“Nem ir para trás, nem um progressismo adolescente”

Papa Francisco convida: Abrir-se à liberdade do Espírito Santo

Por Redacao

ROMA, 12 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Não devemos ter medo da liberdade que o Espírito Santo nos dá. Este foi um dos destaques da homilia do papa Francisco na missa de hoje, celebrada na Casa Santa Marta. Francisco ressaltou que a Igreja precisa ter cuidado com duas tentações: a de voltar para trás e a do “progressismo adolescente”.

Concelebraram com o papa o cardeal emérito Bernard Agre, da Costa do Marfim, e o cardeal brasileiro João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e para as Sociedades de Vida Apostólica. Também participou um grupo de presbíteros, religiosos e leigos deste mesmo dicastério.

Maduros perante a lei

“Não pensem que eu vim suprimir a lei”. Francisco desenrolou a homilia a partir destas palavras de Jesus aos discípulos e indicou que esta passagem segue a das bem-aventuranças, “expressão da nova lei”, mais exigente que a de Moisés. Esta lei, acrescentou o papa, é “o fruto da aliança” e não pode ser entendida sem ela. “Esta aliança, esta lei, é sagrada porque levava as pessoas para Deus”. Francisco comparou a “maturidade desta lei” com o “broto que surge e se transforma em flor”. Jesus “é a expressão da maturidade da lei”, disse o pontífice, e Paulo nos fala de dois tempos “sem ruptura da continuidade” entre a lei da história e a lei do Espírito:

“O tempo do cumprimento da lei, o momento em que a lei alcança a maturidade, é a lei do Espírito. Avançar neste caminho é um pouco arriscado, mas é a única forma de amadurecer, para superar as vezes em que não fomos maduros. Neste caminho para a maturidade da lei, que é indicado precisamente pela pregação de Jesus, sempre existe o medo, o medo da liberdade que o Espírito nos dá. A lei do Espírito que nos torna livres! Esta liberdade nos dá um pouco de medo, porque temos medo de confundir a liberdade do Espírito com outra liberdade humana”.

Não voltar para trás

A lei do Espírito, reforçou o papa, “nos guia por uma estrada de contínuo discernimento para fazer a vontade de Deus e isto nos dá medo”. Um medo que “tem duas tentações”. A primeira é a de “voltar para trás”, de dizer “até aqui nós podíamos chegar, mas não podemos ir até lá, vamos ficar por aqui”. Esta é “a tentação do medo da liberdade, do medo do Espírito Santo (…) É melhor ficar naquilo que é seguro”. O papa contou então o caso de um superior geral que, nos anos 1930, “prescreveu todo tipo de regras anti-carisma” para os seus religiosos, “um trabalho de anos”. Quando chegou a Roma, um abade beneditino lhe disse, depois de ouvir este fato, que ele teria “matado o carisma da congregação”, “teria matado a liberdade”, já que “este carisma dá frutos na liberdade e ele tinha freado o carisma”.

“Existe essa tentação de voltar para trás, porque nos achamos mais ‘seguros’ lá atrás: mas a segurança plena está no Espírito Santo que nos leva para frente. E o que nos dá essa confiança, como diz São Paulo, é o Espírito, que é mais exigente, porque Jesus nos diz: ‘Em verdade vos digo: até não passarem os céus e a terra, não passará um ápice da lei’. É mais exigente! Mas não nos dá aquela segurança humana. Não podemos controlar o Espírito Santo: esse é o ‘problema’! Isto é uma tentação”.

A tentação do relativismo

Há também, prosseguiu Francisco, outra tentação: a do “progressismo adolescente”, que nos faz “sair da estrada”.

“Pegamos de um lado ou de outro os valores dessa cultura… Querem fazer essa lei? Então que seja feita essa lei. Querem levar adiante aquilo outro? Então vamos alargar um pouco mais o caminho. No fim, isso não é um verdadeiro progressismo. É um progressismo adolescente: como os adolescentes que querem ter tudo, com entusiasmo, e no final? Tropeçam… É como a estrada quando está congelada e o carro desliza e sai da pista… É outra tentação deste momento! Nós, neste momento da história da Igreja, não podemos voltar atrás nem sair da estrada!”.

O caminho, disse o papa, “é o da liberdade no Espírito Santo, que nos torna livres; do contínuo discernimento sobre a vontade de Deus para seguir em frente neste caminho, sem ter que voltar para trás e sem sair da estrada”. Peçamos ao Senhor “a graça que o Espírito Santo nos dá para seguir adiante”.

“O que quer dizer ‘Povo de Deus'” ?

Catequese do Papa Francisco na Audiência Geral dessa quarta-feira.

ROMA, 12 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos a seguir a catequese do Papa Franscisco durante a Audiência Geral da Quarta-feira, na Praça de São Pedro: 

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de concentrar-me brevemente sobre um dos termos com o qual o Concílio Vaticano II definiu a Igreja, aquele do “Povo de Deus” (cfr. Const. Dog. Lumen Gentium, 9; Catecismo da Igreja Católica, 782). E o faço com algumas perguntas, sobre as quais cada um poderá refletir.

1. O que significa dizer ser “Povo de Deus”? Antes de tudo quer dizer que Deus não pertence propriamente a algum povo; porque Ele nos chama, convoca-nos, convida-nos a fazer parte do seu povo, e este convite é dirigido a todos, sem distinção, porque a misericórdia de Deus “quer a salvação para todos” (1 Tm 2, 4). Jesus não diz aos Apóstolos e a nós para formarmos um grupo exclusivo, um grupo de elite. Jesus diz: ide e fazei discípulos todos os povos (cfr Mt 28, 19). São Paulo afirma que no povo de Deus, na Igreja, “não há judeu nem grego… pois todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gal 3, 28). Gostaria de dizer também a quem se sente distante de Deus e da Igreja, a quem está temeroso ou indiferente, a quem pensa não poder mais mudar: o Senhor chama também você a fazer parte do seu povo e o faz com grande respeito e amor! Ele nos convida a fazer parte deste povo, povo de Deus.

