O Espírito Santo é quem nos faz fugir da vaidade de achar-nos o prêmio Nobel da Santidade

Homilia do Papa Francisco na Casa Santa Marta

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 13 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Na primeira leitura da liturgia de hoje São Paulo se surpreendeu ao encontrar alguns discípulos que lhe disseram “Nem sequer ouvimos dizer que existe o Espírito Santo!”. Assim como no passado, ainda hoje “O Espírito Santo é um pouco o desconhecido da nossa fé”, disse o Papa Francisco na homilia dessa manhã na Casa Santa Marta.

“Hoje, muitos cristãos não sabem quem seja o Espírito Santo, como seja o Espírito Santo. E algumas vezes se escuta: ‘Mas, eu me viro bem com o Pai e com o Filho, porque rezo o Pai Nosso ao Pai, comungo com o Filho, mas com o Espírito Santo não sei o que fazer…’ Ou te dizem: ‘O Espírito Santo é a pomba, que nos dá sete presentes’. Mas assim o Espírito Santo está sempre no final e não encontra um bom lugar na nossa vida”.

Porém, o Espírito Santo é um “Deus ativo em nós” que “acorda a nossa memória”. O mesmo Jesus nos disse que o Espírito que o Pai enviará em seu nome “vos lembrará tudo o que vos disse”. Para um cristão, ficar sem memória é algo perigoso:

“Um cristão sem memória não é um verdadeiro cristão: é um homem ou uma mulher que, prisioneiros da conjuntura, do momento; não tem história. Tem, mas não sabe como interpretar a história. E é justo o Espírito que lhe ensina como ter a história. A memória da história … quando na Carta aos Hebreus o autor diz: ‘Lembrai-vos dos vossos Pais na Fé’ – memória; ‘lembrai-vos dos primeiros dias da vossa fé, como fostes corajosos’ – memória. Memória da nossa vida, da nossa história, memória do momento que tivemos a graça de encontrar-nos com Jesus; memória de tudo o que Jesus nos disse”.

“Aquela memória que vem do coração, aquela é uma graça do Espírito”,  também a memória das misérias da própria vida:

“E quando vem um pouco a vaidade e a Pessoa se acha o prêmio Nobel da Santidade, também a memória nos faz bem: ‘Mas… lembre-se de onde te tirei: do final do rebanho. Estavas detrás, no rebanho’. A memória é uma graça grande, e quando um cristão não tem memória – é duro isso, mas é a verdade – não é cristão: é idólatra. Porque está na frente de um Deus que não tem caminho, não sabe fazer caminhos, e o nosso Deus nos acompanha, se mistura conosco, caminha conosco, nos salva, faz história conosco. Memória de tudo isso, e a vida se torna mais frutuosa, com esta graça da memória”.

O Papa Francisco nos convida então a pedir a graça da memória para não esquecermos do caminho já percorrido, para sermos cristãos que “não esquecem as graças da sua vida, não esquecem o perdão dos pecados, não esquecem que foram escravos e que o Senhor lhes salvou”.

Participaram da celebração nessa manhã, funcionários da Direção técnica, administrativa e geral da Rádio Vaticano e do Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes, com os dirigentes do Departamento, o presidente, Cardeal Antonio Maria Veglió, o secretário mons. Joseph Kalathiparambil e o sub-secretário padre Gabriele Bentoglio. Ao final o Santo Padre parabenizou mons. Peter Brian Wells, assessor dos Trabalho gerais da Secretaria de estado, pelo seu aniversário.

Papa Francisco cumprimenta jornalistas argentinos residentes em Roma

Missa de sábado: Sair de si mesmos e ver as chagas de Jesus e dos irmãos necessitados

Por Sergio Mora

ROMA, 13 de Maio de 2013 (Zenit.org) – Logo após a missa cotidiana do último sábado na capela da Casa Santa Marta, celebrada às 7 da manhã, o papa Francisco cumprimentou um grupo de onze jornalistas argentinos e seus familiares, todos residentes em Roma. Vários deles são correspondentes de redações locais, como Ansa, Clarín, CNN, La Nación, La7, Notimex e ZENIT.

Participaram também o embaixador da Argentina perante a Santa Sé, Juan Pablo Cafiero, acompanhado da esposa. Um fato curioso foi que o pe. Antonio Pelayo, correspondente argentino e ex-diretor da Associação da Imprensa Estrangeira na Itália, acabou concelebrando com o papa.

As saudações de Francisco foram muito cordiais. A jornalista Cristina Tacchini, da Ansa, entregou ao papa um poncho típico da província argentina de Catamarca. Os filhos pequenos da correspondente Elisabetta Piqué mostraram seus desenhos da pessoa de Francisco, o que acentuou a simpatia do papa. A presença das crianças se fez notar também durante a missa, quando uma pequenina, no começo da eucaristia, balbuciava: “Francisco, Francisco!”.

Depois de cumprimentar os fiéis, o papa sempre lhes pedia: “Rezem por mim”.

Francisco ganhou um livro de fotos do norte da Itália, região de origem dos seus pais. O papa também recebeu uma carta pedindo orações pelo sacerdote uruguaio Mauricio Silva, desaparecido em 1977, e uma lista de pessoas enfermas que também lhe pedem as suas preces. Não faltou entre os presentes uma enorme chuteira, assinada por jogadores brasileiros de futebol.

