É preciso deixar-se amar por Deus

Meditação do papa na festa do Sagrado Coração de Jesus

CIDADE DO VATICANO, 07 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Deixar-se amar por Deus com ternura é difícil, mas é a graça que temos que pedir dele. Este foi o convite do papa Francisco na missa desta manhã na Casa Santa Marta.

Concelebrou com ele o bibliotecário da Santa Igreja Romana, dom Jean-Louis Bruguès, e o pe. Sergio Pagano. Assistiu à missa parte do pessoal do Arquivo Secreto Vaticano.

“Jesus nos amou muito, não com palavras, mas com fatos e com a vida”, repetiu várias vezes o papa na homilia de hoje, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que ele chama de “festa do amor”, de um “coração que amou muito”. Um amor que, como repetia Santo Inácio, “se manifesta mais nas obras do que nas palavras” e que é especialmente “mais um dar-se do que um receber”.

Bases do amor de Deus

“Estes dois critérios”, destacou o papa, “são os pilares do amor verdadeiro”, e é o Bom Pastor quem representa todo o amor de Deus. Ele conhece as suas ovelhas uma por uma, “porque o amor não é abstrato nem geral: é o amor por cada um”.

“Um Deus que se torna próximo por amor, que caminha com o seu povo, e esse caminhar chega a um ponto inimaginável. Nunca podemos imaginar que o próprio Deus se torna um de nós e caminha conosco, fica conosco, permanece na sua Igreja, continua presente na Eucaristia, continua na sua Palavra, permanece nos pobres, fica conosco para caminhar! E isto é estar perto: é o pastor perto do seu rebanho, das suas ovelhas, que ele conhece uma por uma”.

Explicando uma passagem do livro do profeta Ezequiel, Francisco ressalta outro aspecto do amor de Deus: o cuidado da ovelha perdida e da ovelha ferida e doente:

“A ternura! Deus nos ama ternamente! Nosso Senhor conhece aquela linda ciência das carícias, aquela ternura de Deus. Não se ama com as palavras. Ele se aproxima, chega perto, e nos dá aquele amor com ternura. Proximidade e ternura! Esses dois estilos de Deus que se torna próximo e que dá todo o seu amor inclusive nas menores coisas: com a ternura. E é um amor forte, porque a proximidade e a ternura nos fazem ver a fortaleza do amor de Deus”.

Chamados a amar

“Mas vocês amam como eu os amei?”, foi a pergunta que o papa destacou, reforçando que o amor deve “ser próximo”, deve ser “como o do bom samaritano” e, em particular, ter “o sinal da proximidade e da ternura”. Mas como devolver todo esse amor a Deus? Este foi o outro ponto em que Francisco se concentrou: “amando-o”, ficando “perto dele”, sendo “ternos com Ele”. Mas isto não é suficiente:

“Pode parecer uma heresia, mas é a maior das verdades! Mais difícil do que amar a Deus é deixar-se amar por Ele! A maneira de devolver tanto amor é abrir o coração e deixar-se amar. Deixar que Ele venha até nós e senti-lo perto. Permitir que ele seja terno, que ele nos acaricie. Isso é muito difícil: deixar-se amar por Ele. E é isto o que talvez devamos pedir hoje na missa: Senhor, eu quero te amar, mas me ensina essa difícil ciência, esse difícil hábito de me deixar amar por ti, de te sentir por perto e de sentir a tua ternura! Que o Senhor nos dê esta graça”.

Destruir os ídolos para amar a Deus plenamente

Homilia do Papa Francisco na missa celebrada na capela da Casa Santa Marta

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 06 de Junho de 2013 (Zenit.org) – A missa desta manhã  na capela da Casa Santa Marta foi concelebrada pelo arcebispo de Curitiba, José Vitti; Juan Segura, de Ibiza, Espanha;  Chirayath Anthony, de Sagar, Índia. Participaram alguns funcionários da Biblioteca do Vaticano, acompanhados pelo vice-prefeito Ambrose Paizzoni e um grupo de leigos da Universidade Lateranense junto com o  Vice-Reitor, Mons. Patrick Valdrini.

O Papa, como todos os dias,  apresenta em seu sermão argumentos extraídos do Evangelho da liturgia diária. Refletindo sobre a passagem de Marcos, o Santo Padre falou sobre a figura do escriba que  foi até Jesus e perguntou: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”. A questão aparentemente inocente, de acordo com o Papa, esconde um desejo de “testar” o Messias, se não “fazê-lo cair na armadilha”.

