“É triste ver uma Igreja «privatizada» por pequenos grupos”

Chamadas de atenção na catequese semanal. Convida a rezar pelos cristãos perseguidos. Texto completo

ROMA, 25 de Setembro de 2013 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs, bom dia,

No “Credo” nós dizemos “Creio na Igreja, una”, professamos, isso é, que a Igreja é única e esta Igreja é em si mesma unidade. Mas se olhamos para a Igreja Católica no mundo descobrimos que essa compreende quase 3000 dioceses espalhadas em todos os Continentes: tantas línguas, tantas culturas! Aqui há tantos bispos de tantas culturas diferentes, de tantos países. Há o bispo de Sri Lanka, o bispo do Sul da África, um bispo da Índia, há tantos aqui… Bispos da América Latina. A Igreja está espalhada em todo o mundo! No entanto, as milhares de comunidades católicas formam uma unidade. Como pode acontecer isto?

1. Uma resposta sintética encontramos no Catecismo da Igreja Católica, que afirma: a Igreja Católica espalhada no mundo “tem uma só fé, uma só vida sacramental, uma única sucessão apostólica, uma comum esperança, a própria caridade” (n. 161). É uma bela definição, clara, orienta-nos bem. Unidade na fé, na esperança, na caridade, na unidade nos Sacramentos, no Ministério: são como pilastras que sustentam e têm juntos o único grande edifício da Igreja. Aonde quer que vamos, mesmo na menor paróquia, na esquina mais perdida desta terra, há a única Igreja; nós estamos em casa, estamos em família, estamos entre irmãos e irmãs. E este é um grande dom de Deus! A Igreja é uma só para todos. Não há uma Igreja para os europeus, uma para os africanos, uma para os americanos, uma para os asiáticos, uma para os que vivem na Oceania, não, é a mesma em qualquer lugar. É como em uma família: se pode estar distante, espalhado pelo mundo, mas as ligações profundas que unem todos os membros da família permanecem firmes qualquer que seja a distância. Penso, por exemplo, na experiência da Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro: naquela vasta multidão de jovens na praia de Copacabana, ouvia-se falar tantas línguas, viam-se traços da face muito diversificada deles, encontravam-se culturas diferentes, no entanto havia uma profunda unidade, se formava a única Igreja, estava-se unido e se sentia isso. Perguntemo-nos todos: eu, como católico, sinto esta unidade? Eu como católico vivo esta unidade da Igreja? Ou não me interessa, porque estou fechado no meu pequeno grupo ou em mim mesmo? Sou daqueles que “privatizam” a Igreja pelo próprio grupo, a própria nação, os próprios amigos? É triste encontrar uma Igreja “privatizada” pelo egoísmo e pela falta de fé. É triste! Quando ouço que tantos cristãos no mundo sofrem, sou indiferente ou é como se sofresse um da minha família? Quando penso ou ouço dizer que tantos cristãos são perseguidos e dão mesmo a própria vida pela própria fé, isto toca o meu coração ou não chega até mim? Sou aberto àquele irmão ou àquela irmã da minha família que está dando a vida por Jesus Cristo? Rezamos uns pelos outros? Faço uma pergunta a vocês, mas não respondam em voz alta, somente no coração: quantos de vocês rezam pelos cristãos que são perseguidos? Quantos? Cada um responda no coração. Eu rezo por aquele irmão, por aquela irmã que está em dificuldade, para confessar ou defender a sua fé? É importante olhar para fora do próprio recinto, sentir-se Igreja, única família de Deus!

2. Demos um outro passo e perguntemo-nos: há feridas a esta unidade? Podemos ferir esta unidade? Infelizmente, nós vemos que no caminho da história, mesmo agora, nem sempre vivemos a unidade. Às vezes surgem incompreensões, conflitos, tensões, divisões, que a ferem, e então a Igreja não tem a face que queremos, não manifesta a caridade, aquilo que Deus quer. Somos nós que criamos lacerações! E se olhamos para as divisões que ainda existem entre os cristãos, católicos, ortodoxos, protestantes… sentimos o esforço de tornar plenamente visível esta unidade. Deus nos doa a unidade, mas nós mesmos façamos esforço para vivê-la. É preciso procurar, construir a comunhão, educar-nos à comunhão, a superar incompreensões e divisões, começando pela família, pela realidade eclesial, no diálogo ecumênico também. O nosso mundo precisa de unidade, está em uma época na qual todos temos necessidade de unidade, precisamos de reconciliação, de comunhão e a Igreja é Casa de comunhão. São Paulo dizia aos cristãos de Éfeso: “Exorto-vos, pois – prisioneiro que sou pela causa do Senhor – que leveis uma vida digna da vocação à qual fostes chamados, com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos mutuamente com caridade. Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (4, 1-3). Humildade, doçura, magnanimidade, amor para conservar a unidade! Estes, estes são os caminhos, os verdadeiros caminhos da Igreja. Ouçamos uma vez mais. Humildade contra a vaidade, contra a soberba, humildade, doçura, magnanimidade, amor para conservar a unidade. E continuava Paulo: um só corpo, aquele de Cristo que recebemos na Eucaristia; um só Espírito, o Espírito Santo que anima e continuamente recria a Igreja; uma só esperança, a vida eterna; uma só fé, um só Batismo, um só Deus, Pai de todos (cfr vv. 4-6). A riqueza daquilo que nos une! E esta é uma verdadeira riqueza: aquilo que nos une, não aquilo que nos divide. Esta é a riqueza da Igreja! Cada um se pergunte: faço crescer a unidade em família, na paróquia, na comunidade, ou sou um fofoqueiro, uma fofoqueira. Sou motivo de divisão, de desconforto? Mas vocês não sabem o mal que fazem à Igreja, às paróquias, às comunidades, as fofocas! Fazem mal! As fofocas ferem. Um cristão antes de fofocar deve morder a língua! Sim ou não? Morder a língua: isto nos fará bem, para que a língua inche e não possa falar e não possa fofocar.  Tenho a humildade de reconstruir com paciência, com sacrifício, as feridas da comunhão?

3. Enfim, o último passo mais em profundidade. E esta é uma bela pergunta: quem é o motor desta unidade da Igreja? É o Espírito Santo que todos nós recebemos no Batismo e também no Sacramento da Crisma. É o Espírito Santo. A nossa unidade não é primeiramente fruto do nosso consenso, ou da democracia dentro da Igreja, ou do nosso esforço de concordar, mas vem Dele que faz a unidade na diversidade, porque o Espírito Santo é harmonia, sempre faz a harmonia na Igreja. É uma unidade harmônica em tanta diversidade de culturas, de línguas e de pensamentos. É o Espírito Santo o motor. Por isto é importante a oração, que é a alma do nosso compromisso de homens e mulheres de comunhão, de unidade. A oração ao Espírito Santo, para que venha e faça a unidade na Igreja.