Em sua homilia, sempre em tom sereno e muito coloquial, Francisco convidou os ouvintes a saírem de si mesmos. Para isso, sugeriu recordar as chagas de Jesus, no céu, como sacerdote, e reconhecê-las na terra nos irmãos necessitados, doentes, ignorantes, pobres ou explorados.

O papa citou o evangelho do dia, que nos pede “rezar ao Pai em nome de Jesus”. Precisou que a oração que nos cansa é aquela que “está sempre dentro de nós mesmos, como um pensamento que vai e vem”, e que “a verdadeira oração é aquela em que saímos de nós mesmos para ir até o Pai, em nome de Jesus: um êxodo de nós mesmos”, realizado “com a intercessão de Jesus que, diante do Pai, lhe mostra a suas chagas”.

O santo padre recordou que, de todas as feridas que Jesus sofreu na Paixão, ele levou consigo somente as chagas. “Qual é a escola em que se aprende a conhecer as chagas de Jesus, essas chagas sacerdotais de intercessão? Se não conseguimos sair de nós mesmos para ir até aquelas chagas, não aprenderemos nunca a liberdade que nos leva até a outra saída de nós mesmos”.

Porque há duas saídas: “a primeira nos leva até as chagas de Jesus e a outra até as chagas dos nossos irmãos e irmãs”. Palavras que encontram confirmação no evangelho de João: “Em verdade, em verdade vos digo: se pedirdes algo ao Pai em meu nome, Ele vo-lo dará”.

“As portas estão abertas: Jesus, ao ir para o Pai, deixou a porta aberta”. Não porque tenha “se esquecido de fechá-la”, mas porque “Ele mesmo é a porta”.

E instou os fiéis a rezar “com a coragem de quem sabe que Jesus está diante do Pai” e com a “humildade necessária para reconhecer e encontrar as chagas de Jesus nos irmãos necessitados”.

“Que o Senhor nos dê a liberdade de entrar no santuário onde Ele é sacerdote e intercede por nós, e onde o que pedirmos ao Pai em seu nome nos será dado. Mas que Ele nos dê também a coragem de ir até esse outro santuário que são as chagas dos nossos irmãos e irmãs necessitadas, que sofrem, que carregam a cruz e que ainda não venceram, como Jesus já venceu”.

A felicidade é uma “virtude peregrina” que caminha com Jesus

Papa Francisco: a felicidade é uma graça para pedir a Deus, maior e mais profunda do que a simples alegria

Por Luca Marcolivio

CIDADE DO VATICANO, 10 de Maio de 2013 (Zenit.org) – A felicidade cristã, já presente em vários discursos dos dois primeiros meses do pontificado do papa Francisco, foi o foco da homilia do Santo Padre nesta manhã.

A costumeira missa na Casa Santa Marta foi concelebrada com o arcebispo de Mérida, Baltazar Enrique Cardozo, e com o abade primaz dos beneditinos, Notker Wolf. Também participaram da missa alguns funcionários da Rádio Vaticano, acompanhados pelo diretor, pe. Federico Lombardi.

“O cristão é um homem feliz, é uma mulher feliz”, disse Francisco na homilia. A felicidade é diferente e maior que a alegria: “Alegrar-nos é bom”, observou o papa, mas a felicidade é “algo mais profundo”, que “não vem de razões conjunturais” nem “do momento” .

A alegria, quando se torna um estereótipo que queremos viver o tempo todo, “se transforma em superficialidade” ou até em “leviandade”, eliminando a “sabedoria cristã” e nos tornando um pouco “bobos” e “ingênuos” .

Já a felicidade é um “dom de Deus” que “nos enche por dentro”. É uma “unção do Espírito” e reside na “certeza de que Jesus está conosco e com o Pai”.

Mas como manter sempre essa felicidade, como “armazená-la”? Esta questão já nasce falha, argumentou o papa, porque “se quisermos manter a felicidade só para nós, ela vai acabar adoecendo e o nosso coração ficará murcho”. Não transmitiremos mais a felicidade, mas apenas uma “melancolia que não é saudável”.

Existem, disse o papa com humor, muitos cristãos que têm uma “cara de pimenta no vinagre” que não condiz com quem vive uma “bela vida”.

A felicidade, para ser tal, deve ser mantida em movimento: ela é uma “virtude peregrina”, um presente que “caminha pela estrada da vida” juntamente com Jesus.

A felicidade, prosseguiu Francisco, é uma “virtude dos grandes”, que são superiores às “pequenezas humanas”, que não se envolvem nas “coisinhas da comunidade”, mas que “olham sempre para o horizonte”. O dom da felicidade leva à “virtude da magnanimidade”, que nos impulsiona a “seguir sempre em frente”, cheios do Espírito Santo.

Nos dias de hoje, de maneira especial, “a Igreja nos convida a pedir a graça da felicidade e da aspiração”, que empurra a vida de cada cristão para frente: quanto maior é a aspiração, maior a felicidade.

A felicidade, reiterou o Santo Padre, está longe tanto da “tristeza” quanto do “mero contentamento”: a alegria verdadeira e profunda é uma “graça a ser pedida”.

Um motivo de felicidade para o dia de hoje, disse o papa na conclusão, foi a visita ao Vaticano de Tawadros II, patriarca de Alexandria, recebido em audiência pelo papa: “um irmão que vem visitar a Igreja de Roma”, para trilhar conosco “um pedaço da estrada”.

