A alegria e a “fraqueza” de Deus para com os pecadores reencontrados

Na homilia em Santa Marta, Papa Francisco recorda a solicitude do Bom Pastor para com a ovelha perdida que triunfa sobre a “murmuração hipócrita” dos homens

Por Luca Marcolivio

ROMA, 07 de Novembro de 2013 (Zenit.org) – Jesus, os fariseus e os publicanos, o pecado e a hipocrisia, a ovelha perdida. Esta manhã, durante a homilia na Santa Marta, Papa Francisco voltou com uma das ‘chaves de leitura’ de sua pregação: a misericórdia de Deus que triunfa sobre o mal e a mesquinhez dos homens.

O Evangelho de hoje (cf. Lc 15,1-10), explicou o Papa, mostra o espanto dos escribas e fariseus em relação a Jesus, percebido como uma “ameaça” por sua proximidade com os pecadores e que, por essa razão, “ofende a Deus” e “contamina o ministério do profeta”.

Mas Jesus tacha a “música da hipocrisia” de seus adversários e a “murmuração hipócrita” deles, e responde com uma “alegre parábola” em que destaca a “alegria de Deus” diante da ação de seu Filho que perdoa os pecadores.

De fato, Deus “não gosta de perder”, então, vai em busca “daqueles que estão longe dEle. Como o pastor que vai em busca da ovelha perdida”. Seu “trabalho” é buscar qualquer criatura e “convidar para a festa de todos, bons e maus”.

Deus não quer perder nenhum dos seus, assim como Jesus revela na oração da Quinta-feira Santa: “Pai, que não se perda nenhum daqueles que tu me deste”.

Em sua busca pelos homens, Deus ” tem uma certa fraqueza de amor para com aqueles que estão mais distantes, que estão perdidos”, disse o Papa. Esta busca não para, como o pastor do Evangelho de hoje, que procura incansavelmente sua ovelha ou como a mulher da parábola ” que quando perde uma moeda acende a luz, varre a casa e procura cuidadosamente”.

O reencontro da ovelha perdida, no entanto, não diz respeito apenas a ela e ao pastor, mas deve envolver as noventa e nove restantes que permaneceram no campo, e ninguém lhe pode dizer mas “tu és uma de nós” para que volte a ganhar a “dignidade”. Sem distinção, “Deus coloca tudo nos seus lugares” e ao fazê-lo “se alegra” sempre.

“A alegria de Deus não é a morte do pecador, mas a sua vida”, acrescentou o Santo Padre, destacando o comportamento daqueles que “murmuravam contra Jesus”: pessoas “distantes do coração de Deus”, que “não o conheciam”, que identificavam o ser religioso pela boa educação. Esta atitude, no entanto, não tem nada a ver com a fé, mas apenas com a “hipocrisia de murmurar”.

A alegria de Deus é “aquela do amor” que vai infinitamente além de nossa vergonha, e do nosso senso de indignidade. Se um homem diz: “Eu sou um pecador “, a resposta de Deus será sempre: “Eu te amo do mesmo jeito e eu vou encontrá-lo e levá-lo para casa”.

Todos os pecadores precisam do perdão de Deus: mesmo o papa se confessa a cada 15 dias

Audiência geral: Francisco lembra que a Igreja é a serva do ministério da misericórdia e convida os sacerdotes a não “maltratar” os fiéis na confissão.

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 20 de Novembro de 2013 (Zenit.org) – Padres, bispos e até mesmo papas têm ao menos uma coisa em comum: todos são pecadores necessitados do perdão de Deus, que só pode ser experimentado através do sacramento da reconciliação.

Na audiência geral de hoje, o papa Francisco voltou a reafirmar um dos seus conceitos mais queridos: a infinita misericórdia de Deus, que não se cansa de oferecer aquele perdão de que, como cristãos, todos nós precisamos constantemente. Até mesmo o papa, chefe da Igreja universal, precisa receber o abraço reconciliador de Deus. “O papa também se confessa a cada duas semanas, porque o papa também é um pecador”, disse Bergoglio.

Retomando o tema da última quarta-feira, sobre o perdão dos pecados no batismo, o Santo Padre acrescentou hoje outro assunto: o “poder das chaves”, símbolo bíblico da missão que Jesus deu aos Apóstolos. “Em primeiro lugar, temos que nos lembrar de que o protagonista do perdão dos pecados é o Espírito Santo”, enfatiza Bergoglio, recordando que o Cristo Ressuscitado, na Última Ceia, soprou sobre os Apóstolos e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; a quem os não perdoardes, ser-lhes-ão retidos”. Jesus, transfigurado em seu corpo, disse o papa, já é o homem novo, que nos oferece os dons da Páscoa, o fruto da sua morte e ressurreição: a paz, a alegria, o perdão dos pecados, a missão, mas, acima de tudo, o Espírito Santo, que é a fonte de tudo isso”.

O sopro de Jesus, prossegue o Santo Padre, transmite “a vida nova regenerada pelo perdão”. O Messias, no entanto, realiza antes outro gesto: “mostra as feridas nas suas mãos e no seu lado”, feridas que “representam o preço da nossa salvação”. É através das chagas de Cristo que o Espírito Santo traz o perdão de Deus, diz o papa. A partir daí, esse poder passa para os Apóstolos.

Por este motivo, é dito que a Igreja é “a depositária do poder das chaves”. Depositária e não dona, precisa Francisco, no sentido de que a Igreja “é a serva do ministério da misericórdia e se alegra todas as vezes que pode oferecer esse presente divino”. Desta forma, “Jesus nos chama a viver a reconciliação na dimensão eclesial, comunitária”. A Igreja, portanto, “que é santa e sempre necessitada de penitência”, nos acompanha no nosso caminho de conversão durante toda a vida.

Mas nem todos percebem hoje essa “dimensão eclesial do perdão”, observa o Sucessor de Pedro, porque estão cegados pelo “individualismo” e pelo “subjetivismo” que assola os próprios cristãos. É verdade: o perdão de Deus a cada pecador arrependido ocorre em uma dimensão íntima e pessoal, “mas o cristão está ligado a Cristo e Cristo está unido à Igreja”. Assim, para os cristãos, há “um presente a mais”, e, ao mesmo tempo, um “esforço a mais”: o de passar “humildemente pelo ministério da Igreja”.

