“O nosso tempo exige cristãos fascinados por Cristo”

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 24 de outubro de 2012(ZENIT.org) – Bento XVI prosseguiu com a catequese neste Ano da fé durante a audiência geral desta quarta feira.

Apresentamos o resumo de suas palavras:

Queridos irmãos e irmãs,

O nosso tempo exige cristãos fascinados por Cristo, que não se cansem de crescer na fé, por meio da familiaridade com a Sagrada Escritura e os Sacramentos. A fé não é apenas conhecimento e adesão a algumas verdades divinas; mas também um acto da vontade, pelo qual me entrego livremente a Deus, que é Pai e me ama. Crer é confiar-se, com toda a liberdade e com alegria, ao desígnio providencial de Deus sobre a história, como fez Maria de Nazaré. Nós podemos crer em Deus, porque Ele vem ao nosso encontro e nos toca. Na base do nosso caminho de fé, está o Baptismo, pelo qual nos tornamos filhos de Deus em Cristo e marca a entrada na comunidade de fé, na Igreja. Não se crê sozinho, mas juntamente com os nossos irmãos. Depois do Baptismo, cada cristão é chamado a viver e assumir a profissão da fé, juntamente com seus irmãos. Concluindo, a fé é um assentimento, pelo qual a nossa mente e o nosso coração dizem «sim» a Deus, confessando que Jesus é o Senhor. E este «sim» transforma a vida, tornando-a rica de significado e esperança segura.

* * *

Uma cordial saudação para todos os peregrinos de língua portuguesa, com menção particular dos grupos de diversas paróquias e cidades do Brasil, que aqui vieram movidos pelo desejo de afirmar e consolidar a sua fé e adesão a Cristo: o Senhor vos encha de alegria e o seu Espírito ilumine as decisões da vossa vida para realizardes fielmente o projecto de Deus a vosso respeito. Acompanha-vos a minha oração e a minha Bênção.

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A oração cristã é olhar constantemente e de maneira sempre nova a Cristo

Catequese de Bento XVI na Audiência Geral de quarta- feira

Queridos irmãos e irmãs,

Na última catequese, comecei a falar de uma das fontes privilegiadas de oração cristã: a liturgia sagrada, que – como afirma o Catecismo da Igreja Católica – é “participação na oração de Cristo, dirigida ao Pai no Espírito Santo. Na liturgia, toda oração cristã encontra a sua fonte e o seu termo” (n. 1073). Hoje, eu gostaria que nos perguntássemos: na minha vida, eu reservo espaço suficiente para a oração e, acima de tudo, que lugar na minha relação com Deus ocupa a oração litúrgica, especialmente a Santa Missa, como participação na oração comum do Corpo de Cristo que é a Igreja?

Ao responder a esta questão devemos primeiramente lembrar que a oração é a relação viva dos filhos de Deus com seu Pai que é infinitamente bom, com seu Filho, Jesus Cristo, e com

o Espírito Santo (cf. ibid., 2565). Assim, a vida de oração é o hábito de estar na presença de Deus e ter consciência de viver a relação com Deus como se vive as relações habituais de nossas vidas, com os familiares mais queridos, com amigos de verdade; e de fato, a relação com o Senhor é a que ilumina a todos os nossos outros relacionamentos. Esta comunhão de vida com Deus, Uno e Trino, é possível porque, pelo Batismo fomos introduzidos em Cristo, passamos a ser um com Ele (cf. Rm 6:5).

De fato, somente em Cristo podemos dialogar com Deus Pai como filhos, caso contrário não é possível, mas em comunhão com o Filho também nos podemos dizer como Ele disse: “Abba”. Em comunhão com Cristo, podemos conhecer a Deus como verdadeiro Pai (cf. Mt 11:27). Por isso, a oração cristã é olhar constantemente e de maneira sempre nova a Cristo, conversar com Ele, ficar em silêncio com Ele, ouvi-lo, agir e sofrer com Ele. O cristão descobre sua verdadeira identidade em Cristo, “primogênito de toda  criatura», em quem todas as coisas (cf. Cl 1,15 ss). Identificando-se com Ele, sendo um com Ele, redescubro a minha identidade pessoal, a de verdadeiro filho que vê a Deus como um Pai cheio de amor.

Mas não esqueçamos: Cristo, nos o encontramos, o conhecemos como uma pessoa viva, na Igreja. É o “seu corpo”. Esta corporeidade pode ser entendida a partir das palavras bíblicas sobre o homem e a mulher: os dois serão uma só carne (cf. Gn 2:24; Efésios 5,30 ss; 1 Cor 6,16 s.). O vínculo indissolúvel entre Cristo e a Igreja, através do poder unificador do amor, não anula o “você” e o “eu”, mas eleva-as a sua unidade mais profunda. Encontrar a própria identidade em Cristo significa alcançar uma comunhão com Ele, que não me anula, mas eleva-me a mais alta dignidade, àquela de filho de Deus em Cristo: “a história de amor entre Deus e o homem consiste no fato de que esta comunhão de vontade cresce em comunhão de pensamento e de sentimento e, assim, a nossa vontade e a vontade de Deus coincidem cada vez mais “(Encíclica Deus caritas est, 17). Rezar significa elevar-se à altura de Deus através de uma necessária e gradual transformação do nosso ser.

Assim, participando da liturgia, fazemos nossa a linguagem da mãe Igreja, aprendemos a falar nessa e através dessa. Claro que, como eu já disse, isso acontece gradualmente, pouco a pouco. Devo imergir progressivamente nas palavras da Igreja, com a minha oração, com a minha vida, com o meu sofrimento, com a minha alegria, com o meu pensamento. É um caminho que nos transforma.

Penso que essas reflexões nos permitem responder à pergunta que fizemos no início: como aprendo a rezar, como eu cresço na minha oração? Olhando para o modelo que Jesus nos ensinou, o Pai Nosso, vemos que a primeira palavra é “Pai” e a segunda é “nosso”. A resposta, então, é clara: aprendo a rezar, alimento a minha oração, dirigindo-me a Deus como Pai e rezando com outros, rezando com a Igreja, aceitando o dom de suas palavras, que tornam pouco a pouco familiar e rica de sentido. O diálogo que Deus estabelece com cada um de nós, e nós com Ele, na oração inclui sempre um “com”; não podemos rezar a Deus de maneira  individualista. Na oração litúrgica, especialmente a Eucaristia, e – formados pela liturgia – em cada oração, não falamos apenas como pessoa individualmente, mas entramos no “nós” da Igreja que reza. E precisamos transformar nosso “eu” entrando neste “nós”.

