O Senhor sempre nos dá o que pedimos, mas ao modo divino

Homilia do Papa Francisco na casa Santa Marta

Por Thácio Lincon Soares de Siqueira

BRASíLIA, 29 de Maio de 2013 (Zenit.org) – “O Senhor nos dá a graça, mas ao seu modo divino”, disse o Santo Padre na homilia desta manhã na Casa Santa Marta, na qual estavam presentes funcionários do Governatorado Vaticano.

Lembrando um momento particular da sua vida, o Papa disse que certa vez passava por uma escuridão interior e precisava de uma Graça especial de Deus. Foi pregar exercícios espirituais a umas irmãs e, no último dia, veio uma irmã de 80 anos se confessar, “mas com os olhos claros, luminosos”. Depois da confissão deu-lhe como penitência pedir a Deus a graça que ele estava precisando, porque “se você pedir a Deus, com certeza Ele te dará”, disse à irmã. Ela, depois de um momento de silêncio, falou assim: “Com certeza que Deus te dará a Graça, mas não se engane, te dará essa Graça ao modo divino”.

“Isso me fez tanto bem. Escutar que o Senhor sempre nos dá o que lhe pedimos, mas ao modo divino. E o modo divino é esse até o final. O modo divino envolve a cruz, não por masoquismo: não, não! Por amor. Por amor até o final!”

A liturgia de hoje narra aquela cena de Jesus subindo a Jerusalém com os discípulos e anunciando-lhes a sua paixão, morte e ressurreição. E nesse caminho de fé, os discípulos quiseram ficar na metade do caminho discutindo entre si “como arrumar a Igreja, como arrumar a salvação”. João e Thiago até chegaram a pedir para sentar-se à direita e outro à esquerda, gerando mais discussão sobre quem era mais importante na Igreja. “A tentação dos discípulos – diz o Papa – é a mesma de Jesus no deserto quando o demônio lhe propôs outro caminho”. A tentação de fazer tudo rápido, milagres, até mesmo de ser “um paraquedista sem paraquedas”. É a tentação de Pedro, quando num determinado momento não aceita a paixão de Jesus.

“É a tentação de um cristianismo sem cruz. Um cristianismo à metade do caminho”, que “é a tentação do triunfalismo. Nós queremos o triunfo agora, sem ir à cruz, um triunfo mundano, um triunfo racional”.

“O triunfalismo na Igreja paralisa a Igreja. O triunfalismo nos cristãos paralisa os cristãos. É uma Igreja triunfalista, é uma Igreja à metade do caminho, uma Igreja que é feliz assim, bem organizada – bem organizada! – com todos os escritórios, tudo no lugar, tudo bonito, né? Eficiente. Mas uma Igreja que renega os mártires, porque não sabe que os mártires são necessários para a Igreja pelo caminho de cruz. Uma Igreja que somente pensa nos triunfos, nos sucessos, que não sabe aquela regra de Jesus: a norma do triunfo por meio da derrota, da derrota humana, da derrota da cruz. E essa é uma tentação que todos nós temos”.

Ao término da homilia o Papa fez essa oração:

“Peçamos ao Senhor a graça de não ser uma Igreja à metade do caminho, uma Igreja triunfalista, dos grandes sucessos, mas de ser uma Igreja humilde, que caminha com decisão, como Jesus. Avante, avante, avante. Coração aberto à vontade do Pai, como Jesus. Peçamos essa graça”.

Não ao carreirismo na Igreja

Exortação do Papa Francisco na missa diária celebrada na capela da Casa Santa Marta

ROMA, 28 de Maio de 2013 (Zenit.org) – O ‘anúncio’ de Jesus não é um revestimento, uma pintura, mas entra no coração e nos transforma. Foi o que disse Papa Francisco na missa desta manhã, na Casa Santa Marta. Ele reiterou que seguir Jesus não significa ter mais poder, porque o Seu caminho é o da Cruz. 

Da Missa, concelebrada pelo Monsenhor Rino Fisichella e Monsenhor José Octavio Ruiz Arenas, presidente e secretário do Conselho Pontifício para a Nova Evangelização, participou um grupo de sacerdotes do mesmo dicastério.

Conforme relatado pela Rádio Vaticano, também participou da missa um grupo de funcionários da central termoelétrica e do laboratório de carpintaria do Governatorato do Vaticano, acompanhado pelo engenheiro Pier Carlo Cuscianna, diretor dos Serviços Técnicos do Governatorato.

Qual será a nossa recompensa por te seguir? O Papa Francisco iniciou sua homilia a partir da pergunta que Pedro faz a Jesus e, afinal, refere-se à vida de cada cristão.E Jesus responde que aqueles que o seguirem terão “muitas coisas boas”, mas sofrerão “perseguição”.O caminho do Senhor, continuou ele, “é um caminho de abaixamento, um caminho que termina na Cruz”.

Por isso, acrescentou, “sempre haverá dificuldades”, “perseguições”. Sempre será porque “Ele fez esse caminho antes” de nós.

“Seguir Jesus sim, mas até um certo ponto; seguir Jesus como uma forma cultural: sou cristão, tenho esta cultura…mas sem a exigência da verdadeira sequela de Jesus, a exigência de ir pelo seu caminho”. “Quem acompanha Jesus como um ‘projeto cultural’, usa esta estrada para subir na vida, para ter mais poder. E a história da Igreja tem muito disso, começando por certos imperadores, governantes… e também alguns – não muitos, mas alguns – padres e bispos, não? Alguns deles pensam que seguir Jesus é fazer carreira”.