Neste sentido, o sacerdote se torna uma “ferramenta para o perdão dos pecados”. O padre confessor que, como todos os outros, “é um homem que precisa de misericórdia”, se torna verdadeiramente um “instrumento da misericórdia” que nos é dada pelo “amor sem limites de Deus Pai”. Não tem fundamento a teoria daqueles que evitam o sacramento da reconciliação porque se confessam “diretamente com Deus”: “Deus sempre escuta”, diz o papa, mas é no confessionário que “ele envia um irmão para trazer o perdão em nome da Igreja”.

Por isso mesmo, o papa também precisa recorrer à confissão com frequência. O confessor “ouve as coisas que eu lhe digo, me aconselha e me perdoa, porque todos nós precisamos desse perdão”.

Por outro lado, o sacerdote é chamado ainda a perdoar os pecados, isto é, a realizar um “serviço” como “ministro de Deus”. Uma tarefa extremamente “delicada”, observa o papa, que “exige que o seu coração esteja em paz, que ele não maltrate os fiéis, mas seja leve, benevolente e misericordioso, que saiba semear esperança no coração”. Acima de tudo, ele deve ser “consciente de que o irmão ou irmã que se aproxima do sacramento da reconciliação está procurando o perdão e é como se estivesse se aproximando de Jesus para que Ele o cure”. Se um padre não tem “esse estado de espírito”, afirmou o papa,”é melhor que ele não administre este sacramento até corrigi-lo”, porque “os fiéis têm o direito de encontrar nos sacerdotes os servos do perdão de Deus”.

Não há pecado que possa cancelar da memória e do coração de Deus um filho

Papa Francisco recorda que Jesus é misericordioso e nunca se cansa de perdoar

CIDADE DO VATICANO, 03 de Novembro de 2013 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O Evangelho de Lucas deste domingo nos mostra Jesus que, em seu caminho rumo a Jerusalém, entra na cidade de Jericó. Esta é a última etapa de uma viagem que resume em si o sentido de toda a vida de Jesus, dedicada a procurar e salvar as ovelhas perdidas da casa de Israel. Mas quanto mais no caminho aproxima-se da meta, mais em torno de Jesus forma-se um círculo de hostilidade.

No entanto, em Jericó, acontece um dos eventos mais alegres narrados por São Lucas: a conversão de Zaqueu. Este homem é uma ovelha perdida, é desprezado, é um “excomungado”, porque é um publicano, antes, é o chefe dos cobradores de impostos da cidade, amigo dos odiados ocupantes romanos, é um ladrão e um explorador. Bela figura, não é? É assim.

Impedido de aproximar-se de Jesus, provavelmente por motivo de sua má fama, e sendo baixo de estatura, Zaqueu sobe em uma árvore para poder ver o Mestre que passa. Este gesto exterior, um pouco ridículo, exprime, porém, o ato interior do homem que procura colocar-se sobre a multidão para ter um contato com Jesus. O próprio Zaqueu não sabe o sentido profundo de seu gesto; não sabe por que faz isto, mas o faz; nem sequer ousa esperar que possa ser superada a distância que o separa do Senhor; conforma-se em vê-Lo somente de passagem. Mas Jesus, quando chega próximo àquela árvore, chama-o pelo nome: “Zaqueu, desce depressa, porque é preciso que eu fique hoje em tua casa” (Lc 19, 5). Aquele homem baixo de estatura, rejeitado por todos e distante de Jesus é como perdido no anonimato; mas Jesus chama-o, e aquele nome Zaqueu, naquelas línguas daquele tempo, tem um belo significado cheio de alusões: “Zaqueu” de fato quer dizer “Deus recorda”. É belo: “Deus recorda”.

E Jesus vai àquela casa de Zaqueu, suscitando as críticas de todo o povo de Jericó. Porque também naquele tempo se fofoca muito, né? E o povo dizia: “Mas como? Com todas as bravas pessoas que há na cidade, vai hospedar-se justamente na casa de um publicano?” Sim, porque ele estava perdido; e Jesus diz: “Hoje entrou a salvação nesta casa, porquanto também este é filho de Abraão” (Lc 19, 9). Na casa de Zaqueu, a partir daquele dia, entrou a alegria, entrou a paz, entrou a salvação, entrou Jesus.

Não existe profissão ou condição social, não há pecado ou crime de qualquer gênero que possa cancelar da memória e do coração de Deus um filho sequer. “Deus recorda”, sempre, não esquece nenhum daqueles que criou; Ele é Pai, sempre à espera vigilante e amorosa de ver renascer no coração do filho o desejo de retornar à casa. E quando reconhece este desejo, mesmo que simplesmente manifestado, e tantas vezes quase inconsciente, imediatamente põe-se a seu lado, e com o seu perdão lhe torna mais leve o caminho da conversão e do retorno. Mas olhemos para Zaqueu hoje na árvore: é ridículo, mas é um gesto de salvação. E eu digo a você: se você tem um peso na consciência, se você tem vergonha de tantas coisas que cometeu, pare um pouco, não se desespere, pense que Um te espera, porque nunca deixou de se lembrar de você, de pensar em você. E este é o teu Pai, é Deus, é Jesus que te espera! Suba, como fez Zaqueu; sai sobre a árvore da vontade de ser perdoado. Eu te asseguro que não te decepcionarás. Jesus é misericordioso e nunca se cansa de perdoar. Lembre-se bem, sim? Assim é Jesus.

Irmãos e irmãs, deixemo-nos também nós sermos chamados pelo nome por Jesus! No fundo do coração, escutemos a sua voz que nos diz: “Hoje devo parar na tua casa; eu quero parar na tua casa e no teu coração”, isso é, na tua vida. E vamos acolhê-Lo com alegria: Ele pode mudar-nos, pode transformar o nosso coração de pedra em coração de carne, pode livrar-nos do egoísmo e fazer da nossa vida um dom de amor. Jesus pode fazê-lo. Deixe-se olhar por Jesus.

