“Jesus Cristo, a verdadeira novidade que responde às expectativas do homem”

As palavras do Papa durante a oração do Ângelus

CIDADE DO VATICANO, domingo, 28 de outubro de 2012 (ZENIT.org) – Ao final da Missa celebrada com os Padres Sinodais para a conclusão da XIII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, o Papa Bento XVI recitou a oração do Ângelus. Estas são as suas palavras:

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[Antes do Ângelus]

Caros irmãos e irmãs!

Com a Santa Missa celebrada esta manhã na Basílica de São Pedro, terminou a XIII Assembleia Ordinária do Sínodo dos Bispos. Por três semanas enfrentamos a realidade da nova evangelização para a transmissão da fé cristã: toda a Igreja estava representada e, portanto, envolvida nesse esforço, que não deixará de dar os seus frutos, com a graça do Senhor. Primeiro de tudo, no entanto, o Sínodo é sempre um momento de grande comunhão eclesial, e por isso eu quero agradecer a Deus com todos vocês, que mais uma vez nos fez experimentar a beleza de ser Igreja, e sê-lo hoje, neste mundo tal qual ele está, no meio desta humanidade com as suas dificuldades e esperanças. Muito significativa foi a coincidência desta Assembleia sinodal com o 50 º aniversário da abertura do Concílio Vaticano II, e portanto com o início do Ano da Fé. Repensar o Beato João XIII, o Servo de Deus Paulo VI, no tempo conciliar, tem sido muito bom, porque nos ajudou a reconhecer que a nova evangelização não é uma invenção nossa, mas é uma dinâmica que se desenvolveu na Igreja especialmente a partir da década de 50 do século passado, quando se tornou evidente que mesmo os Países de antiga tradição cristã tornaram-se, como acostumamos dizer, “terra de missão”. Assim surgiu a necessidade de um renovado anúncio do Evangelho nas sociedades secularizadas, na dupla certeza de que, por um lado, é só Ele, Jesus Cristo, a verdadeira novidade que responde às expectativas do homem de todas as épocas, e por outro, que a sua mensagem pede para ser transmitida de modo adequado nos diferentes contextos sociais e culturais.

O que podemos dizer depois destes intensos dias de trabalho? Da minha parte, eu escutei e reuni muitos pontos de reflexão e muitas propostas, que, com a ajuda da Secretaria do Sínodo e dos meus colaboradores, buscarei ordenar e elaborar, para oferecer a toda a Igreja uma síntese orgânica e indicações coerentes. Desde já podemos dizer que deste Sínodo sai um reforçado esforço para a renovação espiritual da mesma Igreja, para poder renovar espiritualmente o mundo secularizado; e esta renovação virá da redescoberta de Jesus Cristo, da sua verdade e da sua graça, da sua “face”, tão humana e tão divina, sobre a qual brilha o mistério transcendente de Deus. Confiamos à Virgem Maria os frutos do trabalho da Assembleia Sinodal apenas concluido. Ela, Estrela da nova evangelização, nos ensine e nos ajude a levar Cristo a todos, com coragem e com alegria.

[Depois da recitação da oração do Ângelus, o Papa lançou o seguinte apelo:]

Começo com um apelo.

Nos últimos dias um furacão devastador atingiu com particular violência Cuba, Haiti, a Jamaica e as Bahamas, causando várias mortes e extensos danos, fazendo com que várias pessoas fossem obrigadas a deixar as próprias casas. Desejo assegurar a minha proximidade e lembrança a todos aqueles que foram atingidos por este desastre natural, enquanto convido a todos à oração e à solidariedade, para aliviar a dor dos familiares das vítimas e oferecer ajuda aos milhares de danificados.

[No final do Ângelus, o Papa cumprimentou os peregrinos. Em português disse:]

Dirijo agora uma calorosa saudação aos peregrinos de língua portuguesa, e de modo especial ao grupo vindo do Brasil – das dioceses de Guaxupé, São João da Boa Vista e Jundiaí. Ao concluir a Sínodo sobre a Nova Evangelização, confio à Virgem Santíssima os seus frutos e peço-Lhe que guie e proteja maternalmente os vossos passos ao serviço do anúncio e testemunho da Boa Nova de Jesus Cristo! A minha Bênção desça sobre vós, vossas famílias e comunidades cristãs.