2. Como tornar-se membros deste povo? Não é através do nascimento físico, mas através de um novo nascimento. No Evangelho, Jesus diz a Nicodemos que é preciso nascer do alto, da água e do Espírito para entrar no Reino de Deus (cfr Jo 3, 3-5). É através do Batismo que nós somos introduzidos neste povo, através da fé em Cristo, dom de Deus que deve ser alimentado e crescer em toda a nossa vida. Perguntamo-nos: como faço crescer a fé que recebi no Batismo? Como faço crescer esta fé que eu recebi e que o povo de Deus possui?

3. Outra pergunta. Qual é a lei do Povo de Deus? É a lei do amor, amor a Deus e amor ao próximo segundo o mandamento novo que nos deixou o Senhor (cfr Jo 13, 34). Um amor, porém, que não é estéril sentimentalismo ou algo vago, mas que é o reconhecer Deus como único Senhor da vida e, ao mesmo tempo, acolher o outro como verdadeiro irmão, superando divisões, rivalidades, incompreensões, egoísmos; as duas coisas andam juntas. Quanto caminho temos ainda a percorrer para viver concretamente esta nova lei, aquela do Espírito Santo que age em nós, aquela da caridade, do amor! Quando nós olhamos para os jornais ou para a televisão tantas guerras entre cristãos, mas como pode acontecer isso? Dentro do povo de Deus, quantas guerras! Nos bairros, nos locais de trabalho, quantas guerras por inveja, ciúmes! Mesmo na própria família, quantas guerras internas! Nós precisamos pedir ao Senhor que nos faça entender bem esta lei do amor. Quanto é belo amar-nos uns aos outros como verdadeiros irmãos. Como é belo! Façamos uma coisa hoje. Talvez todos tenhamos simpatias e antipatias; talvez tantos de nós estamos um pouco irritados com alguém; então digamos ao Senhor: Senhor, eu estou irritado com esta pessoa ou com esta; eu rezo ao Senhor por ele e por ela. Rezar por aqueles com os quais estamos irritados é um belo passo nesta lei do amor. Vamos fazer isso? Façamos isso hoje!

4. Que missão tem este povo? Aquela de levar ao mundo a esperança e a salvação de Deus: ser sinal do amor de Deus que chama todos à amizade com Ele; ser fermento que faz fermentar a massa, sal que dá o sabor e que preserva da corrupção, ser uma luz que ilumina. Ao nosso redor, basta abrir um jornal – como disse – e vemos que a presença do mal existe, o Diabo age. Mas gostaria de dizer em voz alta: Deus é mais forte! Vocês acreditam nisso: que Deus é mais forte? Mas o digamos juntos, digamos juntos todos: Deus é mais forte! E sabem por que é mais forte? Porque Ele é o Senhor, o único Senhor. E gostaria de acrescentar que a realidade às vezes escura, marcada pelo mal, pode mudar, se nós primeiro levamos a luz do Evangelho sobretudo com a nossa vida. Se em um estádio, pensemos aqui em Roma no Olímpico, ou naquele de São Lourenço em Buenos Aires, em uma noite escura, uma pessoa acende uma luz, será apenas uma entrevista, mas se os outros setenta mil expectadores acendem cada um a própria luz, o estádio se ilumina.  Façamos que a nossa vida seja uma luz de Cristo; juntos levaremos a luz do Evangelho a toda a realidade.

5. Qual é a finalidade deste povo? A finalidade é o Reino de Deus, iniciado na terra pelo próprio Deus e que deve ser ampliado até a conclusão, até a segunda vinda de Cristo, vida nossa (cfr Lumen gentium, 9). A finalidade então é a comunhão plena com o Senhor, a familiaridade com o Senhor, entrar na sua própria vida divina, onde viveremos a alegria do seu amor sem medidas, uma alegria plena.

Queridos irmãos e irmãs, ser Igreja, ser Povo de Deus, segundo o grande desígnio do amor do Pai, quer dizer ser o fermento de Deus nesta nossa humanidade, quer dizer anunciar e levar a salvação de Deus neste nosso mundo, que muitas vezes está perdido, necessitado de ter respostas que encorajem, que dêem esperança, que dêem novo vigor no caminho. A Igreja seja lugar da misericórdia e da esperança de Deus, onde cada um possa sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado a viver segundo a vida boa do Evangelho. E para fazer o outro sentir-se acolhido, amado, perdoado, encorajado, a Igreja deve estar com as portas abertas, para que todos possam entrar. E nós devemos sair destas portas e anunciar o Evangelho.

Tradução Jéssica Marçal / Cançao Nova

“O Senhor nos olha com misericórdia

Palavras do Papa Francisco durante o Angelus

CIDADE DO VATICANO, 09 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Publicamos aqui as palavras que o Santo Padre pronunciou às 12h de hoje aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro  antes da habitual oração do Angelus.

[Antes do Angelus]

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

O mês de junho é tradicionalmente dedicado ao Sagrado Coração de Jesus, a mais alta expressão humana do amor divino. Precisamente sexta-feira passada, de fato, celebramos a Solenidade do Sagrado Coração de Cristo, e esta festa dá o tom para todo o mês. A piedade popular valoriza muito os símbolos, e o Coração de Jesus é o símbolo por excelência da misericórdia de Deus; mas não é um símbolo imaginário, é um símbolo real, que representa o centro, a fonte de onde jorrou a salvação para toda a humanidade.