Peçamos ao Senhor: Senhor, dai-nos sermos sempre mais unidos, não sermos nunca instrumentos de divisão; faz com que nos empenhemos, como diz uma bela oração franciscana, a levar o amor onde há o ódio, a levar o perdão onde há ofensa, a levar a união onde há a discórdia. Assim seja.

O foco não é socializar, passar o tempo juntos, o foco é anunciar o Reino de Deus

Palavras do Papa Francisco pronunciadas neste domingo antes da tradicional oração mariana do Angelus

CIDADE DO VATICANO, 07 de Julho de 2013 (Zenit.org) – Queridos irmãos e irmãs! Bom dia!

Antes de tudo desejo partilhar convosco a alegria de ter encontrado, ontem e hoje, uma peregrinação especial do Ano da Fé: aquela dos seminaristas, noviços e noviças. Peço-vos para rezarem por eles, para que o amor por Cristo amadureça sempre mais na vida deles e eles se tornem verdadeiros missionários do Reino de Deus.

O Evangelho deste domingo (Lc 10,1-12.17-20) nos fala propriamente disto: do fato de que Jesus não é um missionário isolado, não quer cumprir sozinho a sua missão, mas envolve os seus discípulos. E hoje vemos que, além dos Doze apóstolos, chama outros setenta e dois, e os manda às aldeias, dois a dois, a anunciar que o Reino de Deus está próximo. Isto é muito belo! Jesus não quer agir sozinho, veio para trazer ao mundo o amor de Deus e quer difundi-lo com o estilo da comunhão, com o estilo da fraternidade. Por isto forma imediatamente uma comunidade de discípulos, que é uma comunidade missionária. Imediatamente os prepara para a missão, para ir.

Mas atenção: o foco não é socializar, passar o tempo juntos, não, o foco é anunciar o Reino de Deus, e isto é urgente! E também hoje é urgente! Não há tempo a perder batendo papo, não é preciso esperar o consenso de todos, é preciso ir e anunciar. A todos leva a paz de Cristo, e se não a acolhem, se segue em frente da mesma maneira. Aos doentes se leva a cura, porque Deus quer curar o homem de todo mal. Quantos missionários fazem isto! Semeiam vida, saúde, conforto às periferias do mundo. Que belo é isto! Não viver para si mesmo, não viver para si mesma, mas vive para ir e fazer o bem! Tantos jovens estão hoje na Praça: pensem nisso, questionem: Jesus me chama a ir, a sair de mim e fazer o bem? A vocês, jovens, a vocês rapazes e moças, pergunto: vocês são corajosos para isto, têm a coragem de ouvir a voz de Jesus? É belo ser missionários!… Ah, são bravos! Eu gosto disso!

Estes setenta e dois discípulos, que Jesus envia à sua frente, quem são? Quem representam? Se os Doze são os Apóstolos, e então, representam também os Bispos, seus sucessores, estes setenta e dois podem representar os outros ministros ordenados, presbíteros e diáconos; mas em sentido mais amplo, podemos pensar nos outros ministérios na Igreja, nos catequistas, nos fiéis leigos que se empenham nas missões paroquiais, em quem trabalha com os doentes, com as diversas formas de desconforto e alienação; mas sempre como missionários do Evangelho, com a urgência do Reino que está próximo. Todos devem ser missionários, todos podem ouvir aquele chamado de Jesus e ir adiante e anunciar o Reino!

Diz o Evangelho que aqueles setenta e dois voltaram da sua missão repletos de alegria, porque tinham experimentado o poder do Nome de Cristo contra o mal. Jesus confirma isso: a estes discípulos Ele dá a força para derrotar o maligno. Mas acrescenta: “Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos estão sujeitos, mas alegrai-vos de que os vossos nomes estejam nos céus” (Lc 10, 20). Não devemos nos vangloriar como se fôssemos nós os protagonistas: protagonista é um só, é o Senhor! Protagonista é a graça do Senhor! Ele é o único protagonista! E a nossa alegria é somente esta: ser seus discípulos, seus amigos. Ajude-nos Nossa Senhora a sermos bons operários do Evangelho.

Queridos amigos, a alegria! Não tenham medo de ser alegres! Não tenham medo da alegria! Aquela alegria que nos dá o Senhor quando O deixamos entrar na nossa vida, deixamos que Ele entre na nossa vida e nos convide a sair de nós para as periferias da vida e anunciar o Evangelho. Não tenham medo da alegria. Alegria e coragem!

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs,

Como vocês sabem, ha dois dias foi publicada a Encíclica sobre a fé, intitulada Lumen Fidei, “a luz da fé”. Por ocasião do Ano da Fé,o Papa emérito Bento XVI iniciou esta encíclica, após a da caridade e esperança. Eu peguei esse projeto e o concluí. Eu o ofereço com alegria a todo o Povo de Deus. Hoje, especialmente precisamos ir ao essencial da fé cristã, precisamos aprofundá-la e confrontá-la com as problemáticas atuais. Acredito que esta encíclica, pelo menos em algumas partes, poderá ser útil para aqueles que estão à procura de Deus e do sentido da vida. Eu a coloco nas mãos de Maria, ícone perfeita da fé, para que possa dar os frutos que o Senhor deseja.

Dirijo minha cordial saudação a todos, caros fiéis de Roma e peregrinos. Saúdo especialmente os jovens da Diocese de Roma que se preparam para partir para o Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude. Queridos jovens, eu também estou me preparando! Caminhemos juntos rumo a esta grande festa da fé; Maria nos acompanhe, e nos encontramos lá!

Saúdo as Irmãs Rosminianas e as Franciscanas Angelinas que realizam seus Capítulos Gerais e os responsáveis pela Comunidade de Santo Egídio que vieram de vários países para o curso de formação. A todos auguro um bom domingo! Bom almoço! Adeus.

Sejamos pedras vivas da Igreja

Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira.

CIDADE DO VATICANO, 26 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir a catequese do Papa Franscisco durante a Audiência Geral desta Quarta-feira, na Praça de São Pedro: 

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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de fazer uma breve referência a outra imagem que nos ajuda a ilustrar o mistério da Igreja: aquela do templo (cfr Con. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 6).

Em que nos faz pensar a palavra templo? Nos faz pensar em um edifício, em uma construção. De modo particular, a mente de muitos vai à história do Povo de Israel narrada no Antigo Testamento. Em Jerusalém, o grande Templo de Salomão era o lugar de encontro com Deus na oração; dentro do Templo havia a Arca da Aliança, sinal da presença de Deus em meio ao povo; e na Arca havia as Tábuas da Lei, o maná e a vara de Arão um lembrete de que Deus estava sempre dentro da história de seu povo, o acompanhava no caminho, guiava seus passos. O templo recorda essa história: também nós quando vamos ao templo devemos recordar esta história, cada um de nós a nossa história, como Jesus me encontrou, como Jesus caminhou comigo, como Jesus me ama e me abençoa.