(Trad.: Jéssica Marçal/CN noticias)

A comunhão dos Santos

Catequese do Papa Francisco - 30/10/2013

CATEQUESE
Praça São Pedro – Vaticano
Quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de falar de uma realidade muito bela da nossa fé, ou seja, da “comunhão dos santos”. O Catecismo da Igreja Católica nos recorda que com esta expressão se entendem duas realidades: a comunhão nas coisas santas e a comunhão entre as pessoas santas (n. 948). Concentro-me no segundo significado: trata-se de uma verdade entre as mais consoladoras da nossa fé, pois nos recorda que não estamos sozinhos, mas existe uma comunhão de vida entre todos aqueles que pertencem a Cristo. Uma comunhão que nasce da fé; de fato, o termo “santos” refere-se àqueles que acreditam no Senhor Jesus e estão incorporados a Ele na Igreja mediante o Batismo. Por isto, os primeiros cristãos eram chamados também “os santos” (cfr At 9,13.32.41; Rm 8,27; 1 Cor 6,1).

1. O Evangelho de João mostra que, antes da sua Paixão, Jesus rezou ao Pai pela comunhão entre os discípulos, com estas palavras: “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (17, 21). A Igreja, em sua verdade mais profunda, é comunhão com Deus, familiaridade com Deus, comunhão de amor com Cristo e com o Pai no Espírito Santo, que se prolonga em uma comunhão fraterna. Esta relação entre Jesus e o Pai é a “matriz” do vínculo entre nós cristãos: se estamos intimamente inseridos nesta “matriz”, nesta fornalha ardente de amor que é a Trindade, então podemos nos tornar verdadeiramente um só coração e uma só alma entre nós, porque o amor de Deus queima os nossos egoísmos, os nossos preconceitos, as nossas divisões interiores e exteriores. O amor de Deus queima também os nossos pecados

2. Se há este enraizamento na fonte do Amor, que é Deus, então se verifica também o movimento recíproco: dos irmãos a Deus; a experiência da comunhão fraterna me conduz à comunhão com Deus. Estar unidos entre nós nos leva a estar unidos com Deus, leva-nos a esta ligação com Deus que é o nosso Pai. Este é o segundo aspecto da comunhão dos santos que gostaria de destacar: a nossa fé precisa do apoio dos outros, especialmente nos momentos difíceis. Se nós estamos unidos a fé se torna forte. Quanto é belo apoiar-nos uns aos outros na aventura maravilhosa da fé! Digo isto porque a tendência a se fechar no privado influenciou também o âmbito religioso, de forma que muitas vezes é difícil pedir a ajuda espiritual de quantos partilham conosco a experiência cristã. Quem de todos nós não experimentou inseguranças, perdas e ainda dúvidas no caminho da fé? Todos experimentamos isto, também eu: faz parte do caminho da fé, faz parte da nossa vida. Tudo isso não deve nos surpreender, porque somos seres humanos, marcados por fragilidades e limites; todos somos frágeis, todos temos limites. Todavia, nestes momentos de dificuldade é necessário confiar na ajuda de Deus, mediante a oração filial e, ao mesmo tempo, é importante encontrar a coragem e a humildade de abrir-se aos outros, para pedir ajuda, para pedir para nos darem uma mão. Quantas vezes fizemos isto e então saímos do problema e encontramos Deus uma outra vez! Nesta comunhão – comunhão quer dizer comum-união – somos uma grande família, onde todos os componentes se ajudam e se apoiam entre eles.

3. E chegamos a outro aspecto: a comunhão dos santos vai além da vida terrena, vai além da morte e dura para sempre. Esta união entre nós vai além e continua na outra vida; é uma união espiritual que nasce do Batismo e não vem separada da morte, mas, graças a Cristo ressuscitado, é destinada a encontrar a sua plenitude na vida eterna. Há um vínculo profundo e indissolúvel entre quantos são ainda peregrinos neste mundo – entre nós – e aqueles que atravessaram o limiar da morte para entrar na eternidade. Todos os batizados aqui na terra, as almas do Purgatório e todos os beatos que estão já no Paraíso formam uma só grande família. Esta comunhão entre terra e céu se realiza especialmente na oração de intercessão.

Queridos amigos, temos esta beleza! É uma realidade nossa, de todos, que nos faz irmãos, que nos acompanha no caminho da vida e nos faz encontrar-nos de novo no céu. Sigamos por este caminho com confiança, com alegria. Um cristão deve ser alegre, com a alegria de ter tantos irmãos batizados que caminham com ele; apoiado pela ajuda dos irmãos e das irmãs que fazem esta estrada para ir para o céu; e também com a ajuda dos irmãos e das irmãs que estão no céu e rezam a Jesus por nós. Avante por este caminho com alegria!

Fonte: Canção Nova

O matrimônio é “partir e caminhar juntos, de mãos dadas, entregando-se na mão grande do Senhor”

Papa Francisco se reúne com as famílias na Praça de São Pedro. Mais de 80 mil pessoas de 70 países.

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

ROMA, 26 de Outubro de 2013 (Zenit.org) – Cerca de oitenta a cem mil pessoas, de mais de 70 países, se reuniram hoje na Praça de São Pedro em Roma, para o Encontro das famílias com o Papa. Dia de sol, céu aberto, e muito colorido pela diversidade de balões que as crianças tinham nas mãos, as apresentações, músicais e testemunhos que marcaram a jornada.

Antes da benção final o Santo Padre perguntou-se: diante de tanta dificuldade para se formar uma família hoje “Como é possível, hoje, viver a alegria da fé em família?”

A vida é difícil, procurar trabalho é difícil, mas “aquilo que mais pesa na vida é a falta de amor. Pesa não receber um sorriso, não ser benquisto. Pesam certos silêncios, às vezes mesmo em família, entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre irmãos. Sem amor, a fadiga torna-se mais pesada”, disse o Papa, recordando o que Jesus diz às famílias hoje: “Vinde a Mim, famílias de todo o mundo, e Eu vos hei-de aliviar, para que a vossa alegria seja completa”.

No momento da cerimônia de casamento, quando o casal promete fidelidade todos os dias da vida, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza…, o santo padre comentou que “Naquele momento, os esposos não sabem quais são as alegrias e as tristezas que os esperam. Partem, como Abraão; põem-se juntos a caminho”, e assim define o matrimônio: “Partir e caminhar juntos, de mãos dadas, entregando-se na mão grande do Senhor”.