O Papa recordou que “na literatura dos últimos dois séculos”, costumava-se falar “de uma criança que queria fazer uma carreira eclesiástica”. Ele reiterou que “muitos cristãos, tentados pelo espírito do mundo, acreditam que seguir Jesus é bom porque é possível fazer carreira”. Mas este não é “o espírito”, pelo contrário, Jesus responde a Pedro: “Sim, eu vou te dar tudo, mas com perseguições”.

“Não é possível remover a Cruz do caminho com Jesus: está sempre ali”. E, no entanto, segundo ele, isso não significa que os cristãos devem sair ressentidos. O cristão “segue Jesus por amor e quando você segue Jesus por amor, a inveja do diabo faz muitas coisas”. O “espírito do mundo – destacou o Papa -não tolera isso, não tolera o testemunho”.

“Pensem em Madre Teresa: dizem que era uma bela mulher, que fez muito pelos outros, mas o espírito ‘mundano’ nunca disse que a Beata Teresa, todos os dias, por horas, fazia adoração… Costuma-se reduzir a atividade cristã ao bem social, como se a existência cristã fosse um verniz, uma pátina de cristianismo. O anúncio não é uma pátina: vai aos ossos, ao coração, dentro de nós e nos transforma. Isso o espírito ‘mundano’ não tolera e aí acontecem as perseguições”. 

Aquele que deixa sua casa, família para seguir Jesus – repetiu Francisco- receberá cem vezes mais “, agora, neste momento”. Cem vezes com perseguições.

Compreende-se melhor toda a realidade a partir da periferia

Homilia do Papa Francisco durante a missa dessa manhã na paróquia romana dos santo Elizabete e Zacarias

ROMA, 26 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Às 8h30 de hoje o Santo Padre Francisco deixou o Vaticano em helicóptero para fazer a visita pastoral à paróquia dos Santos Elizabete e Zacarias no Vale Muricana (Prima Porta), no setor norte da diocese de Roma. À sua chegada, o Papa encontrou as famílias com as crianças que foram batizadas ao longo do ano, e os enfermos; depois disso escutou em confissão alguns fieis.

Às 9h30, na praça que está à frente da Igreja paroquial, presidiu a Celebração Eucarística, introduzida com a saudação do pároco, Pe. Benoni Ambarus. Durante a Santa Missa o Papa admnistrou o sacramento da Eucaristia a 16 crianças e deu a comunhão também a outras 28 que tinham feito a Primeira Comunhão no domingo passado. Antes de voltar ao Vaticano para a oração do Angelus, o Santo Padre cumprimentou os colaboradores paroquiais.

Publicamos a seguir as palavras do Santo Padre no começo da celebração e a sua homilia: 

Palavras improvisadas pelo Papa no começo da Celebração:

Caro primeiro sentinela, caro segundo sentinela, caríssimos sentinelas, gostei do que você disse: que periferia tem um sentido negativo, mas também um sentido positivo. Sabe por quê? Porque a realidade completa entende-se melhor não a partir do centro, mas das periferias. Compreende-se melhor. Também isso que você disse: tornar-se sentinelas, não? 

Agradeço-vos por este trabalho, por este trabalho de ser sentinelas. Agradeço também pela acolhida, neste dia de festa da Trindade. Aqui estão os sacerdotes que vocês conhecem bem, que são os dois secretários do Papa, o Papa que está no Vaticano, hein? Hoje veio o Bispo aqui. E estes dois trabalham bem. Mas um de vocês, Padre Alfred, faz aniversário hoje, da sua ordenação sacerdotal: 29 anos. Um aplauso! Rezemos por ele e peçamos ao menos outros 29 anos. Não é verdade? Assim começamos a Missa, com espírito de piedade, em silêncio, rezando todos juntos.

Homilia do Santo Padre:

Queridos irmãos e irmãs,

O pároco, em suas palavras, me fez lembrar de algo belo em Maria. Quando ela acabou de receber o anúncio de que seria a mãe de Jesus e também a notícia de que sua prima Isabel estava grávida – diz o Evangelho – saiu depressa, não esperou. Não disse: “Mas agora estou grávida, devo cuidar de minha saúde, minha prima tem amigos que poderão ajudá-la”. Ela ouviu algo e “saiu depressa.” É bonito perceber isso da Virgem Maria, nossa Mãe, que vai com pressa, porque tem isso dentro de si: ajudar. Vai para ajudar, não para se gabar e dizer à sua prima: “Mas escute, agora eu que mando, porque sou a Mãe de Deus!” Não, não fez isso. Foi até lá para ajudar!

Nossa Senhora é sempre assim. É a nossa Mãe, que sempre vem imediatamente quando precisamos. Seria bom adicionar à Ladainha de Nossa Senhora: “Senhora que vai com pressa, rogai por nós!”. É lindo isso, não é verdade? Porque ela vai sempre depressa, ela não se esquece de seus filhos. E quando seus filhos estão com problemas, têm alguma necessidade e a invocam, ela vai imediatamente. E isso nos dá a segurança, a segurança de ter a Mãe ao lado, sempre ao nosso lado. Caminhamos melhor na vida quando temos a mãe perto. Pensemos nesta graça de Nossa Senhora: de estar perto de nós, sem nos fazer esperar. Sempre!Ela está – tenhamos confiança nisso – para nos ajudar. Maria que sempre vai depressa, por nós.

Nossa Senhora também nos ajuda a entender bem Deus, Jesus, compreender bem a vida de Jesus, a vida de Deus, para entender bem o que é o Senhor, como é o Senhor, quem é Deus.