Isso é demonstrado pela resposta de Jesus: “Tu não estás longe do reino de Deus”.  Uma maneira implícita, de acordo com o papa Francisco, com a qual Jesus gostaria de dizer ao escriba: “Você sabe a teoria”, mas “ainda te falta certa distância do Reino de Deus”, isto é, você tem que caminhar para transformar “em realidade esse mandamento”.

“Não basta dizer: “Mas eu acredito em Deus, Deus é o único Deus ‘”, disse o Pontífice. “Tudo bem, mas como você vive isso no caminho da vida? Porque podemos dizer: “O Senhor é o único Deus, não há outro, mas viver como se Ele não fosse o único Deus,  e ainda ter outras divindades à nossa disposição “.

O perigo é a idolatria. Essa “é trazida até nós com o espírito do mundo. E Jesus  foi claro: o espírito do mundo, não! Pede ao Pai que nos defenda do espírito do mundo, na última ceia “, porque” nos leva  à idolatria”.

“A idolatria é sutil”, enfatizou  Bergoglio, insinua-se na alma do homem. Nós também “temos nossos ídolos ocultos”.  “Descobri-los”, procurá-los e “destruí-los”  é a única maneira de avançar e “não estar longe do reino de Deus”.

Deus, então, “pede-nos para afastar os ídolos” que “estão escondidos em nossa personalidade, em nosso modo de viver” e “impedem-nos de amar a Deus”.  

Isso explica por que o apóstolo Tiago, quando diz que quem é amigo do mundo, é inimigo de Deus, começa dizendo: Adúlteros. Nos condena, mas com o adjetivo: Adúlteros ” .Por que, disse Bergoglio, “quem é” amigo “do mundo é um idólatra, não é fiel ao amor de Deus! A estrada para não estar muito longe” e “avançar no Reino de Deus, é uma estrada de fidelidade que se assemelha a do amor conjugal”.

O amor do Senhor, no entanto, é um amor ainda maior, que apesar das “pequenas ou não tão pequenas idolatrias que possuímos”, é impossível não ser fiel. O Santo Padre exortou a rezar nos momentos em que somos invadidos pela fraqueza e não somos capazes de viver a fidelidade total a Deus, pedindo a Jesus: “Senhor, você é tão bom, ensina-me o caminho para estar sempre perto de Deus e afastar sempre todos os ídolos. É difícil, mas temos que começar, porque eles nos tornam inimigos de Deus”. 

 

O Senhor sempre nos dá o que pedimos, mas ao modo divino

Homilia do Papa Francisco na casa Santa Marta

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

BRASíLIA, 29 de Maio de 2013 (Zenit.org) – “O Senhor nos dá a graça, mas ao seu modo divino”, disse o Santo Padre na homilia desta manhã na Casa Santa Marta, na qual estavam presentes funcionários do Governatorado Vaticano.

Lembrando um momento particular da sua vida, o Papa disse que certa vez passava por uma escuridão interior e precisava de uma Graça especial de Deus. Foi pregar exercícios espirituais a umas irmãs e, no último dia, veio uma irmã de 80 anos se confessar, “mas com os olhos claros, luminosos”. Depois da confissão deu-lhe como penitência pedir a Deus a graça que ele estava precisando, porque “se você pedir a Deus, com certeza Ele te dará”, disse à irmã. Ela, depois de um momento de silêncio, falou assim: “Com certeza que Deus te dará a Graça, mas não se engane, te dará essa Graça ao modo divino”.

“Isso me fez tanto bem. Escutar que o Senhor sempre nos dá o que lhe pedimos, mas ao modo divino. E o modo divino é esse até o final. O modo divino envolve a cruz, não por masoquismo: não, não! Por amor. Por amor até o final!”

A liturgia de hoje narra aquela cena de Jesus subindo a Jerusalém com os discípulos e anunciando-lhes a sua paixão, morte e ressurreição. E nesse caminho de fé, os discípulos quiseram ficar na metade do caminho discutindo entre si “como arrumar a Igreja, como arrumar a salvação”. João e Thiago até chegaram a pedir para sentar-se à direita e outro à esquerda, gerando mais discussão sobre quem era mais importante na Igreja. “A tentação dos discípulos – diz o Papa – é a mesma de Jesus no deserto quando o demônio lhe propôs outro caminho”. A tentação de fazer tudo rápido, milagres, até mesmo de ser “um paraquedista sem paraquedas”. É a tentação de Pedro, quando num determinado momento não aceita a paixão de Jesus.

“É a tentação de um cristianismo sem cruz. Um cristianismo à metade do caminho”, que “é a tentação do triunfalismo. Nós queremos o triunfo agora, sem ir à cruz, um triunfo mundano, um triunfo racional”.