Então, isso que era prefigurado no antigo Templo, é realizado, pelo poder do Espírito Santo, na Igreja: a Igreja é a “casa de Deus”, o lugar da sua presença, onde possamos encontrar e conhecer o Senhor; a Igreja é o Templo no qual mora o Espírito Santo que a anima, a guia e a apoia. Se nos perguntamos: onde podemos encontrar Deus? Onde podemos entrar em comunhão com Ele através de Cristo? Onde podemos encontrar a luz do Espírito Santo que ilumina a nossa vida? A resposta é: no povo de Deus, entre nós, que somos Igreja. Aqui encontraremos Jesus, o Espírito Santo e o Pai.

O antigo Templo era edificado pelas mãos dos homens: desejava-se “dar uma casa” a deus, para ter um sinal visível da sua presença em meio ao povo. Com a encarnação do Filho de Deus, cumpre-se a profecia de Natan ao rei Davi (cfr 2 Sam 7, 1-29): não é o reio, não somos nós a “dar uma casa a Deus”, mas é o próprio Deus que “constrói a sua casa” para vir e morar em meio a nós, como escreve São João em seu Evangelho (cfr 1,14). Cristo é o Templo vivo do Pai, e o próprio Cristo edifica a sua “casa espiritual”, a Igreja, feita não de pedras materiais, mas de ‘pedras vivas’, que somos nós. O Apóstolo Paulo diz aos cristãos de Éfeso: vós sois “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo como pedra angular o próprio Cristo Jesus. Nele toda a construção cresce bem ordenada para ser templo santo do Senhor; Nele também vós sois edificados juntos para transformar-se morada de Deus por meio do Espírito Santo” (Ef 2,20-22). Isto é uma coisa bela! Nós somos as pedras vivas do edifício de Deus, unidos profundamente a Cristo, que é a pedra de sustentação e também de sustentação entre nós. O que isso quer dizer? Quer dizer que o templo somos nós, nós somos a Igreja viva, o templo vivo e quando estamos juntos entre nós há também o Espírito Santo, que nos ajuda a crescer como Igreja. Nós não somos isolados, mas somos povo de Deus: esta é a Igreja!

E é o Espírito Santo, com os seus dons, que desenha a variedade. Isto é importante: o que faz o Espírito Santo entre nós? Ele desenha a variedade que é a riqueza na Igreja e une tudo e todos, de forma a construir um templo espiritual, no qual oferecemos não sacrifícios materiais, mas nós mesmos, a nossa vida (cfr 1Pt 2,4-5). A Igreja não é um conjunto de coisas e de interesses, mas é o Templo do Espírito Santo, o Templo no qual Deus trabalha, o Templo do Espírito Santo, o Templo no qual Deus trabalha, o Templo no qual cada um de nós com o dom do Batismo é pedra viva. Isto nos diz que ninguém é inútil na Igreja e se alguém às vezes diz ao outro: “Vá pra casa, você é inútil”, isto não é verdade, porque ninguém é inútil na Igreja, todos somos necessários para construir este Templo! Ninguém é secundário. Ninguém é o mais importante na Igreja, todos somos iguais aos olhos de Deus. Alguém de vocês poderia dizer: “Ouça, Senhor Papa, o senhor não é igual a nós”. Sim, sou como cada um de vocês, todos somos iguais, somos irmãos! Ninguém é anônimo: todos formamos e construímos a Igreja. Isto nos convida também a refletir sobre o fato de que se falta o tijolo da nossa vida cristã, falta algo à beleza da Igreja. Alguns dizem: “Eu não tenho nada a ver com a Igreja”, mas assim pula o tijolo de uma vida neste belo Templo. Ninguém pode sair, todos devemos levar à Igreja a nossa vida, o nosso coração, o nosso amor, o nosso pensamento, o nosso trabalho: todos juntos.

Gostaria então que nos perguntássemos: como vivemos o nosso ser Igreja? Somos pedras vivas ou somos, por assim dizer, pedras cansadas, entediadas, indiferentes? Vocês viram como é ruim ver um cristão cansado, entediado, indiferente? Um cristão assim não vai bem, o cristão deve ser vivo, alegre por ser cristão; deve viver esta beleza de fazer parte do povo de Deus que é a Igreja. Nós nos abrimos à ação do Espírito Santo para ser parte ativa nas nossas comunidades ou nos fechamos em nós mesmos dizendo: “tenho tantas coisas a fazer, não é tarefa minha”?

O Senhor nos dê a todos a sua graça, a sua força, a fim de que possamos ser profundamente unidos a Cristo, que é a pedra angular, a pilastra, a pedra de sustentação da nossa vida e de toda a vida da Igreja. Rezemos para que, animados pelo seu Espírito, sejamos sempre pedras vivas da sua Igreja.

Tradução: Jéssica Marçal/ Canção Nova

Sejamos pedras vivas da Igreja

Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral desta quarta-feira.

CIDADE DO VATICANO, 26 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir a catequese do Papa Franscisco durante a Audiência Geral desta Quarta-feira, na Praça de São Pedro: 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de fazer uma breve referência a outra imagem que nos ajuda a ilustrar o mistério da Igreja: aquela do templo (cfr Con. Ecum. Vat. II, Const. dogm. Lumen gentium, 6).

Em que nos faz pensar a palavra templo? Nos faz pensar em um edifício, em uma construção. De modo particular, a mente de muitos vai à história do Povo de Israel narrada no Antigo Testamento. Em Jerusalém, o grande Templo de Salomão era o lugar de encontro com Deus na oração; dentro do Templo havia a Arca da Aliança, sinal da presença de Deus em meio ao povo; e na Arca havia as Tábuas da Lei, o maná e a vara de Arão um lembrete de que Deus estava sempre dentro da história de seu povo, o acompanhava no caminho, guiava seus passos. O templo recorda essa história: também nós quando vamos ao templo devemos recordar esta história, cada um de nós a nossa história, como Jesus me encontrou, como Jesus caminhou comigo, como Jesus me ama e me abençoa.

Então, isso que era prefigurado no antigo Templo, é realizado, pelo poder do Espírito Santo, na Igreja: a Igreja é a “casa de Deus”, o lugar da sua presença, onde possamos encontrar e conhecer o Senhor; a Igreja é o Templo no qual mora o Espírito Santo que a anima, a guia e a apoia. Se nos perguntamos: onde podemos encontrar Deus? Onde podemos entrar em comunhão com Ele através de Cristo? Onde podemos encontrar a luz do Espírito Santo que ilumina a nossa vida? A resposta é: no povo de Deus, entre nós, que somos Igreja. Aqui encontraremos Jesus, o Espírito Santo e o Pai.