“Os esposos cristãos não são ingênuos, conhecem os problemas e os perigos da vida. Mas não têm medo de assumir a própria responsabilidade, diante de Deus e da sociedade”, porque confiam na fidelidade de Deus, disse o Papa, assegurando que é por isso que existe a graça do sacramento, que não é só festa, cerimônia, “Os sacramentos não servem para decorar a vida; o sacramento do Matrimónio não se reduz a uma linda cerimónia! Os cristãos casam-se sacramentalmente, porque estão cientes de precisarem do sacramento!”. Disse de forma espontânea: “A graça não é pra decorar a vida, mas é pra fazer-nos fortes, para seguirmos adiante”.

Deixando de lado o texto, o Papa lembrou as três palavras necessárias para se construir uma família: “Por favor, obrigado, desculpa. Três palavras para poder levar adiante uma família”.

Uma família tem muitos momentos felizes, “Mas, se falta o amor, falta a alegria, falta a festa; ora o amor é sempre Jesus quem no-lo dá: Ele é a fonte inesgotável, e dá-Se a nós na Eucaristia”.

Reforçando a importância do encontro das gerações, da valorização das gerações anteriores, disse Francisco que  “Os avós são a sabedoria da família, de um povo. Um povo que não escuta os avós é um povo que morre”. E olhando para o ícone presente na Praça de São Pedro da Apresentação do Senhor no Templo, o Papa disse que “Estes dois anciãos – Joaquim e Ana – representam a fé como memória. Maria e José são a Família santificada pela presença de Jesus, que é o cumprimento de todas as promessas. Cada família, como a de Nazaré, está inserida na história de um povo e não pode existir sem as gerações anteriores.”

Por fim disse o Papa, “Juntos, façamos nossas estas palavras de São Pedro, que nos têm dado força e continuarão a dar nos momentos difíceis: «A quem iremos nós, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!»

Missa conclusiva da Jornada Mundial da Família. Homilia completa do Papa

A família que reza, a família que conserva a fé e a família que vive a alegria.

ROMA, 27 de Outubro de 2013 (Zenit.org) – As leituras deste domingo nos convidam a meditar sobre algumas características fundamentais da família cristã.

1. A primeira: a família que reza. O trecho do Evangelho coloca em evidência dois modos de rezar, um falso – aquele do fariseu – e outro autêntico – aquele do publicano. O fariseu encarna uma atitude que não exprime a gratidão a Deus pelos seus benefícios e a sua misericórdia, mas sim satisfação de si. O fariseu se sente justo, se sente no lugar, se apoia nisso e julga os outros do alto de seu pedestal. O publicano, ao contrário, não multiplica as palavras. A sua oração é humilde, sóbria, permeada pela consciência de sua própria indignidade, das próprias misérias: este é um homem que realmente se reconhece necessitado do perdão de Deus, da misericórdia de Deus. A oração do publicano é a oração do pobre, é a oração que agrada a Deus, que, como diz a primeira Leitura “chega às nuvens” (Eclo 35, 20), enquanto a do fariseu é sobrecarregada pelo peso da vaidade.

À luz desta Palavra, gostaria de perguntar a vocês, queridas famílias: rezam alguma vez em família? Alguns sim, eu sei. Mas tantos me dizem: como se faz? Mas, se faz como o publicano, é claro: humildemente, diante de Deus. Cada um com humildade se deixa olhar pelo Senhor e pede a sua bondade, que venha a nós. Mas, em família, como se faz? Porque parece que a oração seja algo pessoal e então não há nunca um momento adequado, tranquilo, em família… Sim, é verdade, mas é também questão de humildade, de reconhecer que temos necessidade de Deus, como o publicano! E todas as famílias têm necessidade de Deus: todos, todos! Necessidade da sua ajuda, da sua força, da sua benção, da sua misericórdia, do seu perdão. E é necessário simplicidade: para rezar em família, é necessário simplicidade! Rezar junto o “Pai Nosso”, em torno da mesa, não é algo extraordinário: é algo fácil. E rezar junto o Rosário, em família, é muito bonito, dá tanta força! E também rezar um pelo outro: o marido pela esposa, a esposa pelo marido, ambos pelos filhos, os filhos pelos pais, pelos avós… Rezar um pelo outro. Isto é rezar em família, e isto torna forte a família: a oração.

2. A Segunda Leitura nos sugere um outro ponto: a família conserva a fé.O apóstolo Paulo, no fim de sua vida, faz um balanço fundamental e diz: “Conservei a fé” (2 Tm 4, 7). Mas como a conservou? Não em um cofre! Não a escondeu sob a terra, como aquele servo um pouco preguiçoso. São Paulo compara a sua vida a uma batalha e a uma corrida. Conservou a fé porque não se limitou a defendê-la, mas a anunciou, irradiou-a, levou-a longe. Colocou-se do lado oposto a quem queria conservar, “embalsamar” a mensagem de Cristo nos confins da Palestina. Por isto fez escolhas corajosas, foi a territórios hostis, deixou-se provocar pelos distantes, por culturas diversas, falou francamente sem medo. São Paulo conservou a fé porque, como a havia recebido, doou-a, indo às periferias sem se apegar a posições defensivas.

Também aqui, podemos perguntar: de que modo nós, em família, conservamos a nossa fé? Nós a temos para nós, na nossa família, como um bem privado, como uma conta no banco, ou sabemos partilhá-la com o testemunho, com o acolhimento, com a abertura aos outros? Todos sabemos que as famílias, especialmente as mais jovens, muitas vezes são “apressadas”, muito ocupadas: mas alguma vez já pensaram que esta “corrida” pode ser também a corrida da fé? As famílias cristãs são famílias missionárias. Mas, ontem ouvimos, aqui na Praça, o testemunho de famílias missionárias. São missionárias também na vida de todos os dias, fazendo as coisas de todos os dias, colocando em tudo o sal e o fermento da fé! Conservar a fé na família e colocar o sal e o fermento da fé nas coisas do cotidiano.