A vocês crianças, eu pergunto: “Quem sabe quem é Deus?”. Levante sua mão. Diga-me? É isso aí! Criador da Terra. E quantos Deus existem? Um? Mas me disseram que são três: o Pai, o Filho e o Espírito Santo! Como se explica isso? Existe um ou existem três? Um? Um? E como se explica que um é o Pai, o outro o Filho e o outro o Espírito Santo? Forte, forte! Certo. Eles são três em um, três pessoas em uma.

E o que faz o Pai? O Pai é o princípio, o Pai, que criou tudo, que nos criou. O que faz o Filho? O que faz Jesus? Quem pode dizer o que Jesus faz? Ele nos ama? E depois? Leva a Palavra de Deus! Jesus veio para nos ensinar a Palavra de Deus. Muito bem! E depois? O que Jesus fez na terra? Ele nos salvou! E Jesus veio para dar a Sua vida por nós. O Pai cria o mundo, Jesus nos salva. E o Espírito Santo, o que faz? Ele nos ama! Nos dá amor!

Todas as crianças juntas: o Pai cria tudo, cria o mundo, Jesus nos salva e o Espírito Santo? Ele nos ama! E esta é a vida cristã: falar com o Pai, com o Filho e com o Espírito Santo.

Jesus nos salvou, mas também caminha conosco na vida. É verdade isso? E como ele caminha? O que Ele faz quando caminha conosco na vida? Isto é difícil. Nos faz vencer o maligno! O que faz Jesus quando caminha conosco? Forte! Primeiro, nos ajuda. Nos conduz! Muito bem! Caminha com a gente, nos ajuda, nos orienta e nos ensina a seguir em frente. E Jesus também nos dá a força para caminhar. É verdade? Ele nos sustenta! Isso! Nas dificuldades, certo? E também nas tarefas da escola! Nos sustenta, nos ajuda, nos conduz, nos sustenta. É isso aí! Jesus está sempre conosco.

Mas escute, Jesus nos dá força. Como Jesus nos dá força? Vocês sabem como nos dá força! Forte, não estou escutando! Na comunhão nos dá força, nos ajuda com a força. Ele vem a nós.  Mas quando vocês dizem “dá-nos a comunhão”, um pedaço de pão nos dá tanta força? Não é um pão? Este é pão, mas aquele sobre o altar é pão ou não é pão? Parece pão! Não é exatamente pão. O que é? É corpo de Jesus. Jesus vem até o nosso coração.

Pensemos nisso, todos: o Pai nos deu a vida, Jesus nos deu a salvação, nos acompanha, nos guia, nos sustenta, nos ensina e o Espírito Santo? O que o Espírito Santo nos dá? Ele nos ama! Nos dá amor. Pensemos em Deus assim e peçamos à Nossa Senhora, Maria, nossa Mãe, sempre apressada a nos ajudar, que nos ensine a compreender bem como Deus é: como é Pai, Filho e Espírito Santo. Assim seja.

“Não gostamos das propostas definitivas que Jesus nos faz e temos medo do tempo de Deus”, disse Francisco

Da redação, com Rádio Vaticano

“Para seguir Jesus, devemos nos despir da cultura do bem-estar e do fascínio provisório”. Foi o que disse o Papa Francisco, na manhã desta segunda-feira, 27, durante a Missa celebrada na Casa Santa Marta.

Na homilia, o Papa comentou o Evangelho do dia, em que Jesus pede a um jovem que dê suas riquezas aos pobres e O siga. Segundo o Papa, as riquezas são um empecilho, pois não facilitam o caminho rumo ao Reino de Deus.

Em seguida, o Pontífice se referiu a duas “riquezas culturais”: a cultura do bem-estar e o fascínio do provisório. Segundo o Papa, a cultura do bem-estar deixa o homem pouco corajoso, preguiçoso e também egoísta. “O bem-estar é uma anestesia”, afirmou o Pontífice.

“Não, não, mais de um filho não, porque não podemos fazer férias, não podemos comprar a casa… Podemos seguir o Senhor, mas até certo ponto. Isso faz o bem-estar, despe-nos daquela coragem forte que nos aproxima de Jesus. Esta é a primeira riqueza da nossa cultura de hoje, a cultura do bem-estar”, explicou.

Sobre a segunda riqueza, o fascínio do provisório, o Santo Padre afirmou: “Nós estamos apaixonados pelo provisório. Não gostamos das propostas definitivas que Jesus nos faz e temos medo do tempo de Deus”.

“Ele é o Senhor do tempo, nós somos os senhores do momento. Uma vez, conheci uma pessoa que queria se tornar padre, mas só por dez anos, não mais. Além disso, muitos casais se casam pensando que o amor pode acabar e, com ele, a união”, ressaltou.

Segundo Francisco, essas duas riquezas são as que, neste momento, impedem as pessoas de prosseguirem. Oposto a isso, o Papa lembrou os muitos homens e mulheres que deixaram a própria terra para serem missionários por toda a vida. “Isso é definitivo!”, afirmou. Da mesma forma, recordou também os muitos homens e mulheres que deixaram a própria casa para um matrimônio por toda a vida. “Isso é seguir Jesus de perto! É o definitivo”, disse Francisco.

Finalizando, o Papa rezou: “Peçamos ao Senhor que nos dê a coragem de prosseguir, despindo-nos desta cultura do bem-estar, com a esperança no tempo definitivo.”

