É possível ver a Deus

Catequese de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira

CIDADE DO VATICANO, 16 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) – Jesus Cristo “Mediador e plenitude de toda a Revelação”

Queridos irmãos e irmãs,

o Concílio Vaticano II na Constituição sobre a Divina Revelação Dei Verbum, afirma que a verdade íntima da revelação de Deus brilha para nós “em Cristo, que é juntamente o mediador e a plenitude de toda a Revelação” (n 2) . O Antigo Testamento nos narra como Deus, após a criação, apesar do pecado original, apesar da arrogância do homem de querer colocar-se no lugar do seu Criador, oferece novamente a possibilidade de sua amizade, sobretudo por meio da aliança com Abraão e o caminho de um pequeno povo, o de Israel, que Ele escolhe não com critérios terrenos, mas simplesmente por amor. É uma escolha que permanece um mistério e revela o estilo de Deus que chama alguns não para excluir outros, mas para fazê-los de ponte que conduza a Ele: eleição é sempre eleição para o outro. Na história do povo de Israel é possível refazer os passos de um longo caminho no qual Deus se faz conhecer, se revela, entra a história com palavras e ações. Para esta obra Ele utiliza mediadores, como Moisés, os Profetas, os Juízes, que comunicam ao povo a sua vontade, recordam a exigência da fidelidade à aliança e mantêm viva a realização plena e definitiva das promessas divinas.

E é exatamente a realização destas promessas que contemplamos no Santo Natal: a Revelação de Deus alcança o seu cume, a sua plenitude. Em Jesus de Nazaré, Deus realmente visita o seu povo, visita a humanidade de uma forma que vai além de todas as expectativas: envia o seu Filho Unigênito; faz-se homem o próprio Deus. Jesus não nos diz algo sobre Deus, não fala simplesmente do Pai, mas é a revelação de Deus, porque é Deus, e revela assim a face de Deus. No Prólogo do seu Evangelho, São João escreve: “Deus, ninguém jamais o viu: Ninguém jamais viu Deus. O Filho único que está no seio do Pai foi quem o revelou” (João 1, 18).

Gostaria de deter-me sobre este “revelar a face de Deus”. A este respeito, São João, no seu Evangelho, relata um fato significativo que ouvimos então. Aproximando-se a Paixão, Jesus tranqüiliza seus discípulos, exortando-os a não terem medo e a ter fé, e depois, começa um diálogo com eles no qual fala de Deus Pai (cf. João 14,2-9). Em um determinado momento, o apóstolo Filipe pede a Jesus: “Senhor, mostra-nos o Pai e isso nos basta” (João 14, 8). Filipe é muito prático e concreto, diz também o que nós queremos dizer: “queremos ver, mostra-nos o Pai”, pede para “ver” o Pai, para ver a sua face. A resposta de Jesus é respondida não só a Felipe, mas também a nós e nos introduz no coração da fé cristológica; o Senhor diz: “Quem me viu, viu o Pai” (João 14, 9). Esta expressão contém em síntese a novidade do Novo Testamento, aquela novidade que apareceu na gruta de Belém: é possível ver a Deus, Deus manifestou a sua face, é visívelem Jesus Cristo.

Em todo o Antigo Testamento é muito presente o tema da “busca da face de Deus”, o desejo de conhecer essa face, o desejo de ver Deus como Ele é, tanto que o termo hebraico pānîm, que significa “face”, é nomeado nada menos que 400 vezes, e 100 delas são referentes a Deus: 100 vezes refere-se a Deus, deseja-se ver a face de Deus. No entanto a religião judaica proíbe todas as imagens, porque Deus não pode ser representado, como faziam os povos vizinhos com a adoração de ídolos; então, com esta proibição das imagens, o Antigo Testamento parece excluir totalmente o “ver” do culto e da devoção. O que significa, então, para o israelita piedoso, buscar a face de Deus, sabendo que não pode haver imagem alguma? A questão é importante: por um lado, se quer dizer que Deus não pode ser reduzido a um objeto, como uma imagem que se toma em mãos, nem mesmo se pode colocar algo no lugar de Deus; por outro lado, afirma-se que Deus tem uma face, um “Tu” que pode entrar em relação, que não está fechadoem seu Céu a olhar do alto a humanidade. Deus está certamente acima de todas as coisas, mas se dirige a nós, escuta-nos, vê-nos, fala, estabelece aliança, é capaz de amar. A história da salvação é a história de Deus com a humanidade, é a história deste relacionamento de Deus que se revela progressivamente ao homem, que faz conhecer a si mesmo, a sua face.

Logo no início do ano, em 1° de janeiro, ouvimos na liturgia a bela oração de benção sobre o povo: “O Senhor te abençõe e te guarde. O Senhor te mostre a sua face e conceda-te a sua graça. O Senhor volva o seu rosto para ti e te dê a paz” (Nm 6,24-26). O esplendor da face divina é a fonte de vida, é o que nos permite ver a realidade; a luz da sua face é o guia da vida. No Antigo Testamento, há uma figura que está ligada de forma muito especial ao tema da “face de Deus”; trata-se de Moisés, a quem Deus escolhe para libertar o povo da escravidão do Egito, doa-lhe a Lei da aliança e o conduz à Terra prometida. Bem como, no capítulo 33 do Livro do Êxodo, diz-se que Moisés tinha um relacionamento estreito e confidencial com Deus: “O Senhor falava com Moisés face a face, como um homem fala com seu amigo” (v. 11). Em virtude dessa confiança, Moisés pede a Deus: “Mostra-me a tua glória”, e a resposta de Deus é clara:

“Farei passar diante de ti todo o meu esplendor e proclamarei o meu nome… Mas tu não poderás ver a minha face, porque nenhum homem pode me ver e permanecer vivo…Eis um lugar perto de mim…Tu me verás por detrás, mas a minha face não pode ser vista” (vv. 18-23). Por um lado, há agora um diálogo face a face como entre amigos, mas por outro há a impossibilidade, nesta vida, de ver a face de Deus, que permanece escondida; a visão é limitada. Os Padres dizem que estas palavras, ” tu me verás por detrás”, querem dizer: tu podes somente seguir a Cristo e seguindo vê por trás o mistério de Deus; Deus pode ser seguido vendo as suas costas.

Algo novo acontece, porém, com a Encarnação. A busca da face de Deus recebe uma mudança incrível, porque agora é possível ver essa face: é aquela de Jesus, do Filho de Deus que se fez homem. Nele encontra cumprimento o caminho da revelação de Deus iniciado com o chamado a Abraão, Ele é a plenitude desta revelação porque é o Filho de Deus, é ao mesmo tempo “mediador e plenitude de toda a Revelação” (Const. Dogm. Dei Verbum, 2), Nele o conteúdo da Revelação e o Revelador se coincidem. Jesus nos mostra a face de Deus e nos faz conhecer o nome de Deus. Na Oração sacerdotal, na Última Ceia, Ele diz ao Pai: “Manifestei o teu nome aos homens … Eu lhes fiz conhecer o teu nome” (cf. João 17,6.26). A expressão “nome de Deus” significa Deus como Aquele que está presente entre os homens. A Moisés, na sarça ardente, Deus havia revelado o seu nome, tinha se tornado invocável, tinha dado um sinal concreto do seu “existir” entre os homens. Tudo isso em Jesus encontra cumprimento e plenitude: Ele inaugura de um modo novo a presença de Deus na história, porque que quem O vê, veja o Pai, como diz a Filipe (cf. João14,9). O Cristianismo – afirma São Bernardo – é a “religião da Palavra de Deus”, não, porém, de “uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo” (Hom. super missus est, IV, 11: PL 183, 86B). Na tradição patrística e medieval utiliza-se uma fórmula especial para expressar esta realidade: diz-se que Jesus é o Verbum abbreviatum (cf. Rm 9,28, referindo-se a Isaías 10, 23), o Verbo abreviado, a Palavra breve, breve e substancial do Pai, que nos contou tudo sobre Ele. Em Jesus toda a Palavra está presente.

Em Jesus também a mediação entre Deus e o homem encontra a sua plenitude. No Antigo Testamento há uma série de figuras que desempenham esta tarefa, em particular Moisés, o libertador, o guia, o “mediador” da aliança, como o define também o Novo Testamento (cf. Gl 3, 19; Atos 7 , 35, Jo 1:17). Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, não é simplesmente um dos mediadores entre Deus e o homem, mas é “o mediador” da nova e eterna aliança (cf. Hb 8:6; 9,15, 12,24), “um só, de fato, é Deus – diz Paulo – e um só o mediador entre Deus e os homens, o homem Cristo Jesus” (1 Tm 2,5; Gal 3,19-20). Nele podemos ver e encontrar o Pai; Nele podemos invocar a Deus como “Abbá, Pai”; Nele nos é doada a salvação.