O verdadeiro cristão não faz proselitismo, mas dialoga com todos sem exclusões

Na missa em Santa Marta, Papa Francisco convida a seguir o modelo corajoso de São Paulo que foi construtor de pontes, e não de muros, para anunciar o Evantelho

CIDADE DO VATICANO, 08 de Maio de 2013 (Zenit.org) – A Igreja não cresce pelo proselitismo, mas pela pregação e testemunho. O cristão não levanta muros, mas constrói pontes. O anúncio do Evangelho é um diálogo, não uma condenação. São conceitos claros que o Papa Francisco expôs na reflexão da Missa de hoje na Casa Santa Marta, concelebrada com o card. Francisco Coccoplamerio e mons. Oscar Rizzato, na presença dos funcionários dos Serviços gerais do Governatorato, da Chancelaria do Tribunal vaticano e da Floreria.

Conceitos que lembram o verdadeiro significado de muitas palavras que nós, cristãos, muitas vezes damos por descontado. A partir do sentido da evangelização que – explicou o Papa – é um “anúncio”, não um modo para atrair grandes números para a Igreja. E implica um “falar com todos”, para proclamar aquela verdade que não se estuda “numa enciclopédia”, mas se recebe no encontro com Cristo.

Com este espírito, o apóstolo Paulo, falando aos gregos no Areópago – lembrou o Santo Padre – procurou “aproximar-se mais do coração” de quem o escutava: para procurar “o diálogo”, não para impor ideias. Por isso a história lembra-se dele como o Apóstolo dos gentios, e por isso – acrescentou o Papa – Paulo foi um verdadeiro “pontífice”, um “construtor de pontes” e não de “muros”.

A atitude “corajosa” do apóstolo é portanto um alerta para a atitude de cada crisão hoje. Afirmou Francisco: “Um cristão deve anunciar Jesus Cristo de tal modo que Jesus Cristo seja aceito, recebido, não rejeitado. E Paulo sabe que ele deve semear esta mensagem evangélica”. Ele é consciente de “que o anúncio de Jesus Cristo não é fácil”, mas ao mesmo tempo “sabe que não depende dele”, que “ele deve fazer todo o possível”, mas que “o anúncio de Jesus Cristo, o anúncio da verdade, depende do Espírito Santo”.

Explica-o bem o Evangelho da Liturgia de hoje, no qual Jesus diz: “Quando Ele vier, o Espírito da verdade, vos guiará a toda a verdade”. “Paulo – observou o Santo Padre – não fala aos atenienses: ‘Esta é a enciclopédia da verdade. Estudem isso e terão toda a verdade, a verdade!. Nâo! A verdade não entre numa enciclopédia. A verdade é um encontro; é um encontro com a Verdade Suma: Jesus, a grande verdade. Ninguém é dono da verdade. A verdade se recebe no encontro”.

Mas Paulo não inventa nada de novo, simplesmente “segue a atitude de Jesus.” O apóstolo atuou dessa forma “porque é o modo” que Jesus agiu, que “falou com todos”: dos santos aos pecadores, dos humildes aos publicanos, dos que lhe seguiam aos que o repudiavam. “O cristão que quer levar o Evangelho deve ir por esta estrada: escutar a todos!” insistiu o Papa; especialmente agora que “é um bom tempo na vida da Igreja”.

Os tempos mudaram, de acordo com Bergoglio, e com ele também a sociedade e algumas visões da Igreja, a qual, tendo que encarar uma forte secularização e uma humanidade totalmente distante de Deus, não pode e não quer excluir a ninguém.

“Estes últimos 50 anos, 60 anos – afirmou o Papa – são momentos muito bons porque me lembro que, quando criança, escutava-se nas famílias católicas, na minha: ‘Não, não podemos ir na casa deles porque não estão casados na Igreja, hein!’. Era como uma exclusão. Não, não podia ir! Ou porque são socialistas ou ateus, não podemos ir”. “Havia uma espécie de defesa da fé, mas com os muros” continuou; agora “graças a Deus”, “não se fala mais aquilo, né? Não se fala! “, Porque “o Senhor fez pontes”.

A Igreja – continuou o Pontífice, lembrando as palavras de Bento XVI – “não cresce no proselitismo”, mas “cresce por atração, pelo testemunho, pela pregação”. E Paulo “tinha justamente essa atitude: anuncia e não faz proselitismo”, em virtude do fato de que “não duvidava do seu Senhor”.

A conclusão do papa é portanto incisiva: “Os cristãos que têm medo de fazer pontes e preferem construir muros, são cristãos não seguros da própria fé, não seguros de Jesus Cristo”. A exortação é portanto que cada cristão siga o exemplo de Paulo e comece “a construir pontes e seguir em frente”.

“Quando a Igreja perde essa coragem apostólica – concluiu o Santo Padre – se torna uma Igreja firme, uma Igreja ordenada, bela, tudo bonito, mas sem fecundidade, porque perdeu a coragem de ir às periferias, aqui onde há tantas pessoas vítimas da idolatria, da mundanidade, do pensamento débil…”

Há portanto uma oração bem específica que deve ser dirigida hoje a São Paulo: que “nos dê esta coragem apostólica, este fervor espiritual, de estar seguros”. Pode nascer a dúvida, o medo: “Mas, Padre, nós podemos equivocar-nos”; Papa Francisco, no entanto, incentiva, “Vamos lá, se você estiver errado, levante-se e siga em frente: aquele é o caminho. Aqueles que não caminham por medo de errar, caem num erro maior”.

