O papa exorta os sacerdotes a pedirem a “graça” de uma “paternidade espiritual”
Por Salvatore Cernuzio
ROMA, 26 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Os padres, mesmo celibatários, também devem ser “pais”. Não é uma proposta de mudança aventada pelo progressista de plantão, mas a mensagem do papa Francisco na missa de hoje, na Casa Santa Marta. A “paternidade” mencionada por Bergoglio não é “física”, e sim a paternidade espiritual dos padres no tocante às pessoas confiadas a eles. Uma “graça especial”, que só em alguns casos nosso Senhor concede.
O convite de hoje está ligado ao convite similar que o papa fez às oitocentas irmãs da União Internacional das Superioras Gerais, recebidas em audiência no dia 9 de maio na Sala Paulo VI, a ser “mães fecundas”. Sentir-se “pai” de um ser humano significa dar a vida por outro, explicou Bergoglio, e, nos torna semelhantes a Jesus Cristo, que morreu e ressuscitou por nós, pelos outros.
O “desejo de ser pai”, disse o papa, está inscrito “nas fibras mais profundas do homem”. Inclusive do padre, que orienta e vive esse desejo, mas de forma espiritual. “Quando um homem não tem esse desejo”, prosseguiu o pontífice, “algo falta nele”. Todos nós, para “ser completos, maduros, precisamos sentir a alegria da paternidade: também nós, celibatários”. Porque “a paternidade é dar a vida aos outros, dar vida, dar vida… Para nós, é a paternidade pastoral, a paternidade espiritual; mas é dar vida, é tornar-nos pais”.
A reflexão do papa foi sugerida pela passagem de hoje do Gênesis, em que Deus promete a Abraão a alegria de um filho e de uma descendência infinita, apesar da sua idade avançada. Abraão sacrifica então alguns animais, de acordo com as instruções de Deus, para selar o pacto, e, depois, defende o seu holocausto do ataque de aves de rapina. Uma cena comovente, na opinião do papa, porque “olhar para aquele nonagenário, com seu bastão”, defendendo o seu sacrifício, “me faz pensar num pai que defende a família, os filhos”.
Ser pai segundo a paternidade “espiritual” é “uma bênção” que todo sacerdote deve pedir, disse o pontífice. “Pecados nós temos muitos, mas isso é commune sanctorum: todos nós temos pecados. Mas não ter filhos, não ser pai, é como se a vida não chegasse ao fim. Ela para no meio do caminho”. Os próprios fieis, observou Bergolio, querem ver isso no padre: “As pessoas nos chamam de padre, de pai… Temos que ser pais pela graça da paternidade pastoral”.
“Demos graças a Deus por essa bênção da paternidade na Igreja, que passa de pai para filho”, continuou o papa. Nisto, é de exemplo a dupla imagem de “Abraão que pede um filho” e de “Abraão que defende a família”. Temos também “a imagem do velho Simeão no templo, que, quando recebe a vida nova, faz uma liturgia espontânea, a liturgia da alegria”.
Certamente não é coincidência, mas as palavras de hoje do papa Francisco “caíram como uma luva” para o público presente na capela da Casa Santa Marta: talvez, pela primeira vez nestes três meses, composto exclusivamente por prelados e sacerdotes.
Eles acompanhavam o cardeal Salvatore De Giorgi, arcebispo emérito de Palermo, que hoje celebrava o seu 60º aniversário de ordenação sacerdotal.
O papa Francisco recordou o aniversário na homilia, dirigindo ao cardeal palavras afetuosas e cheias de estima pelo “marco” alcançado. “Eu não sei o que foi que fez o nosso querido Salvador”, disse o pontífice, mas “tenho certeza de que ele foi ‘pai’. Este é um sinal”, acrescentou, pedindo à multidão de religiosos que o acompanhavam a seguir o seu exemplo. “Agora é com vocês”, incitou Bergoglio, simpaticamente: cada árvore “dá o fruto de si mesma, e, se a árvore é boa, o fruto deve ser bom, certo?”. E concluiu: “Não façam feio!”.