3. Um último aspecto recebemos da Palavra de Deus: a família que vive a alegria. No Salmo responsorial encontra-se esta expressão: “os pobres escutem e se alegrem” (33/34, 3). Todo este Salmo é um hino ao Senhor, origem de alegria e de paz. E qual é o motivo deste alegrar-se? É este: o Senhor está próximo, escuta o grito dos humildes e os livra do mal. Escrevia ainda São Paulo: “Alegrai-vos sempre…o Senhor está próximo” (Fil 4, 4-5). É…eu gostaria de fazer uma pergunta hoje. Mas, cada um leve-a ao seu coração, a sua casa, como uma tarefa a fazer, certo? E se responda sozinho. Como está a alegria na sua casa? Como está a alegria na sua família? E dêem vocês a resposta.

Queridas famílias, vocês sabem bem: a verdadeira alegria que se desfruta na família não é algo superficial, não vem das coisas, das circunstâncias favoráveis…A alegria verdadeira vem da harmonia profunda entre as pessoas, que todos sentem no coração, e que nos faz sentir a beleza de estar junto, de apoiar-nos uns aos outros no caminho da vida. Mas na base deste sentimento de alegria profunda está a presença de Deus, a presença de Deus na família, está o seu amor acolhedor, misericordioso, respeitoso para com todos. E, sobretudo, um amor paciente: a paciência é uma virtude de Deus e nos ensina, em família, a ter este amor paciente, um com o outro. Ter paciência entre nós. Amor paciente. Somente Deus sabe criar a harmonia das diferenças. Se falta o amor de Deus, também a família perde a harmonia, prevalecem os individualismos e se extingue a alegria. Em vez disso, a família que vive a alegria da fé a comunica espontaneamente, é sal da terra e luz do mundo, é fermento para toda a sociedade.

Queridas famílias, vivam sempre com fé e simplicidade, como a Sagrada Família de Nazaré. A alegria e a paz do Senhor estejam sempre com vocês!

(Tradução Canção Nova / Jéssica Marçal)

“Esta é a beleza da Igreja: a presença de Jesus Cristo entre nós”

Texto completo da audiência do santo padre. Três significados do adjetivo apostólico aplicado à Igreja

ROMA, 16 de Outubro de 2013 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Quando recitamos o Credo dizemos: “Creio na Igreja una, santa, católica e apostólica”. Não sei se vocês já refletiram sobre o significado que tem a expressão “a Igreja é apostólica”. Talvez qualquer vez, vindo a Roma, vocês tenham pensado na importância dos Apóstolos Pedro e Paulo que aqui doaram as suas vidas para levar e testemunhar o Evangelho.

Mas é mais que isso. Professar que a Igreja é apostólica significa destacar a ligação constitutiva que essa possui com os Apóstolos, com aquele pequeno grupo de doze homens que Jesus um dia chamou a si, chamou-os pelo nome, paraque permanecessem com Ele e para enviá-los a pregar (cfr Mc 3, 13-19). “Apóstolo”, de fato, é uma palavra grega que quer dizer “mandado”, “enviado”. Um apóstolo é uma pessoa que é mandada, é enviada a fazer alguma coisa e os Apóstolos foram escolhidos, chamados e enviados por Jesus para continuar a sua obra, para orar – é o primeiro trabalho de um apóstolo – e, segundo, anunciar o Evangelho. Isso é importante porque quando pensamos nos Apóstolos poderíamos pensar que foram somente anunciar o Evangelho, fazer tantas obras. Mas nos primeiros tempos da Igreja houveumproblemaporqueos Apóstolos deviam fazer tantas coisas e então formaram os diáconos, para que houvesse para os Apóstolos mais tempo para pregar e anunciar a Palavra de Deus. Quando pensamos nos sucessores dos Apóstolos, os Bispos, incluindo o Papa, porque ele também é um bispo, devemos perguntar-nos se este sucessor dos Apóstolos primeiro reza e depois se anuncia o Evangelho: isto é ser Apóstolo e por isto a Igreja é apostólica. Todos nós, se queremos ser apóstolos como explicarei agora, devemos perguntar-nos: eu rezo pela salvação do mundo? Anuncio o Evangelho? Estaé a Igreja apostólica! É uma ligação constitutiva que temos com os Apóstolos.

Partindo propriamente disto gostaria de destacar brevemente três significados do adjetivo “apostólico” aplicado à Igreja.

1. A Igreja é apostólica porque é fundada na pregação e naoração dos Apóstolos, sobre a autoridade que foi dada a eles pelo próprio Cristo. São Paulo escreve aos cristãos de Éfeso: “Sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus, edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, tendo por pedra angular o próprio Cristo Jesus” (2, 19-20); compara, isto é, os cristãos a pedras vivas que formam um edifício que é a Igreja, e este edifício é fundado sobre os Apóstolos, como colunas, e a pedra que apoia tudo é o próprio Jesus. Sem Jesus não pode existir a Igreja! Jesus é justamente a base da Igreja, o fundamento! Os Apóstolos viveram com Jesus, escutaram as suas palavras, partilharam a sua vida, sobretudo foram testemunhas da sua Morte e Ressurreição. A nossa fé, a Igreja que Cristo quis, não se baseia em uma ideia, em uma filosofia: baseia-se no próprio Cristo . E a Igreja é como uma planta que ao longo dos séculos cresceu, desenvolveu-se, deu frutos, mas as suas raízes estão bem plantadas Nele e a experiência fundamental de Cristo que tiveram os Apóstolos, escolhidos e enviados por Jesus, chega até nós. Daquela planta pequenina aos nossos dias: assim a Igreja está em todo o mundo.

2. Mas perguntemo-nos:comoé possívelpara nós nos conectarmos com aquele testemunho, como pode chegar até nós aquilo que viveram os Apóstolos com Jesus, aquilo que escutaram Dele? Eis o segundo significado do termo “apostolicidade”. O Catecismo da Igreja Católica afirma que a Igreja é apostólica porque “protege e transmite, com a ajuda do Espírito Santo que nela habita, o ensinamento, o depósito precioso, as salutares palavras ouvidas da boca dos Apóstolos” (n. 857). A Igreja conserva ao longo dos séculos este precioso tesouro que é a Sagrada Escritura, a doutrina, os Sacramentos, o ministério dos Pastores, de forma que possamos ser fiéis a Cristo e participarda sua própria vida.É comoumrio que flui na história, desenvolve-se, irriga, mas a água que escorre é sempre aquela que parte da fonte, e a fonte é o próprio Cristo: Ele é o Ressuscitado, Ele é o Vivo, e as suas palavras não passam, porque Ele não passa, Ele está vivo, Ele está entre nós hoje aqui, Ele nos sente e nós falamos com Ele e Ele nos escuta, está no nosso coração. Jesus está conosco hoje! Esta é a beleza da Igreja: a presença de Jesus Cristo entre nós. Sempre pensamos quanto é importante este dom que Jesus nos deu, o dom da Igreja, onde podemos encontrá-Lo? Sempre pensamos em como é justamente a Igreja no seu caminho ao longo dos séculos – apesar das dificuldades, dos problemas, das fraquezas, dos nossos pecados –que nos transmite a autêntica mensagem de Cristo? Doa-nos a segurança de que aquilo em que acreditamos é realmente aquilo que Cristo nos comunicou?