Confiar a Igreja ao Senhor é uma oração que a faz crescer

Palavras do Papa Francisco na homilia da missa celebrada hoje na capela da Casa Santa Marta

Por Redacao

ROMA, 30 de Abril de 2013 (Zenit.org) – “Quando a Igreja se torna mundana (…) quando tem dentro de si o espírito do mundo, quando tem aquela paz que não é a do Senhor, ela é fraca, é uma Igreja que será derrotada e será incapaz de levar o Evangelho, a mensagem da Cruz, o escândalo da Cruz… Não pode levá-lo adiante se é mundana”.As palavras do Papa Francisco na homilia pronunciada esta manhã durante a Missa celebrada na Capela da Casa Marta, na presença de alguns funcionários da Administração do Patrimônio da Sé Apostólicadestacam o ato de entrega da Igreja ao Senhor econvida à oração.

O Papa levantou a questão:“Nós rezamos pela Igreja, mas por toda a Igreja?Rezamos “pelos nossos irmãos que não conhecemos em todo o mundo ?”Enós, na nossa oração, “dizemos ao Senhor: Senhor, protege a tua Igreja… Ela é Tua. A tua Igreja são os nossos irmãos. Esta é uma oração que nós devemos fazer do coração, sempre mais “.

É fácil- observou o Santo Padre- “rezar para pedir uma graça ao Senhor, para agradecer-Lhe ou quando precisamos de algo”. Todavia, écomplicado rezar pelos outros, por todos os batizados, dizendo ao Senhor “são teus, são nossos,guardá-los”.

“Confiar a Igreja ao Senhor” éum “ato de fé” fundamental – destaca o Papa – “uma oração que a faz crescer”. “Nós não temos poder, somos pobres servidores – todos – da Igreja”.Só Deus “pode levá-la adiante eprotegê-lae fazê-lacrescer, para torná-lasanta, protegê-la do príncipe deste mundoede quem quer que a Igreja se torne mundana”.Para o Pontífice “este é o maior perigo!”.

O papa Franciscofaloudo valor da oração, como luz que ilumina em direção à paz “que o mundo não pode dar”, que “não se compra”, mas que é “dom da presença de Jesus na sua Igreja”.

“Entregar-se ao Senhor –reitera o Papa -confiar a Ele a Sua Igreja, os idosos, os doentes, as crianças, os jovens… Confiar a Igreja que passa por tribulações, como as perseguições,mas também pequenas tribulações: como as doenças ou os problemas familiares“. Grandes ou pequenos, devemos entregar tudoemoração, implorando aoSenhor: “Protegeia tua Igreja natribulação,paraquenão percaa fé e a esperança”- disse o Papa.

“Fazer esta oração de entrega pela Igreja – concluiu papa Francisco– nos fará bem e fará bem à Igreja. Dará grande paz a nós e grande paz a Ela, não nos tirará das tribulações, mas nos fará forte nas tribulações.”

Bendita vergonha

Consoladora homilia na missa diária do papa Francisco

Por Redacao

CIDADE DO VATICANO, 29 de Abril de 2013 (Zenit.org) – “Vergonha” foi a palavra-chave da homilia do papa Francisco na missacelebrada hojenaDomusSanta Marta. Palavra, a princípio, de conotação negativa, mas que, segundo o Papa, na visãocristã,se torna uma virtude.

O confessionário não é nem uma «lavandaria» que lava os pecados, nem um «momento de tortura» onde se infligem pauladas. A confissão é um encontro com Jesus e sentimos de perto sua ternura. Mas é preciso aproximar-se do sacramento sem truques ou meias-verdades, com mansidão e alegria, confiantes e armados com essa “bendita vergonha”, “a virtude da humildade” que nos faz reconhecer como pecadores.

Entre os concelebrantes, o cardeal Domenico Calcagno, presidente da Administração do Património da Sé Apostólica (Apsa), com o secretário D. Luigi Mistò, o arcebispo Francesco Gioia, presidente da Peregrinatio ad Petri Sedem, o arcebispo nigeriano de Owerri, D. Anthony Obinna, e o procurador-geral dos verbitas, Gianfranco Girardi. Concelebrou também D. Eduardo Horacio García, Bispo auxiliar e pró-vigário-geral de Buenos Aires. Entre os presentes, as irmãs Pias Discípulas do Mestre Divino que prestam serviço no Vaticano e um grupo de empregados da Apsa.

O Pontifice iniciou sua homilia com uma reflexão sobre a primeira carta de São João (1, 5-2, 2), em que o apóstolo afirma: “Deus é luz, e Nele não há trevas”. Mas, se dissermos “que estamos em comunhão com Ele” e “andarmos nas trevas, somos mentirosos e não praticamos a verdade”.

O papa Francisco destacou que “todos nós temos obscuridades na nossa vida”, momentos “em que há escuridão em tudo, inclusive na própria consciência,mas “caminhar nas trevas significa estar satisfeito de si mesmo; estar convencido de que não precisa de salvação. Essas são as trevas!”.

Olhem seus pecados, os nossos pecados: todos somos pecadores –e continuou – “se confessamos nosso pecados, Ele é fiel, é justo a ponto de nos perdoar.”