Nos Evangelhos encontramos várias referências ao Coração de Jesus, por exemplo, na passagem onde Cristo mesmo diz: “Vinde a mim, todos os que estais cansados ​​e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração “(Mt 11, 28-29). Chave, então, é a narração da morte de Cristo segundo João. Este evangelista de fato testemunha o que viu no Calvário, ou seja, que um soldado, quando Jesus já estava morto, perfurou o seu lado com a lança e daquela ferida saiu sangue e água (cf. Jo 19, 33-34). João reconheceu naquele sinal, aparentemente aleatório, o cumprimento das profecias: do coração de Jesus, Cordeiro imolado na cruz, jorra para todos os homens o perdão e a vida.

Mas a misericórdia de Jesus não é apenas um sentimento, é uma força que dá vida, que ressuscita o homem! É o que nos diz também o Evangelho de hoje, no episódio da viúva de Naim (Lucas 7, 11-17). Jesus, com seus discípulos, está chegando em Naim, uma aldeia da Galiléia, no exato momento em que acontece um funeral: é o enterro de uma menino, filho único de uma mulher viúva. Jesus fixa o olhar na mãe que chora. O evangelista Lucas diz: “Vendo-a, o Senhor foi movido de grande compaixão por ela” (v. 13). Esta “compaixão” é o amor de Deus pelo homem, é a misericórdia, ou seja a atitude de Deus em contato com a miséria humana, com a nossa indigência, o nosso sofrimento, a nossa angústia. O termo bíblico “compaixão” lembra o útero da mãe: a mãe, de fato, experimenta uma reação toda particular diante da dor dos filhos. Assim nos ama Deus, diz a Escrituta.

E qual é o fruto deste amor, desta misericórdia? É a vida! Jesus disse à viúva de Naim: “Não chores”, e, em seguida, chamou o menino morto e o despertou como de um sono (cf. vv 13-15.). Achamos que isso é bonito: a misericórdia de Deus dá vida ao homem, o ressuscita da morte. O Senhor nos olha sempre com misericórdia; não esqueçamos, nos olha sempre com misericórdia, nos espera com misericórdia. Não tenhamos medo de aproximar-nos Dele! Tem um coração misericordioso! Se nós lhe mostramos as nossas feridas interiores, os nossos pecados, Ele sempre nos perdoa. É pura misericórdia! Vamos a Jesus!

Voltemo-nos à Virgem Maria: o seu coração imaculado, coração de mãe, vivenciou ao máximo a “compaixão” de Deus, especialmente na hora da paixão e da morte de Jesus. Que Maria nos ajude a ser mansos, humildes e misericordiosos com os nossos irmãos.

[Depois do Angelus]

Queridos irmãos e irmãs,

hoje em Cracóvia são proclamados Beatos duas religiosas da Polônia: Sofia Czeska Maciejowska que na primeira metade do século 17 fundou a Congregação das Virgens da Apresentação da Santíssima Virgem Maria; e Margarida Lucia Szewczyk, que no século 19, fundou a Congregação das Filhas da Beata Nossa Senhora das Dores. Com a Igreja em Cracóvia, demos graças ao Senhor!

Saúdo com afecto todos os peregrinos presentes hoje, grupos de igrejas, famílias, escolas, associações, movimentos. Saudações a todos!

Saúdo os fiéis de Mombai, na Índia.

Saúdo o Movimento do Amor Familiar de Roma; as confrarias e os voluntários do Santuário de Mongiovino, na Perugia; a Juventude Franciscana da Umbria; a “Casa da Caridade” em Lecce;  os fiéis da província de Modena, que incentivo a reconstrução; e aqueles de Ceprano. Saúdo os peregrinos de Ortona, onde se veneram as relíquias do apóstolo Tomé, que percorreram o caminho “de Tomé a Pedro”: obrigado!

Hoje não nos esqueçamos do amor de Deus, o amor de Jesus: Ele nos olha, nos ama e nos espera. É todo coração e todo misericórdia. Vamos com confiança em direção a Jesus, Ele nos perdoa sempre.

Bom domingo e um bom almoço!

Tradução Thácio Siqueira

É preciso deixar-se amar por Deus

Meditação do papa na festa do Sagrado Coração de Jesus

CIDADE DO VATICANO, 07 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Deixar-se amar por Deus com ternura é difícil, mas é a graça que temos que pedir dele. Este foi o convite do papa Francisco na missa desta manhã na Casa Santa Marta.

Concelebrou com ele o bibliotecário da Santa Igreja Romana, dom Jean-Louis Bruguès, e o pe. Sergio Pagano. Assistiu à missa parte do pessoal do Arquivo Secreto Vaticano.

“Jesus nos amou muito, não com palavras, mas com fatos e com a vida”, repetiu várias vezes o papa na homilia de hoje, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que ele chama de “festa do amor”, de um “coração que amou muito”. Um amor que, como repetia Santo Inácio, “se manifesta mais nas obras do que nas palavras” e que é especialmente “mais um dar-se do que um receber”.

Bases do amor de Deus

“Estes dois critérios”, destacou o papa, “são os pilares do amor verdadeiro”, e é o Bom Pastor quem representa todo o amor de Deus. Ele conhece as suas ovelhas uma por uma, “porque o amor não é abstrato nem geral: é o amor por cada um”.

“Um Deus que se torna próximo por amor, que caminha com o seu povo, e esse caminhar chega a um ponto inimaginável. Nunca podemos imaginar que o próprio Deus se torna um de nós e caminha conosco, fica conosco, permanece na sua Igreja, continua presente na Eucaristia, continua na sua Palavra, permanece nos pobres, fica conosco para caminhar! E isto é estar perto: é o pastor perto do seu rebanho, das suas ovelhas, que ele conhece uma por uma”.