Gostaria de lembrar outro aspecto importante. No Catecismo da Igreja Católica, lemos: “Na liturgia da Nova Aliança, cada ação litúrgica, especialmente a celebração da Eucaristia e dos sacramentos, é um encontro entre Cristo e a Igreja” (n. 1097), por isso, é o “Cristo total”, toda a Comunidade, o Corpo de Cristo unido à sua Cabeça, que celebra. A liturgia é, então, uma espécie de “auto-manifestação” de uma comunidade, mas é a saída de simplesmente “ser para si mesmo”, ser fechado em si mesmo para entrar no grande banquete, na grande comunidade viva, na qual o próprio Deus nos alimenta. A liturgia implica universalidade e esse caráter universal deve entrar novamente no conhecimento de todos. A liturgia cristã é o culto do templo universal que é Cristo Ressuscitado, cujos braços estão estendidos na cruz para atrair todos ao abraço do amor eterno de Deus.  É o culto do céu aberto. Nunca é somente o evento de uma única comunidade, com o seu lugar no tempo e no espaço. É importante que cada cristão sinta-se realmente inserido nesse “nós” universal, que fornece o  fundamento e o refúgio ao “eu”, no Corpo de Cristo que é a Igreja.

Nisto devemos estar cientes e aceitar a lógica da Encarnação de Deus: Ele se fez próximo, presente, entrando na história e natureza humana, tornando-se um de nós. E esta presença continua na Igreja, seu Corpo. A liturgia, então, não é a memória de eventos passados, mas é a presença viva do Mistério Pascal de Cristo que transcende e une todos os tempos e espaços. Se na celebração não emerge a centralidade de Cristo, não temos a liturgia cristã totalmente dependente do Senhor e sustentada pela sua presença criadora. Deus age através de Cristo e  nós não podemos agir a não ser por meio Dele e Nele. Todos os dias deve crescer em nós a convicção de que a liturgia não é o nosso, o meu “fazer”, mas é a ação de Deus em nós e com nós.

Assim, não é o indivíduo – sacerdote ou fiel – ou o grupo que celebra a liturgia, mas é principalmente a ação de Deus através da Igreja, que tem a sua própria história, sua rica tradição e a sua criatividade. Esta universalidade e abertura fundamental, que é característica de toda a liturgia é uma das razões pelas quais não podem ser idealizada ou modificada pela comunidade individual ou por especialistas, mas deve ser fiel às formas da Igreja universal.

Mesmo na liturgia das menores comunidades está sempre presente toda a Igreja. Por esta razão, não há “estrangeiro” na comunidade litúrgica. Em toda celebração litúrgica participa junto toda a Igreja, o céu e a terra, Deus e os homens. A liturgia cristã, mesmo que celebrada em um lugar e um espaço concreto e exprime o “sim” de uma determinada comunidade, é naturalmente Católica, vem do todo e leva ao todo, em união com o Papa, os Bispos, com os fiéis de todos os tempos e lugares. Quanto mais uma celebração é animada por esta consciência, mais frutuosamente nessa se realiza o autentico sentido da liturgia.

Caros amigos, a Igreja torna-se visível de muitas maneiras: na ação caritativa, nos projetos de missão, no apostolado pessoal que cada cristão deve realizar no próprio ambiente. Mas, o lugar no qual a Igreja é experimentada plenamente como Igreja é na liturgia: essa é o ato em que acreditamos que Deus entra em nossa realidade e podemos encontra-Lo, podemos toca-Lo. É o ato no qual entramos em contato com Deus, Ele vem até nós, e nós somos iluminados por Ele. Por isso, quando nas reflexões sobre liturgia nós centramos a nossa atenção somente sobre como torná-la atraente, interessante, bonita, corremos o risco de esquecer o essencial: a liturgia se celebra por Deus e não por nós mesmos; é obra sua; é Ele o sujeito; e nós devemos nos abrir a Ele e nos deixar guiar por Ele e pelo seu Corpo que é a Igreja.

Peçamos ao Senhor para aprendermos a cada dia viver a sagrada liturgia, especialmente a Celebração Eucarística, rezando no “nós” da Igreja, que dirige o olhar não para si, mas para Deus, e nos sintamos parte da Igreja viva de todos os lugares e de todos os tempos. Obrigado.

“Deus pode realizar coisas boas e até prodigiosas mesmo fora de seu círculo”

Palavras de Bento XVI ao recitar o Angelus

CASTEL GANDOLFO, 30 de setembro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos as palavras de Bento XVI dirigidas aos fiéis e peregrinos reunidosem Castel Gandolfopor ocasião da tradicional oração mariana do Angelus.

Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelho deste domingo apresenta um daqueles episódios da vida de Cristo, que, apesar de ser considerado, por assim dizer, en passant, contêm um profundo significado (cf. Mc 9,38-41). É o fato de que um tal, que não era sequaz de Jesus, havia expulsado demônios em seu nome. O apóstolo João, jovem e zeloso, queria impedir-lo, mas Jesus não o permite, pelo contrário, aproveita a oportunidade para ensinar a seus discípulos que Deus pode realizar coisas boas e até prodigiosas mesmo fora de seu círculo, e que é possível cooperar com a causa do Reino de Deus de várias maneiras, até mesmo oferecendo um copo de água a um missionário (v. 41).

Santo Agostinho escreve a respeito: “Assim como na Católica – ou seja, na Igreja – é possível encontrar algo não católico, assim também fora da Igreja Católica pode haver algo de católico” (Agostinho, Sobre o batismo contra os donatistas: PL 43, VII, 39 , 77). Portanto, os membros da Igreja não devem sentir ciúme, mas sentir alegria se alguém fora da comunidade faz o bem em nome de Cristo, desde que seja feito com retidão de intenção e com respeito. Inclusive dentro da própria Igreja, pode existir, às vezes, dificuldade de valorizar e apreciar, em espírito de comunhão profunda, as coisas boas feitas por várias realidades eclesiais. Em vez disso, devemos ser sempre capazes de nos apreciar e nos estimar mutuamente, louvando ao Senhor pela infinita ‘fantasia’ com a qual atua na Igreja e no mundo.

Na liturgia de hoje ressoa também o ataque do apóstolo Tiago contra os ricos desonestos, que põem sua confiança nas riquezas acumuladas pela força da opressão (cf. Tiago 5,1-6). A este respeito, Cesário de Arles, afirma em discurso: “A riqueza não pode fazer mal a um homem bom, porque a doa com misericórdia, assim como não pode ajudar um homem mau, enquanto a conserva com avidez ou a desperdiça na dissipação “(Sermão 35, 4). As palavras do apóstolo Tiago, enquanto nos advertem da inútil busca por bens materiais, constituem um poderoso chamado a usá-los na perspectiva da solidariedade e do bem comum, agindo sempre com justiça e moralidade, em todos os níveis.

Caros amigos, por intercessão da Bem-Aventurada Virgem Maria, rezemos para que saibamos alegrarmo-nos por cada gesto e iniciativa de bem, sem inveja ou ciúme, e usar sabiamente os bens terrenos na busca contínua dos bens eternos.

(Apelo)

Acompanho  com afeto e preocupação as vicissitudes da população do Leste da Republica Democrática do Congo, objeto, nestes dias, de atenção também da parte duma reunião de alto nível nas Nações Unidas. Estou particularmente próximo dos refugiados, das mulheres e crianças, que por causa de persistentes confrontos armados são submetidos a sofrimentos, violências e profundo mal-estar. Invoco Deus, a fim de que se encontrem vias pacíficas de diálogo e de proteção de tantos inocentes e a fim de que a paz retorne logo, fundada na justiça, e seja retomada a convivência fraterna daquela população tão provada, assim como em toda aquela Região.