[Tradução do Italiano Thácio Siqueira]

“Deus pode realizar coisas boas e até prodigiosas mesmo fora de seu círculo”

Palavras de Bento XVI ao recitar o Angelus

CASTEL GANDOLFO, 30 de setembro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos as palavras de Bento XVI dirigidas aos fiéis e peregrinos reunidosem Castel Gandolfopor ocasião da tradicional oração mariana do Angelus.

Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelho deste domingo apresenta um daqueles episódios da vida de Cristo, que, apesar de ser considerado, por assim dizer, en passant, contêm um profundo significado (cf. Mc 9,38-41). É o fato de que um tal, que não era sequaz de Jesus, havia expulsado demônios em seu nome. O apóstolo João, jovem e zeloso, queria impedir-lo, mas Jesus não o permite, pelo contrário, aproveita a oportunidade para ensinar a seus discípulos que Deus pode realizar coisas boas e até prodigiosas mesmo fora de seu círculo, e que é possível cooperar com a causa do Reino de Deus de várias maneiras, até mesmo oferecendo um copo de água a um missionário (v. 41).

Santo Agostinho escreve a respeito: “Assim como na Católica – ou seja, na Igreja – é possível encontrar algo não católico, assim também fora da Igreja Católica pode haver algo de católico” (Agostinho, Sobre o batismo contra os donatistas: PL 43, VII, 39 , 77). Portanto, os membros da Igreja não devem sentir ciúme, mas sentir alegria se alguém fora da comunidade faz o bem em nome de Cristo, desde que seja feito com retidão de intenção e com respeito. Inclusive dentro da própria Igreja, pode existir, às vezes, dificuldade de valorizar e apreciar, em espírito de comunhão profunda, as coisas boas feitas por várias realidades eclesiais. Em vez disso, devemos ser sempre capazes de nos apreciar e nos estimar mutuamente, louvando ao Senhor pela infinita ‘fantasia’ com a qual atua na Igreja e no mundo.

Na liturgia de hoje ressoa também o ataque do apóstolo Tiago contra os ricos desonestos, que põem sua confiança nas riquezas acumuladas pela força da opressão (cf. Tiago 5,1-6). A este respeito, Cesário de Arles, afirma em discurso: “A riqueza não pode fazer mal a um homem bom, porque a doa com misericórdia, assim como não pode ajudar um homem mau, enquanto a conserva com avidez ou a desperdiça na dissipação “(Sermão 35, 4). As palavras do apóstolo Tiago, enquanto nos advertem da inútil busca por bens materiais, constituem um poderoso chamado a usá-los na perspectiva da solidariedade e do bem comum, agindo sempre com justiça e moralidade, em todos os níveis.

Caros amigos, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, rezemos para que saibamos alegrarmo-nos por cada gesto e iniciativa de bem, sem inveja ou ciúme, e usar sabiamente os bens terrenos na busca contínua dos bens eternos.

(Apelo)

Acompanho  com afeto e preocupação as vicissitudes da população do Leste da Republica Democrática do Congo, objeto, nestes dias, de atenção também da parte duma reunião de alto nível nas Nações Unidas. Estou particularmente próximo dos refugiados, das mulheres e crianças, que por causa de persistentes confrontos armados são submetidos a sofrimentos, violências e profundo mal-estar. Invoco Deus, a fim de que se encontrem vias pacíficas de diálogo e de proteção de tantos inocentes e a fim de que a paz retorne logo, fundada na justiça, e seja retomada a convivência fraterna daquela população tão provada, assim como em toda aquela Região.

(Trad.:MEM)

A lógica de Deus é sempre outra com relação à nossa

Palavras do Papa durante a oração do Angelus

CASTEL GANDOLFO, domingo, 23 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir as palavras que o Santo Padre Bento XVI dirigiu hoje aos fiéis reunidos em Castel Gandolfo na oração do tradicional Ângelus.

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Queridos irmãos e irmãs!