Como recorda o Salmo 102: “Assim como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhorse compadece daqueles que o temem”.Ele sabe de tudo. “Não se preocupe, vá em paz”, a paz que só Ele dá”.

Isto é o que “acontece no sacramento da reconciliação”. Muitas vezes – disse o Papa – pensamos que confessar é como ir a lavanderia. No entanto, Jesus no confessionário não é um serviço de lavandaria”.

A confissão “é um encontro com Jesus, que nos espera como somos”. Muitas vezes, temos vergonha de dizer a verdade: eu fiz isso, eu pensei aquilo. Mas a vergonha é uma verdadeira virtude cristã, e até mesmo humana. Acapacidade de vergonhar-se é uma virtude do humilde”.

“Jesus espera por cada um de nós, reiterou o papa Francisco citando o Evangelho de Mateus (11, 25-30):Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei.

Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas.Esta é a virtude que Jesus nos pede: humildade e mansidão”.

“Humildade e mansidão – continuou o Papa – são como a marca de uma vida cristã. “E Jesus nos espera para nos perdoar. Confessar não é como ir a uma “sessão de tortura”. “Não! Confessar-se é louvar a Deus, porque eu pecador fui salvo por Ele. E ele me espera para me repreender? Não, com ternura para me perdoar. E se amanhã fizer a mesma? Confesse-se mais uma vez… Ele sempre nos espera”.

Francisco concluiu: “Isso nos alenta, é belo, não é? E se sentirmos vergonha? Bendita vergonha porque isso é uma virtude.Que o Senhor nos dê esta graça, esta coragem de procurá-lo sempre com a verdade, porque a verdade é luz e não com as trevas das meias-verdades ou das mentiras diante de Deus

A novidade de Deus não é como as inovações do mundo

Homilia do Papa Francisco pronunciada na Santa Missa e Crisma neste V Domingo de Páscoa

 

CIDADE DO VATICANO, 28 de Abril de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos a homilia do Papa Francisco pronunciada na Santa Missa e Crisma neste V Domingo de Páscoa, na Praça de São pedro.

Amados irmãos e irmãs!

Queridos crismandos! Bem-vindos!

Gostaria de vos propor três pensamentos, simples e breves, para a vossa reflexão.

1.Na Segunda Leitura, ouvimos a estupenda visão de São João: um novo céu e uma nova terra e, em seguida, a Cidade Santa que desce de junto de Deus. Tudo é novo, transformado em bondade, em beleza, em verdade; não há mais lamento, nem luto… Tal é a acção do Espírito Santo: Ele traz-nos a novidade de Deus; vem a nós e faz novas todas as coisas, transforma-nos. O Espírito transforma-nos! E a visão de São João lembra-nos que todos nós estamos a caminho para a Jerusalém celeste, a novidade definitiva para nós e para toda a realidade, o dia feliz em que poderemos ver o rosto do Senhor – aquele rosto maravilhoso, tão belo do Senhor Jesus –, poderemos estar para sempre com Ele, no seu amor.

Olhai! A novidade de Deus não é como as inovações do mundo, que são todas provisórias, passam e procuram-se outras sem cessar. A novidade que Deus dá à nossa vida é definitiva; e não apenas no futuro quando estivermos com Ele, mas já hoje: Deus está a fazer novas todas as coisas, o Espírito Santo transforma-nos verdadeiramente e, através de nós, quer transformar também o mundo onde vivemos. Abramos a porta ao Espírito, façamo-nos guiar por Ele, deixemos que a acção contínua de Deus nos torne homens e mulheres novos, animados pelo amor de Deus, que o Espírito Santo nos dá. Como seria belo se cada um de vós pudesse, ao fim do dia, dizer: Hoje na escola, em casa, no trabalho, guiado por Deus, realizei um gesto de amor por um colega meu, pelos meus pais, por um idoso. Como seria belo!

2. O segundo pensamento: na Primeira Leitura, Paulo e Barnabé afirmam que «temos de sofrer muitas tribulações para entrarmos no Reino de Deus» (Act 14, 22). O caminho da Igreja e também o nosso caminho pessoal de cristãos não são sempre fáceis, encontramos dificuldades, tribulações. Seguir o Senhor, deixar que o seu Espírito transforme as nossas zonas sombrias, os nossos comportamentos em desacordo com Deus e lave os nossos pecados, é um caminho que encontra muitos obstáculos fora de nós, no mundo, e dentro de nós, no coração. Mas, as dificuldades, as tribulações fazem parte da estrada para chegar à glória de Deus, como sucedeu com Jesus que foi glorificado na Cruz; aquelas sempre as encontraremos na vida. Não desanimeis! Para vencer estas tribulações, temos a força do Espírito Santo.