O antigo Templo era edificado pelas mãos dos homens: desejava-se “dar uma casa” a deus, para ter um sinal visível da sua presença em meio ao povo. Com a encarnação do Filho de Deus, cumpre-se a profecia de Natan ao rei Davi (cfr 2 Sam 7, 1-29): não é o reio, não somos nós a “dar uma casa a Deus”, mas é o próprio Deus que “constrói a sua casa” para vir e morar em meio a nós, como escreve São João em seu Evangelho (cfr 1,14). Cristo é o Templo vivo do Pai, e o próprio Cristo edifica a sua “casa espiritual”, a Igreja, feita não de pedras materiais, mas de ‘pedras vivas’, que somos nós. O Apóstolo Paulo diz aos cristãos de Éfeso: vós sois “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, tendo como pedra angular o próprio Cristo Jesus. Nele toda a construção cresce bem ordenada para ser templo santo do Senhor; Nele também vós sois edificados juntos para transformar-se morada de Deus por meio do Espírito Santo” (Ef 2,20-22). Isto é uma coisa bela! Nós somos as pedras vivas do edifício de Deus, unidos profundamente a Cristo, que é a pedra de sustentação e também de sustentação entre nós. O que isso quer dizer? Quer dizer que o templo somos nós, nós somos a Igreja viva, o templo vivo e quando estamos juntos entre nós há também o Espírito Santo, que nos ajuda a crescer como Igreja. Nós não somos isolados, mas somos povo de Deus: esta é a Igreja!

E é o Espírito Santo, com os seus dons, que desenha a variedade. Isto é importante: o que faz o Espírito Santo entre nós? Ele desenha a variedade que é a riqueza na Igreja e une tudo e todos, de forma a construir um templo espiritual, no qual oferecemos não sacrifícios materiais, mas nós mesmos, a nossa vida (cfr 1Pt 2,4-5). A Igreja não é um conjunto de coisas e de interesses, mas é o Templo do Espírito Santo, o Templo no qual Deus trabalha, o Templo do Espírito Santo, o Templo no qual Deus trabalha, o Templo no qual cada um de nós com o dom do Batismo é pedra viva. Isto nos diz que ninguém é inútil na Igreja e se alguém às vezes diz ao outro: “Vá pra casa, você é inútil”, isto não é verdade, porque ninguém é inútil na Igreja, todos somos necessários para construir este Templo! Ninguém é secundário. Ninguém é o mais importante na Igreja, todos somos iguais aos olhos de Deus. Alguém de vocês poderia dizer: “Ouça, Senhor Papa, o senhor não é igual a nós”. Sim, sou como cada um de vocês, todos somos iguais, somos irmãos! Ninguém é anônimo: todos formamos e construímos a Igreja. Isto nos convida também a refletir sobre o fato de que se falta o tijolo da nossa vida cristã, falta algo à beleza da Igreja. Alguns dizem: “Eu não tenho nada a ver com a Igreja”, mas assim pula o tijolo de uma vida neste belo Templo. Ninguém pode sair, todos devemos levar à Igreja a nossa vida, o nosso coração, o nosso amor, o nosso pensamento, o nosso trabalho: todos juntos.

Gostaria então que nos perguntássemos: como vivemos o nosso ser Igreja? Somos pedras vivas ou somos, por assim dizer, pedras cansadas, entediadas, indiferentes? Vocês viram como é ruim ver um cristão cansado, entediado, indiferente? Um cristão assim não vai bem, o cristão deve ser vivo, alegre por ser cristão; deve viver esta beleza de fazer parte do povo de Deus que é a Igreja. Nós nos abrimos à ação do Espírito Santo para ser parte ativa nas nossas comunidades ou nos fechamos em nós mesmos dizendo: “tenho tantas coisas a fazer, não é tarefa minha”?

O Senhor nos dê a todos a sua graça, a sua força, a fim de que possamos ser profundamente unidos a Cristo, que é a pedra angular, a pilastra, a pedra de sustentação da nossa vida e de toda a vida da Igreja. Rezemos para que, animados pelo seu Espírito, sejamos sempre pedras vivas da sua Igreja.

Tradução: Jéssica Marçal/ Canção Nova

“O que quer dizer ‘Povo de Deus'” ?

Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral dessa quarta-feira.

 

ROMA, 12 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir a catequese do Papa Franscisco durante a Audiência Geral da Quarta-feira, na Praça de São Pedro: 

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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de concentrar-me brevemente sobre um dos termos com o qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja, aquele do “Povo de Deus” (cfr. Const. Dog. Lumen Gentium, 9; Catecismo da Igreja Católica, 782). E o faço com algumas perguntas, sobre as quais cada um poderá refletir.

1. O que significa dizer ser “Povo de Deus”? Antes de tudo quer dizer que Deus não pertence propriamente a algum povo; porque Ele nos chama, convoca-nos, convida-nos a fazer parte do seu povo, e este convite é dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus “quer a salvação para todos” (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós para formarmos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e fazei discípulos todos os povos (cfr Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, “não há judeu nem grego… pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28). Gostaria de dizer também a quem se sente distante de Deus e da Igreja, a quem está temeroso ou indiferente, a quem pensa não poder mais mudar: o Senhor chama também você a fazer parte do seu povo e o faz com grande respeito e amor! Ele nos convida a fazer parte deste povo, povo de Deus.

2. Como tornar-se membros deste povo? Não é através do nascimento físico, mas através de um novo nascimento. No Evangelho, Jesus diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus (cfr Jo 3, 3-5). É através do Batismo que nós somos introduzidos neste povo, através da fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e crescer em toda a nossa vida. Perguntamo-nos: como faço crescer a fé que recebi no Batismo? Como faço crescer esta fé que eu recebi e que o povo de Deus possui?

3. Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo segundo o mandamento novo que nos deixou o Senhor (cfr Jo 13, 34). Um amor, porém, que não é estéril sentimentalismo ou algo vago, mas que é o reconhecer Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, acolher o outro como verdadeiro irmão, superando divisões, rivalidades, incompreensões, egoísmos; as duas coisas andam juntas. Quanto caminho temos ainda a percorrer para viver concretamente esta nova lei, aquela do Espírito Santo que age em nós, aquela da caridade, do amor! Quando nós olhamos para os jornais ou para a televisão tantas guerras entre cristãos, mas como pode acontecer isso? Dentro do povo de Deus, quantas guerras! Nos bairros, nos locais de trabalho, quantas guerras por inveja, ciúmes! Mesmo na própria família, quantas guerras internas! Nós precisamos pedir ao Senhor que nos faça entender bem esta lei do amor. Quanto é belo amar-nos uns aos outros como verdadeiros irmãos. Como é belo! Façamos uma coisa hoje. Talvez todos tenhamos simpatias e antipatias; talvez tantos de nós estamos um pouco irritados com alguém; então digamos ao Senhor: Senhor, eu estou irritado com esta pessoa ou com esta; eu rezo ao Senhor por ele e por ela. Rezar por aqueles com os quais estamos irritados é um belo passo nesta lei do amor. Vamos fazer isso? Façamos isso hoje!