No nosso caminho pelo Evangelho de Marcos, domingo passado, entramos na segunda parte, ou seja, na última viagem para Jerusalém e para o climax da missão de Jesus. Depois de que Pedro, em nome dos discípulos, professou a fé Nele reconhecendo-o como o Messias (cfr. Mc 8, 29), Jesus começou a falar abertamente sobre o que lhe acontecerá no final. O Evangelista narra três sucessivas predições da morte e ressurreição, nos capítulos 8, 9 e 10: nesses Jesus anuncia de modo cada vez mais claro o destino que o aguarda e a sua intrínseca necessidade. A passagem desse domingo contêm o segundo destes anúncios. Jesus diz: “O Filho do homem – expressão com a qual se auto denomina – será entregue nas mãos dos homens e o matarão; mas, uma vez morto, depois de três dias ressuscitará” (Marcos 9, 31). Os discípulos “porém não entendiam estas palavras e tinham medo de interrogá-lo” (v. 32).

Na verdade, lendo esta parte da narração de Marcos, fica evidente que entre Jesus e os discípulos há uma profunda distância interior; encontram-se, por assim dizer, em dois patamares diversos, de tal forma que os discursos do Mestre não são compreendidos, ou o são somente superficialmente. O apóstolo Pedro, logo após ter manifestado a sua fé em Jesus, se permite corrigi-lo porque tinha previsto a rejeição e a morte. Depois do segundo anúncio da paixão, os discípulos começam a discutir entre eles quem era o maior (cfr. Mc 9, 34); e depois do terceiro, Tiago e João pedem a Jesus para poder sentar à sua direita e à sua esquerda, quando estiver na glória (cfr. Mc 10, 35-40). Mas existem vários outros sinais desta distância: por exemplo, os discípulos não conseguem curar um menino epiléptico, que em seguida, Jesus cura com o poder da oração (cf. Mc 9,14-29); ou quando apresentam para Jesus crianças, os discípulos as censuram, e Jesus ao contrário, indignado, diz para eles permanecerem e afirma que somente quem é como eles pode entrar no Reino de Deus (cfr. Mc 10,13-16).

O que tudo isso nos diz? Nos lembra que a lógica de Deus é sempre “outra” com relação à nossa, como revelou Deus mesmo por boca do profeta Isaías: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, /os vossos caminhos não são os meus caminhos” (Is 55, 8). Por isso, seguir o Senhor requer sempre do homem uma profunda conversão, uma mudança no modo de pensar e de viver, requer abrir o coração à escuta para deixar-se iluminar e transformar interiormente. Um ponto-chave em que Deus e o homem se diferenciam é o orgulho: em Deus não há orgulho, porque Ele é total plenitude e é completamente voltado para amar e doar a vida; em nós homens, no entanto, o orgulho está profundamente enraizado e requer constante vigilância e purificação. Nós, que somos pequenos, desejamos ser grandes, ser os primeiros, enquanto que Deus não teme abaixar-se e fazer-se o último. A Virgem Maria está perfeitamente “sintonizada” com Deus: invoquemo-la com confiança, para que nos ensine a seguir fielmente a Jesus no caminho do amor e da humildade.

[Trad. TS]

A falsidade é a marca do diabo

Angelus de Bento XVI em Castel Gandolfo

CASTEL GANDOLFO, domingo, 26 de agosto de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos as palavras de Bento XVI aos fiéis e peregrinos reunidos diante de sua residência de férias a Castel Gandolfo para a tradicional oração do Angelus.

Nos domingos anteriores meditamos o discurso sobre o “pão da vida” que Jesus pronunciou na sinagoga de Cafarnaum, depois de alimentar milhares de pessoas com cinco pães e dois peixes. Hoje, o Evangelho apresenta a reação dos discípulos àquele discurso, uma reação que foi o próprio Cristo, consciente, a provocar. Antes de tudo, o evangelista João – que esteve presente, juntamente com os outros Apóstolos – diz que “A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele.” (João 6, 66). Por quê? Porque não acreditaram nas palavras de Jesus, quando disse: Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. (cf. João 6,51-54); palavras realmente difíceis de aceitar neste momento, de compreender. Essa revelação – como disse – continuava incompreensível para eles, porque a entenderam no sentido material, enquanto essas palavras preanunciavam o mistério pascal de Jesus,em que Eledaria a si mesmo pela salvação do mundo: a nova presença na Santa Eucaristia.