(Trad.:MEM)

A lógica de Deus é sempre outra com relação à nossa

Palavras do Papa durante a oração do Angelus

CASTEL GANDOLFO, domingo, 23 de setembro de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir as palavras que o Santo Padre Bento XVI dirigiu hoje aos fiéis reunidos em Castel Gandolfo na oração do tradicional Ângelus.

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Queridos irmãos e irmãs!

No nosso caminho pelo Evangelho de Marcos, domingo passado, entramos na segunda parte, ou seja, na última viagem para Jerusalém e para o climax da missão de Jesus. Depois de que Pedro, em nome dos discípulos, professou a fé Nele reconhecendo-o como o Messias (cfr. Mc 8, 29), Jesus começou a falar abertamente sobre o que lhe acontecerá no final. O Evangelista narra três sucessivas predições da morte e ressurreição, nos capítulos 8, 9 e 10: nesses Jesus anuncia de modo cada vez mais claro o destino que o aguarda e a sua intrínseca necessidade. A passagem desse domingo contêm o segundo destes anúncios. Jesus diz: “O Filho do homem – expressão com a qual se auto denomina – será entregue nas mãos dos homens e o matarão; mas, uma vez morto, depois de três dias ressuscitará” (Marcos 9, 31). Os discípulos “porém não entendiam estas palavras e tinham medo de interrogá-lo” (v. 32).

Na verdade, lendo esta parte da narração de Marcos, fica evidente que entre Jesus e os discípulos há uma profunda distância interior; encontram-se, por assim dizer, em dois patamares diversos, de tal forma que os discursos do Mestre não são compreendidos, ou o são somente superficialmente. O apóstolo Pedro, logo após ter manifestado a sua fé em Jesus, se permite corrigi-lo porque tinha previsto a rejeição e a morte. Depois do segundo anúncio da paixão, os discípulos começam a discutir entre eles quem era o maior (cfr. Mc 9, 34); e depois do terceiro, Tiago e João pedem a Jesus para poder sentar à sua direita e à sua esquerda, quando estiver na glória (cfr. Mc 10, 35-40). Mas existem vários outros sinais desta distância: por exemplo, os discípulos não conseguem curar um menino epiléptico, que em seguida, Jesus cura com o poder da oração (cf. Mc 9,14-29); ou quando apresentam para Jesus crianças, os discípulos as censuram, e Jesus ao contrário, indignado, diz para eles permanecerem e afirma que somente quem é como eles pode entrar no Reino de Deus (cfr. Mc 10,13-16).

O que tudo isso nos diz? Nos lembra que a lógica de Deus é sempre “outra” com relação à nossa, como revelou Deus mesmo por boca do profeta Isaías: “Os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, /os vossos caminhos não são os meus caminhos” (Is 55, 8). Por isso, seguir o Senhor requer sempre do homem uma profunda conversão, uma mudança no modo de pensar e de viver, requer abrir o coração à escuta para deixar-se iluminar e transformar interiormente. Um ponto-chave em que Deus e o homem se diferenciam é o orgulho: em Deus não há orgulho, porque Ele é total plenitude e é completamente voltado para amar e doar a vida; em nós homens, no entanto, o orgulho está profundamente enraizado e requer constante vigilância e purificação. Nós, que somos pequenos, desejamos ser grandes, ser os primeiros, enquanto que Deus não teme abaixar-se e fazer-se o último. A Virgem Maria está perfeitamente “sintonizada” com Deus: invoquemo-la com confiança, para que nos ensine a seguir fielmente a Jesus no caminho do amor e da humildade.

[Trad. TS]

A falsidade é a marca do diabo

Angelus de Bento XVI em Castel Gandolfo

CASTEL GANDOLFO, domingo, 26 de agosto de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos as palavras de Bento XVI aos fiéis e peregrinos reunidos diante de sua residência de férias a Castel Gandolfo para a tradicional oração do Angelus.

Nos domingos anteriores meditamos o discurso sobre o “pão da vida” que Jesus pronunciou na sinagoga de Cafarnaum, depois de alimentar milhares de pessoas com cinco pães e dois peixes. Hoje, o Evangelho apresenta a reação dos discípulos àquele discurso, uma reação que foi o próprio Cristo, consciente, a provocar. Antes de tudo, o evangelista João – que esteve presente, juntamente com os outros Apóstolos – diz que “A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele.” (João 6, 66). Por quê? Porque não acreditaram nas palavras de Jesus, quando disse: Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. (cf. João 6,51-54); palavras realmente difíceis de aceitar neste momento, de compreender. Essa revelação – como disse – continuava incompreensível para eles, porque a entenderam no sentido material, enquanto essas palavras preanunciavam o mistério pascal de Jesus,em que Eledaria a si mesmo pela salvação do mundo: a nova presença na Santa Eucaristia.

Vendo que muitos dos seus discípulos se retiravam, Jesus disse aos Apóstolos: “Também vós quereis ir embora?” (João 6, 67). Como em outros casos, é Pedro, quem responde em nome dos Doze: “Senhor, a quem iríamos nós? – Também nós podemos refletir: a quem iremos? – Tu tens as palavras da vida eterna. E nós cremos e sabemos que tu és o Santo de Deus “(João 6, 68-69). Sobre esta passagem, temos um belo comentário de Santo Agostinho, que diz, em seu sermão sobre João 6: “Vejam como Pedro, pela graça de Deus, a inspiração do Espírito Santo, compreende? Por que compreendeu? Porque acreditou. Tu tens palavras de vida eterna. Tu nos dás a vida eterna, oferecendo o teu corpo [ressuscitado] e o teu sangue [Tu mesmo]. E nós acreditamos e conhecemos. Não diz: conhecemos e depois acreditamos, mas acreditamos e depois conhecemos. Acreditamos para poder conhecer, se com efeito, quiséssemos conhecer antes de acreditar, não seríamos capazes nem de conhecer e nem acreditar. O que acreditamos e o que conhecemos? Que Tu és Cristo Filho de Deus, isto é que Tu és a vida eterna e através da tua carne e do teu sangue nos dás aquilo que tu próprio és.”(Comentário ao Evangelho de João, 27, 9). Assim disse Santo Agostinho, em um sermão para seus fiéis.

Enfim, Jesus sabia que, entre os doze Apóstolos havia um que não acreditava: Judas. Ele poderia ter ido embora, como fizeram os outros discípulos, ou melhor, deveria ter ido embora, se tivesse sido honesto. Ao invés, ele permaneceu com Jesus. Permaneceu não por causa da fé, nem por amor, mas com a intenção secreta de se vingar do Mestre. Por quê? Porque Judas se sentia traído por Jesus, e decidiu que, por sua vez, iria traí-lo. Judas era um zelota, e queria um Messias vencedor, para guiar uma revolta contra os romanos. Jesus tinha decepcionado essas expectativas. O problema é que Judas não foi embora, e a sua culpa mais grave foi a falsidade, que é a marca do diabo. É por isso que Jesus disse aos Doze: “Um de vós é um diabo” (João 6,70). Oremos à Virgem Maria, para que nos ajude a crer em Jesus, como São Pedro, e a serrmos sempre sinceros com Ele e com todos.