3. E passo ao último ponto. É um convite que dirijo a todos, mas especialmente a vós, crismandos e crismandas: permanecei firmes no caminho da fé, com segura esperança no Senhor. Aqui está o segredo do nosso caminho. Ele dá-nos a coragem de ir contra a corrente. Sim, jovens; ouvistes bem: ir contra a corrente. Isto fortalece o coração, já que ir contra a corrente requer coragem e Ele dá-nos esta coragem. Não há dificuldades, tribulações, incompreensões que possam meter-nos medo, se permanecermos unidos a Deus como os ramos estão unidos à videira, se não perdermos a amizade com Ele, se lhe dermos cada vez mais espaço na nossa vida. Isto é verdade mesmo, e sobretudo, quando nos sentimos pobres, fracos, pecadores, porque Deus proporciona força à nossa fraqueza, riqueza à nossa pobreza, conversão e perdão ao nosso pecado. O Senhor é tão misericordioso! Se vamos ter com Ele, sempre nos perdoa. Tenhamos confiança na acção de Deus! Com Ele, podemos fazer coisas grandes; Ele nos fará sentir a alegria de sermos seus discípulos, suas testemunhas. Apostai sobre os grandes ideais, sobre as coisas grandes. Nós, cristãos, não fomos escolhidos pelo Senhor para coisinhas pequenas, ide sempre mais além, rumo às coisas grandes. Jovens, jogai a vida por grandes ideais!

Novidade de Deus, tribulação na vida, firmes no Senhor. Queridos amigos, abramos de par em par a porta da nossa vida à novidade de Deus que nos dá o Espírito Santo, para que nos transforme, nos torne fortes nas tribulações, reforce a nossa união com o Senhor, o nosso permanecer firmes n’Ele: aqui está a verdadeira alegria. Assim seja.

“Anunciar, testemunhar, adorar”

Homilia do Papa Francisco pronunciada na Celebração Eucarística do III Domingo de Páscoa

ROMA, 15 de Abril de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos a Homilia do Papa Francisco pronunciada na Celebração Eucaristica dIII Domingo de Páscoa, 14 de abril, na Basílica de São Paulo Fora de Muros.

Amados irmãos e irmãs!

É uma alegria para mim celebrar a Eucaristia convosco nesta Basílica. Saúdo o Arcipreste, Cardeal James Harvey, e agradeço-lhe as palavras que me dirigiu; juntamente com ele, saúdo e agradeço às várias Instituições, que fazem parte desta Basílica, e a todos vós. Encontramo-nos sobre o túmulo de São Paulo, um Apóstolo humilde e grande do Senhor, que O anunciou com a palavra, testemunhou com o martírio e adorou com todo o coração. É precisamente sobre estes três verbos que queria reflectir à luz da Palavra de Deus que escutámos: anunciar, testemunhar, adorar.

1. Na primeira Leitura, impressiona a força de Pedro e dos outros Apóstolos. À ordem de não falar nem ensinar no nome de Jesus, de não anunciar mais a sua Mensagem, respondem com clareza: «Importa mais obedecer a Deus do que aos homens». E nem o facto de serem flagelados, ultrajados, encarcerados os deteve. Pedro e os Apóstolos anunciam, com coragem e desassombro, aquilo que receberam: o Evangelho de Jesus. E nós? Somos nós capazes de levar a Palavra de Deus aos nossos ambientes de vida? Sabemos falar de Cristo, do que Ele significa para nós, em família, com as pessoas que fazem parte da nossa vida diária? A fé nasce da escuta, e fortalece-se no anúncio.

2. Mas, façamos mais um passo: o anúncio de Pedro e dos Apóstolos não é feito apenas com palavras, mas a fidelidade a Cristo toca a sua vida, que se modifica, recebe uma nova direcção, e é precisamente com a sua vida que dão testemunho da fé e anunciam Cristo. No Evangelho, Jesus pede por três vezes a Pedro que apascente o seu rebanho, e o faça com todo o seu amor, profetizando-lhe: «Quando fores velho, estenderás as mãos e outro te há-de atar o cinto e levará para onde não queres» (Jo 21, 18). Trata-se de uma palavra dirigida primariamente a nós, Pastores: não se pode apascentar o rebanho de Deus, se não se aceita ser conduzido pela vontade de Deus mesmo para onde não queremos, se não estamos prontos a testemunhar Cristo com o dom de nós mesmos, sem reservas nem cálculos, por vezes à custa da nossa própria vida. Mas isto vale para todos: tem-se de anunciar e testemunhar o Evangelho. Cada um deveria interrogar-se: Como testemunho Cristo com a minha fé? Tenho a coragem de Pedro e dos outros Apóstolos para pensar, decidir e viver como cristão, obedecendo a Deus? É certo que o testemunho da fé se reveste de muitas formas, como sucede num grande afresco que apresenta uma grande variedade de cores e tonalidades; todas, porém, são importantes, mesmo aquelas que não sobressaem. No grande desígnio de Deus, cada detalhe é importante, incluindo o teu, o meu pequeno e humilde testemunho, mesmo o testemunho oculto de quem vive a sua fé, com simplicidade, nas suas relações diárias de família, de trabalho, de amizade. Existem os santos de todos os dias, os santos «escondidos», uma espécie de «classe média da santidade» – como dizia um escritor francês –, aquela «classe média da santidade» da qual todos podemos fazer parte. Mas há também, em diversas partes do mundo, quem sofra – como Pedro e os Apóstolos – por causa do Evangelho; há quem dê a própria vida para permanecer fiel a Cristo, com um testemunho que lhe custa o preço do sangue. Recordemo-lo bem todos nós: não se pode anunciar o Evangelho de Jesus sem o testemunho concreto da vida. Quem nos ouve e vê, deve poder ler nas nossas acções aquilo que ouve da nossa boca, e dar glória a Deus! Isto traz-me à mente um conselho que São Francisco de Assis dava aos seus irmãos: Pregai o Evangelho; caso seja necessário, mesmo com as palavras. Pregar com a vida: o testemunho. A incoerência dos fiéis e dos Pastores entre aquilo que dizem e o que fazem, entre a palavra e a maneira de viver mina a credibilidade da Igreja.