O desejo de conhecer a Deus realmente, isso é, de ver a face de Deus é inerente a todos os homens, até mesmo nos ateus. E nós temos talvez inconscientemente este desejo de simplesmente ver quem é Ele, o que é, quem é para nós. Mas esse desejo se realiza seguindo a Cristo, assim, vemos as costas e enfim também a Deus como um amigo, a sua face na face de Cristo. O importante é que sigamos a Cristo não somente no momento em que necessiatmos e quando encontramos um espaço em nossas ocupações diárias, mas com a nossa vida enquanto tal. Toda a nossa existência deve ser orientada ao encontro com Jesus Cristo, ao amor por Ele; e, nisso, um lugar central deve ter o amor ao próximo, o amor que, à luz do Crucifixo, nos faz reconhecer a face de Jesus nos pobres, nos fracos, nos sofredores. Isso é possível somente se a verdadeira face de Jesus tornou-se familiar para nós na escuta da sua Palavra, no falar interiormente, no entrar nesta Palavra de forma que realmente O encontremos, e, naturalmente, no mistério da Eucaristia. No Evangelho de São Lucas é significativo o passo dos dois discípulos de Emaús, que reconhecem Jesus ao partir o pão, mas preparados pelo caminho com Ele, preparados pelo convite que fizeram a Ele de permanecer com eles, preparados pelo diálogo que fez arder seus corações; assim, ao final, eles veem Jesus. Também para nós a Eucaristia é a grande escola em que aprendemos a ver a face de Deus, entramos em relacionamento íntimo com Ele e aprendemos, ao mesmo tempo, a dirigir o olhar para o momento final da história, quando Ele irá nos saciar com a luz da sua face. Sobre a terra nós caminhamos para essa plenitude, na expectativa alegre que se realiza no Reino de Deus. Obrigado.

Bento XVI dirigiu a seguinte saudação em português:

Uma saudação cordial aos peregrinos de língua portuguesa, nomeadamente ao grupo de “Cantorias”, da Diocese de Viseu: me quisestes recordar em vosso canto. Agradeço-vos e, de bom grado, vos encorajo na consagração à Virgem Maria para um feliz êxito na vossa configuração a Cristo. Desçam sobre vós e vossas famílias as Bênçãos de Deus. Obrigado.

Antes da benção final o Papa fez o seguinte apelo:

Depois de amanhã, sexta-feira, 18 de janeiro, começa a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que este ano tem como tema: “O que Deus exige de nós”, inspirado em uma passagem do profeta Miquéias (cf. 06-8). Convido todos a rezarem, pedindo com insistência a Deus o grande dom da unidade entre os discípulos do Senhor. A força inesgotável do Espírito Santo nos encoraje a um compromisso sincero de busca da unidade, para que possamos professar juntos que Jesus é o Salvador do mundo.

(Trad.MEM)

Toda promessa se cumpre em Jesus, nele culmina a história de Deus com a humanidade

Catequese de Bento XVI durante a audiência Geral da quarta-feira, 12 de dezembro

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 12 dezembro de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir a catequese realizada esta manhã pelo Papa Bento XVI durante a habitual audiência geral realizada na sala Paulo VI.

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Queridos irmãos e irmãs,

na última catequese falei da Revelação de Deus, como comunicação que Ele faz de Si mesmo e do seu plano de benevolência e de amor. Esta Revelação de Deus entra no tempo e na história dos homens: história que se torna “o lugar em que podemos constatar o agir de Deus em favor da humanidade. Ele chega a nós por meio do que nos é mais familiar, e fácil de verificar, que constitui o nosso contexto cotidiano, sem o qual não conseguiríamos compreender-nos” (João Paulo II, Enc. Fides et ratio, 12, Tradução Nossa).

O evangelista São Marcos – como ouvimos – relata, de forma clara e sintética, os momentos iniciais da pregação de Jesus: “O tempo está cumprido e o reino de Deus está próximo” (Marcos 1, 15). O que ilumina e dá sentido pleno para a história do mundo e do homem começa a brilhar na gruta de Belém; é o Mistério que contemplaremos daqui a pouco no Natal: a salvação que se realiza em Jesus Cristo. Em Jesus de Nazaré Deus mostra o seu rosto e pede a decisão do homem de reconhecê-lo e de seguí-lo. O revelar-se de Deus na história para entrar em relação de diálogo de amor com o homem, dá um novo sentido para todo o caminho humano. A história não é apenas uma sucessão de séculos, de anos, de dias, mas é o tempo de uma presença que lhe dá sentido e abre-a para uma sólida esperança.

Onde podemos ler as fases desta Revelação de Deus? A Sagrada Escritura é o melhor lugar para descobrir os acontecimentos deste caminho, e gostaria de – mais uma vez – convidar a todos, neste Ano da fé, para pegar em mãos com mais frequência a Bíblia e lê-la e meditá-la e a prestar maior atenção nas Leituras da Missa dominical; tudo isso constitui um alimento precioso para a nossa fé.

Lendo o Antigo Testamento podemos ver como as intervenções de Deus na história do povo que escolheu para si e com o qual faz aliança não são fatos que passam e caem no esquecimento, mas se tornam “memória”, tornam-se a “história da salvação”, mantida viva na consciência do povo de Israel por meio da celebração dos acontecimentos salvíficos. Assim, no Livro do Êxodo o Senhor indica a Moisés de celebrar o grande momento da libertação da escravidão do Egito, a Páscoa Hebráica, com estas palavras: “Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua” (12, 14). Para todo o povo de Israel lembrar isso que Deus tem feito, torna-se uma espécie de imperativo constante para que a passagem do tempo seja marcada pela memória viva dos eventos passados, que formam assim, dia a dia, de novo, a história e permanecem presentes. No Livro do Deuteronômio, Moisés se dirige ao povo dizendo: “Guarda-te, pois, a ti mesmo: cuida de nunca esquecer o que viste com os teus olhos, e toma cuidado para que isso não saia jamais de teu coração, enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos” (4, 9). E assim também nos diz: “Tenha cuidado para não esquecer as coisas que Deus fez conosco”. A fé é alimentada pela descoberta e pela memória do Deus sempre fiel, que guia a história e que é o fundamento seguro e estável sobre o qual construir a própria vida. Também o canto do Magnificat, que a Virgem Maria eleva a Deus, é um exemplo altíssimo desta história de salvação, desta memória que faz e tem presente o atuar de Deus. Maria exalta o agir misericordioso de Deus no caminho concreto do seu povo, a fidelidade às promessas de aliança feitas a Abraão e à sua descendência; e tudo isso é memória viva da presença divina que nunca falha (cf. Lc 1, 46-55).

Para Israel, o Êxodo é o acontecimento histórico central em que Deus revela a sua ação poderosa. Deus liberta os israelitas da escravidão do Egito para que possam voltar à Terra Prometida e adorá-Lo como o único e verdadeiro Senhor. Israel não se coloca à caminho por ser um povo como os outros –  por ter também ele uma independência nacional -, mas por servir a Deus no culto e na vida, por criar para Deus um lugar onde o homem está em obediência a Ele, onde Deus está presente e adorado no mundo; e, naturalmente, não somente para eles, mas para testemunhá-lo no meio dos outros povos. A celebração deste evento é um fazê-lo presente e atual, para que a obra de Deus não seja esquecida. Ele tem fé no seu plano de libertação e continua a perseguí-lo, para que o homem possa reconhecer e servir o seu Senhor e responder com fé e amor à sua ação.

Deus, então, se revela não só no ato primordial da criação, mas entrando na nossa história, na história de um pequeno povo que não era nem o maior, nem o mais forte. E esta Revelação de Deus, que vai adiante na história, culmina em Jesus Cristo: Deus, o Logos, a Palavra criadora que está na origem do mundo, se encarnou em Jesus e mostrou o verdadeiro rosto de Deus. Em Jesus cumpre-se toda promessa, Nele culmina a história de Deus com a humanidade. Quando lemos a narração dos dois discípulos à caminho de Emaús, que chegou a nós por meio de São Lucas, vemos claramente que a pessoa de Cristo ilumina o Antigo Testamento, toda a história da salvação e mostra o grande plano unitário dos dois Testamentos, mostra o caminho da sua unicidade. De fato, Jesus explica aos dois viajantes perdidos e decepcionados ser Ele o cumprimento de todas as promessas: “E, começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras as coisas referentes a Ele” (24, 27). O evangelista mostra a exclamação dos dois discípulos depois de terem reconhecido que aquele companheiro de viagem era o Senhor: “Não ardia o nosso coração enquanto ele conversava conosco ao longo do caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (V. 32).

O Catecismo da Igreja Católica resume as etapas da Revelação divina mostrando sinteticamente o seu desenvolvimento (cf. nn 54-64): Deus convidou o homem desde o início para uma íntima comunhão com Ele e também quando o homem, pela própria desobediência, perdeu a sua amizade, Deus não o abandonou ao poder da morte, mas ofereceu muitas vezes a sua aliança aos homens (cf. Missal Romano, Pregh. EUC. IV). O Catecismo traça o caminho de Deus ao homem desde a aliança com Noé, depois do dilúvio, à chamada de Abraão para deixar a sua terra e fazê-lo pai de uma multidão de nações. Deus forma Israel como o seu povo, por meio do evento do Êxodo, a Aliança do Sinai e o dom, por meio de Moisés, da Lei para ser reconhecido e servido como o único Deus vivo e verdadeiro. Com os profetas, Deus guia o seu povo na esperança da salvação. Conhecemos – por meio de Isaias – o “segundo Êxodo”, o retorno do exílio da Babilônia à própria terra, a refundação do povo; porém, ao mesmo tempo, muitos permanecem na dispersão e assim começa a universalidade desta fé. No final, não se espera somente um rei, Davi, um filho de Davi, mas um “Filho do homem”, a salvação de todos os povos. Realizam-se encontros entre culturas, primeiro com Babilônia e a Síria, depois também com a multidão grega. Assim vemos como o caminho de Deus cresce, abre-se sempre mais para o Mistério de Cristo, o Rei do universo. Em Cristo se realiza finalmente a Revelação na sua plenitude: Ele mesmo se faz um conosco.