3. O último pensamento: a Igreja é apostólicaporqueé enviada a levar o Evangelho a todo o mundo. Continua no caminho da história a mesma missão que Cristo confiouaos Apóstolos: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que eu vos prescrevi. Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo”(Mt28, 19-20). Isto é aquilo que Jesus nos deu para fazer! Insisto neste aspecto da missionariedade, porque Cristo convida todos a “ir” ao encontro dos outros, envia-nos, pede-nos para nos movermos e levar a alegria do Evangelho! Mais uma vez perguntemo-nos: somos missionários com a nossa palavra, mas, sobretudo, com a nossa vida cristã, com o nosso testemunho? Ou somos cristão fechados no nosso coração e nas nossas igrejas, cristãos de sacristia? Cristãos só nas palavras, mas que vivem como pagãos? Devemos fazer-nos estas perguntas, que não são uma repreensão. Também eu digo a mim mesmo: como sou cristão, com o testemunho verdadeiro?

A Igreja tem as suas raízes no ensinamento dos Apóstolos, testemunhas autênticas de Cristo, mas olha para o futuro, tem a firme consciência de ser enviada – enviada por Jesus – a ser missionária, levando o nome de Jesus com a oração, o anúncio e o testemunho. Uma Igreja que se fecha em si mesma e no passado ou uma Igreja que olha somente para as pequenas regras de hábitos, de atitudes é uma Igreja que trai a própria identidade; uma Igreja que trai a própria identidade! Então, redescubramos hoje toda a beleza e a responsabilidade de ser Igreja apostólica! E lembrem-se: Igreja apostólica porque rezamos – primeira tarefa – e porque anunciamos o Evangelho com a nossavida e com as nossas palavras.

(Tradução Canção Nova/ Jéssica Marçal)

O sim de Maria “foi apenas o primeiro de muitos «sins» pronunciados no seu coração”

Homilia do Papa na Santa missa da Jornada Mariana no Ano da Fé

ROMA, 13 de Outubro de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir o texto da homilia que o Papa Francisco pronunciou hoje na Santa Missa celebrada na praça de São Pedro por ocasião da Jornada Mariana no Ano da Fé.

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Recitamos no salmo: «Cantai ao Senhor um cântico novo, porque Ele fez maravilhas» (Sl 97, 1).

Encontramo-nos hoje diante duma das maravilhas do Senhor: Maria! Uma criatura humilde e frágil como nós, escolhida para ser Mãe de Deus, Mãe do seu Criador.

Precisamente olhando Maria à luz das Leituras que acabámos de escutar, queria reflectir convosco sobre três realidades: a primeira, Deus surpreende-nos; a segunda, Deus pede-nos fidelidade; a terceira, Deus é a nossa força.

1. A primeira: Deus surpreende-nos. O caso de Naamã, comandante do exército do rei da Síria, é notável: para se curar da lepra, vai ter com o profeta de Deus, Eliseu, que não realiza ritos mágicos, nem lhe pede nada de extraordinário. Pede-lhe apenas para confiar em Deus e mergulhar na água do rio; e não dos grandes rios de Damasco, mas de um rio pequeno como o Jordão. É uma exigência que deixa Naamã perplexo e também surpreendido: Que Deus poderá ser este que pede uma coisa tão simples? A vontade primeira dele é retornar ao País, mas depois decide-se a fazê-lo, mergulha no Jordão e imediatamente fica curado (cf. 2Re 5,1-14). Vedes!? Deus surpreende-nos; é precisamente na pobreza, na fraqueza, na humildade que Ele Se manifesta e nos dá o seu amor que nos salva, cura, dá força. Pede somente que sigamos a sua palavra e tenhamos confiança n’Ele.

Esta é a experiência da Virgem Maria: perante o anúncio do Anjo, não esconde a sua admiração. Fica admirada ao ver que Deus, para Se fazer homem, escolheu precisamente a ela, jovem simples de Nazaré, que não vive nos palácios do poder e da riqueza, que não realizou feitos extraordinários, mas que está disponível a Deus, sabe confiar n’Ele, mesmo não entendendo tudo: «Eis a serva do Senhor, faça-se em Mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). É a sua resposta. Deus surpreende-nos sempre, rompe os nossos esquemas, põe em crise os nossos projectos, e diz-nos: confia em Mim, não tenhas medo, deixa-te surpreender, sai de ti mesmo e segue-Me!

Hoje perguntemo-nos, todos, se temos medo daquilo que Deus me poderá pedir ou está pedindo. Deixo-me surpreender por Deus, como fez Maria, ou fecho-me nas minhas seguranças, seguranças materiais, seguranças intelectuais, seguranças ideológicas, seguranças dos meus projectos? Deixo verdadeiramente Deus entrar na minha vida? Como Lhe respondo?

2. Na passagem lida de São Paulo, ouvimos o Apóstolo dizer ao seu discípulo Timóteo: Lembra-te de Jesus Cristo; se perseverarmos com Ele, também com Ele reinaremos (cf. 2Tm 2,8-13). Aqui está o segundo ponto: lembrar-se sempre de Cristo, a memória de Jesus Cristo, e isto significa perseverar na fé. Deus surpreende-nos com o seu amor, maspede fidelidade em segui-Lo. Podemos nos tornar “não fiéis”, mas Ele não pode; Ele é “o fiel” e pede-nos a mesma fidelidade. Pensemos quantas vezes já nos entusiasmámos por qualquer coisa, por uma iniciativa, por um compromisso, mas depois, ao surgirem os primeiros problemas, abandonámos. E, infelizmente, isto acontece também com as opções fundamentais, como a do matrimónio. É a dificuldade de ser constantes, de ser fiéis às decisões tomadas, aos compromissos assumidos. Muitas vezes é fácil dizer «sim», mas depois não se consegue repetir este «sim» todos os dias. Não se consegue ser fiéis.