(Trad.:MEM)

A aparente onipotência do Maligno colide com a verdadeira onipotência de Deus

A catequese de Bento XVI na Audiência Geral desta quarta-feira

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 12 de setembro de 2012(ZENIT.org)-Apresentamos as palavras de Bento XVI na catequese dirigida aos fiéis e peregrinos reunidos nesta manhã, na Sala Paulo VI, para a tradicional Audiência Geral.

Caros irmãos e irmãs,

Quarta-feira passada falei sobre a oração na primeira parte do Apocalipse, hoje passamos para a segunda parte do livro, enquanto na primeira parte, a oração é orientada para o interior da vida eclesial, a atenção da segunda parte é voltada ao mundo inteiro; a Igreja, de fato, caminha na história, é sua parte segundo o projeto de Deus. A assembleia que, escutando a mensagem de João apresentada pelo narrador, redescobriu a própria missão de colaborar com o desenvolvimento do Reino de Deus como “sacerdotes de Deus e de Cristo” (Ap 20,6; cfr 1,5; 5,10), e se abre ao mundo dos homens. E aqui emergem dois modos de viver em uma relação dialética entre eles: o primeiro podemos definir como o “sistema de Cristo”, ao qual a assembleia é feliz de pertencer, e o segundo é o “sistema terrestre anti-Reino e anti-aliança posto em prática pela influência do Maligno”, o qual, enganando o homem, quer implantar um mundo oposto àquele desejado por Cristo e por Deus (cfr Pontifícia Comissão Bíblica, Bíblia e Moral, raízes do agir cristão, 70). A Assembleia deve então saber ler de forma profunda a história que está vivendo, aprendendo a discernir com a fé os acontecimentos para colaborar, com sua ação, para o desenvolvimento do Reino de Deus. E esta obra de leitura e de discernimento, como também de ação, está ligado à oração.

Primeiro, após o apelo insistente de Cristo que, na primeira parte do Apocalipse, sete vezes disse: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz à Igreja” (cfr Ap 2,7.11.17.29; 3,6.13.22), a assembleia é convidada a subir ao céu para assistir à realidade com os olhos de Deus; e aqui encontramos três símbolos, pontos de referência para a leitura da história: o trono de Deus, o Cordeiro e o livro (cfr Ap 4,1 – 5,14).

O primeiro símbolo é o trono, sobre o qual está sentado um personagem que João não descreve, porque supera qualquer representação humana; pode somente sugerir o sentido de beleza e alegria que se prova encontrando-se diante dele. Este personagem misterioso é Deus, Deus onipotente que não permaneceu fechado no seu Céu, mas se fez próximo ao homem, entrando em aliança com ele; Deus que faz sentir na história, de modo misterioso mas real, a sua voz simbolizada por relâmpagos e trovões. Há vários elementos que aparecem ao redor do trono de Deus, como os vinte e quatro anciãos e quatro seres viventes, que constantemente louvam o único Senhor da história.

Primeiro símbolo, o trono. Segundo símbolo é o livro, que contém o plano de Deus sobre os acontecimentos e sobre os homens; é fechado hermeticamente por sete selos e ninguém é capaz de lê-lo. Diante dessa incapacidade do homem de analisar o projeto de Deus, João sente uma tristeza profunda que o leva às lágrimas. Mas há um remédio para a perda do homem diante do mistério da história: alguém é capaz de abrir o livro e de iluminá-lo.

E aqui aparece o terceiro símbolo: Cristo, o Cordeiro imolado no Sacrifício da Cruz, mas que está em pé, sinal da Ressurreição. É o próprio Cordeiro, o Cristo morto e ressuscitado, que progressivamente abre os selos e revela o plano de Deus, o sentido profundo da história.

O que dizem estes símbolos? Eles nos recordam qual é a estrada para saber ler os fatos da história e da nossa própria vida. Olhando para o Céu de Deus, no relacionamento constante com Cristo, abrindo a Ele o nosso coração a nossa mente na oração pessoal e comunitária, nós aprendemos a ver as coisas de um modo novo e a colher o sentido mais verdadeiro. A oração é como uma janela aberta que nos permite ter o olhar voltado para Deus, não somente para nos recordar a meta para a qual nos dirigimos, mas também para deixar que a vontade de Deus ilumine o nosso caminho terrestre e nos ajude a vivê-lo com intensidade e compromisso.

De que modo o Senhor guia a comunidade cristã a uma leitura mais profunda da história? Primeiro convidando-a a considerar com realismo o presente que estamos vivendo. O Cordeiro abre agora os primeiros quatro selos do livro e a Igreja vê o mundo em que está inserida, um mundo em que existem vários elementos negativos. Existem os males que o homem causa, como a violência, que nasce do desejo de possuir, de prevalecer uns sobre os outros, a ponto de se matar (segundo selo); ou a injustiça, porque os homens não respeitam as leis que lhes são dadas (terceiro selo). A estes se unem os males que o homem deve sofrer, como a morte, a fome, a enfermidade (quarto selo).Diante dessa realidade, muitas vezes dramática, a comunidade eclesial é convidada a não perder nunca a esperança, a crer firmemente que a aparente onipotência do Maligno colide com a verdadeira onipotência de Deus. E o primeiro selo que o Cordeiro dissolve contém exatamente esta mensagem. Narra João: “Eu vi: eis um cavalo branco. Com aquele que nele cavalgava tinha um arco; lhe foi dada uma coroa e ele saiu vitorioso para vencer ainda” (Ap 6,2). Na história do homem entrou a força de Deus, que não somente é capaz de equilibrar o mal, mas vencê-lo; a cor branca recorda a Ressurreição: Deus se fez tão próximo descendo na escuridão da morte para iluminá-la com o esplendor de sua vida divina; tomou sobre si o mal do mundo para purificá-lo com o fogo do seu amor.

Como crescer nesta leitura cristã da realidade? O Apocalipse nos diz que a oração alimenta em cada um de nós e nas nossas comunidades esta visão de luz e de profunda esperança: convida-nos a não nos deixarmos vencer pelo mal, mas a vencer o mal com o bem, a olhar para Cristo Crucificado e Ressuscitado que nos associa à sua vitória. A Igreja vive na história, não se fecha em si mesma, mas enfrenta com coragem o seu caminho em meio à dificuldade e ao sofrimento, afirmando com força que o mal em definitivo não vence o bem, a escuridão não ofusca o esplendor de Deus. Este é um ponto importante para nós; como cristãos, jamais podemos ser pessimistas; sabemos bem que no caminho da nossa vida encontramos muita violência, mentira, ódio, perseguição, mas isto não nos desencoraja. Sobretudo, a oração nos educa a ver os sinais de Deus, a sua presença e ação faz sermos nós mesmos luzes do bem, que espalham a esperança e indicam que a vitória é de Deus.