“Cristãos de museu” que perderam o sal de Cristo

Homilia do papa Francisco na missa da Casa Santa Marta

Por Salvatore Cernuzio

CIDADE DO VATICANO, 23 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Depois de abordar os “cristãos de sala”, o papa Francisco alerta agora para outro risco que os seguidores de Cristo correm: tornar-se “cristãos de museu”, aqueles cristãos “insípidos”, que perderam o “sal da fé, da esperança e da caridade” que tinham recebido de Jesus Cristo.

Como vem acontecendo toda manhã, na missa celebrada em sua residência, o papa fez uma homilia que soa como uma exortação ao povo de Deus para não esquecer as graças recebidas. Na missa desta manhã, estava presente um grupo de padres e de colaboradores leigos da Congregação para as Igrejas Orientais, cujo presidente, cardeal Leonardo Sandri, concelebrou com o papa juntamente com o cardeal Angelo Sodano e com o arcebispo de La Paz, Edmundo Abastoflor Montero.

“Sal” foi a palavra-chave desta homilia do papa; o sal que Cristo deu a cada cristão e que traz valor agregado para a sua vida e para a vida dos outros. Este sal é a “fé”, explicou o papa, a certeza do amor de Jesus Cristo, manifestado na sua morte e ressurreição para a salvação da humanidade.

Por isso é preciso cuidar para que este sal “não se torne insípido, não perca a sua força”. Até porque, acrescentou Francisco, este presente não nos é dado “para ser guardado”, já que “o sal só faz sentido quando é usado para dar sabor às coisas”.

“Se o sal fica guardado, ele não faz nada, não serve. O sal que nós recebemos é para dar, é para oferecer. Senão, ele fica insípido e inútil”. E há outro aspecto, destacou o pontífice: “Quando o sal é bem usado, não se sente o gosto do sal, o sabor do sal. O que se sente é o sabor de cada comida! O sal ajuda para que o sabor da refeição seja bom, para que ela seja mais saborosa”.

Esta, de acordo com Bergoglio, é a “originalidade cristã”, que não deve ser confundida com “uniformidade”. Pelo contrário: “quando anunciamos a fé com este sal”, todos aqueles que “recebem o anúncio o recebem conforme a sua peculiaridade”. A originalidade cristã “considera cada um como ele é, com a sua própria personalidade, com as suas características próprias, com a sua cultura, e o mantém com isso, porque é uma riqueza. Mas lhe dá algo mais: lhe dá o sabor!”.

“É muito bonito esse aspecto”, disse Francisco. Por outro lado, “quando queremos uniformidade”, ou seja, quando queremos que “todos sejam salgados da mesma forma”, é como “quando a mulher joga muito sal e só sentimos o gosto do sal, em vez do gosto da comida que deve ser saboreada com sal”.

“A originalidade do cristão é esta: cada um é como é, com os dons que o Senhor lhe deu”. Na prática, isto se traduz em “sair de nós mesmos para levar a mensagem, sair com esta riqueza do sal e dá-lo para as outras pessoas”, insistiu o papa. As “saídas” são duas: primeiro, para dar o sal “no serviço aos outros, para servir ao povo”. E depois, a “transcendência rumo ao autor do sal, o Criador”. Porque o sal “não se conserva apenas quando é dado na pregação”, mas precisa “de oração, de adoração”.

“Com a adoração do Senhor, eu transcendo de mim para o Senhor, e, com a proclamação do Evangelho, eu saio de mim mesmo para dar a mensagem. Mas se não fizermos isso, essas duas coisas, essas duas transcendências, o sal permanecerá guardado e nós viraremos cristãos de museu”.

“Como é bom”, porém, mostrar o sal e dizer “este é o meu sal! Este é o sal que recebi no batismo, este é o sal que eu recebi na confirmação, este é o sal que eu recebi na catequese”. A graça do dia, portanto, é “pedir ao Senhor para não sermos cristãos com o sal insípido, com o sal fechado num frasco”; de não ser “cristãos de museu” que até mostram um sal, mas “sem sabor, um sal que não serve para nada”.

O Senhor remiu a todos com seu sangue

Certezas do papa na missa diária

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 22 de Maio de 2013 (Zenit.org) – “Fazer o bem” é um princípio que une toda a humanidade, indo além da diversidade de ideologias e de religiões, e cria aquela cultura do encontro que é o fundamento da paz. Foi assim que se expressou o papa na missa desta manhã na Casa Santa Marta, transmitida pela Rádio Vaticano e concelebrada com o cardeal Béchara Boutros Raï, patriarca de Antioquia dos Maronitas. Participaram alguns funcionários do Vaticano. 

O evangelho desta quarta-feira nos mostra os discípulos de Jesus tentando impedir uma pessoa externa ao grupo de fazer o bem. “Eles se queixam”, disse o papa na homilia, “e dizem o seguinte: ‘Se ele não é um de nós, ele não pode fazer o bem. Se não é do nosso partido, não pode fazer o bem’. E Jesus os corrige: ‘Não os impeçam. Deixem os outros fazer o bem’. Os discípulos eram um pouco intolerantes”, comentou o papa, “fechados na ideia de ser os donos da verdade, na crença de que aqueles que não têm a verdade não podem fazer o bem. E estavam errados. Por isso, Jesus amplia os horizontes deles”.

“A origem desta oportunidade para fazer o bem que todos temos está na criação. Nosso Senhor nos criou à sua imagem e semelhança e nós somos imagem do Senhor. Ele faz o bem e todos nós temos este mandamento no coração: fazer o bem e não fazer o mal. Todos. ‘Mas, padre, este aqui não é católico! Ele não pode fazer o bem!’. Pode, sim. E deve. Não pode: deve! Porque ele tem este mandamento na alma. ‘Mas, padre, este aqui não é cristão, ele não pode fazer o bem!’. Pode. E deve fazer. Esta mesquinhez de achar que ‘os de fora’ não podem fazer o bem é um muro que nos leva à guerra e a um tipo de ato que alguns pensaram ao longo da história: matar em nome de Deus. Nós não podemos matar em nome de Deus. Isso é simplesmente uma blasfêmia. Dizer que se pode matar em nome de Deus é uma blasfêmia”.