“O triunfalismo na Igreja paralisa a Igreja. O triunfalismo nos cristãos paralisa os cristãos. É uma Igreja triunfalista, é uma Igreja à metade do caminho, uma Igreja que é feliz assim, bem organizada – bem organizada! – com todos os escritórios, tudo no lugar, tudo bonito, né? Eficiente. Mas uma Igreja que renega os mártires, porque não sabe que os mártires são necessários para a Igreja pelo caminho de cruz. Uma Igreja que somente pensa nos triunfos, nos sucessos, que não sabe aquela regra de Jesus: a norma do triunfo por meio da derrota, da derrota humana, da derrota da cruz. E essa é uma tentação que todos nós temos”.

Ao término da homilia o Papa fez essa oração:

“Peçamos ao Senhor a graça de não ser uma Igreja à metade do caminho, uma Igreja triunfalista, dos grandes sucessos, mas de ser uma Igreja humilde, que caminha com decisão, como Jesus. Avante, avante, avante. Coração aberto à vontade do Pai, como Jesus. Peçamos essa graça”.

Não ao carreirismo na Igreja

Exortação do Papa Francisco na missa diária celebrada na capela da Casa Santa Marta

ROMA, 28 de Maio de 2013 (Zenit.org) – O ‘anúncio’ de Jesus não é um revestimento, uma pintura, mas entra no coração e nos transforma. Foi o que disse Papa Francisco na missa desta manhã, na Casa Santa Marta. Ele reiterou que seguir Jesus não significa ter mais poder, porque o Seu caminho é o da Cruz. 

Da Missa, concelebrada pelo Monsenhor Rino Fisichella e Monsenhor José Octavio Ruiz Arenas, presidente e secretário do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização, participou um grupo de sacerdotes do mesmo dicastério.

Conforme relatado pela Rádio Vaticano, também participou da missa um grupo de funcionários da central termoelétrica e do laboratório de carpintaria do Governatorato do Vaticano, acompanhado pelo engenheiro Pier Carlo Cuscianna, diretor dos Serviços Técnicos do Governatorato.

Qual será a nossa recompensa por te seguir? O Papa Francisco iniciou sua homilia a partir da pergunta que Pedro faz a Jesus e, afinal, refere-se à vida de cada cristão.E Jesus responde que aqueles que o seguirem terão “muitas coisas boas”, mas sofrerão “perseguição”.O caminho do Senhor, continuou ele, “é um caminho de abaixamento, um caminho que termina na Cruz”.

Por isso, acrescentou, “sempre haverá dificuldades”, “perseguições”. Sempre será porque “Ele fez esse caminho antes” de nós.

“Seguir Jesus sim, mas até um certo ponto; seguir Jesus como uma forma cultural: sou cristão, tenho esta cultura…mas sem a exigência da verdadeira sequela de Jesus, a exigência de ir pelo seu caminho”. “Quem acompanha Jesus como um ‘projeto cultural’, usa esta estrada para subir na vida, para ter mais poder. E a história da Igreja tem muito disso, começando por certos imperadores, governantes… e também alguns – não muitos, mas alguns – padres e bispos, não? Alguns deles pensam que seguir Jesus é fazer carreira”.

O Papa recordou que “na literatura dos últimos dois séculos”, costumava-se falar “de uma criança que queria fazer uma carreira eclesiástica”. Ele reiterou que “muitos cristãos, tentados pelo espírito do mundo, acreditam que seguir Jesus é bom porque é possível fazer carreira”. Mas este não é “o espírito”, pelo contrário, Jesus responde a Pedro: “Sim, eu vou te dar tudo, mas com perseguições”.

“Não é possível remover a Cruz do caminho com Jesus: está sempre ali”. E, no entanto, segundo ele, isso não significa que os cristãos devem sair ressentidos. O cristão “segue Jesus por amor e quando você segue Jesus por amor, a inveja do diabo faz muitas coisas”. O “espírito do mundo – destacou o Papa -não tolera isso, não tolera o testemunho”.

“Pensem em Madre Teresa: dizem que era uma bela mulher, que fez muito pelos outros, mas o espírito ‘mundano’ nunca disse que a Beata Teresa, todos os dias, por horas, fazia adoração… Costuma-se reduzir a atividade cristã ao bem social, como se a existência cristã fosse um verniz, uma pátina de cristianismo. O anúncio não é uma pátina: vai aos ossos, ao coração, dentro de nós e nos transforma. Isso o espírito ‘mundano’ não tolera e aí acontecem as perseguições”. 