Esta perspectiva leva a elevar a Deus e ao Cordeiro graças e louvores: os vinte e quatro anciãos e os quatro  seres viventes cantam juntos o “canto novo” que celebra a obra de Cristo Cordeiro, o qual faz “novas todas as coisas” (Ap 21, 5). Mas esta renovação é acima de tudo um dom a ser pedido. E aqui encontramos outro elemento que deve caracterizar a oração: invocar ao Senhor com insistência para que o seu Reino venha, que o homem tenha o coração dócil à soberania de Deus, que seja a sua vontade a orientar a nossa vida  e a do mundo. Na visão do Apocalipse esta oração de petição é representada por um particular importante: “os vinte e quatro anciãos” e “os quatro seres viventes” têm em mãos, junto à harpa que acompanha o seu canto, “taças de ouro cheias de incenso” (5,8a) que, como é explicado, “são as orações dos santos” (5,8b), daqueles, isso é, que já alcançaram Deus, mas também de todos nós que nos encontramos no caminho. E vemos que diante do trono de Deus, um anjo tem em mãos um incensário de ouro em que coloca continuamente os grãos de incenso, que são nossas orações, cuja fragrância doce é oferecida junto às orações que  apresentam-se diante de Deus.  (cfr Ap 8,1-4). É um simbolismo que nos diz como todas as nossas orações – com todas as limitações, a fadiga, a pobreza, a aridez, as imperfeições que podem ter – vêm quase purificadas e alcançam o coração de Deus. Devemos ter certeza, ou seja, que não existem orações supérfluas, inúteis; nenhuma é perdida.  E elas são respondidas, mesmo que às vezes de forma misteriosa, porque Deus é amor e misericórdia infinita.O anjo – escreve João – “tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e jogou-o na terra: sendo seguido de trovões, sons, relâmpagos e um terremoto” (Ap 8,5). Esta imagem significa que Deus não é insensível  à nossas súplicas, intervém e faz sentir a sua potencia e a sua voz sobre a terra, faz tremer e perturba o sistema do Maligno. Muitas vezes, diante do mal se tem a sensação de não poder fazer nada, mas é exatamente a nossa oração a primeira resposta e a mais eficaz que podemos dar e que torna mais forte o nosso cotidiano empenho em difundir o bem. A potencia de Deus torna fecunda a nossa fraqueza (cfr Rm 8,26-27).

Gostaria de concluir com algumas palavras sobre diálogo final (cfr Ap 22,6-21). Jesus repete várias vezes: “Eis que venho sem demora” (Ap 22,7.12). Esta afirmação não indica somente a perspectiva futura ao final dos tempos, mas também aquela presente: Jesus vem, coloca sua morada sobre quem acredita Nele e O acolhe. A assembleia, então, guiada pelo Espírito Santo, repete a Jesus o convite a tornar-se cada vez mais perto: “Vem” (Ap 22,17a). É como a ‘noiva’ (22,17) que aspira ardentemente a plenitude do casamento. Pela terceira vez recorre à invocação: “Amém. Vem, Senhor Jesus” (22,20b); e o narrador conclui com uma expressão que manifesta o sentido dessa presença: “A graça do Senhor Jesus esteja com todos” (22,21).

O Apocalipse, mesmo na complexidade de símbolos, nos envolve numa oração muito rica, pela qual também nós escutamos, elogiamos, agradecemos, contemplamos o Senhor, lhe pedimos perdão. A sua estrutura de grande oração litúrgica comunitária é também um forte chamado a redescobrir o encargo extraordinário e o poder transformador que tem a Eucaristia; em particular quero convidar com força a serem fiéis à Santa Missa dominical no Dia do Senhor, o Domingo, verdadeiro centro da semana!A riqueza da oração no Apocalipse nos faz pensar em um diamante, que tem uma fascinante variedade de facetas, mas cuja preciosidade reside na pureza de um único núcleo central. As sugestivas formas de oração que encontramos no Apocalipse fazem brilhar então a preciosidade única e indizível de Jesus Cristo. Obrigado.

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, especialmente os portugueses de Avintes e Alpendurada, bem como os fiéis de Curitiba, acompanhados de seu Bispo, Dom Moacyr Vitti e todos os demais grupos de brasileiros. Lembrai-vos de que a vida de oração do cristão deve ter por centro a Missa dominical. É na Eucaristia que experimentareis como o Senhor Jesus vem e faz morada em quem n’Ele crê e acolhe. E que Deus vos abençoe em todas as vossas necessidades! Ide em paz!

(MEM)

 

Quanto mais e melhor rezarmos, mais nos tornaremos semelhantes a Ele

As palavras de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 05 de setembro de 2012(ZENIT.org)- Apresentamos as palavras do Papa Bento XVI  dirigidas aos fiéis e peregrinos reunidos hoje na Sala Paulo VI para a tradicional Audiência Geral.

Queridos irmãos e irmãs,

Hoje, após as férias, retomamos as audiências no Vaticano, continuando a “escola de oração” que estamos vivendo juntos nas catequeses de quarta-feira.

Hoje gostaria de falar sobre a oração no livro de Apocalipse que, como vocês sabem, é o último do Novo Testamento. É um livro difícil, mas que contém uma grande riqueza. Nos coloca em contato com a oração viva e palpitante da assembléia cristã, reunida “no dia do Senhor” (Apocalipse 1:10), que é, de fato, o pano de fundo no qual se desenvolve o texto.

Um leitor apresenta à assembléia a mensagem confiada pelo Senhor ao evangelista João. O leitor e a assembléia são, por assim dizer, os dois protagonistas no desenvolvimento do livro. Para eles, desde o início, é dirigida uma saudação festiva: “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras da profecia” (1,3). Através do diálogo constante entre eles, brota uma sinfonia de oração, que se desenvolve em uma variedade de formas até a sua conclusão. Ouvindo o leitor que apresenta a mensagem, ouvindo e observando a assembléia que reage, a oração deles tende a se tornar nossa.

A primeira parte do Apocalipse (1,4-3,22) tem, na atitude da assembléia que reza, três fases sucessivas. A primeira (1,4-8) consiste em um diálogo – único caso no Novo Testamento – que ocorre entre a assembléia reunida e o leitor, que lhe dirige uma saudação de bênção: “Graça e paz “(1,4). O leitor destaca a origem dessa saudação: vem da Trindade, do Pai, do Espírito Santo, de Jesus Cristo, juntos envolvidos no levar adiante o projeto de criação e de salvação para a humanidade. A assembléia escuta, e quando escuta nomear Jesus Cristo, há como uma explosão de alegria e responde com entusiasmo, elevando a seguinte oração de louvor: “Àquele que nos ama e nos libertou de nossos pecados com o seu sangue, que fez de nós um reino, sacerdotes para Deus e Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amém” (1,5b-6). A assembléia, envolvida pelo amor de Cristo, se sente libertada da escravidão do pecado e proclama o “Reino” de Jesus Cristo, que pertence totalmente a Ele. Reconhece a grande missão que através do batismo foi confiada a ela, de levar ao mundo a presença de Deus. E conclui essa celebração de louvor olhando de novo diretamente para Jesus e, com crescente entusiasmo, reconhece Nele “a glória e o poder” para salvar a humanidade. O “Amém” final conclui o hino de louvor a Cristo. Já estes primeiros quatro versos contêm uma riqueza de evidências para nós, diz que a nossa oração deve ser, acima de tudo, escutar a Deus que fala. Submersos com tantas palavras, estamos pouco acostumados a ouvir, sobretudo a colocar-nos com disposição interior e exterior em silêncio para estar atentos ao que Deus quer nos dizer. Esses versículos ensinam-nos que a nossa oração, muitas vezes somente de pedidos, deve ser antes de tudo, de louvor a Deus por seu amor, pelo dom de Jesus Cristo, que nos trouxe força, esperança e salvação.

