundo da pessoa que se confia a Deus e confia Nele.

A alegria cristã, como a esperança, tem o seu fundamento na fidelidade de Deus, na certeza de que Ele mantém sempre as suas promessas. O profeta Isaías exorta aqueles que perderam o caminho e estão no desânimo a terem confiança na fidelidade do Senhor, porque a sua salvação não tardará a irromper nas suas vidas. Quantos encontraram Jesus ao longo do caminho, experimentam no coração uma serenidade e uma alegria da qual nada e ninguém poderá privá-los. A nossa alegria é Jesus Cristo, o seu amor fiel e inesgotável! Por isso, quando um cristão se torna triste, quer dizer que se afastou de Jesus. Mas então não é preciso deixá-lo sozinho! Devemos rezar por ele e fazê-lo sentir o calor da comunidade.

A Virgem Maria nos ajude a apressar o passo rumo a Belém, para encontrar o Menino que nasceu para nós, para a salvação e a alegria de todos os homens. A ela o Anjo disse: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo” (Lc 1, 28). Ela nos ajude a viver a alegria do Evangelho na família, no trabalho, na paróquia e em todo lugar. Uma alegria íntima, feita de admiração e ternura. Aquela que experimenta uma mãe quando olha para a sua criança recém-nascida e sente que é um dom de Deus, um milagre pelo qual só agradecer!

Senhor, livra o teu povo do clericalismo

Pontífice explica que todos os batizados são profetas

Por Redacao

ROMA, 16 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) – Quando falta a profecia na Igreja, falta a própria vida de Deus e predomina o clericalismo, disse o papa Francisco na homilia desta terceira segunda-feira do Advento, ao celebrar a missa na Casa Santa Marta.

O profeta, disse o papa ao comentar as leituras do dia, é aquele que escuta as palavras de Deus, sabe enxergar o momento e projetar o futuro. “Ele tem dentro dele esses três momentos”: o passado, o presente e o futuro.

“O passado: o profeta é consciente da promessa, ele tem no coração a promessa de Deus, a mantém viva, se lembra dela, a repete. Depois ele olha para o presente, para o seu povo, e sente a força do Espírito para dizer uma palavra que o ajude a se levantar, a continuar no caminho em direção ao futuro. O profeta é um homem de três tempos: promessa do passado, contemplação do presente, valentia para apontar o caminho rumo ao futuro. Nosso Senhor sempre protegeu o seu povo, com os profetas, nos momentos difíceis, nos momentos em que o povo se desanimava ou era destruído, quando não tinha o templo, quando Jerusalém estava sob o poder dos inimigos, quando o povo se perguntava: ‘Mas, Senhor, tu nos fizeste essa promessa! O que está acontecendo agora?’”.

É o que “aconteceu no coração de Maria”, explicou o pontífice, “quando ela estava aos pés da cruz”. Nessas horas “é necessário o agir do profeta. E o profeta nem sempre é bem recebido. Muitas vezes ele é rejeitado. Jesus mesmo disse aos fariseus que os pais deles assassinaram os profetas, porque os profetas diziam coisas que não eram agradáveis: diziam a verdade, recordavam a promessa! E quando falta a profecia no povo de Deus, falta a vida do Senhor! (…) Quando não há profecia, predomina o legalismo”. Assim, no Evangelho, “os sacerdotes pediam a Jesus a cartilha da legalidade: ‘Com que autoridade fazes tais coisas? Nós somos os senhores do templo!’. Eles não entendiam as profecias. Tinham se esquecido da promessa! Eles não sabiam ler os sinais do momento, não tinham nem olhos penetrantes nem tinham escutado a Palavra de Deus: só tinham a autoridade!”.

“Quando não há profecia no povo de Deus, o vazio é ocupado pelo clericalismo: e é esse clericalismo que pergunta a Jesus: ‘Com que autoridade tu fazes estas coisas? Com que legalidade?’. E a memória da promessa e a esperança de seguir em frente ficam reduzidas apenas ao presente, sem passado e sem um futuro esperançador. O presente é a legalidade: se isso é legal, então vá em frente”.

Mas quando reina o legalismo, “a Palavra de Deus fica de fora e o povo de Deus chora no seu coração, porque não encontra o Senhor: falta a profecia”. Ele chora “como chorava a mãe Ana, a mãe de Samuel, pedindo a fecundidade do povo, a fecundidade que vem da força de Deus, quando Ele desperta a memória da sua promessa e nos empurra para o futuro com a esperança. Este é o profeta! Este é o homem do olho penetrante que escuta as palavras de Deus”.