Aquele que deixa sua casa, família para seguir Jesus – repetiu Francisco- receberá cem vezes mais “, agora, neste momento”. Cem vezes com perseguições.

“Não gostamos das propostas definitivas que Jesus nos faz e temos medo do tempo de Deus”, disse Francisco

Da redação, com Rádio Vaticano

“Para seguir Jesus, devemos nos despir da cultura do bem-estar e do fascínio provisório”. Foi o que disse o Papa Francisco, na manhã desta segunda-feira, 27, durante a Missa celebrada na Casa Santa Marta.

Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia, em que Jesus pede a um jovem que dê suas riquezas aos pobres e O siga. Segundo o Papa, as riquezas são um empecilho, pois não facilitam o caminho rumo ao Reino de Deus.

Em seguida, o Pontífice se referiu a duas “riquezas culturais”: a cultura do bem-estar e o fascínio do provisório. Segundo o Papa, a cultura do bem-estar deixa o homem pouco corajoso, preguiçoso e também egoísta. “O bem-estar é uma anestesia”, afirmou o Pontífice.

“Não, não, mais de um filho não, porque não podemos fazer férias, não podemos comprar a casa… Podemos seguir o Senhor, mas até certo ponto. Isso faz o bem-estar, despe-nos daquela coragem forte que nos aproxima de Jesus. Esta é a primeira riqueza da nossa cultura de hoje, a cultura do bem-estar”, explicou.

Sobre a segunda riqueza, o fascínio do provisório, o Santo Padre afirmou: “Nós estamos apaixonados pelo provisório. Não gostamos das propostas definitivas que Jesus nos faz e temos medo do tempo de Deus”.

“Ele é o Senhor do tempo, nós somos os senhores do momento. Uma vez, conheci uma pessoa que queria se tornar padre, mas só por dez anos, não mais. Além disso, muitos casais se casam pensando que o amor pode acabar e, com ele, a união”, ressaltou.

Segundo Francisco, essas duas riquezas são as que, neste momento, impedem as pessoas de prosseguirem. Oposto a isso, o Papa lembrou os muitos homens e mulheres que deixaram a própria terra para serem missionários por toda a vida. “Isso é definitivo!”, afirmou. Da mesma forma, recordou também os muitos homens e mulheres que deixaram a própria casa para um matrimônio por toda a vida. “Isso é seguir Jesus de perto! É o definitivo”, disse Francisco.

Finalizando, o Papa rezou: “Peçamos ao Senhor que nos dê a coragem de prosseguir, despindo-nos desta cultura do bem-estar, com a esperança no tempo definitivo.”

“Cristãos de museu” que perderam o sal de Cristo

Homilia do papa Francisco na missa da Casa Santa Marta

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 23 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Depois de abordar os “cristãos de sala”, o papa Francisco alerta agora para outro risco que os seguidores de Cristo correm: tornar-se “cristãos de museu”, aqueles cristãos “insípidos”, que perderam o “sal da fé, da esperança e da caridade” que tinham recebido de Jesus Cristo.

Como vem acontecendo toda manhã, na missa celebrada em sua residência, o papa fez uma homilia que soa como uma exortação ao povo de Deus para não esquecer as graças recebidas. Na missa desta manhã, estava presente um grupo de padres e de colaboradores leigos da Congregação para as Igrejas Orientais, cujo presidente, cardeal Leonardo Sandri, concelebrou com o papa juntamente com o cardeal Angelo Sodano e com o arcebispo de La Paz, Edmundo Abastoflor Montero.

“Sal” foi a palavra-chave desta homilia do papa; o sal que Cristo deu a cada cristão e que traz valor agregado para a sua vida e para a vida dos outros. Este sal é a “fé”, explicou o papa, a certeza do amor de Jesus Cristo, manifestado na sua morte e ressurreição para a salvação da humanidade.

Por isso é preciso cuidar para que este sal “não se torne insípido, não perca a sua força”. Até porque, acrescentou Francisco, este presente não nos é dado “para ser guardado”, já que “o sal só faz sentido quando é usado para dar sabor às coisas”.

“Se o sal fica guardado, ele não faz nada, não serve. O sal que nós recebemos é para dar, é para oferecer. Senão, ele fica insípido e inútil”. E há outro aspecto, destacou o pontífice: “Quando o sal é bem usado, não se sente o gosto do sal, o sabor do sal. O que se sente é o sabor de cada comida! O sal ajuda para que o sabor da refeição seja bom, para que ela seja mais saborosa”.