Vendo que muitos dos seus discípulos se retiravam, Jesus disse aos Apóstolos: “Também vós quereis ir embora?” (João 6, 67). Como em outros casos, é Pedro, quem responde em nome dos Doze: “Senhor, a quem iríamos nós? – Também nós podemos refletir: a quem iremos? – Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus “(João 6, 68-69). Sobre esta passagem, temos um belo comentário de Santo Agostinho, que diz, em seu sermão sobre João 6: “Vejam como Pedro, pela graça de Deus, a inspiração do Espírito Santo, compreende? Por que compreendeu? Porque acreditou. Tu tens palavras de vida eterna. Tu nos dás a vida eterna, oferecendo o teu corpo [ressuscitado] e o teu sangue [Tu mesmo]. E nós acreditamos e conhecemos. Não diz: conhecemos e depois acreditamos, mas acreditamos e depois conhecemos. Acreditamos para poder conhecer, se com efeito, quiséssemos conhecer antes de acreditar, não seríamos capazes nem de conhecer e nem acreditar. O que acreditamos e o que conhecemos? Que Tu és Cristo Filho de Deus, isto é que Tu és a vida eterna e através da tua carne e do teu sangue nos dás aquilo que tu próprio és.”(Comentário ao Evangelho de João, 27, 9). Assim disse Santo Agostinho, em um sermão para seus fiéis.

Enfim, Jesus sabia que, entre os doze Apóstolos havia um que não acreditava: Judas. Ele poderia ter ido embora, como fizeram os outros discípulos, ou melhor, deveria ter ido embora, se tivesse sido honesto. Ao invés, ele permaneceu com Jesus. Permaneceu não por causa da fé, nem por amor, mas com a intenção secreta de se vingar do Mestre. Por quê? Porque Judas se sentia traído por Jesus, e decidiu que, por sua vez, iria traí-lo. Judas era um zelota, e queria um Messias vencedor, para guiar uma revolta contra os romanos. Jesus tinha decepcionado essas expectativas. O problema é que Judas não foi embora, e a sua culpa mais grave foi a falsidade, que é a marca do diabo. É por isso que Jesus disse aos Doze: “Um de vós é um diabo” (João 6,70). Oremos à Virgem Maria, para que nos ajude a crer em Jesus, como São Pedro, e a serrmos sempre sinceros com Ele e com todos.

(Trad.:MEM)

Jesus não era um Messias como eles queriam

Palavras de Bento XVI ao começar a oração do Ângelus

VATICANO, domingo, 19 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir as palavras que o Santo Padre Bento XVI proferiu hoje na tradicional oração do Angelus.

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Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelho deste domingo (cf. Jo 6, 51-58) é a parte final e principal do discurso feito por Jesus na sinagoga de Cafarnaum, depois de no dia anterior ter alimentado milhares de pessoas com apenas cinco pães e dois peixes. Jesus revela o significado deste milagre, ou seja, que o tempo das promessas foi cumprido: Deus Pai, que com o maná tinha alimentado os israelitas no deserto, agora o enviou, o Filho, como verdadeiro Pão de vida, e este pão é a sua carne, a sua vida, oferecida em sacrifício por nós. Trata-se, portanto, de acolhê-lo com fé, não escandalizando-se da sua humanidade; e trata-se de “comer a sua carne e beber o seu sangue” (cf. Jo 6, 54), para ter em si mesmos a plenitude da vida. É evidente que este discurso não teve a intenção de atrair consensos. Jesus sabe disso e o pronuncia intencionalmente; e de fato aquele foi um momento crítico, uma reviravolta na sua missão pública. As pessoas, e os mesmos discípulos, estavam entusiasmados por Ele quando cumpria sinais prodigiosos; e também a multiplicação dos pães e foi uma clara revelação de que Ele era o Messias, tanto que, logo após, a multidão quis elevar Jesus e fazê-lo rei de Israel. Mas essa não era a vontade de Jesus, que justamente com aquele longo discurso freia os entusiasmos e provoca muitas discordâncias. Ele, de fato, explicando a imagem do pão, diz ter sido enviado a oferecer a sua própria vida, e quem quiser segui-lo deve unir-se a Ele de modo pessoal e profundo, participando do seu sacrifício de amor. É por isso que Jesus vai instituir o Sacramento da Eucaristia: para que os seus discípulos possam ter em si mesmos a sua caridade – isto é crucial – e, como um único corpo unido a ele, estender no mundo o seu mistério de salvação.