4. Que missão tem este povo? Aquela de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz fermentar a massa, sal que dá o sabor e que preserva da corrupção, ser uma luz que ilumina. Ao nosso redor, basta abrir um jornal – como disse – e vemos que a presença do mal existe, o Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vocês acreditam nisso: que Deus é mais forte? Mas o digamos juntos, digamos juntos todos: Deus é mais forte! E sabem por que é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor. E gostaria de acrescentar que a realidade às vezes escura, marcada pelo mal, pode mudar, se nós primeiro levamos a luz do Evangelho sobretudo com a nossa vida. Se em um estádio, pensemos aqui em Roma no Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, em uma noite escura, uma pessoa acende uma luz, será apenas uma entrevista, mas se os outros setenta mil expectadores acendem cada um a própria luz, o estádio se ilumina.  Façamos que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos levaremos a luz do Evangelho a toda a realidade.

5. Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o Reino de Deus, iniciado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até a conclusão, até a segunda vinda de Cristo, vida nossa (cfr Lumen gentium, 9). A finalidade então é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor sem medidas, uma alegria plena.

Queridos irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio do amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus neste nosso mundo, que muitas vezes está perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, que dêem esperança, que dêem novo vigor no caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada um possa sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado a viver segundo a vida boa do Evangelho. E para fazer o outro sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado, a Igreja deve estar com as portas abertas, para que todos possam entrar. E nós devemos sair destas portas e anunciar o Evangelho.

Tradução Jéssica Marçal / Canção Nova

“A Igreja deve estar com as portas abertas para que todos possam entrar”

Durante a catequese geral o Papa Francisco fala que o Povo de Deus é para todos

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

BRASíLIA, 12 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Com a praça de São Pedro repleta de peregrinos e fiéis de todo o mundo, o Papa Francisco, entre momentos de grande espontaneidade, como é do seu feitio, continuou a sua catequese sobre a Igreja. Dessa vez aprofundando no termo do Concílio Vaticano II, “Povo de Deus”.

Significado

O que significa “Povo de Deus”?, perguntou o Papa. “Antes de mais nada quer dizer que Deus não pertence propriamente a nenhum povo” porque a “misericórdia de Deus ‘quer a salvação para todos’ (1 Tim 2, 4). “Jesus não diz para os apóstolos e para nós de formarmos um grupo exclusivo, um grupo de elite”. E falando a todos os que se sentem distante da Igreja, disse o Papa, “O Senhor também te chama para fazer parte do seu povo e o faz com grande respeito e amor!”

Batismo

É nascendo do alto, pela água e pelo Espírito, por meio do “Batismo”, que se entra para fazer parte desse Povo. Nesse sentido o Papa nos convidou a fazer um exame: “como faço para crescer na fé que recebi no meu Batismo?”.

Lei do amor

Um povo que tem uma lei: o amor a Deus e ao próximo. “Amor que não é estéril sentimentalismo ou algo vago, mas que é reconhecer a Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, acolher o outro como verdadeiro irmão superando divisões, rivalidades, incompreensões, egoísmos”.

Deixando de lado o texto da catequese e dirigindo-se à multidão, disse que ainda hoje há muitas guerras “entre cristãos”, “dentro do Povo de Deus”, nos bairros, no trabalho, na própria família, “por inveja, ciúme”. Peçamos ao Senhor que compreendamos a lei do amor.

Interrompido pelos aplausos acrescentou: “que bonito é que aprendamos a nos amar como verdadeiros irmãos”. E convidou-nos a um propósito concreto: “rezar por aqueles com os quais estamos bravos é um excelente passo nessa lei do amor”.

Missão do Povo de Deus

A missão desse povo “é levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus”. Se abrirmos um jornal, disse o Papa, vemos a presença do mal, “o Diabo atua”. Mas afirmou em alta voz: “Deus é mais forte! E sabeis por que é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor”.

Utilizando a imagem de um estado de futebol – “pensemos em Roma no Olímpico ou naquele de San Lorenzo em Buenos Aires”- numa noite escura, onde uma só pessoa acende uma luz dentro desse estádio. É quase imperceptível. Porém, se num estádio cheio, todos acenderem, se notará realmente uma grande diferença. Dessa forma “façamos que a nossa vida seja luz de Cristo; juntos levaremos a luz do evangelho a toda realidade”.

Finalidade desse Povo

A finalidade desse povo é o Reino de Deus, “a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, onde viveremos a alegria do seu amor sem medida, uma alegria plena”.

Portanto, ser Igreja, concluiu o Pontífice, é “ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade” por meio do anúncio. Que a Igreja “seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada um possa se sentir acolhido, amado, perdoado, encorajado”. Mas, para isso, “a Igreja deve estar com as portas abertas, para que todos possam entrar. E nós devemos sair por aquelas portas para anunciar o Evangelho”.

“O que quer dizer ‘Povo de Deus'” ?

Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral dessa quarta-feira.

ROMA, 12 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir a catequese do Papa Franscisco durante a Audiência Geral da Quarta-feira, na Praça de São Pedro: 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de concentrar-me brevemente sobre um dos termos com o qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja, aquele do “Povo de Deus” (cfr. Const. Dog. Lumen Gentium, 9; Catecismo da Igreja Católica, 782). E o faço com algumas perguntas, sobre as quais cada um poderá refletir.

1. O que significa dizer ser “Povo de Deus”? Antes de tudo quer dizer que Deus não pertence propriamente a algum povo; porque Ele nos chama, convoca-nos, convida-nos a fazer parte do seu povo, e este convite é dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus “quer a salvação para todos” (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós para formarmos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e fazei discípulos todos os povos (cfr Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, “não há judeu nem grego… pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28). Gostaria de dizer também a quem se sente distante de Deus e da Igreja, a quem está temeroso ou indiferente, a quem pensa não poder mais mudar: o Senhor chama também você a fazer parte do seu povo e o faz com grande respeito e amor! Ele nos convida a fazer parte deste povo, povo de Deus.

2. Como tornar-se membros deste povo? Não é através do nascimento físico, mas através de um novo nascimento. No Evangelho, Jesus diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus (cfr Jo 3, 3-5). É através do Batismo que nós somos introduzidos neste povo, através da fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e crescer em toda a nossa vida. Perguntamo-nos: como faço crescer a fé que recebi no Batismo? Como faço crescer esta fé que eu recebi e que o povo de Deus possui?

3. Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo segundo o mandamento novo que nos deixou o Senhor (cfr Jo 13, 34). Um amor, porém, que não é estéril sentimentalismo ou algo vago, mas que é o reconhecer Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, acolher o outro como verdadeiro irmão, superando divisões, rivalidades, incompreensões, egoísmos; as duas coisas andam juntas. Quanto caminho temos ainda a percorrer para viver concretamente esta nova lei, aquela do Espírito Santo que age em nós, aquela da caridade, do amor! Quando nós olhamos para os jornais ou para a televisão tantas guerras entre cristãos, mas como pode acontecer isso? Dentro do povo de Deus, quantas guerras! Nos bairros, nos locais de trabalho, quantas guerras por inveja, ciúmes! Mesmo na própria família, quantas guerras internas! Nós precisamos pedir ao Senhor que nos faça entender bem esta lei do amor. Quanto é belo amar-nos uns aos outros como verdadeiros irmãos. Como é belo! Façamos uma coisa hoje. Talvez todos tenhamos simpatias e antipatias; talvez tantos de nós estamos um pouco irritados com alguém; então digamos ao Senhor: Senhor, eu estou irritado com esta pessoa ou com esta; eu rezo ao Senhor por ele e por ela. Rezar por aqueles com os quais estamos irritados é um belo passo nesta lei do amor. Vamos fazer isso? Façamos isso hoje!