Uma nova intervenção do leitor chama, então, a assembléia, cativada pelo amor de Cristo, ao compromisso de assimilar sua presença na própria vida. Ele diz: Eis que vem com as nuvens e todo olho o verá, até mesmo aqueles que o traspassaram, e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele” (1,7a). Depois de subir ao céu em uma “nuvem”, símbolo de transcendência (cf. Atos 1:9), Jesus Cristo retornará assim como ascendeu ao céu (cf. Atos 1,11b). Então, todos os povos o reconhecerão e, como exorta São João no quarto Evangelho, “olharão para Aquele que transpassaram” (19,37). Pensarão em seus pecados, causa de Sua crucifixão, e como aqueles que haviam testemunhado de forma direta no Calvário “, vão se lamentar” (cf. Lc. 23,48) pedindo perdão a Ele, para segui-Lo na vida e, assim, preparar a plena comunhão com Ele, após o seu retorno final. A assembléia reflete sobre a mensagem e diz: “Sim, Amém.” (Ap 1,7 b). Exprime com o seu “sim” a plena aceitação do que foi comunicado e pede que isso possa se tornar uma realidade. É a oração da assembléia, que medita sobre o amor de Deus manifestado de modo supremo na Cruz e clama por viver com a coerência dos discípulos de Cristo.

E esta é a resposta de Deus: “Eu sou o Alfa e o Ômega, Aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso” (1,8). Deus se revela como o começo e o fim da história, aceita e leva a sério o pedido da assembléia. Ele foi, é e será presente e ativo com o seu amor nas relações humanas, tanto no presente, como no futuro e no passado, até chegar o fim dos tempos. Esta é a promessa de Deus. E aqui encontramos outro elemento importante: a oração constante desperta em nós um senso de presença do Senhor em nossas vidas e na história, uma presença que nos sustenta, nos guia e nos dá grande esperança, mesmo em meio à escuridão de certos acontecimentos humanos; além disso, cada oração, mesmo na solidão radical, nunca é um isolar-se e nunca é estéril, mas é a força vital para a alimentação de uma vida cristã cada vez mais comprometida e coerente.

A segunda fase da oração da assembléia (1,9 a22) aprofunda ainda mais o relacionamento com Jesus Cristo, o Senhor aparece, fala, age, e a comunidade smpre mais próxima a ele, ouve, reage e acolhe. Na mensagem apresentada pelo leitor, São João relata sua experiência pessoal de encontro com Cristo: se encontra na ilha de Patmos, por causa da “palavra de Deus e do testemunho de Jesus” (1,9) e é “o dia do Senhor ”  (1,10a), o domingo, dia em que celebramos a Ressurreição. E São João está “tomado pelo Espírito” (1,10a). O Espírito Santo preenche e renova-o, ampliando sua capacidade de acolher Jesus, que o convida a escrever. A oração da assembléia que escuta, gradualmente assume uma atitude contemplativa motivada pelos verbos “ver”, “olhar”: contempla, tudo o que o leitor propõe, internalizando-o e tornando-o seu.

João ouve “uma voz forte como de trombeta” (1,10b), a voz o ordena a enviar uma mensagem “às sete igrejas” (1,11) que se encontram na Ásia Menor e, por meio disso, a todas as igrejas de todos os tempos, juntamente com seus pastores. O termo “voz… de trombeta”, tirado do livro do Êxodo (cf. 20,18), recorda a manifestação divina a Moisés no Monte Sinai e indica a voz de Deus que fala do céu, da sua transcendência. Aqui é atribuída a Jesus Cristo, o Ressuscitado, que da glória do Pai fala com a voz de Deus à assembléia em oração. Virando-se “para ver a voz” (1,12), João vê “sete candelabros de ouro e em meio a eles, algo semelhante ao Filho do homem” (1,12-13), termo particularmente familiar para João , que indica o próprio Jesus. Os castiçais de ouro com velas acesas, indicam a Igreja de todos os tempos em oração na Liturgia: Jesus ressuscitado, o “Filho do Homem” se encontra em meio a tudo isso, revestido com as vestes do sumo sacerdote do Antigo Testamento, atua como mediador junto ao Pai.

Na mensagem simbólica de João, segue uma manifestação visível de Cristo Ressuscitado, com as características próprias de Deus, citadas no Antigo Testamento. Ele fala de “cabelos brancos como a lã …, branco como a neve” (1,14), símbolo da eternidade de Deus (cf. Dn. 7,9) e da Ressurreição. Um segundo símbolo é o fogo, que no Antigo Testamento muitas vezes refere-se a Deus para indicar duas propriedades.A primeira é a intensidade de seu amor ciumento, que anima a sua aliança com o homem (cf. Deuteronômio 04:24). E é essa intensidade ardente de amor, que lê-se nos olhos de Jesus Ressuscitado: “Seus olhos eram como chama de fogo” (Apocalipse1,14 a). A segunda é a capacidade irrestringível de vencer o mal como um “fogo devorador” (Dt 9:3). Assim também os “pés” de Jesus, no caminho de enfrentar e destruir o mal, tem o brilho do “bronze brilhante” (Ap 1,15). A voz de Jesus Cristo, então, “como a voz de muitas águas” (1,15 c), tem o ruído impressionante “da glória do Deus de Israel”, que segue rumo a Jerusalém, mencionado pelo profeta Ezequiel (cf. 43, 2). Seguem ainda três outros elementos simbólicos que mostram o que Jesus Ressuscitado está fazendo por sua Igreja: a mantém firme em sua mão direita, uma imagem muito importante: Jesus tem a Igreja em sua mão – fala a ela com o poder penetrante de um espada afiada, e revela o esplendor de sua divindade: ” Seu rosto era como o sol que brilha em todo o seu esplendor” (Rev. 1, 16). João fica tão impressionado com esta maravilhosa experiência do Ressuscitado, que se sente fraco e cai como morto.

Depois desta experiência da revelação, o Apóstolo diante do Senhor Jesus que fala com ele, tranquiliza-o, coloca a mão em sua cabeça, revela sua identidade de Crucificado e Ressuscitado, e confia a missão de transmitir a sua mensagem à Igreja (Apocalipse . 1,17-18). Algo belo é esse Deus diante daquele que perde as forças e cai como morto. É o amigo da vida, que coloca Sua mão em nossa cabeça. Assim será também para nós: somos amigos de Jesus. Depois da revelação de Deus Ressuscitado, Cristo Ressuscitado, não haverá temor, mas será o encontro com o amigo. A Assembléia também vive com João o momento especial de luz diante do Senhor, unidos.No entanto, é a experiência do encontro diário com Jesus, experimentando a riqueza do contato com o Senhor, que preenche todo o espaço da existência.