Explicando uma passagem do livro do profeta Ezequiel, Francisco ressalta outro aspecto do amor de Deus: o cuidado da ovelha perdida e da ovelha ferida e doente:

“A ternura! Deus nos ama ternamente! Nosso Senhor conhece aquela linda ciência das carícias, aquela ternura de Deus. Não se ama com as palavras. Ele se aproxima, chega perto, e nos dá aquele amor com ternura. Proximidade e ternura! Esses dois estilos de Deus que se torna próximo e que dá todo o seu amor inclusive nas menores coisas: com a ternura. E é um amor forte, porque a proximidade e a ternura nos fazem ver a fortaleza do amor de Deus”.

Chamados a amar

“Mas vocês amam como eu os amei?”, foi a pergunta que o papa destacou, reforçando que o amor deve “ser próximo”, deve ser “como o do bom samaritano” e, em particular, ter “o sinal da proximidade e da ternura”. Mas como devolver todo esse amor a Deus? Este foi o outro ponto em que Francisco se concentrou: “amando-o”, ficando “perto dele”, sendo “ternos com Ele”. Mas isto não é suficiente:

“Pode parecer uma heresia, mas é a maior das verdades! Mais difícil do que amar a Deus é deixar-se amar por Ele! A maneira de devolver tanto amor é abrir o coração e deixar-se amar. Deixar que Ele venha até nós e senti-lo perto. Permitir que ele seja terno, que ele nos acaricie. Isso é muito difícil: deixar-se amar por Ele. E é isto o que talvez devamos pedir hoje na missa: Senhor, eu quero te amar, mas me ensina essa difícil ciência, esse difícil hábito de me deixar amar por ti, de te sentir por perto e de sentir a tua ternura! Que o Senhor nos dê esta graça”.

Destruir os ídolos para amar a Deus plenamente

Homilia do Papa Francisco na missa celebrada na capela da Casa Santa Marta

Por Salvatore Cernuzio

ROMA, 06 de Junho de 2013 (Zenit.org) – A missa desta manhã  na capela da Casa Santa Marta foi concelebrada pelo arcebispo de Curitiba, José Vitti; Juan Segura, de Ibiza, Espanha;  Chirayath Anthony, de Sagar, Índia. Participaram alguns funcionários da Biblioteca do Vaticano, acompanhados pelo vice-prefeito Ambrose Paizzoni e um grupo de leigos da Universidade Lateranense junto com o  Vice-Reitor, Mons. Patrick Valdrini.

O Papa, como todos os dias,  apresenta em seu sermão argumentos extraídos do Evangelho da liturgia diária. Refletindo sobre a passagem de Marcos, o Santo Padre falou sobre a figura do escriba que  foi até Jesus e perguntou: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”. A questão aparentemente inocente, de acordo com o Papa, esconde um desejo de “testar” o Messias, se não “fazê-lo cair na armadilha”.

Isso é demonstrado pela resposta de Jesus: “Tu não estás longe do reino de Deus”.  Uma maneira implícita, de acordo com o papa Francisco, com a qual Jesus gostaria de dizer ao escriba: “Você sabe a teoria”, mas “ainda te falta certa distância do Reino de Deus”, isto é, você tem que caminhar para transformar “em realidade esse mandamento”.

“Não basta dizer: “Mas eu acredito em Deus, Deus é o único Deus ‘”, disse o Pontífice. “Tudo bem, mas como você vive isso no caminho da vida? Porque podemos dizer: “O Senhor é o único Deus, não há outro, mas viver como se Ele não fosse o único Deus,  e ainda ter outras divindades à nossa disposição “.

O perigo é a idolatria. Essa “é trazida até nós com o espírito do mundo. E Jesus  foi claro: o espírito do mundo, não! Pede ao Pai que nos defenda do espírito do mundo, na última ceia “, porque” nos leva  à idolatria”.

“A idolatria é sutil”, enfatizou  Bergoglio, insinua-se na alma do homem. Nós também “temos nossos ídolos ocultos”.  “Descobri-los”, procurá-los e “destruí-los”  é a única maneira de avançar e “não estar longe do reino de Deus”.

Deus, então, “pede-nos para afastar os ídolos” que “estão escondidos em nossa personalidade, em nosso modo de viver” e “impedem-nos de amar a Deus”.  

Isso explica por que o apóstolo Tiago, quando diz que quem é amigo do mundo, é inimigo de Deus, começa dizendo: Adúlteros. Nos condena, mas com o adjetivo: Adúlteros ” .Por que, disse Bergoglio, “quem é” amigo “do mundo é um idólatra, não é fiel ao amor de Deus! A estrada para não estar muito longe” e “avançar no Reino de Deus, é uma estrada de fidelidade que se assemelha a do amor conjugal”.

O amor do Senhor, no entanto, é um amor ainda maior, que apesar das “pequenas ou não tão pequenas idolatrias que possuímos”, é impossível não ser fiel. O Santo Padre exortou a rezar nos momentos em que somos invadidos pela fraqueza e não somos capazes de viver a fidelidade total a Deus, pedindo a Jesus: “Senhor, você é tão bom, ensina-me o caminho para estar sempre perto de Deus e afastar sempre todos os ídolos. É difícil, mas temos que começar, porque eles nos tornam inimigos de Deus”. 