Fixei-me mais no fazer memória do atuar de Deus na história do homem, para mostrar as etapas deste grande plano de amor testemunhado no Antigo e no Novo Testamento: um único plano de salvação para toda a humanidade, progressivamente revelado e realizado pelo poder de Deus, onde Deus sempre reage às respostas do homem e encontra novos inícios de aliança quando o homem se perde. Isso é fundamental no caminho de fé. Estamos no tempo litúrgico do Advento que nos prepara para o Santo Natal. Como todos sabemos, a palavra “Advento” significa “vinda”, “presença”, e antigamente indicava justamente a chegada do rei ou do imperador numa determinada província. Para nós cristãos a palavra indica uma realidade maravilhosa e envolvente: o mesmo Deus cruzou o seu Céu e se inclinou ao homem; fez aliança com ele entrando na história de um povo; Ele é o rei que desceu nesta pobre província que é a terra e nos fez o dom da sua visita assumindo a nosa carne, se tornando homem como nós. O Advento nos convida a percorrer o caminho desta presença e nos lembra sempre de novo que Deus não saiu do mundo, não está ausente, não nos abandonou, mas vem a nós de diferentes formas, que devemos aprender a discernir. E também nós com a nossa fé, a nossa esperança e a nossa caridade, somos chamados todos os dias para ver e testemunhar esta presença no mundo muitas vezes superficial e distraído, e fazer brilhar na nossa vida a luz que iluminou a gruta de Belém. Obrigado.

Após a audiência, o Papa disse aos peregrinos de língua portuguesa estas palavras:

Queridos peregrinos de língua portuguesa, sede bem-vindos! Possa a preparação para o Natal, neste tempo do Advento, vos recordar que Deus vem ao encontro de cada ser humano. Meditai a Palavra de Deus, precioso alimento da vossa fé, para assim resplandecer nas vossas vidas a luz de Cristo que iluminou a gruta de Belém. Que Ele vos abençoe!

E aos peregrinos de língua italiana o Papa lembrou a memória que celebramos hoje da virgem de Guadalupe: 

Hoje celebramos a memória de Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira das Américas e também da nova evangelização. Queridos jovens, na escola de Maria aprendemos a amar e esperar; queridos doentes, a Santíssima Virgem seja vossa companhia e conforto no sofrimento; e vós, caros recém-casados, confiai à Mãe de Jesus, o vosso caminho conjugal.

(Tradução Thácio Siqueira)

“Que o natal não seja só uma festa exterior”

Durante o ângelus dominical, Bento XVI centrou-se nas virtudes de São João Batista

CIDADE DO VATICANO, domingo, 9 de dezembro de 2012 (ZENIT.org) – Publicamos a seguir as palavras do Papa Bento XVI no ângelus desta manhã. O Santo Padre apareceu às 12hs na janela do seu escritório no Palácio Apostólico Vaticano, cumprimentando os peregrinos e os fieis reunidos na Praça de São Pedro.

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Queridos irmãos e irmãs!

No tempo do Advento a liturgia enfatiza, de modo  particular, duas figuras que preparam a vinda do Messias: a Virgem Maria e João Batista. Hoje São Lucas nos apresenta este último, e o faz com características diferentes dos outros Evangelistas. “Todos os quatro Evangelhos colocam no início do ministério de Jesus a figura de João Batista e apresentam-no como o seu precursor. São Lucas colocou antes a conexão entre as duas figuras e as suas respectivas missões […] Já na concepção e no nascimento, Jesus e João colocaram-se em relação entre si” (A infância de Jesus, 23).

Essa configuração ajuda a entender que João, enquanto filho de Zacarias e Isabel, ambos de famílias sacerdotais, não é apenas o último dos profetas, mas representa também todo o sacerdócio da Antiga Aliança e por isso prepara os homens ao culto espiritual da Nova Aliança, inaugurado por Jesus (cf. ibid. 27-28). Lucas também afasta qualquer leitura mítica que às vezes é feita dos Evangelhos e coloca historicamente a vida do Batista: “No décimo quinto ano do império de Tibério César, quando Pôncio Pilatos era governador […] enquanto eram sumos sacerdotes Anás e Caifás” (Lc 3, 1-2). Dentro deste quadro histórico reside o verdadeiro grande evento, o nascimento de Cristo, que seus contemporâneos não vão perceber. Para Deus os grandes homens da história formam o pano de fundo para os pequenos!

João Batista se define como a “voz que clama no deserto: preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Lc 3, 4). A voz proclama a palavra, mas, neste caso, a Palavra de Deus precede, enquanto que é ela mesma que desce sobre João, Filho de Zacarias, no deserto (cf. Lc 3, 2). Ele, então, desempenha um grande papel, mas sempre em relação a Cristo. Santo Agostinho comenta: “João é a voz. Do Senhor ao contrário se diz: “No princípio era o Verbo” (João 1, 1).

João é a voz que passa, Cristo é o Verbo eterno, que existia no princípio. Se tiras a voz da palavra, o que é que resta? Um som fraco. A voz sem palavra atinge o ouvido, mas não edifica o coração” (Sermão 293, 3).

Nosso objetivo é dar hoje ouvido à essa voz para conceder espaço e acolhida no coração à Jesus, Palavra que nos salva. Neste Tempo de Advento, preparemo-nos para ver, com os olhos da fé, na humilde Gruta de Belém, a salvação de Deus (cf. Lc 3, 6). Na sociedade dos consumos, em que se busca a alegria nas coisas, o Batista nos ensina a viver de uma forma essencial, para que o Natal seja vivido não só como uma festa exterior, mas como a festa do Filho de Deus que veio para trazer aos homens a paz, a vida e a alegria verdadeira.

À materna intercessão de Maria, Virgem do Advento, confiamos o nosso caminho de encontro com o Senhor que vem, para estarmos prontos para acolher, no coração e em toda a vida, o Emanuel, o Deus-conosco.

(Trad.TS)

“Deixar-se prender pela Verdade que é Deus”

Catequese de Bento XVI : O Ano da fé. Deus revela o seu grande desígnio de benevolência

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 05 de dezembro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos a seguir a cataquese de Bento XVI intitulada -O Ano da fé. Deus revela o seu grande desígnio de benevolência- realizada nesta quarta-feira durante a Audiência Geral na Sala Paulo VI.

Queridos irmãos e irmãs,

No início de sua Carta aos cristãos de Efésios (cfr 1, 3-14), o apóstolo Paulo eleva uma oração de louvor a Deus, Pai de Senhor Nosso Jesus Cristo, que nos introduz a viver o tempo do Advento, no contexto do Ano da Fé. Tema deste hino de louvor é o projeto de Deus para o homem, definido com termos plenos de alegria, de admiração e de gratidão, como um “desígnio de benevolência” (v.9), de misericórdia e de amor.

Por que o Apóstolo eleva a Deus, do fundo do seu coração, este agradecimento? Porque olha para seu agir na história da salvação, culminado na encarnação, morte e ressurreição de Jesus, e contempla como o Pai celeste nos tenha escolhido antes mesmo da criação do mundo, para sermos seus filhos adotivos, no seu Filho Unigênito, Jesus Cristo (cfr Rm 8,14s.; Gal 4,4s.). Existimos, desde a eternidade em Deus, em um grande projeto que Deus tem mantido em si mesmo e que decidiu implementar e revelar “na plenitude dos tempos” (cfr Ef 1,10). São Paulo nos faz compreender, então, como toda a criação e, em particular, o homem e a mulher não são frutos do acaso, mas respondem a um desígnio de benevolência da razão eterna de Deus que com o poder criador e redentor da sua Palavra dá origem ao mundo. Esta primeira afirmação nos recorda que a nossa vocação não é simplesmente existir no mundo, estar inserido em uma história, e nem somente ser criatura de Deus; é alguma coisa maior: é ser escolhido por Deus, mesmo antes da criação do mundo, no Filho, Jesus Cristo. Nele, então, nós existimos, por assim dizer, desde sempre. Deus nos contempla em Cristo, como filhos adotivos. O “desígnio de benevolência” de Deus, que vem qualificado pelo Apóstolo Paulo também como “desígnio de amor” (Ef 1,5), é definido “o mistério” da vontade divina (v. 9), escondido e ora manifestado na Pessoa e na obra de Cristo. A iniciativa divina antecede cada resposta humana: é um dom gratuito de seu amor que nos envolve e nos transforma.

Mas qual é o objetivo último deste desígnio misterioso? Qual é o centro da vontade de Deus? É aquele – nos diz São Paulo – de “reunir em Cristo” (v. 10). Nesta expressão encontramos uma das formulações centrais do Novo Testamento que nos faz compreender o desígnio de Deus, o seu projeto de amor para toda a humanidade, uma formulação que, no segundo século, Santo Irineu di Lione colocou como núcleo da sua cristologia: “recapitular” toda a realidade em Cristo. Talvez alguns de vós se recordam da fórmula usada pelo Papa São Pio X para a consagração do mundo ao Sagrado Coração de Jesus: “Estabelecer todas as coisas em Cristo”, fórmula que se refere a esta expressão paulina e que era também o lema deste Pontífice. O Apóstolo, porém, fala mais precisamente da recapitulação do universo em Cristo, e isso significa que no grande desígnio da criação e da história, Cristo permanece como o dentro de todo o caminho do mundo, a espinha dorsal de tudo, que atrai para Si toda a realidade, para superar a dispersão e o limite e conduzir tudo à plenitude desejada por Deus (cfr Ef 1,23).