4. Que missão tem este povo? Aquela de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz fermentar a massa, sal que dá o sabor e que preserva da corrupção, ser uma luz que ilumina. Ao nosso redor, basta abrir um jornal – como disse – e vemos que a presença do mal existe, o Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vocês acreditam nisso: que Deus é mais forte? Mas o digamos juntos, digamos juntos todos: Deus é mais forte! E sabem por que é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor. E gostaria de acrescentar que a realidade às vezes escura, marcada pelo mal, pode mudar, se nós primeiro levamos a luz do Evangelho sobretudo com a nossa vida. Se em um estádio, pensemos aqui em Roma no Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, em uma noite escura, uma pessoa acende uma luz, será apenas uma entrevista, mas se os outros setenta mil expectadores acendem cada um a própria luz, o estádio se ilumina.  Façamos que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos levaremos a luz do Evangelho a toda a realidade.

5. Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o Reino de Deus, iniciado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até a conclusão, até a segunda vinda de Cristo, vida nossa (cfr Lumen gentium, 9). A finalidade então é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor sem medidas, uma alegria plena.

Queridos irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio do amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus neste nosso mundo, que muitas vezes está perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, que dêem esperança, que dêem novo vigor no caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada um possa sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado a viver segundo a vida boa do Evangelho. E para fazer o outro sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado, a Igreja deve estar com as portas abertas, para que todos possam entrar. E nós devemos sair destas portas e anunciar o Evangelho.

Tradução Jéssica Marçal / Cançao Nova

Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas

Catequese do Papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje

CIDADE DO VATICANO, 05 de Junho de 2013 (Zenit.org) – A Audiência Geral desta manhã começou às 10h30 na praça de São Pedro, onde o Santo Padre Francisco encontrou-se com grupos de peregrinos e fieis provenientes da Itália e de outros países. No seu discurso, o Papa centrou a sua meditação no tema “Cultivar e cuidar da Criação”, devido à presente Jornada Mundial do Meio Ambiente. A seguir o discurso do Papa:

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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de concentrar-me sobre a questão do ambiente, como já tive oportunidade de fazer em diversas ocasiões. Também sugerido pelo Dia Mundial do Ambiente, promovido pelas Nações Unidas, que lança um forte apelo à necessidade de eliminar os desperdícios e a destruição de alimentos.

Quando falamos de ambiente, da criação, o meu pensamento vai às primeiras páginas da Bíblia, ao Livro de Gênesis, onde se afirma que Deus colocou o homem e a mulher na terra para que a cultivassem e a protegessem (cfr 2, 15). E me surgem as questões: O que quer dizer cultivar e cuidar da terra? Nós estamos realmente cultivando e cuidando da criação? Ou será que estamos explorando-a e negligenciando-a? O verbo “cultivar” me traz à mente o cuidado que o agricultor tem com a sua terra para que dê fruto e esse seja partilhado: quanta atenção, paixão e dedicação! Cultivar e cuidar da criação é uma indicação de Deus dada não somente no início da história, mas a cada um de nós; é parte do seu projeto; quer dizer fazer o mundo crescer com responsabilidade, transformá-lo para que seja um jardim, um lugar habitável para todos. Bento XVI recordou tantas vezes que esta tarefa confiada a nós por Deus Criador requer captar o ritmo e a lógica da criação. Nós, em vez disso, somos muitas vezes guiados pela soberba do dominar, do possuir, do manipular, do explorar; não a “protegemos”, não a respeitamos, não a consideramos como um dom gratuito com o qual ter cuidado. Estamos perdendo a atitude de admiração, de contemplação, de escuta da criação; e assim não conseguimos mais ler aquilo que Bento XVI chama de “o ritmo da história de amor de Deus com o homem”. Porque isto acontece? Porque pensamos e vivemos de modo horizontal, estamos nos afastando de Deus, não lemos os seus sinais.

Mas o “cultivar e cuidar” não compreende somente a relação entre nós e o ambiente, entre o homem e a criação, diz respeito também às relações humanas. Os Papas falaram de ecologia humana, estritamente ligada à ecologia ambiental. Nós estamos vivendo um momento de crises; vemos isso no ambiente, mas, sobretudo, no homem. A pessoa humana está em perigo: isto é certo, a pessoa humana hoje está em perigo, eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é somente uma questão de economia, mas de ética e de antropologia. A Igreja destacou isso muitas vezes; e muitos dizem: sim, é certo, é verdade… mas o sistema continua como antes, porque aquilo que domina são as dinâmicas de uma economia e de uma finança carentes de ética. Aquilo que comanda hoje não é o homem, é o dinheiro, o dinheiro, o dinheiro comanda. E Deus nosso Pai deu a tarefa de cuidar da terra não ao dinheiro, mas a nós: aos homens e mulheres, nós temos esta tarefa! Em vez disso, homens e mulheres sacrificam-se aos ídolos do lucro e do consumo: é a “cultura do descartável”. Se um computador quebra é uma tragédia, mas a pobreza, as necessidades, os dramas de tantas pessoas acabam por entrar na normalidade. Se em uma noite de inverno, aqui próximo na rua Ottaviano, por exemplo, morre uma pessoa, isto não é notícia. Se em tantas partes do mundo há crianças que não têm o que comer, isto não é notícia, parece normal. Não pode ser assim! No entanto essas coisas entram na normalidade: que algumas pessoas sem teto morram de frio pelas ruas não é notícia. Ao contrário, a queda de dez pontos na bolsa de valores de uma cidade constitui uma tragédia. Um que morre não é uma notícia, mas se caem dez pontos na bolsa é uma tragédia! Assim as pessoas são descartadas, como se fossem resíduos.

Esta “cultura do descartável” tende a se transformar mentalidade comum, que contagia todos. A vida humana, a pessoa não são mais consideradas como valor primário a respeitar e cuidar, especialmente se é pobre ou deficiente, se não serve ainda – como o nascituro – ou não serve mais – como o idoso. Esta cultura do descartável nos tornou insensíveis também com relação ao lixo e ao desperdício de alimento, o que é ainda mais deplorável quando em cada parte do mundo, infelizmente, muitas pessoas e famílias sofrem fome e desnutrição. Um dia os nossos avós estiveram muito atentos para não jogar nada de comida fora. O consumismo nos induziu a acostumar-nos ao supérfluo e ao desperdício cotidiano de comida, ao qual às vezes não somos mais capazes de dar o justo valor, que vai muito além de meros parâmetros econômicos. Recordemos bem, porém, que a comida que se joga fora é como se estivesse sendo roubada da mesa de quem é pobre, de quem tem fome! Convido todos a refletir sobre o problema da perda e do desperdício de alimento para identificar vias que, abordando seriamente tal problemática, sejam veículo de solidariedade e de partilha com os mais necessitados.