 

Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas

Catequese do Papa Francisco durante a Audiência Geral de hoje

CIDADE DO VATICANO, 05 de Junho de 2013 (Zenit.org) – A Audiência Geral desta manhã começou às 10h30 na praça de São Pedro, onde o Santo Padre Francisco encontrou-se com grupos de peregrinos e fieis provenientes da Itália e de outros países. No seu discurso, o Papa centrou a sua meditação no tema “Cultivar e cuidar da Criação”, devido à presente Jornada Mundial do Meio Ambiente. A seguir o discurso do Papa:

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Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Hoje gostaria de concentrar-me sobre a questão do ambiente, como já tive oportunidade de fazer em diversas ocasiões. Também sugerido pelo Dia Mundial do Ambiente, promovido pelas Nações Unidas, que lança um forte apelo à necessidade de eliminar os desperdícios e a destruição de alimentos.

Quando falamos de ambiente, da criação, o meu pensamento vai às primeiras páginas da Bíblia, ao Livro de Gênesis, onde se afirma que Deus colocou o homem e a mulher na terra para que a cultivassem e a protegessem (cfr 2, 15). E me surgem as questões: O que quer dizer cultivar e cuidar da terra? Nós estamos realmente cultivando e cuidando da criação? Ou será que estamos explorando-a e negligenciando-a? O verbo “cultivar” me traz à mente o cuidado que o agricultor tem com a sua terra para que dê fruto e esse seja partilhado: quanta atenção, paixão e dedicação! Cultivar e cuidar da criação é uma indicação de Deus dada não somente no início da história, mas a cada um de nós; é parte do seu projeto; quer dizer fazer o mundo crescer com responsabilidade, transformá-lo para que seja um jardim, um lugar habitável para todos. Bento XVI recordou tantas vezes que esta tarefa confiada a nós por Deus Criador requer captar o ritmo e a lógica da criação. Nós, em vez disso, somos muitas vezes guiados pela soberba do dominar, do possuir, do manipular, do explorar; não a “protegemos”, não a respeitamos, não a consideramos como um dom gratuito com o qual ter cuidado. Estamos perdendo a atitude de admiração, de contemplação, de escuta da criação; e assim não conseguimos mais ler aquilo que Bento XVI chama de “o ritmo da história de amor de Deus com o homem”. Porque isto acontece? Porque pensamos e vivemos de modo horizontal, estamos nos afastando de Deus, não lemos os seus sinais.

Mas o “cultivar e cuidar” não compreende somente a relação entre nós e o ambiente, entre o homem e a criação, diz respeito também às relações humanas. Os Papas falaram de ecologia humana, estritamente ligada à ecologia ambiental. Nós estamos vivendo um momento de crises; vemos isso no ambiente, mas, sobretudo, no homem. A pessoa humana está em perigo: isto é certo, a pessoa humana hoje está em perigo, eis a urgência da ecologia humana! E o perigo é grave porque a causa do problema não é superficial, mas profunda: não é somente uma questão de economia, mas de ética e de antropologia. A Igreja destacou isso muitas vezes; e muitos dizem: sim, é certo, é verdade… mas o sistema continua como antes, porque aquilo que domina são as dinâmicas de uma economia e de uma finança carentes de ética. Aquilo que comanda hoje não é o homem, é o dinheiro, o dinheiro, o dinheiro comanda. E Deus nosso Pai deu a tarefa de cuidar da terra não ao dinheiro, mas a nós: aos homens e mulheres, nós temos esta tarefa! Em vez disso, homens e mulheres sacrificam-se aos ídolos do lucro e do consumo: é a “cultura do descartável”. Se um computador quebra é uma tragédia, mas a pobreza, as necessidades, os dramas de tantas pessoas acabam por entrar na normalidade. Se em uma noite de inverno, aqui próximo na rua Ottaviano, por exemplo, morre uma pessoa, isto não é notícia. Se em tantas partes do mundo há crianças que não têm o que comer, isto não é notícia, parece normal. Não pode ser assim! No entanto essas coisas entram na normalidade: que algumas pessoas sem teto morram de frio pelas ruas não é notícia. Ao contrário, a queda de dez pontos na bolsa de valores de uma cidade constitui uma tragédia. Um que morre não é uma notícia, mas se caem dez pontos na bolsa é uma tragédia! Assim as pessoas são descartadas, como se fossem resíduos.

Esta “cultura do descartável” tende a se transformar mentalidade comum, que contagia todos. A vida humana, a pessoa não são mais consideradas como valor primário a respeitar e cuidar, especialmente se é pobre ou deficiente, se não serve ainda – como o nascituro – ou não serve mais – como o idoso. Esta cultura do descartável nos tornou insensíveis também com relação ao lixo e ao desperdício de alimento, o que é ainda mais deplorável quando em cada parte do mundo, infelizmente, muitas pessoas e famílias sofrem fome e desnutrição. Um dia os nossos avós estiveram muito atentos para não jogar nada de comida fora. O consumismo nos induziu a acostumar-nos ao supérfluo e ao desperdício cotidiano de comida, ao qual às vezes não somos mais capazes de dar o justo valor, que vai muito além de meros parâmetros econômicos. Recordemos bem, porém, que a comida que se joga fora é como se estivesse sendo roubada da mesa de quem é pobre, de quem tem fome! Convido todos a refletir sobre o problema da perda e do desperdício de alimento para identificar vias que, abordando seriamente tal problemática, sejam veículo de solidariedade e de partilha com os mais necessitados.

Há poucos dias, na festa de Corpus Christi, lemos a passagem do milagre dos pães: Jesus dá de comer à multidão com cinco pães e dois peixes. E a conclusão do trecho é importante: “E todos os que comeram ficaram fartos. Do que sobrou recolheram ainda doze cestos de pedaços” (Lc 9, 17). Jesus pede aos discípulos que nada seja perdido: nada desperdiçado! E tem este fato das doze cestas: por que doze? O que significa? Doze é o número das tribos de Israel, representa simbolicamente todo o povo. E isto nos diz que quando a comida vem partilhada de modo igualitário, com solidariedade, ninguém é privado do necessário, cada comunidade pode satisfazer as necessidades dos mais pobres. Ecologia humana e ecologia ambiental caminham juntas.