Esta, de acordo com Bergoglio, é a “originalidade cristã”, que não deve ser confundida com “uniformidade”. Pelo contrário: “quando anunciamos a fé com este sal”, todos aqueles que “recebem o anúncio o recebem conforme a sua peculiaridade”. A originalidade cristã “considera cada um como ele é, com a sua própria personalidade, com as suas características próprias, com a sua cultura, e o mantém com isso, porque é uma riqueza. Mas lhe dá algo mais: lhe dá o sabor!”.

“É muito bonito esse aspecto”, disse Francisco. Por outro lado, “quando queremos uniformidade”, ou seja, quando queremos que “todos sejam salgados da mesma forma”, é como “quando a mulher joga muito sal e só sentimos o gosto do sal, em vez do gosto da comida que deve ser saboreada com sal”.

“A originalidade do cristão é esta: cada um é como é, com os dons que o Senhor lhe deu”. Na prática, isto se traduz em “sair de nós mesmos para levar a mensagem, sair com esta riqueza do sal e dá-lo para as outras pessoas”, insistiu o papa. As “saídas” são duas: primeiro, para dar o sal “no serviço aos outros, para servir ao povo”. E depois, a “transcendência rumo ao autor do sal, o Criador”. Porque o sal “não se conserva apenas quando é dado na pregação”, mas precisa “de oração, de adoração”.

“Com a adoração do Senhor, eu transcendo de mim para o Senhor, e, com a proclamação do Evangelho, eu saio de mim mesmo para dar a mensagem. Mas se não fizermos isso, essas duas coisas, essas duas transcendências, o sal permanecerá guardado e nós viraremos cristãos de museu”.

“Como é bom”, porém, mostrar o sal e dizer “este é o meu sal! Este é o sal que recebi no batismo, este é o sal que eu recebi na confirmação, este é o sal que eu recebi na catequese”. A graça do dia, portanto, é “pedir ao Senhor para não sermos cristãos com o sal insípido, com o sal fechado num frasco”; de não ser “cristãos de museu” que até mostram um sal, mas “sem sabor, um sal que não serve para nada”.

O Senhor remiu a todos com seu sangue

Certezas do papa na missa diária

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 22 de Maio de 2013 (Zenit.org) – “Fazer o bem” é um princípio que une toda a humanidade, indo além da diversidade de ideologias e de religiões, e cria aquela cultura do encontro que é o fundamento da paz. Foi assim que se expressou o papa na missa desta manhã na Casa Santa Marta, transmitida pela Rádio Vaticano e concelebrada com o cardeal Béchara Boutros Raï, patriarca de Antioquia dos Maronitas. Participaram alguns funcionários do Vaticano. 

O evangelho desta quarta-feira nos mostra os discípulos de Jesus tentando impedir uma pessoa externa ao grupo de fazer o bem. “Eles se queixam”, disse o papa na homilia, “e dizem o seguinte: ‘Se ele não é um de nós, ele não pode fazer o bem. Se não é do nosso partido, não pode fazer o bem’. E Jesus os corrige: ‘Não os impeçam. Deixem os outros fazer o bem’. Os discípulos eram um pouco intolerantes”, comentou o papa, “fechados na ideia de ser os donos da verdade, na crença de que aqueles que não têm a verdade não podem fazer o bem. E estavam errados. Por isso, Jesus amplia os horizontes deles”.

“A origem desta oportunidade para fazer o bem que todos temos está na criação. Nosso Senhor nos criou à sua imagem e semelhança e nós somos imagem do Senhor. Ele faz o bem e todos nós temos este mandamento no coração: fazer o bem e não fazer o mal. Todos. ‘Mas, padre, este aqui não é católico! Ele não pode fazer o bem!’. Pode, sim. E deve. Não pode: deve! Porque ele tem este mandamento na alma. ‘Mas, padre, este aqui não é cristão, ele não pode fazer o bem!’. Pode. E deve fazer. Esta mesquinhez de achar que ‘os de fora’ não podem fazer o bem é um muro que nos leva à guerra e a um tipo de ato que alguns pensaram ao longo da história: matar em nome de Deus. Nós não podemos matar em nome de Deus. Isso é simplesmente uma blasfêmia. Dizer que se pode matar em nome de Deus é uma blasfêmia”.

“Nosso Senhor nos criou à sua imagem e semelhança e nos deu este mandamento no coração: fazer o bem e não fazer o mal”.