“Nosso Senhor nos criou à sua imagem e semelhança e nos deu este mandamento no coração: fazer o bem e não fazer o mal”.

“O Senhor remiu a todos, redimiu todos nós com o sangue de Cristo: todos, não só os católicos. Todos! ‘Padre, e os ateus?’. Os ateus também. Todos! E este sangue nos torna filhos de Deus de primeira classe! Nós fomos criados filhos à imagem de Deus e o sangue de Cristo redimiu todos nós! E todos nós temos o dever de fazer o bem. E este mandamento para todos nós de fazer o bem eu acho que é um bom caminho para a paz. Se nós, cada um de nós, fizer o bem aos outros, pouco a pouco, lentamente, realizamos aquela cultura do encontro: aquela cultura de que tanto precisamos. Encontrar-se fazendo o bem. ‘Mas eu não acredito, padre, eu sou ateu!’. Mas faça o bem: vamos nos encontrar lá”.

“Fazer o bem não é uma questão de fé, mas um dever, um cartão de identidade que o Pai deu a todos nós, porque Ele nos fez à sua imagem e semelhança. E ele faz o bem, sempre”.

O papa Francisco terminou a homilia dizendo: “Hoje é dia de Santa Rita, padroeira das coisas impossíveis, embora isto pareça impossível. Peçamos a ela esta graça, esta graça de que todos, todos, todas as pessoas, façam o bem, e que todos nós nos encontremos nesta obra, que é uma obra da criação, que se assemelha à criação do Pai. Uma empresa familiar, porque todos somos filhos de Deus: todos, todo o mundo! E Deus ama a todos nós! Que Santa Rita nos conceda esta graça, que parece quase impossível”.

O poder na Igreja consiste em servir

Homilia do Santo Padre Francisco na missa diaria celebrada na capela da Casa Santa Marta

CIDADE DO VATICANO, 21 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Para um cristão, progredir significa rebaixar-se, a exemplo de Jesus. É o que o papa Francisco destacou na missa desta manhã na Casa Santa Marta. O papa também reiterou que o verdadeiro poder está em servir e que não deve existir a luta pelo poder na Igreja.

Na missa, concelebrada pelo diretor de programação da Rádio Vaticano, pe. Andrzej Koprowski, SJ, participou um grupo de funcionários da emissora e outro grupo do Gabinete vaticano de Peregrinos e Turistas.

Também estavam presentes o diretor da revista Civiltà Cattolica, pe. Antonio Spadaro, SJ, e Maria Voce e Giancarlo Faletti, presidente e vice-presidente do movimento dos Focolares. As informações são da Rádio Vaticano.

O poder do serviço

Jesus está falando da sua paixão, mas os discípulos começam a discutir sobre quem é o melhor entre eles. Este é o amargo episódio narrado pelo evangelho de hoje, que ofereceu a oportunidade ao papa de propor uma meditação sobre o poder e o serviço. “A luta pelo poder na Igreja não é coisa dos nossos dias”, disse ele. “Ela começou ainda no tempo de Jesus”.

Francisco destacou também que, “na perspectiva evangélica de Jesus, a luta pelo poder na Igreja não deve existir”, porque o poder real, aquele que o Senhor “nos ensinou com o exemplo”, é “o poder do serviço”.

“O verdadeiro poder é o serviço. Ele não veio para ser servido, mas para servir, e o serviço dele foi o serviço da cruz. Jesus se humilhou até a morte e morte de cruz por nós, para nos servir, para nos salvar. E não existe outro jeito na Igreja de irmos para frente”.

Rebaixar-se para progredir

“Para o cristão, ir para frente, progredir, significa rebaixar-se. Se não aprendermos esta regra cristã, nunca seremos capazes de entender a verdadeira mensagem de Jesus sobre o poder”.

Progredir, agregou o papa, significa “estar sempre a serviço”. Na Igreja, “o maior é aquele que serve, aquele que está mais a serviço dos outros”. Esta “é a regra”. E, no entanto, desde o princípio até agora, tem havido “lutas pelo poder na Igreja”, inclusive “na nossa forma de falar”.

Porque “quando uma pessoa recebe um cargo, que, aos olhos do mundo, é um cargo superior, as outras pessoas dizem: ‘Ah, essa mulher subiu de cargo para presidente daquela associação, ou esse homem foi promovido’… Este verbo, promover, é, sim, um belo verbo, e ele deve ser usado na Igreja. Sim, ele subiu à cruz, foi promovido à humilhação. Esta é a verdadeira promoção, aquela que nos ‘assemelha’ mais a Jesus!”.

O papa recordou que Santo Inácio de Loyola, nos exercícios espirituais, pedia ao Senhor Crucificado “a graça da humilhação”. Este, reiterou Francisco, é “o verdadeiro poder do serviço da Igreja”. Este é o verdadeiro caminho de Jesus, a verdadeira promoção.

“O caminho do Senhor é o seu serviço. Ele fez o seu serviço, nós também temos que ir atrás dele pelo caminho do serviço. Este é o verdadeiro poder na Igreja. Eu gostaria de orar hoje por todos nós, para que Nosso Senhor nos dê a graça de compreender que o verdadeiro poder na Igreja é o serviço. E também para compreender aquela regra de ouro que Ele nos ensinou com o exemplo: para um cristão, progredir, avançar, significa rebaixar-se, abaixar-se… Peçamos esta graça”.