Este “desígnio de benevolência” não tem permanecido, por assim dizer, no silêncio de Deus, na altura de seu Céu, mas Ele o fez conhecer entrando em relação com o homem, ao qual não revelou só algo, mas a Si mesmo. Ele não comunicou simplesmente um conjunto de verdade, mas se autocomunicou a nós, até ser um de nós, a encarnar-se. O Concílio Ecumênico Vaticano II, na Constituição Apostólica dogmática Dei Verbum diz: “Quis Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar a si mesmo [não somente algo de si, mas a si mesmo] e fazer conhecer o mistério da sua vontade, mediante o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo feito carne, no Espírito Santo, tiveram acesso ao Pai e tornaram-se, assim, participantes da natureza divina” (n. 2). Deus não só diz qualquer coisa, mas Si comunica, nos atrai para a natureza divina de forma que nós estamos envolvidos nela, divinizados. Deus revela o seu grande desígnio de amor entrando em relação com o homem, aproximando-se dele até o ponto de fazer-se Ele mesmo homem. O Concílio continua: “O Deus invisível no seu grande amor fala aos homens como aos amigos (cfr Es 33,11; Gv 15,14-15) e vive entre esses (cfr Bar 3,38) para convidá-los e levá-los à comunhão consigo” (ibidem). Apenas com a inteligência e as suas habilidades o homem não poderia ter chegado a esta revelação tão brilhante do amor de Deus; foi Deus que abriu o seu Céu e se abaixou para conduzir o homem ao abismo de seu amor.

Ainda São Paulo escreve aos cristãos de Corinto: “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Espírito, porque o Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus” (2,9-10). E São João Crisóstomo, em uma célebre obra de comentário do início da Carta aos Efésios, convida a apreciar toda a beleza desse “desígnio de benevolência” de Deus revelado em Cristo, com estas palavras: “O que te falta? Tu te tornastes imortal, te tornastes livre, te tornastes filho, te tornastes justo, te tornastes irmãos, te tornastes co-herdeiro, com Cristo reinas, com Cristo és glorificado. Tudo nos foi doado e – como está escrito – ‘como não nos dará cada coisa junto com ele?” (Rm 8,32). Tuas primícias (cfr 1 Cor 15,20.23) foram adorados pelos anjos […]: o que te falta?” (PG 62,11).

Esta comunhão em Cristo por obra do Espírito Santo, oferecida por Deus a todos os homens com a luz da Revelação, não é algo que se sobrepõe com a nossa humanidade, mas é o cumprimento das aspirações mais profundas, daquele desejo de infinito e de plenitude que habita no íntimo do ser humano, e o abre a uma felicidade não momentânea e limitada, mas eterna. São Boaventura de Bagnoregio, referindo-se a Deus que se revela e nos fala por meio das Escrituras para conduzir-nos a Ele, afirma assim: “A sagrada Escritura é […] o livro no qual estão escritas palavras de vida eterna para que, não só acreditemos, mas também possuamos a vida eterna, na qual veremos, amaremos e serão realizados todos os nossos desejos” (Breviloquium, Prol.; Opera Omnia V, 201s.). Finalmente, o beato João Paulo II recordava que “a Revelação coloca na história um ponto de referência do qual o homem não pode prescindir, se quer chegar a compreender o mistério da sua existência; por outro lado, porém, este conhecimento remete constantemente para o mistério de Deus, que a mente não pode esgotar, mas só acolher na fé” (Enc. Fides et ratio, 14).

Nesta perspectiva, o que é então o ato da fé? É a resposta do homem à Revelação de Deus, que se faz conhecer, que manifesta o seu desígnio de benevolência; é, para usar uma expressão agostiniana, deixar-se prender pela Verdade que é Deus, uma Verdade que é Amor. Por isto São Paulo salienta como a Deus, que revelou o seu mistério, deve-se “a obediência da fé” (Rm 16,26; cfr 1,5; 2 Cor 10, 5-6), a atitude com a qual “o homem livremente se abandona inteiro a Ele, prestando a plena adesão do intelecto e da vontade a Deus que revela e assentindo voluntariamente à revelação que Ele dá” (Cost dogm. Dei Verbum, 5). Tudo isso leva a uma mudança fundamental do modo de relacionar-se com toda a realidade; tudo aparece em uma nova luz, trata-se então de uma verdadeira “conversão”, fé é uma “mudança de mentalidade”, porque o Deus que se revelou em Cristo e fez conhecer o seu desígnio de amor, nos prende, nos atrai para Si, transforma o sentido que sustenta a vida, a rocha sobre a qual essa pode encontrar estabilidade. No Antigo Testamento encontramos uma densa expressão sobre a fé, que Deus confia ao profeta Isaías a fim de que a comunique ao rei de Judá, Acaz. Deus afirma: “Se não crerdes –isto é, se não vos mantiver fiéis a Deus – não subsistireis” (Is 7,9b). Existe então uma ligação entre o estar e o compreender, que exprime bem como a fé seja um acolher na vida a visão de Deus sobre a realidade, deixar que seja Deus a conduzir-nos com a sua Palavra e os Sacramentos no entender o que devemos fazer, qual é o caminho que devemos percorrer, como viver. Ao mesmo tempo, porém, é o próprio compreender segundo Deus, o ver com os seus olhos que faz sólida a vida, que nos permite de “estar em pé”, de não cair.

Queridos amigos, o Advento, o tempo litúrgico que apenas começamos e que nos prepara ao Santo Natal, nos coloca diante do luminoso mistério da vinda do Filho de Deus, ao grande “desígnio de benevolência” com o qual Ele quer atrair-nos para Si, para fazer-nos viver em plena comunhão de alegria e de paz com Ele. O Advento nos convida, mais uma vez, em meio a tantas dificuldades, a renovar a certeza de que Deus é presente: Ele entrou no mundo, fazendo-se homem como nós, para trazer a plenitude do seu plano de amor. E Deus pede que também nós nos tornemos sinal da sua ação no mundo. Através da nossa fé, da nossa esperança, da nossa caridade, Ele quer entrar no mundo sempre de novo e quer sempre de novo fazer resplandecer a sua luz na nossa noite.

(Trad.CN Notícias)

“Deus é uma realidade da nossa vida”

Catequese de Bento XVI : O Ano da fé. Como falar de Deus?

CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 29 de novembro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos a seguir a catequese do papa Bento XVI realizada durante a Audiência Geral de quarta-feira, 28 de novembro, na Sala Paulo VI, no Vaticano.

O Ano da Fé. Como falar de Deus?

Queridos irmãos e irmãs,

A pergunta central que hoje nos fazemos é a seguinte: como falar de Deus no nosso tempo? Como comunicar o Evangelho, para abrir estradas para sua verdade salvífica nos corações muitas vezes fechados dos nossos contemporâneos e nas mentes tantas vezes distraídas por tantos estímulos da sociedade? Jesus mesmo, dizem-nos os Evangelistas, ao anunciar o Reino de Deus se perguntou: “A que podemos comparar o reino de Deus e com que parábola podemos descrevê-lo?” (Mc 4,30). Como falar de Deus hoje? A primeira resposta é que nós podemos falar de Deus, porque Ele falou conosco. A primeira condição para falar de Deus é então a escuta do que Deus mesmo disse. Deus falou conosco! Deus não é uma hipótese distante sobre a origem do mundo; não é uma inteligência matemática muito distante de nós. Deus se interessa por nós, nos ama, entrou pessoalmente na realidade da nossa história, se auto-comunicou até encarnar-se. Então, Deus é uma realidade da nossa vida, é tão grande que tem também tempo para nós, ocupa-se de nós. Em Jesus de Nazaré nós encontramos a face de Deus, que desceu do seu Céu para imergir-se no mundo dos homens, no nosso mundo, e ensinar a “arte de viver”, o caminho da felicidade; para libertar-nos do pecado e tornar-nos filhos de Deus (cfr Ef 1,5; Rm 8,14). Jesus veio para salvar-nos e mostrar-nos a vida boa do Evangelho.