Gostaria então que levássemos todos a sério o compromisso de respeitar e cuidar da criação, de estar atento a cada pessoa, de combater a cultura do lixo e do descartável, para promover uma cultura da solidariedade e do encontro. Obrigado.

Diante dos cinco pães, Jesus pensa: eis a Providência!

Palavras do Papa Francisco durante o Angelus

ROMA, 02 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos as palavras do Papa Francisco pronunciadas da janela do Palácio Apostólico,  neste domingo, aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça de Sao Pedro para a tradicional oraçao mariana do Angelus.

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!

Quinta-feira passada comemoramos a festa de Corpus Christi, que na Itália e em outros países foi transferida para este domingo. É a festa da Eucaristia, Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo.

O Evangelho narra o milagre da multiplicação dos pães (Lucas 9,11-17); gostaria de deter-me sobre um aspecto que sempre me impressiona e me faz pensar. Estamos à beira do lago da Galiléia, a noite se aproxima; Jesus se preocupa com as pessoas que há tantas horas estão com Ele: são milhares, e eles estão com fome. O que fazer? Os discípulos levantam a questão, e dizem a Jesus: “Despede a multidão”para que possa ir aos povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida. Mas Jesus diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (v. 13). Os discípulos ficam confusos, e respondem:“Só temos cinco pães e dois peixes”,como dizer: apenas o suficiente para nós.

Jesus sabe bem o que fazer, mas quer envolver os seus discípulos, quer educá-los. A reação dos discípulos é a atitude humana que procura a solução mais realista, que não crie muitos problemas: Despede a multidão – dizem – cada um cuide de si mesmo como pode, de resto já fez muito por eles: pregou, curou os doentes … Despede a multidão!

A atitude de Jesus é completamente diferente, e é ditada por sua união com o Pai e compaixão pelo povo, a piedade de Jesus para com todos nós: Jesus ouve nossos problemas, as nossas fraquezas, as nossas necessidades. Diante dos cinco pães, Jesus pensa:eis a Providência! A partir deste pouco, Deus pode dar o necessário para todos. Jesus confia totalmente no Pai celeste, sabe que para Ele tudo é possível. Por isto diz aos discípulos para fazer as pessoas se sentarem em grupos decinquenta. E não é por acaso pois isto significa que não são mais uma multidão, mas se tornam comunidade, nutrida pelo Pão de Deus. E depois toma os pães e os peixes, levanta os olhos ao céu e abençoa – é uma clara referência a Eucaristia -, depois os parte e começa a dar aos discípulos, e os discípulos os distribuem….e os pães e os peixes não acabam,não acabam! Eis o milagre: mais que uma multiplicação é uma partilha, motivada pela fé e pela oração. Todos comeram e vai mais além: é o sinal de Jesus, pão de Deus para a humanidade.

Os discípulos viram, mas não entenderam bem a mensagem. Eles foram tomados, como a multidão, pelo entusiasmo do sucesso. Mais uma vez seguiram lógica humana e não a de Deus, que é a do serviço, do amor e da fé. A festa de Corpus Christinos convida a convertermos afé na Providência, saber partilhar o pouco que somos e temos e não nos fecharmos nunca em nós mesmos.

Peçamos a nossa Mãe Maria para nos ajudar nesta conversão, para seguir verdadeiramente, sempre mais, este Jesus que adoramos na Eucaristia.

“Tudo se perde com a guerra. Tudo se ganha com a paz”

Papa Francisco faz apelo pela paz 

ROMA, 02 de Junho de 2013 (Zenit.org) – Após a oração do Angelus, antes de saudar os peregrinos presentes na Praça de São Pedro, o Papa Francisco apelou à paz na Síria. Apresentamos a seguir as palavras pronunciadas pelo Pontífice.

Queridos irmãos e irmãs,

Sempre viva e sofrida é minha preocupação pela persistência do conflito que há mais de dois anos incendeia a Síria e atinge principalmente a população indefesa, que deseja uma paz na justiça e na compreensão. Esta atormentada situação de guerra leva consigo trágicas consequências: morte, destruição, danos econômicos e ambientais como também a chaga dossequestrosde pessoas. No deplorar estes fatos, desejo assegurar minha oração e minha solidariedade pelas pessoas raptadas e por seus familiares, e faço apelo à humanidade dos sequestradores para que libertem as vítimas. Rezemos sempre por nossa amada Síria.

No mundo existem tantas situações de conflito, mas também sinais de esperanças. Gostaria de encorajar os recentes passos realizados em vários países da América Latina para a reconciliação e a paz. Acompanhamo-vos com a nossa oração.

Esta manhã, celebrei a Missa com alguns militarese parentes de alguns mortos nas missões de paz,que visam promover a reconciliação e a paz nos paísesonde ainda se espalha tanto sangue fraterno em guerras que são sempre uma loucura. “Tudo se perde com a guerra. Tudo se ganha com a paz”. Peço orações pelos falecidos,feridos e suas famílias.

Vamos juntos, agora, em silêncio, em nossos corações – todos juntos –rezar pelos falecidos, feridos e suas famílias. Em silêncio.

Saúdo com afeto os peregrinos presentes hoje: as famílias, os fiéis de tantas paróquias italianas e de outros países, associações e movimentos.

Saúdo os peregrinos vindos do Canadá, da Croácia e da Bósnia Herzegovina, assim comoo grupo do Piccolo Cottolengo de Génova, da Obra de Don Orione.