Ouvindo este discurso a multidão entendeu que Jesus não era um Messias como eles queriam, que aspirasse a um trono terreno. Ele não buscava aprovação para conquistar Jerusalém; na verdade, queria ir a Cidade Santa para compartilhar a sorte dos profetas: dar a vida por Deus e pelo povo. Aqueles pães, partidos para milhares de pessoas, não queriam provocar uma marcha triunfal, mas antecipar o anúncio do sacrifício da Cruz, no qual Jesus se torna Pão, corpo e sangue oferecidos em expiação. Jesus, então, deu aquele discurso para desiludir as multidões e, acima de tudo, para provocar uma decisão em seus discípulos. De fato, muitos destes, desde então, não o seguiram mais.

Queridos amigos, nos deixemos também surpreender pelas palavras de Cristo: Ele, grão de trigo lançado nos sulcos da história, é a primícia da humanidade nova, livre da corrupção do pecado e da morte. E voltemos a descobrir a beleza do Sacramento da Eucaristia, que expressa toda a humildade e a santidade de Deus: o seu fazer-se pequeno, Deus se faz pequeno, fragmento do universo para reconciliar todos no seu amor. Que a Virgem Maria, que deu ao mundo o Pão da vida, nos ensine a viver sempre em união profunda com Ele.

Trad.TS

Cristo é o alimento que sacia para a vida toda

As palavras de Bento XVI ao recitar o Angelus

CASTEL GANDOLFO, domingo, 12 de agosto de 2012(ZENIT.org)- Apresentamos as palavras de Bento XVI aos presentes no pátio de sua residência em Castel Gandolfo para a tradicional oração do Angelus.

Queridos irmãos e irmãs!

A leitura do 6° capítulo do Evangelho de João, que nos acompanha nestes domingos na Liturgia, nos conduziu a refletir sobre a multiplicação dos pães, com a qual o Senhor matou a fome de uma multidão de cinquenta homens, e sobre o convite que Jesus dirige àqueles que foram saciados a fazer algo por um alimento que permanece pela vida toda. Jesus quer ajudá-los a compreender o significado profundo do prodígio que Ele realizou: no saciar de maneira milagrosa a fome física deles, os dispõe a acolher o anuncio que Ele é o pão descido do céu (cfr. Jô 6,41), que sacia de modo definitivo.

O povo hebreu também, durante o longo caminho no deserto, havia experimentado um pão descido do céu, o maná, que o manteve vivo, até a chegada à terra prometida. Agora, Jesus fala de si como o verdadeiro pão descido do céu, capaz de manter vivo não por um momento ou por um pedaço do caminho, mas para sempre. Ele é o alimento que dá a vida eterna, porque é o Filho unigênito de Deus, que está no seio do Pai, que veio para dar ao homem a vida em plenitude, para introduzir o homem na mesma vida de Deus.

No pensamento judaico era claro que o verdadeiro pão do céu, que nutria Israel era a Lei, a palavra de Deus. O povo de Israel reconhecia claramente que a Torá era o dom fundamental e duradouro de Moisés e que o elemento basilar que o distinguia em relação a outros povos consistia em conhecer a vontade de Deus e, portanto, o caminho certo da vida. Agora, Jesus, ao se manifestar como o pão do céu, testemunha que Ele é a Palavra de Deus em Pessoa, o Verbo encarnado, pelo qual o homem pode fazer a vontade de Deus o seu alimento (cfr. Jo 4, 34), que orienta e apoia a sua existência.