3. Mas tudo isto só é possível, se reconhecermos Jesus Cristo; pois foi Ele que nos chamou, nos convidou a seguir o seu caminho, nos escolheu. Só é possível anunciar e dar testemunho, se estivermos unidos a Ele, precisamente como, no texto do Evangelho de hoje, estão ao redor de Jesus ressuscitado Pedro, João e os outros discípulos; vivem uma intimidade diária com Ele, pelo que sabem bem quem é, conhecem-No. O Evangelista sublinha que «nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: “Quem és tu?”, porque bem sabiam que era o Senhor» (Jo 21, 12). Está aqui um dado importante para nós: temos de viver num relacionamento intenso com Jesus, numa intimidade tal, feita de diálogo e de vida, que O reconheçamos como «o Senhor». Adorá-Lo! A passagem que ouvimos do Apocalipse, fala-nos da adoração: as miríades de anjos, todas as criaturas, os seres vivos, os anciãos prostram-se em adoração diante do trono de Deus e do Cordeiro imolado, que é Cristo e para quem é dirigido o louvor, a honra e a glória (cf. Ap 5, 11-14). Gostaria que todos se interrogassem: Tu, eu, adoramos o Senhor? Vamos ter com Deus só para pedir, para agradecer, ou vamos até Ele também para O adorar? Mas então que significa adorar a Deus? Significa aprender a estar com Ele, demorar-se em diálogo com Ele, sentindo a sua presença como a mais verdadeira, a melhor, a mais importante de todas. Cada um de nós possui na própria vida, de forma mais ou menos consciente, uma ordem bem definida das coisas que são consideradas mais ou menos importantes. Adorar o Senhor quer dizer dar-Lhe o lugar que Ele deve ter; adorar o Senhor significa afirmar, crer – e não apenas por palavras – que Ele é o único que guia verdadeiramente a nossa vida; adorar o Senhor quer dizer que vivemos na sua presença convencidos de que é o único Deus, o Deus da nossa vida, o Deus da nossa história.

Daqui deriva uma consequência para a nossa vida: despojar-nos dos numerosos ídolos, pequenos ou grandes, que temos e nos quais nos refugiamos, nos quais buscamos e muitas vezes depomos a nossa segurança. São ídolos que frequentemente conservamos bem escondidos; podem ser a ambição, o carreirismo, o gosto do sucesso, o sobressair, a tendência a prevalecer sobre os outros, a pretensão de ser os únicos senhores da nossa vida, qualquer pecado ao qual estamos presos, e muitos outros. Há uma pergunta que eu queria que ressoasse, esta tarde, no coração de cada um de nós e que lhe respondêssemos com sinceridade: Já pensei qual possa ser o ídolo escondido na minha vida que me impede de adorar o Senhor? Adorar é despojarmo-nos dos nossos ídolos, mesmo os mais escondidos, e escolher o Senhor como centro, como via mestra da nossa vida.

Amados irmãos e irmãs, todos os dias o Senhor nos chama a segui-Lo corajosa e fielmente; fez-nos o grande dom de nos escolher como seus discípulos; convida-nos a anunciá-Lo jubilosamente como o Ressuscitado, mas pede-nos para o fazermos, no dia a dia, com a palavra e o testemunho da nossa vida. O Senhor é o único, o único Deus da nossa vida e convida-nos a despojar-nos dos numerosos ídolos e a adorar só a Ele. Anunciar, testemunhar, adorar. Que a bem-aventurada Virgem Maria e o apóstolo Paulo nos ajudem neste caminho e intercedam por nós. Assim seja.

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Forte experiência pessoal com Cristo morto e ressuscitado

Palavras do Papa Francisco durante o Regina Coeli

ROMA, 14 de Abril de 2013 (Zenit.org) – Apresentamos as palavras do Papa Francisco pronunciadas neste domingo, 14 de abril, desde a janela do Palacio Apostolico, na Praça de São Pedro, Vaticano, por ocasião da tradicional oração do Regina Coeli.

Caros irmãos e irmãos, bom dia!

Gostaria de deter-me primeiramente na página dos Atos dos Apóstolos que está na liturgia deste terceiro Domingo de Páscoa. Este texto relata que a primeira oração dos Apóstolos em Jerusalém encheu a cidade da notícia que Jesus era verdadeiramente ressuscitado, segundo as Escrituras, e era o Messias anunciado pelos profetas. Os sumos sacerdotes e os chefes da cidade buscaram bloquear o nascimento da comunidade de credentes em Cristo e aprisionaram os Apóstolos, ordenando a eles de não ensinarem mais o Seu nome. Mas Pedro e os outros onze responderam: “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus… Deus com a sua destra o elevou a Príncipe e Salvador … E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem” (At 5, 29-32). Então flagelaram os apóstolos e deram novamente a ordem de não falarem mais no nome de Jesus. E eles partiram, assim diz a Escritura, “Retiraram-se, pois, da presença do conselho, regozijando-se de terem sido julgados dignos de padecer afrontas pelo nome de Jesus” (V. 41)