Há poucos dias, na festa de Corpus Christi, lemos a passagem do milagre dos pães: Jesus dá de comer à multidão com cinco pães e dois peixes. E a conclusão do trecho é importante: “E todos os que comeram ficaram fartos. Do que sobrou recolheram ainda doze cestos de pedaços” (Lc 9, 17). Jesus pede aos discípulos que nada seja perdido: nada desperdiçado! E tem este fato das doze cestas: por que doze? O que significa? Doze é o número das tribos de Israel, representa simbolicamente todo o povo. E isto nos diz que quando a comida vem partilhada de modo igualitário, com solidariedade, ninguém é privado do necessário, cada comunidade pode satisfazer as necessidades dos mais pobres. Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas.

Gostaria então que levássemos todos a sério o compromisso de respeitar e cuidar da criação, de estar atento a cada pessoa, de combater a cultura do lixo e do descartável, para promover uma cultura da solidariedade e do encontro. Obrigado.

“Escuta, decisão, ação: três palavras para seguir o caminho de Maria

Meditação do Papa Francisco no final da oração do Terço na Praça de São Pedro, concluindo o mês de Maria

CIDADE DO VATICANO, 31 de Maio de 2013 (Zenit.org) – No final do mês mariano, o Cardeal Angelo Comastri, Vigário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano e Arcipreste da Basílica de São Pedro presidiu nesta tarde às 20h, na Praça de São Pedro, a oração do Santo terço. Durante a celebração, foi levada em procissão a estátua de Nossa Senhora pela Praça de São Pedro. Pelas 20h30, o Santo Padre Francisco chegou ao átrio da Basílica Vaticana e – antes de dar a Benção Apostólica aos fieis presentes – pronunciou uma meditação que publicamos a seguir:

Queridos irmãos e irmãs,

esta noite oramos juntos com o Santo Rosário; percorremos de novo alguns eventos do caminho de Jesus, da nossa salvação e o fizemos com Ela que é nossa Mãe, Maria, Aquela que com mão segura nos guia ao seu Filho Jesus.

Hoje celebramos a festa da Visitação da Beata Virgem Maria à sua prima Isabel. Eu gostaria de meditar com vocês este mistério que mostra como Maria encara o caminho da sua vida, com grande realismo, humanidade, concretude.

Três palavras resumem a atitude de Maria: escuta, decisão, ação; palavras que indicam um caminho também para nós diante do que o Senhor nos pede na vida.

1. Escuta. De onde nasce o gesto de Maria de ir à sua prima Isabel? De uma palavra do Anjo de Deus: “Isabel, tua parente, concebeu um filho na velhice…” (Lc 1, 36). Maria sabe escutar a Deus. Atenção: não é um simples “ouvir” superficial, mas é a “escuta” feita de atenção, de acolhida, de disponibilidade para com Deus. Não é o modo distraído com o qual muitas vezes nós nos colocamos diante do Senhor ou dos outros: escutamos as palavras, mas não escutamos realmente. Maria está atenta a Deus, escuta a Deus.

Mas Maria também escuta os fatos, lê os eventos da sua vida, está atenta à realidade concreta e não para na superfície, mas vai no profundo, para captar o significado. A parente Isabel, que é já anciã, espera um filho: esse é o fato. Mas Maria está atenta ao significado, sabe captá-lo: “Nada é impossível para Deus” (Lc 1, 37).

Isso também é verdade em nossas vidas: escutar de Deus que nos fala, e escutar também da realidade cotidiana, atenção às pessoas, aos fatos porque o Senhor está à porta da nossa vida e bate de muitos modos, coloca sinais no nosso caminho; nos corresponde saber vê-los. Maria é a mãe da escuta, escuta atenta de Deus e escuta igualmente atenta dos acontecimentos da vida.

2. Decisão. Maria não vive “com pressa”, com aflição, mas, como destaca São Lucas, “meditava todas estas coisas no seu coração” (cfr. Lc 2,19.51). E também no momento decisivo da Anunciação do Anjo, Ela pergunta: “Como pode ser isso?” (Lc 1, 34). Mas não pára nem mesmo no momento da reflexão; dá um passo adiante: decide. Não vive às pressas, mas só quando é necessário “vai às pressas”. Maria não se deixa levar pelos acontecimentos, não evita o trabalho da decisão. E isso acontece seja na escolha fundamental que mudará a sua vida: “Eis aqui a serva do Senhor…” (cf. Lc 1,38), seja nas escolhas mais diárias, mas ricas também de significado. Lembro-me do episódio das bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11): também aqui se vê o realismo, a humanidade, a concretude de Maria, que está atenta aos fatos, aos problemas; vê e compreende a dificuldade daqueles dois jovens esposos aos quais falta o vinho da festa, reflete e sabe que Jesus pode fazer algo, e decide pedir ao Filho para que intervenha: “Não têm mais vinho” (ver v.3 ).

Na vida é difícil tomar decisões, muitas vezes tendemos a adiá-las, a deixar que outros decidam no nosso lugar, muitas vezes preferimos deixar-nos arrastar pelos eventos, seguir a moda do momento; às vezes sabemos o que devemos fazer, mas não o fazemos com coragem ou nos parece muito difícil porque significa ir contra-corrente. Maria na Anunciação, na Visitação, nas bodas de Caná vai contra-corrente; coloca-se na escuta de Deus, reflete e procura compreender a realidade, e decide confiar totalmente em Deus, decide visitar, ainda estando grávida, a anciã parente, decide confiar ao Filho com insistência para salvar a alegria das bodas.

3. Ação. Maria partiu em viagem e “foi às pressas…” (cf. Lc 1, 39). No último domingo eu destacava este modo de atuar de Maria: apesar das dificuldades, das críticas que recebeu pela sua decisão de partir, não para diante de nada. E aqui parte “às pressas”. Na oração, diante de Deus que fala, no refletir e meditar sobre os acontecimentos de sua vida, Maria não tem pressa, não se deixa levar pelo momento, não se deixa arrastar pelos eventos. Mas, quando tem claro o que Deus lhe pede, o que deve fazer, não duvida, não demora, mas vai “às pressas”. Santo Ambrósio comenta: “a graça do Espírito Santo não tolera lentidão” (Expos. Evang Century Lucam, II, 19:.. PL 15,1560). O atuar de Maria é uma consequência da sua obediência às palavras do Anjo, mas unida à caridade: vai com Isabel para fazer-se útil; e neste sair da sua casa, de si mesma, por amor, leva o que tem de mais precioso: Jesus; leva o seu Filho.