Duvidar então da divindade de Jesus, como fazem os Judeus na passagem evangélica de hoje, significa opor-se à obra de Deus. Estes, de fato, afirmam: é o filho de José! Dele conhecemos o pai e a mãe (cfr. Jo 6,42). Eles não vão além de sua origem terrena, e por isso se negam a acolhê-Lo como Palavra de Deus feita carne. Santo Agostinho, em seu Comentárioao Evangelho de João, explica: “estavam longe daquele pão celeste, e eram incapazes de sentir fome. Tinham a boca do coração doente… De fato, este pão requer a fome do homem interior” (26,1). E devemos nos perguntar se realmente sentimos esta fome, a fome da Palavra de Deus, a fome de conhecer o verdadeiro sentido da vida. Somente quem é atraído por Deus Pai, quem o escuta e se deixa instruir por Ele pode crer em Jesus, encontrá-lo e nutrir-se dele e assim encontrar a verdadeira vida, a estrada da vida, a justiça, a verdade, o amor. Santo Agostinho acrescenta: “o Senhor… afirmou ser o pão descido do céu, exortando-nos a acreditar nele. Comer o pão vivo, de fato, significa acreditar nele. E quem crê, come; de maneira invisível é saciado, como de maneira também invisível renasce (a uma vida mais profunda, mais verdadeira), renasce de dentro, no seu íntimo se torna um homem novo”.(ibidem)

Invocando Maria Santíssima, peçamos para guiar-nos ao encontro com Jesus para que nossa amizade com Ele seja sempre mais intensa, peçamos para introduzir-nos na plena comunhão de amor com o seu Filho, o pão vivo que desceu do céu, para assim sermos por Ele renovados no íntimo do nosso ser.

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

O meu pensamento vai, neste momento, às populações asiáticas, especialmente das Filipinas e da República Popular da China, fortemente atingidas por chuvas violentas, também àqueles do noroeste do Iran, atingidos por um violento terremoto. Estes eventos provocaram numerosas vítimas e feridos, milhares de desabrigados e muitos danos. Convido-os a unirem-se à minha oração pelos que perderam a vida e por todas as pessoas provadas por tão devastadoras calamidades. Não falte a estes irmãos a nossa solidariedade e o nosso apoio.

(Tradução:MEM)

“A fé não é um projeto, mas encontrar a Cristo como pessoa viva”

No Ângelus de hoje, Bento XVI exortou os fiéis a não pararem nas preocupações materiais cotidianas, mas aceitarem os planos de Deus e melhorarem o relacionamento com Ele.

 

CASTEL GANDOLFO, domingo, 5 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Às 12h de hoje o Santo Padre Bento XVI, da varanda pátio interno do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, recitou o Ângelus com os fiéis e peregrinos presentes.

Estas são as palavras do Papa na introdução da oração mariana:

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Queridos irmãos e irmãs,

Na Liturgia da Palavra deste domingo continua a leitura do capítulo 6º do Evangelho de João. Estamos na sinagoga de Cafarnaum, onde Jesus está dando o seu famoso discurso depois da multiplicação dos pães. As pessoas tentaram fazê-lo rei, mas Jesus havia se retirou, primeiro sobre o monte com Deus, com o Pai, e depois em Cafarnaum.

Não vendo-o, começaram a buscá-lo, subiram em barcas para chegar à outra margem do lago e finalmente o encontraram. Mas Jesus sabia bem o motivo de tanto entusiasmo ao segui-lo e também o diz com clareza: vós “me procurais não porque vistes sinais [porque o vosso coração ficou impressionado], mas porque comestes dos pães e ficastes satisfeitos” (v. 26).

Jesus quer ajudar as pessoas a ir além da satisfação imediata das próprias necessidades materiais, também importantes. Quer abrir-lhes um horizonte de existência que não é simplesmente aquele das preocupações cotidianas do comer, do vestir, da carreira. Jesus fala de uma comida que não perece, que é importante buscar e acolher. Ele afirma: “Trabalhem não pela comida que não dura, mas pela comida que permanece para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará” (v. 27).

A multidão não entende, acredita que Jesus pede a observância dos preceitos para poder obter a continuação desse milagre, e pergunta: “O que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” (V. 28). A resposta de Jesus é clara: “Esta é a obra de Deus: que creiais naquele que ele enviou” (v. 29). O centro da existência, o que dá sentido e firme esperança no caminho muitas vezes difícil da vida é a fé em Jesus, o encontro com Cristo. Também nós perguntamos: “O que devemos fazer para herdar a vida eterna?”. E Jesus disse: “acredite em mim.”