A oração opera milagres, diz o papa

 

Certezas de Francisco manifestadas na missa diária

CIDADE DO VATICANO, 20 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Uma oração valente, humilde e forte consegue milagres: esta é a ideia principal que o papa apresentou na manhã de hoje, durante a missa celebrada na Casa Santa Marta. Participaram alguns funcionários da Rádio Vaticano, acompanhados pelo diretor, o pe. Federico Lombardi, SJ.

A liturgia do dia apresenta a passagem do evangelho em que os discípulos não conseguem curar uma criança. O próprio Jesus precisa intervir e se queixa da falta de fé dos presentes. Ao pai do menino, que pede ajuda, ele responde que “tudo é possível para aquele que crê”.

Conforme o relato da Rádio Vaticano, Francisco ensinou que também os que querem amar Jesus acabam muitas vezes não se arriscando muito na fé, nem se confiando totalmente a Ele: “Mas por que essa falta de fé? Eu acredito que é o coração que não se abre, o coração fechado, o coração que quer ter tudo sob controle”.

É um coração, portanto, que “não passa o controle para Jesus”, disse o papa. E quando os discípulos perguntam a Cristo por que não conseguiram curar o jovem, o Senhor diz que aquela “espécie de demônios não pode ser expulsa de nenhum jeito, a não ser pela oração”.

“Todos nós temos um pouco de incredulidade no nosso interior”. É necessária “uma oração forte, e esta oração humilde e forte faz com que Jesus consiga realizar o milagre. A oração para pedir um milagre, “para pedir uma ação extraordinária”, continua o papa, “deve ser uma oração que envolve, que envolve a nós todos”.

Francisco narrou então um incidente acontecido na Argentina: uma menina de sete anos adoece e os médicos lhe dão poucas horas de vida. Seu pai, um eletricista, um “homem de fé”, “fica louco” e, nessa loucura, pega um ônibus até o santuário mariano de Luján, a setenta quilômetros de distância: “Ele chegou depois das nove da noite, quando já estava tudo fechado. E começou a rezar a Nossa Senhora, com as mãos apoiadas na cerca de ferro. E ele orava e orava, enquanto chorava e chorava… E ficou lá durante a noite toda, assim. Mas aquele homem estava lutando: ele lutava com Deus, lutava de verdade com Deus para conseguir a cura da sua filha. Depois, depois das seis da manhã, ele foi para a rodoviária, pegou o ônibus e chegou em casa, e foi para o hospital às nove da manhã, mais ou menos. E encontrou a esposa chorando. Ele pensou no pior. ‘Mas o que aconteceu? Não estou entendendo, não estou entendendo! O que foi?’. ‘É que os médicos vieram e me disseram que a febre desapareceu, que ela está respirando bem, que ela não tem mais nada!’, disse a mulher. ‘Ela vai ficar internada mais dois dias, mas eu não entendo o que aconteceu!’. Isso ainda acontece, viram só? Existem milagres!”, afirmou o papa.

Mas é preciso orar com o coração: “Uma oração valente, que luta para conseguir tal milagre; não essas orações gentis: ‘Ah, eu vou rezar por você’, e recito um pai-nosso, uma ave-maria e depois me esqueço. Não! Mas uma a oração valorosa, como a de Abraão, que lutava com o Senhor para salvar a cidade; como a de Moisés, que mantinha as mãos levantadas e se cansava, orando ao Senhor; como a de muitas pessoas, de tantas pessoas que têm fé e que oram e oram com a fé. A oração faz milagres, mas nós temos que acreditar! Eu acho que podemos fazer uma linda oração… e dizer hoje, durante todo o dia: ‘Senhor, eu creio, mas me ajuda na minha incredulidade’… E quando nos pedirem para rezar por tanta gente que sofre nas guerras, por todos os refugiados, por todos aqueles dramas que estão acontecendo neste momento, rezar, mas com o coração, para Nosso Senhor: ‘Faz, Senhor!’, e dizer: “Senhor, eu acredito. Mas me ajuda na minha incredulidade’. Vamos fazer isto hoje”, convidou Francisco.

Homilia do Papa Francisco na Festa de Pentecostes

Brasão do Papa Francisco

Homilia 
Solenidade de Pentecostes 
Domingo, 19 de maio de 2013

 Amados irmãos e irmãs,

Neste dia, contemplamos e revivemos na liturgia a efusão do Espírito Santo realizada por Cristo ressuscitado sobre a sua Igreja; um evento de graça que encheu o Cenáculo de Jerusalém para se estender ao mundo inteiro.

Então que aconteceu naquele dia tão distante de nós e, ao mesmo tempo, tão perto que alcança o íntimo do nosso coração? São Lucas dá-nos a resposta na passagem dos Atos dos Apóstolos que ouvimos (2, 1-11). O evangelista leva-nos a Jerusalém, ao andar superior da casa onde se reuniram os Apóstolos. A primeira coisa que chama a nossa atenção é o rombo improviso que vem do céu, “comparável ao de forte rajada de vento”, e enche a casa; depois, as “línguas à maneira de fogo” que se iam dividindo e pousavam sobre cada um dos Apóstolos. Rombo e línguas de fogo são sinais claros e concretos, que tocam os Apóstolos não só externamente mas também no seu íntimo: na mente e no coração. Em consequência, “todos ficaram cheios do Espírito Santo”, que esparge seu dinamismo irresistível com efeitos surpreendentes: “começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes inspirava que se exprimissem”. Abre-se então diante de nós um cenário totalmente inesperado: acorre uma grande multidão e fica muito admirada, porque cada qual ouve os Apóstolos a falarem na própria língua. É uma coisa nova, experimentada por todos e que nunca tinha sucedido antes: “Ouvimo-los falar nas nossas línguas”. E de que falam? “Das grandes obras de Deus”.