“O Senhor remiu a todos, redimiu todos nós com o sangue de Cristo: todos, não só os católicos. Todos! ‘Padre, e os ateus?’. Os ateus também. Todos! E este sangue nos torna filhos de Deus de primeira classe! Nós fomos criados filhos à imagem de Deus e o sangue de Cristo redimiu todos nós! E todos nós temos o dever de fazer o bem. E este mandamento para todos nós de fazer o bem eu acho que é um bom caminho para a paz. Se nós, cada um de nós, fizer o bem aos outros, pouco a pouco, lentamente, realizamos aquela cultura do encontro: aquela cultura de que tanto precisamos. Encontrar-se fazendo o bem. ‘Mas eu não acredito, padre, eu sou ateu!’. Mas faça o bem: vamos nos encontrar lá”.

“Fazer o bem não é uma questão de fé, mas um dever, um cartão de identidade que o Pai deu a todos nós, porque Ele nos fez à sua imagem e semelhança. E ele faz o bem, sempre”.

O papa Francisco terminou a homilia dizendo: “Hoje é dia de Santa Rita, padroeira das coisas impossíveis, embora isto pareça impossível. Peçamos a ela esta graça, esta graça de que todos, todos, todas as pessoas, façam o bem, e que todos nós nos encontremos nesta obra, que é uma obra da criação, que se assemelha à criação do Pai. Uma empresa familiar, porque todos somos filhos de Deus: todos, todo o mundo! E Deus ama a todos nós! Que Santa Rita nos conceda esta graça, que parece quase impossível”.

O poder na Igreja consiste em servir

Homilia do Santo Padre Francisco na missa diaria celebrada na capela da Casa Santa Marta

CIDADE DO VATICANO, 21 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Para um cristão, progredir significa rebaixar-se, a exemplo de Jesus. É o que o papa Francisco destacou na missa desta manhã na Casa Santa Marta. O papa também reiterou que o verdadeiro poder está em servir e que não deve existir a luta pelo poder na Igreja.

Na missa, concelebrada pelo diretor de programação da Rádio Vaticano, pe. Andrzej Koprowski, SJ, participou um grupo de funcionários da emissora e outro grupo do Gabinete vaticano de Peregrinos e Turistas.

Também estavam presentes o diretor da revista Civiltà Cattolica, pe. Antonio Spadaro, SJ, e Maria Voce e Giancarlo Faletti, presidente e vice-presidente do movimento dos Focolares. As informações são da Rádio Vaticano.

O poder do serviço

Jesus está falando da sua paixão, mas os discípulos começam a discutir sobre quem é o melhor entre eles. Este é o amargo episódio narrado pelo evangelho de hoje, que ofereceu a oportunidade ao papa de propor uma meditação sobre o poder e o serviço. “A luta pelo poder na Igreja não é coisa dos nossos dias”, disse ele. “Ela começou ainda no tempo de Jesus”.

Francisco destacou também que, “na perspectiva evangélica de Jesus, a luta pelo poder na Igreja não deve existir”, porque o poder real, aquele que o Senhor “nos ensinou com o exemplo”, é “o poder do serviço”.

“O verdadeiro poder é o serviço. Ele não veio para ser servido, mas para servir, e o serviço dele foi o serviço da cruz. Jesus se humilhou até a morte e morte de cruz por nós, para nos servir, para nos salvar. E não existe outro jeito na Igreja de irmos para frente”.

Rebaixar-se para progredir

“Para o cristão, ir para frente, progredir, significa rebaixar-se. Se não aprendermos esta regra cristã, nunca seremos capazes de entender a verdadeira mensagem de Jesus sobre o poder”.

Progredir, agregou o papa, significa “estar sempre a serviço”. Na Igreja, “o maior é aquele que serve, aquele que está mais a serviço dos outros”. Esta “é a regra”. E, no entanto, desde o princípio até agora, tem havido “lutas pelo poder na Igreja”, inclusive “na nossa forma de falar”.

Porque “quando uma pessoa recebe um cargo, que, aos olhos do mundo, é um cargo superior, as outras pessoas dizem: ‘Ah, essa mulher subiu de cargo para presidente daquela associação, ou esse homem foi promovido’… Este verbo, promover, é, sim, um belo verbo, e ele deve ser usado na Igreja. Sim, ele subiu à cruz, foi promovido à humilhação. Esta é a verdadeira promoção, aquela que nos ‘assemelha’ mais a Jesus!”.

O papa recordou que Santo Inácio de Loyola, nos exercícios espirituais, pedia ao Senhor Crucificado “a graça da humilhação”. Este, reiterou Francisco, é “o verdadeiro poder do serviço da Igreja”. Este é o verdadeiro caminho de Jesus, a verdadeira promoção.