Falar de Deus quer dizer antes de tudo ter bem claro o que devemos levar aos homens e às mulheres do nosso tempo: não um Deus abstrato, uma hipótese, mas um Deus concreto, um Deus que existe, que entrou na história e está presente na história; o Deus de Jesus Cristo como resposta à pergunta fundamental do porquê e do como viver. Por isto, falar de Deus requer uma familiaridade com Jesus e o seu Evangelho, pressupõe uma nossa pessoal e real consciência de Deus e uma forte paixão pelo seu projeto de salvação, sem ceder à tentação do sucesso, mas seguindo o método do próprio Deus. O método de Deus é aquele da humildade – Deus se faz um de nós – é o método realizado na Encarnação na casa simples de Nazaré e na gruta de Belém, aquele da parábola do grão de mostarda. Não devemos temer a humildade dos pequenos passos e confiar no fermento que penetra na massa e lentamente a faz crescer (cfr Mt 13,33). No falar de Deus, na obra de evangelização, guiados pelo Espírito Santo, é necessária uma recuperação da simplicidade, um retornar ao essencial do anúncio: a Boa Notícia de um Deus que é real e concreto, um Deus que se interessa por nós, um Deus-Amor que se faz próximo de nós em Jesus Cristo até a Cruz e que na Ressurreição nos doa a esperança e nos abre a uma vida que não tem fim, a vida eterna, a verdadeira vida. Aquele excepcional comunicador que foi o apóstolo Paulo nos oferece uma lição que vai exatamente ao centro da fé do problema “como falar de Deus” com grande simplicidade. Na Primeira Carta aos Coríntios escreve: “Quando cheguei no meio de vós, não me apresentei para anunciar o mistério de Deus com excelência da palavra ou de sabedoria. Decidi, na verdade, não dever saber coisa alguma no meio de vós senão Jesus Cristo, e Cristo crucificado” (2,1-2). Então, a primeira realidade é que Paulo não fala de uma filosofia que ele desenvolveu, não fala de idéias que encontrou em qualquer lugar ou inventou, mas fala de uma realidade da sua vida, fala do Deus que entrou na sua vida, fala de um Deus real que vive, falou com ele e falará conosco, fala de Cristo crucificado e ressuscitado. A segunda realidade é que Paulo não busca a si mesmo, não quer criar um time de admiradores, não quer entrar na história como chefe de uma escola de grandes conhecimentos, não busca a si mesmo, mas São Paulo anuncia Cristo e quer ganhar as pessoas para o Deus verdadeiro e real. Paulo fala somente com o desejo de querer pregar aquilo que entrou na sua vida e que é a verdadeira vida, que o conquistou no caminho para Damasco. Então, falar de Deus quer dizer dar espaço Àquele que se faz conhecer, que nos revela a sua face de amor; quer dizer expropriar o próprio eu oferecendo-o a Cristo, consciente de que não somos nós a poder ganhar os outros para Deus, mas devemos conhecê-los pelo próprio Deus, invocá-los por Ele. O falar de Deus nasce da escuta, do nosso conhecimento de Deus que se realiza na familiaridade com Ele, na vida da oração e segundo os Mandamentos.

Comunicar a fé, para São Paulo, não significa levar a si mesmo, mas dizer abertamente e publicamente aquilo que viu e sentiu no encontro com Cristo, quanto experimentou na sua existência já transformada por aquele encontro: é levar aquele Jesus que sente presente em si mesmo e tornou-se o verdadeiro sentido de sua vida, para fazer entender a todos que Ele é necessário para o mundo e é decisivo para a liberdade de cada homem. O Apóstolo não se contenta em proclamar por palavras, mas envolve toda a própria existência na grande obra da fé. Para falar de Deus, é necessário dar-lhe espaço, confiantes de que é Ele que age na nossa fraqueza: dar-lhe espaço sem medo, com simplicidade e alegria, na convicção profunda de que quanto mais colocamos no centro Ele e não nós, mais a nossa comunicação será frutífera. E isto vale também para as comunidades cristãs: esses são chamados a mostrar a ação transformadora da graça de Deus, superando individualismos, fechamento, egoísmos, indiferença e vivendo na relação cotidiana o amor de Deus. Perguntemo-nos se são realmente assim as nossas comunidades. Devemos colocar-nos em ação para tornar-nos sempre e realmente assim, anunciadores de Cristo e não de nós mesmos.

Nesta altura, devemos perguntar-nos como comunicava o próprio Jesus. Jesus na sua unicidade fala de seu Pai – Abbá – e do Reino de Deus, com o olhar cheio de compaixão pelos inconvenientes e dificuldades da existência humana. Fala com grande realismo e, direi, o essencial do anúncio de Jesus é que torna transparente o mundo e a nossa vida vale para Deus. Jesus mostra que no mundo e na criação resplandece a face de Deus e nos mostra como nas histórias cotidianas da nossa vida Deus está presente. Seja nas parábolas da natureza, o grão de mostarda, o campo com diversas sementes, ou na nossa vida, pensemos na parábola do filho pródigo, de Lázaro e em outras parábolas de Jesus. A partir dos Evangelhos vemos como Jesus se interessa por cada situação humana que encontra, se emerge na realidade dos homens e das mulheres do seu tempo, com plena confiança na ajuda do Pai. E que realmente nesta história, secretamente, Deus está presente e se estamos atentos podemos encontrá-Lo. E os discípulos, que vivem com Jesus, as multidões que O encontram, veem a sua reação aos problemas mais absurdos, veem como fala, como se comporta; veem Nele a ação do Espírito Santo, a ação de Deus. Nele anúncio e vida se entrelaçam: Jesus age e ensina, partindo sempre de um relacionamento íntimo com Deus Pai. Este estilo se torna uma indicação essencial para nós cristãos: o nosso modo de viver na fé e na caridade torna-se um falar de Deus hoje, porque mostra com uma existência vivida em Cristo a credibilidade, o realismo daquilo que dizemos com as palavras, que não são somente palavras, mas mostram a realidade, a verdadeira realidade. E nisso devemos estar atentos para colher os sinais dos tempos na nossa época, isto é, identificar os potenciais, os desejos, os obstáculos que se encontram na cultura atual, em particular o desejo de autenticidade, o anseio de transcendência, a sensibilidade para a salvaguarda da criação, e comunicar sem temor a resposta que oferece a fé em Deus. O Ano da Fé é ocasião para descobrir, com a fantasia animada pelo Espírito Santo, novos caminhos a nível pessoal e comunitário, a fim de que em cada lugar a força do Evangelho seja sabedoria de vida e orientação da existência.

Também no nosso tempo, um lugar privilegiado para falar de Deus é a família, a primeira escola para comunicar a fé às novas gerações. O Concílio Vaticano II fala dos pais como os primeiros mensageiros de Deus (cfr Cost. dogm. Lumen gentium, 11; Decr. Apostolicam actuositatem, 11), chamados a redescobrir esta missão deles, assumindo a responsabilidade no educar, no abrir a consciência dos pequenos ao amor de Deus como um serviço fundamental para suas vidas, em ser os primeiros catequistas e mestres da fé para seus filhos. E nesta tarefa é importante antes de tudo a vigilância, que significa saber entender as ocasiões favoráveis para introduzir em família o discurso de fé e para amadurecer uma reflexão crítica a respeito dos numerosos condicionamentos aos quais são submetidos os filhos. Esta atenção dos pais é também sensibilidade em reconhecer as possíveis questões religiosas presentes nas mentes dos filhos, às vezes evidentes, às vezes escondidas. Depois, a alegria: a comunicação da fé deve sempre ter uma totalidade de alegria. É a alegria pascal, que não silencia ou esconde a realidade da dor, do sofrimento, do cansaço, da dificuldade, da incompreensão e da própria morte, mas sabe oferecer os critérios para interpretar tudo na perspectiva da esperança cristã. A vida boa do Evangelho é exatamente este olhar novo, esta capacidade de ver com os olhos de Deus cada situação. É importante ajudar todos os membros da família a compreender que a fé não é um peso, mas uma fonte de alegria profunda, é perceber a ação de Deus, reconhecer a presença do bem, que não faz barulho; e oferece orientações preciosas para viver bem a própria existência. Enfim, a capacidade de escuta e de diálogo: a família deve ser um ambiente onde se aprende a estar junto, a conciliar os conflitos no diálogo recíproco, que é feito de escuta e de palavra, a compreender-se e a amar-se, para ser um sinal, um para o outro, do amor misericordioso de Deus.

Falar de Deus, então, quer dizer fazer compreender com a palavra e com a vida que Deus não é o concorrente da nossa existência, mas sim a sua verdadeira garantia, a garantia da grandeza da pessoa humana. Assim, retornamos ao início: falar de Deus é comunicar, com força e simplicidade, com a palavra e com a vida, aquilo que é essencial: o Deus de Jesus Cristo, aquele Deus que nos mostrou um amor tão grande a ponto de encarnar-se, morrer e ressuscitar por nós; aquele Deus que pede para segui-Lo e deixar-se transformar pelo seu imenso amor para renovar a nossa vida e as nossas relações; aquele Deus que nos doou a Igreja, para caminhar juntos e, através da Palavra e dos Sacramentos, renovar a inteira Cidade dos homens, a fim de que possa tornar-se Cidade de Deus.

A unidade inseparável entre a fé e a caridade

As palavras de Bento XVI no Angelus

CIDADE DO VATICANO, domingo, 11 de novembro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos as palavras proferidas pelo Papa Bento XVI no Angelus recitado hoje ao meio dia da janela de seu escritório no Palácio Apostólico Vaticano, juntamente com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

Queridos irmãos e irmãs!

A liturgia da Palavra deste domingo nos apresenta como modelo de fé as figuras de duas viúvas. E nos apresenta em paralelo: uma no Primeiro Livro dos Reis (17,10-16), a outra no Evangelho de Marcos (12, 41-44). Ambas as mulheres são muito pobres, e nestas condições demonstram uma grande féem Deus. Aprimeira aparece no ciclo das narrações sobre o profeta Elias. Este, durante o tempo de carestia, recebe do Senhor a ordem de ir para perto de Sídon, ou seja, fora de Israel, em território pagão. Ali se encontra com esta viúva e pede água para beber e um pouco de pão. A mulher responde que restava a ela apenas um pouco de farinha e algumas gotas de óleo, mas depois que o profeta insiste e promete que, se ela o escutasse, farinha e óleo não faltariam, ela o escuta e é recompensada.