À luz deste texto dos Atos, quereria refletir sobre três palavras relacionadas com a ação do Espírito: novidade, harmonia e missão.

1. A novidade causa sempre um pouco de medo, porque nos sentimos mais seguros se temos tudo sob controle, se somos nós a construir, programar, projetar a nossa vida de acordo com os nossos esquemas, as nossas seguranças, os nossos gostos. E isto verifica-se também quando se trata de Deus. Muitas vezes seguimo-Lo e acolhemo-Lo, mas até um certo ponto; sentimos dificuldade em abandonar-nos a Ele com plena confiança, deixando que o Espírito Santo seja a alma, o guia da nossa vida, em todas as decisões; temos medo que Deus nos faça seguir novas estradas, faça sair do nosso horizonte frequentemente limitado, fechado, egoísta, para nos abrir aos seus horizontes. Mas, em toda a história da salvação, quando Deus Se revela traz novidade – Deus traz sempre novidade -, transforma e pede para confiar totalmente n’Ele: Noé construiu uma arca, no meio da zombaria dos demais, e salva-se; Abraão deixa a sua terra, tendo na mão apenas uma promessa; Moisés enfrenta o poder do Faraó e guia o povo para a liberdade; os Apóstolos, antes temerosos e trancados no Cenáculo, saem corajosamente para anunciar o Evangelho. Não se trata de seguir a novidade pela novidade, a busca de coisas novas para se vencer o tédio, como sucede muitas vezes no nosso tempo. A novidade que Deus traz à nossa vida é verdadeiramente o que nos realiza, o que nos dá a verdadeira alegria, a verdadeira serenidade, porque Deus nos ama e quer apenas o nosso bem. Perguntemo-nos hoje a nós mesmos: Permanecemos abertos às “surpresas de Deus”? Ou fechamo-nos, com medo, à novidade do Espírito Santo? Mostramo-nos corajosos para seguir as novas estradas que a novidade de Deus nos oferece, ou pomo-nos à defesa fechando-nos em estruturas caducas que perderam a capacidade de acolhimento? Far-nos-á bem pormo-nos estas perguntas durante todo o dia.

2. Segundo pensamento: à primeira vista o Espírito Santo parece criar desordem na Igreja, porque traz a diversidade dos carismas, dos dons. Mas não; sob a sua ação, tudo isso é uma grande riqueza, porque o Espírito Santo é o Espírito de unidadeque não significa uniformidade, mas a recondução do todo à harmonia. Quem faz a harmonia na Igreja é o Espírito Santo. Um dos Padres da Igreja usa uma expressão de que gosto muito: o Espírito Santo «ipse harmonia est – Ele próprio é a harmonia». Só Ele pode suscitar a diversidade, a pluralidade, a multiplicidade e, ao mesmo tempo, realizar a unidade. Também aqui, quando somos nós a querer fazer a diversidade fechando-nos nos nossos particularismos, nos nossos exclusivismos, trazemos a divisão; e quando somos nós a querer fazer a unidade segundo os nossos desígnios humanos, acabamos por trazer a uniformidade, a homogeneização. Se, pelo contrário, nos deixamos guiar pelo Espírito, a riqueza, a variedade, a diversidade nunca dão origem ao conflito, porque Ele nos impele a viver a variedade na comunhão da Igreja. O caminhar juntos na Igreja, guiados pelos Pastores – que para isso têm um carisma e ministério especial – é sinal da ação do Espírito Santo; uma característica fundamental para cada cristão, cada comunidade, cada movimento é a eclesialidade. É a Igreja que me traz Cristo e me leva a Cristo; os caminhos paralelos são muito perigosos! Quando alguém se aventura ultrapassando (proagon) a doutrina e a Comunidade eclesial – diz o apóstolo João na sua Segunda Carta e deixa de permanecer nelas, não está unido ao Deus de Jesus Cristo (cf. 2 Jo 9). Por isso perguntemo-nos: Estou aberto à harmonia do Espírito Santo, superando todo o exclusivismo? Deixo-me guiar por Ele, vivendo na Igreja e com a Igreja?

3. O último ponto. Diziam os teólogos antigos: a alma é uma espécie de barca à vela; o Espírito Santo é o vento que sopra na vela, impelindo-a para a frente; os impulsos e incentivos do vento são os dons do Espírito. Sem o seu incentivo, sem a sua graça, não vamos para a frente. O Espírito Santo faz-nos entrar no mistério do Deus vivo e salva-nos do perigo de uma Igreja gnóstica e de uma Igreja narcisista, fechada no seu recinto; impele-nos a abrir as portas e sair para anunciar e testemunhar a vida boa do Evangelho, para comunicar a alegria da fé, do encontro com Cristo. O Espírito Santo é a alma da missão. O sucedido em Jerusalém, há quase dois mil anos, não é um fato distante de nós, mas um fato que nos alcança e se torna experiência viva em cada um de nós. O Pentecostes do Cenáculo de Jerusalém é o início, um início que se prolonga. O Espírito Santo é o dom por excelência de Cristo ressuscitado aos seus Apóstolos, mas Ele quer que chegue a todos. Como ouvimos no Evangelho, Jesus diz: “Eu apelarei ao Pai e Ele vos dará outro Paráclito para que esteja sempre convosco” (Jo 14, 16). É o Espírito Paráclito, o “Consolador”, que dá a coragem de levar o Evangelho pelas estradas do mundo! O Espírito Santo ergue o nosso olhar para o horizonte e impele-nos para as periferias da existência a fim de anunciar a vida de Jesus Cristo. Perguntemo-nos, se tendemos a fechar-nos em nós mesmos, no nosso grupo, ou se deixamos que o Espírito Santo nos abra à missão. Recordemos hoje estas três palavras: novidade, harmonia, missão.