Às vezes, também nós paramos na escuta, na reflexão sobre o que devemos fazer, talvez também temos clara a decisão que temos que tomar, mas não fazemos a passagem à ação. E sobretudo não nos colocamos em jogo, movendo-nos “às pressas” em direção aos outros para levar-lhes a nossa ajuda, a nossa compreensão, a nossa caridade; para levarmos, também nós, como Maria, o que temos de mais precioso e que recebemos, Jesus e o seu Evangelho, com a palavra e sobretudo com o testemunho concreto do nosso atuar.

Escuta, decisão, ação

Maria, mulher da escuta, abra os nosso ouvidos; faça que saibamos escutar a Palavra do seu Filho Jesus entre as milhares palavras deste mundo; faça que saibamos escutar a realidade na qual vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente aquela que é pobre, necessitada, em dificuldade.

Maria, mulher da decisão, ilumina a nossa mente e o nosso coração, para que saibamos obedecer a Palavra do seu Filho Jesus, sem hesitar; dê-nos a coragem da decisão, de não deixar-nos levar por outros que orientem nossa vida.

Maria, mulher de ação, faça que as nossas mãos e os nossos pés se movam “às pressas” para os outros, para levar a caridade e o amor do seu Filho Jesus, para levar, como você, no mundo, a luz do Evangelho. Amém.

(Tradução Thácio Siqueira)

A Igreja é a família na qual se ama e se é amado

Catequese do Papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje

CIDADE DO VATICANO, 29 de Maio de 2013 (Zenit.org) – A Audiência Geral desta manhã aconteceu às 10h30 na Praça de São Pedro, onde o Santo Padre Francisco se encontrou com grupos de peregrinos e fieis da Itália e de outros países. No seu discurso em língua italiana, o papa começou um novo ciclo de catequeses sobre o Mistério da Igreja, partindo das expressões dos textos do Concílio Ecumênico Vaticano II. O tema de hoje: “A Igreja: família de Deus”. Oferecemos a tradução do discurso do Papa

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Quarta-feira passada destaquei o vínculo profundo entre o Espírito Santo e a Igreja. Hoje eu gostaria de começar algumas catequeses sobre o mistério da Igreja, mistério que todos nós vivemos e do qual fazemos parte. Gostaria de fazer com expressões bem presentes nos textos do Concílio Ecumênico Vaticano II.

Hoje, a primeira: a Igreja como Família de Deus

Nos últimos meses, mais de uma vez eu fiz referência à parábola do filho pródigo, ou melhor, do pai misericordioso (cf. Lc 15, 11-32). O filho mais novo sai da casa de seu pai, desperdiça tudo e decide voltar porque percebe que cometeu um erro, mas já não se considera digno de ser filho e pensa poder ser acolhido como servo. O pai, em vez disso, corre para encontrá-lo, abraça-o, e lhe restitui a dignidade de filho e faz festa. Esta parábola, como outras no Evangelho, mostra bem o desígnio de Deus para a humanidade.

Qual é este projeto de Deus? É fazer de todos nós uma única família de seus filhos, em que cada um o sinta próximo e se sinta amado por Ele, como na parábola evangélica, sinta o calor de ser família de Deus. Neste grande desígnio encontra a sua raíz a Igreja, que não é uma organização fundada por um acordo com algumas pessoas, mas – como nos lembrou várias vezes o Papa Bento XVI – é obra de Deus, nasceu deste plano de amor que se realiza progressivamente na história. A Igreja nasce do desejo de Deus de chamar todos os homens à comunhão com Ele, à sua amizade, e de fato a participar como filhos seus da sua mesma vida divina. A mesma palavra “Igreja”, do grego Ekklesia, significa “convocação”: Deus nos convoca, nos impele a sair do individualismo, da tendência a fechar-se em si mesmos e nos chama a fazer parte da sua família. E essa chamada tem a sua origem na mesma criação. Deus nos criou para que vivamos em uma relação de profunda amizade com Ele, e ainda quando o pecado quebrou esta relação com Ele, com os outros e com a criação, Deus não nos abandonou. Toda a história da salvação é a história de Deus que busca o homem, oferece-lhe o seu amor, acolhe-o. Chamou Abraão para ser pai de uma multidão, escolheu o povo de Israel para estabelecer uma aliança que envolva todas as nações, e enviou, na plenitude dos tempos, o seu Filho para que o seu plano de amor e de salvação se realize numa nova e eterna aliança com toda a humanidade. Quando lemos os Evangelhos, vemos que Jesus reúne em torno dele uma pequena comunidade que acolhe a sua palavra, segue-o, compartilha a sua jornada, se torna a sua família, e com esta comunidade Ele prepara e constrói a sua Igreja.

De onde nasce então a Igreja? Nasce do gesto supremo de amor na Cruz, do lado trespassado de Jesus, do qual jorram sangue e água, símbolo dos Sacramentos da Eucaristia e do Batismo. Na família de Deus, na Igreja, a seiva vital é o amor de Deus que se concretiza no amá-Lo e no amar os outros, todos, sem distinção e medida. A Igreja é a família na qual se ama e se é amado.

Quando se manifesta a Igreja? Comemoramos dois domingos atrás; manifesta-se quando o dom do Espírito Santo enche o coração dos Apóstolos e os empurra a sair e começar o caminho de anunciar o Evangelho, difundir o amor de Deus.

Ainda hoje tem gente que diz: “Cristo sim, Igreja não”. Como aqueles que dizem “eu acredito em Deus, mas não nos sacerdotes”. Mas é precisamente a Igreja que nos traz Cristo e que nos leva a Deus; a Igreja é a grande família dos filhos de Deus. Claro, tem também elementos humanos; naqueles que a compõem, Pastores e fieis, há falhas, imperfeições, pecados, também o Papa os tem e muitos, mas o bonito é que quando nos damos conta de sermos pecadores, encontramos a misericórdia de Deus, quem sempre perdoa. Não esqueçam: Deus sempre perdoa e nos recebe no seu amor de perdão e de misericórdia. Alguns dizem que o pecado é uma ofensa a Deus, mas também uma oportunidade de humilhação para dar-se conta de que existe algo mais bonito: a misericórdia de Deus. Pensemos nisso.

Perguntemo-nos hoje: o quanto eu amo a Igreja? Rezo por ela? Me sinto parte da família da Igreja? O que eu faço para que seja uma comunidade na qual cada um se sinta acolhido e compreendido, sinta a misericórdia e o amor de Deus que renova a vida? A fé é um dom e um ato que nos afeta pessoalmente, mas Deus nos chama a viver a nossa fé juntos, como família, como Igreja.

Peçamos ao Senhor, de maneira especial neste Ano da Fé, que as nossas comunidades, toda a Igreja, sejam cada vez mais verdadeiras famílias que vivem e transmitem o calor de Deus.

[Tradução do original Italiano por Thácio Siqueira]