Eu me pergunto: onde os primeiros discÍpulos encontravam forças para este testemunho? Não apenas: de onde vinha a alegria e a coragem deles para o anúncio, apesar dos obstáculos e das violências? Não esqueçamos que os Apóstolos eram pessoas simples, não eram escribas, doutores da lei, nem faziam parte da classe sacerdotal. Como podiam, com os seus limites e com oposição das autoridades, encherem Jerusalém com seus ensinamentos (cfr At 5, 28)? É claro que somente a presença com eles de Jesus Ressuscitado e a ação do Espírito Santo poderia explica este fato. O Senhor que era com eles e o Espírito que os empurrava para a pregação explica este fato extraordinário. A fé deles se baseava em uma forte experiência pessoal com Cristo morto e ressuscitado, que não tinham medo de nada nem de ninguém, e até mesmo viam as perseguições como um motivo de honra, que lhes permitia seguir os passos de Jesus e assemelhar-se a Ele, testemunhando com a vida.

Esta história da primeira comunidade cristã nos diz uma coisa muito importante, que vale para a Igreja de todos os tempos, até para nós: quando uma pessoa conhece verdadeiramente Jesus Cristo e crê Nele, experimenta a Sua presença na vida e a força da Sua Ressurreição, e não pode ficar sem comunicar esta experiência. E, se essa pessoa encontra incompreensões ou adversidades, se comporta como Jesus na Sua Paixão: responde com o amor e com a força da verdade.

Rezando juntos o Regina Coeli, peçamos a ajuda de Maria Santíssima a fim que a Igreja em todo o mundo anuncie com franqueza e coragem a Ressurreição do Senhor e dê um eficaz testemunho com sinal de amor fraterno. O amor fraterno é o testemunho mais próximo que podemos dar de que Jesus está conosco vivo, que Jesus ressuscitou. Rezemos de modo particular pelos cristãos que sofrem perseguições, neste tempo existem tantos cristãos que sofrem perseguições, tantos, tantos, em tantos países: rezemos por eles, com amor, do nosso coração. Sinta a presença viva e confortante do Senhor Ressuscitado.

Quando caminhamos sem a Cruz, não somos discípulos do Senhor

Homilia do Papa Francisco na Missa pela Igreja

ROMA, 14 de Março de 2013 (Zenit.org) – Nesta quinta-feira, às 17 horas, na Capela Sistina, o Santo Padre Francisco celebrou Missa Pro Ecclesia (pela Igreja) com os cardeais eleitores que participaram do Conclave.

Durante a celebração eucarística, após a proclamação do Santo Evangelho, comentando as leituras (Primeira leitura: Isaías 2: 2-5; Segunda Leitura: 1 Pedro 2, 4-9; Evangelho: Mt 16, 13-19), o Papa Francisco pronunciou a seguinte homilia:

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Nessas três leituras, vejo que há algo em comum: o movimento. Na primeira leitura, o movimento no caminho; na segunda leitura, o movimento na edificação da Igreja; na terceira, o Evangelho, o movimento na confissão. Caminhar, edificar, confessar.

Caminhar. “Casa de Jacó, vinde, caminhemos à luz do Senhor” (Is 2,5). Esta é a primeira coisa que Deus disse a Abraão: caminhe na minha presença e seja irrepreensível. Caminhar: a nossa vida é um caminho e quando paramos, as coisas não correm bem. Caminhar sempre, na presença do Senhor, à luz do Senhor, tentando viver a irrepreensibilidade que Deus pedia a Abraão, em sua promessa.

Edificar. Edificação da Igreja. Fala-se de pedras: as pedras têm consistência, pedras vivas, pedras ungidas pelo Espírito Santo. Edificar a Igreja, Esposa de Cristo, sobre a pedra angular que é o próprio Senhor. Aqui está outro movimento da nossa vida: edificar.

Terceiro, confessar. Podemos caminhar o quanto quisermos, podemos edificar muitas coisas, mas se não confessamos Jesus Cristo, as coisas não correm bem. Nos tornaremos uma ONG piedosa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor. Quando não caminhamos, paramos. Quando não edificamos sobre a pedra, o que acontece? Acontece o que acontece com as crianças quando elas constroem castelos de areia na praia, tudo desaba, não tem consistência. Quando não confessamos Jesus Cristo, me vem em mente as palavras de Léon Bloy: “Quem não prega o Senhor, prega o diabo”. Quando não se confessa Jesus Cristo, se confessa a mundanidade do diabo.

Caminhar, edificar-construir, confessar. Mas não é tão fácil, porque no caminhar, no construir, no confessar, às vezes acontecem terremotos, acontecem movimentos que não são os movimentos próprios do caminho: são movimentos que nos puxam para trás.

O Evangelho prossegue com uma situação especial. O próprio Pedro que confessou Jesus Cristo, diz: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. Eu o sigo, mas não falemos de Cruz. Isso não tem nada a ver. Eu te seguirei com outras possibilidades, sem a Cruz. Quando caminhamos sem a Cruz, quando edificamos sem a Cruz e quando confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos Bispos, Padres, Cardeais, Papas, mas não discípulos do Senhor.

Eu gostaria que todos, após esses dias de Graça, tenhamos a coragem, exatamente a coragem de caminhar na presença do Senhor, com a Cruz do Senhor; de construir a Igreja no sangue do Senhor, que foi derramado na Cruz; e de confessar a única glória: Cristo Crucificado.