Maria disse o seu «sim» a Deus, um «sim» que transtornou a sua vida humilde de Nazaré, mas não foi o único; antes, foi apenas o primeiro de muitos «sins» pronunciados no seu coração tanto nos seus momentos felizes, como nos dolorosos… muitos «sins» que culminaram no «sim» ao pé da Cruz. Estão aqui hoje muitas mães; pensai até onde chegou a fidelidade de Maria a Deus: ver o seu único Filho na Cruz. A mulher fiel, de pé, destruída por dentro, mas fiel e forte.

E eu me pergunto: sou um cristão “soluçante”, ou sou cristão sempre? Infelizmente, a cultura do provisório, do relativo penetra também na vivência da fé. Deus pede-nos para Lhe sermos fiéis, todos os dias, nas acções quotidianas; e acrescenta: mesmo se às vezes não Lhe somos fiéis, Ele é sempre fiel e, com a sua misericórdia, não se cansa de nos estender a mão para nos erguer e encorajar a retomar o caminho, a voltar para Ele e confessar-Lhe a nossa fraqueza a fim de que nos dê a sua força. E este é o caminho definitivo: sempre com o Senhor, mesmo com as nossas fraquezas, mesmo com os nossos pecados. Nunca podemos ir pela estrada do provisório. Isto nos destrói. A fé é a fidelidade definitiva, como a de Maria.

3. O último ponto: Deus é a nossa força. Penso nos dez leprosos do Evangelho curados por Jesus: vão ao seu encontro, param à distância e gritam: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós» (Lc 17, 13). Estão doentes, necessitados de serem amados, de terem força e procuram alguém que os cure. E Jesus responde, libertando-os a todos da sua doença. Causa estranheza, porém, o facto de ver que só regressa um para Lhe agradecer, louvando a Deus em alta voz. O próprio Jesus o sublinha: eram dez que gritaram para obter a cura, mas só um voltou para gritar em voz alta o seu obrigado a Deus e reconhecer que Ele é a nossa força. É preciso saber agradecer, saber louvar o Senhor pelo que faz por nós.

Vejamos Maria: depois da Anunciação, o primeiro gesto que ela realiza é um acto de caridade para com a sua parente idosa Isabel; e as primeiras palavras que profere são: «A minha alma enaltece o Senhor», ou seja, um cântico de louvor e agradecimento a Deus, não só pelo que fez n’Ela, mas também pela sua acção em toda a história da salvação. Tudo é dom d’Ele. Se conseguimos entender que tudo é dom de Deus, então quanta felicidade teremos no nosso coração! Tudo é dom d’Ele. Ele é a nossa força! Dizer obrigado parece tão fácil, e todavia é tão difícil! Quantas vezes dizemos obrigado em família? Esta é uma das palavras-chaves da convivência. “Com licença”, “perdão”, “obrigado”: se numa família se dizem estas três palavras, a família segue adiante. “Com licença”, “perdão”, “obrigado”. Quantas vezes dizemos “obrigado” junto da família? Quantas vezes dizemos obrigado a quem nos ajuda, vive perto de nós e nos acompanha na vida? Muitas vezes damos tudo isso como suposto! E o mesmo acontece com Deus. É fácil ir até ao Senhor para pedir alguma coisa, mas ir agradece-Lo… “Ah, isso é difícil”.

Continuando a Eucaristia, invocamos a intercessão de Maria, para que nos ajude a deixarmo-nos surpreender por Deus sem resistências, a sermos-Lhe fiéis todos os dias, a louvá-Lo e agradecer-Lhe porque Ele é a nossa força. Amen.

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Nada é impossível à misericórdia de Deus

Catequese do Papa Francisco na tarde de ontem, sábado, 12 de outubro

ROMA, 13 de Outubro de 2013 (Zenit.org) – Amados irmãos e irmãs,

Reunimo-nos aqui, neste encontro do Ano da Fé dedicado a Maria, Mãe de Cristo e da Igreja, nossa Mãe. A sua imagem, vinda de Fátima, ajuda-nos a sentir a sua presença no meio de nós. Maria leva-nos sempre a Jesus. É uma mulher de fé, uma verdadeira crente. Como foi a fé de Maria?

1. O primeiro elemento da sua fé é este: a fé de Maria desata o nó do pecado (cf. LG, 56). Que significa isto? Os Padres conciliares retomaram uma expressão de Santo Ireneu, que diz: «O nó da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; aquilo que a virgem Eva atara com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé» (Adv. Haer. III, 22, 4).

O «nó» da desobediência, o “nó” da incredulidade. Poderíamos dizer, quando uma criança desobedece à mãe ou ao pai, que se forma um pequeno «nó». Isto sucede, se a criança se dá conta do faz, especialmente se há pelo meio uma mentira; naquele momento, não se fia da mãe e do pai. Isto acontece tantas vezes! Então a relação com os pais precisa de ser limpa desta falta e, de facto, pede-se desculpa para que haja de novo harmonia e confiança. Algo parecido acontece no nosso relacionamento com Deus. Quando não O escutamos, não seguimos a sua vontade e realizamos acções concretas em que demonstramos falta de confiança n’Ele – isto é o pecado –, forma-se uma espécie de nó dentro de nós. Estes nós tiram-nos a paz e a serenidade. São perigosos, porque de vários nós pode resultar um emaranhado, que se vai tornando cada vez mais penoso e difícil de desatar.Mas, para a misericórdia de Deus, nada é impossível! Mesmo os nós mais complicados desatam-se com a sua graça. E Maria, que, com o seu «sim», abriu a porta a Deus para desatar o nó da desobediência antiga, é a mãe que, com paciência e ternura, nos leva a Deus, para que Ele desate os nós da nossa alma com a sua misericórdia de Pai. Poderíamos interrogar-nos: Quais são os nós que existem na minha vida? Para mudar, peço a Maria que me ajude a ter confiança na misericórdia de Deus?