liturgia de hoje é uma grande súplica, que a Igreja com Jesus eleva ao Pai, para que renove a efusão do Espírito Santo. Cada um de nós, cada grupo, cada movimento, na harmonia da Igreja, se dirija ao Pai pedindo este dom. Também hoje, como no dia do seu nascimento, a Igreja invoca juntamente com Maria: “Veni Sancte Spiritus… – Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor”! Amém.

Fonte: Canção Nova

Se incomodamos, sigamos adiante!

Homilia do Papa Francisco na casa Santa Marta

CIDADE DO VATICANO, 16 de Maio de 2013 (Zenit.org) – A Igreja tem tanta necessidade do fervor apostólico que nos impulsiona para a frente no anúncio de Jesus”. É o que destacou, esta manhã, o Papa Francisco na Missa na casa Santa Marta. O Papa também pediu para tomar cuidado com o ser “cristãos superficiais” sem a coragem também de “incomodar as coisas muito tranquilas”. Na missa, concelebrada com o cardeal Peter Turkson e mons. Mario Toso, presidente e secretário de “Justiça e Paz”, participou um grupo de funcionários do departamento e da Rádio Vaticana.

Toda a vida de Paulo foi “uma batalha campal”, uma “vida com muitas provas”. Papa Franscisco centrou a sua homilia no Apóstolo dos gentios, que, segundo ele, passa a sua vida de “perseguição em perseguição”, mas não se desanima. O destino de Paulo, destacou, “é um destino com muitas cruzes, mas segue adiante; ele olha para o Senhor e segue adiante”:

“Paulo incomoda: é um homem que com a sua pregação, com o seu trabalho, com a sua atitude incomoda, porque precisamente anuncia Jesus Cristo e o anúncio de Jesus Cristo às nossas comodidades, tantas vezes às nossas estruturas cômodas – também cristãs, não? – Incomoda. O Senhor sempre quer que sigamos adiante, mais adiante, mais adiante… Que nós não nos refugiemos numa vida tranquila ou nas estruturas caducas, coisas assim, não? O Senhor … E Paulo, anunciando o Senhor, incomodava. Mas ele seguia adiante, porque ele tinha em si aquela atitude tão cristã que é o zelo apostólico. Tinha precisamente o fervor apostólico. Não era um homem de convenção. Não! A verdade: avante! O anúncio de Jesus Cristo: avante!”

Claro, observou o Papa Francisco, São Paulo era um “homem fogoso”. Mas aqui não se trata somente do seu temperamento. É o Senhor que “se envolve nisso”, nesta batalha campal. De fato, continuou, é precisamente o Senhor que o empurra “a seguir adiante”, a dar testemunho também em Roma: “Entre parênteses, gosto muito que o Senhor se preocupe com esta diocese, desde aquele tempo… Somos privilegiados! E o zelo apostólico não é um entusiasmo para ter o poder, para ter algo. É algo que vem de dentro, que o mesmo Senhor o quer de nós: cristãos com zelo apostólico. E de onde é que vem este zelo apostólico? Vem do conhecimento de Jesus Cristo. Paulo encontrou Jesus Cristo, encontrou Jesus Cristo, mas não com um conhecimento intelectual, científico – isso é importante, porque nos ajuda – mas com aquele conhecimento primeiro, do coração, do encontro pessoal”.

Eis o que motiva Paulo a seguir adiante, “a anunciar Jesus sempre”. E acrescentou: “Está sempre com problemas, mas nos problemas não pelos problemas, mas por Jesus”, anunciando Jesus “as consequências são essas”. O fervor apostólico, destacou, compreende-se somente “numa atmosfera de amor”. O zelo apostólico, disse ainda, “tem algo de louco, mas de loucura espiritual”. E Paulo “tinha esta loucura”. O Papa portanto convidou a todos os fieis a pedir ao Espírito Santo que faça crescer em nós o zelo apostólico que não deve pertencer somente aos missionários. Por outro lado, advertiu, também na Igreja existem “cristãos mornos”, que “não querem seguir adiante”: “Também existem os cristãos de salão, não? Aqueles educados, tudo bem, mas que não sabem fazer filhos para Igreja com o anúncio e o fervor apostólico. Hoje podemos pedir ao Espírito Santo que nos dê este fervor apostólico a todos nós, também nos dê a graça de incomodar as coisas que estão muito tranquilas na Igreja; a graça de seguir em frente em direção às periferias existenciais. A Igreja precisa muito disso! Não somente em terras distantes, nas igrejas jovens, nos povos que ainda não conhecem Jesus Cristo, mas aqui na cidade, precisamente na cidade, têm necessidade deste anúncio de Jesus Cristo. Portanto, peçamos ao Espírito Santo esta graça do zelo apostólico, cristão com zelo apostólico. E se incomodamos, bendito seja o Senhor. Avante, como diz o Senhor a Paulo: ‘Coragem’”!

(Fonte: Rádio Vaticano/Tradução do original italiano por Thácio Siqueira)