A segunda viúva, a do Evangelho, é percebida por Jesus no templo de Jerusalém, precisamente junto ao cofre, onde as pessoas colocavam as esmolas. Jesus vê que esta mulher joga no cofre duas moedas; então, chama os discípulos e explica que a sua esmola é maior do que a dos ricos, porque, enquanto esses deram o que tinham em abundância, a viúva ofertou “tudo o que tinha, tudo o que tinha para o seu sustento” (Mc 12, 44).

A partir destes dois episódios bíblicos, sabiamente combinados, é possível obter um precioso ensinamento sobre a fé. Essa aparece como a atitude interior daqueles que fundamentam a própria vida em Deus, na sua Palavra, e confia plenamente Nele. A viuvez, na antiguidade, era em si mesma uma situação de grande necessidade. Por isso, na Bíblia, as viúvas e os órfãos são pessoas de quem Deus cuida de modo especial: eles perderam seu apoio terreno, mas Deus continua sendo o Esposo deles, os Pais deles. Todavia, a Escritura diz que a condição efetiva de necessidade, neste caso o fato de ser viúva, não é suficiente: Deus pede sempre a nossa livre adesão de fé, que se expressa no amor por Ele e pelo próximo. Ninguém é tão pobre que não possa dar alguma coisa.

De fato, as viúvas de hoje demonstram sua fé realizando um gesto de caridade: uma para com o profeta e a outra dando esmola. Assim, testemunham a unidade inseparável entre a fé e a caridade, entre o amor a Deus e o amor ao próximo – como nos recordava o Evangelho de domingo passado. O Papa São Leão Magno, cuja memória celebramos ontem, afirma: “A balança da justiça divina não pesa a quantidade dos dons, mas o peso dos corações. A viúva do Evangelho depositou no cofre do templo duas moedas e superou os dons de todos os ricos. Nenhum gesto de bondade perde sentido diante de Deus, nenhum ato de misericórdia permanece sem fruto”. (Sermo de jejunio dec.mens., 90, 3).

A Virgem Maria é exemplo perfeito de quem oferece todo o seu ser confiando em Deus; com esta fé disse ao Anjo o seu “Eis- me aqui” e acolheu a vontade do Senhor. Maria ajude também a cada um de nós, neste Ano da Fé, a reforçar a confiança em Deus e na sua Palavra.

Após o Ângelus, antes de saudar os peregrinos em várias línguas, Bento XVI disse:

Queridos irmãos e irmãs!

Ontem, em Spoleto, foi proclamada Beata Maria Luisa Prosperi, que viveu em meados do século XIX, monja e abadessa do mosteiro beneditino de Trevi. Juntamente com toda a Família beneditina e a Comunidade diocesana de Spoleto-Norcia, louvamos ao Senhor por esta sua filha, que quis associar de modo particular à Paixão de Cristo.

Hoje na Itália celebra-se o “Dia do Agradecimento”. No contexto do Ano da fé, o tema da jornada – “Confia no Senhor, faz o bem e habita a Terra” (Sal 37,3) – reforça a necessidade de um estilo de vida enraizado na fé, para reconhecer com alma agradecida a mão criadora e providente de Deus, que alimenta seus filhos. Saudações e parabéns a todos os agricultores!

(Trad. MEM)

Ano da fé: caminhos para conhecer a Deus

Palavras de Bento XVI na Audiência Geral de quarta-feira

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de novembro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos as palavras da catequese de Bento XVI pronunciadas durante a tradicional Audiência Geral na sala Paulo VI, no Vaticano.

Queridos irmãos e irmãs,

Na quarta-feira passada, refletimos sobre o desejo de Deus que o ser humano traz no profundo da alma. Hoje, eu gostaria de continuar a aprofundar este aspecto, meditando brevemente, com vocês, sobre alguns caminhos para chegarmos ao conhecimento de Deus.

Devo mencionar, entretanto, que a iniciativa de Deus sempre precede qualquer ação do homem, e, mesmo no caminho rumo a Ele, é Ele quem primeiro nos ilumina, nos orienta e nos conduz, respeitando sempre a nossa liberdade. E é sempre Ele quem nos faz entrar na sua intimidade, revelando-se e doando-nos a graça para acolher essa revelação na fé. Não nos esqueçamos, nunca, da experiência de Santo Agostinho: não somos nós que chegamos a possuir a verdade quando a procuramos, mas é a Verdade quem nos procura e nos possui.

Existem vias, porém, que podem abrir o coração do homem ao conhecimento de Deus. Há sinais que levam a Deus. É claro que, muitas vezes, corremos o risco de ser ofuscados pelo brilho do mundano, que nos torna menos capazes de percorrer essas rotas e de ler esses sinais. Mas Deus não se cansa de olhar para nós, é fiel ao homem que criou e redimiu, permanece perto das nossas vidas, porque nos ama. Esta é uma certeza que deve nos acompanhar todos os dias, ainda que certas mentalidades difusas tornem mais difícil para a Igreja e para o cristão comunicar a alegria do Evangelho a toda criatura e levar a todos ao encontro com Jesus, o único Salvador do mundo. Esta, no entanto, é a nossa missão, a missão da Igreja; e cada crente deve vivê-la com alegria, sentindo-a como sua própria, através de uma vida verdadeiramente animada pela fé, marcada pela caridade, pelo serviço a Deus e aos outros, e capaz de irradiar esperança. Esta missão brilha especialmente na santidade, à qual todos nós somos chamados.

Hoje, como sabemos, não faltam dificuldades e provações para a fé, muitas vezes mal compreendida, desafiada, rejeitada. São Pedro disse aos seus cristãos: “Estai sempre prontos a responder, mas com mansidão e respeito, a quem vos pedir razões da esperança que vos habita o coração” (1 Pd 3,15). No passado, no Ocidente, em uma sociedade considerada cristã, a fé era o ambiente em que tudo se desenrolava. A referência e a adesão a Deus, para a maioria das pessoas, fazia parte da vida cotidiana. Quem não acreditava era quem tinha que justificar a sua descrença. Em nosso mundo, a situação mudou e, cada vez mais, quem acredita precisa ser capaz de dar razões da sua fé.

O beato João Paulo II, na encíclica Fides et Ratio, enfatizou que a fé é posta à prova nestes tempos, atravessados por formas sutis e insidiosas de ateísmo teórico e prático (cf. 46-47). A partir do Iluminismo, a crítica à religião se intensificou; a história foi marcada também pela presença de sistemas ateus, nos quais Deus foi considerado como uma mera projeção da mente humana, como uma ilusão e produto de uma sociedade já distorcida por tantas alienações. O século passado conheceu um forte e crescente secularismo, em nome da autonomia absoluta do homem, considerado como medida e artífice da realidade, mas empobrecido em seu ser criado “à imagem e semelhança de Deus”.

O nosso tempo verifica um fenômeno particularmente perigoso para a fé: há uma forma de ateísmo que se define, precisamente, como “prático”, que não nega as verdades da fé nem os rituais religiosos, mas, simplesmente, os considera irrelevantes para a existência cotidiana, desarraigados da vida, inúteis. Muitas vezes, portanto, acredita-se em Deus de modo superficial, e se vive “como se Deus não existisse” (etsi Deus non daretur). No final, porém, este modo de vida é ainda mais destrutivo, porque leva à indiferença quanto à fé e quanto à questão de Deus.

Na realidade, o homem separado de Deus se reduz a uma única dimensão, a horizontal, e esse reducionismo é justamente uma das causas fundamentais dos totalitarismos que tiveram consequências trágicas no século passado, bem como da crise de valores que testemunhamos na realidade atual. Obscurecendo a referência a Deus, foi obscurecido também o horizonte ético, para dar espaço ao relativismo e a uma concepção ambígua de liberdade, que, em vez de ser libertadora, acaba por amarrar o homem a ídolos. As tentações que Jesus enfrentou no deserto, antes do seu ministério público, representam bem os “ídolos” que fascinam o homem quando ele não vai além de si mesmo. Quando Deus perde a centralidade, o homem perde o seu lugar, não encontra mais o seu lugar na criação, no relacionamento com os outros. Não feneceu o que a sabedoria antiga evocava com o mito de Prometeu: o homem pensa que pode se tornar “deus”, mestre da vida e da morte.

Diante deste quadro, a Igreja, fiel a Cristo, não deixa jamais de afirmar a verdade sobre o homem e sobre o seu destino. O concílio Vaticano II afirma de forma sucinta: “A razão mais alta da dignidade do homem consiste na sua vocação à comunhão com Deus. Desde o seu nascimento, o homem já está convidado a conversar com Deus. Ele não existe, aliás, a não ser porque, criado por Deus por amor, é mantido por Ele também por amor, nem pode viver plenamente segundo a verdade se não o reconhecer livremente e não se confiar ao seu Criador “(Gaudium et Spes, 19).

Que respostas, então, deve dar a fé, com “mansidão e respeito”, ao ateísmo, ao ceticismo e à indiferença para com a dimensão vertical, a fim de que o homem do nosso tempo continue se questionando sobre a existência de Deus e percorrendo os caminhos que levam a Ele?

Eu gostaria de mencionar alguns aspectos, resultantes tanto da reflexão natural quanto da força da fé. Gostaria, muito brevemente, de resumi-los em três palavras: o mundo, o homem, a fé.