Saúdo todos. A todos um bom domingo e bom almoço!

Viver a Eucaristia é “derrotar o medo de doar e de ser transformados por Ele”

Homilia na solenidade de Corpus Christi: papa Francisco exorta à partilha e 

Por Luca Marcolivio

ROMA, 31 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Seguimento de Cristo, comunhão, partilha: com base nesta nova “tríade”, em estilo inaciano, o papa Francisco articulou a sua homilia na missa da solenidade do Corpo e do Sangue de Cristo, celebrada ontem na basílica de São João de Latrão.

O primeiro dos três conceitos aborda a presença de Jesus no meio das pessoas e as “situações concretas do mundo”. Cristo “acolhe as pessoas, fala com elas, cuida delas, lhes mostra a misericórdia de Deus”. E as pessoas “o seguem” e “escutam”, porque Jesus “fala e age de um modo novo, com a autoridade de quem é autêntico e coerente, de quem fala e age com verdade, de quem dá a esperança que vem de Deus, que é a revelação do Rosto de um Deus que é amor”, afirmou o pontífice.

Convidando os fiéis reunidos na praça de São João de Latrão a se identificarem com a “multidão do Evangelho”, que se encaminhava para seguir o Messias, o Santo Padre colocou a seguinte pergunta: “Como é que eu sigo Jesus?”. Do silêncio da Eucaristia, a partir da qual Ele nos fala, Jesus “nos lembra que segui-lo significa sair de nós mesmos e fazer da nossa vida não uma posse nossa, mas um presente para ele e para os outros”.

O segundo conceito, o de comunhão, decorre da “preocupação dos discípulos, que pediram que Jesus mandasse a multidão procurar comida e abrigo nos povoados das redondezas” (cf. Lc 9:12). A tentação de se abster de ajudar um irmão necessitado, despachando-o com um “Deus te ajude!”, é comum também entre os cristãos.

A solução de Jesus, no entanto, é muito mais grandiosa. Diante da multidão faminta, Ele pede que os discípulos assentem os recém-chegados e, pouco depois, realiza o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes. Disse o papa: “É um momento de profunda comunhão: a multidão, saciada pela palavra do Senhor, é agora alimentada pelo pão da sua vida. E todos ficaram satisfeitos, escreve o evangelista”.

A escuta da Palavra de Deus e a alimentação com o Corpo e Sangue de Cristo “nos faz passar da condição de multidão para a condição de comunidade, do anonimato para a comunhão”, e, por meio da Eucaristia, “nos faz sair do individualismo para vivermos juntos o seguimento de Cristo, a fé nele”.

Surge daqui uma nova pergunta: “Como é que eu vivo a Eucaristia? Anonimamente ou como um momento de verdadeira comunhão com o Senhor, e também com os muitos irmãos e irmãs que compartilham da mesma mesa?”.

O último conceito apresentado pelo papa é o da partilha, que, no caso específico, diz respeito aos “cinco pães e dois peixes”. E os discípulos, “diante da incapacidade dos seus meios, da pobreza do que podiam pôr à disposição”, colocaram a sua confiança na palavra de Jesus e conseguiram alimentar a multidão imensa que estava ali à sua frente.

É somente na solidariedade, “palavra malvista pelo espírito mundano”, disse o papa, que “a nossa vida será fecunda e dará frutos”. Ao doar o seu corpo através da Eucaristia, Nosso Senhor nos torna participantes da “solidariedade de Deus”, uma solidariedade que “nunca se esgota” e que “não deixa de nos surpreender”.

Também nessa noite, Jesus se deu a nós na Eucaristia, “o verdadeiro alimento que sustenta a nossa vida, inclusive nos momentos em que a estrada se torna íngreme, em que os obstáculos deixam os nossos passos mais lentos”.

É na Eucaristia que “o pouco que temos, o pouco que somos, se compartilhado, vira riqueza, porque o poder de Deus, que é o poder do amor, desce até a nossa pobreza para transformá-la”, acrescentou Francisco.

O Santo Padre concluiu a homilia com um convite para cada um sair  da sua “caixinha” e derrotar o “medo de doar, de partilhar, de amar a Deus e ao próximo”: em suma, de se deixar “transformar por Ele”.

 

“Escuta, decisão, ação: três palavras para seguir o caminho de Maria

Meditação do Papa Francisco no final da oração do Terço na Praça de São Pedro, concluindo o mês de Maria

CIDADE DO VATICANO, 31 de Maio de 2013 (Zenit.org) – No final do mês mariano, o Cardeal Angelo Comastri, Vigário Geral de Sua Santidade para a Cidade do Vaticano e Arcipreste da Basílica de São Pedro presidiu nesta tarde às 20h, na Praça de São Pedro, a oração do Santo terço. Durante a celebração, foi levada em procissão a estátua de Nossa Senhora pela Praça de São Pedro. Pelas 20h30, o Santo Padre Francisco chegou ao átrio da Basílica Vaticana e – antes de dar a Benção Apostólica aos fieis presentes – pronunciou uma meditação que publicamos a seguir:

Queridos irmãos e irmãs,

esta noite oramos juntos com o Santo Rosário; percorremos de novo alguns eventos do caminho de Jesus, da nossa salvação e o fizemos com Ela que é nossa Mãe, Maria, Aquela que com mão segura nos guia ao seu Filho Jesus.

Hoje celebramos a festa da Visitação da Beata Virgem Maria à sua prima Isabel. Eu gostaria de meditar com vocês este mistério que mostra como Maria encara o caminho da sua vida, com grande realismo, humanidade, concretude.