“O caminho do Senhor é o seu serviço. Ele fez o seu serviço, nós também temos que ir atrás dele pelo caminho do serviço. Este é o verdadeiro poder na Igreja. Eu gostaria de orar hoje por todos nós, para que Nosso Senhor nos dê a graça de compreender que o verdadeiro poder na Igreja é o serviço. E também para compreender aquela regra de ouro que Ele nos ensinou com o exemplo: para um cristão, progredir, avançar, significa rebaixar-se, abaixar-se… Peçamos esta graça”.

Se incomodamos, sigamos adiante!

Homilia do Papa Francisco na casa Santa Marta

CIDADE DO VATICANO, 16 de Maio de 2013 (Zenit.org) – A Igreja tem tanta necessidade do fervor apostólico que nos impulsiona para a frente no anúncio de Jesus”. É o que destacou, esta manhã, o Papa Francisco na Missa na casa Santa Marta. O Papa também pediu para tomar cuidado com o ser “cristãos superficiais” sem a coragem também de “incomodar as coisas muito tranquilas”. Na missa, concelebrada com o cardeal Peter Turkson e mons. Mario Toso, presidente e secretário de “Justiça e Paz”, participou um grupo de funcionários do departamento e da Rádio Vaticana.

Toda a vida de Paulo foi “uma batalha campal”, uma “vida com muitas provas”. Papa Franscisco centrou a sua homilia no Apóstolo dos gentios, que, segundo ele, passa a sua vida de “perseguição em perseguição”, mas não se desanima. O destino de Paulo, destacou, “é um destino com muitas cruzes, mas segue adiante; ele olha para o Senhor e segue adiante”:

“Paulo incomoda: é um homem que com a sua pregação, com o seu trabalho, com a sua atitude incomoda, porque precisamente anuncia Jesus Cristo e o anúncio de Jesus Cristo às nossas comodidades, tantas vezes às nossas estruturas cômodas – também cristãs, não? – Incomoda. O Senhor sempre quer que sigamos adiante, mais adiante, mais adiante… Que nós não nos refugiemos numa vida tranquila ou nas estruturas caducas, coisas assim, não? O Senhor … E Paulo, anunciando o Senhor, incomodava. Mas ele seguia adiante, porque ele tinha em si aquela atitude tão cristã que é o zelo apostólico. Tinha precisamente o fervor apostólico. Não era um homem de convenção. Não! A verdade: avante! O anúncio de Jesus Cristo: avante!”

Claro, observou o Papa Francisco, São Paulo era um “homem fogoso”. Mas aqui não se trata somente do seu temperamento. É o Senhor que “se envolve nisso”, nesta batalha campal. De fato, continuou, é precisamente o Senhor que o empurra “a seguir adiante”, a dar testemunho também em Roma: “Entre parênteses, gosto muito que o Senhor se preocupe com esta diocese, desde aquele tempo… Somos privilegiados! E o zelo apostólico não é um entusiasmo para ter o poder, para ter algo. É algo que vem de dentro, que o mesmo Senhor o quer de nós: cristãos com zelo apostólico. E de onde é que vem este zelo apostólico? Vem do conhecimento de Jesus Cristo. Paulo encontrou Jesus Cristo, encontrou Jesus Cristo, mas não com um conhecimento intelectual, científico – isso é importante, porque nos ajuda – mas com aquele conhecimento primeiro, do coração, do encontro pessoal”.

Eis o que motiva Paulo a seguir adiante, “a anunciar Jesus sempre”. E acrescentou: “Está sempre com problemas, mas nos problemas não pelos problemas, mas por Jesus”, anunciando Jesus “as consequências são essas”. O fervor apostólico, destacou, compreende-se somente “numa atmosfera de amor”. O zelo apostólico, disse ainda, “tem algo de louco, mas de loucura espiritual”. E Paulo “tinha esta loucura”. O Papa portanto convidou a todos os fieis a pedir ao Espírito Santo que faça crescer em nós o zelo apostólico que não deve pertencer somente aos missionários. Por outro lado, advertiu, também na Igreja existem “cristãos mornos”, que “não querem seguir adiante”: “Também existem os cristãos de salão, não? Aqueles educados, tudo bem, mas que não sabem fazer filhos para Igreja com o anúncio e o fervor apostólico. Hoje podemos pedir ao Espírito Santo que nos dê este fervor apostólico a todos nós, também nos dê a graça de incomodar as coisas que estão muito tranquilas na Igreja; a graça de seguir em frente em direção às periferias existenciais. A Igreja precisa muito disso! Não somente em terras distantes, nas igrejas jovens, nos povos que ainda não conhecem Jesus Cristo, mas aqui na cidade, precisamente na cidade, têm necessidade deste anúncio de Jesus Cristo. Portanto, peçamos ao Espírito Santo esta graça do zelo apostólico, cristão com zelo apostólico. E se incomodamos, bendito seja o Senhor. Avante, como diz o Senhor a Paulo: ‘Coragem’”!