Primeiro: o mundo. Santo Agostinho, que em sua vida procurou durante muito tempo pela verdade e foi agarrado pela Verdade, tem uma página belíssima e célebre, em que declara: “Interroga a beleza da terra, do mar, do ar rarefeito que se expande por toda parte; interroga a beleza do céu… interroga essas realidades todas. Todas te responderão: olha-nos bem e vê como somos bonitas. Sua beleza é um hino de louvor. Ora, tão lindas criaturas, ainda que mutáveis, quem as fez, se não aquele que é a beleza imutável?” (Sermão 241, 2: PL 38, 1134). Acredito que precisamos recuperar e restaurar em nossos contemporâneos a capacidade de contemplar a criação, a sua beleza, a sua estrutura. O mundo não é um magma informe; quanto mais o conhecemos, mais descobrimos nele os mecanismos maravilhosos, mais vemos nele um desígnio, mais vemos a marca de uma inteligência criativa. Albert Einstein disse que nas leis da natureza “vem a revelar-se uma razão tão superior que toda a racionalidade do pensamento e dos ordenamentos humanos é, perante ela, apenas um reflexo insignificante” (O mundo como eu o vejo, Roma, 2005). Um primeiro caminho, pois, que leva à descoberta de Deus, é contemplar com olhos atentos a criação.

Segundo: o homem. Santo Agostinho, de novo, nos propõe uma frase famosa em que diz que “Deus está mais perto de mim do que eu de mim mesmo” (cf. Confissões, III, 6, 11). É a partir desta frase que ele formula o convite: “Não vás para fora de ti mesmo, mas torna dentro de ti: é no homem interior que habita a verdade” (A verdadeira religião, 39, 72). Este é outro aspecto que corremos o risco de perder de vista no mundo barulhento e dispersivo em que vivemos: a capacidade de parar e de olhar profundamente para dentro de nós mesmos e ler aquela sede de infinito que faz parte de nós, que nos empurra para mais longe e nos remete a Alguém que a pode saciar. O Catecismo da Igreja Católica afirma: “Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu senso do bem moral, com a sua liberdade e com a voz da sua consciência, com a sua aspiração ao infinito e à felicidade, o homem se interroga sobre a existência de Deus” (nº 33).

Terceiro: a fé. Especialmente na realidade dos nossos dias, não devemos esquecer que um caminho para o conhecimento e para o encontro com Deus é a vida de fé. Quem acredita está unido com Deus, aberto à sua graça, ao poder do amor. Assim, a sua existência se torna testemunha não de si mesma, e sim do Ressuscitado, e a sua fé não tem medo de se mostrar na vida cotidiana, de se abrir ao diálogo que expressa profunda amizade pela estrada de cada homem, e sabe acender luzes de esperança aos precisados de resgate, de futuro e de felicidade. A fé é um encontro com Deus, que fala e que age na história e que converte a nossa vida diária, transformando a nossa mente, os nossos juízos de valor, as nossas escolhas e as nossas ações concretas. Não é ilusão, escapismo, refúgio cômodo, sentimentalismo, mas envolvimento de toda a vida, anúncio do Evangelho, Boa Nova que pode libertar o homem todo. Um cristão, uma comunidade diligente e fiel ao plano de Deus, que nos amou primeiro, são uma via privilegiada para os indiferentes e para os hesitantes quanto à sua existência e ao seu agir. Isto pede que cada um torne mais transparente o próprio testemunho de fé, purificando a vida para adequá-la a Cristo. Hoje, muitos têm uma concepção limitada da fé cristã, porque a identificam com um mero sistema de crenças e de valores e não com a verdade do Deus revelado na história, desejoso de se comunicar com o homem face a face, numa relação de amor com ele. Na verdade, como fundamento de toda a doutrina e valor, temos o acontecimento do encontro entre o homem e Deus em Cristo Jesus. Ocristianismo, antes de moral ou de ética, é um evento do amor, é o aceitar a pessoa de Jesus. Por esta razão, o cristão e as comunidades cristãs devem olhar e fazer olhar em primeiro lugar para Cristo, o verdadeiro Caminho que conduz a Deus.

(Trad.ZENIT)

O homem traz consigo um irreprimível desejo de Deus

Bento XVI continua suas reflexões sobre o Ano da Fé

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 14 de novembro de 2012(ZENIT.org) – O Papa Bento XVI durante a audiência geral realizada na Sala Paulo VI, nesta manhã, continuou suas reflexões sobre o Ano da Fé. Apresentamos a seguir o resumo de suas palavras.

O homem traz consigo um irreprimível desejo de Deus, por isso é necessário ver as vias que nos levam ao conhecimento d’Ele. De fato, em uma sociedade em que o ateísmo, ceticismo e indiferentismo não cessam de questionar e pôr à prova a fé, é importante afirmar que existem sinais que abrem o coração do homem e o levam para Deus. Queria acenar algumas vias que derivam seja da reflexão natural, seja da própria força da fé e que poderiam ser resumidas em três palavras: o mundo, o homem e a fé. O mundo: contemplando a beleza, a estrutura da criação, podemos ver que existe por detrás dela uma inteligência, que é Deus. O homem: olhando para o íntimo de nós mesmos, nos damos conta que possuímos uma sede de infinito que nos impele a avançar sempre mais na direção de Deus, o único capaz de nos saciar. Enfim, a vida da fé: ela é encontro com Deus que nos fala, intervém na história e nos transforma.

 

A unidade inseparável entre a fé e a caridade

As palavras de Bento XVI no Angelus

CIDADE DO VATICANO, domingo, 11 de novembro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos as palavras proferidas pelo Papa Bento XVI no Angelus recitado hoje ao meio dia da janela de seu escritório no Palácio Apostólico Vaticano, juntamente com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

Queridos irmãos e irmãs!

A liturgia da Palavra deste domingo nos apresenta como modelo de fé as figuras de duas viúvas. E nos apresenta em paralelo: uma no Primeiro Livro dos Reis (17,10-16), a outra no Evangelho de Marcos (12, 41-44). Ambas as mulheres são muito pobres, e nestas condições demonstram uma grande féem Deus. Aprimeira aparece no ciclo das narrações sobre o profeta Elias. Este, durante o tempo de carestia, recebe do Senhor a ordem de ir para perto de Sídon, ou seja, fora de Israel, em território pagão. Ali se encontra com esta viúva e pede água para beber e um pouco de pão. A mulher responde que restava a ela apenas um pouco de farinha e algumas gotas de óleo, mas depois que o profeta insiste e promete que, se ela o escutasse, farinha e óleo não faltariam, ela o escuta e é recompensada.

A segunda viúva, a do Evangelho, é percebida por Jesus no templo de Jerusalém, precisamente junto ao cofre, onde as pessoas colocavam as esmolas. Jesus vê que esta mulher joga no cofre duas moedas; então, chama os discípulos e explica que a sua esmola é maior do que a dos ricos, porque, enquanto esses deram o que tinham em abundância, a viúva ofertou “tudo o que tinha, tudo o que tinha para o seu sustento” (Mc 12, 44).

A partir destes dois episódios bíblicos, sabiamente combinados, é possível obter um precioso ensinamento sobre a fé. Essa aparece como a atitude interior daqueles que fundamentam a própria vida em Deus, na sua Palavra, e confia plenamente Nele. A viuvez, na antiguidade, era em si mesma uma situação de grande necessidade. Por isso, na Bíblia, as viúvas e os órfãos são pessoas de quem Deus cuida de modo especial: eles perderam seu apoio terreno, mas Deus continua sendo o Esposo deles, os Pais deles. Todavia, a Escritura diz que a condição efetiva de necessidade, neste caso o fato de ser viúva, não é suficiente: Deus pede sempre a nossa livre adesão de fé, que se expressa no amor por Ele e pelo próximo. Ninguém é tão pobre que não possa dar alguma coisa.

De fato, as viúvas de hoje demonstram sua fé realizando um gesto de caridade: uma para com o profeta e a outra dando esmola. Assim, testemunham a unidade inseparável entre a fé e a caridade, entre o amor a Deus e o amor ao próximo – como nos recordava o Evangelho de domingo passado. O Papa São Leão Magno, cuja memória celebramos ontem, afirma: “A balança da justiça divina não pesa a quantidade dos dons, mas o peso dos corações. A viúva do Evangelho depositou no cofre do templo duas moedas e superou os dons de todos os ricos. Nenhum gesto de bondade perde sentido diante de Deus, nenhum ato de misericórdia permanece sem fruto”. (Sermo de jejunio dec.mens., 90, 3).

A Virgem Maria é exemplo perfeito de quem oferece todo o seu ser confiando em Deus; com esta fé disse ao Anjo o seu “Eis- me aqui” e acolheu a vontade do Senhor. Maria ajude também a cada um de nós, neste Ano da Fé, a reforçar a confiança em Deus e na sua Palavra.

É na comunidade eclesial que a fé pessoal cresce e amadurece

Bento XVI prossegue a catequese sobre a fé durante a Audiência Geral

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 31 de outubro de 2012(ZENIT.org) – Apresentamos a catequese do Papa Bento XVI sobre a fé, dirigida aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro para a tradicional Audiência Geral de quarta-feira.

Queridos irmãos e irmãs,

Continuamos no nosso caminho de meditação sobre a fé católica. Na semana passada mostrei como a fé é um dom, porque é Deus quem toma a iniciativa e vem ao nosso encontro; e assim a fé é uma resposta com a qual nós O acolhemos como fundamento estável da nossa vida. É um dom que transforma a existência, porque nos faz entrar na mesma visão de Jesus, que opera em nós e nos abre ao amor a Deus e aos outros.