Três palavras resumem a atitude de Maria: escuta, decisão, ação; palavras que indicam um caminho também para nós diante do que o Senhor nos pede na vida.

1. Escuta. De onde nasce o gesto de Maria de ir à sua prima Isabel? De uma palavra do Anjo de Deus: “Isabel, tua parente, concebeu um filho na velhice…” (Lc 1, 36). Maria sabe escutar a Deus. Atenção: não é um simples “ouvir” superficial, mas é a “escuta” feita de atenção, de acolhida, de disponibilidade para com Deus. Não é o modo distraído com o qual muitas vezes nós nos colocamos diante do Senhor ou dos outros: escutamos as palavras, mas não escutamos realmente. Maria está atenta a Deus, escuta a Deus.

Mas Maria também escuta os fatos, lê os eventos da sua vida, está atenta à realidade concreta e não para na superfície, mas vai no profundo, para captar o significado. A parente Isabel, que é já anciã, espera um filho: esse é o fato. Mas Maria está atenta ao significado, sabe captá-lo: “Nada é impossível para Deus” (Lc 1, 37).

Isso também é verdade em nossas vidas: escutar de Deus que nos fala, e escutar também da realidade cotidiana, atenção às pessoas, aos fatos porque o Senhor está à porta da nossa vida e bate de muitos modos, coloca sinais no nosso caminho; nos corresponde saber vê-los. Maria é a mãe da escuta, escuta atenta de Deus e escuta igualmente atenta dos acontecimentos da vida.

2. Decisão. Maria não vive “com pressa”, com aflição, mas, como destaca São Lucas, “meditava todas estas coisas no seu coração” (cfr. Lc 2,19.51). E também no momento decisivo da Anunciação do Anjo, Ela pergunta: “Como pode ser isso?” (Lc 1, 34). Mas não pára nem mesmo no momento da reflexão; dá um passo adiante: decide. Não vive às pressas, mas só quando é necessário “vai às pressas”. Maria não se deixa levar pelos acontecimentos, não evita o trabalho da decisão. E isso acontece seja na escolha fundamental que mudará a sua vida: “Eis aqui a serva do Senhor…” (cf. Lc 1,38), seja nas escolhas mais diárias, mas ricas também de significado. Lembro-me do episódio das bodas de Caná (cf. Jo 2,1-11): também aqui se vê o realismo, a humanidade, a concretude de Maria, que está atenta aos fatos, aos problemas; vê e compreende a dificuldade daqueles dois jovens esposos aos quais falta o vinho da festa, reflete e sabe que Jesus pode fazer algo, e decide pedir ao Filho para que intervenha: “Não têm mais vinho” (ver v.3 ).

Na vida é difícil tomar decisões, muitas vezes tendemos a adiá-las, a deixar que outros decidam no nosso lugar, muitas vezes preferimos deixar-nos arrastar pelos eventos, seguir a moda do momento; às vezes sabemos o que devemos fazer, mas não o fazemos com coragem ou nos parece muito difícil porque significa ir contra-corrente. Maria na Anunciação, na Visitação, nas bodas de Caná vai contra-corrente; coloca-se na escuta de Deus, reflete e procura compreender a realidade, e decide confiar totalmente em Deus, decide visitar, ainda estando grávida, a anciã parente, decide confiar ao Filho com insistência para salvar a alegria das bodas.

3. Ação. Maria partiu em viagem e “foi às pressas…” (cf. Lc 1, 39). No último domingo eu destacava este modo de atuar de Maria: apesar das dificuldades, das críticas que recebeu pela sua decisão de partir, não para diante de nada. E aqui parte “às pressas”. Na oração, diante de Deus que fala, no refletir e meditar sobre os acontecimentos de sua vida, Maria não tem pressa, não se deixa levar pelo momento, não se deixa arrastar pelos eventos. Mas, quando tem claro o que Deus lhe pede, o que deve fazer, não duvida, não demora, mas vai “às pressas”. Santo Ambrósio comenta: “a graça do Espírito Santo não tolera lentidão” (Expos. Evang Century Lucam, II, 19:.. PL 15,1560). O atuar de Maria é uma consequência da sua obediência às palavras do Anjo, mas unida à caridade: vai com Isabel para fazer-se útil; e neste sair da sua casa, de si mesma, por amor, leva o que tem de mais precioso: Jesus; leva o seu Filho.

Às vezes, também nós paramos na escuta, na reflexão sobre o que devemos fazer, talvez também temos clara a decisão que temos que tomar, mas não fazemos a passagem à ação. E sobretudo não nos colocamos em jogo, movendo-nos “às pressas” em direção aos outros para levar-lhes a nossa ajuda, a nossa compreensão, a nossa caridade; para levarmos, também nós, como Maria, o que temos de mais precioso e que recebemos, Jesus e o seu Evangelho, com a palavra e sobretudo com o testemunho concreto do nosso atuar.

Escuta, decisão, ação

Maria, mulher da escuta, abra os nosso ouvidos; faça que saibamos escutar a Palavra do seu Filho Jesus entre as milhares palavras deste mundo; faça que saibamos escutar a realidade na qual vivemos, cada pessoa que encontramos, especialmente aquela que é pobre, necessitada, em dificuldade.

Maria, mulher da decisão, ilumina a nossa mente e o nosso coração, para que saibamos obedecer a Palavra do seu Filho Jesus, sem hesitar; dê-nos a coragem da decisão, de não deixar-nos levar por outros que orientem nossa vida.

Maria, mulher de ação, faça que as nossas mãos e os nossos pés se movam “às pressas” para os outros, para levar a caridade e o amor do seu Filho Jesus, para levar, como você, no mundo, a luz do Evangelho. Amém.

(Tradução Thácio Siqueira)