“Que a nossa oração neste período em que nos preparamos para o Natal do Senhor seja esta: ‘Senhor, que não faltem os profetas no teu povo!’. Todos nós, batizados, somos profetas. ‘Senhor, que não nos esqueçamos da tua promessa! Que não nos cansemos de seguir em frente! Que não nos encerremos no legalismo que fecha as portas! Senhor, livra o teu povo do espírito do clericalismo e ajuda-o com o espírito da profecia!’”.

O tempo do Advento nos restitui o horizonte da esperança

As palavras do papa Francisco durante o Angelus

CIDADE DO VATICANO, 01 de Dezembro de 2013 (Zenit.org) – Eis as palavras pronunciadas pelo Papa Francisco aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro hoje, às 12h00 (hora local), durante a recitação da oração do Angelus.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Iniciamos hoje, Primeiro Domingo do Advento, um novo ano litúrgico, isso é, um novo caminho do Povo de Deus com Jesus Cristo, o nosso Pastor, que nos guia na história para o cumprimento do Reino de Deus. Por isto, este dia tem um encanto especial, nos faz experimentar um sentimento profundo do sentido da história. Redescobrimos a beleza de estar todos em caminho: a Igreja, com a sua vocação e missão, e toda a humanidade, os povos, as culturas, todos em caminho pelos caminhos do tempo.

Mas em caminho para onde? Há uma meta comum? E qual é esta meta? O Senhor nos responde através do profeta Isaías, e diz assim: “No fim dos tempos acontecerá/ que o monte da casa do Senhor/ estará colocado à frente das montanhas/ e dominará as colinas./ Para aí correrão todas as gentes,/ e os povos virão em multidão:/ “Vinde, dirão eles, subamos à montanha do Senhor,/ à casa do Deus de Jacó:/ ele nos ensinará seus caminhos,/ e nós trilharemos as suas veredas”” (2, 2-3). Isto é aquilo que nos diz Isaías sobre a meta para onde vamos. É uma peregrinação universal para uma meta comum, que no Antigo Testamento é Jerusalém, onde surge o templo do Senhor, porque dali, de Jerusalém, veio a revelação da face de Deus e da sua lei. A revelação encontrou em Jesus Cristo o seu cumprimento, e o “templo do Senhor” tornou-se Ele mesmo, o Verbo feito carne: é Ele o guia e junto à meta da nossa peregrinação, da peregrinação de todo o Povo de Deus; e à sua luz também outros povos possam caminhar rumo ao Reino da justiça, rumo ao Reino da paz. Diz ainda o profeta: “De suas espadas forjarão relhas de arados,/ e de suas lanças, foices./ Uma nação não levantará a espada contra a outra,/ e não se arrastarão mais para a guerra” (2, 4). Permito-me repetir isto que nos diz o Profeta, escutem bem: “De suas espadas forjarão relhas de arados,/ e de suas lanças, foices./ Uma nação não levantará a espada contra a outra,/ e não se arrastarão mais para a guerra”. Mas quando acontecerá isto? Que belo dia será, no qual as armas serão desmontadas, para se transformar em instrumentos de trabalho! Que belo dia será aquele! Que belo dia será aquele! E isto é possível! Apostemos na esperança, na esperança da paz, e será possível!

Este caminho não está nunca concluído. Como na vida de cada um de nós, há sempre necessidade de começar de novo, de levantar-se, de reencontrar o sentido da meta da própria existência, assim, para a grande família humana é necessário renovar sempre o horizonte comum rumo ao qual somos encaminhados. O horizonte da esperança! Este é o horizonte para fazer um bom caminho. O tempo do Advento, que hoje começamos de novo, nos restitui o horizonte da esperança, uma esperança que não desilude porque é fundada na Palavra de Deus. Uma esperança que não desilude, simplesmente porque o Senhor não desilude nunca! Ele é fiel! Ele não desilude! Pensemos e sintamos esta beleza.

O modelo desta atitude espiritual, deste modo de ser e de caminhar na vida é a Virgem Maria. Uma simples moça do campo, que leva no coração toda a esperança de Deus! Em seu ventre, a esperança de Deus tomou carne, fez-se homem, fez-se história: Jesus Cristo. O seu Magnificat é o cântico do Povo de Deus em caminho, e de todos os homens e mulheres que esperam em Deus, no poder da sua misericórdia. Deixemo-nos guiar por ela, que é mãe, é mãe e sabe como guiar-nos. Deixemo-nos guiar por ela neste tempo de espera e de vigilância ativa.

A todos desejo um bom início de Advento. Bom almoço e até mais!

(Tradução: CN notícias)