A fé é a coisa fundamental. Não se trata aqui de seguir uma idéia, um projeto, mas de encontrar a Jesus como uma Pessoa viva, de deixar-se envolver totalmente por Ele e pelo seu Evangelho. Jesus convida a não parar no horizonte puramente humano e a abrir-se para o horizonte de Deus, para o horizonte da fé. Ele exige uma única obra: acolher o plano de Deus, ou seja, “crer naquele que ele enviou” (v. 29).

Moisés tinha dado a Israel o maná, o pão do céu, com o qual o próprio Deus tinha alimentado o seu povo. Jesus não dá qualquer coisa, dá a Si mesmo: é Ele o “verdadeiro pão que desceu do céu”, Ele, a Palavra Viva do Pai; no encontro com Ele encontramos o Deus vivo.

“O que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” (V. 28) pergunta a multidão, pronta para agir, para que o milagre do pão continue. Mas a Jesus, verdadeiro pão da vida, que satisfaz a nossa fome de sentido, de verdade, não é possível “ganhar” com o trabalho humano; só vem a nós como um dom de Deus, como obra de Deus, que deve ser pedida e acolhida.

Queridos amigos, nos dias carregados de preocupações e de problemas, mas também naqueles de descanso e relaxamento, o Senhor nos convida a não esquecer que, se é necessário preocupar-nos pelo pão material e restaurar as forças, ainda mais fundamental é fazer crescer a relação com Ele, reforçar a nossa fé naquele que é o “pão da vida”, que enche o nosso desejo de verdade e de amor. A Virgem Maria, no dia em que lembramos a dedicação da Basília de Santa Maria Maior, em Roma, nos sustente no nosso caminho de fé.

[Traduzido do Italiano por Thácio Siqueira]

O zelo do amor que é pago pessoalmente

Angelus de Bento XVI no III Domingo da Quaresma

CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 13 de março de 2012 (ZENIT.org) – Apresentamos as palavras do Santo Padre Bento XVI, dirigidas aos fiéis e peregrinos reunidos neste domingo(11), na Praça de São Pedro para a oração do Angelus.

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Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelho deste terceiro domingo da Quaresma faz referência – na redação de São João –  ao célebre episódio no qual Jesus expulsa do templo de Jerusalém os vendedores de animais e comerciantes (Jo 2,13-25). O fato, relatado por todos os Evangelistas, acontece na proximidade da festa da Páscoa e despertou grande impressão seja na multidão, seja nos discípulos. Como devemos interpretar este gesto de Jesus? Antes de tudo, vem notado que isso não provocou nenhuma repressão por parte dos tutores da ordem pública, porque foi vista como uma típica ação profética: os profetas, de fato, em nome de Deus, geralmente denunciavam os abusos, e o faziam às vezes com gestos simbólicos. O problema, era a autoridade deles. Eis porque os judeus pediram a Jesus: “Qual sinal nos mostras ao fazer essas coisas?” (Jo 2,18), demonstre-nos que ages verdadeiramente em nome de Deus.

A expulsão dos vendedores do templo foi também interpretada em sentido político-revolucionário, colocando Jesus na linha do movimento dos zelotas. Este eram, por assim dizer, “zeladores” da lei de Deus e prontos a usar a violência para que ela fosse respeitada. Nos tempos de Jesus, esperava-se um Messias que libertasse Israel do domínio dos Romanos. Mas Jesus desaponta esta expectativa, tanto que alguns discípulos o abandonaram e Judas Iscariotes ainda o traiu. Na realidade, é impossível interpretar Jesus como violento: a violência é contrária ao Reino de Deus, é um instrumento do anticristo. A violência não serve nunca a humanidade, mas a desumaniza.