Na terceira e última fase da primeira parte do Apocalipse (AP 2-3), o leitor propõe à assembléia uma mensagemem que Jesusfala na primeira pessoa. Dirigida às sete igrejas da Ásia Menor localizadas ao redor de Éfeso, o discurso de Jesus parte da situação particular de cada igreja, e então se espalha para as igrejas de todos os tempos. Jesus entra na realidade particular de cada igreja, enfatizando luz e sombra, fazendo um apelo urgente: Convertei-vos” (2,5.16; 3,19c). “Guardai o que tens” (3,11), “praticai as primeiras obras” (2,5); “Sejais zelosos, portanto, e vos convertei” (3,19b)… Esta palavra de Jesus, se ouvida com fé, imediatamente passa a ser eficaz: a Igreja em oração, acolhendo a Palavra de Deus se transforma.  Todas as igrejas devem se colocar em uma escuta atenta do Senhor, abrindo-se ao Espírito, como Jesus pede insistentemente, que repetiu este pedido sete vezes: “Aquele que tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (2,7.11.17.29; 3,6.13.22). A assembléia ouve a mensagem recebendo um estímulo para o arrependimento, a conversão, a perseverança no amor, a orientação para o caminho.

Caros amigos, o Apocalipse apresenta uma comunidade reunida em oração, porque a oração é precisamente onde nós experimentamos a presença crescente de Jesus conosco eem nós. Quanto mais e melhor rezarmos com constância e intensidade, mais nos tornaremos semelhantes a Ele, e Ele realmente entrará em nossa vida e guiará, dando-nos alegria e paz. E quanto mais conhecermos, amarmos e seguirmos a Jesus, mais sentiremos a necessidade de parar em oração com Ele, recebendo esperança, serenidade e força em nossas vidas. Obrigado pela atenção.

Bento XVI dirigiu a seguinte saudação em português:

Amados fiéis brasileiros de Nossa Senhora das Dores e de São Bento e São Paulo, a graça e a paz de Jesus Cristo para todos vós e demais peregrinos de língua portuguesa. Quanto mais e melhor souberdes rezar, tanto mais sereis parecidos com o Senhor e Ele entrará verdadeiramente na vossa vida. É na oração que melhor podereis dar conta desta presença de Jesus em vós, recebendo serenidade, esperança e força na vossa vida. Tudo isto vos desejo, com a minha Bênção.

(Tradução:MEM)

Jesus não era um Messias como eles queriam

Palavras de Bento XVI ao começar a oração do Ângelus

VATICANO, domingo, 19 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir as palavras que o Santo Padre Bento XVI proferiu hoje na tradicional oração do Angelus.

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Queridos irmãos e irmãs!

O Evangelho deste domingo (cf. Jo 6, 51-58) é a parte final e principal do discurso feito por Jesus na sinagoga de Cafarnaum, depois de no dia anterior ter alimentado milhares de pessoas com apenas cinco pães e dois peixes. Jesus revela o significado deste milagre, ou seja, que o tempo das promessas foi cumprido: Deus Pai, que com o maná tinha alimentado os israelitas no deserto, agora o enviou, o Filho, como verdadeiro Pão de vida, e este pão é a sua carne, a sua vida, oferecida em sacrifício por nós. Trata-se, portanto, de acolhê-lo com fé, não escandalizando-se da sua humanidade; e trata-se de “comer a sua carne e beber o seu sangue” (cf. Jo 6, 54), para ter em si mesmos a plenitude da vida. É evidente que este discurso não teve a intenção de atrair consensos. Jesus sabe disso e o pronuncia intencionalmente; e de fato aquele foi um momento crítico, uma reviravolta na sua missão pública. As pessoas, e os mesmos discípulos, estavam entusiasmados por Ele quando cumpria sinais prodigiosos; e também a multiplicação dos pães e foi uma clara revelação de que Ele era o Messias, tanto que, logo após, a multidão quis elevar Jesus e fazê-lo rei de Israel. Mas essa não era a vontade de Jesus, que justamente com aquele longo discurso freia os entusiasmos e provoca muitas discordâncias. Ele, de fato, explicando a imagem do pão, diz ter sido enviado a oferecer a sua própria vida, e quem quiser segui-lo deve unir-se a Ele de modo pessoal e profundo, participando do seu sacrifício de amor. É por isso que Jesus vai instituir o Sacramento da Eucaristia: para que os seus discípulos possam ter em si mesmos a sua caridade – isto é crucial – e, como um único corpo unido a ele, estender no mundo o seu mistério de salvação.

Ouvindo este discurso a multidão entendeu que Jesus não era um Messias como eles queriam, que aspirasse a um trono terreno. Ele não buscava aprovação para conquistar Jerusalém; na verdade, queria ir a Cidade Santa para compartilhar a sorte dos profetas: dar a vida por Deus e pelo povo. Aqueles pães, partidos para milhares de pessoas, não queriam provocar uma marcha triunfal, mas antecipar o anúncio do sacrifício da Cruz, no qual Jesus se torna Pão, corpo e sangue oferecidos em expiação. Jesus, então, deu aquele discurso para desiludir as multidões e, acima de tudo, para provocar uma decisão em seus discípulos. De fato, muitos destes, desde então, não o seguiram mais.

Queridos amigos, nos deixemos também surpreender pelas palavras de Cristo: Ele, grão de trigo lançado nos sulcos da história, é a primícia da humanidade nova, livre da corrupção do pecado e da morte. E voltemos a descobrir a beleza do Sacramento da Eucaristia, que expressa toda a humildade e a santidade de Deus: o seu fazer-se pequeno, Deus se faz pequeno, fragmento do universo para reconciliar todos no seu amor. Que a Virgem Maria, que deu ao mundo o Pão da vida, nos ensine a viver sempre em união profunda com Ele.

Trad.TS

Cristo é o alimento que sacia para a vida toda

As palavras de Bento XVI ao recitar o Angelus

CASTEL GANDOLFO, domingo, 12 de agosto de 2012(ZENIT.org)- Apresentamos as palavras de Bento XVI aos presentes no pátio de sua residência em Castel Gandolfo para a tradicional oração do Angelus.

Queridos irmãos e irmãs!

A leitura do 6° capítulo do Evangelho de João, que nos acompanha nestes domingos na Liturgia, nos conduziu a refletir sobre a multiplicação dos pães, com a qual o Senhor matou a fome de uma multidão de cinquenta homens, e sobre o convite que Jesus dirige àqueles que foram saciados a fazer algo por um alimento que permanece pela vida toda. Jesus quer ajudá-los a compreender o significado profundo do prodígio que Ele realizou: no saciar de maneira milagrosa a fome física deles, os dispõe a acolher o anuncio que Ele é o pão descido do céu (cfr. Jô 6,41), que sacia de modo definitivo.

O povo hebreu também, durante o longo caminho no deserto, havia experimentado um pão descido do céu, o maná, que o manteve vivo, até a chegada à terra prometida. Agora, Jesus fala de si como o verdadeiro pão descido do céu, capaz de manter vivo não por um momento ou por um pedaço do caminho, mas para sempre. Ele é o alimento que dá a vida eterna, porque é o Filho unigênito de Deus, que está no seio do Pai, que veio para dar ao homem a vida em plenitude, para introduzir o homem na mesma vida de Deus.