(Fonte: Rádio Vaticano/Tradução do original italiano por Thácio Siqueira)

Cristão mornos, cristãos ‘satélites’, não fazem a Igreja crescer

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“Cristãos mornos são aqueles que querem construir uma igreja na própria medida, mas esta não é a Igreja de Jesus”. Foi o que afirmou o Papa Francisco durante a Missa celebrada na Capela da Casa Santa Marta na manhã deste sábado, 20 de Abril de 2013. Estavam presentes os voluntários do Dispensário Pediátrico ‘Santa Marta’, no Vaticano, confiado às Filhas da Caridade de São Vicente de Paula, que há 90 anos trabalham com crianças e famílias necessitadas de Roma, sem distinção de religião ou nacionalidade. Ao lado do Papa, como coroinhas, duas crianças.
Refletindo sobre a leitura dos Atos dos Apóstolos, Papa Francisco disse: “A primeira comunidade cristã, depois da perseguição, vive um momento de paz, se consolida, caminha e cresce ‘no temor do Senhor e com a força do Espírito Santo’ “. E é nesta atmosfera que respira e vive a Igreja, chamada a caminhar na presença de Deus e de modo irrepreensível.

Então acrescentou: “É um estilo da Igreja. Caminhar no temor do Senhor é um pouco o sentido da adoração, da presença de Deus, não? A Igreja caminha assim e quando estamos na presença de Deus não fazemos coisas erradas e nem tomamos decisões erradas. Estamos diante de Deus. Também com a alegria e a felicidade: esta é a força do Espírito Santo, isto é o dom que o Senhor nos deu – esta força – que nos faz andar em frente”.

No Evangelho proposto pela liturgia de hoje, muitos discípulos acham muito dura a linguagem de Jesus, murmuram, se escandalizam e por fim abandonam o mestre. “Estes – disse o Santo Padre -, se afastaram, foram embora, porque diziam ‘este homem é um pouco estranho, diz coisas que são muito duras e não podemos com isto….É um risco muito grande seguir este caminho. Temos bom senso, não é mesmo? Andemos um pouco atrás e não tão próximos a ele’. Estes, talvez, tivessem alguma admiração por Jesus, mas um pouco de longe: não queriam se misturar muito com este homem, porque ele diz coisas um pouco estranhas…”.

“Estes cristãos – recordou Francisco – não se consolidam na Igreja, não caminham na presença de Deus, não tem a força do Espírito Santo, não fazem crescer a Igreja”. “São cristãos de bom senso,- acrescentou – somente isto. Tomam distância. Cristãos, por assim dizer, ‘satélites’, que tem uma pequena Igreja, na sua própria medida. Para usar as mesmas palavras que Jesus usou no Apocalipse, ‘cristãos mornos’. Esta coisa morna que acontece na Igreja….Caminham somente na presença do próprio bom-senso, do senso comum…aquela prudência mundana: esta é uma tentação justo da prudência mundana”.

Na homilia, Papa Francisco recorda dos tantos cristãos “que neste momento dão testemunho, em nome de Jesus, até o martírio”. “Estes – afirma – não são cristãos satélites, porque vão com Jesus, no caminho de Jesus”. “Estes sabem perfeitamente aquilo que Pedro disse ao Senhor, quando o Senhor lhe faz a pergunta: ‘Também vocês querem ir embora, serem ‘cristãos satélites’? Responde-lhe Simão Pedro: ‘Senhor, a quem iremos, só tu tens palavras de vida eterna’. Assim, um grupo grande se torna um grupo um pouco menor, mas daqueles que sabem perfeitamente que não podem ir a outro lugar, porque somente Ele, o Senhor, tem palavras de vida eterna”.

O Papa conclui sua reflexão com esta oração: “Oremos pela Igreja, para que continue a crescer, a consolidar-se, a caminhar no temor de Deus e com a força do Espírito Santo. Que o Senhor nos liberte da tentação daquele ‘bom senso’, da tentação de murmurar contra Jesus, porque Ele é muito exigente e, da tentação do escândalo. E assim por diante…”.

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Fonte: news.va