Escutemos então as palavras que Jesus disse realizando este gesto: “Leveis embora estas coisas e não façais da casa do meu Pai um mercado!”. E os discípulos então se recordaram que está escrito em um Salmo: “Me devora o zelo pela tua casa” (69,10). Este salmo é uma invocação de ajuda em uma situação de extremo perigo por causa do ódio dos inimigos: a situação que Jesus viverá na sua paixão. O zelo pelo Pai e pela sua casa o levará até a cruz: o seu é o zelo do amor que é pago pessoalmente, não aquele que gostaria de servir a Deus mediante a violência. De fato, o “sinal”que Jesus dará como prova da sua autoridade será exatamente aquele da sua morte eressurreição. ” Destruais este templo – disse –  e em três dias eu o farei ressurgir. E São João diz: “Ele falava do templo do seu corpo” (Jo 2,20-21). Com a Páscoa de Jesus inicia um novo culto, o culto do amor, e um novo templo que é Ele mesmo, Cristo ressuscitado, mediante o qual todo fiel pode adorar Deus Pai “em espírito e verdade” (Jo 4,23).

Queridos amigos, o Espírito Santo começou a construir este novo templo no ventre da Virgem Maria. Pela sua intercessão, rezemos para que todo cristão se torne pedra viva deste edifício espiritual.

Angelus de Bento XVI – 11/12/2011

Domingo, 11 de dezembro de 2011, 12h52
Boletim da Santa Sé
Tradução de Nicole Melhado – equipe CN Notícias

Queridos irmãos e irmãs!

Os textos litúrgicos deste período de Advento nos renova ao convite de viver a espera de Jesus, a não parar de esperar para a sua vinda, de modo a manter uma atitude de abertura e vontade de se encontrar com Ele.

A vigília de coração, que o cristão é chamado a exercitar sempre, na vida de todos os dias, caracteriza de modo particular este tempo no qual nos preparamos com alegria para o mistério do Natal (cfr Prefácio do Advento II).

O ambiente exterior propõe mensagens usuais de natureza comercial, mesmo que não tão forte por causa da crise econômica. O cristão é convidado a viver o Advento sem deixar-se distrair pelas luzes, mas sabendo dar o valor correto às coisas, fixando seu olhar interior sob Cristo. Se, de fato, perseveramos “vigiantes na oração e exultantes na glória” (ibid.), os nossos olhos serão capazes de reconhecer Nele a verdadeira luz do mundo, que vem clarear as nossas trevas.

Em particular, a liturgia deste domingo, chamado “Gaudete”, nos convida à alegria, não a uma vigília triste, mas satisfeita. “Gaudete in Domino semper” – escreve São Paulo: “Regozijai-vos sempre no Senhor” (Fil 4,4). A verdadeira alegria não é fruto do divertimento, entendida no sentido etimológico da palavra di-vertir, isto é ir além dos deveres da vida e suas responsabilidades. A verdadeira alegria está ligada a algo mais profundo. Certo, no ritmo cotidiano, muitas vezes frenético, é importante encontrar espaço para um tempo de descanso, para distração, mas a alegria verdadeira está ligada a um relacionamento com Deus. Quem encontrou Cristo na própria vida experimenta no coração uma serenidade e uma alegria que ninguém e nenhuma situação pode tirar.

Santo Agostinho expressou isso muito bem, em sua busca pela verdade, pela paz, pela alegria, depois de ter buscado em vão em muitas coisas, conclui com uma célebre expressão que o coração do homem é inquieto, não encontra serenidade e paz até que repousa em Deus (cfr As Confissões, I,1,1).

A verdadeira alegria não é simplesmente um estado de animo passageiro, nem qualquer coisa que se consegue com os próprios esforços, mas é um dom, nasce do encontro com a pessoa vida de Jesus, ao dar espaço a Ele em nós, ao acolher o Espírito Santo que guia nossa vida. É o convite que faz o apóstolo Paulo, que diz: “o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts 5,23).

Neste tempo de Advento reforcemos a certeza que o Senhor veio em meio a nós e continuamente renova a sua presença de consolação, de amor e de alegria. Tenhamos confiança Nele, como afirma ainda Santo Agostinho, a luz da esperança: o Senhor é mais próximo a nós do que nós somos de nós mesmos – “interior intimo meo et superior summo meo” (As Confissões, III,6,11).

Confiemos o nosso caminho à Virgem Imaculada, no qual o Espírito exultou em Deus Salvador. Seja ela a guiar os nossos corações na espera feliz da vinda de Jesus, na espera rica de oração e de boas obras.