2. Segundo elemento: a fé de Maria dá carne humana a Jesus. Diz o Concílio: «Acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem ter conhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai» (LG, 63). Este é um ponto em que os Padres da Igreja insistiram muito: Maria primeiro concebeu Jesus na fé e, depois, na carne, quando disse «sim» ao anúncio que Deus lhe dirigiu através do Anjo. Que significa isto? Significa que Deus não quis fazer-Se homem, ignorando a nossa liberdade, quis passar através do livre consentimento de Maria, do seu «sim».

Entretanto aquilo que aconteceu de uma forma única na Virgem Mãe, sucede a nível espiritual também em nós, quando acolhemos a Palavra de Deus com um coração bom e sincero, e a pomos em prática. É como se Deus tomasse carne em nós: Ele vem habitar em nós, porque faz morada naqueles que O amam e observam a sua palavra.Perguntemo-nos: Estamos nós conscientes disto? Ou pensamos que a encarnação de Jesus é um facto apenas do passado, que não nos toca pessoalmente? Crer em Jesus significa oferecer-Lhe a nossa carne, com a humildade e a coragem de Maria, para que Ele possa continuar a habitar no meio dos homens; significa oferecer-Lhe as nossas mãos, para acariciar os pequeninos e os pobres; os nossos pés, para ir ao encontro dos irmãos; os nossos braços, para sustentar quem é fraco e trabalhar na vinha do Senhor; a nossa mente, para pensar e fazer projectos à luz do Evangelho; e sobretudo o nosso coração, para amar e tomar decisões de acordo com a vontade de Deus. Tudo isto acontece graças à acção do Espírito Santo. Deixemo-nos guiar por Ele!

3. O último elemento é a fé de Maria como caminho: o Concílio afirma que Maria «avançou pelo caminho da fé» (LG, 58). Por isso, Ela nos precede neste caminho, nos acompanha e sustenta.

Em que sentido a fé de Maria foi um caminho? No sentido de que toda a sua vida foi seguir o seu Filho: Ele é a estrada, Ele é o caminho! Progredir na fé, avançar nesta peregrinação espiritual que é a fé, não é senão seguir a Jesus; ouvi-Lo e deixar-se guiar pelas suas palavras; ver como Ele se comporta e pôr os pés nas suas pegadas, ter os próprios sentimentos e atitudes d’Ele: humildade, misericórdia, solidariedade, mas também firme repulsa da hipocrisia, do fingimento, da idolatria. O caminho de Jesus é o do amor fiel até ao fim, até ao sacrifício da vida: é o caminho da cruz. Por isso, o caminho da fé passa através da cruz, e Maria compreendeu-o desde o princípio, quando Herodes queria matar Jesus recém-nascido. Mas, depois, esta cruz tornou-se mais profunda, quando Jesus foi rejeitado: então a fé de Maria enfrentou a incompreensão e o desprezo; quando chegou a «hora» de Jesus, a hora da paixão: então a fé de Maria foi a chamazinha na noite. Na noite de Sábado Santo, Maria esteve de vigia. A sua chamazinha, pequena mas clara, esteve acesa até ao alvorecer da Ressurreição; e quando lhe chegou a notícia de que o sepulcro estava vazio, no seu coração alastrou-se a alegria da fé, a fé cristã na morte e ressurreição de Jesus Cristo. Este é o ponto culminante do caminho da fé de Maria e de toda a Igreja. Como está a nossa fé? Temo-la, como Maria, acesa mesmo nos momentos difíceis, de escuridão? Tenho a alegria da fé?

Esta noite, ó Maria, nós Te agradecemos pela tua fé e renovamos a nossa entrega a Ti, Mãe da nossa fé.

O demônio existe, lembra o Papa

Em sua homilia matinal, o Santo Padre recordou a existência do demônio e pediu para os cristãos não “relativizarem” a luta contra o mal

Em homilia hoje na Casa Santa Marta, o Papa Francisco lembrou a existência do diabo e pediu que os fiéis não “relativizassem” a luta contra as potências do mal.

O Evangelho da Missa narra que “Jesus estava expulsando um demônio” (Lc 11, 14). O Santo Padre comentou: “Há alguns padres que quando leem esta passagem do Evangelho, esta e outras, dizem: ‘Mas Jesus apenas curou uma pessoa que tinha uma doença psíquica’. Não leram isso aqui, não é? É verdade que naquele tempo podia confundir-se a epilepsia com a possessão do demônio; mas também é verdade que havia o demônio!”

O Papa disse que “não temos o direito de simplificar tanto as coisas”. E frisou: “A presença do demônio está na primeira página da Bíblia e a Bíblia acaba também com a presença do demônio, com a vitória de Deus sobre o demônio”.

Mais adiante, São Lucas escreve: “Quando chega um homem mais forte do que ele, vence-o, arranca-lhe a armadura na qual ele confiava, e reparte o que roubou” (11, 22). Francisco pediu aos cristãos que se examinassem. “Podemos perguntar-nos: ‘Eu vigio-me, vigio o meu coração, os meus sentimentos, os meus pensamentos? Guardo o tesouro da graça? Guardo a presença do Espírito Santo em mim? Ou deixo-o assim, seguro, com a certeza que está tudo bem?'”.

Sua Santidade lembrou a importância de “vigiar o nosso coração, porque o demônio é astuto”. Ele “nunca é expulso para sempre! Só no último dia o será”.

Ainda no Evangelho de hoje, Jesus fala: “Quem não está comigo está contra mim. E quem não recolhe comigo dispersa” (11, 23). O Santo Padre repetiu o ensinamento de Cristo e advertiu: “Não se pode ficar a meio caminho”.

O Papa invocou a Deus a graça de levar a sério estas coisas. “‘Mas, Padre, o senhor é bocado antiquado, está a assustar-nos com estas coisas…’ Não, eu não! É o Evangelho! E isto não são mentiras, é a Palavra do Senhor! (…) Ele veio lutar pela nossa salvação. Ele venceu o demônio! Por favor, não façamos negócios com o demônio! Ele tenta voltar para casa e tomar de posse de nós… Não relativizar, vigiar! E sempre com Jesus!”

Por Equipe Christo Nihil Praeponere | Fonte: Rádio Vaticano