Hoje gostaria de dar outro passo em nossa reflexão, começando mais uma vez, por algumas perguntas: a fé tem um caráter somente pessoal, individual? Interessa somente a minha pessoa? Vivo a minha fé sozinho? Certo, o ato de fé é um ato eminentemente pessoal, que vem do íntimo mais profundo e sinaliza uma troca de direção, uma conversão pessoal: é a minha existência que recebe uma mudança, uma orientação nova. Na Liturgia do Batismo, no momento das promessas, o celebrante pede para manifestar a fé católica e formula três perguntas: crês em Deus Paionipotente? Crês em Jesus Cristoseu único Filho? Crês no Espírito Santo? Antigamente, estas perguntas eram voltadas pessoalmente àqueles quem iriam receber o Batismo, antes que se imergisse por três vezes na água. E também hoje a resposta é no singular: ‘Creio’.Mas este meu crer não é resultado de uma reflexão minha, solitária, não é o produto de um pensamento meu, mas é fruto de uma relação, de um diálogo, no qual tem um escutar, um receber e um responder; é o comunicar com Jesus que me faz sair do meu “eu” fechado em mim mesmo para abrir-me ao amor de Deus Pai. É como um renascimento no qual me descubro unido não somente a Jesus, mas também a todos aqueles que caminharam e caminham pela mesma via; e este novo nascimento, que inicia com o Batismo, continua por todo o percurso da existência.Não posso construir a minha fé pessoal em um diálogo privado com Jesus, porque a fé é doada a mim por Deus através de uma comunidade que crê que é a Igreja e me insere assim na multidão dos crentes em uma comunhão que não é somente sociológica, mas enraizada no amor eterno de Deus, que em Si mesmo é comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é Amor trinitário. A nossa fé é realmente pessoal, somente se é também comunitária: pode ser a minha fé somente se vive e se move no “nós” da Igreja, só se a nossa fé é, a fé comum da única Igreja.

Aos domingos, na Santa Missa, recitando o “Credo”, nós nos expressamos em primeira pessoa, mas confessamos comunitariamente a única fé da Igreja. Aquele “credo” pronunciado singularmente nos une àquele de um imenso coro no tempo e no espaço, no qual cada um contribui, por assim dizer, a uma harmoniosa polifonia na fé. O Catecismo da Igreja Católica resume de modo claro assim: “‘Crer’ é um ato eclesial. A fé da Igreja antecede, gera, sustenta e nutre a nossa fé. A Igreja é a Mãe de todos os crentes. ‘Ninguém pode dizer que tem Deus como Pai, se não tem a Igreja como Mãe’ [são Cipriano]” (n. 181). Então, a fé nasce na Igreja, conduz a essa e vive nessa. Isso é importante recordar. 

Nos começos da aventura cristã, quando o Espírito Santo desce com potência sobre os discípulos, no dia de Pentecoste – como narram os Atos dos Apóstolos (cfr 2, 1-13) – a Igreja nascente recebe a força para implementar a missão confiada pelo Senhor Ressuscitado: difundir em cada canto da terra o Evangelho, a boa nova do Reino de Deus, e conduzir, assim, cada homem ao encontro com Ele, à fé que salva. Os Apóstolos superam todo o medo ao proclamar o que tinham escutado, visto e experimentado pessoalmente com Jesus. Pela potência do Espírito Santo, começam a falar em línguas novas, anunciando abertamente o mistério do qual foram testemunhas. Nos Atos dos Apóstolos nos vem relatado o grande discurso que Pedro pronuncia exatamente no dia de Pentecoste. Ele parte de uma passagem do profeta Joel (3, 1-5), referindo-se a Jesus, e proclamando o núcleo central da fé cristã: Aquele que tinha beneficiado todos, que tinha sido creditado por Deus com milagres e grandes sinais, foi pregado na cruz e morto, mas Deus o ressuscitou dos mortos, constituindo-lhe Senhor e Cristo. Com Ele entramos na salvação definitiva anunciada pelos profetas e quem invocar o seu nome será salvo (cfr At 2,17-24). Escutando estas palavras de Pedro, muitos se sentem pessoalmente desafiados, se arrependem de seus pecados e são batizados recebendo o dom do Espírito Santo (cfr At 2, 37-41). Assim começa o caminho da Igreja, comunidade que leva este anúncio no tempo e no espaço, comunidade que é o Povo de Deus fundado na nova aliança graças ao sangue de Cristo e cujos membros não pertencem a um determinado grupo social ou étnico, mas são homens e mulheres provenientes de toda nação e cultura. É um povo “católico”, que fala línguas novas, universalmente aberto a acolher a todos, além de todos os confins, quebrando todas as barreiras. Diz São Paulo: “Aqui não há grego ou judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre, mas Cristo é tudo em todos” (Col 3,11).

A Igreja, portanto, desde o início é o lugar da fé, o lugar da transmissão da fé, o lugar onde, pelo Batismo, se é imersa no Mistério Pascal da Morte e Ressurreição de Cristo, que nos liberta da escravidão do pecado, nos doa a liberdade de filhos e nos introduz da comunhão com o Deus Trinitário. Ao mesmo tempo, somos imersos na comunhão com os outros irmãos e irmãs de fé, com todo o Corpo de Cristo, retirados do nosso isolamento. O Concílio Ecumênico Vaticano II o recorda: “Deus quis salvar e santificar os homens não individualmente e sem qualquer ligação entre eles, mas quis constituir deles um povo, que o reconhecesse na verdade e fielmente O servisse” (Cost. dogm. Lumen gentium, 9). Recordando ainda a liturgia do Batismo, notamos que, na conclusão das promessas em que expressamos a renúncia ao mal e repetimos “creio” na verdade da fé, o celebrante declara: “Esta é a nossa fé, esta é a fé da Igreja e nós nos glorificamos de professá-la em Cristo Jesus Nosso Senhor”. A fé é virtude teologal, doada por Deus, mas transmitida pela Igreja ao longo da história. São Paulo mesmo, escrevendo aos Coríntios, afirma ter comunicado a eles o Evangelho que por sua vez também ele tinha recebido (cfr 1 Cor 15,3).

Há uma cadeia ininterrupta de vida da Igreja, de anúncio da Palavra de Deus, de celebração dos Sacramentos, que chega a nós e que chamamos de Tradição. Essa nos dá a garantia de que aquilo em que acreditamos é a mensagem original de Cristo, pregada pelos apóstolos. O núcleo do anúncio primordial é o evento da morte e ressurreição do Senhor, do qual decorre todo o patrimônio da fé. Diz o Concílio: “A pregação apostólica, que está expressa de modo especial nos livros inspirados, devia ser repassada com sucessão contínua até o fim dos tempos” (Constituição dogmática. Dei Verbum, 8). Deste modo, se a Sagrada Escritura contém a Palavra de Deus, a Tradição da Igreja a preserva e a transmite com fidelidade, para que os homens de cada época possam ter acesso a seus imensos recursos e se enriqueçam de seus tesouros de graça. Assim, a Igreja, “em sua doutrina, em sua vida e em seu culto transmite a todas as gerações tudo o que ela é, tudo em que acredita” (ibidem).

Gostaria, por fim, de ressaltar que é na comunidade eclesial que a fé pessoal cresce e amadurece. É interessante observar que no Novo Testamento, a palavra “santos” designa os cristãos no seu conjunto e, certamente, não todos tinham as qualidades para ser declarado santo pela Igreja. O que se queria indicar, então, com este termo? O fato de que aqueles que viviam a fé em Cristo ressuscitado eram chamados a se tornar um ponto de referência para todos os outros, colocando-os em contato com a Pessoa e com a Mensagem de Jesus, que revela a face do Deus vivo. E isso vale também para nós: um cristão que se deixa guiar e plasmar pouco a pouco pela fé da Igreja, apesar de suas fraquezas, suas limitações e suas dificuldades, torna-se como uma janela aberta à luz do Deus vivo, que recebe essa luz e a transmite ao mundo. O Beato João Paulo II, na Encíclica Redemptoris missio, afirmava que “a missão renova a Igreja, revigora a fé e a identidade cristã, dá novo entusiasmo e novas motivações. A fé se fortalece se doando. “(n. 2).

A tendência, hoje difundida, de relegar a fé ao âmbito privado, contradiz então, a sua própria natureza. Nós precisamos da Igreja para ter a confirmação da nossa fé e para ter experiência com os dons de Deus: a Sua Palavra, os Sacramentos, o sustento da graça e o testemunho do amor. Assim, o nosso “eu” no “nós” da Igreja poderá ser percebido, ao mesmo tempo, destinatário e protagonista de um evento que o supera: a experiência da comunhão com Deus, que estabelece a comunhão entre as pessoas. Em um mundo onde o individualismo parece regular as relações entre as pessoas, tornando-as sempre mais frágeis, a fé nos chama a ser povo de Deus, a ser Igreja, portadores do amor e da comunhão de Deus para todo gênero humano. (ver Constituição Pastoral. Gaudium et spes, 1). Obrigado pela atenção.

O Papa dirigiu a seguinte saudação em português:

Saúdo os peregrinos de língua portuguesa, especialmente os fiéis vindos de São Tomé e Príncipe e os grupos de brasileiros, de Imperatriz, Toledo e Guaxupé. Deixai-vos plasmar pela fé da Igreja, pois esta, apesar das dificuldades, fará de vós janelas abertas para a luz Deus, de modo que a recebendo, possais transmiti-la ao mundo. Obrigado pela vossa presença!

(Trad.MEM)