No pensamento judaico era claro que o verdadeiro pão do céu, que nutria Israel era a Lei, a palavra de Deus. O povo de Israel reconhecia claramente que a Torá era o dom fundamental e duradouro de Moisés e que o elemento basilar que o distinguia em relação a outros povos consistia em conhecer a vontade de Deus e, portanto, o caminho certo da vida. Agora, Jesus, ao se manifestar como o pão do céu, testemunha que Ele é a Palavra de Deus em Pessoa, o Verbo encarnado, pelo qual o homem pode fazer a vontade de Deus o seu alimento (cfr. Jo 4, 34), que orienta e apoia a sua existência.

Duvidar então da divindade de Jesus, como fazem os Judeus na passagem evangélica de hoje, significa opor-se à obra de Deus. Estes, de fato, afirmam: é o filho de José! Dele conhecemos o pai e a mãe (cfr. Jo 6,42). Eles não vão além de sua origem terrena, e por isso se negam a acolhê-Lo como Palavra de Deus feita carne. Santo Agostinho, em seu Comentárioao Evangelho de João, explica: “estavam longe daquele pão celeste, e eram incapazes de sentir fome. Tinham a boca do coração doente… De fato, este pão requer a fome do homem interior” (26,1). E devemos nos perguntar se realmente sentimos esta fome, a fome da Palavra de Deus, a fome de conhecer o verdadeiro sentido da vida. Somente quem é atraído por Deus Pai, quem o escuta e se deixa instruir por Ele pode crer em Jesus, encontrá-lo e nutrir-se dele e assim encontrar a verdadeira vida, a estrada da vida, a justiça, a verdade, o amor. Santo Agostinho acrescenta: “o Senhor… afirmou ser o pão descido do céu, exortando-nos a acreditar nele. Comer o pão vivo, de fato, significa acreditar nele. E quem crê, come; de maneira invisível é saciado, como de maneira também invisível renasce (a uma vida mais profunda, mais verdadeira), renasce de dentro, no seu íntimo se torna um homem novo”.(ibidem)

Invocando Maria Santíssima, peçamos para guiar-nos ao encontro com Jesus para que nossa amizade com Ele seja sempre mais intensa, peçamos para introduzir-nos na plena comunhão de amor com o seu Filho, o pão vivo que desceu do céu, para assim sermos por Ele renovados no íntimo do nosso ser.

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

O meu pensamento vai, neste momento, às populações asiáticas, especialmente das Filipinas e da República Popular da China, fortemente atingidas por chuvas violentas, também àqueles do noroeste do Iran, atingidos por um violento terremoto. Estes eventos provocaram numerosas vítimas e feridos, milhares de desabrigados e muitos danos. Convido-os a unirem-se à minha oração pelos que perderam a vida e por todas as pessoas provadas por tão devastadoras calamidades. Não falte a estes irmãos a nossa solidariedade e o nosso apoio.

(Tradução:MEM)

“A fé não é um projeto, mas encontrar a Cristo como pessoa viva”

No Ângelus de hoje, Bento XVI exortou os fiéis a não pararem nas preocupações materiais cotidianas, mas aceitarem os planos de Deus e melhorarem o relacionamento com Ele.

 

CASTEL GANDOLFO, domingo, 5 de agosto de 2012 (ZENIT.org) – Às 12h de hoje o Santo Padre Bento XVI, da varanda pátio interno do Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, recitou o Ângelus com os fiéis e peregrinos presentes.

Estas são as palavras do Papa na introdução da oração mariana:

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Queridos irmãos e irmãs,

Na Liturgia da Palavra deste domingo continua a leitura do capítulo 6º do Evangelho de João. Estamos na sinagoga de Cafarnaum, onde Jesus está dando o seu famoso discurso depois da multiplicação dos pães. As pessoas tentaram fazê-lo rei, mas Jesus havia se retirou, primeiro sobre o monte com Deus, com o Pai, e depois em Cafarnaum.

Não vendo-o, começaram a buscá-lo, subiram em barcas para chegar à outra margem do lago e finalmente o encontraram. Mas Jesus sabia bem o motivo de tanto entusiasmo ao segui-lo e também o diz com clareza: vós “me procurais não porque vistes sinais [porque o vosso coração ficou impressionado], mas porque comestes dos pães e ficastes satisfeitos” (v. 26).

Jesus quer ajudar as pessoas a ir além da satisfação imediata das próprias necessidades materiais, também importantes. Quer abrir-lhes um horizonte de existência que não é simplesmente aquele das preocupações cotidianas do comer, do vestir, da carreira. Jesus fala de uma comida que não perece, que é importante buscar e acolher. Ele afirma: “Trabalhem não pela comida que não dura, mas pela comida que permanece para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará” (v. 27).

A multidão não entende, acredita que Jesus pede a observância dos preceitos para poder obter a continuação desse milagre, e pergunta: “O que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” (V. 28). A resposta de Jesus é clara: “Esta é a obra de Deus: que creiais naquele que ele enviou” (v. 29). O centro da existência, o que dá sentido e firme esperança no caminho muitas vezes difícil da vida é a fé em Jesus, o encontro com Cristo. Também nós perguntamos: “O que devemos fazer para herdar a vida eterna?”. E Jesus disse: “acredite em mim.”

A fé é a coisa fundamental. Não se trata aqui de seguir uma idéia, um projeto, mas de encontrar a Jesus como uma Pessoa viva, de deixar-se envolver totalmente por Ele e pelo seu Evangelho. Jesus convida a não parar no horizonte puramente humano e a abrir-se para o horizonte de Deus, para o horizonte da fé. Ele exige uma única obra: acolher o plano de Deus, ou seja, “crer naquele que ele enviou” (v. 29).

Moisés tinha dado a Israel o maná, o pão do céu, com o qual o próprio Deus tinha alimentado o seu povo. Jesus não dá qualquer coisa, dá a Si mesmo: é Ele o “verdadeiro pão que desceu do céu”, Ele, a Palavra Viva do Pai; no encontro com Ele encontramos o Deus vivo.

“O que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” (V. 28) pergunta a multidão, pronta para agir, para que o milagre do pão continue. Mas a Jesus, verdadeiro pão da vida, que satisfaz a nossa fome de sentido, de verdade, não é possível “ganhar” com o trabalho humano; só vem a nós como um dom de Deus, como obra de Deus, que deve ser pedida e acolhida.

Queridos amigos, nos dias carregados de preocupações e de problemas, mas também naqueles de descanso e relaxamento, o Senhor nos convida a não esquecer que, se é necessário preocupar-nos pelo pão material e restaurar as forças, ainda mais fundamental é fazer crescer a relação com Ele, reforçar a nossa fé naquele que é o “pão da vida”, que enche o nosso desejo de verdade e de amor. A Virgem Maria, no dia em que lembramos a dedicação da Basília de Santa Maria Maior, em Roma, nos sustente no nosso caminho de fé.

[Traduzido do Italiano por Thácio Siqueira]